O regresso



Harry Potter estava em seu quarto arrumando as malas quando ouviu Rony Weasley bater à porta. Pediu que o amigo entrasse, enquanto com a varinha fazia roupas se dobrarem.

- Tá pronto? Acabei de falar com a Mione e ela vai ter de ficar mais dois dias trabalhando. Chegou um sujeito bem jovem e muito machucado com jeito de quem foi atravessado por um monte de feitiços.

- Comensais?

- Nada. A Mione acha que ele pertence a uma espécie de clube de duelos secreto, de adolescentes que adoram uma boa briga. Não ouviu os boatos? O Ministério está doido para descobrir quem são esses caras e punir esse pessoal por práticas impróprias.

- Isso quer dizer que adiamos a visita à Toca?

- Não. Minha mãe já está esperando a gente para jantar. Não quero nem pensar como ela ficaria se a gente furasse.

Harry riu. Fechou a mala e a locomoveu por magia até a sala. De lá iriam aparatar. Rony escrevia num pergaminho uma mensagem para Hermione Granger, sua namorada havia três anos, desde que ele e Harry tinham se tornado aurores. A antiga amiga escolhera a profissão de curandeira em St Mungus e estava se dando bem, como se podia imaginar. Recentemente, fora promovida para coordenar uma ala e por isso quase não saía do hospital. Fazer uma viagem pelo sul da França tinha sido idéia de Claire, enfermeira em St Mungus e namorada de Harry, que precisava mesmo de um pouco de descanso. Lord Voldemort fora destruído por ele quando completara 18 anos. O feito foi comemorado por todos, principalmente pelos velhos companheiros de Hogwarts. Desde então, quase não vira mais ninguém da escola. De vez em quando, encontrava o diretor Alvo Dumbledore em reuniões do Ministério da Magia. E também via Percy Weasley, que também trabalhava lá. Os gêmeos Weasley eram outros com quem cruzava de tempos em tempos. E só.

Rony surgiu com suas malas e os dois aparataram na sala da Toca. A senhora Weasley correu para abraçar ambos, lágrimas nos olhos. Queixou-se de saudades e perguntou de Hermione.

- Ela teve de ficar. Vai acompanhar um caso, mas em dois dias chega aqui.

- E a sua namorada, Harry? Rony escreveu que vocês iriam juntos para a França. Onde ela está?

- Bom, a Claire não vem. Combinamos o encontro na França mesmo, daqui a uma semana. Ela só vai poder tirar folga de uma semana.

- Então, vocês vão ficar conosco durante uma semana? Que alegria!

- Não, mãe. A gente vai embora em dois, três dias. É o tempo da Mione chegar e ver todo mundo. Depois, só praia.

A senhora Weasley não demonstrou muita satisfação com a notícia. Os filhos já não viviam com ela. Gui estava casado com Fleur. Carlinhos morava em Londres, assim como Percy e sua mulher Penelope, e Fred e Jorge, sempre muito ocupados com a loja Gemialidades Weasley. Mas, felizmente...

- Rony, você sabia que Gina está voltando para casa?

Para Harry, isso era novidade. Há quanto tempo não ouvia falar dela? A irmãzinha de Rony escolhera uma carreira incomum: relações públicas em magia. Tratava-se de um trabalho diplomático, que exigia domínio de diversas línguas, capacidade de se comunicar com criaturas fantásticas e seres mágicos e profundo conhecimento das diferentes legislações de bruxaria ao redor do mundo. Gina já estava na Confederação Internacional dos Bruxos.

- Voltando como, mãe? Voltando para morar aqui ou voltando para uma visita?

- Ela concluiu os estudos, querido! Está voltando para casa. Hoje, no jantar, vamos receber convidados dela para comemorar a formatura.

-Que convidados?

A senhora Weasley fez cara de dúvida e não respondeu. Disse apenas que a mala de Gina já estava no velho quarto dela. Ela a despachara pela manhã. A caçula da família deveria chegar no comecinho da noite porque “tinha assuntos a resolver no meio do caminho”.

Rony e Harry brincaram de adivinhar os convidados. Neville Longbottom, antigo admirador de Gina? Dino Thomas, um ex-namorado? Colin Creevey, inveterado paquerador? “Tem dó. Sempre disse para ela que podia fazer uma escolha melhor”, riu o irmão. Harry argumentou que talvez Gina tivesse arrumado um namorado desconhecido para eles. Afinal, a garota tinha se mudado para a Suíça, onde ficava a sede da Confederação, fazia cinco anos. Rony gargalhou mais uma vez.

- Lembra quando ela tinha uma queda por você?

- Isso faz muito tempo. Ela deixou de gostar de mim quando eu estava no quinto ano - respondeu Harry, desconcertado.

- Bom, isso foi o que a Hermione disse.

- Bobagem. Nunca vi nenhum sinal de que, hum, ela ainda estivesse, han, a fim de mim. Pára de fazer essa cara. A Gina virou uma grande amiga. Tava sempre com a gente quando nos últimos anos e tudo. Mas depois de Hogwarts nunca mais vi sua irmã. Aliás, nunca mais soube nada dela. Só que ela decidiu estudar relações públicas na Confederação.

- Sossega. Eu estava brincando. Sei que você nunca teve interesse por ela.

- Falando desse jeito parece que eu menosprezei a sua irmã. Não é assim. A Gina era uma menina legal, simpática, divertida, até bonitinha.

- Até? Cara, que comentário horrível - debochou Rony. Harry percebeu que o amigo se divertia às suas custas e arremessou uma almofada sobre ele.

E entre piadas e lembranças a tarde chegou ao fim. Fazia muito calor dentro da casa e do lado de fora soprava uma gostosa brisa. Os dois aurores resolveram ficar no jardim enquanto tomavam cerveja amanteigada. Da cozinha, vinha um aroma delicioso. A senhora Weasley olhava a todo instante para o relógio, aguardando pela filha. O senhor Weasley apareceu primeiro. Cumprimentou os rapazes com abraços e correu para tomar um banho. A luz se extinguia no horizonte quando ouviram o inconfundível som de alguém aparatando no jardim. Não distinguiram quem era de imediato. Era uma figura encapuzada. O vento soprou mais forte naquele instante e desfraldou uma estranha capa cinzenta de aspecto molhado.

- Quem é você? - perguntou Rony, mão nas vestes em busca da varinha.

- Sou sua irmã, ora - respondeu alegremente Gina. Ela acabava de abaixar o capuz revelando os cabelos flamejantes. Os olhos brilhavam, úmidos de felicidade.

Os dois se abraçaram entre protestos de saudades. Gina deu um beijo estalado em Rony. O irmão a ergueu levemente no ar.

- Mas como os aurores são fortes - riu. Em seguida, virou-se para Harry - E você, como vai? Pensei que nunca mais ia ver de novo o famoso Harry Potter.

O rapaz não conseguiu pensar em nada engraçado. Apenas sorriu e imitou o aceno que a garota lhe mandou de onde estava. Para ele, não houve abraço nem beijo. Harry observava com atenção o rosto de Gina, reconhecendo os traços da menina na época de Hogwarts. As sardas continuavam lá, o riso fácil também. O olhar expressivo, a cabeleira ruiva e sedosa, a boca vermelha. “Epa, ela era assim tão... bonitinha?”

- É o Rony que está te deixando quieto desse jeito? Você costumava falar mais. Cadê a Hermione? Vamos entrar em casa.

- Arre! E você continua faladora - interrompeu Rony. - Ok. Vamos por partes. O Harry é tão mudo quanto você. A Mione está em St. Mungus e vem daqui a dois dias. E que raios de roupa é essa? Você costuma andar disfarçada?

- É uma capa élfica. Ela tem mesmo o efeito de camuflar. Ah, sabia que você ia estranhar. Ganhei dos Altos Elfos que conheci há um ano. Foi uma experiência ma-ra-vi-lho-sa. E por causa disso estou em dívida eterna com o Snape...

- Snape? - espantaram-se os dois rapazes.

- É. Severo Snape. Nosso antigo professor mantém relações com os Altos Elfos tem um tempão. Só eles cultivam uma planta muito especial, a atela, capaz de...

- Corta a aula e explica por que é que você se meteu com o Ranhoso. Esqueceu que ele detesta os grifinórios?

- Também achava isso, mas me enganei. No ano passado, decidi que meu trabalho de conclusão de curso abordaria os Altos Elfos, um dos povos mais antigos do mundo, que habitam hoje uma terra mágica, acessível somente aos elfos e a alguns poucos bruxos. Dumbledore tem acesso. Procurei por ele, que me sugeriu pedir ajuda ao Snape. O professor mantém contatos mais constantes com o povo élfico do que qualquer outro bruxo. Por causa da atela.

- História assombrosa. Deve ter sido um saco passar um ano em contato com o Snape - resmungou Harry.

- Imagina! Descobri que ele é uma pessoa ótima, desde que você comece a entendê-lo. O Snape não é animado, brincalhão, mas é companheiro, solidário e muito gentil. Só que isso não é para qualquer um, claro. Bom, tomara que vocês percebam esse lado dele no jantar. Ele é meu convidado, junto com a Luna Lovegood. Agora, licença. Vou beijar a mamãe e tomar uma ducha rápida. Por Merlim, daqui a pouco eles estão aqui! - e correu para a casa, deixando Harry e Rony plantados no jardim, completamente chocados.

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