Visitas Inesperadas
Harry Potter estava deitado em sua cama. Seu aniversário se completaria em menos de uma hora e ele continuava com seus olhos verdes abertos olhando para o teto. Sua mente estava confusa, lembrando de tudo o que lhe acontecera desde o dia em que ele descobriu ser um bruxo. Da morte do seu colega Cedrico Diggory, do seu padrinho Sirius Black e do diretor de Hogwarts, Alvo Dumbledore. Seus olhos estavam marejados de lágrimas. No chão, livros e cartas do Ministério da Magia estavam espalhados:
O Ministro da Magia Rufo Scrimgeour pede ao jovem Harry Potter que retorne à Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Agora mais do que nunca, o Sr. deve aprender os feitiços mais poderosos, as azarações mais fortes, as poções, tudo o que for necessário para poder se tornar um auror, o que o Ministério, através de Dolores Umbridge, descobriu ser a sua ambição. O Ministério deseja que todos tenham um ótimo ano letivo em Hogwarts, apesar de todos os ocorridos. Desejamos-lhe um bom dia. Por favor responda essa carta o mais rápido possível.
Harry sentia raiva cada vez que lia uma dessas cartas. “Ótimo ano letivo em Hogwarts, apesar de todos os ocorridos”? Como Hogwarts conseguiria sobreviver sem Dumbledore? Ele era um grande bruxo. O melhor e mais bondoso que ele já conheceu. Sempre via o bem nas pessoas, não importando quem fosse. Viu bem até em Severo Snape, seu assassino. Harry sentia ódio cada vez que pensava em Snape ou em qualquer coisa relacionada à Voldemort. Por causa dele Harry perdeu as melhores coisas da sua vida. Seus pais, seu padrinho, seu amigo, e o diretor Dumbledore. Harry logo completaria dezessete anos e nada lhe passava pela cabeça. Nada, exceto aniquilar Voldemort e o maior número de Comensais que pudesse. Usaria Maldições Imperdoáveis se precisasse. Harry virou-se de lado na cama. Dessa posição podia ver Edwiges, sua coruja, presa na gaiola cheia de titica:
- Edwiges... – começou Harry, falando baixinho para não acordar nenhum dos seus tios – E aí amigona, tudo bem? Deve ser um saco ficar presa aí, não é mesmo?
Harry ainda apertava a falsa Horcrux em sua mão. Dentro dela havia um papel com um aviso. Harry já o lera tantas vezes que acabou memorizando-o:
Ao Lorde das Trevas
Sei que há muito estarei morto quando ler isso,
mas quero que saiba que fui eu quem descobriu o seu segredo
Roubei a Horcrux verdadeira e pretendo destruí-la assim que puder.
Enfrento a morte na esperança de que, quando você encontrar um adversário à
altura, terá se tornado outra vez mortal.
R.A.B.
- R.A.B. – sussurrou Harry para ele mesmo – Quem é R.A.B.?
Harry torceu o nariz, lembrando se alguém que ele conhecesse tivesse essas iniciais. Nada lhe veio na cabeça. A única coisa de que podia ter certeza, é de que R.A.B. certamente é ou foi um Comensal da Morte, senão, como chamaria Voldemort de outra maneira que não fosse Lorde das Trevas? Harry sabia que só Comensais da Morte tratavam-no dessa forma.
Ele se revirou na cama de novo, dessa vez ficando de bruços. Desse ângulo pôde ver o céu acinzentado, que mesmo no verão conservava aquela névoa escura e espessa. Harry sabia que a névoa tinha a ver com os Dementadores, criaturas horrendas que sugavam suas esperanças e sua felicidade. Ele tivera experiências desagradáveis com Dementadores no terceiro ano de Hogwarts. Mas lembrar de Hogwarts só fazia Harry se sentir pior. Ele queria voltar, sim, queria reencontrar Hermione e Rony, queria visitar Hogsmeade, queria ter aulas avançadas para se tornar um bom auror e acabar com Voldemort. Ele sabia que não poderia ficar mais na casa dos seus tios. Estaria colocando eles em perigo. A proteção deixada sobre a casa para ele só ficaria até Harry completar dezessete anos. Por pior que os tios e o primo fossem, Harry não podia arriscar a vida deles.
-Arrrrrrrrrrrrrrrrrrre!!!!!!!!!!
Harry levantou-se em um pulo. Ouviu um grito ensurdecedor que vinha da cozinha. E parece que ele não havia sido o único. Da fresta que se encontrava abaixo da porta, Harry pôde ver as luzes acendendo e os pés protuberantes dos tios descendo as escadas:
- O que está acontecendo? – Harry ouviu a voz do seu primo do lado de fora do quarto. Harry abriu a porta do quarto e colocou a cabeça pra fora.
- O que você fez dessa vez? – perguntou Válter Dursley, puxando Harry para fora do seu quarto.
- Eu? Eu não fiz nada! – disse Harry sinceramente. Seu coração estava disparado tanto quando o de todos na casa. Harry viu o rosto púrpura de Tio Válter se contorcer.
- Se você passar da linha um pouquinho assim... – Tio Válter colocou os dedos polegar e indicador perto, quase unindo-os.
- Vai fazer o que? – disse Harry, encarando-o – Me expulsar daqui? Não precisa. Amanhã mesmo estarei voando por aí com minha vassoura para bem longe daqui.
Tio Válter amarrou a cara. Fingiu que Harry não tinha lhe dito isso e continuou a descer as escadas lentamente. Tia Petúnia, com seu pescoço longo e seus dentes de cavalo, olhava por cima de Tio Válter para ver o que estava acontecendo. Ele foi até a cozinha e acendeu a luz.
- Mas quem diabos é você? – Tio Válter levantou as duas mãos e o mesmo fizeram Duda e Petúnia – Por favor, não nos faça mal, leve tudo o que quiser, mas nos deixe viver.
Harry olhou por cima dos ombros dos tios e do primo, que agora estavam de mãos pra cima e ajoelhados.
- Ministro!
Tio Válter olhou para Harry por cima dos ombros. Era a primeira vez que o via de cima a baixo esse ano. Usava as roupas velhas de Duda e estava incrivelmente magro. Não crescera muito desde o ano passado, mas já devia ter quase dois metros ou mais que isso, pelo o menos ao ponto de vista dele, que continuava ajoelhado:
- Mas o que você está falando seu tolo? Você quer perder sua vida? Deixe esse assaltante levar tudo o que quiser! – disse Tio Válter apreensivo.
- Assaltante? – se manifestou pela primeira vez Scrimgeour – Pelas barbas de Merlin. Não meu senhor, eu não sou assaltante. Eu sou o Ministro da Magia
Os Dursley se levantaram repentinamente. A têmpora de Tio Válter estava latejando:
- O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO AQUI? – gritou Tio Válter, ofegante – JÁ NÃO BASTA O MALUCO DO DIRETOR ANO PASSADO, AGORA VOCÊS VÊM FAZER VISITAS PERIÓDICAS À MINHA CASA. O QUE VOCÊS PENSAM QUE SÃO?
Harry puxou sua varinha do bolso e apontou para o pescoço de Tio Válter:
- Meça suas palavras quando for falar de Dumbledore, seu miserável – As lágrimas começaram a cair dos olhos de Harry, e por mais que as tentasse enxugar com a manga das vestes, elas continuavam caindo.
- Você não pode usar magia fora da escola, sua aberração.
- Seu tio está certo Harry – disse Scrimgeour. – Por mais próximo que seu aniversário esteja, você ainda só tem dezesseis anos.
Harry colocou a varinha de volta no bolso. Estava ofegante.
- Sente-se Ministro – disse Harry – Quer um uísque escocês?
Harry tentou ser o mais cordial possível com Scrimgeour, oferecendo-lhe o que havia de mais caro na casa dos Dursley, apenas para irritar os tios. Tio Válter viu ir embora três das suas taças de cristal, que Harry “acidentalmente” deixou cair no chão, metade do seu uísque escocês, bebido todo por Scrimgeour, que adorou a bebida trouxa e o sofá novo que Tio Válter comprara no ano anterior, que certamente seria jogado fora, depois que uma “pessoa daquela laia” tivesse se sentado. Apesar de Harry não simpatizar com Scrimgeour, ele se sentiu pela primeira vez alegre dentro daquela casa. Ver a expressão de terror nos olhos dos tios era divertidíssimo:
- Mas afinal, o que o senhor veio fazer aqui, Ministro? – Harry tentou continuar com o tom cordial que mantinha desde o começo da visita.
Scrimgeour se levantou. Ainda estava um pouco tonto pela quantidade de uísque ingerida, mas mesmo assim manteve sua pose graciosa.
- Nós precisamos de você Harry. O mundo bruxo está muito apreensivo. Todos estão desesperados por segurança. Eles querem você. Eles querem “o Eleito”.
- Eu... – começou Harry – eu não concordo e nunca vou concordar com sua falsa política de segurança. Não quero ser mais um fantoche pra sua coleção.
Scrimgeour franziu a testa.
- Fantoche? Não, jovem Potter, não quero que você seja um fantoche! Quero que termine seu curso em Hogwarts. O sétimo e último ano letivo é o mais importante para a vida de um bruxo. Você precisa aprender o que há de mais avançado em magia para destruir Você-Sabe-Quem!
- Você o que? – perguntou Duda. Seu rosto se contorceu em uma incrível tentativa de compreender o que Scrimgeour estava falando.
- Voldemort – disse Harry. Scrimgeour tremeu – O bruxo que matou meus pais. Que destruiu minha vida. Que me colocou aqui perto de vocês.
- Você poderia, por favor, não pronunciar esse nome na minha presença?
- Por quê? Então é o isso o que você define como Ministro? Uma pessoa que tem medo de um nome?! – disse Harry. Ele sentia raiva cada vez que alguém o tentava coibir de falar o nome de Voldemort. Qual era o problema? Por que todos tinham medo daquele nome?
Scrimgeour ficou calado. Vez ou outra parecia que ele ia falar. Abria a boca, mas tornava a fechá-la. Foi quando a lareira minuciosamente limpa por Tia Petúnia irrompeu novamente em chamas verde-esmeralda. De dentro da lareira saiu Hermione Granger, com seus cabelos espessos jogados para trás. Ela havia ganhado corpo durante o verão, o que a deixara mais bonita do que Harry já a vira em muito tempo. A última vez que ele a tinha visto tão bonita foi no Baile da Primavera, durante o seu quarto ano em Hogwarts.
- Harry! Que bom te ver! – Hermione saiu para abraçá-lo, sem se incomodar com as cinzas que sujaram toda a roupa de Harry.
- Quem é essa aí? – perguntou Duda. Seu rosto estava tão púrpura quanto o de Tio Válter. Ele levara um tremendo susto com a lareira.
Hermione se virou automaticamente. Foi então que ela viu os tios e o primo de Harry e o Ministro da Magia:
- Eu queria... – disse ela meio desconcertada – eu queria fazer uma surpresa pra você Harry. Pensei que seus tios estariam dormindo.
As bochechas de Hermione coraram. Ela não se lembrava de um momento tão constrangedor como aquele. Todos a olhavam. Harry disse:
- Essa é Hermione Granger. Ela estuda, ou melhor, estudava comigo em Hogwarts.
- Estudava? – perguntou Hermione, ignorando os olhares impressionados dos tios de Harry – Então você não vai mesmo voltar para Hogwarts?
- Não.
- Mas Harry, você precisa voltar. O último ano é o mais importante pra você. Você precisa aprender tudo o que puder pra lutar contra Voldemort.
Scrimgeour estremeceu mais uma vez. Ouvir aquele nome duas vezes em apenas uma noite era muito para um coração velho como o dele.
- Era isso que eu estava tentando fazer com que o jovem Potter percebesse – disse Scrimgeour.
- Eu não vou voltar e essa é minha decisão fin...
Antes que Harry pudesse terminar a frase, vários estampidos puderam ser ouvidos por todos.
- Mas o que... – perguntou Harry. De dentro do armário de materiais de limpeza de Tia Petúnia saíram Fred, Jorge, Rony, Gina, Molly e Arthur Weasley. A família trazia um enorme bolo com uma foto de Harry, Rony e Hermione acenando para todos do jardim d’A Toca.
- Harry querido. Você está muito magro! – disse a Sra. Weasley, correndo para abraçá-lo – Essa gente não te dá o que comer?
- MAS O QUE ESTÁ ACONTECENDO NA MINHA CAMA? UMA CONVENÇÃO DE... – Tio Válter baixou a voz para que ninguém pudesse ouvir a última palavra - ...bruxos?
- Hermione? – disse Fred, fazendo uma cara feia para a menina – Você não falou que os tios dele estariam dormindo? Oi baleiazinha, tudo bem com você? Quer uma bala? – Fred olhou para Duda e disse, lembrando-se do que aconteceu três anos atrás, quando Duda comeu uma bala Incha-Língua, que fez sua língua crescer dois metros. Duda, apesar de não ser mais tão gordo quanto era, correu para trás da mãe. – Mas continuando... E aí Hermione?
- Mas... Mas eu pensei que eles estariam dormindo. Na verdade, eles estariam, se o Ministro não o tivesse vindo visitá-lo.
- O Ministro? – perguntou o Sr. Weasley, correndo para frente do grupo. – É um prazer Ministro.
O Sr. Weasley estendeu a mão para apertar a de Scrimgeour. O Ministro se sustentou em uma mão só na sua bengala e apertou a mão dele.
- Arthur Weasley. Chefe da Seção para Detecção e Confisco de Feitiços Defensivos e Objetos de Proteção Forjados.
- Ah, sim – disse Scrimgeour, balançando a cabeça positivamente. Mas por que vocês todos estão aqui?
- Nós queríamos comemorar a maioridade do Harry. Quisemos fazer uma surpresa – disse Rony para o Ministro – Pensávamos que os tios dele estavam dormindo por isso viemos.
- Como vocês chegaram aqui, Rony e Gina? – perguntou Harry
- Aparatação acompanhada – respondeu Gina – Um horror. Que sensação horrível!
- Depois você se acostuma Gina – disse Jorge – Eu e o Fred já fazemos isso a tanto tempo que já é até um prazer sentir essa sensação.
Os Dursley acompanhava a toda aquela conversa com caras de quem não entenderam sequer uma palavra.
- SAIAM DAQUI! AGORA! SUMAM TODOS VOCÊS! VOCÊ TAMBÉM MOCINHO – disse Tio Válter apontando para Harry, e pela primeira vez se manifestando. – NÃO QUERO NENHUM DE VOCÊS AQUI!
- Olha pro relógio! – disse a Sra. Weasley, ignorando o Tio Válter. – Já é meia-noite!!
Harry sorriu pela primeira vez em três meses. Ele atingira a maioridade. Era indescritível.
- Quer dizer que eu já posso...? – perguntou Harry para Hermione e Rony. Os dois concordaram com a cabeça.
Harry puxou a varinha do bolso.
- O QUE PENSA QUE ESTÁ FAZENDO? – esbravejou Tio Válter. – VOCÊ NÃO PODE...
- Travalingua!!
Harry apontou a varinha para a boca de Tio Válter, que teve sua língua colada ao céu da boca. Harry sabia quem havia inventado esse feitiço, mas isso agora pouco importava. Ele precisava desabafar tudo o que estava entalado na garganta dele durante dezesseis anos.
- Mas que feitiço é esse? – o Primeiro Ministro perguntou. Ninguém lhe respondeu. Harry começou a falar.
- Agora é minha vez... Vocês nunca se importaram comigo, nunca! – Harry olhava para o tio e a tia com desprezo – Todas as vezes que pensava porque merecia isso, nunca achava uma resposta. Mas agora eu achei. Passei por tudo o que vocês me fizeram sofrer por esse momento. Desde que eu nasci eu não sabia o que era ser feliz. Todos os meninos da escola tinham uma mãe e um pai. Por que eu não tinha os meus? – Harry não estava chorando, tampouco com a voz trêmula. Estava mais centrado e decidido do que nunca – Então, há sete anos atrás descubro que minha vida toda era feita de mentiras sobre mentiras. Meus pais não morreram em um acidente de carro, eles foram assassinados, assassinados por Voldemort (Harry ignorou os gemidos dos Weasley e de Scrimgeour). Já o enfrentei muitas vezes. Já estive cara-a-cara com ele. Mas parece que o destino sempre arranjava uma forma de deixá-lo vivo. Mas eu já descobri como matá-lo. E não descansarei enquanto não acabar com ele. Agora vocês podem ser felizes. Vou embora daqui para sempre.
Harry saiu correndo para o seu quarto e dez minutos depois um malão motorizado apareceu voando escada abaixo, e Harry carregava a gaiola de Edwiges, que ele limpara com um feitiço:
- Sra. Weasley, posso ficar na sua casa até começar o ano letivo?
- Quer dizer que você vai para Hogwarts? – perguntaram Rony e Hermione ao mesmo tempo.
Harry concordou com a cabeça. Agora uma lágrima descia do seu olho. Lembrara de Dumbledore. Mas ele precisava espantar os fantasmas que o atormentavam. Não podia deixar isso o aborrecer. Precisava se vingar. E era o que pretendia fazer.
- E então, Sra. Weasley, posso? – perguntou Harry.
- Você sempre será bem-vindo à nossa casa, Harry querido. E então, todos prontos para ir? – todos concordaram com a cabeça – Você já sabe aparatar Harry?
- Não. Quem vai me levar?
Hermione levantou a mão do mesmo jeito irritante que ela fazia durante as aulas.
- Então está certo. Eu levo a Gina, Arthur, pegue o braço do Rony e Hermione, leve o Harry. No três... Um... Dois... Três!
Outro forte estampido foi ouvido. De uma vez por todas Harry deixara a casa dos tios. Lá só ficaram Duda, Tio Válter, Tia Petúnia e o Ministro Rufo Scrimgeour.
- Bom... – disse o Ministro, levantando-se – Já fiz consegui o que queria. Boa noite.
Dizendo isso, o Ministro se levantou e entrou na lareira:
- Ministério da Magia! – disse, e uma labareda verde-esmeralda encheu o aposento de luz. Um segundo depois a luz não estava mais lá. Os Dursley olhavam uns para os outros assustados e ao mesmo tempo felizes. Harry Potter não iria mais atrapalhar suas vidas.
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