A volta pra casa
Harry acabara de embarcar no expresso de Hogwarts logo após o almoço que seguiu o enterro de Dumbledore. Ninguém almoçou. Todos pareciam sentir o imenso vazio que o diretor, agora enterrado a sete palmos terra adentro, deixara. Alguns poucos alunos da Sonserina, os mais próximos de Malfoy talvez não comessem por falta do seu líder fugitivo.
O expresso de Hogwarts seguiu muito silencioso em direção a Londres. Ninguém parecia interessado no que de fato ocorrera, e, por mais incrível que pudesse parecer, todos pareciam compreensivos demais para perturbar Harry com perguntas a cerca do que houvera. Rony, Hermione e Gina faziam companhia ao garoto, que estava mergulhado em pensamentos em relação ao que faria da sua vida a partir de agora. Passeavam em sua cabeça coisas do tipo: pra onde terão ido Snape e Malfoy? Como os irei achar? Cometerei vingança contra Malfoy? Não...ele não tem culpa da missão que recebeu. Ele não matou Dumbledore...por outro lado, se ele tivesse aceitado passar para o nosso lado mais depressa nada disso teria acontecido. Ou será que estou enganado? Snape...eu sempre o odiei, mas nunca pensei que ele fosse capaz de algo assim. Dumbledore confiava nele...não. Dumbledore não pode ter morrido assim...pelas mãos de alguém em quem ele tanto confiava, alguém que ele acolhera durante anos...15 anos!
- Harry? Você está bem?
- Ah...quê?
- Harry, você está muito pálido...tem certeza de que está bem?
- Ah...sim, estou Gina. Cadê o Rony e a Hermione?
- Foram monitorar os corredores.
- Ah, é verdade...esqueci que eles são monitores.- falou Harry tentando abrir um sorrisinho simpático.
- Olha...Harry precisamos conversar. Harry, eu realmente não me impor...
- Eu sei que você não se importa Gina. Mas eu já lhe disse que eu me importo. Me importo só de pensar em te perder pra sempre. Gina...eu...gosto de você. E gosto de toda a sua família. Não quero causar mais dor a mim, a eles e principalmente a você.
- Mas...
- É só por enquanto, e você sabe disso. Quando eu me vingar (e a esta altura Harry já não falava mais com a calma e paciência com que sempre se referia a Gina, porque na verdade não estava mais falando com ela: estava falando consigo mesmo), e tenho certeza de que isto será muito em breve, voltarei a ser seu namorado, e serei enfim um garoto normal.
Após alguns longos quinze minutos, os garotos desembarcaram juntos na King Cro’s. Antes de descer do trem porém, Harry notou que Gina estava meio triste. Dirigiu-se a ela então e disse:
- Por favor Gina. Não fique assim...te ver triste desse jeito me entristece.
- Harry...por favor digo eu... – lágrimas escorriam pelas sardas que encobriam seu rosto.
Harry então deu-lhe um último e longo beijo. Olhou-a no fundo dos olhos e disse:
- Promete que vai me esperar dessa vez e que não vai sair com nenhum Dino Thomas ou coisa do tipo?
Gina riu ao mesmo tempo que mais lágrimas pingavam dos seus olhos e enfim disse tentando manter a voz em um tom razoavelmente seguro:
- Prometo.
Enfim os dois largaram as mãos um do outro e desceram do trem separadamente para atravessar a passagem que levaria – os ao mundo dos trouxas.
O senhor e a senhora Weasley já os aguardavam com um ar de luto ainda perpassando seus rostos. A senhora Weasley correu para envolver os quatro garotos em um abraço forte e apertado. Nesta hora Harry sentiu um aperto no fundo do peito, semelhante ao que ele sentira quando vira Hagrid carregando o corpo inerte de Dumbledore. Era reconfortante receber um abraço tão maternal em uma hora dessas.
Os Dursley já esperavam Harry, e encaravam os Weasley com um ar de desprezo, curiosidade e medo. Harry olhou – os com impaciência. Era inacreditável que após cinco anos eles ainda encarassem os Weasley daquele jeito.
Antes de despedir-se dos colegas e dos senhor e senhora Weasley, Harry notou que os outros membros da ordem não estavam presentes:
- Sr. Weasley, cadê todo mundo? Cadê Lupin, Tonks...?
- Estão na sede Harry. Kingsley..., digo, Shacklebolt e Moody nos aguardam no carro. É claro que naturalmente você não virá conosco. Precisa comple...
- Eu sei. Preciso completar a maior idade na casa dos meus tios.
- Exato. E por falar neles...você tinha um primo, não?
E pela primeira vez Harry encarou os Dursley como se quisesse realmente vê-los. E de repente notou que faltava algo ou alguém. Ah! Duda não estava lá...mas...por que? Os Dursley sempre estavam todos juntos quando iam buscar Harry. Talvez ele ainda estivesse na escola, afinal, ele, Harry é que tinha sido liberado mais cedo. Quando Harry voltou à tona já estava envolvido em um abraço de Hermione que dizia-lhe:
- Prometemos Harry, estas férias nós é que estaremos lhe fazendo uma visitinha.
- É cara, agente se encontra – Disse Rony dando – lhe um “abraço de homem”
Harry virou – se para o lado depois que Hermione foi juntar-se aos seus pais puxando Rony para lhes apresentar e viu Gina esperando – o para cumprimenta-lo.
- Então... – começou ele meio sem jeito - ...agente se vê né?
- É – respondeu ela olhando para o chão.
- Ah Gina...- Harry a abraçou por uns longos segundos e ao se separar deu de cara com o relógio que já marcava nove da noite!
- Ah...thau...
Foi com plena expressão de infelicidade que Harry se juntou aos Dursley. Não ousou perguntar sobre Duda e nem tão pouco lhe interessava. Tinha coisas mais importantes para pensar no momento. Tanta coisa acontecera naquelas últimas horas...
Chegou e foi direto para o quarto. Apesar de não comer havia um dia, não sentia fome, assim como também não sentira fome depois que Sirius morrera. Deixou o malão ao lado de sua cama e a encarou por um instante pensando no que o aguardava a partir dali. Depois lenta e silenciosamente se largou sobre ela olhando pela janela as estrelas e a lua la fora. Antes mesmo que pudesse perceber já havia pego no sono.
Acordou no outro dia com os gritos de tio Valter e Duda. Pelo que Harry conseguiu distinguir, tratava-se de alguma coisa de errado que Duda havia feito. Era inédito ver tio Valter discordar de alguma coisa que Duda houvesse feito.
Harry não estava muito interessado em ouvir sobre o que discutiam, tinha coisas mais importantes para pensar. Porém, era inevitável ouvir os berros dos dois:
- O que foi que eu lhe disse Duda?
- Eu não estou nem um pouco interessado para o que o senhor me disse, papai.
- Pois devia Dudley! – Era a primeira vez que Harry ouvia Tio Valter chamar Duda de Dudley...
- E que diferença faz se eu escuto os seus conselhos idiotas ou não?
- Toda. E não diga que os meus conselhos são idiotas.
Tio Valter parou abruptamente de falar quando percebeu a presença de Harry, parado à escada.
- O que faz aí?
- Nada – Respondeu Harry sem emoção.
- Vamos, saia já daí!
E enquanto Harry não desapareceu de vista, tio Valter não voltou a falar. Quando Harry alcançou o banco do jardim, aquele mesmo em que ele avistara Doby pela primeira vez, continuou ouvindo os gritos de Duda e do pai:
- VOCÊ NÃO PODE NAMORAR A FILHA DO MEU CONCORRENTE!!! – bradava tio Valter.
Então era isso? Duda estava apaixonado? Foi por isso então que ele não havia aborrecido Harry durante aqueles primeiros dias de férias...a única coisa que o garoto não conseguia entender é como alguém fora capaz de se apaixonar por Duda, mas isso não interessava ao garoto.
Começou então a pensar no que faria. Não podia perder tempo. Não tinha na verdade tempo a perder. Para onde teriam ido Snape e Malfoy? Onde estaria Voldemort naquele exato momento? Infelizmente Harry não poderia sair da casa dos Dursley até completar dezessete anos, o que seria em julho. Era exatamente o tempo que Harry precisava para planejar. Sim, de fato ele precisava planejar. Aquela era, muito provavelmente, sua última chance, e ele tinha total consciência disso...
Harry estava tão submerso em seus pensamentos, que só percebeu a presença de Edwiges quando a coruja, branca como a luz da lua, deu-lhe um beliscão e um pio de impaciência. Trazia amarrada à perna esquerda uma carta, a qual Harry logo desamarrou.
- Obrigado, Edwiges.
Estava em nome do senhor e da senhora Weasley:
O sr. Arthur Weasley e a sra. Molly Weasley convidam – o para o casamento de seu filho Gui Weasley com Fleur Delacour que será realizado na Toca no dia 2 de agosto, às 19 horas.
- Ah, é mesmo! – Dessa vez Harry pareceu um pouquinho mais animado.
Revistou o envelope e achou uma carta da sra. Weasley:
Querido Harry,
Estou lhe mandando esta carta para esclarecer-lhe como você virá para cá. Resolvemos marcar o casamento para depois da sua maior idade, porque sabíamos que seria arriscado você sair daí antes de completar dezessete anos.
Arthur conseguiu umas vassouras que os guiará até aqui. Ele o buscará um dia antes do casamento, no dia primeiro de Agosto, para você poder ficar um pouco mais com Rony, Gina e Hermione.
Gostaria também que você respondesse dizendo se recebeu a carta, porque agora com esta vistoria toda do ministério fica difícil saber quais correspondências então sendo liberadas.
Com carinho, Molly Weasley
Harry guardou a carta de novo no envelope e ficou acariciando o pescoço de Edwiges por um momento. Em seguida, levantou-se, e quando já ia adentrando a porta dos fundos, quase foi derrubado por uma coruja que trazia o Profeta Diário. Harry recolheu o jornal e procurou um galeão no bolso para depositar na bolsinha que a coruja trazia pendurada. Então subiu com o jornal e as cartas na mão e Edwiges no ombro. Chegando ao quarto pôs água para a sua coruja e sentou-se na cama para ler as últimas notícias do mundo bruxo.
Mortes, maldições lançadas, casas invadidas, era tudo o que se via na primeira página do jornal. Harry virou a página e deu de cara com uma reportagem intitulada de “Hogwarts: será o fim dessa longa jornada?”
O Ministro da Magia anunciou hoje que, com a morte de Alvo Dumbledore, até então diretor de Hogwarts, acha remota a possibilidade do único colégio de magia e bruxaria da Grã-Bretanha reabrir, devido à carência de bruxos qualificados ao cargo de diretor.
“Apesar das nossas desinteligências – disse o Ministro – reconheço que Dumbledore foi um grande bruxo. Eis que infelizmente ele morreu, deixando-nos sem opção quanto ao que fazer com Hogwarts.”
Parece que o Ministro sente muito não poder reabrir a escola. Alguns professores, como a vice-diretora Minerva McGonagall, insistem em reabrir a escola, e ameaçam de que, do contrário, continuaram a morar lá:
“É estúpido pensar que nossas casas então mais seguras do que Hogwarts. Não existe lugar mais seguro no mundo. Hogwarts pode não estar tão segura quanto antes, mas continua sendo o lugar mais seguro que existe!” – disse ela à nossa repórter.
Iinfelizmente, muitos pais de alunos não pensam assim. Será mesmo que Hogwarts ainda está segura? Será que se a escola reabrisse os pais deixariam seus filhos regressarem? Talvez estas sejam as maiores dúvidas do nosso Ministro.”
“patético” – pensou o garoto.
Harry folheou as outras páginas passando os olhos rapidamente, apenas para ver se tinha qualquer outra notícia importante. Bateu os olhos rapidamente em uma manchete a respeito de Slughorn, seu atual professor de Poções:
“O até então professor de Poções de Hogwarts, Horácio Slughorn, desapareceu nesta madrugada. O professor residia em Hogwarts, e, a vista de todos tinha jurado lá permanecer a menos que alguma coisa o obrigasse a sair. Talvez o professor tenha apenas ido dar mais um de seus longos passeios, ou talvez ainda, o Lorde das Trevas o tenha levado para passear”.
Será que Slughorn tinha se juntado a Voldemort e seus imundos Comensais da Morte? Harry realmente estava precisando começar a planejar.
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