Vinho Veela do Vale...



Cap. 9: Vinho Veela do Vale do Avignon, Safra 1874


12 de Julho de 2000.


Os gêmeos haviam concordado imediatamente com o plano, de forma que, naquela tarde, quatro Weasleys e um Potter tinham diante de si um caldeirão cheio de uma poção vermelho-arroxeada, que podia facilmente se passar por vinho, não fosse o gosto um pouco amargo demais. Uma poção que, uma vez ingerida, levava a vítima a um profundo sono de doze horas, ao fim das quais o amor teria se transformado em indiferença.

_ Agora, o grand finale! _ anunciou George, chamando a atenção para si.

_ Calma aí, maninho – pediu Fred, enfurnado em um canto do sótão, revirando caixas e caixotes _ Onde é que estão aquelas garrafas vazias de vinho francês que o Gui trouxe pra mamãe no último Natal?

O sorriso-holofote de George se apagou; e ele e Ron foram ajudar o irmão. Enquanto isso, Harry, sentado no sofá puído, fitava resoluto o caldeirão.

_ Falta pouco, agora _ ele disse à namorada, sentada a seu lado.

_ Como vamos fazer pra Tonks tomar isso aí?

_ Ainda não sei. Temos que achar um jeito do qual ela não desconfie; e também, alguma forma de fazer apenas ela beber, ninguém mais. Só por segurança, claro _ Harry deu de ombros _ Se alguém além da Tonks beber isso, quando muito, só vai odiar ainda mais o Ranhoso...

_ ... o que não é nada indesejável _ completou Ron, aproximando-se com os irmãos em seus calcanhares.

_ Senhoras e senhores, atenção!_ pediu George, mergulhando uma concha no caldeirão _ Aqui temos...

_ ... uma garrafa do excelentíssimo Vinho Veela do Vale do Avignon... – disse Fred por sua vez, estendendo uma garrafinha para aparar a poção que o irmão despejava com a concha.

_ ... Safra 1874. Superbe! _ concluiu o primeiro. _ Ah! E como é pra Tonks...

O outro gêmeo acenou um feitiço protetor com a varinha.

_ Como vocês são malvados _ Gina estreitou os olhos, mas sorria.

_ Ora, claro que não, irmãzinha.

_ Apenas prevenidos.

_ E a Tonks, desastrada ou não, é uma coisinha linda; não podemos deixá-la assim, indefesa, nas mãos do morcegão _ concluiu Fred, com uma piscadela _ Aqui está, Harry. Foi um prazer ajudá-lo.

_ Não sei nem como agradecer vocês _ disse o garoto, colocando a garrafa com cuidado no colo.

_ Ora, o que é isso.

_ Qualquer forma de atazanar o Snape...

_ ... é diversão, não trabalho. Agora, se nos permite ir...

_ ... temos nossos negócios pra cuidar.

E num piscar de olhos, entre acenos e gracejos, os dois se foram. Ron desabou no sofá ao lado do amigo.

_ Ainda sobrou bastante _ disse, espiando dentro do caldeirão _ Se ela não cair nessa do vinho...

_ A Tonks é esperta, é uma ex-auror, não se esqueça. Acho que, se não cair nessa, vamos ter que abrir o jogo com a Sra. Tonks _ na noite em que Andrômeda o confrontara, Harry havia achado melhor não lhe contar tudo, ainda. Apenas dissera a ela que haviam notado, sim, uma estranha intimidade entre Nymphadora e Snape; e que tentariam descobrir mais.

_ Ron! Ronald Weasley! _a voz de Molly veio crescendo lá de baixo. Num ímpeto, Harry tirou a capa de invisibilidade do bolso e a jogou sobre o caldeirão; ao mesmo tempo em que Gina escondia a garrafa atrás de umas almofadas _ O que é que vocês estão fazendo aí? _ o rosto desconfiado da Sra. Weasley assomou à porta.

_ Estávamos decidindo entre xadrez bruxo e snap explosivo, mamãe _ Gina se antecipou ao irmão, transpirando inocência.

_ Não saíram daí as férias inteiras _ Molly resmungou consigo mesma _ mas antes no sótão do que aprontando por aí.. _ então, ela relaxou _ Ron, querido, pode fazer o favor de mandar uma coruja ao Carlinhos, perguntando se ele virá ao almoço de domingo?

_ Claro, mamãe.

_ E se a gente convidasse a Tonks, também? _ Gina perguntou.

_ Ah _ a mãe suspirou _ pobre Tonks... mal tive tempo pra trocar duas palavrinhas com ela na festa... vem suportando tudo tão bem... sim, sim, Ron. Faça o favor de convidá-la também, sim?

*

14 de Julho de 2000.


A reunião se estendia há horas, lenta, morosa e inútil, tornando ainda mais difícil a total concentração de Severus Snape. Já era praticamente a vigésima vez que ele presenciava a reunião de início de ano letivo e, fosse Dumbledore ou McGonagall quem estivesse no comando, a essência do discursinho era sempre a mesma. Porém, a maior contribuição para aquela falta de atenção (muitíssimo bem disfarçada, logicamente) era a presença de Tonks do outro lado da mesa, duas cadeiras à direita.

Embora ela mal tivesse olhado para ele desde que chegara (e o houvesse cumprimentado de uma forma bastante genérica), a simples presença dela bastava para instigar seus devaneios; e somando-se a isso pensamentos do que faria com ela mais tarde, o resultado era um Snape extremamente distraído. Tão distraído e devaneante que era capaz de ignorar até mesmo a irritante voz do maldito Potter (que, por alguma bênção de Merlin, estava sentado no melhor lugar possível: do mesmo lado da mesa que ele, Severus, porém devidamente separados pelas professoras Sprout e Sinistra).

Por fim, depois do que pareceram séculos, a diretora os dispensou. Tonks imediatamente guardou tudo em sua bolsa, sem nem olhar para ele, e saiu, parecendo muito entretida em uma conversa com Carlinhos Weasley. Aquilo não era muito habitual; em todas as reuniões, ela fazia seu melhor para ser o mais atrapalhada possível, se atrasar e ficar a sós na sala dos professores com Snape, sorrindo como uma louca para ele, mas... Tonks não era alguém que se prendesse à rotina; então, aquele comportamento não podia ser considerado tão estranho, afinal. Como ele costumava resmungar, era praticamente um elfo doméstico, sempre ficando encarregado de recolher e guardar penas e pergaminhos após as reuniões. E assim foi: Snape apanhou tudo meticulosamente e dirigiu-se a um armário num canto afastado da sala, ouvindo murmúrios e conversa morrendo aos poucos. E só percebeu que estava com sérios problemas quando uma vozinha irritante e indesejável murmurou atrás de si:

_ Ela nem olhou pra você hoje, não foi?

Ainda virado de frente para o armário, Snape fechou os olhos e respirou profundamente. Não iria se irritar... muito, não deixaria aquele pirralho estragar o começo de uma tarde maravilhosa. Não deixaria Potter ter todo aquele poder sobre ele.

_ Mas sabe o que é? _ a voz veio se aproximando por trás _ Seja lá o que for que você esteja fazendo com a Tonks _ e Harry frisou sutilmente as palavras _ deve estar perdendo o efeito.

_ O que é que você está dizendo, seu... o que é que você está dizendo? _ Snape perguntou, estreitando os olhos e controlando o tom de voz. Em apenas três segundos Harry havia se tornado o professor mais odiado por Snape, superando Quirrel, Lockhart, Lupin, Moody e Umbridge juntos.

Harry sorriu um sorriso cruel e então, estendeu uma edição do Profeta Diário para Snape. Este olhou para o jornal como se este fosse um rato morto, indesejável e repugnante.

_ Vamos, pegue! _ Harry insistiu, sacudindo o Profeta. Visivelmente a contragosto, Snape obedeceu.

_ Divirta-se! _ disse o garoto, girando nos calcanhares.

O jornal estava dobrado estrategicamente, de forma a exibir a foto de um casal saindo de um bar. Pareciam um daqueles... malditos roqueiros, com aqueles cabelos espetados e roupas de couro preto. Cabelos espetados... seu coração começou a bater mis rápido; e, temendo o pior, ele se aproximou para ler a legenda da foto: “Donaghan Tremlett deixa o pub acompanhado pela ex-auror Nymphadora Tonks após show de rock”.

“Soco no estômago” não era uma expressão muito acurada para descrever o que ele sentiu. Talvez um “Crucio nas partes baixas”se aplicasse melhor, se bem que os efeitos do Crucio não durassem tanto nem daquela forma tão intensa. Então havia sido aquilo... aquilo explicava a pressa, a insistência em ir ao show; e até mesmo, quem sabe, aquela recusa em olhar nos olhos dele apenas alguns minutos atrás. Será que ela já estava arrependida? Ou... havia desistido dele, afinal? Como se ele ainda quisesse algo com ela depois disso, pensou ele amargamente, furiosamente, enquanto descontava sua raiva no Profeta, agora quase reduzido a pó. No jornal! Para todo mundo ver... ainda bem que ninguém sabia, mas ainda assim... e ele havia sido um grandíssimo idiota em se sentir culpado por ser tão rabugento... e até havia dito que a amava... e, horror dos horrores, até andava pensando em finalmente ceder e dar um jeito nos cabelos...

Maldita, maldita seja, Nymphadora Tonks! E agora ele nem mesmo tinha mais tanta certeza assim do relacionamento dela com aquele maldito Weasley. Tudo podia ser... show com Harry e Gina, pois sim! Ele estivera certo o tempo todo, temendo que ela o fosse trocar por outro, alguém mais jovem e com uma aparência melhor... se bem que a aparência daquela aberração não pudesse ser considerada, exatamente, melhor. Mas era bem mais glamouroso que ele, de qualquer forma. Fazia muito, muito tempo que Snape não se enfurecia assim, a ponto de perder o controle. Ainda bem que havia ficado sozinho na sala; e ele ainda não sabia se era bom ou ruim que inclusive Harry houvesse dado no pé. Talvez fosse uma excelente forma de descontar sua raiva... mas agora, tudo o que ele queria fazer era preparar a poção mais complexa e precisa de que fosse capaz, para não pensar em mais nada. Para esquecer a vergonha, a infâmia, a humilhação. Mais uma vez um maldito Black o humilhara... mas ele cuidaria para que aquela fosse a última... de qualquer forma, não existiam muito mais Blacks que pudessem aprontar com ele, pensou Snape, sombrio, amargo e sarcástico.

Mas parece que alguém lá em cima havia dado ouvidos a seus desejos: dobrando uma curva, Severus se viu face a face com... Potter. Mais uma vez Potter. Com um sorriso escarninho e zombeteiro no rosto, aparentemente muito satisfeito com o que havia feito.

_ Saia da frente! _ Snape ordenou. Não queria perder seu precioso tempo com o moleque. Não queria que ele visse o quanto seu plano nojento e bastardo havia atingido o alvo, com tamanha precisão que nem ele, Snape, seria capaz.

Harry, porem, não obedeceu. Continuou parado exatamente no meio do corredor, os braços cruzados, sorrindo. O sorriso, aliás, parecia ter ficado ainda maior. E agora ele erguia uma sobrancelha, desafiando.

_ Saia, estou mandando! _ o tom de voz começava a ficar perigosamente mais alto.

Em resposta, Harry abriu as pernas, como se para impedir que Snape passasse pelo espaço ao lado dele. Cada vez mais irritado, Snape enfiou a mão dentro das vestes, e se aproximou, espumando, as sobrancelhas unidas no meio da testa, os olhos dardejando ódio.

_ Eu mandei sair, não...

Mas ele jamais chegou a completar a frase. Antes que Snape sequer tirasse a varinha de dentro do bolso, Harry se aproximou, ficou na ponta dos pés... e colou os lábios na boca do ex-professor. Atônito, Snape demorou a reagir, sentindo o garoto colocando as mãos em seu rosto e aprofundando o beijo, a língua penetrando atrevida em sua boca...


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Mwahahahhahaha! Slash é bom, né? E agora eu deixo vocês ficarem com raiva do Harry. Golpe baixo, esse da coluna social! Bom, o Snape não havia visto a notícia porque ele simplesmente abomina o Profeta, como foi dito no finalzinho do capítulo 8 de EMP ;D (gente, até hoje não lembro de ter visto em qualquer passagem dos livros o Sev lendo o Profeta, se existe, mancadona minha. Alguém avisa?). Aham, alguém sabe como é quebrar (ou inquebrável) em latim? Gastei horas procurando isso na net pra criar o tal feitiço protetor que o Fred tasca na garrafa. E não, a Rowling não criou um desse. Blé.

Wheee, fic chegando ao fim :~

Meus amores que comentaram, Vinola, Morgana, Hannah (não atualizou a fic nesse sábado?? Porqueee? :~), Senhorita Granger, Miss Robsons (nossa, não precisa se desculpar por não comentar, que é isso =D um comment de vez em quando já acho ótimo!), Nathalia, Lara, Miguel (quero o 15!), Samoa e Kissy (ufa!): muuuuuito obrigada a vocês, de coração!

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