A amizade de Rony



Tique. Taque. Tique. Taque. Tique. Taque.
Era quase como se aquelas batidas cadenciassem as batidas do seu próprio coração.
De onde estava, Hermione podia ver Gina, ao fundo, com uma expressão de um alívio morno, misturada ao choque e a uma aura escondida de fúria profunda. A garota estava toda suja e machucada, algumas partes de suas vestes rasgadas, os cabelos despenteados, mas parecia inteira. Um pouco à frente dela, havia a cena aterradora que era Harry e Rony, os dois melhores amigos em todo o mundo, apontando a varinha um para o outro, com expressões de surpresa idênticas nos rostos.
Hermione prestou atenção em Harry quando ele começou a baixar, lentamente, a varinha, ainda fitando Rony como que hipnotizado. Harry estava em um estado lamentável; seu rosto, marcado por vários cortes, gradualmente começou a estampar uma expressão de temor quando ele, como em câmera lenta, girou os olhos de Rony para Hermione, e depois voltou a Rony. Alguns pontos das vestes de Harry estavam manchadas com o que parecia ser sangue, e seus cabelos, mais despenteados do que nunca, estavam grudados à testa por causa do suor. Certamente, Harry já tinha passado por duras batalhas desde a última vez que Hermione o vira. Ela tinha pensado, desde o momento em que descobrira a enorme farsa do amigo, que assim que o visse de novo se sentiria imensamente indignada e até furiosa; o que Hermione nunca esperara era, no entanto, aquele doloroso e sufocante sentimento de pena que a invadia.
Para Rony, era como se tivessem estourado uma bomba bem nos seus ouvidos e ele tivesse ficado momentaneamente surdo e sem ação. Ele ficou ali, parado, com a varinha apontada para o seu melhor amigo, sem saber o que pensar. Meramente notou que a sua irmã, Gina, estava ali também, e acabou se esquecendo de verificar se estava tudo bem com ela. Naquele instante, ele apenas viu Harry, o seu melhor amigo, ali, à sua frente, e Rony estava dividido entre o alívio por vê-lo vivo, e a raiva, por todas as mentiras, por tanto tempo.
- Harry! Gina! – Hermione exclamou quase se debulhando em lágrimas e passou por Rony atabalhoadamente, esbarrando nele, que acabou deixando o braço que apontava a varinha cair de lado, tolamente. – Como vocês estão? – ela perguntou rouca, torcendo as mãos de nervoso. – Nós estávamos desesperados... pensamos um milhão de coisas horríveis, não foi, Rony?
- Hã? – Rony murmurou distraído; ele e Harry ainda se mediam com os olhos. Subitamente, Rony despertou do seu transe, ao mesmo tempo em que encostava a porta atrás de si. – Foi, foi sim... – foi nesse momento que ele notou a irmã, um tanto encolhida, como um bichinho assustado, e quase entrou em pânico só de voltar a pensar no que poderia ter acontecido com ela. – Gina! Gina, como você está? O que aconteceu com você?
Gina recuou, arredia, quando Rony tentou tocar-lhe os ombros. Ele, por sua vez, não entendeu nada. A garota moveu o pescoço rapidamente e fitou Harry de esguelha, com um olhar um tanto selvagem, e depois abaixou o rosto, tentando não encarar ninguém.
- Tá tudo certo, comigo, Rony. – ela disse maquinalmente, com uma voz que não parecia a sua. – Não precisa se preocupar.
- Que bom que vocês estão bem... – Harry sussurrou, mas desviara os olhos também. – Eu... fiquei pensando se...
- Nós fomos trazidos para cá. – Hermione explicou. – Eu, pelo menos, não faço a mínima idéia como. Quando acordei, estava na sala dos cérebros...
- Como você veio parar aqui, Harry? – Rony disparou a pergunta como se fosse uma acusação. Harry o fitou por um segundo tenso, então se remexeu incomodado, desviando mais uma vez o olhar.
- Eu fui até Hogsmeade e desaparatei pra cá assim que soube que vocês estavam aqui.
- Como você soube?
- Bellatrix Lestrange me contou.
- O quê?! – Hermione exclamou.
Harry pigarreou, desconfortável.
- Ela me contou enquanto duelávamos em Hogwarts. – ele bufou, irritado. – Foi muita burrice minha achar que Voldemort não se serviria de um truque sujo desses pra me atrair aqui novamente.
Gina soltou uma risada fria, que fez tanto Rony quanto Hermione gelarem. Ela encarava Harry com um olhar que beirava o ódio. Mas havia mais ali; havia decepção e mágoa também.
- Parece que o seu plano brilhante não deu muito certo, não é? – ela disparou venenosamente, como se estivesse vomitando todo o rancor acumulado dentro dela. Hermione ficou imaginando se ela tinha descoberto as mentiras de Harry. Como se fosse a resposta para as dúvidas da garota, Gina se voltou para ela e Rony. – Vocês já sabem? Você contou pra eles, Harry? Será que eu fui a última a saber?
Harry se remexeu novamente, muito desconfortável, lançando um olhar melindrado para Gina. Hermione percebeu que estava certa quanto às suas desconfianças. Porém, quando estava prestes a abrir a boca para falar algo, Rony foi mais rápido:
- Nós sabemos sim, Gina. – ela encarou o irmão em choque. Rony, por sua vez, fitava Harry como se o desafiasse. – Mas não porque ele nos contou. Não, Harry, você não se deu ao trabalho de nos contar, não é?
Harry fechou os olhos por um segundo, respirando muito fundo. Quando os reabriu, parecia cansado e mais velho do que realmente era.
- Rony, eu...
- NÃO TEM EXPLICAÇÃO, HARRY! – Hermione engoliu em seco após o grito cheio de mágoa de Rony. As orelhas dele estavam muito vermelhas – sempre um sinal de perigo. Harry deveria ter notado isso também, mas a expressão em seu rosto era a de alguém derrotado; e isso só enfurecia Rony ainda mais, pois, para ele, Harry não tinha o direito de ser fraco agora. – Você mentiu pra gente por tempo demais!
As palavras de Rony pairaram no ar agourentamente. Harry, no entanto, ao invés de responder para o amigo, virou lentamente os olhos para Hermione.
- Foi você que descobriu, não foi, Hermione? – ele perguntou, exausto. – Quando me entregou a poção... você já sabia.
Hermione assentiu lentamente, aquele sentimento de pena – que ela não queria sentir – se intensificando cada vez mais.
- Eu sabia... – Harry sussurrou. – Você é mesmo muito inteligente... Eu avisei Dumbledore que isso aconteceria, mais cedo ou mais tarde...
- E o que eu e Gina somos, Harry? Burros? Idiotas? Você achava que seria fácil enganar a gente?
Harry respirou longa e demoradamente mais uma vez. A cada minuto, parecia mais cansado e abatido, quase como se fosse a mera sombra da pessoa que um dia fora. Ele primeiro fitou Gina demoradamente, com uma dor profunda nos olhos verdes, intensificada pelo olhar gelado que ela lhe devolveu; em seguida, ele se virou para Rony, que estava lívido, e então murmurou lenta e calmamente:
- Você e Gina, Rony, são Weasleys, e, portanto, agem movidos pela emoção. Vocês confiaram em mim e jamais cogitaram a possibilidade de que eu pudesse estar mentindo tanto; se pensassem por um segundo nisso, no segundo seguinte descartavam a possibilidade, sentindo que estavam me traindo por pensarem desse jeito. Já Hermione... – ele se virou devagar para a amiga, que estava pasma. – ...mesmo que confie em mim, ela age racionalmente. E a lógica, obviamente, estava contra mim.
Houve um silêncio de aturdimento por alguns instantes. Era quase como se não conhecessem Harry; aquela pessoa, ali, à frente deles, era alguém totalmente diferente daquele Harry que conheceram quase sete anos antes. Tudo pelo qual ele tinha passado na vida transformou-o radicalmente; e, agora, ele tinha se tornado uma pessoa que eles não conheciam. Ou pensavam não conhecer.
Gina fitou seu irmão. Os olhos de Rony estavam fundos, vazios. Brilhavam pelas lágrimas de raiva que, ela sabia, ele teimaria em não derramar. Ela sabia que o irmão deveria estar sentindo algo muito parecido com o que ela própria sentia. Decepção, ira, indignação, amargura, frustração... Harry tinha razão; ela nunca cogitaria a possibilidade de ele estar mentindo por tanto tempo – isso era como traí-lo em pensamento. Ironicamente, porém, foi Harry quem os traiu.
No entanto, Gina estava exausta. Exausta de discutir, de indignar-se com toda aquela mentira. Tudo era muito doloroso, e Gina estava cansada de gritar toda sua frustração e mágoa. Havia algo pesado e venenoso dentro dela, que ia embargando-a, mais e mais, e Gina não via uma maneira de se livrar daquilo.
- Por que você fez tudo isso, Harry? – Hermione quebrou o silêncio atordoado, num tom de voz lento, calmo e dolorido. – Por que teve que enganar tanto a gente?
Harry suspirou profundamente. Seus olhos estavam fugidios e opacos. Ele deu as costas aos amigos por um momento, caminhando devagar até parar em frente ao magnífico beija-flor, que não parava de nascer, para em seguida retornar ao seu ovo. Harry contemplou-o por alguns minutos, hipnotizado, como se contemplasse o tempo, implacável e incessante. Quando falou, sua voz era distante, vazia e sem cor.
- Snape, no ano passado, espionando para a Ordem, descobriu que Voldemort estava prestes a atacar Hogwarts. – Harry explicou. – Ele conseguiu reunir muitos seguidores, muito mais do que tinha dezesseis anos atrás... Há os comensais que escaparam de Azkaban... os que saíram quando os dementadores abandonaram a prisão e se juntaram a Voldemort... e também há os que se juntaram agora ao lado das trevas. – ele enumerou sombriamente. – Eles estavam em um número muito maior comparado à Ordem da Fênix. Nós sucumbiríamos facilmente se houvesse um ataque àquela época.
“O que nós precisávamos era de um atraso. Algo que, ao menos, adiasse os planos de Voldemort. Um motivo muito forte que o fizesse parar e desistir do ataque, pelo menos por algum tempo, para que nos preparássemos. Era disso que precisávamos: adiasse . Dumbledore me chamou em sua sala e me expôs toda a situação uma semana antes de tudo acontecer... E então, uma semana depois, esse... motivo... apareceu. Foi Dumbledore quem teve a idéia. Ele foi me visitar na ala hospitalar àquela noite e de cara percebeu o que tinha acontecido. Ele fez com que eu me lembrasse de tudo... usou a mesma poção que você me deu hoje à noite, Hermione, mas esta permitia que eu me lembrasse realmente de tudo. Ele me contou todo o seu plano... E foi aí que tudo começou...”
Gina abriu a boca para perguntar algo, mas Rony foi mais rápido:
- Você estava na Ordem, então? Desde quando?
Harry ousou lançar um olhar de esguelha a Rony, respondendo, um tanto sem graça:
- Desde que completei dezessete anos... Houve uma noite, no Largo Grimmauld, nas férias, em que Dumbledore conversou comigo. Vocês não sabem disso porque estavam dormindo. Era madrugada, e a sua mãe, Rony, foi me chamar no nosso quarto e me disse que Dumbledore estava lá embaixo e queria falar comigo. Havia vários membros da Ordem na cozinha àquela noite, até mesmo Snape... – Harry permitiu-se um sorrisinho. – Ele ficou doido da vida quando Dumbledore me chamou para conversar, e ficou ainda mais enfurecido quando ele pediu que todos os membros se retirassem e nos deixassem a sós. A cara do Snape... – Harry soltou uma risadinha por causa da lembrança. – Mas ele não foi o único a se indignar com aquilo. Dumbledore, no entanto, foi resoluto e mandou que todos saíssem. Nós ficamos sozinhos...
Harry respirou fundo, tomando fôlego e ganhando tempo.
- Então, ele me convidou a entrar na Ordem. Claro que eu aceitei de cara, era o que eu mais queria desde que soube da existência dela. Porém, havia uma condição... eu seria um membro... secreto. Ninguém, além de mim mesmo e Dumbledore, poderia saber da minha existência e atuação dentro da Ordem. Ele me fez jurar que não contaria a ninguém, especialmente vocês dois. – ele lançou um olhar furtivo a Rony e Hermione. – Eu deveria agir assim, em segredo, pois Dumbledore tinha planos para mim... Ele disse que as coisas que eu deveria fazer para ajudar não poderiam ser conhecidas por mais ninguém, nem mesmo pelos membros mais confiáveis da Ordem, como Lupin... a Profª. McGonagall... Hagrid... e Snape... – Harry fez uma careta de desaprovação. – Quando nós terminamos a conversa, todos ainda nos esperavam na sala. Foi um choque para eles quando eu saí da cozinha, sozinho, e avisei que Dumbledore já tinha aparatado de volta a Hogwarts. Snape claramente teve vontade de me esganar vivo... – Harry disse calmamente, suspirando e dando de ombros. – Babaca. Como se eu tivesse algum dia tido algum controle nas atitudes malucas de Dumbledore...
Uma lembrança antiga passou como um filme na cabeça de Gina, e então tudo se tornou subitamente mais claro e coerente. Uma conversa de seu pai e Olho-Tonto Moody que entreouvira há muito tempo na sinistra cozinha do Largo Grimmauld:
“Também gostaria de saber do quê, ou melhor, de quem se trata, mas se Dumbledore quer manter segredo, temos que respeitar”, seu pai tinha dito. “Talvez Dumbledore saiba que não podemos. Talvez seja algo tão grande que não possamos ajudar...”
“Mas eu ainda gostaria de saber quem está com ele, e o quê estão fazendo...”, Moody insistira.
Rony não podia acreditar em tudo aquilo que ouvia. Era demais. Demais para aceitar e compreender.
Hermione estava embasbacada. Seu cérebro tinha momentaneamente paralisado. Havia tanta coisa que ela nem sequer imaginava...
- Mas e esse plano, Harry? – ela perguntou. – O plano que Dumbledore teve?
- O objetivo era atrasar Voldemort. Enganá-lo, para ser mais exato. E eu era a motivação disso. – Harry disse, ainda evitando olhar para qualquer um na sala. – Dumbledore tinha certeza que, por minha causa, Voldemort seria capaz de mudar os planos. Afinal, eu sempre fui o alvo principal dele. E, se eu perdesse a memória, se Voldemort acreditasse nisso, as coisas tomariam outros rumos. Ele não poderia deixar os planos do jeito que estavam, pois contava que eu pudesse interferir; sem memória, eu estava fora de combate.
- Mas, espera um pouco, Harry... – Hermione disse, confusa. – Isso não facilitaria os planos de Voldemort? Se ele pensasse que você estava fora de combate...
- Não, isso atrapalha os planos dele, Hermione. – Harry falou com convicção, finalmente fitando alguém nos olhos. Ele encarou a amiga profundamente. – Voldemort precisa de mim, e ativo.
- Como? – Gina perguntou.
- Ora, Gina, ele não precisou de mim no quinto ano, por exemplo, para pegar a profecia para ele? – Harry disse com naturalidade, naquele tom frio e prático, virando-se para a garota. – Mesmo que ele não saiba o conteúdo dessa profecia, ele já percebeu que não vai conseguir me matar com um mero Avada Kedrava, o que vale para mim também... – havia algo escuro no tom de voz de Harry, bem como em seus olhos, que fez Hermione ter certeza que ele sabia algo a mais, que ainda não tinha revelado. – Pra me matar, ele precisa que eu esteja em combate, por assim dizer.
“Bem, ele foi forçado a mudar todos os seus planos quando descobriu o que ‘tinha acontecido’ comigo. Ele acreditou que eu realmente tivesse perdido a memória. Caiu direitinho na armadilha. Foi inacreditável até... Mas ele caiu, pois está cego pelo poder... Foi obrigado a mudar toda sua estratégia, começando tudo do zero... Ele ficou furioso, ainda mais porque seus comensais demoraram muito tempo para descobrir a minha ‘amnésia’...”
Harry soltou uma risadinha de desdém.
- Foi preciso que eu praticamente esfregasse isso na cara de um deles para que fossem contar ao seu mestre... Dumbledore e eu pensávamos que eles fossem notar sozinhos o que estava acontecendo, mas... – ele fitou Gina, desconfortável. - ...mas você, Gina, querendo me... proteger... de certa maneira, atrapalhou nossos planos e eu acabei fingindo, também, por algum tempo, que não tinha perdido a memória. Foi uma mentira em cima de uma outra mentira. – ele respirou fundo, como se fosse difícil falar aquilo. – Isso confundiu os comensais de Voldemort, e eles demoraram algum tempo para se tocar do que estava acontecendo.
Gina, então, se lembrou do que tinha ouvido Harry dizer a Malfoy na sala das profecias:
“Assim que descobriu o que eu te conduzi a descobrir, você foi correndo contar para o papai! E Lúcio Malfoy foi direto a Voldemort, exatamente como eu e Dumbledore queríamos!”.
Tudo começava a fazer sentido... tudo se encaixava... tudo.
Harry insistindo para que ela contasse às pessoas que ele tinha perdido a memória... ela estava atrapalhando os planos dele com sua “proteção” inútil...
Os sumiços estranhos dele... aparentemente sem explicação... ele estava indo falar com Dumbledore, acertando os detalhes do seu maldito plano...
A maneira como ele sempre repetia que Gina não tinha culpa de nada... a culpa era dele...
Aquele dia, que Harry teve o sonho na Sala Precisa... o dia em que Voldemort falou através de seus lábios...
“Como você não sabia, Bella? Você tinha que ter percebido!”
Bellatrix Lestrange falhara ao não perceber, aquele dia que duelou com Gina e, mais tarde, com Harry em Hogsmeade, que este tinha perdido a memória ao cair do desfiladeiro. Ela não percebeu isso e, por causa de seu lapso, o lorde teve que mudar todos seus planos...
“Malfoy... Você foi útil, finalmente.”
Draco Malfoy tinha sido conduzido por Harry, através daquela “carta anônima” – que Gina tinha ouvido-o se referir enquanto discutia com Harry na sala das profecias – e, então, tinha passado essa informação a seu pai, Lúcio Malfoy, que por sua vez contou o que “estava acontecendo” com Harry para seu mestre...
- Como ele não percebeu, Harry? – Rony perguntou, e Gina soube que ele se referia a Voldemort. – Como ele não entrou na sua cabeça como costumava fazer no quinto ano e descobriu que você estava mentindo?
- Você falou bem, Rony. – Harry disse com um sorriso vazio no rosto. – Voldemort costumava entrar na minha mente no quinto ano – mas não entra mais, agora.
- Oclumência? – Hermione sussurrou.
- Exatamente. – Harry se virou para ela. – Snape voltou a me dar aulas, no sexto ano... E dessa vez, eu me esforcei e aprendi. Voldemort continuou a tentar penetrar na minha cabeça, mas descobriu que isso já não era mais possível, pois eu comecei a impedi-lo. Houve poucas vezes, apenas, que a nossa ligação foi forte o suficiente para que eu não conseguisse bloqueá-lo com minha Oclumência... – Harry suspirou. – Aquela vez, por exemplo, na Sala Precisa, quando eu tive aquela visão com Voldemort... Vocês me ouviram. Voldemort estava tão furioso àquele dia, porque tinha acabado de descobrir que eu tinha “perdido a memória” – tarde demais – que não consegui deixar de sentir seu ódio... A ligação entre nós... – ele apontou para a própria cicatriz. – ...superou qualquer barreira mágica que eu tentasse colocar entre nós dois.
Houve um novo silêncio atordoado depois de tanta informação junta, mas então Rony quebrou-o com uma outra pergunta:
- Snape aceitou voltar a dar aulas a você? Como ele te aceitou de volta, se no quinto ano não queria nem te ver pintado de ouro?
- Dumbledore o obrigou. – Harry se permitiu um meio sorriso. – Quer dizer, ele não teve como recusar a um pedido dele... era quase uma obrigação... mesmo que...
- Mesmo que...
- Bem, nós nos odiamos e sempre vamos nos odiar. – Harry disse entediado. – Snape sempre guardará mágoa de mim por coisas... bom, por coisas que meu pai fez a ele quando eles eram jovens. – ele fez uma pausa, como se as lembranças preenchessem sua mente, e então se permitiu um risinho debochado. – Snape vive jogando na minha cara que eu sou “tão arrogante e orgulhoso quanto meu pai”... – Harry imitou a voz rouca e baixa de Snape. – ...mas no final das contas, ele é outro idiota e orgulhoso, como eu sou e como realmente meu pai era, aliás.
Harry fez uma nova pausa, respirando fundo, seus olhos se enchendo de rancor.
- Quanto a mim... eu nunca vou perdoá-lo por Sirius... foi culpa dele também. Se ele não provocasse Sirius por não poder fazer nada, toda maldita vez que eles se encontravam! – ele fechou os olhos com raiva, para depois respirar fundo e se controlar, seus olhos transbordando mágoa. – Dumbledore pode dizer o que quiser... mas eu jamais, jamais perdoarei Snape...
Rony e Hermione se entreolharam nervosamente. Ambos sabiam que a raiva que Harry sentia antes por Snape por causa de suas injustiças tinha se transformado em puro ódio depois que Sirius morrera. Havia vezes em que Harry chegava a se descontrolar na frente da classe, em plena sala de aula, com Snape, o que lhe rendeu inúmeras detenções, pontos perdidos e advertências. Hermione sempre temeu que Harry acabasse algum dia sendo expulso das aulas de Snape, mas, obviamente, Dumbledore sempre deveria dar um jeito de impedir isso.
- Mas, Harry... – ela perguntou hesitante. – Como Snape não deu pela sua falta quando você deixou de ir às aulas dele esse ano? Quando você... começou a... fingir que perdeu a memória?
- As minhas aulas terminaram no sexto ano. – Harry explicou. – Eu já dominava razoavelmente a Oclumência nessa época, não tanto quanto deveria, mas o suficiente para impedir Voldemort de me induzir a fazer o que ele queria... Snape, é claro, quis me dispensar assim que fosse possível, o que foi uma sorte, pois eu e Dumbledore teríamos problemas para enganá-lo caso eu ainda tivesse aulas com ele nesse ano e tivesse que parar.
Houve uma nova pausa. As dúvidas pipocavam na cabeça de Hermione, e ela resolveu continuar a questionar Harry:
- Mas Dumbledore precisava se comunicar com você de alguma maneira, não, Harry? – ela sondou. – Por causa do plano que só vocês dois conheciam... Como vocês fizeram isso sem despertar a desconfiança de ninguém?
- Harry ia até a sala dele, não? – Gina sugeriu, estreitando os olhos para Harry, que se virou imediatamente para ela, com os olhos fundos. – Você sumia de vez em quando, sem explicação...
Houve uma pausa, na qual Harry apenas observou Gina longamente por alguns instantes, e depois desviou novamente o olhar.
- No começo, sim. Mas isso não era muito inteligente, como você mesma acabou de provar. Além de você, Gina, muita gente poderia desconfiar... Os professores que pertencem à Ordem, por exemplo... – ele respirou fundo. – Com o tempo, Dumbledore e eu descobrimos métodos mais eficazes e seguros de nos comunicar...
- Como o quê? – Rony perguntou.
- Como Dobby. – Harry respondeu de pronto, calmamente. Gina, Rony e Hermione trocaram olhares pasmos entre si; Harry quase sorriu. – Vocês provavelmente estão achando isso uma piada, não é?
- Mas... – Hermione balbuciou, sem entender. – Dobby?!
- Ele não tem a língua um pouquinho solta demais para guardar um segredo desses? – Rony perguntou aturdido.
Entretanto, novamente, as coisas estavam começando a fazer sentido na cabeça de Gina...
- Dumbledore utilizou esse argumento também quando eu sugeri Dobby. – Harry disse. – Mas Dobby foi uma surpresa até para eu mesmo. Ele gosta muito de mim, é cegamente fiel e foi muito útil para nós. Ele levava e trazia recados meus para Dumbledore, e vice-versa. Eu sempre o encontrava de madrugada, quando ele ia limpar a Torre da Grifinória.
O queixo de Gina caiu, e ela então pôde entender. Aquele dia distante, na sala comunal, à noite, quando Gina contou a Harry tudo que sabia sobre sua vida e, no final, Dobby aparecera, interrompendo os dois...
“Dobby sabe que atrapalhou Harry Potter, meu senhor...”
Hermione se lembrou, então, de um dia em que ela, Rony e Gina conversavam sobre o sonho que Harry tivera na Sala Precisa, e Dobby apareceu, nervoso e agitado.
“Dobby não tem visto Harry Potter, não tem visto meu senhor, oh, não, senhorita”, ele tinha dito apressado. “Mas Dobby sabe que Harry Potter não pode conversar com Dobby, sim, Harry Potter sempre está muito ocupado...”
- Vocês pensaram em tudo! – Gina cuspiu as palavras, dilacerada pelo rancor que a corroía. – Em tudo...
Rony parecia que tinha levado um tapa na cara. Seu queixo estava caído, e ele parecia momentaneamente incapaz de pronunciar palavra alguma.
- Por quê...? – ele disse devagar, num sussurro cheio de mágoa; havia em seu rosto uma expressão quase chorosa, como se estivesse se recusando a acreditar em tudo aquilo que ouvia. – Por que, Harry, você não contou nada pra gente? Nada? Por que escondeu tanta coisa...? Como conseguiu ter coragem de olhar na nossa cara... – ele disse entredentes, fitando o amigo com raiva. – ...e continuar a mentir, a fingir cara...
Harry suspirou longamente, mais uma vez parecendo cansado e mais velho.
- Engane seus amigos, e enganará também seus inimigos... – ele recitou com a voz vazia. – Mas não foi só isso... Vejam, eu não podia contar muitas coisas... assuntos da Ordem, segredos do plano, de Dumbledore...
- Você nunca obedeceu a regras! – Rony exclamou indignado. – Você sempre contou tudo para Hermione e para mim, e nós sempre fizemos as coisas juntos! Você não confiou em nós, foi isso? Eu pensei que nós fôssemos seus amigos...
- Não, Rony, claro que não foi isso! – Harry retrucou chateado e frustrado. – Nunca, vocês são as pessoas que eu mais confio no mundo... É claro que vocês são meus...
Ele se calou, deprimido.
- Então... por quê, Harry?
Ele se virou para Hermione, seus olhos escurecidos e melancólicos.
- Porque... porque... – ele parecia incapaz de falar. – Porque eu... eu não queria... – ele abaixou o rosto e fechou os olhos por um instante, seus lábios tremendo. – Todo mundo que se aproxima de mim acaba ferido de algum jeito... – ele sussurrou. – Eu não queria perdê-los também, como perdi meus pais... Sirius...
Harry cobriu o rosto com as mãos. Silêncio. Quando ele falou, sua voz estava abafada:
- Eu não vou pedir perdão a vocês. Não vou ousar fazer isso... – ele murmurou com a voz trêmula. – Eu não perdoaria no lugar de vocês, também.
Houve uma nova pausa. Quase era possível tocar o silêncio.
- Como você sabe que não perdoaríamos se não pedir perdão? – Hermione perguntou, a voz embargada, fitando Harry profundamente. Rony e Gina se viraram chocados para ela, mas não tão surpresos quanto Harry. Ela respirou fundo e continuou. – Como você pode dizer que não o perdoaremos?
- Hermione...
Mas Harry não teve tempo de terminar sua frase. Eles ouviram sons abafados do outro lado de uma das inúmeras portas que rodeava a sala – gritos, pancadas e correria. Harry se virou, erguendo a varinha em posição de ataque. Todos esperaram, tensos, então a porta se abriu com estrondo.
Duas pessoas entraram e caíram atabalhoadamente no chão, um por cima do outro. Gina arregalou os olhos – eram Luna e Neville.
Hermione sufocou outra vez um grito; por um segundo, ela viu vários bruxos encapuzados, com vestes negras e longas: Comensais da Morte.
Mas Harry agiu mais rápido. Com a varinha apontada para a porta, ele exclamou “Colloportus”, e a porta se trancou com estrondo. Foi possível ouvir o som dos comensais batendo na porta e gritando.
- POTTER, NÓS O VIMOS, SABEMOS QUE ESTÁ AÍ DENTRO!
- ÓTIMO! – Harry gritou de volta, em tom de provocação. – DÊEM MEIA VOLTA E CORRAM PARA CONTAR AO MESTRE DE VOCÊS ONDE EU ESTOU! EU QUERO MESMO TER UMA CONVERSINHA COM ELE!
Silêncio. O barulho tinha cessado. Houve um silêncio nervoso na sala também; os garotos continuaram a postos, esperando um ataque, mas os comensais não fizeram ou disseram mais nada.
- Será que eles foram embora? – Rony perguntou lentamente.
- Óbvio que não. – Harry respondeu com desagrado, dirigindo-se a todas as portas e trancando-as com o mesmo feitiço que utilizou na primeira delas. – Estão blefando. Aposto tudo o que vocês quiserem que esses idiotas estão competindo pra ver quem me apanha primeiro e me entrega de bandeja a Voldemort. – ele trancou a última porta com um gesto amplo e raivoso da varinha, então se virou para Luna e Neville, que ainda estavam no chão, e disse sarcasticamente. – Ótima idéia, trazê-los até nós.
- Ah, obrigada, eu sabia desde o começo que vocês estavam aqui e fiz de propósito... – Luna disse com aquele seu tom vago e etéreo, mas havia também uma pontinha de sarcasmo justificado em sua voz. – Eu não sou adivinha, sabia? Você está confundindo um pouquinho as coisas...
Harry soltou um palavrão, mas não pediu desculpas por ter descontado sua frustração em Luna e Neville.
- Será que você pode discutir isso em outro lugar que não seja em cima das minhas costas, Luna? – Neville pediu num sussurro abafado e dolorido; ele ainda estava espremido no chão, com Luna em cima dele. – Eu estou um pouquinho esmagado aqui embaixo...
- Opa, foi mal! – Luna disse depressa, levantando-se e espalmando a sujeira das vestes calmamente, enquanto todos a fitavam incrédulos. – Que foi?
Rony soltou um urro de incredulidade. Gina apenas observou os dois; tanto Luna, quanto Neville, também estavam muito machucados. Luna estava com aquele seu jeito biruta de sempre, mas Neville parecia extremamente abalado. Gina ficou imaginando o que poderia ter acontecido aos dois também, mas então as palavras que a amiga trocou com Harry despertaram em seu cérebro, e ela se virou para ele, questionando-o bruscamente:
- Ela sabe? Luna sabe sobre você?
Harry e Luna trocaram um olhar tenso e cúmplice. Rony e Hermione não podiam acreditar. Neville, surpreendentemente, parecia ser o único a compreender, pela expressão de entendimento que surgiu em seu rosto.
- Eu sabia sim. – Luna disse, e não havia mais aquele tom vago em sua voz. Ela virou lentamente o rosto, desviando seu olhar de Harry para Gina. – Mas não foi ele quem me contou.
- Como não? – Hermione falou quase rindo. – Não me diga que você descobriu sozinha também? Você nem tem contato com ele...
Para Rony, aquilo tudo não fazia sentido algum. Sua cabeça estava dando um nó. Como Loony Lovegood poderia saber sobre Harry, se ele mesmo e Hermione demoraram tanto para descobrir?
- Eu não descobri sozinha. – Luna disse entediada. – Nem ele me contou. Quem me disse foi outra pessoa.
- Quem foi? – Gina perguntou.
Luna piscou seus grandes olhos protuberantes.
- Sirius Black.
Houve um silêncio atordoado. As palavras de Luna soaram cômicas, ridículas, mesmo que ela as tivesse dito com a maior seriedade.
Hermione não agüentou mais e soltou uma risada nervosa e incrédula.
- Você é doida! – ela constatou, fitando Luna como se ela fosse de outro planeta. – Completamente maluca! Sirius Black está morto. Ele não pode simplesmente aparecer e dizer: “Oi, Luna, Harry está mentindo pra todo mundo! Tchau!”.
Harry suspirou profundamente, mas ninguém deu atenção a ele, pois Luna voltou a falar:
- Fantasmas estão mortos e você conversa com eles, ou não?
Houve uma pausa momentânea. A boca de Hermione estava aberta; ela parecia buscar algo para responder.
- Mas Sirius não é um fantasma! – ela se virou para Harry, buscando seu apoio. – Não é, Harry? Você sabe disso!
Ele suspirou novamente, deu um passo à frente mas, ao invés de se dirigir a Hermione, foi com Luna que ele falou:
- Eu posso contar? – ela apenas deu de ombros. Ele aceitou como um “sim”, e se virou para Hermione. – Luna pode falar com as pessoas que morreram, mas não viraram fantasmas... Ela pode vê-los e se comunicar com eles.
- O quê?! – Rony perguntou com um fio de voz. Gina estava chocada; Luna? Falando com mortos? Hermione ainda não acreditava e sorriu.
- Você não acredita nela, Harry... – a garota falou com um sorriso. – Ela é tão charlatã quanto a doida da Trelawney!
- Luna não está mentindo. – Harry disse convicto. – E por incrível que possa parecer... – ele suspirou, revirando os olhos. – Trelawney não é uma charlatã, também.
- Aí já é demais! – Rony exclamou.
- Não é demais, não, Rony. – Harry prosseguiu, calmo. – Trelawney fez três profecias verdadeiras, e todas estão se tornando realidade...
Rony se calou depressa, engolindo em seco. Ele e Harry trocaram um olhar, e compreensão passou pelos olhos de Rony; ele subitamente ficou mais pálido e assustado, fitando Harry com os olhos fundos e opacos, sem dizer mais nada.
- Três profecias? – Gina perguntou sem entender. – Mas... só tinha... só tinha uma, aquela do quinto ano... e... – então ela subitamente se lembrou daquele globo que Harry recolheu na sala das profecias depois de duelar com Malfoy, uma profecia que se referia a ele, Voldemort e... Neville... – E foi... Sibila Trelawney quem as fez?
- Espera um pouco! – Hermione exclamou nervosa, e depois se virou para Harry. – Como você pode ter tanta certeza de que ela – e apontou Luna – está dizendo a verdade?
- Deixa pra lá, Harry... – Luna disse sem se importar. – Eles não precisam acreditar...
- Mas é verdade! – Neville se manifestou pela primeira vez na discussão, e fitou Hermione, Rony e Gina com insistência, como que pedindo que eles acreditassem. – Luna não está mentindo! Eu tive a prova disso hoje... Eu acredito nela.
Luna se virou para ele, com um sorriso morno no rosto.
- Eu quero que eles acreditem, Luna. – Harry voltou a falar; ele se virou novamente para Hermione. – Eu, como vocês, não acreditei no início também. Mas... Luna, um dia, me disse que precisava me passar um recado de uma pessoa... Eu estava na cabana de Hagrid... Ela foi até lá e me contou. E, depois disso, me trouxe um recado de Sirius...
- Isso é impossível!
- Não é, Hermione! – Harry insistiu. – Ela não poderia saber o que disse sem que o próprio Sirius a contasse. Eram coisas muito pessoais! Coisas que só eu e ele sabíamos!
- Como o quê?
- Como por exemplo que Sirius me deu um Espelho de Dois Lados, que ele utilizava quando jovem para se comunicar com meu pai, e que eu nunca usei esse espelho na época, por medo que ele saísse do Largo Grimmauld e se arriscasse por minha causa.
Hermione se calou. Gina e Rony também estavam estonteados. Harry continuou:
- Como por exemplo que nós chamávamos Sirius de “Snuffles” em nossas cartas, lembram-se? Vocês – e ele fitou Rony e Hermione – alguma vez contaram isso para Luna? Pois é, nem eu. – ele completou, quando os dois negaram. – Vocês entendem agora como não posso deixar de acreditar nela?
Hermione parou de questionar, um tanto envergonhada, mesmo que ainda tudo aquilo fosse fantasioso demais para acreditar; as evidências de Harry, porém, apontavam o contrário, confundindo-a ainda mais. Gina se virou para Luna.
- O que Sirius disse? – ela se voltou para Harry em seguida. – Qual era o recado?
Harry suspirou profundamente.
- Que eu não desistisse. Que eu fosse até o fim. – ele sussurrou. – Que vocês me perdoariam algum dia quando soubessem que eu estava mentindo para vocês. Ele sabia que eu estava fingindo, e foi por isso que Luna descobriu também.
Rony engoliu em seco, pensando se seria mesmo capaz de perdoar Harry algum dia. Gina, no entanto, estava quase certa que não podia.
- Alguém mais sabia? – ela perguntou. – Quem mais sabia sobre você, Harry? Você também sabia, Neville?
O garoto pareceu assustado que alguém tivesse se dirigido a ele. Neville trocou um olhar com Luna, e depois se virou para Harry, quase como se pedisse desculpas.
- Eu soube há pouco tempo. Luna acabou me contando... – ele disse. – Eu a pressionei, e ela me contou algumas coisas...
Harry desviou o olhar de Neville para Luna.
- Tudo bem. Neville tem muito a ver com toda essa história também...
Quando o garoto estava prestes a perguntar a Harry por quê, Gina voltou a inquiri-lo, com raiva:
- Quem mais sabia, Harry?
Harry bufou, caminhando lentamente pela sala, os olhos perdidos.
- Além de mim e Dumbledore... Dobby, com eu disse a vocês. Luna descobriu através de Sirius. – ele respirou fundo. – Mas, depois, eu acabei contando a Hagrid também...
- Hagrid? – Rony perguntou sem fôlego. – Por que ele?

Continua na próxima página...

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