Desculpas Que Não Valem

Lupin abriu os olhos. Não se lembrava de como foi parar no seu quarto. Ainda estava com suas vestes, deitado por cima dos lençóis, apenas sem seus sapatos. Ao se mexer na cama, percebeu que Tonks se encontrava sentada no chão, com a cabeça deitada na cama, sobre suas mãos. Ela passara a noite ali, sentada ao lado dele, cuidando dele. Ele ficou observando-a por um tempo. Gostava de observá-la enquanto dormia, apreciava aquela calma e serenidade que ela transmitia. Não acreditava que ela estava fazendo isso por ele. Ele que foi um idiota com ela durante o ano inteiro, que a fizera sofrer, tudo isso para acabar com um sofrimento seu.

Levantou da cama com cuidado para não acordá-la e então ele agachou ao seu lado e a pegou no colo, colocando-a na cama. Retirou os sapatos dela também. Ela continuava dormindo tranquilamente.

Estava um dia ensolarado, um lindo dia de verão, se não fosse pelos acontecimentos do dia anterior. Lupin ainda não podia acreditar em tudo aquilo. Não queria aceitar. Tudo isso era um grande pesadelo. Resolveu ir tomar um banho e depois foi para a cozinha.

Tonks acordou horas depois. O quarto estava ensolarado e o sol brilhava forte no céu. Assim como Lupin, ela não se lembrava de como foi parar ali, deitada na cama, de roupa e tudo. Apenas lembrou que na noite passada carregara Lupin para o quarto. Provavelmente adormecera ali e ele a colocara na cama. Ficou ainda uns minutos deitada, estava com preguiça de levantar.

Ao abrir a porta da cozinha lá estava ele, sentado na cadeira que ele sempre sentava, do outro lado da mesa, lendo jornal.

- Bom dia! – disse ela, para que ele notasse sua presença.

- Bom dia. – sua voz era rouca e seca. Ele continuava lendo o jornal.

- Conseguiu dormir direito?!

- Um pouco, e você?! – ele agora abaixara o jornal e olhava para ela, que andava em direção ao fogão.

- Um pouco também!! – disse rindo para ele – Embora esteja com um pouco de dor nas costas.

Ao falar isso, Tonks abriu os braços, como se quisesse desfazer daquela dorzinha nas costas, e ao fazer isso, esbarrou sua mão na prateleira ao lado, quase derrubando algumas xícaras que se encontravam ali.

Lupin apenas deu uma risadinha. Estava acostumado com aquele jeito desastrado dela e aquela dor nas costas provavelmente seria porque dormiu sentada ao lado da cama dele a noite inteira.

Percebendo que ele não falaria mais nada, pois voltara a se concentrar no jornal, Tonks seguiu seu caminho até o fogão. Preparou algumas torradas para comer, equilibrando um monte delas no prato e pegou um copo de suco também. Sentou ao lado dele para tomar seu café-da-manhã.

- Servido? – disse ela oferecendo suas torradas a Lupin.

- Não. Obrigado. Acho que você deveria almoçar e não comer apenas algumas torradas.

- Não estou com tanta fome assim.

Com isso começou a comer. Lupin estava mais uma vez concentrado no seu jornal. Ela o observava de relance. Continuava preocupada com ele. Ele continuava muito calado.

Ao acabar de comer sua última torrada, ela se virou na cadeira, ficando de frente para ele. Ainda com o copo de suco na mão.

- Alguma notícia?!

- Nada. – disse ele dobrando o jornal ao meio e colocando-o em cima da mesa – Nenhuma notícia sobre a morte do diretor por ... por ...

- Por um de seus professores. – continuou Tonks ao ver que ele não conseguia falar. Estavam novamente conversando sobre os acontecimentos da noite passada.

- Ainda bem que não tem nenhuma manchete sobre isso, não é?! – continuou ela – Imagine a repercussão da notícia. Vão querer fechar a escola. Nenhum pai vai querer mandar seus filhos para uma escola em que o professor matou o diretor ...

Então, naquele momento, talvez por instinto de estarem tão próximos um do outro ou talvez porque aquelas palavras eram como facadas em seu ouvido ou talvez por ambos, Lupin lhe deu um beijo. Mas no segundo que começou, terminou. Tonks que não esperava por isso, tomou um susto tão grande que o copo que segurava caiu de sua mão,
Espatifando-se no chão e fazendo um barulhão, que os separou.

- Desculpe!! – disse ele com uma voz rouca, quase sussurrando.

- Não pelo beijo!!

- Eu não consegui ficar ouvindo você falar dele ... ainda dói muito.

Lupin não conseguia olhar nos olhos dela, não tinha coragem. Apenas a beijara para não ter que ouvi-la falar de Dumbledore e Snape.

O silêncio caiu sobre eles novamente. Nenhum dos dois sabia o que falar, ou como falar tudo que eles queriam. Tonks o observava, ainda abobada por ter deixado o copo cair de sua mão. Se não fosse tão desastrada ...

Lupin estava de volta aos seus pensamentos, aqueles pensamentos que não saiam de sua cabeça. Estava mais uma vez sozinho na vida, seus amigos estavam mortos, não tinham como voltar e o maior de todos os bruxos também estava morto. Todas as pessoas que um dia fez sua vida feliz estavam mortas agora. Ele estava sozinho. E ainda tinha essa maldita guerra pela frente. Essa guerra que lhe tirava os amigos de seu convívio. Essa guerra que destruía tudo. Essa guerra ...

Tonks, como se soubesse o que passava na cabeça dele, resolveu falar, não agüentava aquele silêncio, era de matar.

- Você não está sozinho Remo!! Eu não vou te deixar, nem que você queira!!

Ele a encarou. Com medo do que poderia ver. Ela o encarou também. Queria provar de uma vez para sempre seu amor por ele. Seus olhos brilharam.

- Não adianta mais falar aquelas baboseiras ...

- São verdades!

- Que sejam. A nossa diferença de idade nunca foi um problema no nosso relacionamento. Nem dinheiro, isso nunca importou. – Lupin fez menção de abrir a boca para falar algo, mas Tonks continuou falando, não o deixando falar – Nunca quis uma mansão!! Gosto das coisas simples da vida!!

Lupin lhe deu um sorriso. Ela gostava de ver aquele sorriso no rosto dele, deixava-o mais jovem, menos preocupado. E foi este sorriso que a conquistou dois anos atrás.

- E quanto a você ser perigoso talvez aí você tenha alguma razão, mas qual a graça da vida se não tivermos um pouco de emoção?! Podemos resolver seu problema trancando você num quartinho nas noites de lua cheia. Sempre demos um jeito nisso, não vai ser agora que você vai criar problema. E se for o caso, eu posso aprender a poção Mata-Cão ...

Tonks sabia que aquela poção era dificílima de fazer, mas se fosse para voltar a namorar com ele, ela ia aprender a fazer.

- Fico grato com tudo isso Tonks, mas você é jovem, saudável e muito bonita. Merece alguém assim para ficar com você.

- Você não ouviu o que eu acabei de dizer?! – ela estava ficando aborrecida com a conversa, era sempre a mesma coisa – Eu NÃO quero nenhum jovem saudável e bonito. Eu QUERO VOCÊ mesmo, com todos os seus defeitos, suas qualidades e todo o resto. Quando é que você vai entender isso Remo?!

Lupin não respondeu, abaixou a cabeça, estava agora encarando os joelhos.

- Não adianta ficar com as mesmas desculpas Remo. Isso não funciona mais, nunca funcionou. Porque você ficou falando isso o ano inteiro?! O que você pretendia com isso no final das contas?! – Ela pegou o rosto dele e o fez olhar nos olhos dela - Se você não quer ficar comigo, tudo bem! – Tonks estava brava, ele podia sentir isso na voz dela - Não posso te forçar a nada. Mas você vai ter que dar uma razão diferente. Essas eu não acredito. Eu mereço pelo menos uma explicação. Eu preciso entender ...

Lupin precisava falar agora, não tinha mais saída. Precisava explicar a ela. Mas não conseguia ficar olhando os olhos dela e encarou o joelho novamente.

- Fiz isso para te proteger. – as palavras saindo atropelando umas as outras.

Mas antes que ela abrisse a boca para questionar o que ele acabara de dizer, ele corrigiu o que dissera.

- Me proteger ...

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