Os misteriosos Luvrine



Começava a tarde quando David Luvrine acordou. Abriu as cortinas de seu pequeno quarto, iluminando-o por completo. Suspirou profundamente: o dia seria bastante longo. Entrou no banheiro e saiu meia hora depois com os cabelos molhados e vestes bruxas de cor azul.



Sem tempo a perder, subiu os dois lances de escada que o separavam do quarto andar. Seguiu por um longo corredor cheio de portas de madeira e prateleiras sobre as quais descansavam uns cinco potes - se é que podia charmar disso - diferentes cada. Avistou um recipiente roxo e branco na forma de uma pirâmide cortada ao meio na horizontal, mas sem a parte de cima. Tirou de lá um molho de chaves, umas cinqüenta. Continuou andando até uma das portas, aparentemente comum. Examinou as chaves que tinha em mãos e escolheu uma dourada e bem pequena. Quando a encaixou na fechadura, a porta mudou de aspecto. Agora era dourada com uma feichadura de madeira.



Sem estranhar, ele entrou com uma expressão séria, como de costume. Sendo o filho mais velho, tinha como missão e dever recuperar a Cheovirk. Seus antepassados haviam feito sua parte, e agora era a vez dele. O que aconteceria se não conseguisse? Não sabia, mas não deveria ser nada grave, pois ninguém nunca a tinha recuperado, e ele não sabia de terem sido mortos, expulsos da ávore genealógica, ou coisa parecida. Nem sabia bem o propósito de tudo aquilo, só poderia sabê-lo ao cumprir a busca. Mesmo assim, ia em frente, desta vez com um palpite que poderia reduzir o tempo que passaria no lugar sombrio para onde ia. A porta bateu atrás dele, seguida de um barulho de trovão. Uma luz escapou por baixo da porta.



Ficou lá dentro uma tarde e uma noite, em que seus pais e irmão agiram normalmente, para não despertar suspeitas. Estavam almoçando tensos quando ouviram um trovão. A janela mostrava um céu azul lá fora. Os três se olharam aliviados e correram para as escadas. Subiram aos tropeços para encontrar no quarto patamar o jovem de 18 anos com as vestes rasgadas em vários pontos e cortes pelo corpo todo, porém com um sorriso no rosto.



'- Consegui!- disse mal contendo a emoção na voz.



'- Nós sabíamos que você era capaz!- a mãe partiu para um caloroso abraço, com lágrimas nos olhos.



'- Parabéns, filho.- o pai parabelizou.- E onde está agora?



'- Aqui.- apontou para o corredor aparentemente sem fim.- Onde tem que estar.



'- Excelente. Isso merece um drinque!



Na ampla sala de visitas, onde havia uma adega, sentaram-se e brindaram à vida.



'- Pode nos contar que tipo de milagre fez para chegar tão rápido? E sem machucados, comparando com as outras vezes...



Infelizmente, David não pôde contar nada, pois a porta foi violentamente por dois bruxos vestidos de preto dos pés à cabeça, que estava coberta pelo capuz da capa. Chegaram destruindo os objetos raros de cima da lareira.



'- Sabemos que a Cheovirk está com vocês. Onde está?



O aposento tinha duas saídas: uma que os mascarados bloqueavam e outra já fôra uma passagem secreta, mas foi transformada em um portal de acesso à uma escadaria estreita de pedra que inteligava a casa toda.



Os adultos começaram a duelar ferozmente com os invasores, após o pai apertar a mão do primogênito e falar para apenas ele ouvir:



'- Você sabe o que isso significa. Proteja a Cheovirk. Proteja seu irmão.- assim que terminou de falar, virou e lançou um feitiço que atordoou um deles por um momento.



David puxou o irmão pelo pulso e o levou até o primeiro andar, onde havia outra lareira. Pegou um punhado de pó de flúe jogou nas chamas, que ficaram verdes.



'- Vá para o bar Três Vassouras. Peça para te colocarem em contato com Dumbledore. Conte tudo a ele.- olhou nos olhos do irmão.Daniel Luvrinetinha apenas 12 anos e estava passando por aquilo.- É muito importante. Nos veremos...um dia.



Depois de se certificar que o caçula havia ido, subiu correndo até seu quarto. Cheovirk estava protegida, mas tinha que ser encontrada pelas pessoas certas. Viu seu diário aberto sobre a cama, ainda desfeita. Abriu na data de que mais ouvira falar na vida, e pegando uma pena, escreveu: Está no 4° andar. Representa o animal mágico único e eterno, da única terra mágica em que é eterno o bem . Apenas quem soubesse exatamente do que ele estava falando acharia o tesouro procurado pela família há décadas. Fechou o pequeno diário e vislumbrou pela última vez a capa que mostrava as quatro fases da lua. Desceu para ajudar, já fizera o que o pai pediu.



A sala de visitas estava irreconhecível. Tudo revirado e destruído. O choque maior foi ver seu pai deitado no chão à um canto, e sua mãe lutando contra dois adversários, mas caindo atingida por um raio verde. Algumas pessoas desconhecidasentraram na casa e nocautearam um dos invasores. Sua falta de reação nos segundos seguintes fez com que Davidfosse também atingido pelo encapuzado. De repente, tudo ficou preto.





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Narração do Tiago



Rapidamente subimos, pegamos a capa e o mapa e descemos. Vi Evans olhar desconfiada o retrato girar sem que ninguém visível o abrisse. Em seguida balançou a cabeça, como se estivesse vendo coisas. Sorri internamente, ela nem desconfiava. Começamos a andar pelo corredor.



Viramos a direita, esquerda e direita de novo. Alguns casais de namorados ainda voltavam para as Casas depois de matar as saudades das férias. Dois andares abaixo paramos em um corredor sem saída.



'- Então? Onde querem ir?



'- Almofadinhas, a idéia brilhante de passear pelo castelo foi sua, espera-se que você queira ir a algum lugar.



'- Ei, vamos colocar bombas de bosta na passagem secreta de tapeçariaque os sonserinos passam de manhã?- eu fiz meu papel de gênio do grupo.



'- Ainda não sei conjurar bombas de bosta, Pontas.



'- Não será preciso, Aluado...Sirius?



'- Aqui estão.- tirou umas dez da mochila que tinha sempre consigo, e cada um ficou com três (anos de travessuras nos ensinaram a ter sempre uma guardada para emergências, ou seja, caso precisemos fugir de alguém).



'- Ótimo.- Remo se entregou com um sorriso maroto.



E lá fomos nós, andando devagar debaixo da capa por causa dos centímetros crescidos durante o verão. No caminho não encontramos ninguém do nível "Filch e a gata nojenta" pra cima, o que foi incomum, pois o acesso à Sonserina é muito bem vigiado (desde que entramos na escola, pelo menos). Sem os "seguranças" da masmorra não tem tanta graça, falta gente pra distrair (leia-se: fazer de bobo) enquanto os outros instalam a munição. Colocamos de qualquer jeito nossos brinquedinhos ali, porque sonserinos andam com o nariz tão empinado que não vêem o que está no chão.



'- Só quero ver amanhã de manhã... hahahaha.- Almofadinhas disse e eu, como sempre, imaginei a cena e ri junto, sendo seguido por Aluado.



'- Hahahaha... Vamos, missão cumprida.



'- Esperem.- parei.- Que tal verificarmos onde estão os professores?- os dois fizeram cara de "Pra quê?".- Ora, vamos, não custa nada e ainda está cedo.



'- Isso é invasão de privacidade, Tiago.



'- Aluado, quando criamos o Mapa do Maroto sabíamos que uma das conseqüências seria o vício na vida alheia. Como você mesmo diz: arque com as conseqüências de seus atos.- tirei nosso tesouro do bolso e recitei tocando-o com a varinha.- Juro solenemente não fazer nada de bom.- do ponto em que a varinha tocava surgiram várias linhas, pontos e legendas.



'- E aí?



'- Isso não era invasão de privacidade?



'- Faço minhas as suas palavras.



'- Certo, certo.- ri da curiosidade do meu amigo e procurei os pontinhos dos professores, localizando-os: - Na Ala Leste, quinto andar.



'- Vamos.- Sirius nos puxou e fomos andando sem contrariar até ouvir algumas vozes. Nos entreolhamos num acordo de fazer silêncio.



Pelo que parecia, estavam quase todos em uma reunião secreta e fechada, numa sala que ninguém usava. Ouvi primeiro a voz de McGonagall:



'- Mais um, essa tarde. O estrago foi grande, só conseguiram espantá-los e consertar as coisas antes do Profeta chegar. Deve sair apenas uma notícia pequena e algo na seção de óbitos.- Óbitos? Essa conversa está mais interessante do que eu pensava.



'- Minerva, quantos mortos?- a professora nova perguntou com uma voz forte, quase como se fosse um assunto profissional, o que me espantou um pouco, pois não combinava com ela.



'- Três inocentes, um dos nossos, nenhum dos deles.



Suspiros e silêncio. Agora está começando a ficar preocupante. Pelo menos não era da família de nenhum estudante, ou Dumbledore avisaria no jantar, como já aconteceu umas vezes, mas não recentemente.



'- Alguma pista? Deixaram algo na pressa de aparatar?- a voz esganiçada do professor Flitwik questionou.



'- Nada, mas marcaram um crânio verde, com uma serpente saindo da boca, no batente da porta. Provavelmente um símbolo da gangue, se podemos chamar assim.



'- Crânio está para Morte. Serpente está para Salazar Slyterin, Sonserina. Algum antigo aluno da Casa.- concluiu nosso enigmático professor de Astronomia, Sr. Ganvourt.



'- Faz sentido.



'- Notícias do próximo passo deles?



'- Nenhuma. Parece que estamos sempre atrás, comendo poeira. São muito espertos e discretos, olhe o estrago que fazem sem que ninguém perceba. Se não fosse pelo alerta do diretor... teria sido muito pior.



'- E onde ele está agora?



'- Foi conversar com a ministra de novo. Tentar convencê-la de ver o que está começando e impedir, antes que seja tarde.



'- Me admira que ela não enxergue o problema. É sempre tão sensata quanto aos outros assuntos.



'- Quando não ameaçam a paz em que o mundo bruxo está desde uns trinta anos.- disse com uma voz sem energia, muito diferente no normal. Alguém pirragueou.- Bem, acho que já é hora de voltar a nossos afazeres.



Nos afastamos da porta para não sermos percebidos, e passaram um a um todos os professores da escola. Por último, foram a novata e a vice-diretora:



'- Giuly, querida, como foi sua estréia na escola ? Algum problema com os alunos?



'- Ah, não, as turmas do sexto ano são ótimas. Bem, é claro que os cara-de-cobra...- apesar da preocupação, tive que fazer um esforço sobre-humano pra não rir disso, e pela respiração súbita dos outros, eles também.



'- Shhh... não pode mais falar essas coisas!



'- Oh, desculpe, nem percebi... bem, eles sempre tiveram e sempre terão um pequeno problema.



'- Prefiro nem perguntar qual. E trate de não soltar uma dessas piadinhas na frente dos alunos. Seria um escândalo.



'- Pode deixar, tia.- deu-lhe um beijo na bochecha e foi em uma direção diferente da outra.



Remo nos acotovelou e apontou para o Salão Comunal no mapa, e nós entendemos o recado. Fizemos o caminho de volta quase sem perceber, cada um pensando com seus botões. Chegando, tratamos de verificar que não havia ninguém ali. Não achamos Pedro no quarto, então sentamos nas poltronas perto da lareira, ainda com um pontinho de fogo, esperando alguém quebrar o momento de reflexão. Só pude falar uma palavra:



'- Uau!



'- "Uau"? Isso é muito mais que "uau". Isso é absurdo!- Remo estava nervoso, como poucas vezes o vi.



'- Eu acho- idéias do Almofadinhas nessas horas são promissoras.- que a situação pede investigações.



Deixe-me explicar: desde que descobrimos o segredo do Remo no segundo ano, Sirius se convenceu de que é O Detetive. O pior é que ele sempre descobre essas coisas, pequenos "mistérios", charadas, etc, então não podemos nem contrariá-lo.



'- Não devíamos nos intrometer.



'- Mas você ouviu, é muito importante, Aluado.



'- Por isso mesmo. Eu conheço vocês. Quando descobrirmos vão querer fazer algo a respeito, e podem acabar atrapalhando quem está realmente cuidando disso.



Eu e Sirius nos entreolhamos e, como sempre, desvendamos os pensamentos um do outro, dizendo juntos:



'- Prometemos que não.



'- Sabem que pode ser perigoso até para nós. E pelo que parece é mais do quesó 'perigoso'.



'- Só queremos saber o que está acontecendo. Nunca vão contar de boa vontade, então temos que descobrir. Pro nosso próprio bem.- eu tentei, mas ele não ia ceder com nossos argumentos.



'- Ainda acho que devíamos esperar.



'- Proponho- tive que usar a cartada final- votação.- Depois dessa o lobinho respirou fundo e escondeu o rosto nas mãos.



'- Eu e Pontas somos a favor.



'- Okay, eu estou dentro. Vou ajudar em tudo que for preciso, com uma condição: sejamos discretos e, por favor, não vamos interferir no trabalho de quem tem que cuidar disso.- levantou e foi para o dormitório.- Boa noite.



Aos poucos e em partes a tensão se esvaiu do ambiente. Sirius olhou pra minha cara e falou:



'- Ouviu a McGonagall dizendo que essa coisa que estamos tentando descobrir está representando uma ameaça que nada conseguia há muito tempo?



'- Grindelwald.- ele arregalou os olhos pra mim. Esse cara foi aquele que só Dumbledore conseguiu matar, e rendeu anos de Trevas pra bruxidade. Encolhi os ombros.- Só pode ser. "Uns trinta anos atrás"..."perigo". Eu com certeza não iria querer saber de bruxos das trevas por uns séculos depois de ter vivido na época dele.



'- Acha que é o caso de um bruxo das trevas?



'- Você não?- ele olhou para baixo. Lembrei de algo.- Ei, você ouviu o que a tal Chantelle disse?



'- Que os sonserinos têm cara-de-cobra?



'- Não...essa foi boa também, mas ela chamou a McGonagall de tia.



'- É verdade. Cá entre nós, temos que agradecer a Merlim por elas não terem nada a ver uma com a outra.



'- Não! Já pensou? Duas McGonagall andando por aí?- não consegui reprimir um bocejo, e percebi que estava morrendo de sono.- Vem vamos dormir.



'- Ah...poxa. Tá, vai...



Chagando lá em cima, trocamos o uniforme por pijamas. Ouvi a voz do meu amigo no escuro:



'- Tiago!



'- Quê?



'- Tem uma pena ae?



'- Tô com cara de galinha, Almofadinhas? Era só o que me faltava...



'- Não, idiota, é que eu preciso deixar um bilhete para mim mesmo., para não esquecer algo importante amanhã de manhã.



'- Me diz que eu te lembro.



'- Mandar uma carta para a Assinatura do Profeta.



'- Mandar uma carta para a Assinatura do Profeta. Certo, não esquecerei.



'- Obrigado.



Deitei e minha cabeça latejou de tanta informação. Ainda bem que estava muito cansado, ou não teria conseguido dormir quase instantaneamente.





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Estávamos no Salão Principal tomando café quando ela entrou pela porta. Correu o olhar pela mesa, quando me viu, deu um tchauzinho animado. Os cabelos ruivos estavam presos em uma trança, os olhos verdes brilhavam e a boca se desenhava num sorriso perfeito quando se dirigiu a ponta da mesa e sentou ao meu lado.



'- Bom dia, Potter.



'- Bom dia. O que vai fazer hoje?



'- Você sabe que depois da aula nós vamos dar uma volta pelos jardins, não se faça de bobo.- disse corando.



'- Verdade? Que bom saber.- Quando me distraí com a comida, ela foi se aproximando do meu ouvido como se fosse sussurrar alguma coisa e...



'- POTTER!



Senti uma forte dor do lado direito inteiro e notei que tinha caído da cama e estava todo enrolado com os lençóis. Sirius decidiu gritar no meu ouvido pra me acordar.



'- Sirius! Num tem um jeito melhor de acordar os outros, não? - perguntei massageando o lugar onde minha cabeça bateu no chão.



'- Não quando você está sonhando com uma cara de bobo alegre e faltam 15 minutos pra primeira aula!- ele respondeu gesticulando.



Levantei tropeçando e peguei os óculos na mesa de cabeceira. Troquei de roupa correndo, e assim saímos do quarto, chegando na fria masmorra de Poções exatamente quando o sinal tocou.



'- Viu? Não precisava se irritar.- disse me sentando na última mesa no canto.



'- Isso porque você não recebeu um "Ah, Evans, só depois do almoço" ao tentar acordar o melhor amigo. E ainda perdemos o café da manhã.



Senti meu rosto esquentar, então olhei para baixo pro cabelo esconder minha cara de sem graça. O Almofadinhas sempre faz esses comentários meio alto, de modo que Aluado e Rabicho, que estavam na nossa frente, olharam inquisidoramente para mim.



'- Obrigado, Sirius.-disse entredentes.



'- Disponha.



A velha Schrueben, uma senhora alemã igualzinha as bruxas más das histórias infantis trouxas, com direito até a verruga no nariz enorme, entrou batendo a porta e indo até a frente da sala. Olhou com cara de má para cada aluno da turma, para depois de uns cinco minutos em silêncio começar a falar.



'- Vocês aqui de novo! Mais um ano agüentando essas pestes!- levantou um dedo como se estivesse apontando na cara de um aluno invisível.- Não sei como fizeram pra passar nos N.O.M.s, mas essa farsa vai acabar. Vou fazê-los pensar tanto que vocês vão pedir pra desistir de Poções!- terminou com um sorrisinho alucinado.



Se eu não quisesse muito mesmo ser Auror, eu teria desistido de Poções o quanto antes, mas como isso não é possível tenho que aturar esse urubu amaldiçoando estudantes até me formar. Pelo menos eu não sou tão desastre como a Andrew, coitada. Ela definitivamente não nasceu pra preparar Poções, não sei porquê ainda tenta. Se eu fosse ela escolhia uma profissão que não exigisse essa matéria, mas vai entender, ela é meio maluca mesmo.



Os cinqüenta minutos restantes foram um discurso sobre a complexidade das poções que teríamos que preparar esse ano e para que não esperássemos moleza apenas porque não prestaríamos N.O.M.s e N.I.E.Ms, muito pelo contrário. Se a velha não gritasse tanto, eu cairia no sono em questão de minutos. Apoiei o queixo na mão e deixei meu olhar correr pelos demais alunos até que se deparou com uma cabeleira laranja.



A mais bela, sem dúvida, entre todas as outras. Não pude impedir o pensamento de o quão bom seria tocar aqueles fios, olhando sua dona no fundo dos lindos olhos verdes. Ah, de todas as misturas já testadas é essa a que mais me agrada: laranja e verde. Um tanto quanto rústico, muito raro, mas que com certeza se completam entre si e à pele branca, porém sempre rosada. Às vezes vermelha, há de ser dito, por minha causa. Ainda não descobri se de raiva ou vergonha, mas acredito que seja dos dois.



Claro que não há motivos pra ela ficar enraivecida, afinal sou uma criatura tão doce e discreta nas minhas investidas! Tampouco pra que fique com vergonha, eu digo o que qualquer garoto que já a tenha visto diria: que é uma das mais belas visões que tiveram. E como havia mudado nas férias! Estava mais alta, o cabelo maior, o sorriso mais bonito...simplesmente mais linda.



Esses pensamentos permaneceram em minha mente pelo resto da manhã. Quase não falei durante o intervalo e a aula seguinte. Até que no almoço aconteceu algo que chamou minha atenção e a dos marotos.



Aluado quis perguntar algo ao professor, então o esperamos antes de ir ao Salão, meio às reclamações de Pedro (isso porque ele tinha tomado café da manhã). Quando chegamos havia lugares vazios somente em um ponto da mesa. O que as três setimanistas estavam comendo. Isso se chama destino!



'- Parece que hoje teremos que comer na companhia das nossas melhores amigas...- Sirius observou sorrindo.



Lamentando nosso "azar" fomos para lá. Me sentei do lado de Lily, que tinha em seu outro lado Divulyon e em frente Andrew. Sirius se sentou ao lado dessa. Me servi de qualquer coisa e contei. Um...dois...três...quatro...:



'- Potter, será que eu não posso nem almoçar em paz?- ela não é previsível?



'- Há alguém te incomodando, Evans? Me diga quem e o sujeito nunca mais vai ter coragem de te azucrinar.



'- Esse alguém é você mesmo.- disse entredentes.



'- Errado. Eu ainda nem tinha te dirigido a palavra, o que prova que você inventa motivos pra brigar comigo.- disse perspicazmente.



'- Se eu vejo motivos é porque eles existem, Potter. E obrigada por me chamar de louca.



'- O quê? Mas eu nunca disse isso!- achar eu até acho um pouco, mas dizer é outra história.



'- Eu sei interpretar muito bem o que as pessoas dizem...



'- Vocês podem parar por favor?- a voz da Andrew se sobrepôs a de Lily, a qual estava ganhando força a cada palavra que pronunciava contra mim.- Queremos almoçar sossegados. Obrigada.



Olhei dela para Sirius, que comia ferozmente seu bolo de carne, então lembrei de algo.



'- Almofadinhas?- chamei.



'- Sim?- meu amigo desviou a atenção da comida para me olhar.



'- Você me pediu para te lembrar de fazer uma coisa.



'- Mesmo? O que era?- perguntou com curiosidade.



'- Esqueci.- respondi com um sorriso amarelo.



'- Grande, Pontas.



Encolhi os ombros em resposta. Se ele que era o interessado não se lembrava, não era eu que tinha que fazê-lo. Continuei comendo sossegadamente.



'- Divulyon, o que tem aí?- Remo perguntou à direita de Sirius.



'- Ah, é só o Profeta de hoje que eu não consegui acabar de ler de manhã, mas acabei agora.



'- Poderia me emprestar por um momento?- pediu educadamente meu amigo.



'- Pode ficar, não vou mais precisar dele.- falou estendendo o jornal.



'- Obrigado.- recolheu o jornal e folheou até parar em uma página específica. Fechou-o em seguida e se levantou.- Que tal irmos andando?



'- Já?- Rabicho que estava até então entretido com a comida protestou. Eu e Sirius nos levantamos na hora, entendendo o recado.



'- É, Pedrinho, temos que fazer aquela coisa muito importante, lembra?- Aluado perdeu a paciência e puxou o pequeno garoto pela capa.- Até a aula.- se despediu das meninas.



Saímos em busca de uma sala vazia. Achando melhor nos afastarmos o máximo possível de outras pessoas, fomos até o terceiro andar, mas acabamos ficando no corredor mesmo, para podermos ver se estaria chegando alguém.



'- E aí? Alguma coisa?



'- Ouçam isso:- esquadrinhou umas notícias até achar a que queria.- "Assassinados ontem pela tarde os últimos quatro integrantes da família Luvrine, um pequeno clã que residia no Norte do país, nas montanhas. Pai, mãe e dois filhos eram tidos como 'misteriosos' e deixaram apreensivos os moradores da tão pacata vizinhança, onde a antiga família bruxa morava desde sempre. O auror Deoríco Tinelli, ainda um principiante, morreu na vã tentativa de proteger os Luvrine, mas não tinha sido mandado lá pelo Ministério, estaria perto do local por coincidência. O único vestígio dos criminosos foi uma estranha marca feita no batente da porta e um tipo de uniforme - uma longa capa preta com capuz, que dificulta a identificação -, ponto comum em outros incidentes semelhantes. A família não tinha rixas, nem riquezas, poder, influência ou tesouros. Nada foi roubado nem destruído, como averiguou a apuração posteriormente. O corpo de Daniel Luvrine, filho mais novo, não foi encontrado."



A leitura dessas poucas linhas causou uma enorme perplexidade em Sirius e Tiago, que ficaram momentaneamente mudos.



'- Por que uns caras de capa e capuz pretos iriam se dar ao trabalho de invadir a casa dos outros e não roubar nada?- Pedro perguntou, fazendo os outros perceberem sua mancada. Não haviam colocado ele por dentro das últimas descobertas.



'- Pedrinho, descobrimos uma coisa ontem.- Sirius começou.- Nós fomos dar uma volta, e percebemos que não tinha nenhum professor patrulhando, nem no corredor da Sonserina...



'- Vocês estiveram na passagem da Sonserina ontem?



'- Isso é mesmo importante?- Tiago bufou.



'- Não. Mas explica porque a mesa deles estava fedendo mais do que o normal hoje.



'- O fato é que os professores estão preocupados comuma espécie decorrente malfeitora ou algo do tipo. E parece que a coisa é séria.



'- Quem? Os mascarados?



'- Não. Acho que é com o chefe deles.- Sirius respondeu, um tanto melancólico.



'- Como você sabe?



'- Vocês sabem que no começo dessas férias...- respirou fundo e fixou o olhar em um ponto na parede.- ...eu finalmente rompi com a minha família. Foi uma briga como todas as outras, mas foi a gota d'água. E dessa vez o motivo da discussão foi que eu ouvi meus pais falando de alguém. Alguém, supostamente, poderosíssimo que eles queriam que eu seguisse. Falavam que eu era inteligente, mas cego demais pra enxergar, prair pelo caminhodos vencedores. Aí ficaram dizendo que o Régulo sim era um bom filho e não hesitaria em seguir o Lorde e trazer honras para a família. Quem é esse caraeu não sei, mas se agrada a minha família boa coisa não é.- terminou sério.



Naquele momento, dois homens eram torturados por causa de sua incompetencia. Falharam na missão que receberam do Lorde das Trevas, e esse não tolerava falhas.

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