Planos arriscados
Draco assitia à cena mudo e perplexo. Não tinha conhecimento daquela intimidade entre os dois e por alguma razão sentia-se atraiçoado.
>O Malcolm disse que não se importava de ser o nosso intermediário, Draco. Para ser sincera pensei nele desde o início porque afinal um feitiço de juramento requer conhecimentos de magia avançada.
O rapaz moreno sorriu satisfeito para Quim e lançou-lhe um olhar cheio de segundas intenções ao qual a rapariga correspondeu delicadamente antes de olhar para Draco.
Este estava cada vez mais irritado e pela primeira vez até então não conseguiu esconder um humor carrancudo. Quim estava decididamente a flirtar com o outro mesmo em frente do seu nariz e isso perturbou-o mais do que ele gostaria de admitir.
>O juramento não pode ser feito sem o meu consentimento.
Disse Draco olhando significativamente na direcção dos outros dois.
>Não tens outra hipótese. Não te esqueças que eu ainda posso ir contar tudo ao Prof Snape e quem sabe talvez ao próprio Dumbledore.
Salientou a rapariga estreitando os olhos na sua direcção e baixando a voz.
>Então vamos ou não?
Macolm parecia não apreciar os olhares que os outros dois trocavam.
>Draco?
>Sim, pelos vistos não tenho outra hipótese não é?
Quim sorriu afirmativamente e seguiu Malcolm através do buraco da fechadura.
>Felizmente hoje é o último dia de visitas a Hogsmead não é verdade? Assim podemos realizar o feitiço sem disparar os alarmes do castelo!
Assentiu Quim como se estivesse a comentar as boas condições climatéricas para esse dia.
Malcolm, reparou Draco com algum desagrado, caminhava demasiado perto dela e ainda a olhava daquela maneira estranha de à pouco. Enquanto isso ela não parecia tentada a afastar o rapaz, pelo contrário incentivava a que ele continuasse.
Sem saber bem porquê Draco enfiou-se no meio dos dois conversando sobre banalidades. Nunca tinha participado de uma visita a Hogsmead tão estranha como aquela.
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Reuniram-se os três atrás de um edificio velho na última rua de Hogsmead. Aquele sítio estava deserto e por isso era ideal para o efeito.
>Vocês têm de se ajoelhar e dar as mãos.
Ordenou Malcolm aos outros dois que se apressaram a cumprir as suas indicações.
As mãos de Draco estavam geladas mas talvez fosse só do frio pensou Quim. Draco pelo contrário, achava que ela estava agradavelmente quente e por isso envolveu com força as suas mãos nas dela. Os seus olhos brilhavam com intensidade como uma expansão do cinzento das nuvens que tapavam o sol daquele dia de inverno.
Malcolm apontou a varinha para as mãos entrelaçadas dos dois.
>Draco Malfoy, juras perante mim que não vais tentar um feitiço negro para magoar, manipular ou pôr em risco a vida de Quimera Merrigott?
Draco mergulhou fundo nos olhos expectantes da rapariga e sem hesitar disse:
>Eu juro.
Um rio de luz como uma corda luminosa saiu da ponta da varinha de Malcolm e entrelaçou-se com as mãos deles.
Quim sentiu uma sensação de segurança reconfortar-lhe o espírito e Draco observou uma estranha força crescer dentro de si, forte o suficiente para se sobrepor à sua vontade.
>Podem levantar-se.
Confirmou o rapaz de cabelos negros visivelmente aliviado.
>Vocês sentiram o poder do feitiço? Ainda tenho as pernas a tremer.
>Sim, mas tu estiveste muito bem!
Ela abraçou o rapaz que corou um pouco antes de passar os braços pela cintura da rapariga e afagar os seus cabelos castanhos. Draco sentiu que caso ele não estivesse ali provavelmente eles tinham-se beijado.
>Que bom saber que depois disto tenho a vossa inteira confiança.
Disparou o rapaz loiro com cinismo na direcção dos outros dois.
>Bem isto ajuda um bocadinho mas tu continuas o mesmo Draquinho.
Disse Quim com ares de gozo.
>E que tal irmos beber qualquer coisa para comemorar?
>Boa ideia Malcolm. Vens Draco?
>Claro, se é por conta do Malcolm até pulo.
Entraram no «Três Vassouras» e Madame Rosmerta veio atender quase de imediato.
>Boa tarde, o que desejam meninos?
Ela olhou directamente para Draco. Quim achou aquilo um bocado estranho mas acabou por culpar a boa aparência do rapaz em primeiro lugar. Draco esboçou um sorriso afectado e olhou interrogativamente para Quim.
>As senhoras primeiro.
>Obrigada, então eu quero uma cerveja de manteiga. E tu Malcolm?
>O mesmo.
>Então são duas cervejas de manteiga e um copo de Fire Wisky.
Resumiu Draco enquanto a mulher anotava o pedido rapidamente e desaparecia entre as outras mesas na direcção do balcão.
>Não acredito que ela aceitou o teu pedido Draco.
>Porquê princesa?
>Tu sabes que não se pode vender bebidas alcoolicas a alunos de Hogwarts.
>Então se calhar ela não resistiu ao meu charme e aos meus vários encantos.
Draco piscou para Malcolm que se riu baixinho.
>Pois, está bem. Vocês dois estão muito estranhos.
Quim não continuou porque a mulher tinha voltado com as bebidas e distribuia os copos pelos ocupantes da mesa. Quando ela ia pousar o copo de Draco, Quim segurou-lhe o pulso.
>Deixe estar Miss Rosmerta, nós sabemos muito bem que isso não nos é permitido.
A mulher piscou os olhos incompreensivelmente na direcção de Draco. Ele assentiu olhando furiosamente para Quim antes de mandar o wisky para trás e pedir uma cerveja de manteiga como a dos outros.
>Porque é que fizeste isso?
>Como é que conseguiste que ela te trouxesse wisky?
>Pronto, parem com isso por favor. O dia está a correr tão bem...não vale a pena discutirem.
Malcolm acabou com a conversa mas não conseguiu evitar que aqueles dois se atacassem com olhares venenosos.
>Onde está a minha varinha Merrigott?
>Num sítio seguro. Até aposto que ela preferia ficar nas minhas mãos a regressar para o dono tirano.
>A vida dela é muito mais excitante nas mãos deste “dono tirano”.
>Por favor, não me faças rir. Floberworms têm existências com mais significado que a tua Malfoy.
Os olhos de Draco reduziram-se perigosamente a duas linhas prateadas e os músculos da sua cara retesaram-se.
>Isso é o que nós veremos.
Disse ele pronunciando vagarosamente cada palavra como se para acentuar o efeito da frase.
>Argh, realmente estar com vocês em conjunto é saturante. São muito mais agradáveis em separado do que aos pares.
Quim e Draco calaram-se e desviaram o olhar em silêncio. Logo de seguida ela iniciou uma conversa sobre técnicas de Quidittch com Malcolm.
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De volta ao castelo, Quim tirou a sua varinha e uma pena castanha com aspecto estranho do seu bolso. Com a ponta da sua varinha a rapariga transfigurou a pena na sua forma original e devolveu-a ao seu dono.
>Então era assim que tu tinhas a minha varinha.
Resmungou Draco um pouco incomodado com a esperteza da rapariga.
>Achei que era uma boa ideia.
Explicou Quim para os dois rapazes enquanto tirava o manto e se sentava num cadeirão em frente a uma lareira.
Crabbe e Goyle chamaram Draco para junto deles e ela ficou a sós com Malcolm. Ele puxou o seu cadeirão para a frente para ficar mais perto da rapariga. Os seus olhos negros analisavam apreciativamente os traços delicados do rosto dela.
Quim fingiu não se aperceber de nada e puxou a sua mala cheia de livros para o colo tirando um exemplar particularmente massudo de Aritmancia para fora preparou-se para começar a ler a primeira página.
>Tenho tantos livros para estudar e ainda não fiz aquele trabalho de cinquenta centímetros de pergaminho que o Snape pediu...
Mas ela não chegou a concluir a frase, Malcolm tinha acabado de lhe tirar o livro das mãos para deixa-lo em cima da mesa de apoio ao seu lado.
>Sabes poque é que eu aceitei ajudar-te Quim?
A rapariga manteve-se silenciosa e tentou aguentar uma expressão neutra. Malcolm segurou-lhe a mão direita e sem desviar o olhar do dela colou os lábios nos nós dos seus dedos.
>Eu sinto-me atraído por ti e quero que fiques comigo.
Resumiu o rapaz no seu tom técnico de sempre. Mas os seus olhos negros acenderam com o fervor que faltava às suas palavras. Pareciam dois carvões em brasa incandescendo nas cinzas de uma lareira escura.
Ela passou a mão pelo cabelo negro do rapaz, era áspero. Depois olhou na direcção de Draco.
Ele tinha deixado os dois companheiros para estar com Pansy e ela parecia muito feliz com isso. Quim voltou-se de novo para Malcolm para lhe dar a resposta:
>Então hoje estás cheio de sorte.
No mesmo instante ele segurou-a pelo pescoço para um beijo frio.
Quando acabaram ela olhou para Malcolm que lhe pareceu satisfeito consigo próprio. Mas ela não tinha sentido nada de especial. Era como beijar um espelho onde não havia a intimidade que sentira com Blaise ou o calor de Draco.
Depois do beijo ele não procurou abraça-la nem lhe disse uma palavra carinhosa em troca. Limitou-se a devolver-lhe o livro que lhe tinha arrancado das mãos à pouco.
>Bem, penso que tens leitura para pôr em dia não é?
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Blaise apanhou um susto valente quando acordou na manhã seguinte e todas as suas roupas estavam espalhadas pelo chão em frente à sua cama. Muitos dos seus pertences também estavam fora do lugar.
Ele verificou tudo e chegou à conclusão que o único objecto em falta era o colar de ouro com o pendente, o que fazia sentido para um ladrão visto que era a coisa mais valiosa que ele possuia consigo, para além da sua nimbus 2001.
>Então a única coisa que te falta é a jóia? Deixaram o resto para trás?
Perguntou Ostricia com o sobrolho franzido enquanto penteava o cabelo suave do rapaz com os dedos. Ele estava recostado contra o seu corpo como já lhe era hábito.
>Sim, e nenhum dos outros viu quem foi. Apareceu durante a noite e não fez barulho. Acho que vou levar o caso ao Dumbledore.
>Não querido, não vale a pena. Acho que já sei quem foi.
Ele levantou os olhos cor de avelã para os olhos negros da namorada que sorria afectadamente.
>Suspeitas de algum Slytherin?
>De uma Slytherin, para ser mais exacta.
Blaise endireitou-se e observou os olhos inteligentes da rapariga que ele tinha aprendido a adorar quase de um dia para o outro e que agora não lhe saíam da cabeça.
>Quem?
>Quimera.
Ele fez um ar entre o chocado e o incrédulo. A rapariga limitou-se a abanar a cabeça na sua direcção.
>Não sejas tão ingénuo Blaise. É óbvio que a miúda se tentou vingar de nós desaparecendo com o que tu mais estimas.
>Não sei. Não me parece que ela chegasse a esse ponto. A Quim não é uma pessoa rancorosa.
>Vê-se que não a conheces tão bem como eu querido.
>Em todo o caso vou falar com o Prof Snape e explicar-lhe a situação.
>Posso ir contigo Blaise?
>Claro que sim Trix.
E com isto Blaise afagou o cabelo dela fraternalmente e abriu caminho entre os seus lábios. A rapariga aconchegou-se nos seus braços. Estava verdadeiramente apaixonada por ele.
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“Precisamos de falar urgentemente. Encontra-te comigo às oito horas na sala do requerimento. Draco”
Quim queimou o pedaço de pergaminho que acabara de ler. Não queria deixar provas para trás.
Na sala comum Malcolm estava bastante impaciente.
>Demoras sempre tanto tempo para descer Quim?
>Só de vez em quando
Ele deu-lhe um beijo ao de leve nos lábios antes de a puxar consigo para o corredor um tanto apressado.
>Calma Malcolm, afinal vamos jantar ou treinar para uma maratona?
>Desculpa?
Ele fez-se de desentendido e Quim suspirou em resposta:
>Nada, esquece.
Mas o caminho que eles estavam a fazer não era o que levava ao salão principal. O rapaz parou uns andares acima em frente a uma porta ao lado de uma grande estátua. “Olá Gregório” pensou Quim enquanto olhava para a enorme figura.
>Quim, o jantar pode ficar para depois não é?
>Que remédio!
Disse ela com um sorriso antes de entrar na sala escura atrás de Malcolm. Ele estava mais entusiasmado naquele momento do que estivera na noite do seu primeiro beijo.
>Ah, Quim.
Murmurou o rapaz perto do ouvido dela enquanto a enlaçava com força pela cintura com uma mão e afastava os seus cabelos longos com a outra.
O abraço era tão apertado que Quim chegou a ter dificuldade em respirar. Malcolm era mais forte do que aparentava embora fosse pouco mais alto que ela e relativamente magro.
Desta vez os beijos foram mais apaixonados mas faltava sempre aquele calor que a invadiu por dentro das outras vezes.
Como sempre ele parecia alheio à aparente falta de emoção por parte da companheira e gozava o momento.
No final daquela sessão de amassos, Quim sentia-se nauseada. As mãos dele eram sempre tão frias que ela as conseguia sentir mesmo através da roupa grossa.
As marcas que ele lhe deixava no pescoço envergonhavam-na e por isso usava sempre golas altas. O seu relacionamento com aquele rapaz era mesmo horrível pelo menos para ela porque Malcolm parecia sempre no sétimo céu.
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Jà passava uma hora das oito da noite quando Quim chegou finalmente à sala do requerimento.
Draco estava estendido no sofá de olhos fechados. Ela aproximou-se devagar mas ele já a tinha escutado.
>Isso é que é ser pontual Merrigott.
>Eu estive ocupada até agora. Vim assim que pude.
O rapaz voltou-se imediatamente na sua direcção e estreitou os olhos com malícia.
>Imagino...
>Afinal porque é que me chamaste aqui?
Ela queria ir directa ao assunto sem ter de responder ao comentário maldoso de Draco.
>Queria explicar-te porque é que eu estou a trabalhar nesta cabine de ligação.
>Está bem.
Quim sentou-se ao lado do rapaz pronta a ouvir a sua explicação.
>Podes começar.
>Tu se calhar não conheces a minha família para além do facto geral do meu pai ser um comensal e estar neste momento preso em Azkaban. Também deves saber que a nossa casa foi revistada por Aurores do Ministério e que eles apreenderam muitos artefactos relacionados com magia negra. Ei sei que isto não dá uma perspectiva colorida à minha vida, muito pelo contrário. Mas sabes que mais? Este mundo está cheio de coisas horríveis e de gente ainda mais assustadora. Eu vivi desde sempre rodeado por gente com essas ideias e nunca me deram a oportunidade de escolher se queria ou não fazer parte do mundo obscuro da magia, isso também se passou com os meus pais. No fundo eles querem o melhor para mim e eu só preciso de saber que eles estão sãos e salvos. Acontece que no inicio deste ano lectivo o Lord negro mandou-me executar um trabalho para ele. E sabes o que ficou em jogo? A minha vida e a vida dos meus pais.
>Draco isso é muito grave. Porque é que ele te escolheu a ti?
>Porque ninguém em princípio vai desconfiar de um simples aluno do sexto ano. Desde então eu tenho sido um instrumento nas mãos dele. Ele ordenou-me que arranjasse a cabine e aqui estou eu.
>Mas e Dumbledore? Não lhe podes contar sobre isto? Ele de certeza que te ajudava Draco.
>Não tenho dúvidas disso Quim, mas depois os meus pais acabavam por pagar a minha traição. Eu não conseguia viver com isso na minha consciência.
>É uma situação muito grave. Tu ao menos sabes para que é que aquele cujo nome não deve ser pronunciado precisa destas cabines?
>Sim. Ele planeia introduzir comensais da morte em Hogwarts.
Quim empalideceu por completo sob o brilho cinzento dos olhos dele. Aquilo era mais grave do que ela alguma vez sonhara.
>Para... para matar os alunos??
>Não. Acho que o alvo é o director.
Draco observou a reacção no rosto lívido da rapariga. Ela estava verdadeiramente horrorizada.
>Mas não pode ser. Dumbledore é um dos magos mais poderosos do mundo mágico neste momento, se não for o mais poderoso.
Ao ouvir isto foi a vez de Draco perder toda a cor do rosto.
>Então deve ser por isso não é? Para enfraquecer as defesas do Ministério, alimentar o pânico, a histeria e sobretudo o medo entre os mágicos.
Ele parou para inspirar profundamente. Quim sabia pelas suas palavras que o rapaz já tinha pensado naquilo bastantas vezes.
>Tu e eu somos, neste momento, as únicas pessoas dentro de Hogwarts com conhecimento deste aparelho e deste local. Não podes falar disto a ninguém Quim tens de me prometer.
>Eu prometo Draco. Mas essa decisão compete-te a ti, não a mim.
>O Lord é capaz de acabar com a minha família se eu não descobrir uma maneira de fazer esta porcaria trabalhar.
>E se tu conseguisses ele ia saber e ia enviar os comensais?
>Sim.
>Então Draco, e se quando tu arranjasses isto também avisasses o Dumbledore do ataque? Assim, quando os comensais tentassem entrar em Hogwarts eram logo detidos pelos Aurores.
>Mas e os meus pais?
>Também tinhas de os avisar. Vocês podiam ajudar a capturar os aliados daquele cujo nome não é pronunciado.
Draco suspirou com cansaço. Ela era uma sonhadora, não fazia ideia da complexidade do problema e insistia em ignorar o verdadeiro poder do Lord, como a maioria das pessoas fora do círculo negro.
>Pois, mas o único problema é que eu nunca vou conseguir reparar esta droga de aparelho.
De repente Quim resplandeceu com um sorriso. Draco olhou para ela confuso e sombrio.
>Eu sei como reparar esta máquina. Foi a última coisa que o pendente me revelou antes do Blaise o levar de volta.
O rapaz aproximou-se dela como se não acreditasse no que estava a ouvir.
>O quê?
>Draco tu sabias que foi o Dr. K. Malfoy XI quem escreveu o livro que tu roubaste da biblioteca sobre as cabines de ligação? E que também foi ele que as inventou?
>Estás a gozar, só podes!
>Não, é verdade é mesmo a sério. Nunca leste a biografia do teu avô?
>Claro que sim! Mas não tinha nada sobre cabines de ligação.
>Ás vezes é preciso saber ler nas entrelinhas. Segundo a biografia, quando era novo o teu avô interessou-se pelos mecanismos muggles que estavam a surgir e decidiu combiná-los com novos encantamentos, criados a partir de construções complicadas. Se ele os tivesse misturado então teríamos uma explicação para as primeiras cabines de ligação do mundo!
>Quer dizer que só o meu avô pode reparar esta coisa? Mas ele está..
>Eu sei que ele já não é vivo mas pensa bem Draco. Ele deve ter deixado apontamentos ou arranjado outra maneira de conservar as suas memórias.
>Sim, ele de facto tinha a mania de guardar tudo o que era seu. Por causa dele temos o sótão da mansão cheio de tralhas...
>Oh! Draco já sei! Será que ele tinha uma penseira?
>Que eu me lembre o meu avô sempre teve pelo menos umas três penseiras em casa, cada uma com memórias e pensamentos de diferentes fases da sua vida. Mas as penseiras mais antigas não estão em Londres...nem sequer estão no Reino Unido.
A felicidade foi arrancada do rosto de Quim com mais rapidez do que tinha aparecido em primeiro lugar.
>Não estão?? Mas então aonde..
>É simples. O meu avô nasceu e foi criado em França na velha mansão da família. Consta que os meus bisavós arranjaram problemas com o Ministério Françês porque insistiam em lançar o vampiro da família contra os muggles que tentavam espreitar pelas janelas da mansão. Eles eram muito aristocráticos e orgulhosos e não levaram a bem o mandato de captura do dentuças. Acho que nessa altura isso constituia uma ofensa muito grave a uma família de sangue puro. E foi assim que os Malfoy levantaram toda a fortuna e se mudaram para o Reino Unido.
>Oh, mas que história encantadora. Dá para ver de onde herdaste o teu encanto pessoal e capacidade de socializar.
Disse Quim em tom de brincadeira. No entanto ao notar que o rapaz não achava graça a brincadeiras que envolvessem a história dos Malfoy, ela recompôs o tom sério da conversa.
>E a Mansão antiga da tua familia ainda existe?
>Sim todos os anos os Malfoy passam uma temporada em Paris para não deixar a casa em desuso. Os elfos domésticos tendem a ficar enferrujados sem a devida presença dos seus donos.
Ela teve de se controlar para não revirar os olhos em sinal de enjoo. Manter elfos domésticos era tão primitivo até para familias antigas. Na sua família, por exemplo, havia um elfo mas ele era livre há muito tempo.
>Então deixa ver se eu percebi: se nós quizéssemos espreitar para a penseira mais antiga que guarda as memórias dos vinte anos do teu avô tinhamos de ir a Paris até essa mansão. Tu ao menos tens a certeza do que estás a dizer?
>Absoluta. Já agora, quando é preciso viajar para o estranjeiro a minha família decide sempre utilizar pó de floo super-potente e uma lareira internacional na estação de King’s Cross.
>Essas lareiras são super vigiadas. Em menos de três tempos os teus pais apanhavam-te.
>Também há as vassouras.
>Para ir até tão longe?? Morrias gelado a meio do caminho com a altitude que tinhas de tomar para não seres visto por muggles...muggles! É isso mesmo! Podias ir num transporte muggle chamado avião. Eu já experimentei e é fabuloso, eles levam-te até todas as partes do mundo pelo ar sem sequer utilizarem magia. Não é o máximo?
>Transportes muggles que andam pelo ar sem magia são perigosos Merrigott. Fartam-se de cair, e quando não caiem é porque se despenham contra montanhas ou se perdem no oceano.
>Que exagero Draco. Aposto que tu só olhas para a parte negativa das invenções muggles.
>Mas eles têm alguma coisa positiva??
>Que engraçadinho.
>Mas olha que a tua ideia não é nada má. Tu já andaste numa dessas traquitanas?
>Sim. O meu tio Pandoro levou-me com ele quando eu tinha treze anos nesse transporte até Roma contra a vontade dos meus pais que utilizaram os meios tradicionais com pó de floo super-potente. A nossa viagem foi muito mais demorada mas eu lembro-me de ter sido sobretudo muito divertida.
>Uma família de feiticeiros antiga não se deve misturar com muggles.
Criticou Draco como se a ideia de bruxos de linhagem pura ficarem com muggles fosse simplesmente inconcebível.
>Pois, tenta convencer o tio Pandoro disso, ele já vai na sua segunda esposa muggle.
Riu-se Quim para perante a expressão escandalizada do jovem loiro.
Draco franziu o sobrolho com gravidade. Ele não conseguia perceber o fascínio que poderiam exercer seres tão enfadonhos e imprestáveis como os muggles.
>E como é que se viaja numa coisa dessas?
>Primeiro precisas de ter um passaporte em dia.
>Sim eu já sei o que são. Uns papéis oficiais facilmente adulterados e falsificados com um simples toque de varinha.
E pela segunda vez Draco pareceu verdadeiramente entusiasmado com a ideia. Ficou ainda mais satisfeito quando a rapariga abanou a cabeça muito séria recusando aquela hipótese.
>O ministério proibiu que os bruxos fizessem isso, para bem do mundo mágico e do mundo muggle.
>E quem é que se importa com o que o ministério faz ou deixa de fazer? Qualquer loja que se preze da travessa Knokturn faz identidades muggles perfeitas por encomenda, a pesar dos nomes falsos que eles arranjam deixarem muito a desejar.
Quim sondou o rosto dele de olhos arregalados. Ela sabia que era costume conseguir todo o tipo de materiais ilegais naquele sítio da Diagon-Al e sem dúvida que Draco era um cliente assíduo.
>Bem, tu só podes viajar de avião sozinho quando és maior de idade e como só tens dezessete anos isso complica-se. Se calhar uma identidade falsa com dezoito anos até te dava jeito.
Ele acenou afirmativamente com impaciência.
>Isso é fácil e que mais?
>Bom, precisas de dinheiro muggle, como é óbvio para comprar o bilhete de avião. Quando tiveres o bilhete só precisas de ir até ao aeroporto, levar as bagagens contigo até à zona de check-in e procurar a porta que corresponde ao teu vôo. A seguir as coisas ficam mais fáceis, só tens de esperar que te encaminhem para dentro do avião, sentar e aproveitar a viagem. Umas horas depois chegas ao teu destino.
>O avião pára em frente da mansão?
Quim conteve-se para não desatar às gargalhadas.
>Não, que ideia! O avião aterra no aeroporto de Paris e daí podes chegar a casa apanhando outro transporte para esse efeito.
>Isso soa muito complicado para se pôr em prática sozinho. Tu é que podias vir comigo Merrigott, as despesas com a viagem e o alojamento ficavam por minha conta, é claro.
>Eu? Impossível, os meus pais proibiam-me, estou mais que certa, de voar para fora do país ainda por cima em transporte muggle e na tua companhia... não leves a mal.
Os seus olhos cinzentos brilharam intensamente e Quim não pôde deixar de achar o entusiasmo do rapaz extremamente adorável. No seu íntimo ela adorava poder participar naquele plano doido. Draco prosseguiu mais lentamente.
>Mas eu não penso contar nada a ninguém tampouco aos meus pais. Nós podíamos aproveitar o último fim de semana de aulas só que quando chegássemos a Kings Cross, em vez de irmos para casa como os outros apanhavamos o tal transporte muggle para Paris, passávamos o sábado e o domingo na cidade das luzes e voltava-mos segunda de manhã. Aos nossos pais dizíamos que tinhamo-nos atrasado em Hogwarts por causa de uns amigos e pronto!
>Há, há, há, fala sério Draco, tu não pensas mesmo que seria assim tão fácil não é?
>Ás vezes os planos mais simples são os que têm melhores resultados...pensa nisso. Tens até sexta-feira da próxima semana para te decidires, é o dia da viagem para Kings Cross. Sem a tua ajuda eu não tenho hipóteses princesa.
>Eu prometo que vou pensar no assunto está bem assim?
>Para mim serve perfeitamente!
>Bom então diz-me as horas. Acho que já deve passar da meia noite e ainda temos de andar muito pelo castelo até chegar lá abaixo.
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>Com quem é que vais à festa de Natal do Slugworn?
>Com o Malcolm.
>Eu e o Draco não vamos, não temos convite.
>É pena.
Quim estava a arranjar-se para outra festa do Slug Club. Os brincos de diamante brilhavam muito à luz amarela dos candeeiros do quarto sob as madeixas douradas do seu cabelo.
>Adoro o teu vestido.
Disse Pansy com um toque de despeito mas ainda assim sinceramente. A rapariga de preto e verde sorriu na sua direcção.
>Obrigada. Bem, vou andando.
Malcolm estava todo de preto o que em vez de lhe dar um aspecto distinto, fazia o rapaz ainda mais sombrio do que ele já era.
Os seus olhos baços como carvão queimado sobre as manchas negras de duas olheiras. Estava encostado a uma parede com os braços cruzados e um ar importante.
>Vamos?
Perguntou ela forçando um sorriso amarelo. Cada vez gostava menos do rapaz, mas ele teimava em ignorar esse facto.
>Tens algum velório agendado para depois da festa Malcolm?
Disse Quim de propósito para o provocar.
>Não me lembrei de te trazer flores, não levas a mal pois não?
>Não, de qualquer maneira eu não aprecio muito cravos-de-defunto.
Malcolm ignorou-a e agarrou-lhe o braço possesivamente.
>Onde é que estiveste hoje? Não te vi o dia todo.
>Não te devo satisfações da minha vida.
>Aí é que te enganas. É melhor dizeres-me ou eu posso fazer-te arrepender.
Ameaçou o rapaz apertando-a com força enquanto andavam.
Quim afastou-o com violência de si e tirou a varinha para fora do manto.
Ultimamente a relação deles tinha-se deteriorado muito. Depois dele a ter tentado beijar à força contra a sua vontade, Quim tinha querido acabar com a relação estranha que eles mantinham mas o rapaz não dava o braço a torcer, até àquele momento.
Com as sobrancelhas franzidas e um olhar perigoso ela colocou-se numa posição de defesa. Malcolm limitou-se a olhar na sua direcção com as mãos nos bolsos e um sorriso desagradável nos lábios.
>O que é que tens em mente miúda?
>Acabar com a tua raça.
A voz de Quim soou dura e inflexível. Ela não ia permitir mais abusos da parte daquele canalha.
>Vamos, defende-te!
O rapaz abriu os braços num gesto desafiador e baixou os olhos na sua direcção.
>Força, vinga-te, faz-me pagar caro. Por acaso não estás com medo?
>Medo eu? Há! Nem que fosses metade do ser miserável que és.
>Covarde, traidora amante de sangues-sujo. Já passaste pelas mãos de metade de Hogwarts, sua vagabunda.
Sibilou o rapaz contorcendo a cara com desprezo enquanto andava lentamente na sua direcção.
>Metes-me nojo...
Acrescentou ele. Agora estava tão próximo que a ponta da varinha que ela estendia contra si lhe tocava no peito.
Quim recuou contra a parede e o rapaz tirou-lhe a varinha e atirou-a para longe deles. Com violência ele segurou nos seus pulsos e esmagou-a de encontro às pedras frias daquele corredor. As suas mãos escorregavam como bocados de gelo sobre a pele branca dos pulsos de Quim.
>Pára ou eu juro que grito.
Sem lhe prestar atenção, Malcolm encostou os seus lábios aos dela e fez força. A rapariga resistiu como pôde mas ele magoava-a de propósito com o beijo.
Era o pior sentimento à face da terra e ela arrependia-se de não ter agido suficientemente rápido quando tinha a varinha na sua posse. Agora não se conseguia defender porque ele tinha muita mais força e prendia-lhe todos os movimentos.
>Malcolm larga-a já!
Draco Malfoy estava parado a dois metros deles e apontava a varinha ás costas do outro rapaz. Os seus olhos pratedos perigosamente reduzidos a duas gretas de luz. Malcolm recuou com um sorriso escarninho e um passo desafiador.
>Não te metas aonde não és chamado Malfoy.
>Cala-te.
Rosnou o loiro colocando-se à defesa porque o outro também tinha tirado a varinha.
>Petrificus totalus!
Malcolm caiu no chão à sus frente completamente congelado e Draco olhou admirado na direcção da voz. Lançando o seu manto para o chão e com a varinha ainda em riste, Quim aproximou-se do corpo inerte do outro.
>Enervate!
Lançou ela na direcção do rapaz de cabelos negros que logo a seguir se erguia do chão cambaleante. Para espanto de ambos, Quim largou a sua varinha e deu-lhe um valente pontapé nas virilhas antes que ele se pudesse levantar.
Malcolm gemeu de dor e dobrou-se ajoelhado no chão mas Quim com uma força insuspeita agarou-o pelos ombros e fê-lo erguer-se novamente.
>Nunca mais te atrevas a insultar-me seu nojento!
O rapaz olhou petrificado enquanto Quim lhe dava um murro no olho com tanta força que o lançou contra o chão com violência.
>E isto é para manteres essas mãos horríveis longe de mim, “Melindronum”!
Draco assistiu extasiado enquanto as mãos do outro rapaz diminuiam sucessivamente de tamanho até desaparecerem por completo dentro dos antebraços.
Quim baixou-se para apanhar o seu manto e a varinha enquanto respirava pesadamente. Depois ela olhou para Draco que ainda estava chocado pelo espetáculo.
>Obrigada, apareceste mesmo no momento certo à hora certa. Sabe-se lá o que este ordinário ainda podia ter feito.
O rapaz sorriu apreciativamente na direcção dela.
>Tudo bem, mas para a próxima deixa um bocadinho da violêcia para mim também Ok? Adoro apanhar miseráveis em flagrante mas castigá-los é ainda melhor.
Ela sorriu-lhe mas aquela luta tinha-a deixado num estado lastimável e Malcolm dera-lhe mais umas nódoas negras para a sua colecção. Ele continuava deitado sobre si no chão, com uns tocos ao invés de mãos e gemia alto.
>Vamos deixa esse traste aí antes que apareça algum prof.
>Ouve bem meu anormal, se contas isto a alguém todos ficam a saber o que tu tentas-te fazer.
Disse ela para o moreno em tom de ameaça antes de partir atrás de Draco.
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Quim olhava distraidamente para a figura que ilustrava uma homem ajoelhado em frente a uma figura encapuzada que lhe segurava a cabeça com as mãos virulentas.
A voz lenta de Snape arrancou-a aos seus pensamentos desagradáveis.
>Para meu espanto, muitos de vocês conseguiram efectuar o Patronus sem muitas dificuldades, mas isso não significa que consigam o mesmo em frente de um Dementor. Os mais fracos raramente conseguem resistir o tempo suficiente para perfazerem o feitiço.
Concluiu o professor de DCAT enquanto olhava com arrogância na direcção de Neville Longbottom. O rapaz encolheu-se na sua cadeira mas não desviou o seu olhar do de Snape.
>Podem retirar-se por hoje é tudo.
Disse antes de virar costas e se encostar à secretária com os braços cruzados observando os alunos que se preparavam para sair.
>Miss Merrigott, preciso de lhe falar, acompanhe-me ao meu gabinete.
>Sim professor.
Quim tinha sido abordada pelo prof antes de chegar à porta da sala. Com um ar aflito ela seguiu o homem de negro.
“Será que o idiota do Malcolm lhe disse?” pensou ela antevendo o discurso de Snape na sua cabeça.
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