Dois Amassos e um Gato



Ok, gente, tá muito louco... mas leiam tudo, tá? no final eu explico...


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Dois Amassos e um Gato


Snape não sabia de quem fora a idéia infeliz de fazer um jantar dançante de fim de ano... Só o que sabia era que teria que ir, acompanhando a irmã.


Em momentos como aquele é que se recordava do principal motivo para continuar solteiro, mesmo não sendo mais um espião: mulheres sempre demoram séculos para ficarem prontas para qualquer evento… e nunca parecem satisfeitas com o resultado das horas infindáveis que gastaram se arrumando…


 


Just like me, they long to be


Close to you…


Serenna fechou a caixinha, deixando assim de ouvir a música, e colocou no dedo o anel que tirara de dentro dela. Olhava-o atentamente, como se procurasse algum detalhe que lhe escapara à primeira análise, no dia em que o recebera – a manhã de Natal – vindo de Sirius Black.


 


- Você vai usá-lo esta noite? – a voz de Snape despertou Serenna de suas lembranças. Ele não resisitira à impaciência e fora logo atrás dela, encontrando-a sentada em frente à caixinha de músia, com expressão sonhadora.


- Sim. – respondeu simplesmente.


Snape sorriu. Serenna sorriu em resposta, tranquila. Já havia se decidido a não ficar tanto na defensiva com Sirius Black e deixar que as coisas acontecessem naturalmente, para ver no que dava.


De braços dados, eles deixaram o quarto, encontrando Lady Marjorie que os aguardava, sorridente.


- Minha filha, você está linda! – ela exclamou, emocionada. Mais que sua afilhada, Serenna se tornara a filha que queria ter.


Serenna sorriu, encabulada, sacudindo a cabeça.


- Seu irmão concorda comigo. Não é mesmo, Severus?


- Claro que concordo. Você está linda, Serenna. Não vai dever nada a ninguém, se é isso que te preocupa. E vai partir corações esta noite.


- Engraçadinho... – ela lhe fez uma careta, mas não pode deixar de admirar seu irmão, que estava lindo em sua veste a rigor toda negra, só pra variar um pouquinho...


- Então? Aparatamos juntos, ou você já conseguir ir por conta própria? –indagou ele.


- Não sei... ainda estou meio insegura. E se eu chegar lá toda descabelada?


- Mulheres... – Snape retrucou e, abraçando a irmã, aparatou com ela para o hall do Ministério da Magia.


 


- Pronta? – ele perguntou, antes de entrarem no salão de festas.


- Sim. – ela respondeu, procurando sorrir com segurança.


- Então vamos aos lobos!


- Não brinque com isso! – ela ralhou com ele, mas sorriu. Não era nenhum trocadilho, era seu debut oficial no Mundo Bruxo.


 


Serenna teve que admitir. Não era tão ruim... nem tão diferente assim das festas oficiais a que comparecera em vários anos no serviço público em “sua terra”. Apenas mais pessoas reparando em sua presença do que estava acostumada.


E tinha que concordar que eles chamariam a atenção de qualquer forma. Severus Snape, o famoso bruxo que fora comensal da morte e matara Dumbledore – independente do porque disso – estava na companhia de sua suposta irmã, pois Serenna sabia que muitos duvidavam da história, preferindo versões “mais picantes”, e também de outro casal igualmente inusitado: um trouxa e sua esposa bruxa, a sobrinha da famosa Amélia Bones, assassinada pelo próprio Voldemort quando de seu retorno.


André Laurent sorria feliz, indiferente a mexericos, enquanto Susan comentava algo sobre um ou outro convidado, informando-o sobre cargos ou histórias curiosas.


Serenna acompanhava suas observações com atenção, ela também aproveitando para saber um pouco mais das autoridades presentes. E já se habituara aos gostos bruxos para vestes, então não se assustava com nenhum chapéu extravagante, nem mesmo o de Augusta Longbottom, que trazia um urubu empalhado.


- Não fale nada a respeito – Snape a advertiu mentalmente


- Ah, mas eu estava tão curiosa em saber se foi esse o chapéu que “você” usou... – Serenna lhe respondeu, também mentalmente, no instante em que a avó de Neville os cumprimentava, gentil mas formal como toda dama inglesa. – Não sei se o do filme lhe fez justiça...


- Ele está na mesa de Potter, mas não tira o olho de você – Snape comentara enquanto sorria docemente. Se a irmã podia provocá-lo, ele podia fazer o mesmo jogo.


- Deve ser por isso que sinto frio nas costas... – ela não conseguiu deixar de comentar, sarcástica, o que provocou uma risada alta de Snape, que espantou os companheiros de mesa.


- Pra quem não liga pra um homem, você “sente” muito sua presença...


Serenna limitou-se a fitá-lo ameaçadora, mas ele apenas comentou que não tinha medo de cara menos feia do que sua própria e lhe sorriu novamente. Conseguira passar todo o maldito jantar sem se preocupar com Sirius Black, não ia começar a fazer isso agora.


 


Uma voz ao microfone chamou a atenção de todos para o fundo do salão. As mesas dispostas em semicírculo, deixando um espaço que seria usado possivelmente como pista de dança.


No palco agora iluminado, o vocalista das Esquisitonas falava ao microfone, anunciando um grupo que, a seu convite, tocava pela primeira vez em público. Então, com entusiasmo, anunciou o nome do conjunto, que foi recebido com palmas discretas: “Dois Amassos e Um Gato”.


André pareceu entusiasmado, enquanto Snape batia palmas por questão de cortesia, e Serenna fez o mesmo, reparando nos trajes “anos 60” dos cantores que entravam no palco. Riu, divertida, afinal os bruxos não eram conhecidos por se preocuparem com a moda fashion em vigor no mundo dos trouxas.


Um dos integrantes da banda agora chegava ao microfone e falava em um bom inglês que tocariam músicas antigas, originalmente cantadas pelos trouxas, embora algumas fossem bruxas com certeza.


Serenna franziu o cenho. Aquela voz - lhe soara vagamente familiar, mas eles já começavam a tocar uma música que logo reconheceu:


- You never close your eyes anymore


When I kiss your lips


And there's no tenderness


Like before in your fingertips


You're trying hard not to show it, baby


But baby, baby


I know it…


- André, lembra dessa música? – Serenna perguntou ao irmão.


- Claro que sim! É inesquecível! – o irmão respondeu e ambos começaram a rir.


- O que é tão engraçado? É uma música romântica! – Susan indagou, perplexa, enquanto o conjunto cantava o refrão, e os dois irmãos repetiam, cheios de cara, bocas e risos.


You've lost that lovin' feeling


Whoa, that lovin' feeling


You've lost that lovin' feeling


Now it's gone, gone, gone, whoa...


- É que – André tentou parar de rir pra contar – Nós tínhamos um amigo, o Renato, que era fã de um ator que canta essa música num filme, para conquistar uma garota. E ele tentou fazer a mesma coisa, no meio de uma feira do colégio… mas não funcionou tão bem quanto no filme.


- Claro, né? – Serenna atalhou – fazer a garota pagar um mico desses? Ela ficou possessa, ainda mais que ele chamou logo quem para ajudar na “serenata”? O Murilo!


- Murilo? – Susan arregalou os olhos – Não é ele que…


- Vamos dançar, querida? – André perguntou, levantando-se de repente e puxando a esposa pela mão sem esperar sua resposta.


Serenna observou o casal se afastar – quer dizer, André arrastar sua esposa para pista – e sorriu. Snape, que seguira o olhar da ex-aluna até a banda, observava agora os cantores atentamente, mas sua atenção foi desviada para alguém que se aproximava da mesa.


- Quero ver agora se você falava sério quando decidiu dar uma chance ao Pulguento. – ele sussurrou para irmã, que o fitou meio confusa, até que reconheceu a voz ao seu lado:


- Boa noite. – Sirius Black exclamou, sorrindo, ignorando os olhares que convergiram para a pequena mesa.


Snape respondeu com um simples aceno e fitou a irmã. Serenna respirou fundo, antes de se virar e erguer o rosto para olhar o recém-chegado com um mínimo de compostura.


- “Now there's no welcome look


In your eyes when I reach for you


And now you're starting to


Criticize little things I do


It makes me just feel like crying, baby


'Cause baby,


Something beautiful is dying”


- A Senhorita poderia me dar a honra desta dança? – seu sorriso cativante a fez estremecer por dentro, mas Serenna sorriu em resposta e estendeu-lhe a mão, erguendo-se com graça e acompanhando-o até a pista de dança, ignorando o olhar divertido de Snape, sobrancelha levantada de forma irônica.


O casal caminhou calmamente, e Sirius enlaçou sua cintura com suavidade, começando a conduzi-la lentamente pela pista.


Eram quase da mesma altura, mas Serenna ainda tentava se acalmar interiormente para poder levantar os olhos e fitá-lo sem constrangimento.


- Já disse que você fica linda de verde? – Ele sussurrou no seu ouvido.


- Não me lembro… - ela respondeu, e ele sorriu.


- Ah, no meu sonho, sempre lhe digo isso. – ele sorriu daquele jeito que fazia ela pensar que sorrisos como aquele deveriam ser proibidos.


- “You lost that lovin' feeling


Whoa, that lovin' feeling


You've lost that lovin' feeling


Now it's gone, gone, gone, whoa”


O conjunto continuava cantando, e Sirius comentou:


- Sei que essa não é a nossa música… Quer que eu peça a eles para mudar?


- Não , claro que não! – Serenna retrucou rapidamente. Por um momento, a cena que visualizara ao ouvir “Close to you” veio à sua mente, e ela não conseguiu encarar os olhos claros que a fitavam intensamente.


Baixando os olhos, notou a fina corrente de ouro que ele usava sobre a camisa escura, mesmo estando de gravata, e riu. Reconheceu-a, claro, assim como o pequeno pingente: uma plaquinha quadrada de ouro, pendurada por um dos ângulos, onde se viam as iniciais “SB” gravadas.


- Você o está usando! – exclamou sem querer, corando em seguida.


- Claro. Devo admitir que me surpreendi com seu presente, mas gostei muito, obrigado. Vejo que também apreciou o meu. – ele meneou a cabeça em direção à mão dela pousada em seu ombro.


- Sim, eu gostei muito, obrigada.


- “Baby, baby,


I get down on my knees


And pray to you


If you would only love me


Like you used to do


We had a love, a love,


A love you don't find everyday


So don't, don't, don't


Don't let it slip away”


 


Eles continuaram dançando em silêncio, indiferentes ao fato de que vários pares de olhos os observavam agora.


De sua mesa, Lupin e Tonks sorriam, esperançosos. Harry e Gina também.


A música terminou, alguns casais voltavam para suas mesas, mas Sirius e Serenna simplesmente pararam, se olhando em silêncio.


André Laurent os observou por um momento, depois olhou para a banda. Um dos músicos piscou, divertido, enquanto começava outra canção.


“- I can think of younger days / when living for my life  / Was everything a man could want to do. / I could never see tomorrow, / but I was never told about the sorrow...


Aquela voz… Serenna tinha a impressão de conhecer, pelo menos agora que a música lembrava-a nitidamente dos tempos em que seu irmão Felipe tentara ser cantor profissional. Aquela era uma das suas preferidas no repertório do conjunto estudantil…


- Tem esta música naquele… dvd? – Sirius franziu o cenho, como se tentasse se certificar de estar usando o termo certo – Quando eu a ouvi, naquela tarde na casa de Harry, parecia ter sido feita para mim…


Serenna o fitou, alarmada. Ele sorriu de forma encantadora, depois fez uma expressão de sofrimento, enquanto cantarolava em seu ouvido, sua voz sedutoramente sussurrante:


- And how can you mend a broken heart? How can you stop the rain from falling down?


Serenna fechou os olhos por um segundo. Aquilo não podia estar acontecendo... Neste momento, passavam perto da banda tocando. Ela abriu os olhos e fitou o vocalista, que piscou para ela e sorriu. Não podia ser! Estava tendo alucinações!


- Sirius... por favor, podemos parar um pouco? Não estou me sentindo bem...


Sirius fitou-a, agora preocupado. Não podia nem mesmo se alegrar com o fato dela tê-lo chamado pelo primeiro nome, ao invés do constante “Sr. Black”. Ela estava pálida de verdade. Talvez a brincadeira tivesse ido longe demais... e ele olhou preocupado para o cantor, que franziu a testa em resposta, observando-os de longe.


Resignado por ter perdido a chance de tê-la mais um pouco entre os braços, mas pensando feliz que ela se abalara por sua causa, interrompeu a dança e conduziu-a para fora da pista.


 


Em algum momento, os Potter, os Lupin e os Weasley presentes haviam formado uma grande mesa, e era para lá que Sirius conduzia sua acompanhante, ao invés de voltar para a mesa de Snape e dos Laurent.


A banda tocava outra música dos Bee Gees, mas Serenna não prestava mais atenção, tentando se concentrar nos amigos que lhe sorriam.


Carlinhos e Ana também voltavam da pista de dança, quando um casal se aproximou deles, ao mesmo tempo que alcançavam Sirius e Serenna perto da mesa.


Serenna logo notou que Ana não gostara da chegada dos outros, e tocou o braço da amiga num gesto de cumplicidade e apoio para o que desse e viesse.


Carlinhos apresentou o Sr. Althorp e sua filha Felícia a Sirius e Serenna. Esta já não gostou de cara do jeito da outra mulher, e trocou um breve olhar com Ana, que apenas Sirius percebeu.


Felícia não notara nada, claro, mais preocupada em avaliar o belo exemplar de bruxo à sua frente. Sirius Black era famoso, por várias razões, e o fato de ser um homem bonito e até o momento “disponível” tornava aquele encontro ainda mais singular… até seus olhos se fixarem em algo espantoso, a julgar pela expressão de surpresa e desagrado que assumiu de imediato. Sem que ninguém entendesse o motivo, comentou:


- Não sabia que era casado, Sr. Black. Não vi nenhuma notícia a respeito. Onde está a Sra Black?


- Como? – Sirius pareceu confuso, por um momento. Apenas aqueles que haviam participado do seu resgate sabiam ou faziam idéia do verdadeiro significado do ritual de sangue, que só seria comunicado oficialmente às autoridades bruxas após sua “consumação”… Como aquela mulher sabia?


Antes que alguém pudesse dizer algo a respeito, Felícia continuou:


- Ela pode saber escolher um homem, mas tem um mau gosto indiscutível para jóias. – o tom mordaz não passou despercebido desta vez – Sinto dizer mas… essa Serenna Black, ela é mesmo uma bruxa? Ou você foi enfeitiçado e casou-se com uma elfa doméstica sem perceber?


Ana já abria a boca para protestar pelo que parecia um insulto, quando Serenna se manifestou, já que a mulher a encarara de forma maliciosa e avaliativa, tentando descobrir se sua observação atingira o alvo certo:


- Olá, creio que não ouviu quando Carlinhos nos apresentou. Sou Serenna Snape. – um sorriso cativante desmentia o olhar quase assassino dela ao estender a mão para a bruxa que agora a fitava perplexa.


- Snape? – Felícia pareceu confusa, mas depois sorriu mais maliciosa ainda – Ah, agora entendo. Se você é parente dele…e é a responsável por isso… já entendi tudo.


Snape se levantara de sua mesa e viera até eles, surpreendentemente, trazendo consigo André e Susan. E foi ele quem respondeu:


- Serenna é minha irmã, Srta Althorp. Algum problema?


Felícia arregalou os olhos, ao encarar o recém-chegado. Tonks e Lupin também haviam se aproximado, assim como Harry e… bem… todos os Wealsey presentes, o que formava uma massa compacta e hostil aos olhos da “pobre ”mulher.


A roda já começava a despertar atenção do restante do salão, enquanto no palco o conjunto terminava sua apresentação.


Vendo que a situação se tornara cosntrangedora e sentindo que as coisas poderiam ficar muito delicadas, Ana puxou outro assunto:


- O que vocês acharam do conjunto? Ótimo, não?


- Eu gostei bastante deles. E você viu, Ana? É o marido de O’Connor que toca na banda. – Tonks estava dizendo pra amiga.


- Aquela sua colega do curso de aurores? – Ana perguntou, voltando o olhar para o palco, de onde os músicos já começavam a sair, e identificando o vocalista que Tonks apontava, que agora parecia estar vindo para onde eles estavam.


- Sim, ela mesma. Perdemos o contato por alguns anos, porque ela esteve trabalhando pelo Departamento de Relações Internacionais e estava em missão num país estrangeiro


Aproveitando o momento, o Sr. Althorp se despedia sem demonstrar ter acompanhado o diálogo estranho da filha, que se viu arrastada por ele até um outro grupo aparentemente mais agradável e receptivo.


Sirius acompanhara a saída deles em silêncio, cismado com o que a bruxa dissera. Encontrou o olhar de Snape, que desceu até seu peito e voltou a fitá-lo.


Sirius baixou os olhos, mas via apenas a corrente que Serenna lhe dera, e seu pingente delicado, sem entender porque a outra dissera ser de mau gosto. Era uma bela jóia, elegante e discreta o suficiente para ser usada por um homem, bruxo ou não. Pior, porque perguntara por “Serenna Black”? Curioso, pegou o pingente, tentando ver algo além das letras gravadas, e pela primeira vez, percebeu traços de alguma magia ali… Mas não poderia examinar o objeto naquele momento, nem perguntar a Serenna sobre isso, assim na cara dura, na frente de todo mundo.


Discretamente, puxou Lupin para o lado, e disfarçando sua fala com um sorriso aberto para que todos julgassem que ele apenas falava da festa, perguntou-lhe me voz baixa:


- O que você andou ensinando para a irmã do Ranhoso?


- Se está se referindo ao feitiço nesse colar… - Lupin sorriu, demonstrando que também percebera alguma coisa – eu sinto muito, mas não posso ajudá-lo. Tonks?


A auror atendeu ao chamado do marido, ainda acenando para a colega que encontrava alguma dificuldade em atravessar os vários grupos conversando para chegar até eles.


- Bem… - ela deu uma olhada de esguela para a amiga, e depois falou bem baixinho – Se você quer saber como ela conseguiu gravar esse aviso aí… não faço a mínima idéia.


- Que aviso?


- “Tira o olho que ele já tem dona.” E depois tem o nome “Serenna Black”. Interessante, não? E você pensando que ela não estava nem aí…– ela respondeu com uma piscadinha. – Hei, não adianta, só mulheres conseguem ler, claro, se estiverem… digamos… interessadas.


- Como você leu, então? – Remus agora ficara realmente curioso.


- Ah… eu simplesmente li. Talvez tenha sido por ter achado que você estava um gato, hoje. Com todo o respeito, primo, brincadeirinha. Ah, a O’Connor está vindo aí! – ela falou mais alto, dirigindo-se ao grupo e escapando de responder aos dois homens que agora olhavam dela para Serenna, boquiabertos, enquanto Snape sorria, pois fora o único a conseguir acompanhar a estranha conversa. Sua irmã estava conseguindo surpreendê-lo a cada dia.


- Conheci uma O’Connor no Brasil... era sobrinha de nossa professora de inglês, fazia intercâmbio. – Serenna estava dizendo, com ar saudoso e pensativo. – Ela casou-se com o…


Contudo, não pode continuar, pois mãos masculinas tamparam seus olhos inesperadamente, ao mesmo tempo que Snape lhe dizia mentalmente pra não se assustar com brincadeiras infantis de velhos amigos.


- Mas... – ela disse, contrafeita – faça-me o favor, quem é o “sem noção” que ainda pensa que tem dez anos de idade?


- Não é possível que você não reconheça as mãos que te acordaram por dois anos seguidos. – uma voz macia e velha conhecida falou num inglês quase irrepreensível, com um ligeiro sotaque à brasileira.


- Murilo! - ela exclamou, vermelha como um pimentão, enquanto levava as mãos até as que tampavam seus olhos e as baixava, virando-se para o homem ainda vestindo estilo anos 60, mas já tendo sua aparência “normal” – cabelos loiros repicados e chegando até os ombros, olhos risonhos de um tom inconfundível de verde e que sorria fingindo-se envergonhado. Então, ela entendeu porque a voz do cantor parecia familiar: era ele!


- Pelo que me lembro, era eu que quase tinha que mandar um balde de água fria em você, pra não perder o café nem a hora na faculdade!  - ela retrucou, zangada com ele, que nem se deu por achado - E, porque diabos não contou que estava em Londres e... – ela olhou para o irmão caçula que viera cumprimentar o amigo, mas parara o gesto a meio caminho, e de novo para o homem à sua frente, enquanto todos à sua volta observavam o diálogo com interesse – Como é que você pode estar cantando numa banda bruxa?


- Oi, Sarah – a voz feminina desviou sua atenção, e ela reconheceu a mulher ao lado de Tonks:


- Maggie! Você... meu Deus!


- Sou bruxa? Sim, eu sou. Mas, você sabe, Lei de Sigilo, essas coisas. Não pude falar nada, mesmo desconfiando de que você era uma também.


- Você... desconfiava?


- Sim. Mas não éramos exatamente melhores amigas, você tinha bons motivos pra me evitar, e Tia Anne me proibiu de falar algo a você. Ela sabia que você não fazia nem noção de que era uma bruxa, afinal foi sua professora por vários anos. Lembra como os gatos dela gostavam de você?


- Sim... – Serenna riu ao se lembrar dos animais estranhos da velha professora que, por mais que ela os evitasse, vinham sempre rodear suas pernas.


- Eram meio-amassos... – Maggie riu.


- Mas porque você a evitava? – Rony perguntou, sem conseguir frear a curiosidade e fazendo Serenna rir do olhar envergonhado de Hermione. Ele não tomava jeito mesmo.


Entretanto, foi André quem respondeu:


- Você não adivinhou, cara? A Maggie tirou o Murilo dela.


- Não foi bem assim... – Murilo se mexeu sem jeito, e as duas mulheres o fitaram por um segundo. Depois, olharam uma para a outra e começaram a rir...


- Homens... – Serenna comentou – Nunca crescem, isso é uma verdade universal.


- Pois é – Maggie respondeu.


O rápido diálogo e o sorriso descontraído de ambas quebrou o clima de tensão do grupo, que parecia esperar que ambas sacassem a varinha e duelassem ali mesmo...


Serenna, vendo que os outros estavam ainda mais curiosos, explicou:


- Murilo foi... meu primeiro namorado, como meus irmãos presentes já sabem... Severo o conheceu quando esteve lá em casa.


- Claro! – Murilo virou-se para Snape, como se apenas nesse momento percebesse sua presença – Olá, John! Tudo bem, cara?


- John? – os outros disseram em uníssono.


- Sr.Murilo, como vai? – Snape retribuiu, seco, sem se dar ao trabalho de explicar o nome diferente por que fora chamado, enquanto Murilo o olhava de sobrancelhas erguidas e ar de troça, pelo tratamento formal.


Serenna fitou o casal, perdida no meio de um vendaval de lembranças que vieram à tona. Mas sorriu e explicou:


- Conhecemos Maggie, quando eu estudava inglês com a tia dela. Eu já tinha terminado com Murilo, então... ela não tirou ele de mim! – Serenna enfatizou as palavras. No verão que passamos em Londres, eles se reencontraram e firmaram o namoro... Mas... que história é essa de “Dois Amassos e Um Gato”? – perguntou, desviando o rumo da conversa.


- Bem... – Murilo sorriu – São dois bruxos e um trouxa... a idéia do nome foi da Maggie. O que achou?


- Ficou interessante... Mas você podia ter escolhido outro repertório!


- O que me faz lembrar... André, ganhei a aposta! – ele exclamou de repente.


- Que aposta? – Serenna já conhecia aquela sensação de “aí vem coisa” e os fitou de olhos estreitados.


- Eu apostei com ele que você não me reconheceria, mesmo usando o velho visual de “cover” dos Bee Gees... Mas quem paga a aposta é você.


André tentou se esconder atrás da esposa, pois Serenna o encarava com fúria assassina no olhar. Harry e seus amigos, e até mesmo Snape, acompanhavam o desenrolar da conversa com atenção. A informalidade e descontração do grupo era novidade para quase todos, com exceção talvez de Carlinhos, que já convivera bastante coma família Anhanguera e sabia do jeito brasileiro de fazer as coisas.


Entretanto, Sirius era o mais curioso. Os dois brasileiros – principalmente Murilo – não haviam lhe contado tudo. Claro, se soubesse que Murilo era mais que “seu melhor amigo”, não teria se sentido tão à vontade nos vários encontros que tiveram nos últimos dias, para conversar sobre ela, sobre seus hábitos, idéias, preferências...


Enquanto Serenna discutia acaloradamente com o irmão adotivo e o ex-namorado sobre algo que queriam que ela fizesse, ele preferiu pensar nos momentos em que haviam dançado, agradecendo mentalmente por não terem lhe “entregado”.


Ele tinha a nítida impressão de que Serenna não reagiria muito bem quando soubesse que andara se encontrando com seu irmão caçula e seu “velho amigo”…


 


Luiza e Zacharias Smith haviam acabado de se juntar ao grupo e, ao se inteirar do motivo da discussão, Zach provocou Luiza com um sorrisinho irônico:


- Sem dúvida, um desafio e tanto, você não acha?


Luiza, sentindo o sangue ferver, exclamou, decidida a apoiar Serenna:


- Você chama isso de mico? Menina, depois daquele ovo frito, nada pra mim é mico suficiente... Isso é café pequeno! Quem vai transfigurar minha roupa?


Ana olhou incrédula para a amiga, depois para Serenna. As duas pareciam dizer uma pra outra: "Estamos desencaminhando a garota!" Mas a adesão de Luiza àquela loucura significava que ela também teria que fazê-lo, não poderia deixar as duas sozinhas nessa...


- Pena que Berenice não está aqui... – Serenna balançou a cabeça, dando uma risadinha nervosa. – Ela ia ficar perfeita, e sempre adorou esse tipo de performance...


- Você está enrolando, Sarah! – Murilo ria, maldoso – Essa apresentação sai ou não sai?


- Que é isso, mana? Não vai amarelar, “né”? – André também a atiçava – Afinal, pra quem fez uma roda de capoeira no Beco Diagonal, isso é “fichinha”!


- Ela fez isso? – Murilo agora é que se espantava, enquanto André lhe contava o ocorrido e a repercursão que tivera.


Serenna examinou o salão. A maioria dos que estavam ali, além do grupo formado pela família Weasley – que por si só já era uma quantidade razoável – não era o que se chamaria de “elite da sociedade bruxa”. Haviam sobrado alguns casais de aurores e outros funcionários das gerações mais novas. Afinal, era praticamente fim de festa já. Seu único receio era ter sua pequena performance registrada por quem não deveria...


Snape a tranqüilizou mentalmente. Não tinha idéia exata do que pretendiam, mas podia ficar tranqüila, Rita Skeeter não estava por ali, nem mesmo em sua forma animaga.


Com um suspiro de alívio, ela olhou para Murilo e sorriu, dizendo:


- Está bem, seu maluco. Mas só se a Maggie topar também, senão ficamos muito desfalcadas. – Vendo que a outra estava relutante, insistiu – Vamos lá, Maggie, você já fez isso antes! E já está cansada de saber que, se está casada com um do “Bando”, tem que participar das “loucuras do Bando”!


- Bando?


- Era o nome do conjunto… - Murilo piscava, divertindo-se por antecipação.


Depois de sua esposa acabar concordando, ele sorria ainda mais satisfeito, parecendo uma criança se vangloriando de uma travessura das boas, mas Serenna retrucou:


- Agora, você vai ter que se virar é para conseguir o playback.


- Tudo arranjado, gracinha. Tudo arranjado...


Sentindo-se vítima de uma armadilha premeditada, mas não podendo voltar atrás, ela chamou as amigas para trás do palco.


 


Depois de alguns minutos, estavam prontas. Murilo tomou a palavra ao microfone e anunciou um cover novo das famosas cantoras bruxas brasileiras (“de onde diabos ele tirou isso?” – pensaram elas): As Frenéticas!


E a introdução vibrante de “Dancing Days” invadiu o salão, enquanto as quatro mulheres entravam no palco, timidez esquecida em algum lugar distante dos vestidos justos pretos e dos boás coloridos, bijouterias extravantes e óculos enormes, para o que seria o mico em conjunto mais inesquecível da temporada.


Mas não cantaram sozinhas por muito tempo. A alegria contagiante da música, cuja tradução foi projetada magicamente em algo semelhante a uma tela, atingiu praticamente a todos, e agora o que se via era o grupo mais estranho possível numa pista de dança dos inesquecíveis anos 80... mas nada deixando a dever a meias de lurex em sandálias de tirinha...


  ***


hehe... pra quem não se lembra, olha a letra:


Abra suas asas, solte suas feras, caia na gandaia entre nessa festa


E leve com você seu sonho mais loouuco


Eu quero ver esse corpo, lindo, leve e solto


A gente às vezes, sente, sofre, dança, sem querer dançar


Na nossa festa vale tudo pode ser alguém como eu, como você


Dance bem, dance mal, dance sem parar


Dance bem, dance até sem saber dançar


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Gente, este foi um capítulo intensamente musical… e absurdamente viajado na maionese, mas, fazer o que? Sou mais sonoplasta do que escritora, mais maluca do que normal, hehe… e este capítulo era para ser só divertido… claro, foi modificado trocentas vezes…


Por mais que achasse delirante, morri de dó de excluir, e acabou sendo o lugar ideal para descrever a “bandeira” da Serenna…


Quanto ao “mistério do ovo” isso é lá com a Belzinha (hihi… um pequeno spoiler…)


Levaram muito susto? Prometo que… ah, não vou prometer o que não posso cumprir, hihi… Só peço que não desistam da fic por causa desse meu pequeno surto a la Lockhart e, claro, não precisa dizer que a primeira música é aquela do Top Gun, né? que o Maverick(Tom Cruise) canta no bar e a galera toda ajuda no refrão o grupo: The Righteous Brothers


aqui o link pro video http://www.youtube.com/watch?v=7827EMkm5ko

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