Alerta ou ameaça?




Júlia dormia profundamente, um sono pesado, sem sonhos. Sua mente estava totalmente vazia, nem parecia que havia passado por tantas adversidades em tão pouco tempo. Desde pequena, fenômenos assim aconteciam com ela. Quanto mais perturbador fosse seu dia, mais profundamente ela conseguia dormir. O ato de dormir era um refúgio, um descanso não só para o corpo, mas também para a alma. Uma sensação de paz tão grande que não dava vontade de voltar. Porém, uma força maior sempre a despertava, algo que dizia que ela tinha que acordar e ser ainda mais forte, porque coisas piores estavam por vir. Ela deveria estar de pé, de queixo erguido, pois só assim teria uma chance de ser livre outra vez do que estava por vir.

Ela cedeu a esta “voz” que a chamava e abriu os olhos lentamente. Aos poucos foi se lembrando do que aconteceu na noite anterior. Sentou na cama e deparou-se com um par de olhos vermelhos que a observavam. Sentiu um calafrio involuntário percorrer a espinha.

- Desculpe se a assustei – disse Voldemort saindo da escuridão que ocultava seu corpo e deixava a mostra apenas o maligno brilho escarlate de seu olhar. – Severo me contou a pouco o que houve na noite passada.Um acidente lamentável! Não agüentei a espera e resolvi vir até aqui ver se você está bem, minha querida.

- Estou bem sim – respondeu a garota pouco à vontade com a presença daquele homem. – Fico grata pela preocupação, mas quando chegamos lá o hotel já havia desabado, portanto não nos aconteceu nada. Foi apenas o choque de imaginar o número de pessoas que estavam ali e que devem ter morrido com a queda.

- Mas o que importa é que você se salvou - falou o Lorde com um sorriso maquiavélico estampado nos lábios.

Júlia não disse nada, apenas o encarou. Achou o comentário de muito mau gosto. Ela havia se salvado sim, teve sorte, mas como alguém podia reagir com tanta indiferença a morte de tanta gente inocente?

Percebendo que a garota permaneceria em silêncio, ele conjurou do nada uma bandeja cheia de comida e voltou a falar:

- Talvez queira descansar mais um pouco, então é melhor tomar seu café-da-manhã no quarto – ele entregou a bandeja e sentou de frente para ela na cama. – Seria melhor também se desta vez aceitasse ficar conosco, está mais segura aqui. Além disso, sua presença nesta casa evitará futuros acidentes trágicos como o de ontem à noite. - ao dizer isso ele se levantou e saiu do quarto, deixando a menina atônita.

- O que ele quis dizer com isso!? Terá sido um alerta ou uma ameaça? Preciso falar com Snape.

Ela se levantou, deixou a bandeja de lado, pois não sentia nem um pingo de fome e o que mais precisava naquela hora era encontrar Snape. Queria ouvir as explicações que ele havia prometido. Arrumou-se e saiu à procura do misterioso homem, a única pessoa naquela casa em quem podia confiar.

O lugar era imenso, frio e assustador. Júlia começou sua procura pelos quartos próximos ao seu, mas todas as portas estavam trancadas. Resolveu descer e procurar no andar de baixo, deparando-se novamente com portas trancadas e cômodos vazios. Se não fosse pelo estado de limpeza e conservação, e pelo fato de ter estado ali antes, ela poderia jurar que se tratava de uma casa abandonada, desabitada... não havia nenhum sinal de vida naquele lugar. Até mesmo as portas que davam acesso aos jardins da mansão estavam fechadas. Ela começou a se questionar se não havia sido presa, quando o barulho de objetos se partindo, seguido por vozes, quebraram o silêncio e o pensamento da garota.

Ela caminhou em direção às vozes. Parecia uma discussão, mas ela não conseguia entender claramente o que falavam. Quando se aproximou mais, conseguiu ver o garoto loiro, filho de Narcisa, apontando a varinha para o homem com cara de rato que tremia compulsivamente. Estavam no que provavelmente seria a cozinha da casa. Quando perceberam a presença da garota tentaram em vão disfarçar. Draco fez uma profunda reverência a Júlia e Rabicho esboçava um sorrisinho forçado e incômodo.

- Aconteceu alguma coisa? - ela perguntou enquanto observava os muitos pratos quebrados espalhados pelo chão.

- Não, senhorita. Apenas Rabicho e sua habitual falta de atenção com seus afazeres domésticos – ao dizer isso o garoto, com um aceno de varinha, restaurou todos os pratos e os recolocou num grande armário. – É um prazer revê-la, posso ajudá-la em alguma coisa?

- Sim, por favor, estou procurando o senhor Snape, sabe onde posso encontrá-lo?

Ao ouvir o nome de Snape, Draco fez uma cara de profundo desprezo, como se apenas a menção do nome fosse algo repugnante. Percebendo isso Rabicho tomou a frente do garoto e respondeu:

- Snape está em seu escritório trabalhando, mas se quiser ir até lá fica no...

- O senhor Snape é um homem de poucos amigos, senhorita – falou Draco, lançando um olhar fuzilante à Rabicho. - Mas seja o que for posso ajudá-la muito melhor que Snape, estou a sua inteira disposição.

- Fico grata, mas o que tenho a tratar só diz respeito ao senhor Snape. Porém, se quer ajudar, diga-me uma coisa: por que todas as portas que dão acesso ao lado de fora dessa casa estão trancadas e sem chave na fechadura?

_ As portas são enfeitiçadas para nossa segurança, senhorita. Estamos em tempos difíceis e não podemos facilitar. Mas se quiser dar uma volta eu a acompanho, será um prazer caminhar um pouco ao lado de uma companhia tão agradável. Além disso, assim podemos nos conhecer melhor, ontem...

- Não será necessário, Draco – falou Snape com sua voz fria. – Eu a acompanho.

Ele passou pelo garoto e por Rabicho como se ambos não existissem, murmurou algumas palavras tocando a fechadura da porta com a varinha e esta se abriu instantaneamente. Fez sinal para Júlia acompanhá-lo e saíram pela manhã fria. Mal deram alguns passos e a garota o questionou ansiosa:

- Onde estava? Procurei por você pela casa toda!

Snape não conseguiu conter seu sorriso malicioso diante da urgência na voz da menina e respondeu:

- Sentiu tanta saudade assim, meu bem?

A garota sentiu o rosto queimar.

- Não seja tolo, por que sentiria saudades suas? A única coisa que me interessa são as explicações que você me deve!

Ele a olhou de um jeito enigmático e continuou andando.

- Ei, não vai me responder?

Snape continuou caminhando em silêncio até tomarem uma considerável distância da mansão. Virou-se para Júlia e disse:

- Agora podemos falar sem correr o risco de sermos ouvidos. Diga-me, o que a senhorita anseia tanto em saber?

_ Como assim o que eu quero saber? – respondeu a garota irritada com toda aquela demora.

– Você me deve explicações sobre que houve ontem à noite, sobre quem eram aquelas pessoas e por que fizeram aquilo. Você tem que me dizer como faço para sair daqui!

- Calma, menina! Quantas perguntas de uma só vez! Responderei a cada uma delas, mas antes me diga uma coisa, por que quer tanto ir embora?

- Isso não é da sua conta - respondeu a garota rispidamente.

- Tsk, tsk, tsk... para quê tanta agressividade? - falou Snape com suavidade. A crescente irritação de Júlia o divertia. “Como fica linda irritada” - ele pensava.

- Eu preciso sair daqui – disse a garota tentando manter a calma. – Preciso entender o que está acontecendo. E tenho que encontrar uma pessoa.

- Explicarei tudo o que quiser, mas quem você tanto procura?

- O assassino de Dumbledore.

Snape teve um choque, novamente a sensação de que um punhal lhe atravessava o coração tomou conta de seu ser.Apesar disso, não demonstrou o que sentia, afinal era perito em ocultar seus sentimentos.

- Posso saber o que a senhorita quer com um assassino?

- O que você acha? Vingar a morte de Dumbledore, é claro!

- Todo o Ministério da Magia está a procura deste homem, e até agora ninguém o encontrou. Acha mesmo que uma menininha vai conseguir achá-lo e destruí-lo?

- Acho que o senhor não deveria subestimar essa m-e-n-i-n-i-n-h-a! Não me conhece, senhor Snape, não sabe do que sou capaz.

Júlia falava com tanta convicção, com tanta força no olhar que Snape teve certeza de que estava diante de uma bruxa muito mais poderosa do que todos imaginavam, embora ela fosse tão jovem. Concluiu, embora contra a sua vontade, que não deveria subestimá-la mesmo.

- Mas se não pode me ajudar farei tudo sozinha – a garota continuou falando com certeza na voz e brilho no olhar. – Vou embora agora mesmo.

Ela se virou e começou a caminhar em direção a única estrada que passava perto daquele lugar, mas mal deu alguns passos e foi impedida por Snape. Ele agarrou seu braço com força e a puxou para perto de si.

- A senhorita não vai a lugar algum – eles estavam perigosamente próximos. – E é melhor parar de bancar a heroína e se preocupar primeiro em salvar esse seu lindo pescocinho...

Snape sentia o calor da pele dela, sentia suas respirações cada vez mais ofegantes, seu coração batendo cada vez mais forte.E sentia uma vontade louca de beijá-la.

- Ai – gritou ele, olhando em seguida para a mão que prendia o braço de Júlia e que agora tinha uma feia queimadura. – O que você fez garota?

- Nunca mais me toque desta maneira! - ao dizer isto ela se virou e voltou para a mansão.

- Por Merlim – falou o homem observando a garota se distanciar.- Preciso me controlar!


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