Doze Horas



O burburinho à porta morreu quando Snape surgiu e fez uso de seu mais gélido tom de voz, perguntando:

_ Mas o que é que está acontecendo aqui? _ embora, claro, ele tivesse um palpite muito bom quanto a isso.

Felizmente, ainda mantinha muitos de seus hábitos de espião e um deles era jamais se separar de sua varinha, estivesse onde estivesse: uma das mãos a segurava firme dentro das vestes enquanto Potter e os Weasley se amontoavam à porta, parecendo momentaneamente confusos e um tanto abobalhados, como se não soubessem o que fazer em seguida. O maldito Potter, então, tomou o controle da situação:

_ Já sabemos de tudo. Seu plano miserável falhou... Ranhoso _ ele concluiu com um sorrisinho.

_ Plano? _ foi a vez de Snape ficar confuso _ De que está falando, seu...

_ Tonks está segura em nossa casa...

_ ... e viemos cuidar para que continue assim _ os gêmeos se adiantaram, intercalando-se naquele seu costumeiro ridículo modo.

A preocupação ao ouvir o nome “dela” deve ter se estampado em seu rosto, porque a Weasley-mãe, empurrando o marido, os filhos e Potter para o lado como se fossem pinos de boliche, adiantou-se, ficou na ponta dos pés e, estendendo o indicador até quase encostar no nariz de Snape, começou:

_ Como teve a audácia? Se aproveitar dela num momento de fraqueza... uma moça tão maravilhosa... direita... não é pro seu bico!

_ ... e que bico, mamãe _ disse um dos gêmeos, entre risadinhas, dando cotoveladas nas costelas do outro. Snape estreitou os olhos.

_ De acordo com as normas desta escola _ ele começou, entediado e de forma mecânica como se recitasse palavra por palavra o regimento interno de Hogwarts _ tenho autoridade para deter todo e qualquer intruso que ousar colocar os pés no castelo _ concluiu, sacando a varinha e dando um passo à frente, enquanto decidia se era melhor desarmá-los ou petrificá-los primeiro.

Harry colocou-se à frente dos outros:

_ Não há intruso algum, eles estão comigo.

_ Não me parece que seus aposentos fiquem sequer próximos daqui, Potter.

_ Não ouviu, Ranhoso? _ apontando a varinha, a garota Weasley se destacou do grupo, tomando o lugar do namorado _ Viemos cuidar para que Tonks continue dona de si mesma.

Snape ergueu uma sobrancelha, mais por força do hábito, porque não tinha a mais vaga idéia do que aquela garota maluca tinha acabado de dizer:

_ Sério? E como é que pretendem fazer isso?

A formação ruiva em torno dele foi a resposta: num piscar de olhos, Snape se viu cercado por cabelos flamejantes e varinhas apontadas para seu peito. Instintivamente, voltou alguns passos, de forma que ficasse protegido pelo arco da porta, enquanto resmungava alguma coisa.

_ Agora, se houver alguém nessa, ah, comissão, que possua um mínimo de civilização e queira me explicar que maldito plano é esse...

_ E ele ainda tem a cara de pau de falar em civilização... _ comentou Ron, encarando friamente nos olhos o ex-professor.

_ Basta _ disse o Weasley-pai, ele agora avançando, a varinha na ponta do braço esticado _ Já perdemos tempo demais com essa conversa furada.

A maior vantagem de se enfrentar Grifinórios em duelos era que eram, em sua maioria esmagadora, bastante transparentes quanto ao feitiço que iam usar, ainda que apenas pensassem nele. Assim, quando Arthur Weasley pensou usar um expelliarmus contra Snape, não foi surpresa alguma para este. E Snape já estava inclusive protegido: enquanto voltava para a segurança de seu quarto, caminhando de costas, havia criado uma barreira invisível entre si e os Weasley, que agora se amontoavam do outro lado, parecendo mais abobalhados do que nunca, mesmo que praguejassem e socassem os punhos contra seu escudo.

_ Lembrete para as próximas semanas: criar um que seja à prova de som _ murmurou Severus para si mesmo, tamborilando os dedos da mão livre sobre o peito. Então, ergueu a voz _ Espero que tenham uma excelente noite aí no chão frio. Agora, se não se importam, irei me recolher. Ah, sim _ ele ergueu a varinha _ Abba...

_ Acho que não, Ranhoso _ corrigiu uma voz odiosamente familiar, bastante próxima a seu ouvido.

_ Potter!

De fato. Jogando longe a capa da invisibilidade, que havia usado para passar por Snape enquanto os Weasley o cercavam, o maldito Garoto que Venceu se revelou. E por mais Grifinório que fosse, ele havia derrotado o Lord das Trevas em combate. Quando Snape se deu conta, voava pelos ares, atravessando a sala, passando por sobre a mesa que usava para preparar poções, e indo se chocar dolorosamente contra uma estante abarrotada de frascos. Os Weasley comemoram do outro lado da porta quando Severus aterrisou com estrondo no chão.

_ Então, Ranhoso, onde é que está?

Snape, ainda tonto, endireitou-se, focalizando a vista e tentando encontrar a varinha. Estava em seu território... só precisava de algum tempo... se recompor, e então... graças a Slytherin a mesa era comprida e larga o suficiente para que Potter não o enxergasse nem o alcançasse logo; e a pouca iluminação costumeira colaborava para que ele se ocultasse. Faíscas vermelhas lampejaram poucos metros acima e à esquerda.

_ Quebre um só frasco que seja, Potter, e irá pagar caro _ Snape ameaçou, agora de joelhos, tateando o chão.

_ Só um tipo de poção será destruída essa noite.

De que raios aquele moleque imbecil estava falando, afinal? Mas Snape teve sua atenção desviada: finalmente enxergara sua varinha: estava exatamente na extremidade da mesa para a qual Potter se encaminhava. Pensando rápido, tirou a capa e jogou-a para o outro lado; e respirou aliviado quando ouviu os passos se dirigindo para lá. Ainda de joelhos, alcaçou a varinha e então... ficou de pé, mas a desprezível família ruiva alertou Potter, berrando alucinados. Mas era tarde demais: com um movimento displicente da varinha de Severus, o Garoto que venceu tombou, já desacordado, sobre o frio chão de pedra.


*

_ Por favor... Severus, não.... _ gemeu Tonks mais uma vez em seu sono inquieto.

E mais inquieta ainda ficou Andrômeda. Porque aquele nome? Teria Snape algo a ver com aquele estado lastimável em que sua filha se encontrava? Milhares de hipóteses, uma mais desagradável que a outra, passaram por sua mente, enquanto ela andava para cima e para baixo pelo quarto. Aah mas aquele... Snape, haveria de se ver com ela, seriamente, se houvesse encostado um dedo que fosse em Nymphadora. Inclusive, a primeira coisa que faria assim que ela abrisse os olhos seria um inquéiro detalhado. Mas agora... tinha coisas mais importantes a fazer.

_ Beba isso, Nymphadora _ ela tentou inutilmente faze a filha engolir uma colherada de algum elixir.

Inutilmente, pois Tonks havia apagado por completo; parecendo agora mergulhada em um sono tranqüilo. Andie não sabia mas, dentro da filha, a contra-poção havia ganho a batalha. E agora, Tonks dormiria por doze horas ininterruptas, ao fim das quais todo e qualquer vestígio de seu amor por Severus Snape teria sido extinto.


*


_ Harry! Harry! O que foi que esse desgraçado fez com você? _ esgoelava-se a garota Weasley por trás da barreira, acompanhada por um coro das mais diversas ofensas.

O maravilhoso plano que tivera há pouco, de simplesmente virar as costas, trancar a porta do quarto e ir dormir, havia ido por água abaixo. Por mais que fosse... Potter, não podia simplesmente deixá-lo desacordado ali, ainda mais em suas condições atuais. Onde é que estava aquele inútil do Filch quando se precisava dele?

_ Afastem-se! _ ele ordenou, aproximando-se da porta _ Preciso chamar a diretora e acabar o mais rápido possível com essa insanidade.

_ Só passando por cima da gente _ adiantaram-se os gêmeos, fazendo bravata.

_ Como queiram _ Snape revirou os olhos e então, com um amplo movimento horizontal da varinha, derrubou os dois de uma só vez. Seus crânios se chocaram com um som de cocos maduros. A Sra. Weasley, uivando, atirou-se sobre os filhos.

_ Como ousa? Oh, meus meninos, meus preciosos meninos...!

Snape deu de ombros; e avançou, agora protegido apenas pela varinha. Mas antes que fizesse qualquer movimento, Arthur Weasley colocou-se na frente dos dois filhos restantes, enquanto berrava um feitiço protetor. Então, finalmente, Filch surgiu manquitolando na outra extremidade do corredor; vendo a confusão, acelerou o passo. Mas Snape o dispensou:

_ Vá chamar Minerva. Agora!

Distraído, Snape não percebeu Ronald Weasley apontando a varinha por baixo do braço do pai; e finalmente foi imobilizado.

_ Não podemos nocauteá-lo; ele tem que nos dizer onde está _ adiantou-se Arthur, fazendo finos fios surgirem de sua varinha e se enroscarem em torno de Snape, que agora sentia o corpo pendendo frouxo no ar. A filha intrometida retirou a varinha das mãos de Severus, gaurdando-a no bolso.

_ Então, Snape, onde é que está? _ perguntou o Weasley pai _ Quanto mais rápido colaborar, mais rápido terminaremos... a nossa parte. Provavelmente teremos de dar parte da situação no Ministério... apenas uma formalidade, claro.

_ Quantas vezes terei de repetir _ Snape sussurrou por entre os dentes cerrados _ de que não faço a menor idéia de que disparate é esse que estão dizendo...

_ Com não? _ debochou Gina _ O artifício que usou para... conquistar Tonks.

Snape franziu a testa.

_ Artifício?

_ A Poção do Amor, cara! _ explodiu Ron, exasperado.

_ Poção do Amor? _ repetiu Snape.

_ De que outra forma Tonks ficaria com você? _ perguntou a garota, examinando-o de cima a baixo.

Poção do Amor, repetiu Snape mais uma vez, mas agora apenas para si mesmo Lembranças ddesagradáveis lhe afloraram à mente, memórias de um certo grupinho orgulhoso e petulante de rapazes; que se dobravam de rir anunciando para toda a escola que tanto tempo perdido com o narigão enfiado nos livros e caldeirões, se não fosse para descobrir uma solução para a oleosidade excessiva daqueles cabelos, seria com toda a certeza para aprender uma Poção do Amor infalível... de que outra forma ele conseguiria uma garota? Eram exatamente essas as palavras que eles costumavam usar, Snape ainda se lembrava muito bem. E sentiu uma fúiria insana tomando conta de si; porém, com os braços presos como estavam, o soco que queria dar no Weasley mais próximo se viu reduzido a um ridículo cambalear.

Molly, prevendo as intenções de Snape, ergueu-se num pulo e colocou-se ao lado do marido. Snape, então, se viu sendo cutucado por quarto varinhas furiosas.

_ Onde está? Vamos, diga!

_ Então _ Severus vociferou, o rosto deformado de fúria e desdém _ Vocês crêem que seja impossível alguém se interessar pela minha pessoa por vontade própria _ e sua vontade era rir, jogar a cabeça para trás e gargalhar escancaradamente.

_ Estamos esperando _ a garota ruiva deu um cutucão particularmente doloroso em seu estômago. Snape ia revidar, quando...

_ Parem imediatamente com isso!

_ Meu filho, o que é que está fazendo aqui? _ espantou-se Molly com a chegada de Carlinhos.

_ Era só o que faltava... mais um ruivo maluco...

_ Pare, Snape. Vim porque Tonks pediu; vim para defendê-lo.

_ Defender? _ indignou-se Molly.

_ Esse....?

Carlinhos respirou fundo; e então, começou:

_ Defender. Não existe Poção alguma... a Tonks... realmente o ama _ e vendo cinco pares curiosos de olhos voltados para si, ele se explicou mais _ Ela me contou há poucas semanas...

_ Ela contou...

_ Sim, Snape, ela me contou. Ela sabe que pode confiar em mim _ e sustentou o olhar de Snape. Severus ainda não se sentia exatamente à vontade com aquela intimidade entre os dois, mas... algo na expressão de Carlinhos lhe dizia que o ruivo sabia, sim, de seu ciúme, e tentava assegurá-lo de que não precisava se preocupar.

_ Como podemos saber se é mesmo verdade?

_ Tonks jamais saberia que está sendo enfeitiçada...

_ É, ele a enganou, olha só esse sorriso de vitória... fez todos nós de idiotas, todo esse tempo...!

_ Parem! _ Carlinhos ergueu a voz _ Ele não a enganou. Conheço Tonks há anos, vocês sabem muito bem. Sei com ela fica quando está apaixonada. É real, aceitem.

Snape apenas arqueou uma sobrancelha. Ah, o gosto da vitória...

_ Agora que tudo foi esclarecido, a minha varinha _ ele pediu.

_ Não acredito nisso _ disse Ron, os ombros caídos.

_ Eu só acredito depois de vasculhar todo o escritório do Ranhoso.

_ Nem pensar _ respondeu Snape, indo se postar, com dificuldade, à entrada de seus aposentos.

Quatro Weasleys avançaram, um tentou impedi-los. A situação parecia querer se complicar novamente quando McGonagall surgiu, afinal, ainda amarrando a faixa de seu roupão xadrez.

_ Mas o que é que está havendo aqui? _ perguntou em tom de voz cortante.

_ Um engano, diretora _ adiantou-se Carlinhos.

Ela passou os olhos em torno da cena: quatro Weasley belicosos, dois derrubados no chão, o vice-diretor de Hogwarts amarrado como um queijo italiano.

_ Arthur, Molly, Severus... expliquem-se!

_ Tudo o que sei é que estava me preparando para ir dormir quando fui sumariamente atacado por esta... horda de desajustados.

Minerva interrogou-os com o olhar.

_ Nós... tivemos uma denúncia séria de que Snape estaria usando... uma Poção do Amor _ respondeu o Sr. Weasley.

_ Snape? Usando uma Poção do Amor? _ Minerva tornou a fitar Severus por cima dos óculos quadrados, parecendo levemente divertida _ E em quem, exatamente, ele estaria usando essa tal Poção, Arthur?

_ Em Tonks.

_ Em Tonks! _ ela repetiu, a voz aguda, como se nunca tivesse ouvido absurdo maior _ Mas é claro que não. Eles não precisaria disso... Perguntem a Albus, se quiserem...

_ Devo supor que ele também contou _ murmurou Snape do seu canto, aborrecido. Já havia gente demais, para seu gosto, sabendo de seu relacionamento com Tonks.

_ Ora, mas é claro! E mesmo que não houvesse me contado... qualquer um que prestasse um pouco mais de atenção seria capaz de notar algo entre vocês dois, Severus... _ ela lhe deu um sorriso rápido _ Ora, se comportando como dois adolescentes...

Snape reagiu como se houvesse levado um soco no estômago; e só não se sentiu pior porque a expressão dos Weasley, particularmente dos dois mais novos, conseguia ser ainda mais desolada, arrasada e murcha.

_ E então, de quem foi a brilhante idéia da poção?

_ Porque é que eu tenho a impressão de que a resposta não vai me surpreender?

De fato, Snape não se surpreendeu.

--

Ae! Finally! O último capítulo! Mas ainda temos uma ou outra coisa pra resolver.. o que, afinal, aconteceu com a Tonks? E Andromeda; finalmente vai descobrir o caso de sua filha com Snape? Se ele ainda existir, é claro... Ah, odeio acabar fics, vocês não fazem idéia... bate aquela nostalgia... enfim, vou deixar a choradeira pro epílogo ;D

Agradecimentos: primeiro: MUITO, MUITO, MUITO obrigada à srta. Vinola, que me salvou de uma demora ainda maior. Sério, nem tenho palavras pra descrever meu alívio depois do que vc sugeriu; aguarde o epílogo pra ver como ficou ;D e pra quem comentou ( Morgana, Hanna, Miguel,Senhorita Granger, Nathalia, m.dashwood, Lourena, Ana Luíza, yasmim, Miss Robsons, Mean Girl, Chaos...), meu MUITO obrigada. E obrigada também aos mudinhos =P

Ah sim, mais duas coisas: leiam essa fic excepcional com o Snape: http://www.floreioseborroes.com.br/menufic.php?id=5302

E dois: como alguns de vocês já sabem, a minha fic “Um Conto de Fadas”, Lupin/Tonks, foi traduzida pro russo (!!!!). Quem quiser ler... ok, dar uma olhada... link!

http://www.hogwartsnet.ru/fanf/ffshowfic.php?fid=11935

;D

Bom, é isso. Sniff. Até o próximo e derradeiro capítulo :~

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