O Sono
Um beijo não é apenas um beijo
Capítulo quatro: O Sono
Quando relembrava dessa
noite nos anos seguintes, Harry não conseguia acreditar como conseguiu escapar.
Levou o que pareceu uma vida pra chegar lá – foi uma caminhada vagarosa, já que
ele tinha que ser cuidadoso com Hermione.
Depois que chegaram ao
salão comunal, Harry tirou a capa de Hermione e a colocou num dos sofás. Ele a
observou com muito cuidado. Além dela estar desmaiada, nada mais parecia estar
errado com ela. Na verdade, seus lábios estavam no formato de um sorriso
contente. Ele nunca a tinha visto dormindo – além de algumas poucas vezes que
ele e Rony a pegaram cochilando sobre um livro. Ela sempre dormia com uma
expressão tão alegre e contente?
Ele tentou acordá-la
novamente sem sorte. Ele tentou chamá-la, balançá-la, ele até saiu e buscou um
pano molhado para colocar na testa dela. Ela continuava seu sono contente. Ele
tomou seu pulso – só que não sabia qual era a pulsação normal dela, então não
tinha muita certeza do que faria com essa informação. Ele colocou a orelha perto
do rosto dela pra ouvir sua respiração e podia ver seu peito subir e descer num
ritmo suave.
Os minutos se passavam e
Harry apenas ficou lá no sofá a olhando. Ele não tinha idéia do que estava
errado com ela. As únicas suposições que ele tinha o assustavam. Ele decidiu que
ela precisava ir à ala hospitalar. Mas antes de fazer isso, ele precisava de uma
segunda opinião. Ele precisava de alguém com mais conhecimento do mundo mágico
que ele para dar uma olhada nela. Ele precisava de alguém em quem pudesse
confiar e pedir ajuda. Ele precisava...
- Rony, psssiu, Rony,
acorda - Harry sussurrou alguns momentos depois no dormitório dos garotos,
balançando o amigo pelo ombro.
- O que? O que é? Harry?
Qual o problema? - A voz de Rony cheia de sono respondeu na escuridão.
- É Hermione - Harry
sussurrou. - Ela está desmaiada no salão comunal. Acho que ela deve ir para a
ala hospitalar. Venha, você tem que dar uma olhada.
Rony pulou da cama em
silêncio, colocou o roupão e seguiu Harry até o salão comunal. Ele não disse
nada até que a viu.
- Uau, você estava falando
sério! - Rony ficou com uma expressão de preocupação, enquanto se aproximava da
amiga desmaiada no sofá.
-O que aconteceu? - Rony
disse, olhando Hermione mais de perto. Ele estava balançando-a, ouvindo sua
respiração, do mesmo jeito que Harry momentos antes.
- Eu a achei deitada aí
quando desci pra pegar um livro que tinha esquecido,- mentiu ele - não conseguia
dormir por causa da partida de quadribol que está chegando.
- E ela estava deitada
assim?
- É. Eu pensei que ela
estava dormindo, então tentei acordá-la, mas não consegui. Pode ser algum tipo
de feitiço ou algo assim?
- Eu não sei. Você tentou
‘Ennervate?’
- Sim.
- E um pano molhado?
-Está vendo essa coisa na
testa dela?
- Ah. Certo.
- Parece que temos que
levá-la mesmo para ala hospitalar. - Disse Harry.
Rony se levantou e virou
pra Harry, uma expressão de desconfiança. - Harry, porque você esta todo vestido
se só veio procurar um livro?
Harry levantou as
sobrancelhas, pensando numa resposta convincente. Ele não mentia bem. Geralmente
confiava a Hermione e Rony a tarefa de inventar as mentiras leves e inteligentes
que eles contavam quando necessário. Mas isso não era uma mentira leve, nem
Hermione nem Rony não iam ajudá-lo dessa vez. Ele estava sozinho nessa. Ele
odiava mentir para Rony, mas a outra alternativa era pior – principalmente
porque ele não tinha certeza do que Hermione gostaria que ele dissesse.
- Como eu disse - Harry
finalmente falou, - eu não conseguia dormir. Eu queria ficar acordado e esperar
você e Hermione para o café. Eu preciso fazer aquela redação estúpida Trewlawny
passou pra gente na terça.
Isso foi o suficiente, o
objetivo de Rony se desviou de questionar Harry para os deveres da escola. - Ah
é. Mas eu pensei que íamos fazer juntos. É melhor você esperar por mim. Eu nunca
vou conseguir escrever aquilo sozinho. Ela quer uma redação bem comprida, não é?
- É, ela quer pelo menos 3
pés, se me lembro bem - Harry respondeu rápido, meio distraído. Ele ainda estava
preocupado com Hermione, apesar de estar ficando bem claro para ele que Rony não
achava que era grande coisa.
- Ouça Rony - Harry
continuou -Quem se importa com Trewlawny? O que vamos fazer com Hermione?
- Você está certo. Temos
que pensar em Hermione. Desculpe.- Rony respondeu, olhando para Hermione. - Eu
fico meio lerdo quando estou com sono, Harry - Rony disse com um leve sorriso,
seguido de um longo bocejo. Ele não parecia estar com sono. - Eu concordo, vamos
levá-la para a ala hospitalar. Madame Pomfrey vai deixá-la como nova.
Provavelmente é algum tipo de gripe mágica. Veja o sorriso no rosto dela.
Provavelmente está tendo algum sonho engraçado ou algo assim. Sabe, eu tive
gripe que me fazia levitar as coisas de meu quarto enquanto eu estava delirando,
sonhando com a Copa do Mundo. Depois de semanas eu ainda estava procurando
coisas que eu tinha espalhado enquanto delirava que eram goles e a parede era um
gol.
Isso terminou a discussão.
Eles estavam levando-a para a ala hospitalar. Normalmente, eles teriam pedido a
um monitor para acompanhá-los, por causa da hora. Já que Hermione era monitora,
eles decidiram que não precisavam incomodar mais ninguém, já que eles
tecnicamente não estavam quebrando as regras pois, ela estava com eles. Rony a
levitou acima deles.
Quando eles passaram pelo
retrato, Rony perguntou, - Harry o que você acha que Hermione estava fazendo
fora do dormitório? Pensei que todos tivéssemos ido dormir na mesma hora.
-Eu não sei. Talvez ela
tivesse que estudar alguma coisa. Você sabe como ela é. Provavelmente estava
fazendo algum trabalho extra para Aritmancia - Harry falou, se esforçando para
parecer convincente. Ele queria que Rony parasse de fazer perguntas. Se ele não
estivesse tão distraído com os eventos de mais cedo, teria previsto que Rony
iria fazer muitas perguntas e talvez não o chamasse.
- Provavelmente - Rony
concordou com o que Harry disse.
Eles fizeram o resto do
percurso em silêncio. Sabiam, como todos amigos sabem, que o silêncio é o melhor
quando se está andando com sono por corredores, levitando sua melhor amiga em
direção a ala hospitalar às quatro da manhã.
*******
Quando eles chegaram à ala
hospitalar, tiveram que bater na porta, já que eram mais de 4 horas. Madame
Pomfrey, cheia de sono, respondeu segurando uma tocha em uma mão e a varinha em
outra. Ela estava usando um chapéu de dormir cinza e
tinha um roupão creme bem amarrado na cintura. Ela não parecia muito
feliz em vê-los.
- Bom dia garotos, o que
foi dessa vez? - ela os olhou desconfiada.
- É Hermione - Harry
explicou, enquanto Rony habilmente a trouxe um pouco para baixo, de forma que
ela estava levitando na altura dos olhos de Madame Pomfrey. Ele tinha melhorado
muito no “Vingardium Leviosa” desde o primeiro ano.
-Tragam-na pra dentro -
Madame Pomfrey disse.
Eles entraram e Rony
abaixou Hermione na cama indicada por Madame Pomfrey. Enquanto Harry e Rony
olhavam, madame Pomfrey correu sua varinha por cima de Hermione e a ponta ficou
branca, depois vermelha, depois azul celeste. Harry percebeu que ela ficava cada
vez mais preocupada enquanto fazia seu exame. Ela não tentou nenhuma tática de
despertar que Rony e Harry usaram, ela apenas continuou a correr a varinha por
cima de Hermione, olhando a ponta mudar de cor.
Ela se virou para os
garotos e perguntou o que aconteceu. Sentindo-se cada vez mais culpado, Harry
contou a mesma história que contara a Rony, que apenas ouvia, ocasionalmente
olhando para Hermione preocupado.
-Entendo, então vocês não
sabem há quanto tempo ela estava lá? Vocês não sabem se ela tomou alguma poção
ou se estava com alguém quando desmaiou?
Harry se segurou para não
engolir a seco e desviou o olhar quando respondeu. - Não, não sabemos. - Ele
queria poder dizer a verdade! E se algo que ele sabia pudesse ajudar Hermione?
Madame Pomfrey voltou para
sua sala e remexeu em algumas coisas. Enquanto ela fazia isso, Harry e Rony
trocaram olhares preocupados. Rony mordia o lábio inferior, uma coisa que
aprendeu de Hermione. Harry colocou as mãos nos bolsos para esconder que elas
tremiam.
- O que acha que provocou
isso, Harry? - Rony sussurrou, observando se Madame Pomfrey ainda estava ocupada
na sala.
- Sei lá. Você viu como a
varinha mudou de cor? Queria saber o que isso quer dizer”
Rony acenou com a cabeça.
- Eu vi – bem estranho na minha opinião.
Harry concordou com a
cabeça. - Madame Pomfrey também parece bem preocupada – mais que o normal.
- É. Se fosse gripe
mágica, ela teria mandado a gente embora na hora. Talvez seja algo que ela nunca
viu antes. Que sorte a de Hermione pegar algum vírus maluco!
Madame Pomfrey retornou
com um cálice com uma poção azul claro fumegando. Ela sentou na cama, segurou a
cabeça de Hermione e tentou fazê-la tomar. Bagunçou tudo, já que a boca de
Hermione estava fechada. Na opinião de Harry, se alguma coisa entrou, foi por
sorte. Ela colocou o cálice no criado-mudo e olhou para o relógio. Os minutos se
passaram em silêncio enquanto Madame Pomfrey segurava a mão de Hermione,
ocasionalmente olhando o tempo. Harry percebeu que pelo jeito dela, que estava
ficando mais preocupada com alguma coisa.
Com a ansiedade crescente
com o silêncio, Harry decidiu que não podia esperar mais. - Então, ela vai ficar
bem? - perguntou, tentando esconder o medo da sua voz.
Madame Pomfrey que
geralmente era paciente com perguntas, respondeu a Harry, - Acho que vou ter que
pedir que vocês saiam. - Ela falou como se estivesse bronqueando. Harry sentiu
um calor de emoções misturadas dentro dele.
- Vamos - choramingou
Rony, - Por que você não pode dizer? Ela é nossa amiga! Temos o direito de
saber!
-Não é da sua conta, Sr,
Weasley. Agora vá, ou eu vou dar queixa de vocês por perturbação na ala
hospitalar.
- Não, eu não vou. Eu
quero ficar aqui com ela, ver quando ela vai sair dessa - Harry protestou.
Madame Pomfrey se
levantou. - Se eu tiver que repetir...
- Nós vamos, não é Harry?
- Rony mais que declarou que perguntou, enquanto dava um olhar de advertência a
Harry e o empurrava na direção da porta.
- Não, Rony, eu quero...
- Tchau, Madame Pomfrey,
avise se algo mudar. - Rony falou, continuando a empurrar Harry para fora da ala
hospitalar.
- Por que você fez isso?
Eu queria ficar! - Harry falou.
- Eu acabei de salvar sua
pele! Ela estava parecendo minha mãe pouco antes de dar a maior bronca em Fred e
Jorge ano passado. Você ia dar uma detenção para nós dois e precisamos de todo
tempo extra para descobrir o que Hermione tem. - Rony respondeu, suas orelhas
muito vermelhas.
Harry o encarou e cruzou
os braços.
- Além disso - Rony
continuou com uma voz mais conciliatória, - não havia nada que pudéssemos fazer
ficando lá em pé. Se acontecesse com um de nós, ela seria a primeira a chegar na
biblioteca para tentar descobrir o que estava errado. Nós devemos isso a ela.
Harry, ainda com os braços
cruzados, olhou para os pés desconfortável.
- Agora deixe de ser tão
idiota e vamos tomar café – estou faminto - Rony completou.
Harry expirou
profundamente, olhou para Rony e franziu a testa.
- É bem típico de você,
pensar em comida numa hora dessas.
- Bem, não consigo pensar
de estômago vazio - ele disse, com um pequeno sorriso.
Harry sorriu, - Sabe, acho
que Hermione tem sido uma má influência pra você.
- É, eu sei. Imagina, eu
sugerindo que a gente deve ir para biblioteca. Vê o que acontece quando estou
com fome?
Harry apenas balançou a
cabeça, rindo. Rony deu os ombros e eles dois riram. Harry esmurrou o braço de
Rony e os dois voltaram para a torre da Grifinória.
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