Don't cry (Não chore)

Don't cry (Não chore)



- Não há o que fazer, Remo. Eu simplesmente não confio no garoto, e não há o que fazer com ele. Fora daqui ele corre um risco altíssimo. – Gina estava espiando a conversa dos membros da Ordem com as Orelhas Extensíveis. Sua mãe reclamava de Draco, achava que ele não era digno de confiança.
- Eu tive uma idéia para testá-lo, Molly. Mas acho que você não vai aceitar.
- Quem sabe?
- O problema é que minha idéia envolve um de seus filhos. Gina, melhor dizendo.
- Não, não e não. Minha filha não. É melhor não envolver ela. Você sabe como ela gosta de querer ficar se envolvendo nos assuntos da Ordem.
- Mas e se eu quiser, mamãe?
- Gina, você estava escutando de novo? Achei que tivesse dito que não queria saber de você fazendo isso. E aliás, como anulou o feitiço da porta? Ela estava imperturbável.
- Desculpe, Molly... Fui eu.
- Você, Remo?
- Eu queria que ela escutasse. Sabia que ela aceitaria.

Talk to me softly
(Fale suavemente comigo)
There’s something in your eyes
(Há algo em seus olhos)

- Ei, Malfoy!
- O que foi Weasley?
- Não precisa falar assim. Eu só quero conversar... (“Aproxime-se devagar”, dizia a voz de Remo na sua cabeça). Não precisa engrossar.
- E o que você quer falar comigo?
- Nada demais. É que eu estou sozinha aqui agora, você também. Achei que não haveria problema.
- Olha aqui, ruivinha. Não me procure, ainda mais se for porque seu namoradinho e os amiguinhos dele não levaram você para brincar lá fora.
- Até parece mesmo. Primeiro, eu não brinco mais. Não sei se você notou, mas eu já estou bem crescidinha. Segundo, o Potter não é mais meu “namoradinho”. E terceiro, eu te procurei porque realmente queria conversar com você. Mas se não quer minha companhia, sinto muito. Agradeço ter perdido 5 minutos comigo. – Ela deu as costas e saiu pisando duro, Mas ela pôde perceber o olhar surpreso dele antes de se virar. E que olhar... Gina nunca tinha percebido como os olhos dele eram bonitos.

Don’t hang your head in sorrow
(Não se entregue à tristeza)
And please don’t cry
(E, por favor, não chore)
I know how you feel inside
(Eu sei como você se sente)
I’ve been there before
(Eu já estive aí antes)

Flashback

- Ora, ora. Uma Weasley aqui perdida, sozinha...
- Sai de perto de mim, Malfoy. Ou eu... Ou eu...
- Ou você o quê? Grita e atrai o Filch?
- Não, eu te bato!
- Me bate? É uma piada, né? Você, magrelinha desse jeito, uma aluninha do terceiro ano, vai me bater? Bater quando tem coisa muito melhor para fazer... Tsc tsc tsc. Péssima idéia.
- Malfoy, sai logo de perto de mim.
Draco foi acuando Gina na parede, encurralando-a. Ela, tremendo, não conseguia pegar a varinha no bolso. E olhava assustada para os lados. Que idéia também fora aquela de sair tão tarde da biblioteca? E com não percebera o Malfoy a seguindo?
- Sair de perto? Aí não tem graça.
Ouviu-se um barulho ao longe. E Draco Malfoy a arrastou para dentro da próxima sala de aula e lacrou a porta.
- O que você quer? Pára com isso... Por favor, Malfoy.
Ele de novo a encostava na parede, num canto da sala. E, do nada, ele segurou os braços de Gina e a beijou. A princípio, ela resistiu, mas percebeu que não tinha como. Ele era muito mais forte (E ela o achava tão magricela... Bonito, mas muito magro. Pelo visto se enganara). Então, tudo acabou e ele a soltou.
- Ainda te sigo de novo, ruivinha. Te ouvir suplicar de novo: “Por favor, Malfoy”.
- Ora seu... – ela tentou replicar, mas deixou-se ficar na sala quando ele saiu. De repente deu-se conta de que Malfoy dera-lhe seu primeiro beijo.

Somethin’s changin’ inside you
(Há algo mudando dentro de você)
And don’t you know
(E você não sabe)

Don’t you cry tonight
(Não chore hoje à noite)
I still love you baby
(Ainda te amo, amor)
Don’t you cry tonight
(Não chore hoje à noite)

Três dias depois de receber suas “instruções” de seguir Draco Malfoy e aproximar-se dele, tornando-se sua amiga, até namorada se preciso, e de fazer sua primeira abordagem, Gina estava passando num dos corredores da sede da Ordem quando ouviu uns gemidos de choro. Ela abriu uma porta, tentando avistar quem era.
- Alô? Oi, quem está aqui?
- O que você quer? Veio acabar comigo também?
- Ah, é você Malfoy... Por que o “também”?
- E por acaso isso te interessa?
- Se eu disser que interessa você vai acreditar? E vai me contar?
- Pode ser.
- Porque eu me interesso pelo que acontece com você.
- Desde quando?
- E por acaso isso te interessa? Rsrsrs, desculpa, não resisti.
- Tudo bem...
- E então? O que aconteceu?
- Se quer tanto saber, eu cansei. É, cansei: cansei de todos me olhando torto, de todos evitando se aproximar de mim como se eu tivesse uma doença contagiosa, de ver eles falando de mim pelas costas, de ninguém acreditando em mim. Era muito mais fácil aturar a loucura do meu pai do que agüentar isso aqui.
- Nem sempre o que é mais fácil está mais certo. E uma coisa eu sei: mais difícil que mudar é aceitar a mudança. Você só precisa de um tempo. (N/A: Como diria a Legião Urbana: “E a mudança levou tempo por ser tão veloz” – Música Perdidos no Espaço)
- Eu não quero um tempo. Eu quero que alguém me enxergue como eu sou, não como fiz acreditarem. Atuei por muito tempo, e ninguém me conhece por causa disso.
- Eu quero te conhecer. Mostre-se para mim.
Os dois estavam sentados frente a frente. Encaravam-se. Havia algo nos olhos de Malfoy que atraia a atenção de Gina. Não era a sombra misteriosa que ela esperava encontrar, mas uma tristeza fria e cinzenta, cintilando numa lágrima.

Don’t you cry tonight
(Não chore hoje à noite)
There’s a heaven above you baby
(Há um céu sobre você, amor)
And don’t you cry tonight
(E não chore hoje à noite)

A partir daquele dia, Gina e Draco começaram a conversar, mas geralmente longe dos olhares dos outros. A menina se assustara com o jeito que ele revelava. Beirava a loucura. Essa mania dele de conversar longe dos outros, sempre achando que os outros não podiam ouvir a conversa, mesmo que fosse relativo às comidas que mais gostavam (por exemplo). E quando estavam as sós, por vezes ele vidrava o olhar, os olhos cinzas faiscando. Mas era carinhoso. Ela se esforçava para não deixá-lo perceber que tudo não passava de um teste de personalidade.
Aos poucos, Gina começou a se envolver de verdade com o rapaz. Ele passou a sumir por dias, e ela se consumindo de preocupação em segredo. Passava relatórios a Lupin, algumas vezes, e aproveitava para descobrir o que ele fazia quando sumia. Draco nunca lhe contava o que fazia, muitas das vezes que voltava sequer olhava para a menina. Não falava com ela por dias, ignorava-a solenemente, e depois a surpreendia sozinha, chamava-a para conversar, dizia que tinham que ser cuidadosos, ninguém podia perceber que estavam envolvidos.
Certa vez, ela resolveu perguntar por que ele a ignorava quando reaparecia. Ele pareceu sair de si, ficou raivoso, gritou, e quase bateu nela. Conteve-se a tempo. Disse-lhe que nunca mais falasse sobre isso. E não foi a única cena de descontrole que ela presenciou. Algumas vezes ele a repudiava mesmo. Mas algo em Gina a fez não pensar nisso por muito tempo. Tentava esquecer esses incidentes assim que aconteciam.
E, aliás, ela se apaixonou pela fúria com que ele a beijava. Nessas horas, ele era apenas ele: um garoto normal, de 17 anos, envolvido com uma garota, beijando-a como se o mundo fosse acabar no próximo instante.
Draco também chorava. A fragilidade dele era outra coisa que atraiu Gina. Ele desabafava, algumas vezes, deixava-se deitar no colo da menina e chorar. Ela afagava os cabelos platinados, e parecia que com isso o fazia mais forte. Ele era inteiro uma louca contradição.

Give me a whisper
(Sussurre para mim)
And give me a sigh
(E suspire)
Give me a kiss before you tell me goodbye
(Dê-me um beijo antes de dizer adeus)
Don’t you take it so hard now
(Não ache muito difícil agora)
And please don’t take it so bad
(E, por favor, não leve tão a mal)
I’ll still be thinkin’ of you
(Eu ainda estarei pensando em você)
And the times we had... baby
(E nas horas que tivemos... amor)

- Ei, Gina! Aqui! – Aquele era o sussurro habitual com que Draco a chamava. Uma porta estava entreaberta e dela saía uma fresta de luz. Gina entrou no quarto do rapaz. Não havia qualquer sinal de individualidade ali, nenhuma decoração, objeto pessoal visível. Gina já tinha se acostumado com isso, e nem percebia mais. Draco estava sentado na cama. Tinha algo nas mãos.
- Oi, ruivinha...
- Oi.
- Olha isso. – Ele mostrou o que tinha nas mãos, uma foto. – É a minha mãe quando jovem. Ela sempre foi tão bonita.
Gina pegou a foto das mãos dele e olhou. Narcisa Malfoy, mesmo com aquele ar de arrogância, era inegavelmente bonita.
- Linda...
- Minha mãe foi quem ferrou Snape. Fez com ele um Voto Perpétuo. Ela me achava fraco. Mas sempre gostou de mim, me protegia do meu pai. Meu pai sempre me treinou nas Artes das Trevas. Era o jeito dele de mostrar que esperava que eu fosse grande. Acho que tudo redundou num grande fracasso. Tanto o amor da minha mãe, quanto a obsessão do meu pai. Eu não servi para nada, no fim das contas.
- Não diga isso!
- Mas eu preciso dizer, preciso dizer o que sinto, o que penso.
- Não precisa tentar me contar. Eu não te acho um fracassado. Para mim vale mais o coração. E eu acho que estou no seu. Mesmo você não me mostrando isso.
Os dois se encararam. E num único gesto (lido na mente um do outro), se abraçaram e beijaram.
- Isso pode ser considerado uma demonstração?
- Desde que você faça isso apenas comigo... Não, não foi isso que eu quis dizer, mas deixa para lá. Prefiro aproveitar esse momento de silêncio generalizado na casa para ficar com você. Ninguém está aqui para ligar para o meu sumiço. Não vou desperdiçar isso explicando minhas ide...
Draco a calou com outro beijo, um beijo mais ardente, sedento, quase suplicante, parecendo que o ar faltava e que Draco precisava retirá-lo de Gina.
- Nunca achei que fosse capaz de dizer isso a alguém, ruivinha, mas eu te amo.
- Não fale isso. Não fale nada.
E os dois se uniram de novo. Aos poucos, as mãos se permitiram passear, entrar por baixo das blusas, as unhas arranhando a pele. E as blusas tornaram-se excessivamente quentes, não parecia mais inverno, não parecia mais estar frio, nevando.
- Draco, eu não...
- Eu sei... Só me diga que quer. Eu preciso de você.
- Eu também. Eu confio em você.

And please remember that I never lied
(E, por favor, lembre-se que nunca menti)
And please remember how I felt inside now honey
(E, por favor, lembre-se de como eu me senti agora, querida)

- Draco... Draco... Anda, acorda.
- Nossa, eu dormi?
- Nós dormimos...
- Mas também, estava tão gostoso aquele abraço, seu corpo quente e perfumado tão junto ao meu. Te amo muito.
- Eu sei, eu também, mas eu preciso sair agora. Imagina se me pegam aqui! Eu morro na hora! Meus irmãos, meus pais me matam!
- Calma, eles não vão saber. Eu não sou louco de contar.
- Obrigada. Mas eu tenho que ir.
- Não sem me dar um último beijo.
Enquanto conversavam, Gina terminou de se vestir, deu um beijo profundo em Draco e saiu. Por azar, mal tinha andado dez passos, ouviu Harry chamando-a.
- Gina, você estava com o Malfoy?
- Eu? Não, é que eu... ele... Ah, olha aqui Harry Potter, você não tem nada que ficar vigiando com quem eu converso, ouviu?
- Eu não estou vigiando! Só que sua mãe perguntou se eu sabia onde você estava.
- Então diga a ela que... oras, não diga nada! Depois eu falo com ela.

-||-

Após o almoço seguinte, Gina foi conversar com Lupin, contar-lhe suas últimas impressões sobre Malfoy. Foi quando teve a notícia.
- Obrigada, Gina. E acho que a partir de agora não será mais necessário que você o vigie para nós. Já traçamos o perfil psicológico dele. Assim que ele voltar da missão que lhe passamos, eu vou abrir o jogo com ele.
- Não! Quero dizer, ele vai enlouquecer, vai me achar a pior pessoa no mundo. Eu não queria isso. Ele precisa de amigos.
- Confie em mim. E pense bem: melhor que eu conte. Imagina o que ele pode fazer com você a hora que descobrir a mentira.
Gina, sem mais o que fazer, assentiu. Mas ficou na cozinha, esperando Malfoy voltar. Ele não voltou. Nem naquele dia, nem no outro, nem nos que se seguiram. Ele voltou apenas duas semanas depois. E Gina foi lenta demais. Lupin contou tudo a ele antes que ela pudesse tentar se explicar. Ela ouviu apenas o grito, viu-o às lágrimas, mas não pôde fazer nada.

You gotta make it your own way
(Você tem que fazer as coisas do seu jeito)
But you’ll be alright now sugar
(Mas eu estarei bem agora, docinho)
You’ll fell better tomorrow
(Você vai se sentir melhor amanhã)
Come the morning light now baby
(A luz da manhã está vindo, amor)

Uma semana depois Gina seguiu Draco, esperando surpreendê-lo sozinho. E conseguiu. Já tinha aprendido os hábitos dele. Entrou silenciosa como uma gata no quarto dele.
- Muito bem, Draco Malfoy. Você não vai mais fugir de mim.
- Você não tem o direito de estar aqui. Saia logo!
- Eu não vou. E você sabe que não, não adianta pedir.
- Eu não estou pedindo, estou ordenando. Eu nunca achei que você fosse capaz disso.
- Assim você mostra que não me conhece. Eu sou capaz de muita coisa, quando elas envolvem outras coisas preciosas para mim. Por isso eu estou aqui. Você...
- Não venha me dizer que tenho valor qualquer para você. Volta logo para o seu Potterzinho, vai!
- Por favor, deixa eu falar.
- NÃO! E sai daqui! Eu não quero nunca mais te ver, nunca mais te ouvir, nunca mais saber que você sequer existe! Anda, SAI!
Vendo a derrota, Gina saiu. “Essa foi a gota d’água. Eu nunca mais vou atrás de você, Draco Malfoy. E diabos, Gina Weasley! Não chore por isso!”

Don’t you ever cry
(Não chore jamais)
Don’t you cry tonight
(Não chore hoje à noite)
Baby maybe someday
(Algum dia talvez, amor)


N/A: A citação da música da Legião Urbana é por causa de uma coincidência. Eu tinha pego um CD emprestado, mas nem conhecia todas as músicas, e estava escutando enquanto escrevia. E no momento em que eu digitava a palavra “mudança” esse pedacinho tocou. Eu só prestei atenção porque era a mesma palavra, e por sinal, o mesmo sentido do que eu escrevia. Bizarro, né?

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