A explosão
Júlia havia subido para trocar de roupa. Achava que chegar ao hotel vestida como bruxa chamaria a atenção dos trouxas que ali se hospedavam ou viviam.
Enquanto isso, Snape e Voldemort a esperavam no hall da mansão.
-Tenho uma tarefa para você, Severo – disse o Lorde, quebrando o desconfortável silêncio. - Quero que escolte minha filha até o lugar onde ela está hospedada. E se houver algo, digamos... estranho, volte para cá com ela imediatamente.
Snape ficou surpreso com o pedido de seu mestre. Afinal, ele mesmo havia lhe dito para não se expor, já que a esta altura todo o Ministério da Magia devia estar a sua procura.
- Com todo respeito, Milorde – ele hesitou um pouco, mas continuou. – Não seria melhor mandar alguém menos...bem...menos procurado? Afinal, os aurores...
O Lorde riu, encarou seu servo e disse:
- Não. Você vai. É o melhor para isso.
Snape pensou em argumentar, mas teve seu pensamento interrompido pela chegada de Júlia. Ela estava realmente feliz por sair dali. Embora tudo tivesse corrido bem, mesmo que seu encontro com esta nova “família” não fosse de todo ruim, a estranha sensação de aperto no peito a acompanhou o tempo todo e ela sabia que devia sair daquele lugar e não voltar lá tão cedo.
- Já percebi que não adianta insistir. Você não quer ficar com seu velho pai – lamentou Voldemort.
Ela apenas sorriu, não disse nada. Queria logo sumir dali.
- Bom, então Severo irá acompanhá-la. Não, não adianta – falou o Lorde percebendo que a garota estava pronta a dizer que não havia necessidade de ser acompanhada. - Ele irá com você, estamos em tempos muito perigos. Não quero minha menina andando por aí sozinha.E prometa que virá ver seu pai mais vezes, já passamos muito tempo separados.
- Virei, sim – respondeu sem sinceridade. – Bem, foi um prazer conhecê-lo.
- O prazer foi todo meu, querida - ele segurou a mão da filha, fez uma profunda reverência e tocou-a levemente com os lábios.
Julia e Snape saíram pela noite escura. Pairava no ar uma névoa fina e fazia um frio atípico para aquela estação do ano. Voldemort os observava pela janela e assim que se afastaram um pouco chamou Rabicho. O homem de olhinhos miúdos e lacrimosos se aproximou com um sorriso incomôdo e temeroso.
- Dê-me o seu braço - ordenou o Lorde.
Imediatamente ele esticou seu braço esquerdo, tremendo visivelmente. Lá havia, tatuada a fogo, a Marca Negra. Voldemort tocou-a com a varinha e cinco Comensais vieram ao seu encontro.
- Agora, Rabicho, encontre Belatriz, e diga que estou esperando em minha sala – sem esperar uma segunda ordem, ele subiu com pressa as escadas que davam acesso aos quartos da mansão.
O Lorde se voltou para seus servos com um sorriso que tornava suas feições ofídias ainda mais apavorantes.
-Tenho uma missão muito importante para vocês. Ouçam...
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A caminhada pela noite fria curou a “bebedeira” de Snape. Ele começou a se perguntar o que aquela garota teria de tão especial. Preocupou-se com a segurança dela, pois durante todo o jantar percebeu nos olhos de Voldemort um brilho estranho cada vez que a olhava. Isso com certeza não era um bom sinal, pelo menos para ela. Além disso, havia o esforço e a insistência de Dumbledore em protegê-la, o que Snape prometeu a ele que faria. E, pensando nesta promessa, resolveu afastar todos os pensamentos e desejos que ocupavam sua mente desde que a viu naquela gruta. Embora isso parecesse cada vez mais impossível de se fazer.
Eles caminharam um bom trecho em absoluto silêncio. Até que Júlia soltou um profundo suspiro.
- Algum problema? - perguntou Snape.
- Não...isto é, acho que não.
Ela se lembrou que este homem que a acompanhava, segundo o que dissera seu pai, trabalhou em Hogwarts por muito tempo. Pensou que talvez ele pudesse lhe dar alguma informação sobre a identidade do assassino de Dumbledore. O que ela jamais poderia imaginar é que estava diante do assassino em pessoa.
- O senhor trabalhou muito tempo em Hogwarts? - resolveu perguntar.
Snape fixou seus olhos frios e escuros nos belos olhos negros de Júlia, e encontrou a mesma dificuldade de seu Lorde para ver algo na mente dela. “Uma grande Oclumente” – constatou antes de responder.
- Por dezesseis anos.
- E estudou lá também?
-Sim - respondeu Snape com medo do rumo que esta conversa poderia tomar.
- Então deve ter conhecido Dumbledore muito bem. Ele era um homem incrível, não acha?
A simples menção deste nome fez Snape sentir uma dor profunda. Foi como se vários punhais perfurassem seu coração. Ele jamais se conformaria com o que fez. Era a segunda morte que carregaria com grande pesar.
- Sim, ele era um homem realmente incrível.Vamos aparatar aqui – disse para encerrar aquele doloroso assunto.
Eles apareceram a duas quadras do hotel onde Júlia estava hospedada. Snape observou o lugar, percebeu que estava tudo deserto e voltou a caminhar. Agora dava passos maiores e mais rápidos, sua longa capa de viagem esvoaçava às costas. Mas de repente, ele se seu conta de que estava sozinho. Olhou para traz e viu Júlia parada exatamente no lugar onde desaparataram. A menina não dera um passo desde então. Ele voltou e a examinou atentamente. Ela estava muito pálida.
- Aconteceu alguma coisa? – perguntou, intrigado.
- Sim – ela respondeu, olhando assustada para ele. – Tem algo estranho aqui, eu posso sentir. – As ultimas palavras foram ditas quase num sussurro, o que provocou um calafrio em Snape.
- Não tem nada aqui, pode ficar...
Mas antes que concluísse a frase ele ouviu alguns estalos, e cinco pessoas encapuzadas se materializaram em frente ao hotel ao qual eles se dirigiam. Comensais da Morte! Snape se perguntou o que seus companheiros faziam ali. Júlia espantou-se com aquilo, ela não sabia quem eram aqueles homens, mas percebeu que não era um bom sinal.
Os cinco Comensais apontaram suas varinhas para o prédio. Em seguida houve um grande lampejo vermelho, um barulho terrível, e a construção desabou ao chão. A explosão causou um grande temor nos arredores, fazendo Júlia e Snape caírem, mas o homem ainda teve tempo de protegê-la com seu corpo, formando um escudo para que nada a atingisse.
Passados alguns minutos, Snape levantou um pouco seu corpo e observou Júlia. Ela o encarava.
- Você está bem? – perguntou, sinceramente preocupado.
- Estou, mas você...
Ela viu um feio e profundo corte na testa de Snape. Então levou a mão até o rosto dele. Aquele leve toque foi como uma onda eletromagnética percorrendo pelo seu corpo. Sentiu um arrepio, que com certeza não era conseqüência do frio que fazia naquela noite. Levantou-se depressa, antes que cometesse uma insensatez, deixando a mão de Júlia suspensa no ar.
- Levante – disse ele, ajudando a menina a ficar de pé. - Tem certeza que não está machucada?
- Quem eram aqueles homens? - ela perguntou sem dar importância ao que Snape estava falando. – Por que fizeram aquilo? O hotel estava lotado! Não deve ter sobrevivido ninguém! Se estivéssemos mais perto estaríamos...
- Escuta – disse Snape, interrompendo a menina. – Vamos voltar para a casa de seu pai. Depois te explico o que houve. Não é seguro ficar aqui.
Então Snape segurou o braço de Júlia e aparatou na mesma estrada de onde saíram. E, contra a vontade da jovem, estavam novamente a caminho da mansão do Lorde Das Trevas.
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