Mais um dia



O céu se tingia de vermelho lentamente enquanto Carol despertava. Seu tempo de sono era muito desregrado. Havia vezes que não acordava nem que o mundo se acabasse e outras em que levantava junto com o Sol. E era em ocasiões como essa última que suas amigas sofriam. Mas isso ela deixaria para depois. Primeiro, se dirigiu para o banheiro, para tomar um longo banho frio, por causa do ainda presente calor de verão.



Se lamentou mentalmente por haver aula dali a duas horas, quando desligou o chuveiro, se enrolando na toalha. Voltando ao quarto, pegou as vestes de Hogwarts no malão desarrumado para se vestir. Agora só faltava arrumar um jeito delicado de acordar uma das outras. Escolheu Lily. Ela já a proibira de pular em cima da cama, de congelar os cobertores e de colocar a Rádio Bruxa de Música Brega no último volume. Uma lâmpada acendeu em sua mente. Chegou bem perto do ouvido da menina, tomou ar e falou em um tom um pouco alto:



'- Lily, é o Potter que vem entrando aqui?



Depois, se afastou rápido, no exato momento em que ela sentava bruscamente, puxando o lençol para se cobrir, gritando assustada:



'- O QUÊ? MAS ELE NÃO PODE...- avistando a morena se contorcendo de rir, ficou vermelha.- ANDREW! Quantas vezes eu já disse...



'- Ah, Lily, cala a boca...- uma mistura de gemido e bocejo veio da terceira cama do dormitório.



'- Ótimo, agora que as belas adormecidas despertaram eu já posso ir.- Carol sorriu cinicamente, saindo do quarto. Ouviu um barulho abafado ao fechar a porta. Lary jogando alguma coisa. Uma almofada, talvez. Desceu as escadas ainda rindo. Chegou ao Salão Comunal e encontrou sentada numa poltrona a única alma viva que poderia encontrar aquela hora ali, além dela. Remo Lupin. Simpatizava bastante com ele, com os seus amigos também, só que não se falavam muito. Decidiu cumprimentá-lo.



'- Bom dia, Lupin.



Ele, antes aparentemente distraído, virou o rosto na direção dela com uma expressão um tanto assustada, que se suavizou ao vê-la.



'- Oi, Andrew.- fez um sinal para que ela se sentasse ali por perto.- Aquele grito que eu ouvi agora há pouco...



'- É, as meninas têm algumas dificuldades para acordar cedo.- ela respondeu com um quê de pena, falso, é claro.



'- Os garotos também...- ele sorriu.- mas prefiro deixar que eles acordem sozinhos, ou posso ter um dia não muito agradável.



'- Como assim?- Carol sofria de "burrice matinal".



'- Não mexa com os Marotos em nenhum sentido, principalmente no de perturbar o sono de um deles.



'- Ah, sim.



Ficaram algum tempo em um silêncio cômodo, conforme os outros alunos iam descendo, quase todos os dando "Oi"s e "Bom dia"s. Até que Tiago, Sirius e Pedro chegaram com as caras inchadas de sono. Os dois primeiros, ao verem o amigo com uma garota - coisa não tão rara de acontecer, mas de ser visto - se entreolharam e abriram sorrisos maliciosos idênticos, tirando conclusões precipitadas. Foram chamá-los para tomar café. Remo levantou, mas ela continuou sentada, olhando para o grupo.



'- Não vem com a gente?



Deparando-se com um par de olhos castanho-claro, ela pensou no que aconteceria se Lily e Lary furiosas lhe encontrassem ali, sozinha e indefesa.



'- Posso?



'- Claro que pode!- Tiago respondeu com energia.



'- Obrigada.- agradeceu sorrindo e acompanhando-os ao passar pelo buraco do retrato.



'- Aliás, o que você fez para a Evans gritar daquele jeito?- Remo perguntou franzindo a testa.



'- Bem, nada demais...



'- Sei, sei...



O Salão Principal estava cheio. Se dirigiram à mesa da Grifinória, se sentando na ponta mais afastada dos professores. Todos se serviram do tradicional mingau de aveia, em conjunto com suco de abóbora. O monitor-chefe passou entregando os horários.



'- Ei, nada mal para uma segunda-feira.- Tiago se manifestou.- Duas horas de Defesa Contra as Artes das Trevas junto com a Corvinal, e de tarde Adivinhação e Estudo dos Trouxas.- sim, ele fazia Estudo dos Trouxas, mesmo cursando essa matéria sozinho.



'- Agora que você falou, Potter, a professora nova não está aqui de novo.



'- Pode me chamar de Tiago, Andrew, não precisa dessa formalidade... Mas não teremos que esperar muito pra conhecer essa mulher misteriosa, seremos os primeiros vê-la.



A menina assentiu e viu que suas amigas entravam no Salão com semblantes sérios. Nada que um pedido sincero de desculpas não resolvesse. Se levantou e saiu depois de agradecer:



'- Obrigada pela companhia, garotos. Tenho que ir resolver um probleminha agora, vejo vocês na aula.



Se afastou para sentar-se no meio da ruiva e da loira.



'- O que houve com elas?- Sirius perguntou a Remo.



'- Acho que a Andrew acordou as outras à força.



'- Falando dela, Aluado...



'- É melhor irmos logo. Não querem se atrasar na primeira aula do ano não é?- percebendo que os amigos iriam começar a falar besteiras, ele decidiu cortar. Sabia que quando os dois cismavam com algo não havia escapatória, mas adiar lhe fazia sentir à salvo. Pelo menos por um tempo.



Por terem saído antes de todos, chegaram na sala e essa estava vazia. Havia duas fileiras com quatro mesas para dois cada uma. Sirius e Tiago instalaram-se na quarta mesa da fileira esquerda, com Pedrinho e Remo em frente. Aos poucos os alunos iam ocupando os lugares restantes. As últimas foram Caroline e Larissa, que ficaram na segunda mesa da esquerda, e Lílian, que dividiu a primeira com Emelina Vance, uma Corvinal loira de olhos cinzas, nascida trouxa como ela.



A professora ainda demorou uns cinco minutos para dar o ar da graça, deixando os jovens impacientes. Mas quando apareceu causou impacto. Todos esperavam que ela fosse uma senhora de idade, e qual não foi o espanto ao pôr a vista em uma linda mulher negra de cabelos levemente cacheados e olhos verdes muito claros, entre seus 25 e 28 anos. Ela chegou afobada, respirando rapidamente. Colocou sua pauta em cima da mesa do professor e se virou para a classe.



'- Desculpem meu pequeno atraso.- sorriu meio desconcertada.- Bem, como devem saber meu nome é Giuly Chantelle e sou sua nova professora de Defesa Contra as Artes das Trevas.



'- Vance, sou só eu que tenho a impressão de conhecê-la de algum lugar?- Lily sussurrou para a garota ao seu lado.



'- Não, eu estava pensando a mesma coisa.



Giuly reparou no comentário das duas e perguntou:



'- As duas vêm de famílias trouxas?



'- Sim.- elas responderam apreensivas, achando que iam levar uma bronca.



'- Então é por isso que acham que me conhecem. Eu trabalhava até pouco tempo fazendo comerciais de televisão.



'- Ah!- a ficha caiu para Emelina.- A senhora...



'- Senhorita.- ela corrigiu, causando surpresa em todos. Como uma mulher bonita como ela não era casada?



'- ...senhorita é aquela moça do comercial das...



'- Sim!- ela confirmou com um olhar implorativo.- Essa mesmo.



Emelina e Lily se entreolharam com um olhar significativo. Ela era a moça do comercial de langeries.



'- Na verdade...- Chantelle continuou um pouco mais calma- eu estudei magia aqui em Hogwarts e cursei a Academia dos Aurores pelos três anos necessários até me formar. Trabalhei para o Ministério por um ano, e depois fui chamada por uma empresa trouxa para fazer seus comerciais. Tive que decidir entre os dois, e escolhi os comerciais. Mas quando o Professor Dumbledore me convidou para ensinar aqui, um de meus planos antigos, não pude recusar.



Terminou com um sorriso e pegou a pauta. Fez a chamada, conforme ia falando os nomes e as pessoas respondiam, as analisava por um tempo e voltava à lista.



'- Bem, temos quatro rapazes grifinórios e cinco corvinais, três moças grifinórias e quatro corvinais. Vocês somam dezesseis. O trabalho desse ano e do próximo é em cima de Duelos. Sexto ano corresponde à parte de técnicas e pratica de Defesa. É claro que para isso será necessário que aprendam alguns modos de atacar, mas esses serão mais explorados no ano que vem. Para isso formarei quartetos entre vocês, para que duelem entre si e com outros quartetos. O plano é que estes sejam escolhidos por mim no primeiro semestre e por vocês no segundo. Todos de acordo?



Os alunos assentiram ou murmuraram positivamente. O planejamento parecia melhor do que o do ano passado. O antigo mestre era um pouco atrapalhado e, apesar de mal ter passado dos quarenta anos, estava ficando meio caduco, devia ser esse o motivo de sua demissão.



'- Começaremos testando a habilidade de cada um com a precisão e potência de azarações e feitiços. Em seguida os reflexos, importantes durante uma batalha, e finalmente a perspicácia e capacidade de agir diante do perigo. A partir desses dados vou poder montar os grupos equilibradamente.



A explicação do método foi o suficiente para tomar meia hora e matar a curiosidade da classe.



'- Como não tem sentido fazer essa avaliação quando todos estão enferrujados, podemos fazer oralmente uma revisão sobre o que vocês aprenderam até agora.



As turmas estavam realmente meio esquecidas, mas ambas ganharam pontos pelas poucas respostas certas que deram. Quando o sinal bateu todos ficaram surpresos pela rapidez com que o tempo passou em plena segunda de manhã. Se dirigiram ao Salão Principal para almoçar. As garotas decidiram sentar no extremo da mesa oposto ao que os meninos estavam.



'- E então - Carol puxou o assunto - o que acharam sobre a novata?



'- Ela parece saber do que fala não é? Eu nunca desconfiaria que a moça do comercial das calcinhas fosse bruxa.



'- É beeem melhor do que aquele maluco que dava aula ano passado: " O quinto ano já está aqui? Mas ainda nem é sexta feira!"- Lary fez uma imitação perfeita.- Qual é? A gente tava no sexto ano e nossa aula era na terça...



'- Pior era quando ele perdia nossos trabalhos...- Lily lembrou enquanto tentava sem sucesso cortar o pedaço de carne que havia pego.



Precisaram se apressar ao terminar de comer, apesar de haver tempo antes da próxima aula, porque essa era no alto Torre Norte.





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'- Eu tenho uma pergunta.- Sirius disse arfante, depois de subir as intermináveis escadas correndo, pois Rabicho quis repetir o prato.- Por que a gente ainda faz Adivinhação?



'- Era isso ou Aritmância.- Tiago esclareceu.



'- Segundo o Aluado, não é tão ruim assim.



'- Pedrinho e seus comentários animadores...



Eles pegaram uma mesinha de três no fundo, ao lado das garotas propositadamente. De repente a professora irrompe de ninguém sabe onde, com um grito-suspiro:



'- OLÁ, alunos...- Madame Cherrý era uma mistura de cigana, hippie e professora de adivinhação. O resultado dessa mistura era catastrófico.- Sinto suas auras pouco receptivas hoje. Nada que alguns incensos não resolvam.



'- Odeio quando ela vem com esse papo de incensos-curadores-dos-piores-males.- Lary sussurrou, ao mesmo tempo um incenso era colocado queimando em cada mesa, impestiando rapidamente o local com um misto de rosas e almíscar.



'- Pronto...agora está melhor.



Ela começou a falar sobre uma ligação entre o formato da orelha humana e o desenho de uma constelação qualquer. Tiago revirou os olhos e olhou para a direita. Evans escrevia algo em um pedaço de papel, que Divulyon lia e respondia; Andrew tinha o queixo apoiado na mão e os olhos quase fechando. Olhou para a esquerda e viu que Pedrinho dormia profundamente; Sirius cruzara os braços e olhava distraidamente o teto. E ele próprio imensamente entediado.



'- Almofadinhas.



'- Fala.



'- Preciso conversar.



'- Sou todo ouvidos.



'- Você pode olhar pra mim enquanto eu falo?



'- O teto está muito mais interessante do que a sua cara.



'- Não posso falar com alguém que não está olhando para mim.



'- Converse sozinho então.



'- Pior ainda.



'- Paciência. Preste atenção na aula.



Se Sirius estava negando uma conversa, só lhe restava uma opção.



'- Evans!



A garota já se virou bufando.



'- O que quer?



'- Na verdade, quero muitas coisas, mas no momento apenas saber se você quer dar uma volta mais tarde...sabe, nós dois, jardins, céu estrelado...



'- Pela quingentésima quinta vez: não! Prefiro passar o resto dos meus dias lavando louça do que dar um passeio com você.



'- Adoro a sua criatividade.



'- Odeio sua persistência.



Ótimo, não tinha sido dessa vez, mas um dia ele conseguiria. Era só questão de tempo. E falando em tempo...como este se arrastava. Abriu o livro e ficou olhando as figuras...Pegou uma pena e começou a desenhar bonequinhos no canto direito inferior de cada página. Depois folheou-as rápido e viu o bonequinho andar, bater de cara com a margem da folha e cair. Riu internamente. O que o tédio não faz com uma pessoa. O sinal soou como música aos seus ouvidos.



(N/A: a partir de agora a narração é do Tiago)



Me despedi do Rabicho e do Almofadinhas, que tinham o resto do dia livre, e fui para o segundo andar, aula de Estudo dos Trouxas. Não é uma matéria muito útil, mas é interessante saber como eles se viram sem magia. Na maioria das vezes a professora dá um tema e nós debatemos ou pesquisamos, não há muita cobrança.



Enfim, entrei na sala bem na hora em que a Sra. Crouzet lia meu nome na lista. Me sentei com Frank Longbotton, um conhecido corvinal. São bem legais, os corvinais, uma turma muito unida. Apesar de serem nove, eram muito amigos entre si, todos eles. Só olhando percebe-se que se adoram. Claro que há os subgrupos, tipo: Frank anda mais com a Alice Morholt, eles são melhores amigos, parecem irmãos, o resto das meninas andam juntas e assim são os meninos também. Mas praticamente não há segredos entre eles, como Frank me disse um dia. Ia ser legal se a turma grifinória fosse assim. Embora a Evans não vá com a minha cara e a Divulyon seja quase muda, as três são ótimas companhias. Sei disso porque nas primeiras semanas quando entramos na escolatodos primeiranistas da casa andavam juntos, depois vamos criando afinidades e grupinhos menores. Mesmo assim, eram bons tempos.



Parei de pensar nessas coisas quando a professora falou que íamos começar a estudar meios de transporte trouxas e suas fontes de energia e mecanismos de movimentação. Achei bem fácil, a princípio, mas sem dúvida o cara que inventou essas coisas era um gênio.



Ganhei dez pontos por responder uma pergunta corretamente. Isso compensa os cinco que eu perdi hoje de manhã.





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Já é de noite. Acabamos de jantar e estamos no Salão Comunal, menos Rabicho, que foi dar uma volta.



'- Sabem, - decidi expor meus pensamentos - acho que deveríamos ser mais amigos dos nossos companheiros de casa.



'- Você quer dizer as meninas?- o lobinho é tão esperto...



'- Até que não seria umamá idéia.- Almofadinhas disse marotamente, olhando pra elas. Eu e Remo reviramos os olhos.



'- Eu acho arriscado. - ele abaixou o tom de voz para continuar.- Por causa do meu segredo.



'- É verdade, eu esqueci...mas você acha que elas descobririam?



'- Tenho certeza. São inteligentes o suficiente para isso.



'- Ei, - Sirius só parou de observar as garotas nesse momento.- que tal um pesseio?



'- O toque de recolher é daqui a quinze minutos.- disse a voz da razão do grupo.



'- Perfeito, não seremos incomodados.



'- Ah, não...Já começou, mal chegamos e vocês...ah, não... - o Remo não admite, mas ele ri por dentro quando a gente tem essas idéias geniais.- Não podemos esperar o Rabicho?- tadinho, ele tenta.



Rapidamente subimos, pegamos a capa e o mapa e descemos.Vi Evans olhar desconfiada o retrato girar sem que ninguém o abrisse. Em seguida balançou a cabeça, como se estivesse vendo coisas. Sorri internamente, ela nem desconfiava. Começamos a andar pelo corredor.

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