À Verdade!
Quando Snape se deu conta de que aquela situação assombrosa era real, e não o pior pesadelo que já tivera em toda a sua vida, sua primeira atitude foi agarrar os pulsos do rapaz e prendê-los bem presos nas paredes com as cordinhas que surgiram com um aceno displicente de varinha.
_ O que significa essa... essa... infâmia... disparate... _ ele gaguejou de tanta raiva, a voz baixa e perigosa soando através dos dentes cerrados. Potter baixou a cabeça _ Completamente louco... _ Snape continuou, a varinha cada vez mais próxima do rosto do garoto, cujos ombros agora haviam começado a se sacudir _ Me dê um só motivo para... para... _ Snape tentava se controlar a duras penas para não matá-lo ali mesmo.
Ainda de cabeça baixa, o garoto começou a rir; e em poucos segundos, estava gargalhando, a cabeça jogada para trás. Aquela gargalhada era fina e escandalosa demais para pertencer a um homem... e foi então que Snape se deu conta: aquela só podia ser uma pessoa.
_ Tonks! _ ele vociferou, os dentes mais cerrados do que nunca.
Os cabelos negros instantaneamente tornaram-se rosa-chiclete, e agora, liberta das amarras, ela se curvava para a frente, rindo mais do que nunca.
_ Você devia ter visto sua cara _ Tonks disse, enxugando as lágrimas, os óculos em uma das mãos _ Juro que... _ mas então, ela olhou-o nos olhos e o riso morreu. Snape praticamente se confundia com a parede, gélido, implacável _ Ah, vamos. Foi engraçado! Tá, talvez eu tenha passado um pouco dos limites, mas...
_ Um pouco _ ele repetiu, desdenhoso.
_ Prefere a Umbridge, da próxima vez? _ ela sorriu maniacamente.
_ Ainda não consigo decidir se a pior opção era você, Nymphadora, ou o Potter.
_ Como assim? _ Tonks imediatamente ficou muito séria, as gargalhadas parecendo terem acontecido muitos séculos atrás.
_ Como assim? _ ele perguntou desdenhoso _ Não se faça de sonsa. Aliás, não sei nem como ainda tem coragem de estar aqui.
_ Snape?
Sem mais palavras e qualquer explicação, Severus deu-lhe as costas, as vestes acompanhando elegantemente seus movimentos; e tomou o caminho para as masmorras em passadas rápidas.
_ O que foi que aconteceu aqui, por Merlin? _ Tonks perguntou às paredes, ainda atônita demais para fazer qualquer coisa. Mas logo seu temperamento impulsivo falou mais alto e ela se pôs a correr atrás dele.
_ Snape, espera! O que é que está acontecendo? Foi só uma brincadeirinha, não é pra tanto...!
Mas ele nada respondeu. Mesmo que apenas caminhasse, ele ainda era bastante rápido, e Tonks alcançou-o apenas junto à grande porta de ferro fundido que delimitava o território dele.
_ Me diz, o que acontece?
A resposta dele foi bater a porta na cara dela. Mais uma vez, ela permaneceu sem ação. Aquilo havia sido demais...! Uma porta na cara sem motivo algum? Com quem Snape pensava que estava tratando? Decidida, ela empurrou a porta com as duas mãos. Estava aberta. Escutando atentamente, ouviu o som de frascos sendo retirados e colocados na estante e dos resmungos dele vindo da sala logo à esquerda, o laboratório.
_ Escuta aqui, será que você não pode me explicar...
_ Dê o fora _ ele cortou _ Agora. Tenho muito o que fazer; e não pretendo perder um segundo que seja com desculpas furadas.
_ Desculpas furadas? Eu não... eu só achei que seria engraçado... _ a voz foi morrendo; enquanto as mãos se abanavam inutilmente.
_ Dê o fora, já disse _ ele repetiu, ameaçador. Então, ignorando-a solenemente, como se Tonks não passasse de um frasco de poção vazio, Snape murmurou um accio, trazendo até si um enorme caldeirão e facas, frasquinhos, pilão e uma tábua de cortar; e logo começou a separar alguns ingredientes.
Ela não podia mais suportar aquilo. Cruzando os braços, a expressão bastante decidida, postou-se exatamente em frente a ele. Snape tentou ignora-la, mas Tonks pigarreou (e se fosse em outra ocasião, teria sido um “hem-hem”). Então, ele ergueu os olhos e suspirou, fingindo tédio.
_ Será que preciso ser mais enfático? _ a voz, porém, era claramente gélida e ameaçadora, assim como a varinha apontada diretamente para ela.
_ Já deu, Snape! Escuta aqui! Não tenho a menor idéia do que está acontecendo e do porquê você está agindo como um idiota. Seja lá o que for, você me deve uma explicação.
_ Devo? _ ele ironizou, arqueando uma sobrancelha.
_ Sim, deve _ e agora ela estava tão fria quanto ele _ Eu dei a você uma chance de se explicar, caso não se lembre. E seja lá qual for a merda que está acontecendo agora, seria justo que você fizesse pelo menos o mesmo.
Snape se calou por alguns segundos, pesando as palavras dela.
_ Certo. Explique-se enquanto corto as raízes, é todo o tempo que lhe dou _ e mais uma vez a ignorando por completo, curvou-se sobre a mesa e começou a trabalhar. Os movimentos com a faca eram frios e calculados, mas ela pode notar as mãos dele tremendo.
_ Antes, preciso saber o que foi que aconteceu _ ela disse no mesmo tom de voz lento e professoral que usava em classe para explicar um feitiço muito simples, mas que se recusava a entrar em uma ou outra cabeça dura.
A faca parou no ar; e ele ergueu os olhos, gelados, apertados, para ela.
_ Ora. Você não faz idéia? _ a boca se crispou de desdém.
_ Quantas vezes vou ter de repetir? Não, não faço idéia.
_ Isto _ Snape tirou um pergaminho extremamente amassado do bolso _ deve refrescar sua memória _ e, atirando-o para ela, voltou a atenção para as raízes.
Tonks imediatamente se reconheceu na foto (na qual parecia extremamente desconfortável, como quem quisesse desaparatar dali o mais rápido possível); e tudo passou a fazer sentido. Como havia sido burra! Burra e impulsiva, como sempre! Como fora que aquela idéia parecera tão atraente e genial na hora? Burra, mil vezes burra! Sequer pensara em ser fotografada... Mas... como é que sabiam seu nome? Ela não era famosa nem nada... não conhecia ninguém que trabalhava no Profeta...
_ Ah, é claro! _ ela deu um tapa na testa _ Como foi que isto chegou nas suas mãos? Quem te mostrou? Sim, porque você *nunca* lê a coluna social.
_ Não interessa quem mostrou _ Snape respondeu, irritado.
_ É lógico que interessa. Mas não, não precisa responder, já tenho o suspeito perfeito. Foi o Harry, não foi?
_ Já disse, pouco interessa...
Tonks conjurou um banquinho e se sentou, cara a cara com Severus. Então, suspirou.
_ Snape _ e agora, seu tom de voz era outro, mais calmo, menos frio; e ela parecia bastante chateada _ Não que eu ache uma coisa bonita, mas... é recíproco, você sabe, esse ódio que você sente pelo Harry. Ah, mas que droga, uma baita infantilidade das duas partes que não vai levar a lugar algum... Será, Snape, que em momento algum passou pela sua cabeça as verdadeiras intenções do Harry quando te entregou esse jornal?
Severus não respondeu e continuou inclinado sobre a mesa. Porém, deixou a faca de lado. Aonde é que Tonks pretendia chegar para livrar a cara? Era claro como veritasserum que ele sabia o quanto o maldito Potter o odiava.
_ Isso não altera o fato de que é você nessa foto, Nymph...
_ Tonks. Sim, sou eu, não nego. Também não nego que saí do bar com esse... infeliz.
_ E ainda quer saber qual é o problema _ Snape replicou, sarcástico.
_ Alo-ou! _ ela estalou os dedos na frente do rosto dele _ Eu *saí* do bar com ele. Saí. E pronto. Qualquer outra coisa que fiz ou tive com ele acabou ali. Saí, aparatei... e fui pra um bar trouxa me embebedar, sabe por culpa de quem, senhor Severus Snape? _ ele desviou os olhos _ Me diz, minha cara nessa foto parece de alguém feliz e saltitante? _ ela empurrou o Profeta para debaixo do nariz dele, mas Snape voltara a picar as raízes. Dessa vez, furiosamente.
_ Pois bem, vou me explicar agora. Eu te falei, lembra?, que a Gina começou a perguntar demais. Desconfiei, e agora eu tenho quase certeza de que tinha razão em desconfiar _ Tonks começou a murmurar para si mesma _ Tenho quase certeza de que os dois armaram tudo. Ah, mas deixa pra lá, isso não vem ao caso agora. Bom, eu já esperava por algo assim, depois daquela noite no Salão Principal. Aí, bem... fingi que estava interessada em outro pra desviar a atenção... sim, eu fingi, Severus, não me olha com essa cara! Tá, tá. Fui impulsiva, meu Merlin, como fui _ ela afundou a cabeça nas mãos _ Se pudesse voltar atrás... na hora nem pensei nas conseqüências...
_ Porque é que esse tipo de atitude, vinda de você, não me surpreende num um pouco? _ ele perguntou. Mas seu tom de voz não era o irônico de sempre, mas frio e cruel.
Tonks estreitou os olhos, cerrou os punhos e então, num ímpeto, ficou de pé e começou a procurar alguma coisa no armário de poções. Snape fitava as raízes, tentando decidir se acreditava ou não naquela história. Sim, fazia sentido, levando-se em conta as maluquices sem fim que Tonks já havia feito. Por outro lado... por outro lado... Severus não conseguiu encontrar uma acusação que fizesse sentido; porque Tonks, com algo nas mãos, estava de volta, com um ar de desafio no rosto.
_ Eu sei que você devia era confiar em mim, quando digo que te amo e não preciso de mais ninguém. Porque relacionamento algum vai pra frente se não existir confiança. Mas... também sei que, bem, agi sem pensar e que qualquer pessoa, inclusive eu, não desculparia fácil uma situação dessa. Então _ ela destapou o frasquinho que trazia nas mãos; e os olhos dele se arregalaram um tantinho ao reconhecer o veritasserum _ pra poupar um monte de tempo e discussão inútil... _ ela ergueu o frasco como se fizesse um brinde _ à verdade! _ e virou tudo na boca.
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Capítulo chato, mas necessário. Quase 1600 palavras de discussão, quem é que agüenta? =P Mas não rolava ficar de bem do nada. Enfimmm! Bom, pra quem perguntou, a fic deve ter mais uns quatro ou cinco capítulos (incluindo o epílogo).
Aaaagradecimentos: Morgana, Vinola, Hannah, Miguel, Samoa, Lara, Kissy, Miss Robsons, Senhorita Granger, Nathalia e Vansnape \o/
Mais de cem comentários! Vocês fizeram uma autora extremamente emocionada :~
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