O mensageiro
O fim daquele café da manhã tão doce e suave marcou o início de um dia para o qual não haveria igual. Harry e Hermione passariam por experiências profundamente intensas e, nelas, uma divisão marcante do tempo traçaria o rumo do que estava por acontecer.
Ambos deixaram a sala precisa com a mente povoada de questões. Perguntavam-se intimamente se a visita ao salão do tempo seria uma saída ou um poço sem fim sobre o qual estavam prestes a se jogar ainda não compreendendo qual o melhor modo dele sair. Potter observava, de maneira atenta, a namorada caminhar silenciosa junto a ele e como lhe era custoso se imaginar em um lugar diverso de onde aquela garota estivesse.
Os pensamentos dos dois rumavam para além do desconhecido e, embora permanecessem lado a lado, era certo que naquele momento cada um travava a sua batalha pessoal mais profunda: a luta interior pelas incertezas de presenças e ausências num futuro tão ameaçadoramente próximo quanto o minuto seguinte.
Mais alguns corredores e chegariam ao pé de uma escada erma que dava acesso ao sexto andar e meio. Harry e Hermione estavam cientes de como deveriam proceder. Contudo, o ar decidido que os conduziu até ali foi pouco a pouco sendo substituído pelo temor natural de se deparar com uma realidade bem diferente daquela que planejavam para si.
Em vão, tentaram atrasar os passos, a fim de que a chegada ao degrau marcado não se fizesse. Pé ante pé, foram vencendo lentamente cada novo obstáculo daquela longa escadaria, mas não demorou muito e uma batida diferente sobre o mármore branco e gélido, onde agora caminhavam, anunciou que haviam atingido um ponto tão desejado, como mal querido.
Hermione observou de forma cuidadosa os arredores e, percebendo que ela e Harry continuavam a sós, retirou com um gesto brusco a capa da invisibilidade que os cobria. Potter pareceu notar imediatamente o quão difícil era para a garota estar diante de uma situação como aquela.
― Mi, quer voltar? Nós podemos – o jovem homem de olhos verdes questionou enquanto dobrava a capa que um dia fora do pai.
― Precisamos continuar! – Hermione tinha um olhar endurecido e uma expressão realmente impenetrável quando encarou Harry. – Estamos no lugar certo?
Potter se virou em direção ao corrimão da escada como se procurasse alguma coisa que sempre soube estar ali. Foi precisamente essa sensação o guia invisível que o conduziu até uma marca quase imperceptível sobre o mármore. Ali mesmo, entalhado com a discrição de um artista cauteloso em manter o segredo, Harry sentiu sobre os dedos da mão um símbolo ainda indefinido.
― Há uma marca aqui, Mi. Acredito que estamos no degrau certo – disse Potter de maneira introspectiva.
A garota se abaixou de modo lento e compassado até que pôde ver, afastando carinhosamente os dedos de Harry, o desenho nítido de uma discreta ampulheta.
― Sim, só podemos estar no local exato. – A morena observou a parede oposta desejando encontrar uma possível entrada. – Realmente estranho que tantas vezes nós passamos sobre essa escada e nunca observamos nada diferente nela.
― Estava muito bem escondido, Mi. Normalmente não nos apoiamos ao corrimão para descer ou subir e a marca é praticamente invisível...
― Ainda assim. O barulho desse degrau é diferente dos outros e se trata de mármore.
― Algo a preocupa? – questionou o garoto tocando suavemente a face da namorada.
― Não sei exatamente o porquê de Dobby ter avisado justamente agora sobre essa sala – Hermione pensou em voz alta.
― Também não entendo, mas sinto como se precisasse passar por isso – Potter confessou enquanto se lembrava de todas as vezes que o elfo havia intervido em seu auxílio.
― Eu compreendo, e você não passará por isso sozinho. Estaremos juntos. - Reunindo coragem, Hermione segurou nas mãos de Harry com força e involuntariamente a levou até ampulheta entalhada no frio mármore branco. Uma luz intensa se irradiou do desenho para os dois e, no mesmo instante, o que era figura se fez em objeto. Diante deles, restava presente uma robusta ampulheta de madeira clara e trabalhada. Inexplicável e misteriosamente, o instrumento de medir o tempo se materializou ainda com os cones de vidro vazios e, apesar das perguntas saltarem nas cabeças de Potter e Mione, algo lhes dizia que aquele era somente o momento de calar e ouvir.
Por alguma razão desconhecida, ambos começaram a imaginar o tempo futuro dos dois sem que qualquer deles tivesse consciência do pensamento do outro. À medida que se concentravam, os vasos cônicos da ampulheta iam se preenchendo de uma fina areia mágica repleta de camadas coloridas. Era incrível perceber como as cores, cada vez mais variadas, simplesmente não se misturavam, passeando num ir e vir agitado dentro daquele curioso e fascinante objeto.
Exatamente quando se preparavam para romper o silêncio, Harry e Hermione viram toda aquela areia furta-cor, que dançava num movimento frenético, congelar-se dentro da ampulheta. Não houve tempo de se dizerem mais nada. Ambos foram tragados pela luz e tiveram as mãos abruptamente separadas, enquanto se deixavam transportar para um local distante, mas ainda assim ali.
Era um templo de paredes sólidas e alvas. A pedra parecia ter sido esculpida em padrões góticos e esculturas de homens e animais nunca antes vistos por Potter ou Mione ornamentavam o grande salão. Os dois se encontravam no mesmo lugar, no entanto as dimensões diferentes impediam que se vissem. A caminhada de cada um, dali para frente, seria solitária e revelaria com perfeição aquilo que lhe era necessário, ainda que não fosse o desejado.
Harry olhava para todos os lados em busca de Hermione, entretanto uma voz interior o tranqüilizava de que ela estava bem. Uma sensação idêntica era vivenciada pela garota, que andava em passos quase complementares aos do namorado, mesmo sem perceber. A um ponto adiante, algo chamou a atenção de Potter. Ele avistou um grande trono sobre o qual repousava um homem comprido com cabelos e barbas brancas.
― Professor? – o menino arriscou, no entanto foi evidente que havia se enganado. O som de uma risada forte e gutural denunciou se tratar de alguém bem diferente de Dumbledore.
― Nunca me chamaram assim! – O interlocutor sorriu de uma forma inusitada. – Costumam dizer que o tempo ensina, mas nunca me chamaram professor.
― Perdão, senhor! – Harry se emendou na expectativa de que aquele gigante com quem conversava informasse o paradeiro de Hermione e talvez um pouco mais. Parecendo escutar o fluxo inaudível de pensamentos do garoto, a voz gutural tornou a ressoar em respostas, inclusive, para questões ainda não feitas.
― A menina está bem! Tranqüiliza-se e aproveita! São poucos aqueles que têm a oportunidade de se banhar em águas passadas e, no seu caso, não convém desperdiçar o presente com ele mesmo agora! Há somente algo que precisa saber. – O guardião do tempo se levantou, fazendo-se seguir por Potter. Caminharam por alguns instantes até que, com um aceno de mão, o enorme homem permitiu que a frieza do mármore fosse substituída pela exuberante paisagem de um imenso lago profundo e calmo, abaixo da montanha onde agora estavam. – Não tornaremos a nos falar mais. Verá o que precisa e voltará ao instante do qual partiu. – O homem de barbas brancas apontou em direção às águas e, de súbito, o fluxo delas se interrompeu para que Harry pudesse entrar.
O moreno não demorou a entender o que era preciso fazer. Do topo do monte onde se encontrava, mergulhou em queda livre sobre o lago. Quando seu corpo tocou a lâmina d’água, a sensação foi diferente de tudo que já viverá até ali. Nenhum vira-tempo ou imersão numa penseira seria capaz de proporcionar aquele estado de alma pelo qual se viu invadir, porque Harry já não era mais ele mesmo, mas parte de uma outra pessoa em um outro tempo que jamais imaginaria ter oportunidade de viver.
*****
― Vamos, Lílian! – Potter gritou involuntariamente, mas sabia não se tratar dele e sim de outro rapaz que falava com sua mãe.
― Quero dar isso a você antes – explicou a garota de olhos verdes.
― Isso o quê? – questionou o menino, fazendo o impossível para não deixar escapar qualquer sorriso.
― Isso, seu tolo! – redargüiu a ruiva, entregando-lhe um lindo camafeu. – Mandei gravar a inicial do seu nome e, por favor, não me diga que não aceita! É seu aniversário! Quando achar que há alguém que vale a pena, coloca a foto da pessoa aqui e vocês nunca se esquecerão daquilo que realmente importa na relação de vocês.
Harry se sentiu emergir alguns metros de profundidade e com um estalo foi tomado novamente pela mesma impressão de ser parcela do corpo de outra pessoa.
― Não sei o porquê de você acreditar nessas coisas estúpidas e andar com pessoas tão idiotas – retrucou Lily realmente preocupada.
― Não sou o único, Lílian! – rebateu o outro num corpo que agora Potter também ocupava. Ele tinha uma câmera fotográfica à mão. – Depois, temos visões diferentes do que é ser um idiota e acho até você um pouco condescendente com eles – acrescentou o rapaz por fim.
― Devo ser já que ainda falo com você – disse a linda menina ensaiando certo sorriso.
― Vamos! Deixa o seu riso sair logo que quero uma foto para a jóia que me deu! – Falou o garoto empunhando a máquina.
― Por que justo a minha? – perguntou a ruiva com um olhar brilhante, mas um pouco constrangida.
― Por que não a sua? – inquiriu o garoto que acabara de tirar a foto. – Você foi a melhor coisa que me aconteceu esse ano, Lílian! – confessou o menino enquanto a abraçava em meio a um riso contido e dava voltas circulares, fazendo-a girar.
Apesar de saber que não era ele quem o fazia, foi impossível para Harry não verter lágrimas ao se perceber abraçando sua mãe pela primeira e única vez. Potter sentiu o toque maternal de Lílian e havia tanto amor ali dentro dela que ele foi incapaz de não se emocionar. Aquele instante permaneceria gravado em sua memória enquanto vivesse.
Perto dali e longe daquele tempo, no seu mergulho ao lago, Mione também experimentava uma das sensações mais indescritivelmente fortes para uma mulher.
Agüenta firme! - Hermione escutou uma conhecida voz ao seu lado e uma mão forte acariciar a sua cabeça. Uma dor poderosa fez com que transpirasse ainda mais sobre a cama iluminada daquilo que lhe pareceu um hospital.
― Vamos! Mais um pouco! – incentivou um homem de roupas verdes e máscara com uma expressão bondosa e cúmplice.
Instantes depois, um chorinho anunciava que um belo garoto havia vindo ao mundo. Hermione pôde sorrir tranqüila e com o coração repleto de paz, completo de amor. Ela encarou o pai, que há pouco fizera cafuné em sua cabeça, olhando-o radiante.
― Queria que ele estivesse aqui agora! – falou Hermione verdadeiramente comovida.
― E está! – disse a senhora de trajes alvos que lhe entregava uma pequena trouxinha contendo o bebê mais precioso daquele lugar.
Hermione ainda chorava quando se viu sugada para um período adiante daquele. Percebeu-se submergindo mais e mais no lago de águas doces até novamente sentir, com um estalido, que havia atingido outro período de sua vida.
― Nossa, Hermione! A cada dia que passa meu afilhado fica mais lindo! – Gina exclamou sua admiração no mesmo instante em que carregava o pequeno garoto de cabelos encaracolados, sorriso fácil e olhos incrivelmente verdes.
― É verdade! – a morena admitiu, observando com atenção como o menino recordava o pai.
― Sabe? Ele possui os olhos do pai, mas lembra muito você. Sua versão mais sorridente – arriscou a ruiva.
Hermione a fitou com uma falsa nota de mágoa e irritação para depois se trair com uma risada sinceramente feliz.
― É a minha versão mais alegre e o melhor presente que ele poderia ter me dado.
― Faz muito tempo? – questionou Gina ainda incerta de se aquela era uma boa pergunta.
― Sim. Só peço que tudo esteja bem...
*****
Aos poucos, tanto Harry como Hermione viram-se puxados pelo feixe de luz para fora das sensações que estavam vivenciando e do próprio salão do tempo, agora tão distante quanto sempre foi. Ambos se encontravam absolutamente molhados no degrau que marcava o sexto andar e meio daquela longa escadaria. Tinham os olhos vermelhos e na face de Mione ainda era possível ver algumas lágrimas que teimavam em cair. Os dois se abraçaram de uma forma envolvente e reconfortante como se conseguissem entender a situação descortinada pelo outro, antes mesmo de compartilharem-na em palavras.
― Vamos sair daqui! – Harry se aproximou da namorada ainda mais, a fim de que a capa da invisibilidade pudesse escondê-los por inteiro.
Caminharam apressadamente até a sala precisa, atravessando os mesmos corredores que os conduziram à entrada do salão do tempo. Apesar da celeridade com que andavam, não puderam deixar de perceber como as horas haviam passado de maneira diversa para quem se encontrava fora do grande salão. Já era noite em Hogwarts e o céu aparentava estar ainda mais estrelado do que costumava ser todos os dias. O sábado tinha se encerrado fragilmente, contudo os sentimentos impressos na alma de Harry e Hermione estavam vigorosos demais para que conseguissem dormir.
Quando entraram, a sala precisa tinha uma aparência acolhedora. Havia toalhas dispostas sobre uma pilha de almofadas que se encontrava em frente à lareira, arrumada como um ninho. Tão logo se viu no interior daquele lugar seguro e calmo, Hermione apertou ainda mais o namorado contra si chorando convulsivamente.
― Mi, o que foi? – Potter fitava a garota, que possuía o rosto escondido em seu ombro, com apreensão. Aos poucos, foi afastando-a para que pudesse observar diretamente nos olhos dela. – Eu estou aqui e não irei a lugar algum aonde você não vá também. Vamos tirar essas roupas molhadas.
Harry apanhou algumas daquelas toalhas e passou a secar cuidadosamente Hermione. Vez por outra, notava certo rubor e arrepio enquanto se encostava a uma parte inesperada do corpo da garota. Depois, entregou-lhe um dos roupões que também pendia sobre o monte de travesseiros. O garoto fez exatamente o mesmo antes de se juntar à namorada, perto da lareira, e lhe dar um beijo doce e intenso.
― Não precisa me dizer o que sentiu no salão do tempo, Mi. Mas eu tenho de falar a você... – Potter respirou profundamente e só então continuou: - Vi minha mãe. Ela me abraçou; eu pude sentir os braços dela me acolhendo. Sempre sonhei com isso. Alguém conversava com ela e eu era essa pessoa ou parte desse rapaz. Não sei dizer... Vivi o momento em que o retrato deste camafeu foi feito como se eu retirasse a foto...
A morena estudava com atenção a expressão emocionada de Harry, ainda estupefata pelo que acabara de ouvir. – Você não sabe quem era a pessoa?
― Não pude ver, já que eu era ela – confessou Potter um pouco entristecido por esse detalhe. – Porém, pareceu ser meu pai...
― O salão do tempo mostrou a você justamente algo que tem mexido com sua paz – Hermione refletia desejando chegar a uma conclusão mais substancial sobre tudo aquilo.
― Não foi exatamente o que desejei saber – explicou o garoto. – Pensei no nosso futuro.
Visivelmente comovida ao notar que Harry se concentrara como ela no relacionamento dos dois, a menina se surpreendeu falando: - Tive um filho. – Naquele mesmo instante, Potter começara a roçar carinhosamente a mão esquerda sobre o ventre dela num gesto afável.
― Nosso filho? – O moreno não conseguiu conter o sorriso grandioso que invadia sua face num misto de realização e felicidade. – Como ele era?
― Os olhos mais lindos que eu já vi. Talvez porque eram precisamente os seus.
Harry possuía o semblante carregado de uma alegria autêntica quando chamou a namorada para mais um daqueles beijos intermináveis que nunca se faziam demais. Assim que a nova manhã se anunciou, os dois seguiram para o salão principal encontrando toda a AD reunida na mesa grifinória, inclusive Luna.
― Vocês sumiram... – Rony comentou olhando de esguelha enquanto Potter e Mione se sentavam.
― Nós apenas não os vimos – corrigiu Gina. – Não seja indelicado, maninho!
O restante da manhã correu sem maiores alterações. Os Weasley resolveram ir à enfermaria na esperança de que Madame Pomfrey permitisse uma visita, contudo Arthur ainda dormia quando chegaram. Qual não foi a surpresa de todos ao perceberem que Malfoy continuava com enormes bolhas povoando seu rosto. O garoto estava deitado sobre um dos leitos, acompanhado somente de Crabbe, algo realmente esquisito também. Fred reconheceu as marcas como efeitos colaterais de algumas das gemialidades, mas julgou estranha a existência delas por tanto tempo na face do menino.
― Esses machucados já deveriam ter cicatrizado – afirmou Fred, convicto.
― Como assim? – questionou Hermione no momento em que observou Draco mais detidamente. – Acha que o tratamento não está sendo feito de forma adequada?
― Não. Não é isso – respondeu o ruivo. – Tenho certeza de que aqueles são ferimentos causados por alguns dos brinquedos da loja, mas já deveriam ter se fechado completamente. A menos que... – Fred pareceu cogitar uma possibilidade remota e bastante excêntrica – a menos que o Malfoy esteja usando reiteradamente os produtos para provocar as lesões.
― Isso não faz sentido – falou Gina, horrorizada.
― Em se tratando de Draco, nem tudo é tão lógico – ponderou Harry sombriamente.
― Tomara que, a longo prazo, o uso seja fatal – disse Rony verdadeiramente esperançoso.
Potter não conseguiu conter o riso, entretanto foi repreendido por Hermione, que passou o resto do dia intrigada com aquela informação aparentemente irrelevante de Fred.
*****
Os membros da AD foram consumidos por uma grande excitação ao longo do dia e se mantiveram sempre juntos, conforme Harry recomendara. Na verdade, já era perto das 11 horas da noite quando Potter reiterou a necessidade de que permanecessem próximos. O grupo se encontrava totalmente reunido no salão comunal de Grifinória, parecendo aguardar que o inevitável viesse lhes bater à porta.
Mione estava agarrada ao braço do namorado ainda sem saber se aquilo seria o suficiente para fazê-lo desistir de sair dali. A cada novo minuto que o relógio marcava, a menina sentia uma impaciência e preocupação se concentrarem nas feições de Harry e algo, no íntimo dela, dizia que nada o impediria de fazer o necessário. O garoto não se furtaria de comparecer ao encontro, nem sequer poderia sonhar em faltar àquele compromisso.
Eram 11 horas e 10 minutos quando Potter se levantou do sofá. Pediu a Armada de Defesa que continuasse acordada e vigilante enquanto ele retornava à sala precisa sob pretexto de pegar alguma coisa.
― Melhor irmos com você, Harry – sugeriu Dino.
― Não. Vocês devem ficar! Será melhor assim. – O garoto tentou não parecer tão incisivo naquele pedido, mas foi impossível ocultar o que pensava. Potter olhou Hermione com um sorriso entre os lábios, lembrando-se de tudo que ocorrera na noite anterior e a beijou demorada e pausadamente.
― Toma cuidado! – os dois se disseram ao mesmo tempo, como se ambos possuíssem convicção do que estavam calando e permitindo ficar em evidência.
Hermione seguiu o garoto até o buraco do retrato e pôde ouvir o seu homem murmurar um discreto “eu te amo” antes de se perder na escuridão dos corredores e a porta se fechar às suas costas. Tão logo deixou o campo visual de alguns alunos com quem cruzou, a caminho de uma das saídas secretas do castelo, Harry se cobriu com a capa da invisibilidade, consultando de vez em quando o mapa do maroto para ter certeza de que não estava sendo seguido. Apesar do mapa não lhe mostrar qualquer sinal de obstáculos à frente ou de indesejados perseguidores no seu encalço, o rapaz não conseguiu se libertar da sensação de que estava sendo acompanhado de perto por alguma coisa rápida e de magia poderosa.
Não demorou muito para que Harry chegasse à entrada da Floresta Proibida. Fazia um frio cortante e o vento insistia em deixar os seus cabelos ainda mais desalinhados. Potter sentia seus pés afundarem entre as folhas e lama que cobriam o chão daquele lugar vazio e escuro, ainda se perguntando como acharia o caminho para o local onde Voldemort o esperava.
― Lumus! – A ponta da varinha de Harry se iluminou levando uma pequena claridade ao lugar de aparência inóspita e amedrontadora. Naquele instante, a capa da invisibilidade não se fazia mais necessária, uma vez que ele já havia adentrado num trecho fechado da mata. O menino a guardou entre as vestes e retomou o percurso. Apenas não fazia idéia de onde estava e qual rumo seguir. Pouco a pouco, caminhar foi se tornando mais difícil e logo o garoto pôde perceber que suas pernas se recusavam a responder com a mesma agilidade às ordens dadas pelo seu cérebro.
Foi precisamente quando atravessava um pequeno riacho que um barulho de asas agourentas, vindo em sua direção, fez Harry parar de maneira imediata. Ele estava passando sobre um tronco escorregadio no momento em que uma coisa, ainda não identificada, avançou contra o seu peito, desviando-se pouco antes do choque. Potter caiu dentro das águas rasas, cortando a testa num dos galhos da árvore e fraturando o punho esquerdo. O menino sentiu o sangue quente jorrar em sua face, contrastando com o frio gélido das suas roupas molhadas. Uma dor aguda se irradiou do seu pulso para as demais partes do corpo, anunciando que provavelmente ele havia se quebrado. Mesmo assim, Harry se levantou com rapidez e apontou a varinha em todas as direções. Verificando acima de sua cabeça, ele foi capaz de ver, no alto de um dos arbustos que o rodeava, olhos vermelho-sangue repletos de ódio e repulsa observando-o. A mesma coruja negra e maligna, que lhe entregara o Pacto de Nornas, fitava-o com um prazer descomunal ao vê-lo machucado e suando de dor. Sem pensar duas vezes, Potter mirou na ave com uma precisão invejável e conjurou o feitiço que a fez despencar:
― Estupefaça!
― Pára, idiota, senão não conseguirá saber aonde deverá ir para encontrar o Lord! – sibilou uma voz extremamente irritada. A coruja caíra no chão como uma fruta podre e se revelara uma pessoa bem conhecida.
― Você?
― Harry Potter – o interlocutor pronunciou o nome do modo mais desdenhoso que seria possível. - Não vejo motivo para surpresa. Age como se só você, o senhor celebridade, estivesse pronto para coisas grandes. Mas o mestre me presenteou com um poder maior! – O garoto sorriu malicioso. – Agora sou um animago!
― Ótimo! – Harry fez de tudo para conter o riso. – Arrumou o cargo de pombo-correio das trevas e sua mania de grandeza ainda não o fez se tocar de que você não passa disso.
― Não sou pombo-correio, Potter! – disse Malfoy, ofendido. - Sou o mensageiro!
― Se assim prefere... – Harry agora ria com abundância -, mas não é possível... você estava esse tempo todo na enfermaria!
― Vejo que a inteligência que sobra na sangue-ruim falta em você! – rebateu Draco, sorrindo ao perceber que havia conseguido provocar Potter. – Goyle está no meu lugar, estúpido!
― Ele é seu álibi se algo der errado – Harry constatou entre os dentes e se segurando para não partir o nariz de Malfoy. – Por isso só víamos Crabbe o visitando e você nunca melhora. Somente para permanecer na ala hospitalar.
― Até que o senhor cicatriz não é tão burro. – O loiro já havia se levantado e limpava a veste das folhas que tinham se prendido a ela. - Nada que um pouco de Poção Polissuco não resolvesse. Aquela anta de boca fechada até se passa por mim... – Draco riu vitorioso.
― Talvez porque vocês se pareçam – Harry insinuou encarando o rival com um olhar assassino.
― Potter, você é mesmo patético!
― Você é que é ridículo, Malfoy, e, pelo que vejo, tão sujo quanto seu pai!
― Temos opiniões diversas sobre o que é sujeira. Sujeira para mim é se misturar com o podre da classe trouxa, esquecendo-se de tudo que Salazar fez para que a verdadeira bruxaria prevalecesse.
― Porcaria para mim – retorquiu o garoto de olhos verdes -, é acreditar nesse monte de asneiras que não significa nada e nunca será!
― Para você, Potter... para você que é o próprio nada. Um monte de nada que se acha alguma coisa só porque teve a sorte e a audácia de sobreviver ao Lord. Mas isso não tornará a acontecer hoje – riu o loiro. – Você nem imagina que alguns dos seus amigos por pouco não estão do nosso lado e muito já fizeram por ele, mesmo sem estar...
― Do que você está falando? Mais mentiras? – questionou Harry, dando pouca importância.
― Não espero que acredite em mim, Potter. Uma pena que você não vá ter tempo de perguntar ao senhor Weasley sobre o passado dele... se surpreenderia com as coisas que o meu pai me disse.
― Seu... – Harry não suportou aquele insulto a Arthur e partiu para cima de Malfoy, que se desviou.
― Potter, Potter, Potter... melhor se acalmar ou chegaremos mais tarde do que você gostaria. Um atraso assim, além de falta de educação, renderia a você mais perdas do que a simples fama de mal educado – zombou Draco, que se manteve firme, apesar da palidez do seu rosto ter se acentuado pelo simples temor dos punhos de Harry em sua face. A verdade é que a noite estava apenas começando e aquela era somente uma das revelações. Mas impossível seria prever o que o decorrer das horas traria de novo.
Continua...
Arwen Undómiel Potter
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Fanfic escrita por Arwen Undómiel Potter
Capítulo revisado pela beta-reader Andy “Oito Dedos”
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Agradecimentos:
Meus queridos,
não consigo deixar de me emocionar aqui hoje! Foi no dia 5 de março de 2006 que essa ficção nasceu aqui no Floreios e Borrões, encontrou o seu primeiro leitor e iniciou uma história de convivências e amizades que certamente vão ultrapassar o próprio tempo de postagem dela. Sim, grande amigos foram feitos ao longo de 1 ano de ficção e serei eternamente grata, a cada um, pela sua porção de auxílio, carinho e dedicação. Foi com vocês que “A Poção da Felicidade” se tornou o que ela é hoje: uma história que retrata a feição de um mundo que amamos (o Universo Harry Potter), mas, sobretudo, uma história em que sempre poderão ver refletida a parcela da contribuição que deram para que ela se tornasse melhor. Portanto, parabéns a TODOS nós por 1 ano de convivência harmônica e significativa que tivemos aqui e, mais uma vez, obrigada pelas presenças tão especiais, pelos comentários tão generosos, pelas críticas sinceras! Sem tudo isso, sem todos vocês, simplesmente, não haveria o agora, nem o que comemorar! Vocês são, em essência, a razão de ser dessa singela, mas bela FESTA DE ANIVERSÁRIO que nós temos hoje! Puxem as poltronas de chitz, sirvam-se de um bom pedaço de bolo com um copo de cerveja amanteigada, enquanto passo a agradecer aos comentadores:
P BLACK, obrigada pelo comentário e seja bem vindo, querido! Beijos para ti!
LARISSA, não precisa se desculpar, linda! Sei que sempre está aqui quando pode e fico muito contente que esteja gostando do Harry e Hermione nessa história, assim como da escrita! Deixa-me realmente muito feliz! Você estava certa quanto ao salão do tempo (foi um momento muito forte para os dois e outros estão por vir...). Por favor, não morra, pois realmente preciso de você e essa ficção também! Saiba que continuarei a escrever, portanto, creio que estaremos juntas mesmo após o fim dessa ficção! Grandes beijos e espero que tenha aproveitado o seu presente: capítulo 30.
Querida RHAISSA (RAAH) BLACK, eu me lembro de você desde o começinho dessa ficção! Você é uma das leitoras mais participativas e certamente leva uma grande fatia desse bolo! A ficção está para se encerrar e agradeço o seu carinho comigo! Outras histórias estão por vir! Tenha certeza, minha linda! Realmente já vimos o que o salão do tempo mostrou... descobrimos o que era a coruja... e agora? Bem, saberemos! Beijos e beijos, Arwen.
Minha grande escritora BRUNA S. C., ainda bem que não está na cara (risos...). Contudo, estou certa de que vê muitas coisas já (adoro isso em você!). Fiquei feliz que tenha gostado da frase do Harry - "Só você me daria o chão, mesmo que não houvesse sobrado mais terra para pisar e só você me levaria ao céu, ainda que eu estivesse preso ao solo..." (O Harry é realmente especial rsrs...). Aguardo o tempo que for preciso para ter capítulos tão fantásticos em Cold Feelings como os que já tive oportunidade e ventura de ler! Seus comentários aqui também me emocionam muito, Bruna! Esteja sempre ciente dessa verdade! Ainda me lembro da sugestão dos travessões no começo dessa fic (VOCÊ É PARTE DISSO TUDO, BRUNA!). Um grande beijo, querida, e vamos nos falando por aqui, por e-mail e por tudo mais que inventarem, porque simplesmente adoro trocar com você rsrs...
LUIZ BLACK, obrigada pela presença e saiba que, assim que folgar um pouco, também visitarei as suas ficções! Beijos para você!
RONRON, muito obrigada! Fico lisonjeada pela sua opinião tão generosa comigo! Continuei aqui e em “Um dia incomum”. Espero vê-lo novamente! Beijos, querido!
Meu querido OTAVIO BACH, você é impossível e tão carinhoso! Sempre me deixando corada! Será que será assim em todas as ficções? Obrigada pelo seu carinho tão especial comigo e com as histórias! Tenho certeza de que nos encontraremos no msn e sempre pode me enviar e-mail! Saiba que você tem importância grande para mim, mas, por hora, deixemos o “casamento” para depois, pois já possuímos uma parceria forte, não é? Beijos, lindo!
Querida JULIA_GRANGER_POTTER, maravilhoso que esteja gostando da ficção! Também agradeço por se fazer sempre presente aqui! Você é um anjo, querida!
Querida MARCIA SILVA, você é uma graça! Obrigada por me acompanhar também em UM DIA INCOMUM! Muitos fãs do shipper R/H acabaram se permitindo conhecer um pouco de H/H aqui e tinha de agradecê-los de alguma forma por isso. Escrever foi o modo encontrado! Agradeço muito sua presença tão intensa em A Poção da Felicidade e a sua generosidade para comigo também na nova ficção! Beijos, minha querida, e em breve nos veremos novamente, Arwen.
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PROSERPINE GRANGER MODINGER! Amor, o que dizer para você? Bem! Primeiramente, sopre as velinhas e faça um pedido junto com A Poção. FELIZ ANIVERSÁRIO, querida! Meu amor, como fiquei feliz ao saber, pelo orkut, que A Poção da Felicidade aniversariava no mesmo dia que você! Um honra para essa ficção nascer sob o signo que a rege e talvez essa seja somente uma das razões para você gostar tanto dessa história! Quero te desejar muitas felicidades, alegrias, harmonia e toda a sorte de experiências indispensáveis para tornar uma pessoa especial como você ainda mais plena, ainda mais feliz!
Sobre o seu comentário? Amei e o tenho guardado, de sorte que posso responder algumas perguntas, apesar do problema no servidor tê-lo apagado daqui... Vamos a algumas delas:
Bem, a última frase que disse no capítulo 29 realmente não deve passar despercebida (não posso falar mais, contudo, adianto que você está certa mais uma vez) é uma frase esclarecedora. Adorei o seu “... Isso me encanta em você”. É exatamente o que sinto quando leio os seus comentários (encanto pela sua capacidade extraordinária de ver além...).
Quem colocou o elfo para seguir o Potter? Colocaram foi? Uhum...risos... dá uma olhadinha no capítulo 28: O Pacto de Nornas... Sua resposta pode estar lá...
Também acho que já descobriu que você estava certa quanto ao lugar onde Harry estava no sonho... Mas... um pouco mais de paciência, meu anjo! Suas respostas estão a caminho e não tardarão... Acho lindo você se irritar e não conseguir ficar “irritada” por tanto tempo comigo (risos...). Creio que nos entendemos muito bem! Tanto no dito, como no silenciado...
Adorei conversar com você e faço votos de que resolva seu problemas com o msn rapidamente! Assim, tornaremos a falar ainda mais! Tomara que seu comentário seja tão grande como o último (ele verdadeiramente me deixou muito/muito feliz!).
Beijos, abraço apertado pelo seu aniversário e fica o meu desejo de que alguém em sua vida lhe diga algo tão intenso como a frase de que tanto gostou: “Só você me daria o chão, mesmo que não houvesse sobrado mais terra para pisar e só você me levaria ao céu, ainda que eu estivesse preso ao solo..."
Arwen.
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ANA LÍVIA, os mistérios estão para ser revelados (já estão sendo, não é?). Espero não ter te feito esperar muito dessa vez, querida! Obrigada por acompanhar essa ficção desde o começo também! Um beijão, Arwen.
CAROLINE MARQUES, pois é meu anjo! Harry e Mi precisam de momentos juntos e saiba que gosto muito quando te deixo contente com esses instantes! O Harry é de fato muito amável e o sonho que teve certamente foi revelador... Também sinto o mesmo que você, quanto ao fim da ficção (é um misto: felicidade e certa melancolia também). Contudo, saber que você estará aqui até o fim (como sempre tem estado) conforta-me imensamente, além de me deixar honrada e alegre! Muito obrigada, minha linda, e até o nosso próximo encontro!
Querida ANNA ROSA, não precisa se envergonhar! Eu tenho é de agradecer o seu comparecimento a nossa festinha de aniversário! O meu presente certamente é também a sua presença e espero que a revelação do que há no salão do tempo tenha sido uma boa lembrança dessa data para você! Obrigada por tudo (inclusive pela visita a “UM DIA INCOMUM”) e pelo carinho, querida! Beijos, Arwen.
Nossa DANIELA PAIVA, que maravilhoso saber que a espera valeu a pena! Parece que o Salão do Tempo atraiu a atenção de todos para esse encontro de hoje. Já sabemos o que houve e logo saberemos o que virá! Um beijão, querida!
Mais uma vez, AGRADEÇO A TODOS, emocionada pelo momento e por saber que me acompanham nele pessoas especiais como vocês! Vocês são o meu maior presente hoje!
Um grande beijo, um forte abraço, fiquem com Deus e até o nosso próximo encontro!
Arwen Undómiel Potter.
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