Terra de gigantes
O encontro com Hermione tinha aumentado a confusão de Gina. Então, Harry gostava dela? Desde quando? E quanto? Ou será que Mione se enganara? Talvez fosse só uma atração física? Ele parecia tão unido a Claire. E ficara tão distante desde o dia do beijo. Nem falava mais com ela. Mas também não valia a pena preocupar-se com isso. Sua vida estava ligada a Arlen.
Gina estava numa sala do Escritório Britânico da Confederação Internacional dos Bruxos. Tinha sido chamada pelo diretor Teodoro Thomas, um mago de modo gentis e sorriso afável, muito comprido e delgado como uma vara de pesca. Ele ainda não tinha aparecido, mas a moça não estava só. Sentado numa cadeira ao lado encontrava-se um homem de estatura mediana e corpo arredondado, Jerome Cosby.
- Senhorita Weasley, fico feliz de ter se juntado a nós. Estávamos precisando de juventude! Nos últimos anos, pouquíssimos ingleses foram aprovados no curso da Confederação. Parecem que todos aqui só querem ser aurores.
Nesse instante, Thomas fez sua entrada triunfal pela sala: vestia uma capa com forro roxo e trazia um chapéu preto pontudo e lustroso. Era um homem muito orgulhoso de sua elegância e sua postura demonstrava isso. Cumprimentou Gina com delicadeza e estendeu a mão para Cosby.
- Serei breve, meus caros, porque temos pouco tempo. Ontem à noite recebi uma mensagem da Confederação solicitando nossos serviços a pedido do Escritório Alemão. Há cerca de um mês uma pesquisadora muito famosa da língua dos gigantes se instalou num vilarejo nas Highlands. Trata-se de fraulein Helga Schmidt. Ela foi para lá atrás de informações que recebera duma cidadezinha chamada Uphill. Essas informações davam conta da presença de gigantes. É claro que isso causou assombro. Há muitos anos não vemos essas criaturas em parte alguma da Grã Bretanha. Como foram parar na Escócia, não temos idéia. Enfim, o que importa é que recentemente fraulein Schmidt escreveu para a Confederação contando que tinha encontrado dois gigantes. O contato foi extremamente difícil, mas ela tinha a impressão de que não haveria problemas. Bom, há sete dias ela saiu da pousada onde está hospedada acompanhada do assistente Otto Heidel com destino às montanhas, dizendo para sua amiga, a pesquisadora Judith Gudrun, que voltaria em três dias. Gudrun faz parte da equipe. No quinto dia, essa mulher escreveu para a Confederação preocupada. Avisava que iria às montanhas em busca dos amigos e que retornaria no mesmo dia. Pois bem, ela também desapareceu. Vocês dois são agentes que falam a língua dos gigantes. Devem, portanto, ir para lá, procurar os gigantes e localizar essas pessoas. Imagino que estejam com tudo anotado.
- Gigantes são tão confiáveis quanto trasgos - observou Cosby, com uma ruga fortemente marcada na testa.
- Infelizmente, meu querido, é com eles que vocês vão lidar. É melhor mudar o humor em relação às essas criaturas, rapaz. Ou você acha que vai lidar a vida inteira com diplomatas elegantes, veelas em crise e leprechauns gananciosos?
- Ora, foi difícil fazer com que os leprechauns deixassem de lado as pendengas com Gringotes! O acordo custou a sair.
- Creio que deveríamos pedir ajuda também aos aurores - interrompeu Gina, depois de pensar bastante no que acabara de propor.
Thomas ficou lívido. E em seguida, seu rosto se cobriu de placas vermelhas.
- Não precisamos de aurores! Esses alemães, que estavam a serviço da Confederação, foram até os gigantes armados apenas com varinhas e o conhecimento que têm. Temos tantas condições quanto eles de fazer contato com os grandões. E somos preparados a enfrentar situações de conflito. Espero que não tenha esquecido disso, senhorita.
- Claro que não. Ainda assim, não vejo problemas em chamar um auror, apenas um, para nos dar mais segurança.
- Nenhum auror entra nas minhas missões. Acho que isto encerra a discussão. Tomem seus papéis, a verba de viagem, mapas. Levem kits de sobrevivência e me enviem relatórios a cada nova informação. Até a volta.
Na saída, Gina comentou o comportamento do chefe com o colega. Ela achou o diretor muito sensível com a questão dos aurores. Cosby fez uma careta.
- Thomas detesta Quim Shacklebolt. Estudaram juntos em Hogwarts e desde então eles não se suportam. Shacklebolt é chefe dos aurores, não é? Está aí a sua resposta.
***
Gina subia uma montanha bastante íngreme junto com Cosby. Tinham chegado em Uphill à noitinha e investigaram com os moradores e o dono da pousada os últimos passos dos três viajantes, que se apresentaram como biólogos interessados na fauna das Highlands. Não havia muitas pistas. Sabiam, porém, que eles tinham se dirigido à região onde se encontravam naquelas primeiras horas da manhã. O sol estava saindo preguiçoso e fora particularmente difícil fazer Cosby cumprir o horário combinado.
A dupla estava atravessando uma floresta com os ouvidos atentos e as varinhas em punho. Os habitantes de Uphill contaram que nos últimos meses muitas pessoas que tinham ido à mata escorregaram montanha abaixo e sofreram tantos ferimentos que não sobreviveram. Um pastor jurara ter visto um homem imenso arremessar pesadas pedras contra ele. Mas os aldeões não acreditaram nele, dizendo que ele escondia um alambique na floresta e que deveria ter bebido uns bons goles do uísque vagabundo que fabricava. Um menino que costumava caçar passarinhos também relatara ter encontrado uma criatura cuja cabeça era do tamanho de sua casa. Ela estava dormindo e o garoto vira apenas o rosto sujo de terra. Os moradores julgaram que a história era mais uma invenção do menino. Ele era famoso por exagerar nas aventuras para impressionar os amigos. Esses fatos, no entanto, despertaram a curiosidade da única bruxa que vivia na aldeia. Fora ela que escrevera para fraulein Schmidt, cujo trabalho conhecia por causa de reportagens do Profeta Diário.
Por onde passavam, os agentes viam sinais dos gigantes. Árvores arrancadas da raiz, terra remexida, pegadas apenas visíveis ao olhar treinado de gigantólogos e estudantes de gigantologia, uma das disciplinas dadas no curso da Confederação.
- Gina, tenho de confessar que nunca fui bem em gigantologia. Tomara que o seu gigantologuês seja bem melhor do que o meu.
- De acordo com os relatórios de Schmidt, são só dois gigantes. Não devem dar muito trabalho. Ou não deveriam. O que eu estranho é como vieram parar aqui. A montanha não oferece muitas condições para que eles vivam nesta região. Pouca comida, poucas cavernas apropriadas para o tamanho deles e pouca distância, em termos de gigante, para os centros urbanos.
Repentinamente, uma grande massa de terra se moveu em direção à dupla. Cosby perdeu o equilíbrio, mas Gina saltou de lado e com a varinha o arrastou para junto dela. Era um gigante que estava deitado, à espreita. A criatura se ergueu. Segurava uma clava feita com um tronco de árvore. Gina começou a falar gigantologuês, anunciando que vinham como amigos. O gigante riu e arremessou a clava. Cosby executou o feitiço de proteção. O escudo invisível estremeceu violentamente com o choque, mas resistiu ao golpe. Gina manteve o discurso e a serenidade, curvando a cabeça ligeiramente em sinal de respeito e fazendo surgir um presente dado pela Confederação, um barril com suco de abóbora e uma caixa com enormes pedaços de frios. O gigante tratou de devorá-los ali mesmo. Não tirava os olhos de Gina, que não se intimidou. Cosby estava atento, procurando a outra criatura. A ruiva pediu ao gigante que chamasse seu companheiro, aos quais mentalmente atribuiu os nomes de Primeiro e Segundo. Queria conversar com os dois. Ele atendeu o pedido e urrou atraindo uma criatura ainda maior. Embora fosse enorme, parecia menos sinistro do que o Primeiro. Bruscamente perguntou o que queriam. Cosby respondeu que procuravam por amigos e descreveu os pesquisadores alemães. O Segundo arreganhou um sorriso.
- Eles são nossos amigos - disse em seu idioma gutural e áspero.
- Pode nos mostrar onde encontrá-los? - perguntou Gina com delicadeza e mantendo uma postura firme.
- Querem se juntar a eles? Nós levamos vocês - replicou o Primeiro, que exibia um sorriso maldoso.
- Obrigada. Mas gostaríamos antes de saber o que aconteceu com esses amigos.
- Nós convidamos eles para jantar - afirmou o Primeiro, ainda sorridente. - Eles estão bem. Querem ver?
Cosby desejou negar o “convite”. Gina respondeu que iriam, deixando claro que os seguiriam. E agradeceu a... gentileza. Os gigantes continuaram subindo a montanha, fazendo com que a dupla acelerasse o passo. As varinhas dos agentes estavam abaixadas desde o início da conversa, como prova de confiança. E então as criaturas se viraram e tentaram agarrá-los. Cosby desaparatou e aparatou às costas dos gigantes jogando feitiços de amarração. Cordas grossas surgiram do nada tentando prender os agressores. Mas eles eram fortes demais para isso e agora estavam muito irritados. Detestavam bruxaria. Ágil como se estivesse sobre uma vassoura, Gina apenas se desviava dos ataques, correndo e saltando. Continuava falando gigantologuês e dizia que usaria a magia em último caso. Insistia na negociação. O Segundo gritava que não havia acordo e atirou uma pedra contra Cosby. O bruxo desaparatou mais uma vez e surgiu no alto de uma árvore. Foi seu erro. Distraiu-se tentando manter o equilíbrio e foi o suficiente para que o Segundo o atingisse com outra pedra. Ferido, Cosby caiu pesadamente. Gina amorteceu sua queda com um feitiço e arremessou uma azaração contra o Segundo. Não havia mais condições de negociar. Os gigantes estavam ferozes, além do que poderia esperar. “Isso tudo é muito esquisito. Gigantes não costumam atacar no primeiro encontro”, pensou enquanto via o Segundo tropeçar, aturdido. Gina saltou sobre uma pedra e de lá conjurou uma série de feitiços do tipo sonífero contra o gigante caído. Sabia que essas criaturas exigiam doses maciças de magia para serem afetadas. O Segundo estrebuchou. A ruiva correu para um lado antes que fosse atingida por um golpe da clava do Primeiro. Estava atenta aos movimentos. O Segundo se moveu, tentando resistir aos encantamentos. Gina tinha de agir rapidamente. Executou mais e mais feitiços contra a criatura, desviando-se dos ataques do outro. Finalmente, o Segundo sucumbiu. Magia sonífera era o que melhor funcionava com esses seres e ela se lembrava disso. Então, a moça jogou uma nova azaração, desta vez contra a clava que se desmanchou em vários pedaços. O Primeiro berrou.
- Vou te caçar com as mãos, Cabelos Vermelhos.
- Seja razoável. Eu vim aqui para conversar, não para brigar. Diga-me onde estão meus amigos que eu vou embora para casa junto com eles.
- Você vai se juntar aos seus amigos e vai virar meu brinquedo.
- Não me obrigue a te machucar.
- Não vai conseguir. Mas eu não vou te machucar, não se assuste. Eu só quero pegar você, Cabelos Vermelhos - riu.
O gigante pulava, produzindo pequenos terremotos ao seu redor. Rochas se soltavam do alto e desciam a montanha. Ele tentava pegar algumas para jogá-las contra Gina. A jovem corria de um lado para outro, refugiando-se nas árvores e escapando do olhar do Primeiro. A criatura estava se enfurecendo porque não conseguia enxergá-la direito. A ruiva usava a capa élfica, o que lhe dava essa vantagem, apesar de ser dia. Gina deslocou-se até ficar de frente para o Primeiro, que se abaixara para pegar uma pedra enorme. Tinha de ficar cara a cara com o gigante para que a magia tivesse seu efeito aumentado:
- Impedimenta! Impedimenta! Impedimenta!
Com um grito, o gigante ameaçou tombar. Os feitiços tinham atravessado seu peito. Resistindo embora já estivesse curvado pela dor, ele estendeu os braços em direção à Gina. Tentou agarrá-la, mas errou a mão. A capa o tinha enganado mais uma vez. Sem sair da frente daquele homem imenso, a moça repetiu a série, mirando agora a cabeça do Primeiro. Foi demais para ele, que caiu sem sentidos, obrigando a garota a pular para não ser atingida. Ofegante, a jovem executou feitiços que cobriram o gigante de cordas. Correu até o Segundo e fez o mesmo. Assim que concluiu o serviço, foi até onde Cosby estava desmaiado. Mas se surpreendeu. Ele não estava lá. Subitamente, dois bruxos surgiram por trás de uma árvore. Um deles era Lúcio Malfoy, foragido havia um ano. Gina não teve tempo para reagir. Foi estuporada no mesmo instante.
- Parabéns, Weasley. Sozinha, venceu estes dois gigantes estúpidos. Mas fique feliz. Você finalmente vai encontrar seus amigos - disse Malfoy para a garota inconsciente, exibindo um sorriso irônico nos lábios.
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