O Espelho de Ojesed



O mês de janeiro corria e Narcisa sentia-se atolada em um lamaçal. Vivia enfiada em pilhas de deveres de casa, quase não via Severo fora das aulas, o que significava que tinha que estudar sozinha para os N.O.M.s e ela via Lúcio menos ainda, já que o namorado tinha Quadribol e os N.I.E.M.s.
Tinha conseguido apenas duas reuniões para treinar. Narcisa tinha se tornado excelente em feitiços não-verbais e feitiços escudo, e aprendido algumas maldições realmente úteis. Havia se tornado uma ótima oclumente e estava indo mito bem com a legilimência. Às vezes dava uma espiada na mente de um aluno ou um professor distraído, mas ainda não tinha descoberto nada útil.
Não tinha recebido notícias de seus pais com relação a medida no ministério, mas isso parecia importar mais a Lúcio do que a ela.
Estava pensando em quanto se sentia carente com Lúcio e Severo distantes, e sem ter notícias de Bellatrix, enquanto brigava inutilmente com sua planta na aula de Herbologia, quando foi abruptamente trazida a realidade por um monte de esterco de dragão que atingiu a loura em cheio no rosto.
Ela olhou para o lado e viu que tinha sido obra de Amelia Bones. A ruiva murmurrou um pedido de desculpas, enquanto ruborizava violentamente. Ela ouviu risadas encandalosas e imediatamente passou os olhos pela classe inteira. Os autores eram obviamente seu primo Sirius, Potter e os dois amigos idiotas.
Continuando, ela viu Lilian esconder o rosto com as mãos na tentativa de se conter. Seu rosto queimou e suas mãos fecharam fortemente no caule de sua planta, que começou a se debater.
Voltando a si, ela pegou a varinha e se limpou. Procurou por Severo e o viu na outra ponta, trabalhando tranqüilamente. O fato de que ele parecia nem ter percebido o que acontecera a magoou e irritou ainda mais. Fora humilhada e ignorada pelo melhor amigo.
Saiu irritada e foi para Runas. Depois, seguiu sozinha e ainda furiosa para aula de Defesa Contra Artes das Trevas. Então ouviu a voz conhecida e debochada.
- Ela deveria andar daquela maneira pra sempre. Assim todos entenderiam porquê parece que ela está sentindo um cheiro ruim. – Potter gritava. –
- Pontas, a minha priminha costumava lamber esterco de dragão quando criança. Por isso a face dela se congelou nessa expressão horroroza.
Ela estava ignorando todos os comentários baixos que vinha ouvindo há semanas, mas achou que isso já era demais. Ela virou-se e sacou a varinha tão rápido que Potter ainda estava sorrindo quando caiu por cima de Pedro devido a maldição do tropeço, que ela não chegou nem a dizer.
Sirius puxou suas varinha, enquanto Tiago tentava se desembolar de Pedro no chão e fazer o mesmo, mas Narcisa foi mais rápida.
- Levicorpus.
Sirius foi suspenso no ar. Alguns poucos alunos que passavam pararam para assistir e começaram a rir. Tiago puxou a varinha e lançou uma maldição em Narcisa, mas em apenas um segundo, ela deixou Sirius cair no chão e conjurou um escudo, de maneira que o feitiço richocheteou e voltou para Tiago, que imediatamente se encheu furúnculos.
Sirius levantou-se com a varinha em punho, mas ela apontou pra ele e lançou um feitiço não-verbal, então as pernas de Sirius começaram a se mexer violentamente e ele caiu de bunda no chão, sem controle.
Remo parecia que ia dizer alguma coisa, mas ela o fuzilou com o olhar e talvez isso, ou o fato de que ela tinha acabado de usar feitiços não verbais e tinha duelado com uma habilidade incrível contra seus dois amigos, o fez ficar calado.
Se sentindo menos miserável, ela guardou a varinha e seguiu seu caminho para a aula. Os garotos entraram na sala logo depois dela, mas não ousaram dizer nada.
Ela precisava conversar, mas Severo estava aéreo. Angustiada, ela passou boa parte da aula batendo com a cabeça na mesa ao invés de tentar praticar seu feitiço.
A noite, jantou sozinha, já que Lúcio estava treinando quadribol e Severo estava na biblioteca. Ela sentia todos os olhares para ela. As pessoas estavam se divertindo em vê-la sozinha. Comeu de cabeça baixa e teve que se controlar para não chorar.
Sem comer quase nada, pegou sua mochila e saiu correndo. Pensou em encontrar Severo, mas ficou andando a esmo pelo castelo. Um bando de alunos do terceiro ano passou por ela correndo no quatro andar.
- Hey! Frisbes dentados são proibidos.
Ela correu atrás deles, retirou o frisbee das mãos deles e os anotou. Eles seguiram para sua sala comunal, desanimados e ela se abaixou para tentar guardar o objeto na mochila.
Sentiu algo passando por cima dela e levantando seu rabo de cavalo no ar, mas antes que pudesse se virar, o frisbee foi puxado da mão dela.
- Pirraça!!! Me devolve isso.
Ele começou a voar em volta dela, puxando seu cabelo sempre que tinha a oportunidade.
- Narcisa lambedora de bosta! Narcisa lambedora de bosta! – ele cantava sem parar, animado. –
Ele desceu pelo corredor, cantando e ela correu atrás. Então ele derrubou uma armadura, que não caiu em cima dela por alguns centímetros, enquanto gargalhava histéricamente e cantava.
Ela soltou um gritinho horrorizado e depois um bufo de raiva. Sacou sua varinha.
- Accio frisbbe. –
Ela pegou o frisbee e se dirigiu na direção oposta, com Pirraça atrás dela, cantando e derrubando armaduras. Quase explodindo, ela abaixou-se para pegar sua mochila, e Pirraça soltou um lustre em cima da cabeça dela. Quando ela percebeu, já era tarde.
Soltou um grito horrorizado, mas sentiu um puxão para trás e caiu em cima de alguém. Sua capa caiu por cima de sua cabeça e quando ela conseguiu se soltar, viu que o lustre caíra a centímetros dela. Olhou para o lado e deu de cara com Remo Lupin.
- Tá tudo bem? – ele perguntou gentilmente enquanto a ajudava a se levantar. – Pirraça!!! Como você pôde?
Mas o fantasma agora havia pego a mochila dos dois e entrara no banheiro. Eles correram, mas não chegaram a tempo. Pirraça virou as mochilas no ar, e os materiais dos garotos caíram espalhados pelo chão.
Eles se jogaram no chão, tentando catar, enquanto o poltergeist abria todas as torneiras rapidamente. Narcisa olhou horrorizada para o seu dever de poções de um metro e meio, que estava ao lado da pia.
- Accio pergaminho. – Lupin gritou, salvando o dever da garota. –
Enquanto eles catavam as coisas e enfiavam na mochila, Pirraça atirava livros e tinteiros neles, enquanto eles tentavam desviar. Um tinteiro bateu com força nas costas de Narcisa, enquanto ela tentava pegar suas anotações de História da Magia, que ficaram completamente ilegíveis, já que ela não chegou a tempo.
Furiosa, ela soltou um grito mais forte que todos. Lágrimas escorreram pelos seus olhos. Ela se deixou cair no chão inundado, frustada demais para continuar lutando. Então um livro pesado atingiu sua cabeça e ela desmaiou.
- Narcisa!! Narcisa, acorde. – Remo não sabia se deveria ajudar a garota incosciente, ou terminar de salvar as coisas dela primeiro. –
Decidindo-se, correu para ela e a segurou nos seus braços. Passou a mão pelo machucado e pelos cabelos encharcados da loira.
- Narcisa. – ele sussurrava. – Narcisa, por favor. Acorde.
Vagarosamente, ela abriu os olhos azuis e o encarou, confusa.
- Lupin e Cissy!!! Lupin e Cissy!!! – Pirraça saiu do banheiro gritando bem alto e sem parar. – Lupin e Cissy!!!
Narcisa levantou-se rapidamente, sacou sua varinha e começou a fechar as torneiras. Remo voltou a catar as coisas pelo chão.
Assim que conseguiram pegar tudo, foram até um lugar seco e sentaram-se no chão, para tentar avaliar os estragos.
- Eu mato o pirraça!!! – Narcisa brandou. –
- Ele já está morto. – Lupin respondeu docemente, rindo. –
Mas ao contrário do que pensou, ela não achou graça. Apenas ficou mais furiosa. A medida que ela tentava salvar seu dever de DCAT, inutilmente, sua face ficava mais vermelha. De repente, ela começou a chorar novamente. Dessa vez mais intensamente que antes.
- Calma. Não é nada demais, são só anotações. – ele tentava tranqüiliza-la, enquanto passava as mãos carinhosamente pelos cabelos dela. –
Ela não parou de chorar. Constrangido e sem saber o que fazer, ele a puxou para si e abraçou, ainda acariciando seu cabelos.
Considerando que ela estava molhada, com frio, triste, solitária e frustada, o calor do abraço de Lupin foi bem vindo. Ela se deixou ser abraçada e se deixou chorar, extravasando tudo o que vinha guardando durante a última semana.
Ela não sabia o que ela queria da vida, mas sabia que não queria ficar em Hogwarts. Apenas desejava o abraço carinhoso de Lúcio ou de Bellatrix, apenas queria que as coisas dessem certo, ou que ela não precisasse fazer nada, deixando o barco correr.
Mas a vida a forçava a seguir e agir, e ela estava tão miserável, tão deprimida, que ultimamente tinha sentido vontade de morrer. Não ali, naquele momento, aconchegada nos braços do garoto. Ali, naquele momento, ela se sentia querida, sentia que poderia facilmente levantar a cabeça e lutar.
- Obrigada. – ela falou depois de um longo tempo. –
- Está tudo bem.
- Remo? – uma voz exclamou horrorizada. –
Narcisa virou a cabeça e viu Sirius, Tiago e Pedro. Estremeceu àquela visão e voltou a querer morrer o mais rápido possível. Afastou-se e voltou a remexer nas suas coisas rapidamente, enquanto os garotos se aproximavam, rindo.
- Eu achei que o Pirraça tinha pirado quando começou a cantar: Lupin e Cissy.
Narcisa paralisou, sua mente ficou vazia por um momento e então ela voltou a si. “Se Lúcio tiver escutado...” – pensou.
- Caras, o pirraça nos atacou. Eu estava apenas tentando ajudar. – ele suspirou cansado. – Eu explico depois.
Ela catou as coisas o mais rápido possível e saiu correndo. Ao chegar perto das escadas, percebeu que não queria ir para a sala comunal. Ela sabia o que teria que enfrentar.
Então entrou em uma sala que ela sabia que era deserta, fechou a porta e sentou-se no chão novamente. Pegou sua varinha e secou-se e depois tentou secar e recuperar seus pergaminhos. Alguns em vão.
Ela pegou a pena e completou alguns deveres com o que tinha na memória, antes que pudesse esquecer, para depois passar a limpo. Mas tudo estava borrado e confuso e ela se deu por vencida.
Vasculhou o lugar com os olhos. Não tinha nada, exceto por algo coberto por um lençol. Curiosa, ela se levantou e andou até lá. Tirou o lençol, revelando um espelho.
Olhou para si mesma e constatou o quanto estava horroroza. Tinha olheiras, sua maquiagem estava borrada e seus olhos estavam vermelhos. Ela estava despenteada.
E então, tudo mudou. Ela estava linda, mais linda que nunca. Usava um vestido branco e Lúcio estava ao seu lado, usando vestes de gala. Ele estava radiante e a beijava carinhosamente na bochecha. Logo atrás, estava Bellatrix, sorrindo, parabenizando. Ela a abraçou.
Severo e Rabastan estavam em um canto, sorrindo para ela. Ela estava feliz.

***

Na sala comunal da Grifinória, os marotos ajudavam Remo com seu material enquanto tentavam arrancar dele detalhes do que havia acontecido. Mas Remo não tinha mínima intenção de acrescentar alguma coisa ao seu relato.
Pensava que estaria corrompendo a privacidade da menina dizendo aos amigos que ela tinha estado chorando. Ele não ganharia nada com aquilo de qualquer maneira.
Lembrou-se dos olhos azuis dela, tão intensos e tão cheios de aflição; de seu choro compulsivo; de seu grito de frustração, de desabafo.
- Pontas, você tá com o mapa aí? – ele perguntou de repente, então todos pararam e olharam para ele, curiosos. – É que eu tenho que entregar esse dever amanhã e ele está irrecuperável. – ele balançou o pergaminho completamente manchado para os amigos. – Eu vou a biblioteca pegar o livro e refazer o dever.
- Claro. – Tiago tirou um pedaço de pergaminho do bolso e entregou a Remo. – Eu vou pegar a capa pra você também.

***

Narcisa estava sentada em frente ao espelho. Sabia que aquilo era algum tipo de enganação, mas a deixava menos triste de qualquer maneira.
- Vejo que você encontrou o espelho de Ojesed. - ela virou-se depressa ao ouvir a voz doce. - Esse espelho mostra os desejos mais fervorosos do nosso coração. O que você vê?
Era Lupin. Ela não sabia de onde ele tinha surgido e como a tinha encontrado. Ela soltou um suspiro de melancolia.
- Lúcio e eu nos casando, Bellatrix está ao meu lado, me abraçando. – as lágrimas escorreram pelos seus olhos. – Severo e Rabastan também estão lá.
Ela enxugou as lágrimas e sorriu forçadamente.
- Não é novidade pra min que o desejo mais fervoroso do meu coração é estar com as pessoas que eu amo.
- Pra min é.
Ela olhou pra ele irritada.
- O que você achou que eu veria?
- Eu achei que a sua vaidade seria maior. Eu jamais imaginaria que seu coração pertencesse aos seus amigos dessa maneira.
Ela franziu o cenho.
- Você pensou que eu era uma egocêntrica? Só por que eu não estou na Grifinória eu não posso ser leal ao meus amigos? – ela rebateu irritada. Mas então concluiu que provavelmente era o que todo mundo pensava. -
Ele sorriu encabulado e sentou-se ao lado dela.
- Desculpe, é que eu não imaginava... – ele parou ao vê-la chorando de novo. - Você tem sorte, Narcisa. A maioria das pessoas não pode ter tudo o que deseja tão facilmente. Mas você pode. O que você deseja é muito possível, você só não pode desistir.
Ela engoliu em seco e abaixou a cabeça. Ele estava errado. Quando ela saísse de Hogwarts, nada seria como antes. Como há dois anos atrás, onde todos estavam seguros em Hogwarts. Eles eram um grupo muito unido: ela, Bella, Lúcio, Severo, Rodolfo, Rabastan, Avery, Bartô Chrouch Jr. Tomavam café da manhã enquanto brincavam e riam, se ajudavam nas lições, duelavam de mentira, torciam no quadribol, brincavam na neve.
Estava tudo bem, não tinham que se preocupar. Agora ela temia pela vida da irmã a cada minuto e quando Lúcio e Severo se juntassem as forças do Lord das Trevas, ela temeria por eles também. Talvez ela se juntasse a eles, se expondo ao perigo também. Sempre angustiada, sempre temendo.
Não, ela nunca teria a felicidade que desejava. Talvez ela a conseguisse por alguns curtos momentos. Todos reunidos, brincando, esquecendo que estavam em perigo. Mas não duraria.
- Não é nada possível, não é nada fácil. – ela murmurou entre lágrimas. –
- Não importa o que acontecer, ou o que ela se tornar, você sempre vai amar e ser fiel a Bellatrix acima de tudo, não é?
Ela concordou discretamente com a cabeça.
- Eu daria tudo pra abraçá-la agora, saber que está tudo bem, que ela está segura e está me protegendo. Ano que vem, eu terei os mesmo pensamentos com relação a Lúcio. – ela soluçou baixinho. – Eu morreria se eu perdesse um dos dois.
Ele a abraçou novamente.
- Nada de ruim vai acontecer com nenhum dos dois. – mas ele sabia que essa era uma tentativa fraca. – Eles jamais vão te deixar.
Ela levantou a cabeça e olhou nos olhos dele.
- Por quê você é tão gentil comigo? Eu não sou nada gentil com você.
Ele estava feliz que o assunto tivesse mudado.
- Você nunca fez nada contra min, realmente. Você falou poucas e boas para os meus amigos, mas não pra min. Você azarou meus amigos, mas eu não. Eu é que deveria fazer essa pergunta.
Ela deu ombros.
- Você nunca me fez nada, eu não tinha motivo para te agredir. Mas eu nunca simpatizei muito com você.
- Sempre foi recíproco. – ele sorriu. – Eu não sei, quando eu vi você em perigo, eu achei que tinha que fazer alguma coisa. Eu não podia simplesmente deixar o lustre cair na sua cabeça e seguir meu caminho. E depois Pirraça também espalhou minhas coisas. E de repente você estava desmaiada no chão, eu não podia ignorar.
- E depois? Você não precisava me abraçar antes ou agora. Você não precisava sair do seu dormitório pra vir atrás de min.
- Bom, eu acho que vendo você tão vulnerável, tão desprotegida, tão humana...
Ela sorriu, envergonhada e corou. Ele sorriu também.
- Você é uma boa pessoa. – ele completou. –
- Você também é.
Os dois ficaram se olhando por um bom tempo. Narcisa achava que pelo menos um dos amigos do seu primo era legal, apesar de sua aparência doentia e de seu material de Segunda mão, ele era agradável, coisa que ela duvidava que o Potter ou o idiota do Pedro poderiam ser.
- Por que você veio me procurar? – ela perguntou curiosa. –
- Eu fiquei preocupado. – ele respondeu, corando. – Queria saber se você estava bem.
- Agora eu estou.
Ela sorriu. Eles ficaram ali mais um pouco, então resolveram voltar ao dormitório pois já estava tarde. Remo acompanhou Narcisa usando a capa de Tiago e ela ficou agradecida, pois para completar seu dia terrível ela só precisava de uma detenção.
Quando ela se deitou para dormir, ainda pensando pensando no que vira no espelho e na conversa com Remo, se lembrou de cada palavra do Lord das Trevas.
Não era no futuro brilhante que Narcisa estava interessada, e sim em estar próxima das pessoas que amava, onisciente dos acontecimentos. Ela definitivamente, com mais força que nunca, pretendia aceitar.

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