Inconformados e preocupados
Dumbledore estava com a cabeça na lareira da sala de estar dos Malfoy e havia um elfo doméstico tirando o pó do aposento:
-Olá. –o diretor cumprimentou e a criaturinha virou-se para ele.
-O que o senhor deseja?
-Poderia falar com Lúcio?
-O meu amo não se encontra na Mansão nesse momento.
-Ele disse pra onde iria ou quando voltaria?
-Não, o Senhor nunca diz a Trolly sobre seus compromissos.
-Hum, eu entendo. –murmurou Dumbledore resignado –Por acaso Gina Weasley e Draco Malfoy estão aí?
-Não vejo o jovem Sr. Malfoy há muito tempo, ele está em época de aulas. E quanto a tal garota, não é permitido a nenhum Weasley pisar aqui dentro.
Dumbledore pareceu pensativo por um instante:
-É só isso que o Sr. desejava saber? Porque se for eu peço pra me retirar, ainda tenho muitos afazeres a cumprir.
-Espere um momento. Poderia chamar Narcisa pra mim? Diga que é Dumbledore, o diretor de Hogwarts.
-Tudo bem, espere alguns minutos. Eu irei chamar a Sra. Narcisa.
Dumbledore acenou concordando em esperar. Um brilho passou por seus olhos atrás dos oclinhos de meia lua. Se o elfo não se opusera em chamar Narcisa, era porque ela não estava doente. Lúcio mentira pra ele e errara a não dizer ao elfo a mentira que tinha inventado.
“Também, ele não esperava que eu fosse me comunicar pela lareira.”
Após alguns minutos de espera, Narcisa se aproximou da lareira. Seu cabelo loiro claro penteado e solto. Usava maquiagem e a roupa estava impecável:
-Que surpresa. –falou arrastadamente, olhando para o rosto velho de Dumbledore que flutuava na lareira –A que devo essa sua “visita”? –perguntou como que entediada.
-Bom dia. Está muito bem, Narcisa. Parece gozar de excelente saúde. –ele comentou.
-E por que eu não gozaria? Sou jovem e rica e tenho os melhores médicos ao meu dispor para o caso de adoecer. –Dumbledore sorriu –Qual é a graça?
-Acabou de desmentir o seu marido.
Narcisa engoliu em seco e piscou. Pareceu pensativa por alguns momentos até que perguntou:
-Do que está falando? Por que o Lúcio diria que estou doente?
-Lúcio pediu autorização para trazer o seu filho pra cá e alegou que você estava doente.
-O que está acontecendo Dumbledore? –ela perguntou séria e um sinal de preocupação passou pela face dela –É algum problema com o Draco? Onde está o meu filho? Eu quero falar com ele. –exigiu.
-Infelizmente não poderá fazer isso. Ontem à noite seu filho e a namorada dele foram levados pelo seu marido.
-Levados pra onde?!? E desde quando o Draco tem namorada? Ele nunca me contou.
-Eu não sei pra onde. E o fato dele não ter contado que estava namorando...Bem, provavelmente deve-se ao fato dela ser Gina Weasley.
-Uma Weasley? Eu vou ter uma séria conversa com o Draco! Aquela família é horrível!!! O que a comunidade bruxa vai dizer ao saber que uma família tradicional como os Malfoy se misturou com gentinha como os Weasley...
-Basta, Narcisa! –Dumbledore exigiu e ela calou-se –Dois de meus alunos estão desaparecidos, um deles sendo o seu filho, e tudo com o que você se preocupa é o que a comunidade bruxa vai pensar do namoro de Draco e Gina Weasley. Os Weasleys são uma família tão tradicional quanto a Malfoy, mas diferem em consciência e dignidade, coisas que faltam em Malfoys.
Narcisa respirou fundo e então respondeu:
-Não admito que fale mal da minha família debaixo do meu teto. E trate de achar o meu filho! Uma coisa... O Lúcio sabe do caso dele com a tal Weasley?
-Sabe...
-Oh, Merlin! O Lúcio vai querer matar o Draco! Ou no mínimo o machucar até se sentir satisfeito... –murmurou e colocou a cabeça entre as mãos –Eu não posso permitir isso. Eu quero o meu filho de volta! –e olhou pra Dumbledore –Você é o diretor de Hogwarts. Traga o meu filho de volta!
Dumbledore demonstrou alguma simpatia por ela estar preocupada e então disse:
-Eu estou tentando. Pensei que poderia saber pra onde Lúcio os levou. Não tem idéia de onde? Qualquer lugar que houvesse a mínima possibilidade...
-Talvez a casa de algum dos Comensais da Morte.
-Onde seria mais provável?
-Não sei!
-Quais são ao melhores amigos da família?
-Assim não vai funcionar... –Narcisa respondeu –Eu vou mandar os quadros visitarem suas molduras de outros lugares e quando souber de algo, eu entrarei em contato. Mas enquanto isso, não fique de braços cruzados! Se alguma coisa acontecer com o Draco...
-Até mais tarde. –Dumbledore respondeu cansado e sua cabeça fez a viagem de volta para Hogwarts através da lareira.
Ao voltar ao escritório, olhou para os três rostos ansiosos:
-E então? –perguntaram ao mesmo tempo.
-Onde está a minha irmã? –Rony perguntou.
-Eu não sei ainda, Sr. Weasley. Mas ela não estava na casa dos Malfoys e Narcisa não está doente. Lúcio está aprontando algo que eu não sei o que é. Talvez ele só esteja com raiva pelo gosto do filho.
-O que tem de errado com a Gina? –Harry perguntou indignado.
-Nada. –o diretor disse calmamente –Mas vocês sabem como são os Malfoys...
-O que vamos fazer? –perguntou Hermione.
-Vocês vão pra aula e digam que têm a minha permissão para entrarem atrasados.
-Mas e a Gina? –Rony cobrou.
-Eu vou descobrir onde Lúcio Malfoy a levou. Confiem em mim. A conversa acabou. Tenham um bom dia. –disse abrindo a porta com um gesto de sua varinha.
Harry, Hermione e Rony saíram de lá pisando duro:
-Como ele pôde nos enxotar daquele jeito do escritório dele? –Rony perguntou indignado.
-Aquele é o escritório dele, Rony. Além do mais o Dumbledore sabe o que faz e nós estamos de fato atrasados.
-Será que você só pensa em estudar, Hermione? –Harry perguntou, bravo. –Não está preocupada com o que pode acontecer com a Gina nas mãos de um comensal?
-Que pergunta idiota, Harry! É claro que eu estou! –ela respondeu indignada –Como você ousa insinuar...
-Desculpe! –Harry se apressou a dizer –Estou alterado...
-E eu não?!? –Rony perguntou –Se eu pego o Lúcio Malfoy...
-Ele é um Comensal, Ronald. –Hermione disse sensatamente –É mais provável que ele cause danos a você do que o contrário.
-Mas tivemos a AD e enfrentamos ele e outros comensais no Ministério. –Rony se defendeu.
-E quase morremos, Ronald. Lutar contra os comensais não é brincadeira, você viveu isso. –Hermione respondeu ao ruivo.
-Tudo isso por minha culpa. Eu coloco vocês em risco.
-Não fique assim, cara. A culpa não é sua da Gina ter sido raptada. Ela não devia ter se envolvido com aquele filhote de comensal pra começo de conversa.
-Mas e o resto do que já aconteceu? –Harry perguntou.
-Eu te proíbo de se sentir um lixo, Harry. Nós estamos conscientes do risco de sermos amigos do inimigo nº1 de Voldemort. Não faça essa cara por um nome, Rony. E ainda assim escolhemos continuar sendo seus amigos, Harry. Não fica assim.
Nesse instante chegaram a porta da masmorra e Hermione disse:
-Professor Snape, o Professor Dumbledore se responsabiliza pelo nosso atraso.
Snape ficou visivelmente aborrecido por não poder tirar pontos e disse:
-Vão para os seus lugares e permaneçam calados. Até o final do dia eu falarei com Dumbledore para checar se é verdade o que estão dizendo e se não for...nunca esquecerão do castigo que darei a vocês.
Harry, Hermione e Rony sentaram-se em silêncio ao fundo da sala.
Durante o dia todo as aulas transcorreram lentamente, enquanto estavam ávidos por notícias do que tinha acontecido. Já na saída da última aula, Harry comentou:
-Eu tenho que fazer alguma coisa! Simplesmente tenho! Se até amanhã, não houver nenhuma notícia do que aconteceu com a Gina, eu vou sair procurando por minha própria conta.
-Isso é loucura, Harry! –Hermione criticou –Se tivéssemos algumas pistas pelo menos, mas não temos a mínima idéia de onde ela pode estar. Seríamos expulsos à toa.
-Procurar a minha irmã é à toa, Hermione Granger? –Rony perguntou sério.
-Sem ter a mínima idéia de que lugar em todo o planeta ela pode estar, é. Mas que mania vocês tem de destorcer o que eu falo! Sejam lógicos, além de não a acharmos, seríamos expulsos e correríamos perigo de cruzar com algum comensal ou o próprio Voldemort. Eu juro que iria se soubesse onde ela está.
-Harry? –Luna chamou.
Harry se virou pra conversar com ela e quase caiu pra trás ao vê-la:
-Luna? Como você está diferente. –ele disse.
Os cabelos dela estavam soltos e ela não usava nenhum acessório com leguminosas, além de estar usando uma leve maquiagem:
-Diferente de que jeito? Pra pior? –perguntou incerta.
-Pra melhor. –ele respondeu e Rony e Hermione resolveram sair de fininho –Está bonita.
Luna abriu um grande sorriso:
-Obrigada. –agradeceu –Mas o que está acontecendo? A sua aura está péssima.
-Promete não espalhar? –Harry perguntou.
-Claro. –respondeu prontamente, jogando os compridos cabelos dourados para trás.
-Lúcio Malfoy raptou o próprio filho e a Gina.
-Não! –exclamou chocada –E ninguém tem idéia de onde eles podem estar?
-Não. Por isso eu, o Rony e a Mione estamos tão desnorteados.
-Eu gosto da Gina, ela é uma boa amiga. Dá pra ver o quanto ela está feliz com o Malfoy e que os dois estão verdadeiramente apaixonados. Eu não quero que aconteça nada com os dois, seria lastimável. A Gina merece ser feliz.
Harry engoliu em seco e teve vontade de chorar ao ouvir as palavras de Luna:
-É... –pronunciou embargada e vagamente.
-O que foi Harry? –ela perguntou pegando as mãos dele.
Harry olhou para os grandes olhos azuis dela:
-Não é nada.
-Se você não quiser contar pra mim, tudo bem. Mas não minta, eu sei que há algo. Quando você precisar de alguém, pode contar comigo. Eu posso ser a excêntrica Di-lua Lovegood, mas sou sensitiva. Simpatizei com você desde que a Gina nos apresentou no expresso de Hogwarts há dois anos atrás. Provou ser um competente professor de DCAT na AD e um verdadeiro herói no Ministério. Eu podia ter morrido, mas não me arrependo de ter ido junto. Foi sim uma aventura, mas eu estava ali com o propósito de me fazer útil e poder de alguma forma ajudar os meus amigos. Eu quero te ajudar e se você quiser ser ajudado, pode desabafar.
Harry a abraçou:
-Eu preciso mesmo de alguém que me ouça, está tudo tão difícil. Eu sou apenas um adolescente e tenho um pesado fardo nas costas. –e a soltou –Quer mesmo me ouvir? –ele perguntou e Luna fez que sim –Então me siga.
Harry os guiou até a sala de aula vazia mais próxima:
-Comece quando quiser. –ela incentivou.
Harry contou tudo. A começar a dor que sentia por ser órfão e por ter perdido também a pessoa mais próxima de um pai que já tivera, Sirius. Contou sobre os difíceis anos que passou na casa dos Dursley. Sobre o quanto tinha demorado pra perceber que amava Gina e por isso havia a perdido para o Malfoy. Contou que ainda a amava e sofria ao ver os dois juntos e tudo o mais:
-A Gina está grávida do Malfoy? Nossa. Eu pensei que ela fosse virgem. Mas se o Malfoy vai casar com ela assim que for maior de idade, quer dizer que ele ama a Gina de verdade.
-Eu sei disso. O Rony e a Mione disseram que o Malfoy não queria que a Gina fosse com ele. Mas é horrível. Ele é meu inimigo e o pai dele é comensal. O que garante que ele não vai virar um. Mesmo que eles fiquem juntos... Que tipo de vida a Gina teria com um comensal da Morte?
-Mas eles se amam, Harry. Não há nada pra se fazer com relação a isso. Você vai ter que esquecer a Gina ou vai continuar sofrendo, é isso o que quer?
-Não, Luna, mas...
-Mas nada, Harry. Siga em frente. Nada melhor que um novo amor para se superar um antigo amor e eu posso te ajudar nisso se você quiser.
-Como assim?!? –Harry perguntou surpreso.
“Ela tá dizendo que se oferece pra me fazer esquecer a Gina? Ela quer namorar comigo?”
-Eu posso servir de cúpido. –ela explicou –Não tem nenhuma garota que você ache interessante?
-Eu só tenho olhos pra Gina. –Harry respondeu tristemente –Não parei pra observar outras.
-E é isso que tem que mudar, Harry.
-Quem vai querer um garoto problemático como eu? Eu seria o namorado com menor expectativa de vida mundo bruxo.
-Quem não admira o famoso Harry Potter.
-É o herói que as pessoas idolatram, o Harry Potter e não o Harry.
-Dê uma chance para uma garota especial conhecer o Harry.
-E quem seria essa garota especial, Luna? –ele perguntou curioso.
-É você que tem que saber quem é ela. –ela o encarou, de braços cruzados.
-Você disse que me ajudaria, Luna.
-Mas você não está deixando eu te ajudar.
-Me ajude, Luna. –ele pediu.
Ela suspirou:
-Me diga o que você gosta numa garota.
-Ela tem que ser sincera, companheira, amiga e não ser interesseira. Se for bonita ajuda, mas não é o principal.
-Quer uma ruiva?
-Não. –Harry respondeu com firmeza –Eu me lembraria da Gina sempre que estivesse com ela –E também nada daquelas garotas superficiais e metidas a dona do mundo.
-Hum... Diga nomes agora.
-Nomes não são importantes.
-Mas se você dissesse, ajudaria. Eu poderia ver se elas tem as qualidades que você procura. –ela disse jogando os cabelos pra trás dos ombros e tirando a franja dos olhos –Pra ficar mais fácil, pense em alguém que você acha que tem essas qualidades e eu direi se concordo.
-Hum... –Harry pensou encarando-a profundamente e imerso em pensamentos.
-O que foi Harry? Já tem alguma idéia? –ela perguntou.
Harry balançou a cabeça afirmativamente e o que fez a seguir foi inesperado. Ele puxou Luna contra si e colou seus lábios. Estava beijando Luna Lovegood e se surpreendeu por estar gostando de fazer isso. Mas logo pensou que ela poderia estar correspondendo apenas por compaixão, ele não havia dado nenhum aviso prévio do que faria... Soltou-a:
-Me desculpe, Luna. –falou meio envergonhado.
-Não precisa pedir desculpas.
-Eu me aproveitei, é sério, me desculpe.
-Eu só quero saber porque fez isso.
-Percebi que você tem essas qualidades. Mas é claro que você só quer a minha amizade, então acho que terei que pensar em outra pessoa...
-Eu gostei. –ela interrompeu.
-O quê? –ele perguntou incrédulo.
-Eu não tinha pensado em ficar com você, pensei que nunca se interessaria por mim. A minha intenção era realmente servir de cupido, mas a verdade é que eu sempre senti uma pontinha de atração por você.
-Poderia se apaixonar por mim? –Harry perguntou.
-Provavelmente.
-Eu não sei o que dizer. Você sabe que eu amo a Gina, não sei se seria capaz de esquecê-la.
-Mas você está disposto a tentar?
-Sim. Eu a perdi pro Malfoy e isso é um fato. Mas e você, Luna? Estaria disposta a tentar mesmo sabendo que não posso afirmar que vou me apaixonar por você?
-Sim. Deve-se viver um dia de cada vez e é isso o que eu pretendo fazer.
-Então se considere oficialmente comprometida com Harry Potter. –ele anunciou antes de beijá-la novamente.
***
Era 7h da noite quando Lúcio veio trazer as roupas que Draco e Gina usariam no jantar:
-Trajes pra vocês. –ele disse e jogou-os dentro da cela –Dentro de ½ hora virei buscá-los e espero que estejam prontos, o Lord não gosta de atrasos.
-Qual é o motivo desse jantar? –Gina perguntou.
-Não sei, fedelha, e se soubesse não contaria. –Lúcio respondeu saindo da masmorra -E agora, Draco?
-Vamos nos vestir. –ele disse –Não temos escolha senão a ir nesse jantar.
Eles então pegaram as roupas. Havia duas capas pretas como a dos Comensais, uma calça preta social, uma camisa azul petróleo e um vestido preto tipo tubinho. Após se vestirem, Draco olhou pra Gina e disse:
-Eu não vou deixar você ir com essa coisa justa e minúscula.
-Ficou ruim?
-O problema é exatamente o contrário. Só eu posso te ver assim. -e a abraçou –Não queira saber o que os Comensais fazem com prisioneiras sexy antes de matá-las. Não quero nenhum homem cobiçando a minha namorada. Eu te amo demais, se eles fizessem alguma coisa com você... Eu nem sei dizer como eu ficaria.
-Não se preocupe, Draco. –e deu um selinho nele –Eu vou usar a capa por cima.
Draco então colocou a capa nela e fechou-a bem. Ficaram abraçados, apenas sentindo o coração do outro bater e tentando com aquele gesto obter algum consolo. Estavam perante o desconhecido. No momento em que saíssem daquela masmorra, não sabiam o que lhes esperava. Apenas sabiam quem lhes esperava e ser convidado de honra de Voldemort não deveria significar boa coisa.
Lúcio Malfoy veio e com um gesto de sua varinha abriu a cela:
-Vamos. –cobrou com mau humor.
Gina e Draco deram as mãos e seguiram Lúcio. Pelo menos estariam juntos e isso lhes traria forças. Juntos se sentiam mais confiantes para enfrentar o que viesse. Sabiam que não desistiriam até o último suspiro. Lutariam por suas vidas como pudessem até o último segundo. Lutariam com todo o coração, em busca de felicidade. Não era o amor que sempre triunfava no final? Draco e Gina estavam prestes a descobrir se isso era verdade.
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