Virgens, Mães e Sábias
Enquanto sua visão voltava ao normal, Harry pode se deparar com uma floresta da qual não se podia adivinhar a idade, pois as árvores eram tão velhas que o musgo colado a elas se sobrepunha em camadas, denunciando o Norte. Uma canção em Elfico chamou-lhe a atenção para os fundos de uma casa de aparência muito simples, mas também muito antiga, e, sem poder conter sua curiosidade o rapaz se encostou à Janela para espiar o interior.
O que viu deixou-o sem fôlego, pois a casa parecia um misto de abrigo de caça, farmácia , cozinha e biblioteca com vários livros antigos, ingredientes de todos os tipos pelas paredes e um enorme caldeirão ao centro do aposento, tudo arrumado com esmero e organização. Mimos de uma dona de casa ou mesmo de uma bruxa de grande conhecimento e paciência.
- Ah ! Aí está você, já estávamos preocupadas desde que o círculo se abriu, mas esperávamos alguém... bem .. hum, mais velho. Sabe! Arquimagos geralmente estudaram uma vida antes dos sinais se mostrarem a ele.
- Olha Dona acho que houve algum engano, eu estava participando de um Ritual e de repente me vi no meio da floresta e bem perto dessa Casa.
- É não houve engano algum mesmo, meu nome é Ceridwen, minha irmã mais nova é Ariadne e a mais Velha é chamada de A Sábia, estamos n o meio de uma celebração, já participou de um Sabatt ?!!!
E, pegando a mão de Harry acompanhou-o até uma clareira nos fundos da casa, e, lá ele pode divisar as duas irmãs de que ela lhe falara. Assim como ela, elas lhe trataram de forma afetuosa, porem ele pode lhes sentir os olhares avaliadores e o grande poder.
- Acho que você sabe que hoje é o Sannhainn, e que os mundos se tocam nessa noite mágica, trazendo para junto de nós aqueles que nos amaram e já se foram para as terras além do País de Verão. Disse a alegre garota, a mais jovem, dando assim um belo susto no rapaz hipnotizado pelos símbolos antigos que a Anciã desenhava num círculo em volta da fogueira.
- Ora criança, não vê que o mortal mal consegue entender o que vê, como é que ele vai entender conceitos tão difusos como a roda dentro da roda e que eles se fundem dando assim sentido à vida da humanidade e por conseguinte tornando a vida um sonho dentro de um sonho.
Meio zonzo como fluxo de informações, harry sentou em um cepo de carvalho que havia ali perto, e, devagar começou a lembrar-se das lições de Cernounnos, o estranho personagem que Oberron havia designado como um de seus professores.
Lembrou-se da Roda do Ano, o Caminho do Antigo Deus Celta, as mudanças das estações, da Deusa Protetora da Terra....
- A Mãe........, disse Harry num impulso que nem mesmo ele sabia de onde vinha mas, que lhe deu uma paz como há muito não sentia e trouxe também lembranças doces mas doloridas e das quais ele sempre tentara se esquivar antes desse momento.
Ouvindo as palavras de Harry, a velha senhora se acercou do rapaz e abraçou-o como faria a um neto querido.
- Sim, isso mesmo menino, hoje renderemos homenagens à Mãe, junte-se a nós no círculo em volta da chama, deixe-se ser julgado pelo que vocè é e não por aquilo que julgam que pode ser, entregue-se aos afagos daquela que já era compassiva quando os homens não passavam de tolos em suas cavernas, vivendo da terra e morrendo por ela.
Logo em seguida Ceridwen acendeu a pira e começou a entoar :
- “Nós que somos Três, como a trindade da Deusa, nascemos, vivemos e morremos, como a terra em suas estações e, assim renovamos o ciclo das estações. No inverno descansamos para o novo ciclo de nascimento na primavera, a plenitude do Verão e o declínio do Outono mais uma vez ,pelos seculos afora.”
Cantando e dançando eles se entregaram à felicidade da vida renovada em cada ciclo e Harry sentia que algo dentro dele pulsava com novo júbilo, como se tivessem retirado um peso enorme de sua alma e com isso
Sentaram-se para comer, beber e conversar e durante todo este tempo, Harry sentia que havia algo por traz daquela conversa toda, como se estivesse sendo testado sem ao menos perceber.
- Bem, perguntou-lhe Ceridwen, qual é o papel do homem nessa história toda ? Claro pois até aqui discutimos os homens, qual a parte que lhe cabe ? Como é que você se vê nesse contexto ?
Sentindo-se confuso e meio afogueado pela saraivada de perguntas, Harry começou a responder meio que por instinto.
- Acho que deve ser o de ser um companheiro nessa estrada pois sozinho não pode fazer nada, e há tanto a fazer, tanto a aprender....
Um silêncio profundo invadiu o ar quando as três mulheres se levantaram e dando-se as mãos começaram a levitar envoltas por uma aura muito brilhante
Um som como o de muitas gralhas chegou até Harry dizendo:
“Ah! Criança de nossos filhos, como foi longo o caminho entre nós, quantas mazelas antes de nosso verão, o inverso que antecedeu este momento não se mede em estações mas, sim em séculos. Vidas dentro de vidas, sonhos dentro de sonhos e mesmo assim o destino sarcástico e brincalhão pregou-te peças nesta vida que ainda carregas contigo.
Segue em frente, pois agora o ciclo se inverte na roda das eras, mas cuidado, pois o ouro que tanto brilha também corrompe, como fez a teu inimigo “
Harry sentiu lacres sendo abertos dentro dele, como algo que estava ali há muito tempo esperando uma chave ser usada para libertar algo tão antigo comoo tempo.
A dor o invadiu e ele gritou o nome da Deusa pelos espaços interdimensionais, sabendo quenão somente ela ouviria mas todas as criaturas mãgicas, todos os bruxos todos osAntigos e principalmente os elfos que podiam ouvir as gotas de orvalho em cada manhã.
Tudo ficou difuso e foi-sedesvanescendo, a casa acolhedora com seu telhado antigo, a antiga floresta de nogueiras, urzes e musgos, as mulheres em meio aoturbilhão e aquele rosto enigmatico que lhe sorria triste como a prenunciar-lhe uma escolha terrivel.
Por todo o mundo que conhecemos os bruxos estarreceram ante a onda de puro poder que se deflagrou, fazendo com que todos soubessem que o Arquimago, o Senhor dos Arcanos mais uma vez estava armado com as chaves da eternidade.
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