Imperius



Seus dedos finos apertados contra a varinha já estavam sem cor. Ela bebera cada palavra de Rodolfo, mas não lhe fizera nenhum bem e a esta altura a loura já começava a questionar o alcance de seus poderes.
- Não pense nisso. Apenas concentre-se. Esvazie a mente, como em oclumência. – repetia para si mesma. –
Olhou bem para a aranha a sua frente. Era fácil, tinha que ser.
- Imperius. – ela proferiu com toda intensidade, colocando todo o seu poder naquele encantamento. –
E a aranha parou.
- Pule.
A aranha pulou. Sem que ela percebesse, um calor agradável tomou conta do seu peito e sua boca se abriu em um sorriso involuntário. Prazer, satisfação.
Finalmente compreendendo o que se passava na cabeça na irmã, Narcisa pensava que agora elas seriam como uma só, impossíveis de separar. Não podia estar mais equivocada.
Lúcio a abraçou por trás. Ela conhecia sua presença como ninguém e não precisava de nenhum artifício bobo como o cheiro de seu perfume ou o ruído do seu andar para sentir-lhe.
- Parabéns, minha Rainha. – ele cochichou em seu ouvido. –
Felicidade completa.

***

A chuva finalmente tinha dado uma trégua. O clima estava agradável, o que levou a maioria dos alunos de Hogwarts a passarem a manhã de Sábado do lado de fora.
Surpreendentemente, Lúcio não tinha treino de quadribol, que ele tinha deixado cada vez mais de lado desde que Rodolfo tinha aparecido, e estava recostado em árvore à margem do lago com Narcisa.
Severo e Rabastan, que tinham acordado mais tarde, se juntaram a eles.
- Eu e Narcisa estávamos comentando sobre uma pessoa perfeita para nossa “prova prática” da maldição Imperius.
- Quem? – perguntou Rabastan. –
- A obtusa da Berta Jorkins. – respondeu Narcisa com um sorriso malicioso. – Ela nem vai saber o que a atingiu.
- Bom, eu acho que estamos todos de acordo. – finalizou Severo. –
Os quatro abaixaram o tom de voz e começaram a elaborar um bom plano. Narcisa fez sinal para que todos se calassem por que Amos Diggory e Dédalo Diggle estavam se aproximando do grupo.
- Não fica bem pra nossa reputação ser vistos com esses sangues-ruins, Narcisa. Nós somos futuros comensais.
- Eu sei. Eu também já estou cheia deles.
- Bom dia, Narcisa. – disseram os dois em uníssono. –
- Bom dia. – ela respondeu rudemente, virando a cara. –
- Aconteceu alguma coisa?
- Aconteceu, Amos. Eu não acho que seja apropriado você continuar me rondando. Lúcio é o homem com quem vou me casar, e não me faz bem ser rodeada por outros homens que tenham segundas intenções. Especialmente se eles não são da casa de Slytherin.
- Me desculpe, mas eu pensei que nós fossemos amigos. Você aceitou minha ajuda.
- Não significa que eu tivesse interesse em você, só que eu realmente precisava de ajuda.
- Deixe-me deixar claro. – interrompeu Lúcio. – Minha namorada se sente constantemente assediada. Ela não gosta e nem eu. Principalmente se tratando de dois sangues-ruins que não são dignos nem de um olhar da minha Rainha.
- Não me chame de sangue-ruim!!! – respondeu Dédalo já sacando a varinha. –
Todos ficaram lhe olhando por um longo instante. Até que Lúcio soltou um riso de deboche.
- Não ria.
Dédalo olhou para Amos como que lhe implorando e o garoto sacou sua varinha também, sem muita convicção. Então Dédalo, tremendo e suando muito, murmurou um feitiço. Ninguém foi capaz de ouvir, mas o raio que saiu de sua varinha e atingiu em cheio na árvore, e que teria pego a cabeça de Lúcio se ele não fosse mais rápido e tivesse agarrado Narcisa e a empurrado, foi o suficiente.
Os três garotos levantaram-se furiosos e sacaram suas varinhas.
- Agora você vai ver com quem você mexeu. – ameaçou Lúcio. –
Narcisa se recostou de volta na árvore e ficou assistindo, como se fosse um mero jogo de xadrez bruxo, um tanto desinteressante.
Os três garotos cercaram os alunos da Lufa-lufa e lhes atacaram. Dédalo, que foi atingido por uma maldição de Severo, subiu bem alto e caiu no chão com um barulhão. Amos foi atacado por Lúcio e Rabastan ao mesmo tempo e acabou paralisado, imóvel no chão, e coberto de furúnculos antes mesmo que pudesse perceber o que estava acontecendo.
Lílian, vendo o acontecimento, correu para ajudar os dois garotos. Mas assim que chegou perto, Narcisa pegou sua varinha e apontou na direção da garota, que tropeçou e rolou pelo pequeno declive, até cair perto de os Marotos estavam. Potter, é claro, correu para ajudá-la.
Ela se desvencilhou do garoto, irritada e olhou em volta para tentar localizar seu agressor, mas Narcisa já tinha voltado a assistir a briga calmamente. Apesar de sua aparente frieza, Narcisa estava um pouco assustada, não pela crueldade com que Lúcio acabava com Amos, mas em perceber que a perversidade do namorado não lhe causava nenhum incomodo.
- Você não vai fazer nada? – Lílian abordou a garota. –
- Não. Por que eu deveria?
- Porquê você é monitora, e monitores devem ser imparciais.
- Vá lá e interfira você mesma, Lílian.
- Você não dá a mínima, né?
- Sinceramente, não.
Lílian entrou na briga, é claro. Mas não consegui nada. Os meninos eram obviamente mais bem treinados. Temendo que Lílian fosse vitimizada também, os marotos finalmente entraram na briga e Sirius tinha acabado de lançar um feitiço poderoso em Lúcio, que tinha desviado, quando McGonaggal apareceu e todos pararam abruptamente.
- Alguém pode me explicar o que está acontecendo aqui?
- Pois sim, professora. – Narcisa parou do lado de Minerva. – Diggory e Diggle nos atacaram sem motivo, como a verdadeira barbárie. Os meninos reagiram, se defenderam. Mas esses grifinórios, que não tinham nada a ver com a história, resolveram entrar e brigar com eles.
- Isso não é verdade, sua mentirosa. – defendeu-se Dédalo. –
- Eu sou a única que não participou da briga professora. Então sou a única cujo depoimento pode ser considerado imparcial.
- Sei. – respondeu McGonaggal com desconfiança. –
- Você. – Narcisa chamou um aluno da Lufa-lufa que estava ali perto, observando com dois amigos. Os três se aproximaram. – A professora McGonaggal deseja saber quem atacou primeiro.
Os três, constrangidos, apontaram para Dédalo.
- Mas... – um deles começou a falar. –
- Eu acho que isso encerra o assunto, professora. Se você nos der licença, eu vou cuidar dos ferimentos do meu namorado.
Lúcio, Severo e Rabastan a seguiram para o castelo.
- Você não vai dar-lhes uma detenção, professora?
- Depois, Lílian, o professor Slughorn falará com eles e os punirá devidamente. Eles não são da minha casa. Vocês cinco são. E você dois, eu mesma encaminharei para a Prof. Sprout.
A verdade era que ela não queria ter que ver Dumbledore explicando ao Sr. E Srª. Black que na primeira vez que Rodolfo deixara Narcisa sozinha, ela tinha ficado no meio de uma briga, já que na história distorcida da menina, ela sabia que o ataque seria redirecionado a ela, e que Lúcio e seus companheiros seriam pintados como heróis. E isso seria um prato cheio para os Black.

***

Narcisa segurou sua cabeça entre as mãos e apertou com força. Ela parecia prestes a explodir. A dor era tão intensa que deixara sua visão turva.
Ela tentou se recuperar para ir à aula. Severo e Lúcio a haviam deixado sozinha. Novamente. Bebeu um gole de seu suco e levantou a cabeça. Seus olhos encontraram os de Remo, que estavam cheios de decepção.
Sentindo seu rosto corar violentamente, levantou-se o mais depressa que pôde, tropeçando, e saiu correndo.
No corredor, enquanto se encaminhava para a aula de Transfiguração, sentia todos os olhares em sua direção. Decidiu ignorar e andou mais rápido.
Quando finalmente chegou ao corredor em que ficava a sala de McGonaggal, sentiu o peso de seus ombros aliviar e então, ouviu todas as suas coisas caindo no chão.
Virou-se para catar e deu de cara com seu primo, Remo, Potter e aquele amiguinho de quem ela nunca lembrava o nome. Em qualquer outro dia, ela teria mandado uma chuva de maldições na direção deles, mas naquele dia sua cabeça doía tanto.
Catou suas coisa e constatou que por um milagre seu tinteiro não havia quebrado. Jogou tudo dentro da mochila rasgada de qualquer maneira e carregou desajeitadamente enquanto apressava-se para a aula.
Severo já estava na sala. Ela jogou as coisas em cima da mesa e sentou-se. Mas com um estrondo, o branco quebrou-se e os dois caíram.
Enquanto ouviam a sala explodir em risadas, os dois se levantaram e consertaram o banco, voltando a se sentar. Mas assim que ela começara a retirar suas coisas da mochila rasgada, seu tinteiro explodira. Ela vê-se coberta de tinta, mas o pior são seus livros e suas anotações. Encharcados e manchados.
- Que inferno. – ela murmurava para si mesma enquanto se limpava. –
As risadas ficavam cada vez mais altas, mais histéricas. Narcisa virou-se e contemplou um sereno Severo e tentou acalmar-se também.
- São apenas ataques infantis Narcisa, releve.
Ela respondeu com um olhar de censura, que perdia facilmente para o cansaço e a tristeza que se denunciavam em suas feições. Preocupado, mas visivelmente envergonhado, ele segurou a mão da amiga com força. Ela tentou esboçar um sorriso, mas sua dor de cabeça estava cada vez mais forte. Ela fechou os olhos por um segundo e tentou relaxar.
- Não durma na minha aula, Senhorita Black.
Ela encarou a Professora, uma vez alguém que ela já havia querido muito e que agora a abordava com visível desgosto, que há não muito passara a ser recíproco.
- De maneira alguma, Professora McGonagall.
Ela ajeitou a postura e tentou ignorar a dor e ficar atenta ao mesmo tempo em que buscava sua pena e um pedaço de pergaminho. Revisando tudo em sua mente, ela rabiscou rapidamente uma versão mais resumida, fazendo cara feia para sua própria caligrafia. Deixou-se distrair e de repente, viu que sua pena estava pegando fogo.
Jogou-a longe, sem pensar. A professora apagou o fogo, furiosa.
- Eu vi isso, Potter. Detenção. Nós conversaremos a respeito depois da aula.
Narcisa não sentiu consolada. E sua irritação certamente não diminuiu com o passar dos dias. Ela continuava a ser vítima das brincadeiras idiotas dos marotos, e também continuava a padecer de horríveis dores de cabeça, que ela pensava vir da prática contínua de oclumência.
- Talvez você deva parar as aulas por um tempo, Narcisa. Você obviamente não está bem. – Severo aconselhou antes de sair do salão correndo para biblioteca, deixando-a comendo sozinha, como já havia tornado-se costume. –
Ela folheou o Profeta, temerosa de que pudesse se deparar com o nome de sua irmã. Não sabia se pior era descobrir que ela havia padecido de alguma desgraça ou vê-la manchando o nome da família por pura imprudência.
Encontrou uma notícia sobre um ataque de comensais a bruxos nascidos trouxas, e resolveu lê-la enquanto forçava-se a comer uma torrada com geléia.
Ao sair do salão, ela teve a infelicidade de esbarrar com uma risonha Lílian. Ver a ruiva tão feliz enquanto era estava tão miserável, fez seus estômago revirar-se. Sem pensar, ela jogou o Profeta em cima de Lílian, que deu uma olhada na notícia sobre os ataques.
- Você terá o mesmo destino, queridinha. Fique fora do meu caminho se não quiser que seja cedo. – ela cochichou no ouvido da menina antes de sair esbarrando em seu ombro, exibindo a arrogância usual e deixando a monitora da grifinória desnorteada. -

***

Apreensiva pela chegada iminente dos exames, Narcisa agora passava todos os minutos possíveis grudada em seus livros e anotações. Amaldiçoando a si mesma por ter deixado Rabastan fazer seus trabalhos de Astronomia, ela tentava desesperadamente compreender um diagrama especialmente difícil.
Ouviu passos no corredor e voltando a realidade, lembrou-se porque estava ali. Era ela. Narcisa correu em sua direção.
- Berta. – a menina se assustou com a abordagem da loira. –
- Narcisa. O que você quer?
- Eu estava dando uma estudada e achei que talvez você pudesse me esclarecer umas coisinhas.
Severo começou a aproximar-se por trás.
- Narcisa, eu sou muito burra. Você sabe disso.
- É. Sei mesmo.
Severo lançou um feitiço e Berta caiu no chão, paralisada. Os dois a arrastaram para dentro da Sala de Requisição, onde Lúcio, Rabastan, Rodolfo e Avery já se encontravam.
- Muito bem. – parabenizou Rodolfo. – Quem quer começar?
- Eu começo. Eu tenho muito que estudar.
- Todos nós temos muito que fazer Narcisa. O último jogo se aproxima. – contestou Avery. –
Lúcio e Rabastan andavam ignorando tão facilmente o quadribol que ela se esquecera completamente do jogo. Ignorando Avery, ela se concentrou e se preparou.
- Pronta? – perguntou Rodolfo.
Ela sinalizou que sim com a cabeça e ele libertou Berta do feitiço de Severo. Ela levantou-se rapidamente, tremendo violentamente.
- Não tenha medo, queridinha. – Narcisa disse em sua voz mais doce. – Imperius.
O feitiço atingiu Berta em cheio no peito e a garota entrou em transe.
- Lata. – Narcisa ordenou e Berta latiu. – Imite uma galinha. – ela imitou, para o deleite dos presentes. – Beije Avery.
A menina se jogou em cima do sonserino que tentou evita-la a todo custo, enquanto os colegas riam histericamente.
- Excelente, Narcisa.
Mas ela ainda não estava contente. Berta era uma fraca, com uma mente do tamanho de uma azeitona. Uma vítima tão ridícula era fazer pouco do seu talento.
- Bom, eu tenho que ir. Continue daqui, Severo.
Ele tomou as regias da situação e ela saiu, mas não antes de ser abordada por seu cunhado.
- Narcisa, próxima aula praticaremos Cruciatos. Prepare-se.
Estudando mais tarde naquele dia, ela ainda encontrava-se preocupada. Torturar, para ela, era mais difícil até que matar. Questionava-se se estava pronta para ser uma comensal.
- Não, é claro que você não está. Mas ainda tem dois anos para ficar. – ela tentava convencer-se. –
Mas quando a já costumeira dor de cabeça começou a incomodá-la, ela desistiu de tentar traduzir aquelas Runas e rumou para o banheiro mais próximo da biblioteca. Jogou um pouco de água gelada no rosto e encarou-se no espelho. Seu reflexo a encarou de volta com desdém e lhe perguntou:
- Quem diabos é você?
Ela foi retirada de seus devaneios por um ruído vindo dos fundos. Através do espelho, encarou Lílian, que acabara de sair de uma das cabines. Tendo um relampejo, ela virou-se rapidamente, agarrou a varinha e apontando para o peito da rival, aproximou-se dela lentamente.
Lílian mostrou-se confusa e apavorada por aquela Narcisa determinada e fria. Como se alimentando desse pavor, Narcisa foi ganhando coragem. Seus olhos de oceano soltavam faíscas em confronto com os olhos castanhos e assustados da ruiva.
- O que você vai fazer, Narcisa?
- Imperius.
Narcisa rodeou a menina, completamente fora do ar. Completamente em suas mãos. Talento ela certamente tinha, agora ela sentia isso com convicção.
- Lílian, querida, beba água do vaso.
Obediente, Lílian enfiou a cabeça no vaso e começou a beber. Narcisa tentou não vomitar.
- Ok, chega. –
Lílian parou. Narcisa refletiu bem desta vez. Um sorriso se espalhou pelo seu rosto.

C/A: Eu fquei muito tempo ausente e estou consciente de que estou meio enferrujada. Mas fiz o meu melhor possível porquê não queria que vocês tivessem que esperar mais. Não deixem de comentar. E obrigada àqueles que me deram uma força quando eu tive que parar por um tempo.

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