Capitulo 14



CAPITULO XIV

Deixando Harry no sofá, Hermione fugira para o quarto e deitara imediatamente. Mas não conseguira adormecer, tentando decidir o que fazer, imagi­nando se tinha alguma escolha.
Parecia evidente que não podia ficar com Harry. Não era mais uma mulher de verdade, mas um anjo, e precisava voltar para o céu. Contudo, se era um anjo, por que experimentara emoções tão humanas?
A confusão era completa em sua mente. Ela, que desejara terminar depressa sua missão para voltar ao abrigo seguro onde viviam os anjos, já não tinha tanta certeza de que desejava deixar o mundo. Conhecera uma sensação de completa segurança nos braços de Harry, além de alegria e paz. Era como voltar para casa, depois de uma longa peregrinação.
Ficara acordada até o amanhecer, quando ouvira Harry movimentar-se pelo apartamento.
Esperou que ele partisse para o trabalho e então saiu do quarto, indo para a cozinha, onde encontrou um bilhete em cima do balcão. Ele pedia que ela fosse vê-lo em seu escritório, naquela tarde, levando uma resposta.
Depois de ler e reler o bilhete, ela vagueou pelo aparta­mento, tocando nas peças de mobília, nos livros e objetos, tudo o que Harry juntara em seu espaço.
Não havia muita coisa. As paredes não exibiam quadros, não se via um único porta-retrato com a foto de uma pessoa querida. Tudo era funcional e despojado. Era como se ele houvesse removido de sua vida não só coisas desnecessárias, mas também emoções que julgava supérfluas. Como o amor.
Ela parou junto da mesa da cozinha, onde pusera um jarro com rosas. Harry nunca fizera comentários sobre as flores que ela comprava na floricultura da esquina e com as quais tentava amenizar a aridez do ambiente. Uma vez, porém, tocara nas pétalas suaves de uma rosa amarela e as duras linhas de seu rosto suavizaram-se.
Ela ia arrumar uma flor que parecia torta, quando a campainha tocou, assustando-a. A breve esperança de que talvez fosse Harry evaporou-se, quando ela abriu a porta e viu tio Herb.
— Tio, eu já disse que não posso ajudá-lo desta vez — ralhou.
— Não, você não entende — ele replicou, passando por ela. Estava patético, com o terno cinzento todo amassado, o rosto abatido e com uma expressão suplicante no olhar. — Não vim aqui para falar de Helen. Quero falar de você, de mim e de sua mãe.
Hermione, que o seguia até um dos sofás, parou, surpresa.
— Como assim?
O tio respirou fundo.
— Vamos sentar um pouco. Deixe-me explicar. — Acomodou-se no sofá e Hermione imitou-o. — Depois que falei com você na outra noite, decidi que precisávamos conversar nova­mente. Acha mesmo que eu só me importo com dinheiro?
— E óbvio que sua maior preocupação sempre foi enri­quecer. Assim como a de mamãe era encontrar um homem.
— Isso não é completamente verdadeiro, querida. Claro, eu sempre quis ficar rico, mas só para poder dar a você e a sua mãe as coisas que mereciam.
Hermione encarou-o, perplexa.
— Mas que coisas? Eu nunca pedi nada!
— Não com palavras, Hermione. Mas eu sabia que havia certas coisas que você queria. Lembra-se daquela casinha branca onde morávamos, em Tacoma? Você sofreu muito, quando o dono a vendeu e tivemos de mudar. Se eu tivesse dinheiro...
— Lembro que tivemos de sair da casinha, mas por que mudamos para outra cidade?
— Por que não ficamos em Tacoma?
— Porque mamãe rompera com o último namorado.
O velho passou a mão no cabelo grisalho, suspirando.
— Esse também foi um dos motivos, reconheço, mas não julgue sua mãe tão duramente. Ela desejava desesperada­mente casar-se para que você não fosse privada da alegria de ter um pai.
Ela não disse nada, refletindo sobre o que ouvira.
— Tentei preencher o vazio -— Herb continuou. — Mas que diabos, eu era apenas tio e não tinha muita estabilidade emocional. Mas tentei, menina. Vocês eram minha família e eu queria cuidar bem das duas.
— Você cuidou, tio.
— Mas não tão bem quanto desejava. — Ele fez uma pausa e pigarreou, emocionado. — Assim, continuamos a mudar de um lugar para outro, sempre com a esperança de que eu um dia tivesse sorte nos negócios. Mas nunca tive e, de repente, você estava adulta e não precisava mais de mim.
— Oh, tio Herb! — exclamou Hermione, comovida. — Sem­pre vou precisar de você!
— Não. Você precisa é de uma família só sua, marido, filhos — ele comentou, levantando-se. — E agora tenho He­len. Eu preciso dela e ela precisa de mim.
Hermione observou-lhe o rosto e subitamente viu o tio com absoluta clareza, compreendendo que nunca o conhecera di­reito. Teve certeza de que ele amava Helen e de que faria tudo para torná-la feliz.
— Acredito em você, tio — afirmou, tocando-o no braço. — Mas como vai convencer Helen de que não está atrás do dinheiro dela?
— Não sei, querida, mas não se preocupe com isso. Darei um jeito. É uma pena que eu não seja rico, pois a família de Helen não faria objeções, se esse fosse o caso — o velho comentou com um suspiro e começou a andar para a porta. Hermione levantou-se e acompanhou-o.
— Se ela fosse pobre, também não haveria problema, tio.
Herb olhou-a, surpreso.
— É verdade. Não haveria nenhum problema — concor­dou. — Helen não só teria certeza do meu amor, como des­cobriria que grande parte da preocupação das filhas é cau­sada pela ganância. Obrigado, Hermione.
Ela abriu a porta e abraçou o tio.
— Não se esqueça de dizer a Helen o quanto a ama — aconselhou. — Nós, os Granger, parecemos ter dificuldade em dizer certas palavras.
Ele soltou-se e olhou-a meio constrangido.
— Não é porque não digo, que não sinto — murmurou. — Eu amo você, querida. Sempre amarei.
Hermione sentiu os olhos encherem-se de lágrimas.
— Também te amo, tio Herb.
— Tchau, menina. Cuide-se e não deixe de entrar em contato, por favor.
Hermione pensou em Bud, que esperava seu retorno, e tor­nou a abraçar o tio, daquela vez com mais força.
— Vou tentar — prometeu. — Mas saiba que onde eu estiver, estarei sempre pensando em você.
Ele foi embora e ela fechou a porta suavemente. "A vida é muito estranha. Sempre achei que cuidava de tio Herb, enquanto ele pensava que cuidava de mim!", refletiu. No entanto, nunca nenhum dos dois dissera aquelas palavri­nhas que fariam toda a diferença: "Eu te amo".
Estava na hora de encarar a realidade, de parar de esconder-se da verdade e de dizer as palavras mágicas a Harry.

Harry pousou uma pasta na mesa e olhou em volta para examinar o escritório. Os livros estavam encaixotados, a papelada, inútil fora jogada fora. Mais uma semana e estaria livre da Putman, Collens e Angíer para sempre.
As pastas empilhadas na escrivaninha eram as que ele encaminharia a outros advogados, passando-lhes os casos em andamento. A que acabara de pôr na mesa era a de Helen Adamson, que não comparecera à entrevista marcada para aquele dia. Gostava da mulher e desejava o melhor para ela, mas sabia que nas mãos de um de seus colegas o caso seria mais um entre tantos, destinado a render di­nheiro, acabasse bem, ou mal.
Com um suspiro desgostoso, mudou o rumo dos pensa­mentos, tentando imaginar o que faria a seguir. Provavel­mente voltaria a trabalhar como promotor público e ficaria à espera de uma vaga para juiz. Só de uma coisa tinha certeza: fizesse o que fizesse, queria Hermione a seu lado.
Perdido em meditação, sobressaltou-se quando a porta abriu-se e James Putman entrou. O homem atravessou a sala, lançando um olhar desinteressado para as caixas de livros no chão, e parou diante da escrivaninha.
— Harry, meu rapaz, que recado foi aquele que recebi, sobre você estar nos deixando? Qualquer que seja o proble­ma, penso que podemos contorná-lo.
— Acho que não.
— Se for por causa de Cecília...
— Não é. Cecília e eu nunca deveríamos ter nos envolvido, mas essa não é a única razão do meu afastamento.
— Se a questão for dinheiro...
— Também não é. Simplesmente descobri que temos prio­ridades diferentes, no que diz respeito à prática da lei.
— As diferenças são pequenas.
— Na minha opinião, são muito grandes. Estou farto de defender gente rica, que acha que porque tem dinheiro pode fazer o quiser e sair impune.
Putman corou de leve.
— Diplomacia nunca foi seu forte — censurou.
— Não. Nunca foi.
— Pensei que sua perícia como advogado compensasse cer­tas fraquezas, mas Cecília me disse que você é mole. Sempre achei que tivesse herdado mais de seu pai, mas enganei-me.
Fez uma pausa, talvez esperando uma reação, mas Harry manteve-se calado.
— Seu pai nunca poria uma mulher diante de suas ambições, como você fez por causa daquela sua amiguinha — continuou. — Quando percebeu que sua mãe o atrapa­lhava, deixou-a de lado,
— Quem perdeu com isso foi ele — declarou Harry. — Ela poderia ter feito dele um homem feliz.
Putman olhou-o com desprezo.
— Não tente disfarçar a verdade. O fato é que você está deixando a firma porque está obcecado por uma mulher, por uma...
— Não diga mais nada — Harry interrompeu-o em tom frio. — A menos que queira que eu o faça engolir todas as palavras.
— Muito bem — resmungou o outro homem, muito ver­melho. — Não vamos cair na vulgaridade. O que está feito, está feito. Só uma coisa mais. Dou-lhe meus parabéns por ter sabido jogar suas cartas tão bem.
— De que está falando, Putman?
— Do que seria? Do caso Adamson.
— Continuo sem entender.
— Por acaso não sabe que Helen telefonou, hoje, dizendo que vai casar com Herbert Granger? E assim que o casamento realizar-se você vai estar montado no dinheiro. Nunca mais terá de trabalhar, em toda sua vida.
— Esse casamento não tem nada a ver comigo. Está di­zendo bobagens, Putman.
— Ai é que você se engana, rapaz. Sabe quem ajudou Herbert Granger a dar o golpe do baú? A sobrinha dele, Hermione Granger.



Obs:Oiiii pessoal!!!!Desculpem pela demora na atualização!!!Creio que até a semana que vem eu posto o próximo!!!!Obrigada pela compreensão!!!Bjux!!!!Adoro vocês!!!

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