[Lvr]Harry Potter e as Reliquias da Morte
Ó, o tormento produziu na raça humana,
o opressivo grito da morte
e a pulsação que atinge a veia,
a hemorragia que ninguém pode estancar, a mágoa,
a maldição que nenhum homem pode suportar.
Mas há uma cura dentro da casa,
e não fora dela, não,
não de outros, e sim deles,
da briga sangrenta deles. Cantamos a ti,
deuses negros debaixo da terra.
Agora ouvi vós, poderes bem-aventurados debaixo do solo –
respondei o chamado, enviai ajuda
Abençoai as criança, dê-lhes agora o triunfo.
Ésquilo, A Libação dos Portadores
A morte nada mais é que cruzar o mundo, como os amigos fazem com os mares;
eles ainda vivem mutuamente. Pois é necessário a presença, para amar e viver no que é
onipresente. Neste vidro divino, eles ficam cara a cara; e a conversa deles é livre, e também
pura. Este é o conforto da amizade, apesar de lhes ter sido dito que morreriam, ainda assim
a amizade e sociedade deles são, de certo modo, sempre presentes, por ser imortal.
William Penn, Mais Frutos da Solidão
- CAPITULO UM -
A Ascensão do Lorde das Trevas
Os dois homens apareceram do nada, separados poucos metros na pista estreita e
enluarada. Por um segundo permaneceram imóveis, as varinhas apontadas para o peito um
do outro; então, ao se reconhecerem, guardaram as varinhas debaixo de suas capas e
começaram a andar apressadamente na mesma direção.
- Novidades? - perguntou o mais alto dos dois.
-As melhores. - respondeu Severo Snape.
A pista era limitada à esquerda por amoreiras baixas selvagens, e à direita por uma
fileira de altos arbustos cuidadosamente podados. As longas capas dos homens balançavam
ao redor de seus tornozelos enquanto caminhavam.
- Pensei que pudesse ser tarde - disse Yaxley, suas feições arredondadas ficando
fora de vista, enquanto os ramos suspensos das árvores bloqueavam a luz do luar. - Foi um
pouco mais complicado do que eu esperava. Mas acho que ele ficará satisfeito. Você
acredita que a sua recepção será boa?
Snape acenou com a cabeça, mas não continuou. Eles viraram à direita para uma
larga garagem que dava acesso à pista. A alta margem de arbustos escoava pela distância
além dos impressionantes portões feitos de ferro que barravam o caminho dos homens.
Nenhum dos dois parou de caminhar. Silenciosamente e juntos, levantaram o braço
esquerdo numa espécie de cumprimento e atravessaram como se o metal escuro fosse
fumaça.
As sebes silenciaram o barulho dos passos dos homens. Houve um farfalhar à
direita, Yaxley empunhou sua varinha e apontou-a por cima da cabeça de seu
acompanhante, mas a origem do barulho não era mais do que um pavão albino, andando
majestosamente de uma ponta a outra o alto da sebe.
- Lúcio sempre gostou do bom e do melhor. Pavões... - Yaxley pôs sua varinha
debaixo da capa com um grunhido.
Uma bela mansão apareceu na escuridão ao fim do estreito percurso, luzes
piscavam nas vidraças brilhantes das janelas do térreo. Em algum lugar no jardim escuro
além das sebes, uma fonte jorrava. Pedregulhos crepitavam abaixo de seus pés enquanto
Snape e Yaxley andavam depressa em direção à porta da frente, a qual se abriu para dentro
à aproximação deles embora não houvesse ninguém visível que tivesse abrido-a.
A entrada era grande, pouco iluminada e suntuosamente decorada, com um
magnífico carpete cobrindo a maior parte do chão de pedra. Os olhos dos rostos pálidos nos
retratos nas paredes seguiam Snape e Yaxley assim que eles passavam. Os dois homens
pararam a uma pesada porta de madeira que levava ao próximo aposento, hesitaram com o
coração acelerado, até que Snape girou a maçaneta de bronze.
A sala de estar estava cheia de pessoas em silêncio, sentadas em uma grande e
ornamentada mesa. Os móveis costumeiros da sala foram empurrados descuidadosamente
contra as paredes. A iluminação vinha de uma fogueira crepitante acesa abaixo de uma bela
lareira de mármore cercada de um espelho banhado a ouro. Snape e Yaxley se demoraram
por um momento na entrada, e enquanto seus olhos se acostumavam à carência de luz,
tomaram consciência do detalhe mais estranho da cena: uma figura humana aparentemente
inconsciente estava pendurada de cabeça para baixo acima da mesa, girando vagarosamente
como se estivesse suspensa por uma corda invisível, sua imagem refletida no espelho e na
superfície polida da mesa abaixo. Nenhuma das pessoas abaixo deste singular ângulo de
visão estava olhando para ela, exceto um garoto jovem e pálido, sentado quase abaixo dela.
Ele parecia incapaz de evitar olhar para cima a cada minuto.
- Yaxley, Snape - disse uma voz alta e clara na cabeceira da mesa. - Vocês estão
quase atrasados.
O interlocutor estava sentado diretamente à frente da lareira, de modo que era
difícil, a princípio, distinguir mais do que a silhueta. Enquanto chegavam mais perto,
contudo, sua face brilhou pela escuridão: careca, ofídio, com rachos estreitos no lugar das
narinas e olhos vermelhos brilhantes cujas pupilas eram verticais. Ele era tão pálido que
parecia emitir um brilho perolado.
- Severus, aqui. - disse Voldemort, indicando o assento imediatamente à sua
direita. - "Yaxley - ao lado de Dolohov.
Os dois homens tomaram seus lugares definidos. A maioria dos olhares ao redor
da mesa seguiram Snape, e foi para ele quem Voldemort falou primeiro.
- Então?
- “Milorde, a Ordem da Fênix pretende deslocar Harry Potter de seu atual lugar de
segurança no próximo sábado, ao anoitecer”.
O interesse ao redor da mesa afiou-se palpavelmente. Alguns enrijeceram, outros
se inquietaram, todos fitando Snape e Voldemort.
- Sábado. ao anoitecer. - repetiu Voldemort. Os olhos vermelhos fixados sobre os
pretos de Snape com tal intensidade que alguns dos observadores desviaram o olhar,
aparentemente receosos de que eles mesmos seriam queimados pela ferocidade do olhar.
Snape, contudo, olhava calmamente para o rosto de Voldemort e, após um momento ou
dois, a boca sem lábios de Voldemort se curvou para algo semelhante a um sorriso.
- Bom. Muito bom. E essa informação vem?...
- Da fonte sobre a qual discutimos. - disse Snape.
- Milorde. - Yaxley inclinou-se a frente para olhar Voldemort e Snape. Todos os
rostos se viraram para ele.
- Milorde, eu ouvi falar diferente. Yaxley esperou, mas Voldemort não falou, então
continuou:
- Dawlish, o auror, deixou escapar que Potter não será removido até o dia 30, a
noite que precede o aniversário de dezessete anos do garoto.
Snape estava sorrindo e continuou:
- Minha fonte disse que há planos para um alarme falso; deve ser isso. Não há
dúvida que um Feitiço Confundus foi posto sobre Dawlish! Não seria a primeira vez, ele é
conhecido por ser suscetível.
- Posso lhe assegurar, Milorde, que Dawlish pareceu estar totalmente certo. - falou
Yaxley.
- Se ele foi confundido, naturalmente ele não tem dúvida. disse Snape.- Eu lhe
asseguro Yaxley, que o Escritório dos Aurores não terão parte alguma na proteção de Harry
Potter. A Ordem acredita que temos infiltrados no Ministério.
- A Ordem entendeu uma coisa certa, então, hã?- disse um homem gordo e baixo
sentado um pouco distante de Yaxley, dando uma risadinha ofegante que ecoou aqui e ali
ao longo da mesa.
Voldemort não sorriu. Seu olhar desviou-se para cima ao corpo que girava
vagarosamente, e parecia estar perdido em pensamentos.
- Milorde. - Yaxley continuou. - Dawlish acredita que um esquadrão inteiro de
Aurores será utilizado para transferir o garoto.
Voldemort ergueu uma grande mão branca, e Yaxley acalmou-se imediatamente,
olhando ressentidamente enquanto Voldemort virava-se para Snape.
- Onde eles vão esconder o garoto depois?
- Na casa de um dos membros da Ordem. - disse Snape. - O local, de acordo com
a fonte, recebeu toda proteção que a Ordem juntamente do Ministério poderiam
providenciar. Penso que há pouca chance de pega-lo, a menos que o Ministério tenha sido
derrotado antes do próximo sábado, o que nos daria a oportunidade de nos informar sobre
os tais encantamentos e quebra-los, o que seria necessário.
- Bem, Yaxley? - Voldemort chamou-o da mesa, a luz do fogo refulgindo
estranhamente em seus olhos vermelhos. - O Ministério será derrotado até o próximo
sábado?
Mais uma vez, todas as cabeças viraram-se. Yaxley endireitou os ombros.
- Milorde, eu tenho boas notícias a respeito. Lancei - com grande dificuldade e
esforço – uma maldição Imperius sobre Plus Thicknesse.
Muitos que estavam sentados à volta de Yaxley pareceram impressionados; seu
vizinho, Dolohov, um homem com um grande e estranho rosto, deu um tapinha em suas
costas.
- É um começo. - disse Voldemort. - Mas Thicknesse é apenas um homem.
Scrimgeour deve ser cercado por nossos parceiros antes que eu aja. Um atentado malsucedido
à vida do ministro, pode me fazer retroceder bastante em meus planos...
- Sim, milorde, isso é verdade, mas você sabe, como Chefe do Departamento de
Aplicação das Leis da Magia, Thicknesse tem contato regular não apenas com o ministro,
mas também com todos os chefes de departamento do Ministério. Penso que será fácil,
agora que temos um oficial do alto escalão sob nosso controle, subjugar os outros, e então
eles poderão trabalhar todos juntos para derrubar Scrimgeour.
- Isso se o nosso amigo Thicknesse não for descoberto antes que ele tenha
convencido o resto. - disse Voldemort. – De qualquer forma, permanece sendo improvável
que o Ministério será meu antes do próximo sábado. Se nós não podemos alcançar o garoto
onde ele se encontra, então isso deve ser feito enquanto ele viaja.
- Nós estamos em vantagem aqui, milorde. - disse Yaxley, que parecia
determinado a receber algum tipo de aprovação. - Agora nós temos muitas pessoas
posicionadas dentro do Departamento de Transporte Mágico. Se Potter aparatar ou usar a
rede de flu, saberemos imediatamente.
- Ele não fará nenhum dos dois. - disse Snape. - A Ordem está evitando qualquer
tipo de transporte que seja controlado ou regulado pelo Ministério; eles desconfiam de tudo
que tenha a ver com o Ministério.
- Mesmo assim, - disse Voldemort. - Ele vai ter que se expor muito. Mais fácil de
pegá-lo, certamente.
Mais uma vez Voldemort fitou o corpo que girava vagarosamente, enquanto
continuou:
- Eu mesmo tomarei conta do garoto. Já houve muitos erros em relação a Harry
Potter. Alguns deles foram meus. O fato de Potter viver se deve mais a erros meus do que
aos seus triunfos.
As pessoas em volta da mesa observaram Voldemort apreensivamente, pelas suas
expressões, pareciam receosos de serem culpados pela existência de Harry Potter.
Voldemort, contudo, parecia estar falando mais para si mesmo do que para qualquer um
deles, ainda atento ao corpo inconsciente acima dele.
- Fui descuidado e também enganado pela sorte e pela chance, com a destruição de
todos meus planos mais bem elaborados. Mas eu sei melhor agora. Entendo coisas que eu
não entendia antes. Deverei ser eu a pessoa que matará Harry Potter, e o farei.
Como que em resposta a estas palavras, um repentino e terrível grito profundo de
miséria e dor ressoou. Muitos dos que estavam na mesa olharam para baixo, surpresos pelo
som que parecia ter vindo debaixo de seus pés.
- Rabicho? - falou Voldemort, sem mudar o seu tom de voz baixo e sóbrio, e sem
tirar os olhos do corpo que girava lá em cima. - Já não falei a você sobre manter o nosso
prisioneiro quieto?
- Sim, m-milorde. - engasgou um pequeno homem na metade da mesa, que estava
sentado tão baixo em sua cadeira que esta parecia, a princípio, desocupada. Agora ele
saltava de seu assento e disparava da sala, deixando nada mais atrás dele exceto um curioso
brilho prateado.
- Como eu estava dizendo, - continuou Voldemort, olhando novamente para os
rostos tensos de seus seguidores. - Eu entendo melhor agora, e precisarei, por exemplo,
pegar emprestada uma varinha de um de vocês antes de ir matar Potter.
Os rostos em volta dele não demonstraram nada além de choque; ele podia ter
anunciado que queria emprestado um dos braços deles.
- Sem voluntários? - disse Voldemort. - Vamos ver... Lúcio, eu não vejo razão para
você ainda ter uma varinha.
Lúcio olhou para cima. A pele parecendo amarelada e feita de cera sob a luz do
fogo, seus olhos eram profundos e sombrios. Quando ele falou, sua voz estava embargada.
- Milorde?
- Sua varinha, Lúcio. Requisitei a sua varinha.
- Eu...
Malfoy olhou ao lado para sua esposa. Ela estava parada à frente, quase tão pálida
quanto ele, seu longo cabelo loiro caído em suas costas, mas por baixo da mesa os dedos
finos fechados brevemente em seu punho. Ao toque dela, Malfoy pôs a mão em suas vestes,
retirou a varinha e passou-a para Voldemort, o qual a segurou acima de seus olhos
vermelhos, examinando-a atentamente.
- Do que ela é?
- Ulmeiro, milorde. - sussurrou Malfoy.
- E o núcleo?
- Dragão - cordas de coração de dragão.
- Bom. - disse Voldemort. Ele sacou sua própria varinha e comparou os
comprimentos. Lúcio Malfoy fez um movimento involuntário; por uma fração de segundo,
pareceu que ele esperava receber a varinha de Voldemort em troca da sua. O gesto não foi
perdido por Voldemort, cujos olhos alargaram-se maliciosamente.
- Dar a minha varinha a você, Lúcio? Minha varinha?
Alguns dos presentes deram risadinhas.
- Eu lhe dei sua liberdade, Lúcio, isso não é o suficiente para você? Mas tenho
percebido que você e a sua família parecem menos que felizes... O que há sobre minha
presença em sua casa que o incomoda, Lúcio?
- Nada - nada, milorde!
- Tais mentiras, Lúcio...
A voz suave parecia assobiar até mesmo depois de a boca cruel parar de se
movimentar. Um ou dois dos bruxos quase não seguraram um tremido assim que o chiado
começou a ficar mais alto; alguma coisa pesada pôde ser ouvida deslizando debaixo mesa.
A cobra imensa emergiu e escalou lentamente a cadeira de Voldemort. Ela se
levantou, aparentemente sem fim, e veio a descansar nos ombros de Voldemort. Seu
pescoço era da espessura da coxa de um homem; seus olhos, com fendas verticais no lugar
de pupilas, não piscavam. Voldemort tocava a criatura distraidamente com seus longos
dedos, ainda olhando para Lúcio Malfoy.
- Por que os Malfoy parecem tão infelizes com sua sorte? Não é o meu retorno,
minha ascenção ao poder que eles sempre proclamaram desejar por tantos anos?
- Mas é claro milorde, - disse Lúcio Malfoy. Sua mão tremia enquanto ele secava o
suor de seu lábio superior. - Nós desejávamos isso - nós desejamos.
À esquerda de Malfoy, sua mulher fez um estranho aceno formal de afirmação,
seus olhos desviados de Voldemort e da cobra. À sua direita, seu filho, Draco, que estava
fitando o corpo inerte suspenso, olhou rapidamente para Voldemort e desviou o olhar
novamente, aterrorizado para fazer contato visual.
- Milorde, - disse uma mulher morena na metade da mesa, sua voz contraída pela
emoção. - é uma honra tê-lo aqui, na casa de nossa família. Não há satisfação maior.
Ela sentava ao lado de sua irmã, diferente na aparência, com seus cabelos negros e
olhos de pálpebras pesadas, assim como também era diferente em seu comportamento;
Narcissa estava sentada rígida e impassiva, Bellatrix estava inclinada em direção a
Voldemort, como se meras palavras não pudessem demonstrar o seu desejo pela
proximidade.
- Não há satisfação maior, - repetiu Voldemort, a cabeça virou um pouco para o
lado enquanto analisava Bellatriz. - Isso significa muito, Bellatriz, vindo de você.
O semblante dela se encheu de cor; seus olhos lacrimejaram de deleite.
- Milorde sabe que eu não falo nada a não ser a verdade!
- Não há satisfação maior, mesmo comparado com o feliz evento que fiquei
sabendo, aconteceu com a sua família, essa semana?
Ela o fitou, seus lábios cerrados, evidentemente confusa.
- Eu não sei do que você está falando, Milorde.
- Eu estou falando da sua sobrinha, Bellatriz. E de vocês também, Lúcio e
Narcissa. Ela acabou de se casar com o lobisomem, Remo Lupin. Vocês devem estar tão
orgulhosos.
Houve uma erupção de gargalhadas zombeteiras pela mesa. Muitos se inclinaram
para frente, para trocar olhares alegres, alguns bateram na mesa com seus punhos. A grande
cobra, desagradando-se com a bagunça, abriu a boca largamente e silvou ameaçadoramente,
mas os Comensais da Morte não a ouviram, estavam tão alegres pela humilhação de
Bellatriz e dos Malfoy. O rosto de Bellatriz tornou-se repulsivo e vermelho.
- Ela não é nossa sobrinha, milorde. – se lamuriando pela piada. - Nós - Narcissa e
eu - nunca colocamos os olhos em nossa irmã depois que ela se casou com o sangue-ruim.
Aquela malcriada não tem nada a ver conosco, e nem a besta com a qual ela se casou.
- E o que você diz, Draco? - perguntou Voldemort, apesar de sua voz estar baixa,
ela soou claramente através dos assobios alegres. - Você vai ser babá dos filhotes?
A hilaridade aumentou; Draco Malfoy olhava aterrorizado para seu pai, que estava
olhando para o próprio colo; então capturou o olhar de sua mãe. Ela balançou sua cabeça
imperceptivelmente, então voltou a olhar inexpressivamente para a parede oposta.
- Basta. - disse Voldemort, acariciando a cobra raivosa. – Basta.
E as risadas morreram imediatamente.
- Muitas de nossas mais tradicionais árvores genealógicas ficaram um pouco
descartáveis com o passar do tempo. - disse enquanto Bellatriz olhava para ele, sem fôlego
e implorando.
- Vocês devem podar as suas, não devem, para mantê-las saudáveis? Cortar fora
aquelas partes que ameaçam a saúde do resto.
- Sim, milorde. - sussurrou Bellatriz. Seus olhos se encheram com lágrimas de
gratidão, novamente. - Na primeira chance!
- Você a terá. - disse Voldemort. - E em sua família, assim como no mundo...
Cortaremos fora a praga que nos infesta até que somente os verdadeiros sangues puros
permaneçam...
Voldemort levantou a varinha de Lúcio Malfoy, apontou ela diretamente para a
figura que vagarosamente girava suspensa acima da mesa, e deu uma pancadinha. A figura
voltou a vida com um grunhido e começou a lutar contra cordas invisíveis.
- Você reconhece nossa convidada, Severo? - perguntou Voldemort.
Snape ergueu os olhos para o rosto virado de cabeça pra baixo. Todos os
Comensais da Morte estavam olhando para a prisioneira agora, como se lhes tivesse sido
dada a permissão para demonstrar curiosidade. Enquanto girava para encarar a luz do fogo,
a mulher disse em uma aguda e aterrorizada voz.
- Severo, ajude-me!
- Ah sim, - disse Snape enquanto a prisioneira virava devagar, mais uma vez.
- E você, Draco? - perguntou Voldemort, acariciando o focinho da cobra com a
mão livre. Draco concordou com sua cabeça bobamente. Agora que a mulher havia
acordado, ele parecia incapaz de continuar olhando para ela.
- Mas você não teria tido aulas com dela. - disse Voldemort. - Para os que não
sabem, nós estamos reunidos aqui hoje à noite por Charity Burbage que, até recentemente,
lecionava na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts!
Houve pequenos barulhos de compreensão ao redor da mesa. Uma mulher gorda e
curva, de dentes pontudos, cacarejou.
- Sim... Professora Burbage ensinava às crianças bruxas tudo sobre os trouxas...
como eles não são tão diferentes de nós...
Um dos Comensais da Morte bateu no chão. Charity Burbage girou para encarar
Snape novamente.
- Severus... por favor, por favor...
- Silêncio! - disse Voldemort, com mais um movimento com a varinha de Malfoy
e Charity ficou em silêncio como se tivesse sido amordaçada. - Não contente por corromper
e poluir as mentes das crianças bruxas, semana passada, a Professora Burbage escreveu
uma apaixonada defesa sobre os sangues-ruins no Profeta Diário. Os bruxos, ela diz, devem
aceitar esses ladrões de conhecimento e magia. A diminuição dos sangues-puros é, diz a
Professora Burbage, algo mais que desejável... Ela queria todos nós casados com trouxas...
ou, sem dúvida, lobisomens...
Ninguém riu dessa vez. Não havia como não discernir a raiva e o desprezo na voz
de Voldemort. Pela terceira vez, Charity Burbage girou ficando face a face com Snape.
Lágrimas brotavam de seus olhos para seus cabelos. Snape olhou de volta para ela,
totalmente impassível, enquanto ela virava devagar para longe dele novamente.
- Avada Kedavra
Um flash de luz verde iluminou cada canto do aposento. Charity caiu, com um
barulho ressoante sobre a mesa que rachou e quebrou. Vários dos Comensais da Morte
pularam para trás em suas cadeiras, Draco caiu da sua para o chão.
- Jantar, Nagini. - disse Voldemort suavemente e a grande cobra oscilou e
escorregou de seus ombros até o chão de madeira polida.
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