CAPÍTULO 03



CAPÍTULO 03


 


A sala de registros da Divisão de Homicídios, na central de polícia, fedia a café velho e urina fresca. Gina foi caminhando por entre as mesas entulhadas, sem prestar atenção aos detetives que trabalhavam em seus tele-links. Um andróide de manutenção passava um pano úmido sobre o piso muito antigo de linóleo.


A baia de Hermione era mal iluminada, apertada e ficava no canto dos fundos. Apesar de seu tamanho e localização, era incrivelmente organizada e limpa, como a própria Hermione.


- Alguém por aqui se esqueceu de onde ficam os banheiros? - perguntou Gina em um tom casual, e Hermione se virou na mesa de metal amassada nas pontas que lhe servia de local de trabalho.


- É que o detetive Bailey trouxe um mendigo para interrogar a respeito de uma facada que ele testemunhou. O mendigo não gostou muito de ser detido e expressou a sua insatisfação esvaziando a bexiga sobre os sapatos novos de Bailey. Pelo que ouvi, a citada bexiga estava muito cheia.


- Isso aqui é um paraíso mesmo! Chegou algum relatório novo do pessoal do laboratório sobre a morte de Brennen?


- Acabei de cobrar deles. Deve estar chegando a qualquer momento.


- Então vamos começar a analisar as gravações dos discos de segurança obtidos nas Torres do Luxo e no apartamento de Brennen.


- Com relação a isso, temos um problema, tenente.


- Você esqueceu de recolhê-los? - perguntou Gina, jogando a cabeça meio de lado.


- Não, trouxe tudo o que havia lá. - Hermione pegou um pacote lacrado contendo apenas um disco. - A câmera do sistema de segurança das torres e do andar da cobertura, durante as vinte e quatro horas que antecederam a descoberta do corpo de Brennen, bem como o SCAN-EYE no apartamento da vítima estavam desligados e não havia mais nenhum disco além deste aqui.


- Eu devia ter imaginado que ele não seria tão idiota a ponto de se deixar gravar. - Gina balançou a cabeça e pegou o pacote lacrado. - Você rastreou as ligações feitas e recebidas pelo tele-link de Brennen?


- Está tudo aqui. - Hermione entregou a Gina outro disco, cuidadosamente etiquetado.


- Vamos para a minha sala. Depois de rodar isto, vamos ver o que conseguimos. Tenho que ligar para Neville. - continuou Gina, já saindo da sala de registros. - Vamos precisar da Divisão de Detecção Eletrônica neste caso.


- O capitão Neville está no México, tenente... gozando o seu período de férias.


- Merda, eu havia esquecido! - Gina parou e fez uma cara feia. - Ele ainda vai ficar fora mais uma semana, não é?


- Um pouco mais. Está aproveitando as delícias da villa de sua propriedade, junto ao penhasco, senhora. Local para o qual, aliás, a sua dedicada auxiliar ainda não foi convidada a conhecer.


- Ué... você tem vontade de conhecer o México, Hermione? - Gina levantou uma sobrancelha.


- Já fui ao México, Weasley. Tenho vontade agora é de conhecer um caballero de sangue quente com quem eu possa me atracar.


Dando uma risada, Gina destrancou a sala e prometeu:


- Se conseguirmos resolver este caso depressa, Hermione, posso arranjar isso para você. - Jogou os discos sobre a mesa bagunçada e tirou o casaco. - De qualquer forma, vamos precisar de alguém da Divisão de Detecção Eletrônica. Veja quem eles conseguem nos emprestar, mas quero alguém competente, e não um curioso de segunda classe.


Hermione pegou o comunicador para fazer a requisição enquanto Gina se instalava atrás da mesa e colocava o disco de Brennen para rodar em seu equipamento.


- Ligar! - ordenou ela, lembrando-se de falar a senha. - Reproduzir o conteúdo do disco!


Havia apenas uma ligação para o exterior, na véspera do assassinato de Brennen. Ele ligara para a mulher e conversara um pouco com os filhos. O papo doméstico e íntimo de um homem se comunicando com a família que planejava rever no dia seguinte fez Gina sentir uma tristeza insuportável.


- Preciso entrar em contato com sua esposa. - murmurou. - Que maneira infernal de começar o dia! É melhor resolver logo isso, antes que a notícia vaze para a mídia. Deixe-me a sós por dez minutos, Hermione.


- Sim, senhora. A Divisão de Detecção Eletrônica vai nos enviar o detetive McNab.


- Ótimo! - Quando a porta se fechou e Gina se viu sozinha, respirou fundo e fez a ligação.


Quando Hermione voltou, dez minutos depois, Gina estava tomando café em pé, olhando para fora pela estreita janela de sua sala.


- Eileen Brennen está vindo para Nova York, trazendo os filhos. Ela insiste em ver o marido. Não desmontou ao ouvir a notícia. Às vezes é pior quando as pessoas mais chegadas não se desestruturam e agüentam firme. Dá para ver nos seus olhos que eles estão certos de que houve um engano. - Flexionou a musculatura dos ombros, como se estivesse tentando tirar um peso dali. - Vamos ver o disco da segurança. Podemos ir devagar até recebermos mais informações.


Hermione tirou o lacre do disco e o colocou no sistema. Segundos depois, ela e Gina estavam olhando para a tela do computador, sem compreender.


- Que diabo é isso? - quis saber Gina.


- É... Não sei bem. - Hermione franziu as sobrancelhas diante das figuras que se moviam na tela. Vozes se elevaram de forma solene, falando algo em uma língua estranha. No centro da tela havia um homem de batina e dois meninos de branco ao lado. Segurava um cálice de prata diante de um altar coberto de preto, enfeitado com flores e velas brancas. - Será que é um ritual? Talvez uma encenação?


- É um funeral. - murmurou Gina, observando o caixão que brilhava em frente à plataforma onde estava o altar. - Uma missa de corpo presente. Já estive em uma certa vez. É um ritual católico, eu acho. Computador, identifique a cerimônia apresentada no disco e a língua na qual está sendo celebrada.


 


Processando... As imagens são de um Réquiem ou Ofício dos Mortos, uma cerimônia litúrgica católica. A língua empregada é o latim. Esta parte da missa mostra o cântico de ofertório, um ritual no qual...


 


- Tá bom, já chega! Onde foi que você arranjou esse disco, Hermione?


- Na sala da segurança das Torres do Luxo, Weasley. Estava codificado, marcado e etiquetado.


- Ele trocou os discos. - resmungou Gina. - O filho-da-mãe trocou os discos só para zoar da nossa cara. Continua brincando conosco e é muito bom nisso. Computador, pare de rodar o arquivo e copie o disco! - Enfiando as mãos nos bolsos, Gina se balançou para a frente e para trás, apoiada nos calcanhares. - Ele está se divertindo à nossa custa, Hermione, e vai ter que pagar por isso. Ordene uma varredura geral na sala da segurança do edifício, feita pelos nossos técnicos, e confisque todos os discos do dia do crime.


- Todos os discos?


- Todos os discos, de todos os andares e de todas as salas. E quero um relatório dos guardas que interrogaram os outros ocupantes do edifício de porta em porta. - Guardou no bolso a cópia que o computador liberou. - Agora vou ver o que está provocando esse atraso no relatório inicial do laboratório.


O tele-link tocou nesse exato momento e ela o atendeu:


- Aqui fala a tenente Weasley.


- Você foi muito rápida, tenente... estou impressionado.


Gina só precisou piscar para que Hermione desse início ao rastreamento da transmissão. Sorriu suavemente para as cores que ondulavam lentamente em sua tela. Dessa vez um coral fornecia a música de fundo, e entoava uma peça na língua que agora ela sabia ser o latim.


- Você teve um trabalhão com Brennen. Parece-me que se divertiu bastante.


- Oh, sim, eu me diverti, certamente. Tommy era um grande cantor, sabia? E ele cantou só para mim. Ouça...


De repente a sala se encheu de berros pavorosos e inumanos, gritos chorosos que percorreram a espinha de Gina como gelo derretendo.


- Foi lindo, tenente... ele implorou pela sua vida, e depois implorou para que eu acabasse com ela. Mantive-o vivo por quatro horas, a fim de lhe dar tempo suficiente para que ele se lembrasse dos pecados do passado.


- Seu estilo precisa melhorar um pouco no quesito sutileza, meu chapa. E quando eu agarrá-lo, pode estar certo de que vou impedi-lo de alegar insanidade mental. Vou pegá-lo de jeito, e vou pleitear uma jaula especial na prisão do satélite Attica Dois. As instalações de lá fazem qualquer prisão aqui do planeta se parecer com um clube de lazer.


- Eles também prenderam João Batista, mas ele conheceu a glória do Paraíso.


Gina tentou se lembrar das histórias da Bíblia, que conhecia muito pouco, e perguntou:


- Esse cara é aquele que perdeu a cabeça por causa de uma dançarina, certo? Você está disposto a perder a sua para uma policial?


- Salomé era uma meretriz. - reagiu ele, em um tom de voz tão baixo que Gina foi obrigada a chegar mais perto para ouvir melhor. - Ela representava o Mal sob uma forma atraente. Ele resistiu à tentação e foi martirizado sem máculas.


- E você também quer ser martirizado? Quer morrer pelo que chama de fé? Eu posso ajudá-lo... basta me dizer onde você está.


- Você me desafia, tenente, de uma forma que eu não esperava. Uma mulher com mente forte e centrada é um dos grandes prazeres que Deus nos proporciona na vida. E você recebeu o nome de Gina... Se ao menos o seu coração fosse puro, eu poderia até admirá-la.


- Pois pode guardar a admiração para si mesmo.


- Eva também mostrou que tinha um espírito fraco, e provocou a perda do Paraíso para todos os seus filhos.


- Sei... e Adão foi um tremendo covarde que não assumiu a responsabilidade junto com ela. Agora, a aula de catecismo acabou. Vamos encerrar logo esse papo.


- Estou louco para encontrá-la, embora isso ainda vá levar algum tempo.


- Vai ser mais cedo do que pensa.


- Talvez, talvez... enquanto isso, trouxe-lhe outra charada. Dessa vez é uma corrida. O próximo pecador ainda está vivo e continua candidamente desinformado a respeito da punição que está chegando. Pelas suas palavras e pela lei de Deus ele será condenado. Preste atenção: “O homem fiel gozará de abundantes bênçãos, mas o que se apressa a enriquecer não ficará impune.” Este aqui já ficou impune por tempo demais.


- Impune por qual crime?


- Pelos crimes de sua língua mentirosa. Você tem vinte e quatro horas para salvar uma vida, se essa for a vontade de Deus. Sua charada é: “Ele tem a pele clara e no passado viveu graças à sua sagacidade. Agora suas habilidades diminuíram, pois, como Dicey Riley, ele está dando sopa. Mora onde trabalha e trabalha onde mora, e todas as noites serve àqueles que mais inveja. Atravessou as espumas, mas se fecha em um lugar que o faz lembrar de casa. A não ser que você o encontre antes, sua sorte termina amanhã de manhã. É melhor correr.”


Gina ainda ficou olhando para a tela por um bom tempo depois que ela apagou.


- Sinto muito, Weasley, mas não conseguimos descobrir de onde foi feita a ligação. Talvez o detetive eletrônico consiga alguma coisa quando chegar.


- Quem diabos é esse tal de Dicey Riley? - murmurou Gina. - E o que ele quis dizer com “está dando sopa”? Será que era sopa de verdade? Comida, talvez... restaurantes. Restaurantes irlandeses.


- “Restaurante” e “irlandês” são conceitos contraditórios.


- Hein?


- Nada, só uma brincadeira de mau gosto. - Hermione deu um sorriso leve. - Disse isso só para aliviar a tensão.


- Certo. - Gina deixou-se afundar na cadeira. - Computador, quero uma lista impressa com os nomes e a localização de todos os restaurantes irlandeses da cidade. - Fez girar a cadeira. - Hermione, entre em contato com Tweeser, a mulher que chefia os peritos. Ela supervisionou a varredura eletrônica que foi feita no apartamento de Brennen. Diga-lhe que eu preciso de alguma coisa para poder trabalhar... qualquer coisa. Envie alguém até as Torres do Luxo para pegar todos os discos da sala da segurança. Vamos agitar!


- Já estou agitando. - concordou Hermione, saindo pela porta.


 


Uma hora depois, Gina estava debruçada sobre o relatório do laboratório. Havia muito pouco, quase nada para avaliar.


- O canalha não deixou nem mesmo um pentelho para os técnicos recolherem. - Esfregou os olhos. Precisava voltar à cena do crime, decidiu, caminhar pelo ambiente, tentar visualizar tudo o que acontecera. Tudo o que vinha à sua mente era o sangue, a carnificina, o estrago.


Ela precisava clarear a visão.


A citação bíblica viera novamente do Livro dos Provérbios. Tudo o que Gina podia supor era que o próximo alvo era alguém que desejava enriquecer. Esse objetivo limitava sua busca a todas as almas pecadoras que viviam na cidade de Nova York.


Vingança era o motivo. Traição por dinheiro? Perguntou-se ela. Alguém relacionado com Brennen? Pegou a lista que Harry fizera e analisou os nomes das pessoas associadas a Thomas Brennen, inclusive amigos.


Não havia amantes, refletiu. E Harry teria descoberto, se existissem. Thomas Brennen fora um marido fiel, e agora sua mulher estava viúva.


Ao ouvir a batida no umbral da porta, olhou para cima e franziu de leve as sobrancelhas diante do homem que sorria. Vinte e poucos anos, avaliou, com um rosto bonito, ainda de menino, e uma queda por roupas da moda.


Sua altura não chegava a um metro e setenta e cinco, mesmo com as botas com suspensão a ar em amarelo-néon. Usava uma calça bag em jeans e um paletó com punhos desfiados. Seu cabelo tinha um tom vermelho dourado brilhante e formava um rabo-de-cavalo que ia quase até a cintura. Tinha meia dúzia de pequenas argolas presas ao longo da orelha esquerda, como piercings.


- Você bateu na sala errada, meu chapa. Esta é a Divisão de Homicídios.


- E você deve ser a tenente Weasley. - Seu sorriso contagiante formou covinhas nos dois lados do rosto. Seus olhos eram verde-escuros. - Sou Ronald McNab, da Divisão de Detecção Eletrônica.


Ela não gemeu, como gostaria de ter feito. Conseguiu exprimir a decepção apenas com um suspiro e estendeu-lhe a mão. Minha nossa foi tudo o que conseguiu pensar enquanto ele a cumprimentava com a mão cheia de anéis.


- Quer dizer então que você é um dos ajudantes de Neville?


- Sim. Fui designado para a divisão dele há seis meses. - Olhou em volta da sala apertada e mal iluminada. - Aqui na Divisão de Homicídios vocês devem estar com o orçamento bem apertado, hein? Nossos armários na Divisão de Detecção Eletrônica são maiores do que isto aqui. - disse, e olhou por sobre o ombro, renovando o sorriso fulgurante ao ver Hermione chegar e se colocar ao seu lado, junto da porta. - Ora, não há nada mais bonito do que uma mulher de farda!


- Hermione, este é McNab.


Hermione o analisou de cima a baixo com um olhar crítico, observando os brilhos e reflexos.


- Essa é a roupa que vocês usam para trabalhar na sua divisão?


- É que hoje é sábado. - explicou Rony, com descontração. - Quando recebi o recado, em casa, resolvi dar um pulinho até aqui para ver qual era o lance. De qualquer modo, a gente trabalha com roupas informais por lá.


- Dá para notar. - Hermione tentou forçar a passagem para entrar na sala apertada e encostou nele, estreitando os olhos ao vê-lo sorrir de satisfação.


- Com três pessoas nessa sala apertada a gente não pode nem se mexer, senão acaba cometendo algum pecado. Eu topo! - Saiu um pouco de lado para deixar Hermione passar e a seguiu com os olhos, analisando suas curvas com interesse.


Nada mal, pensou Rony. Nada mal mesmo.


Quando tornou a levantar os olhos e deu de cara com o olhar duro de Gina, pigarreou. Conhecia a reputação de Gina Weasley. Ela não tolerava gracinhas.


- O que posso fazer pela senhora, tenente?


- Estou com um homicídio para solucionar, detetive, e talvez tenha outro nas mãos amanhã, por essa hora. Preciso que você rastreie algumas ligações. Quero a localização exata. Quero descobrir como é que esse babaca está interferindo nas nossas linhas.


- Então eu sou o homem certo. As chamadas foram para esse tele-link? - Ao ver que Gina fez que sim com a cabeça, aproximou-se da mesa. - A senhora se importa se eu me sentar em sua cadeira para ver o que posso fazer?


- Vá em frente. - Gina se levantou, deixando o lugar vago para ele. – Hermione, preciso ir ao necrotério de tarde, a fim de tentar evitar um choque para a Sra. Brennen, e também para conseguir algumas informações dela. Vamos dividir a lista de restaurantes entre nós duas. Precisamos encontrar alguém que more no local de trabalho, tenha emigrado da Irlanda, tenha se estabelecido em Nova York e, além disso, possua uma possível ligação com Thomas Brennen. Consegui uma lista dos amigos mais próximos de Brennen e também de seus sócios. Precisamos pesquisar todos esses nomes, com urgência. - Entregou a Hermione uma cópia da lista.


- Sim, senhora.


- Verifique também qualquer pessoa chamada Riley... ou Dicey.


Rony parou de cantarolar baixinho o que parecia ser a música-tema de todos os detetives eletrônicos que Gina conhecia e exclamou:


- Dicey Riley? Essa é boa! - disse rindo.


- Será que eu não entendi a piada, Ronald?


- Não sei. Só sei que “Dicey Riley” é uma antiga canção muito executada nos pubs irlandeses.


- Pubs? - Os olhos de Gina se estreitaram. - Você é irlandês, Rony?


- Sou de origem escocesa, tenente! - Gina percebeu que um brilho rápido passou por seus olhos, indicando que ele fora insultado. - Meu avô nasceu nas Terras Altas. Era um highlander.


- Que bom para ele. O que significa essa canção? Ela fala sobre o quê?


- Fala de uma mulher que bebe demais.


- É sobre bebida, e não comida?


- Sobre bebida. - confirmou ele. - A bebida é o velho vírus irlandês.


- Merda! Bem, de qualquer modo, muitos dos lugares da lista são pubs. - disse Gina, olhando para o papel em sua mão. - Vamos dar uma olhada em todos os bares irlandeses da cidade.


- A senhora vai precisar de uma força-tarefa de vinte homens para cobrir todos os pubs de Nova York. - disse Rony, de forma casual, antes de voltar ao trabalho.


- Preocupe-se apenas em descobrir a localização das chamadas. - ordenou Gina. - Hermione, solicite os nomes e endereços dos pubs. O emissário já voltou com os discos das Torres do Luxo?


- Está chegando.


- Ótimo! Vamos dividir os bares geograficamente. Eu pego os do sul e os do oeste, você visita os do norte e do leste. - Quando Hermione saiu, Gina se virou para Rony, dizendo: - Preciso de uma resposta rápida.


- Não vai dar para ser assim tão rápido não. - Seu rosto de menino adquirira um ar sombrio. - Já pesquisei em vários níveis e não encontrei nada. Agora estou tentando estabilizar um sinal de dispersão para fixá-lo na última ligação que chegou. Leva tempo, mas é a melhor maneira de rastrear uma conexão feita através de um misturador de sinais.


- Então consiga isso em menos tempo! - decretou Gina. - Entre em contato comigo assim que tiver sucesso.


- Mulheres!... - murmurou ele, olhando para cima nas costas de Gina assim que ela saiu da sala. - Sempre querendo milagres.


 


Gina visitou uns dez bares a caminho do Instituto Médico Legal. Encontrou dois proprietários e três empregados que moravam em cima ou atrás da loja em que trabalhavam. Ao estacionar no terceiro andar do instituto, ligou para Hermione.


- Como estamos? - perguntou.


- Achei dois possíveis alvos até agora, tenente, e meu uniforme vai feder a fumaça e uísque pelos próximos seis meses. - Fez uma careta. - Nenhum dos dois conhece Thomas Brennen, e ambos afirmam não ter um inimigo sequer no mundo.


- É, eu estou conseguindo a mesma coisa. Continue investigando, porque o nosso tempo está se esgotando.


Gina desceu as escadas e digitou seu código no painel de segurança para entrar. Evitando passar pela área de espera, cheia de flores, foi direto para o necrotério.


O ar ali estava frio e tinha um cheiro sutil de morte. As portas podiam ser de aço e estar lacradas, mas a morte sempre arrumava um jeito de se fazer presente.


Gina havia deixado Brennen na sala de autópsia B, e, já que era pouco provável que ele tivesse se levantado e trocado de sala, foi para lá que ela se dirigiu, exibindo o distintivo para o scanner.


 


A autópsia do Sr. Thomas X. Brennen ainda está sendo realizada. Por favor, observe as normas relacionadas à saúde e segurança enquanto estiver no ambiente. Está autorizada a entrar, tenente Gina Weasley.


 


A fechadura deu um estalo e se abriu com um chiado, deixando sair um jato de ar gelado. Gina entrou e viu a figura ágil e atraente do dr. Morris, o legista, que retirava de um crânio aberto, com todo o cuidado, o cérebro de Brennen.


- Desculpe por ainda não termos terminado, Weasley. Recebemos uma enxurrada de novos hóspedes que chegaram sem fazer reserva. As pessoas estão... rá-rá-rá... se matando para entrar aqui.


- O que tem para mim?


Morris conferiu o peso do cérebro e o colocou dentro de uma cuba cheia de fluido. Ele usava uma trança que lhe descia até a cintura, fazendo uma curva suave pelo guarda-pó imaculadamente branco. Por baixo, usava uma malha colante em um tom forte de roxo.


- A vítima era um homem muito saudável. Tinha cinqüenta e dois anos e quebrou a tíbia quando criança, uma fratura da qual se recuperou muito bem. Fez sua última refeição entre quatro e quatro horas e meia antes de morrer. Almoço, eu diria. Ensopado de carne, pão e café. Foi colocada uma droga no café.


- Que droga?


- Um calmante leve. Tranqüilizante de venda liberada. Ele devia estar bem relaxado, talvez sentindo um leve zumbido. - Morris digitou alguns dados em um aparelho portátil e continuou conversando com Gina, diante dos restos brancos e mutilados. - O primeiro golpe deve ter sido a amputação da mão. Mesmo com o tranqüilizante no organismo, o ataque deve ter provocado um choque em seu sistema e grande perda de sangue.


Gina se lembrou das paredes do apartamento, todas respingadas de vermelho. Imaginou que as artérias cortadas haviam pulsado e ejetado sangue com força, como mangueiras abertas.


- Quem quer que o tenha atacado conseguiu estancar o sangue cauterizando o cotoco do braço.


- Usando o quê?


- Meu palpite seria uma máquina de soldar. - Fez uma careta. - Foi um trabalho bem sangrento. Veja aqui como tudo ficou carbonizado e ressecado do cotoco até o cotovelo. Deve ter doído.


- E muito. - murmurou Gina, enfiando os polegares nos bolsos da calça. - O que você está me dizendo é que Brennen basicamente apagou logo depois do primeiro ataque, o que explica a ausência de sinais de luta no apartamento.


- Ele não teria forças nem para espantar uma barata bêbada. A vítima foi amarrada pelo outro pulso. As drogas administradas eram uma combinação de adrenalina e digitálicos. Isso manteve o coração batendo e o cérebro funcionando enquanto ele acabava de ser retalhado. - Morris bufou com tristeza. - E ele foi bem retalhado, sem dúvida. A morte não chegou muito depressa e não foi nada tranqüila para esse irlandês.


Os olhos de Morris permaneceram tranqüilos por trás dos óculos especiais. Gesticulou com a mão cheia de spray selante para uma pequena bandeja de metal, dizendo:


- Encontrei aquilo dentro do seu estômago, junto com o almoço.


Gina franziu as sobrancelhas ao olhar para a bandeja. O objeto parecia um medalhão e tinha o tamanho de uma moeda de cinco dólares. Com fundo branco, trazia uma imagem esmaltada em um tom forte de verde. Do outro lado havia duas linhas com a forma de parênteses que se cruzavam em uma das pontas.


- Um trevo de quatro folhas. - explicou Morris. - Símbolo de boa sorte. Seu assassino possui um senso de humor cruel e distorcido. Quanto à figura engraçada na parte de trás, não faço a menor idéia do que seja.


- Vou levar esse objeto comigo. - Gina guardou o medalhão em um saco especial e o lacrou. - Pretendo pedir ajuda à dra. Minerva para resolver este caso. Precisamos de um perfil. Ela vai entrar em contato com você, Morris.


- É sempre um prazer trabalhar com a dra. Minerva e com você, tenente. - O comunicador no pulso do médico tocou. - Aqui é o Palácio da Morte. Morris falando...


- A Sra. Brennen acabou de chegar e pediu para ver o corpo do marido. - informou uma voz.


- Encaminhe-a para a minha sala, vou vê-la em seguida. - Virou-se para Gina. - Não vai nos servir de nada ela ver o pobre coitado nesse estado. Você não quer lhe fazer algumas perguntas?


- Sim.


- Pode usar a minha sala pelo tempo que quiser. A Sra. Brennen poderá ver o corpo em vinte minutos. Até lá ele já estará mais... apresentável.


- Obrigada, Morris. - disse Gina, encaminhando-se para a porta.


- Weasley!


- Sim?


- O Mal é... ora, você sabe que eu não costumo usar essa palavra pesada para qualquer coisa, ela é meio embaraçosa. - Encolheu os ombros. - O fato, porém, é que o sujeito que fez esse trabalho... Acho que Encarnação do Mal é a única expressão que encontro para enquadrá-lo nisso.


 


A expressão do médico ainda ecoava na cabeça de Gina quando ela se viu cara a cara com Eileen Brennen. Era uma mulher sofisticada e bem-vestida. Embora seus olhos estivessem secos, seu rosto estava pálido como cera. Suas mãos não tremiam, mas também não conseguiam permanecer paradas. Ela revirava a cruz de ouro que trazia pendurada no pescoço em uma corrente fina que ia até a cintura, puxava a ponta da blusa para se ajeitar e passava os dedos através dos ondulados cabelos louros.


- Quero ver o corpo que a senhora encontrou, tenente. Insisto em vê-lo! Tenho esse direito.


- A senhora vai vê-lo, Sra. Brennen, já estamos providenciando. Se eu pudesse, porém, ter alguns minutos da sua atenção antes de vê-lo, isso nos seria muito útil.


- Mas como eu posso saber se é ele? Como posso saber que é o meu Tommy até vê-lo?


Não adiantava nada oferecer ajuda.


- Sra. Brennen, nós já identificamos o seu marido. Temos as impressões digitais, o DNA e a identificação visual feita pelo porteiro das Torres do Luxo. Sinto muito, não foi um engano. Por favor, sente-se. Deseja alguma coisa? Água, talvez?


- Não, não quero nada. - Eileen sentou-se com um movimento rápido e nervoso, as mãos se retorcendo. - Ele ficou de ir para Dublin, ao nosso encontro. Hoje. Ficou a semana passada em Nova York apenas para concluir alguns negócios. Era para chegar em casa hoje, depois de aterrissar em Londres na noite passada.


- Então a senhora não esperava por ele antes disso.


- Não. Ele não ligou a noite passada. Devia ligar para nós ao chegar a Londres, mas às vezes ele está muito ocupado e deve ter esquecido. - Abriu a bolsa, tornou a fechá-la e repetiu o movimento inúmeras vezes. - Nem me preocupei com ele... nem me preocupei. - disse novamente, fechando a mão em torno da cruz com tanta força que as pontas da jóia desapareceram entre os dedos.


- Então a senhora não tentou entrar em contato com ele.


- As crianças e eu saímos para jantar e depois fomos a um centro de diversões. Chegamos em casa tarde e Maize parecia chateada com alguma coisa. Coloquei-a na cama e fui dormir logo em seguida. Fui para a cama simplesmente porque estava cansada e nem estranhei o fato de Tommy não ter ligado de Londres.


Gina deixou que ela se acalmasse um pouco, e então se sentou à sua frente, em uma das poltronas macias do dr. Morris.


- Sra. Brennen, a senhora saberia me dizer algo a respeito dos negócios que obrigaram o seu marido a permanecer em Nova York?


- Não... não sei muito a respeito disso. Nem compreendo essas coisas. Minha profissão é ser mãe. Tenho filhos para criar e três casas para administrar. Possuímos uma casa de campo, na Irlanda. Não entendo nada de negócios. Por que deveria? - perguntou com a voz embargada.


- Tudo bem. Saberia me dizer se o seu marido mencionou alguém que tivesse ligação com ele? Alguém que o estivesse ameaçando ou perturbando de alguma forma?


- Tommy não tem inimigos. Todos gostam dele. É um homem justo e tem bom coração. Pode perguntar a qualquer um que o conheça. - Fitou o rosto de Gina com os olhos azul-claros enquanto se inclinava para a frente. - É por isso que vocês devem estar enganados. Deve haver algum mal-entendido. Ninguém faria mal a Tommy. E nas Torres do Luxo a segurança é muito boa. Esse foi um dos motivos de ele ter escolhido esse condomínio para servir de residência para nós aqui em Nova York. Há tantos crimes pela cidade, e Tommy queria que eu e as crianças estivéssemos a salvo.


- A senhora conheceu o seu marido em Dublin?


- Sim. - disse Eileen, e piscou distraída. - Conhecemo-nos há mais de doze anos, em Dublin.


- Ele ainda tem algum amigo daquela época, talvez um sócio...?


- Eu... ele tem tantos amigos. Eu... - Passou a mão sobre os olhos. - Sempre alguém ligava para ele quando estávamos aqui. E às vezes ele ia a um pequeno pub com os amigos quando estávamos em Dublin. Não gosto muito de pubs, por isso eu ia poucas vezes. Mas ele gostava, e ia com certa freqüência.


- Que pub era esse?


- O nome do estabelecimento? O Porquinho Rico, eu acho. - Subitamente, Eileen agarrou o braço de Gina. - Preciso vê-lo agora, por favor!


- Certo. Dê-me apenas um momento, volto já. - Gina saiu da sala do legista e pegou o comunicador. - Hermione?


- Sim, tenente.


- O Porquinho Rico. Há algum pub na nossa lista com esse nome?


- Espere um instante... Não, senhora. Nada com “porquinho” no nome.


- Foi só uma idéia. Continue investigando, vou manter contato. - Virando-se para o outro lado do corredor, entrou em contato com o dr. Morris. - Ela quer ver o marido, ele já está pronto?


- Melhor do que isso não vai poder ficar... vou deixar vocês entrarem.


- Sra. Brennen! - chamou Gina, tornando a abrir a porta da sala. - Se a senhora tiver a bondade de me acompanhar...


- Estamos indo vê-lo?


- Sim.


Gina segurou o cotovelo de Eileen, tanto para servir de apoio quanto para guiá-la. Seus passos ecoavam pelo corredor de azulejos brancos. Quando chegou à porta, Gina sentiu que o braço da visitante ficou rígido. Ouviu-a respirar fundo e prender a respiração.


Entraram. Morris fizera o possível, mas não havia como disfarçar os traumas maiores que o corpo sofrera. Era impossível suavizar a morte.


Eileen expirou com força e deu um soluço, apenas um. Tornou a inspirar com força e, com gentileza, afastou a mão que a segurava, dizendo:


- É o meu Tommy. Este é o meu marido. - Chegou mais perto, aproximando-se com cuidado da figura coberta até o pescoço por um lençol branco, como se estivesse com medo de acordá-lo. Gina não disse nada ao vê-la passar as pontas dos dedos sobre o rosto do marido. - Como é que eu vou contar isso para as crianças, Tommy? Como vou fazer para contar isso a elas?


Olhou para trás, na direção de Gina, e, embora estivesse com os olhos rasos d’água, parecia determinada a segurar as lágrimas.


- Quem seria capaz de fazer uma coisa dessas a um homem tão bom?


- O meu trabalho é responder a essa pergunta, Sra. Brennen. A senhora pode confiar, pois vou descobrir.


- Descobrir o assassino não vai trazê-lo de volta para mim e para as crianças. Vai ser tarde demais, não é verdade?


A morte, pensou Gina, fazia tudo parecer tarde demais.


- Isso é tudo o que posso lhe oferecer, Sra. Brennen.


- Não sei se vai ser o bastante, tenente Weasley. Não sei se vou conseguir aceitar que isso seja o suficiente. - Ela se inclinou, beijando os lábios do marido com carinho. - Eu sempre amei você, Tommy. Desde o início.


- Venha comigo agora, Sra. Brennen. - Eileen não ofereceu resistência quando Gina a puxou pelo braço. - Vamos lá para fora. Quer que eu entre em contato com alguém aqui da cidade?


- Eu... há uma amiga minha... Katherine Hastings. Ela mora... ela possui uma loja na Quinta Avenida. Mulher com Classe é o nome da loja.


- Vou ligar para ela e pedir que venha encontrá-la aqui.


- Obrigada. Eu preciso de alguém...


- Quer um pouco d’água agora, ou um café?


- Não, vou apenas me sentar um pouco. - E quase desabou sobre uma cadeira de espaldar reto na sala de espera. - Preciso apenas descansar um pouco os pés. Vou ficar bem. - Olhou para cima, com os olhos azuis marejando-se de lágrimas não vertidas. - Vou ficar bem. Tenho as crianças, entende? Preciso ficar bem.


Gina hesitou por um segundo e então pegou o pequeno saco transparente, lacrado, que estava em seu bolso.


- Sra. Brennen, a senhora já viu este objeto?


- Não. - Eileen se concentrou no medalhão, admirando-o como se fosse uma peça de arte muito rara. - Isto é... é claro que eu já vi um trifólio antes, mas não esmaltado em uma moeda.


- Trifólio?


- Claro, é esse o nome que damos a essa planta na Irlanda. Aqui o nome é trevo.


- E quanto a esse símbolo? - Mostrou o verso do medalhão.


- Um peixe. - Fechou os olhos. - Um símbolo cristão. Poderia ligar para Katherine agora? Não quero mais ficar aqui.


- Agora mesmo. Fique sentada e descanse um pouco.


Gina ligou para Katherine Hastings, explicando-lhe o que aconteceu em poucas palavras. Enquanto falava, ficou dando uma olhada na lista de pubs. Não havia Porquinho Rico nem Trevo de Quatro Folhas, nada com peixe nem relacionado com igreja. Mas viu três estabelecimentos com “trifólio” no nome. Imediatamente pegou o comunicador.


- Hermione, concentre-se primeiro nos pubs que tiverem “trifólio” no nome.


- Trifólio, tenente?


- Sim. É só um palpite, mas faça isso.


 


Gina entrou no Trifólio Verde às três da tarde. A multidão da hora do almoço, se é que ali havia tanto movimento assim, já diminuíra e ela encontrou o pequeno e escuro pub quase deserto. Dois clientes com olhar triste sentavam-se inclinados um para o outro, jogando cartas diante de duas tulipas de chope com colarinho largo, junto a uma mesa nos fundos. Embora não houvesse licença para jogo ao lado do alvará, Gina ignorou as pilhas de fichas de crédito que viu ao lado das tulipas de chope.


Uma jovem de avental branco e bochechas rosadas assobiava enquanto limpava as mesas. Sorriu para Gina e, ao falar, demonstrou um pouco do adorável sotaque da terra natal de Harry.


- Boa tarde para você, senhorita. Quer ver o cardápio? A essa hora, infelizmente, temos apenas sanduíches para oferecer.


- Não, obrigada. - Não havia ninguém servindo no bar, mas Gina se sentou em um dos bancos altos em frente ao balcão, exibiu o distintivo e viu os olhos da garçonete se arregalarem.


- Eu não fiz nada. Não sou ilegal no país. Tenho documentos.


- Não sou da Imigração. - Pelo ar de alívio que notou no rosto da garota, Gina concluiu que os documentos eram recentes e, provavelmente, falsos. - Vocês têm quartos para alugar aqui? Algum dos empregados, ou o proprietário, mora nos fundos da loja?


- Sim, senhora. Há três quartos. Um nos fundos e dois em cima do pub. Eu mesma moro em um deles. Tudo conforme o código de habitação para esta área.


- Quem mais mora aqui, senhorita... como é o seu nome?


- Maureen Mulligan.


- Mais alguém mora lá em cima, Maureen?


- Bem, Bob McBride morava, até o mês passado, quando o patrão o despediu por ociosidade. Bob levava horas para pegar uma cerveja, entende, a não ser que o destino fosse a sua própria boca. - Tornou a sorrir, começando a esfregar o tampo do balcão com disposição. - Temos agora o Shawn Conroy, que se mudou para o quarto dos fundos.


- E ele está lá agora?


- Olhei ainda há pouco e ele não estava por lá não... aliás, já devia estar aqui comigo, trabalhando. Seu turno começou há meia hora.


- Você poderia me mostrar o quarto onde ele mora, Maureen?


- Ele não está em apuros com a polícia, está? Shawn bebe um pouquinho, mas trabalha direito e faz o melhor que pode.


- Eu quero justamente me certificar de que ele não está em apuros. Ligue para o seu patrão se quiser, Maureen, mas me leve até os fundos.


Maureen mordeu o lábio inferior e transferiu o peso do corpo de um pé para outro, dizendo:


- Bem, se eu ligar para ele vou ser obrigada a contar que Shawn ainda não apareceu para pegar no serviço, e isso vai lhe causar problemas, não é? Posso mostrar-lhe o quarto, se a senhora quiser ver. Shawn não usa drogas, tenente. - continuou, enquanto abria uma porta atrás do bar. - O patrão não tolera drogas nem indolência. Sem ser isso, não há mais nada por aqui que possa provocar a demissão de um empregado, mas qualquer uma dessas duas coisas significa “Rua!” no ato. - Destrancou a porta com uma chave grande e antiga que pegou em uma argola presa à cintura.


Não havia muito o que ver, apenas um beliche, uma cômoda barata, uma mesinha-de-cabeceira e um espelho rachado. Tudo, porém, estava surpreendentemente limpo. Uma rápida olhada dentro do closet fez Gina se certificar de que Shawn não fizera as malas às pressas e fora embora.


Foi até a cômoda e abriu uma das gavetas. Shawn tinha duas cuecas limpas e duas meias descasadas.


- Há quanto tempo ele está nos Estados Unidos?


- Shawn? Deixe ver... pelo menos há dois ou três anos, eu acho. Vive falando que vai voltar para Dublin, mas...


- É de onde ele veio? - perguntou Gina, interrompendo-a. - Shawn é de Dublin?


- Sim, ele me contou que nasceu e foi criado lá, e veio para a América só para fazer fortuna. Se bem que a fortuna ainda não deu as caras para Shawn. - continuou com um sorriso largo. Seu olhar se desviou para a garrafa vazia sobre a mesinha-de-cabeceira. - Aquele ali deve ser o motivo. Shawn gosta da bebida mais do que ela gosta dele.


- Sei... - Gina também olhou para a garrafa, e então seu olhar se fixou no objeto que viu ao lado da garrafa vazia. Seus músculos se enrijeceram quando ela pegou o medalhão com a figura esmaltada. - O que é isto, Maureen?


- Não sei. - Maureen virou um pouco a cabeça para ver melhor e avaliar o trifólio verde com fundo branco e, atrás, a figura de um peixe. - Acho que é algo para dar sorte.


- Você já tinha visto isso antes?


- Não. Parece novo, não parece? Brilha tanto... Shawn deve ter acabado de ganhar de alguém. Vive em busca de boa sorte.


- Sei... - Gina fechou o punho com força em volta do medalhão. Receava que a sorte dele já tivesse acabado.


 


 


 


Agradecimento especial:


 


Nanny Black: Tudo tem haver com aquela época, nos próximos capítulos o Harry vai explicar para a Gina mais detalhadamente o que fez com os caras que estupraram e mataram a Marlena, filha do Moody, eles eram seis e o Harry matou cada um deles de uma maneira diferente. Bom, o assassino é alguém ligado a um desses homens que o Harry matou e agora está querendo vingança. Mais detalhes apenas nos próximos capitulo, sinto muito. Beijos.


 


 


 

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