Capítulo IX



Fora um dia agitado para Draco. Por alguma razão ele não conseguira se concentrar no trabalho, e seu humor piorara com o passar das horas.

Sentia-se mal, com uma ligeira dor de cabeça, que nada tinha a ver com o pouco sono da noite anterior. Durante toda sua vida não tinha desejado nada que não estivesse dentro de suas possibilidades. Poder, posição, sucesso, dinheiro. Tudo isso ele desejara e conseguira, mas o que desejava agora era inatingível.

Soltou uma praga e se afundou mais na poltrona. Fechou os olhos por um momento, tentando afastar as imagens que invadiam seus pensamentos, mas foi em vão. Draco Malfoy era um homem que sempre se orgulhara de ser capaz de manobrar qualquer situação ou qualquer pessoa. E, no entanto, tinha conseguido estragar completamente seu casamento!

Inclinou-se para a frente, apoiando os braços na escrivaninha, tentando entender por que não tinha percebido o que estava acontecendo com ele até que fosse tarde demais. Quando voltou dos Estados Unidos e soube que Hermione tinha saído com Potter, ficou furioso, mas achou que não passava disso: raiva! Não tinha imaginado nem de leve que essa raiva pudesse ter origem naquela tortura que se chama ciúme.

Tinha imaginado Hermione uma mulher fria, distante e superficial, indiferente ao aspecto sexual do casamento.

Mas, gradualmente, seus sentimentos foram envolvidos, quase contra sua vontade, e ele se vira vigiando-a, desejando-a.

Com os maxilares muito apertados, levantou-se impetuosamente. Não conseguia mais ficar ali. Queria ir para casa, ver Hermione, destruir o abismo que havia entre os dois. Dizer que estava apaixonado por ela e que a vida não tinha mais sentido sem ela!

Lembrou-se das mulheres que conhecera e seus lábios se apertaram. Desde que voltara dos Estados Unidos, não tinha nem ao menos olhado para outra mulher, quanto mais dormido com uma. Ele, Draco Malfoy, estava preso nas mesmas malhas em que jurara nunca se deixar prender!

Desceu pelo elevador, respondendo automaticamente aos cumprimentos atenciosos de seus funcionários. O porteiro abriu a porta de seu carro e cumprimentou-o respeitosamente, tocando na aba do boné. Tudo estava exatamente como sempre tinha sido, mas não lhe dava mais qualquer prazer.

Dirigiu o carro o mais rápido que pôde para casa. Entrou e foi logo perguntando à Sra. Latimer:

- Onde está minha mulher?

- A Sra. Malfoy não está em casa, senhor. Ela saiu por volta das dez horas.

- Ela disse para onde ia? E a que horas volta?

- Ela levou uma maleta com ela. Disse que ia levar uns livros velhos para um hospital...

- Que livros? Que hospital?

- Eu não sei, senhor. Como eu disse, ela já estava saindo quando me disse.

- Ok, Sra. Latimer. Muito obrigada.

Draco ficou onde ela o tinha deixado e, então, impulsivamente pegou o telefone.

Olhando um livrinho ao lado, achou o número de Jennifer e discou impacientemente. Uma criada atendeu e, em poucos momentos, Jennifer atendeu.

- Draco, querido, que maravilha! Será que telefonou para me convidar para o almoço? Eu estou livre!

- Não, Jennifer. Quero saber onde Hermione está.

- Hermione? Mas ela não está com você?

- Não...

- Draco, esta manhã achei Hermione muito estranha. Ela me ligou e disse... – Fez uma pequena pausa, que para Draco soou forçada. – Que ia deixar você.

Draco sentiu o sangue gelar nas veias. Não podia acreditar que aquilo era verdade!

- Eu também fiquei surpresa.

Draco podia sentir a raiva crescer dentro dele.

- E ela disse por quê?

Jennifer ficou indecisa.

- Não. Acho que ela estava muito deprimida. O fim de semana em Gales parece que não fez muito bem a ela. Mas o que aconteceu? Foi tudo terrivelmente maçante?

Draco contraiu as mãos.

- Talvez. – Respondeu. – Então, você não tem a menor idéia de onde ela está agora?

- De jeito nenhum, querido. A menos que... Que...

- A menos que o quê? – Perguntou Draco, irritado.

- A menos que ela esteja na casa de Harry!

- Potter? – Draco sentiu o ódio envolvê-lo.

- Bem, estou apenas sugerindo, querido.

Draco despediu-se rapidamente de Jennifer e chamou a Sra. Latimer.

- Está absolutamente certa de que a Sra. Malfoy não disse para onde ia?

- Sim, senhor.

- Obrigada, Sra. Latimer. Pode ir.

Decidiu subir e tomar um banho. Quem sabe um pouco de água fria refrescaria suas idéias.

Assim que entrou no quarto viu um envelope sobre a cama. Abriu-o rapidamente. Dizia simplesmente: “Eu não posso continuar aqui depois do que aconteceu. Não tente me encontrar. Entrarei em contato com você quando achar um lugar para morar. Hermione”.

Draco leu o bilhete duas vezes, tentando convencer-se de que era verdade.
Arrancou a gravata e deixou-a cair no chão. Em seguida, tirou a roupa e foi para o banheiro, deixando que a água refrescante corresse pelo corpo.

Andou pela casa o restante do dia: não quis comer nem sequer o sanduíche que a Sra. Latimer lhe oferecera. Andou sem destino, recolocando um enfeite aqui, uma coisa lá, ligando a televisão e logo desligando, desinteressado dos assuntos rotineiros. Nunca tinha imaginado exatamente como uma casa podia parecer vazia, e percebeu, com incrível precisão, como

Hermione devia se sentir quando ele estava fora.
Passou a noite entre curtas cochiladas e uma grande ansiedade dominando-o. finalmente o dia amanheceu...


Hermione entrou em sua casa na praça Kersland com algum temor. Sabia que mais cedo ou mais tarde teria de voltar e, como tinha passado mais de uma semana e Draco já devia ter partido para Tsaba, sentia-se razoavelmente segura.

A Sra. Malfoy não queria que ela voltasse. Depois da antipatia mútua do começo, um respeito verdadeiro e uma sincera amizade tinha nascido entre as duas, e Hermione começou a perceber que a mãe de Draco estava realmente triste por ela querer o divórcio.

Hermione fechou a porta da rua silenciosamente. A última coisa que queria era encontrar a Sra. Latimer antes de empacotar suas coisas.

Subiu as escadas cuidadosamente. Mas, no alto da escada, parou hesitante em frente à porta do quarto de Draco. O desejo de ver o quarto do marido pela última vez impeliu-a a abrir a porta. Mas, ao fazer isso, recuou atônita.

O quarto estava um completo caos. Roupas espalhadas desordenadamente pelo chão, jogadas pelas cadeiras e mesinha. As cortinas estavam fechadas, mesmo àquela hora do dia.

- Fora! Eu já disse, Sra. Latimer, vá para o diabo! Fora!

Hermione parou, horrorizada. Depois, cuidadosamente, entrou no quarto. Draco estava na cama, entre as roupas amarrotadas, a barba de vários dias, e parecia que havia bebido.

- Fora! – Gritou novamente, e pôs o braço na frente dos olhos, para então abri-los lentamente. – Eu disse... – Calou-se de repente quando viu Hermione. – Oh, Deus! – Ele murmurou baixinho.

Hermione deu alguns passos até a cama, olhando para Draco, sem entender nada.

- Há quanto tempo você está assim? – Seu olhar caiu sobre a garrafa de uísque ao lado da cama.

- Vá embora, Hermione! Saia do meu quarto! Você não mora mais aqui, lembra?

Hermione ficou na dúvida durante um segundo. Depois com decisão, tirou o casaco e jogou numa cadeira próxima. Foi até a janela e, afastando as cortinas, deixou que o sol fraco de novembro invadisse o quarto. Abriu então as janelas e um vento frio entrou, dissipando o ar viciado.

- Levante-se, Draco, vá tomar um banho e fazer a barba. Você está horrível. – Hermione falou mansamente.

- Onde você esteve? – Ele perguntou, fitando-a intensamente.

- Em Yorkshire. – Respondeu. – Selby, para ser mais precisa. E agora, vai se levantar?

Draco olhava pra ela, espantado.

- Está querendo dizer que ficou com minha mãe todo esse tempo?

- Sim. Mas não pretendo conversar agora. – Hermione virou-se decidida para a porta. – Estarei lá embaixo esperando para conversarmos. Mas só depois que você tomar banho e fizer a barba!

Fecho a porta e desceu as escadas. Uma intensa alegria invadia-lhe o peito. Não sabia por que, mas tinha certeza de que alguma coisa mudara em Draco!

No living, encostou as palmas das mãos no rosto. Um louco pressentimento estava tomando conta dela, e a excitação não deixava que ficasse parada.

Andava incessantemente pela sala e parou quando um barulho atrás dela a fez virar-se e dar com o rosto redondo da Sra. Latimer.

- Oh, Sra. Malfoy! – Exclamou emocionada. – Estou tão contente de ver a senhora! O Sr. Draco tem estado quase louco de tristeza.

- Muito bem, Sra. Latimer. – Hermione mordeu o lábio, emocionada com o que a governanta dissera. – Vá agora e prepare um chá para nós.

- Nós, madame? Para a senhora e...

- E para mim! – Respondeu uma voz atrás delas.

As duas se voltaram surpresas. Draco estava apoiado no batente da porta, os cabelos úmidos, indicando que acabara de sair do chuveiro. Tinha feito também a barba e tentado alisar o cabelo, que, Hermione notou, precisava de um corte. Mas não tinha se vestido. Estava embrulhado no roupão, que chegava até os joelhos.

A Sra. Latimer passou por ele apressadamente e Hermione sentiu-se repentinamente nervosa. Tinha parecido tão fácil pensar no que ia dizer a ele quando descesse. Mas, agora que Draco estava lá, não conseguia articular uma só palavra.

- Por que não me disse para onde tinha ido?

- Eu não queria que você me encontrasse. Achei que, se ficasse fora de seu caminho até você partir para Tsaba...

- Eu adiei a viagem para Tsaba.

- Por quê, Draco?

- Porque eu amo você, Hermione. Descobri da pior maneira possível, quase perdendo-a... Minha vida não existe sem a sua!

Hermione atirou-se nos braços de Draco e lágrimas de alegria rolaram-lhe pela face. Draco estava dizendo que a amava!

- Oh, Draco! Eu também o amo muito. Quis ir embora porque pensei que estava atrapalhando sua vida!

- Minha querida, você nem imagina a falta que me fez, como fiquei desesperado ao não ter você aqui! Eu nunca disse a uma mulher que a amava. Estou dizendo a você, Hermione. Você é o grande amor da minha vida!

Um longo beijo misturado a lágrimas pôs fim a todos os desencontros do passado. Nada mais tinha importância: eles se amavam, e a vida a partir dali seria muito diferente! Hermione deixou-se levar pelo turbilhão de sensações que os beijos de Draco lhe causavam. Ela queria que ele a amasse de novo, queria ser sua mulher de verdade.

- Draco... – Sussurrou, enquanto ele lhe beijava a nuca e o pescoço. – Eu amo você. Nunca amei ninguém na vida como eu te amo!

Draco então, tomou-a nos braços e subiu escada acima. O chá que a Sra. Latimer fora preparar podia esperar...

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