O Batizado - Completo



Atenção, gente – A partir do Capítulo 19 pode haver spoilers do LIVRO 7. Por isso, quem ainda não leu e não quer saber, cuidado.

- Capítulo 20 –
O verdadeiro Zacharias Smith


[Reino Unido, Novembro de 2007].

A sala da antiga mansão londrina era o palco de uma ocasião sigilosa. A lareira crepitava baixinho, o relógio de parede mal soava o tique-taque das horas e até mesmo o ranger das dobradiças das portas parecia mais suave, como que comungando com o momento secreto.

Aproveitando a semi-escuridão que o término do dia proporcionava, uma sombra deslizou pelo aposento, pé-ante-pé, chegando até uma mesinha de canto. Na parede, a projeção desta sombra revelou o movimento de um rápido escrutínio ao redor, fazendo cabelos compridos balançar sob ombros femininos. Depois, a sombra projetou o esticar de seu braço, até que a mão alcançou um objeto que descansava sob a mesinha: um telefone.

- Alô? – Ana disse em um sussurro, após um curto período de espera, enquanto a ligação era completada. – É da casa da Regina? Aqui é a Ana Weas...

Um grito estridente ressoou pelo fone, obrigando Ana a afastá-lo de seu ouvido com uma careta assustada e dolorida, os tímpanos já bastante sensibilizados.

- Er... Alô? Está tudo bem aí? – Voltou a perguntar quando tudo silenciou do outro lado da linha, e, em seguida, respirou aliviada ao ouvir a voz conhecida que lhe respondia. – Ah, Bruninha, é você! Por um momento pensei que...

Novos barulhos, desta vez indicando que o fone passava desajeitadamente para outras mãos. Ana aguardou, até que outra voz começou a falar rapidamente.

- Oi, Morgana! Sim, é verdade! – Sorriu, pondo-se a tagarelar. – O nome dela é Elizabeth, mas nós a chamamos de Lizzy. Ela tem uns cachinhos negros e olhos azuis brilhantes, e parece um anjinho quando sorri. Pessoalmente, acho que se parece comigo, mas as covinhas são do Carlinhos, e...

Um novo repasse do fone, seguido de um pequeno bufo feminino, indignado. Depois, Ana foi escutando o que lhe dizia uma voz masculina, o semblante da brasileira ficando cada vez mais espantado à medida que ouvia, e depois vermelho como um pimentão:

- Bernardo, seu indecente! – A reprimenda sibilou entre seus lábios como se estivesse dando um puxão de orelha em Rony, seu cunhado. – Eu não vou perguntar para o Harry se ele já comeu queijo com goiabada (1), de jeito nenhum! – A gargalhada de seu interlocutor explodiu do outro lado da linha, fazendo Ana fechar os olhos, impaciente. – Ai, eu não sei por que ainda te levo a sério!

Do outro lado, o fone trocou de mãos novamente, enquanto o seu antigo possuidor ainda estourava de tanto rir.

- Oi, Sô! – A careta foi desaparecendo quando ouviu a voz da próxima amiga, Sô Prates. – Ah, obrigada. Também estou muito feliz. - Novo silêncio, enquanto escutava a pergunta da outra brasileira. – Ah, bem, todos os outros irmãos Weasleys já estão casados, mas acredito que tem tudo para o Percy se divorciar de sua intragável esposa... E aí, vai encarar? – Foi a vez de Ana ter que reprimir a gargalhada, quando ouviu a outra recuar em suas intenções.

- Regina, finalmente! – Exclamou quando a dona da casa enfim conseguira se apoderar do telefone. – Estou ótima, querida, e você? – “Bem, exceto por um certo medalhão misterioso e um prenúncio de morte”, pensou Ana, mas não iria preocupar a amiga com isso. – Por que estou sussurrando? Ah, é que estou na casa do Snape e... Bem, é o “Lar de Elizabeth”, você sabe, o único lugar que consegue fazer aparelhos trouxas funcionarem, em meio a tanta magia... (2) Além do quê, inexplicavelmente o Morcegão conseguiu bloquear o feitiço de inibição do Ministério para aqueles que conhecem os livros. Assim, posso falar livremente aqui, mas não quero chamar a atenção dos pequenos, que agora estão lá em cima, ou jogando quadribol no quintal.

Com um suspiro pesaroso, Ana escutou o que a amiga ia lhe dizendo.

- Ah, eu também estou morrendo de pena que vocês não possam vir para o batizado da Lizzy. Mas juro que mando um montão daquelas fotos bruxas que se mexem! - Ana parou para escutar. – Sim, sim! Isso mesmo! O batizado é amanhã e preciso saber se a madrinha vai chegar a tempo. Não consegui entrar em contato com ela pelos meios bruxos. – Parou novamente, escutando. – Ah, já está a caminho? Que bom! Por um momento, pensei que as férias no Brasil estavam tão boas que a tinham feito esquecer da afilhada! – Riu. – Ok, então a gente se fala outra hora. Sim, pode deixar que escrevo. Manda um abração para todo mundo aí. Beijos!

Ana tinha um monte de coisas para contar, mas resolveu deixar para fazer isso através de uma carta. Principalmente por causa de uma informação, que sabia que iria fazer Bruninha gritar até perder a voz: Sirius Black retornara.

***

A Toca estava em um rebuliço. Mais do que o normal, quero dizer. Os rapazes haviam conjurado mesinhas e cadeiras, que agora estavam espalhadas pelo quintal. No centro de cada mesa, arranjos com pequenas flores brancas e amarelas foram colocadas, sob as toalhas brancas.

Tiveram um pouco de trabalho com os gnomos, que pareciam não entender que não estavam convidados para o batizado... Felizmente, depois Rony e Harry os relembraram como os bruxos “desgnomizavam” seus jardins, as criaturinhas se mantiveram para fora dos limites do cercado da casa dos Weasleys.

Tia Agatha fora outra que tivera que ser convencida de que A Toca era o melhor local para a comemoração acontecer, uma vez que Smith House ficava um tanto deslocada para os convidados trouxas, como Tio Antônio e Tia Bianca, e Marcos e Patrícia, pais de Mel e Felipe. Agatha achava que o bem-estar de todos os seus afetos dependia dela, mas os sentimentos da boa senhora foram salvos quando a sra. Weasley requereu a sua ajuda na preparação de tudo.

- Parece que não sobrou muito para a MÃE da batizada fazer... – Ana resmungou.

O dia estava gloriosamente ensolarado para o mês de novembro, e tudo estava correndo bem. Havia tanta gente para o batizado de Lizzy – afinal, somados, os Weasleys e os Smiths já seriam considerados uma multidão – que o quintal da Toca havia se transformado em um mar de branco brilhante das toalhas das mesas, e apinhado de gente. Até mesmo tia Muriel havia aparecido (sim, ela ainda está viva).

- Aqui estou, para o batizado do primeiro filho. – Ia dizendo a anciã, enquanto arrastava os pés até o quintal, para onde Carlinhos a estava conduzindo com toda a paciência que conseguira reunir. - Não pude ir ao casamento, mas ninguém esperava que com a minha idade eu fosse até o Brasil, era só o que me faltava! Minha saúde, como sabe, não anda nada boa...

- Ah, todos nós acompanhamos com ansiedade seu estado de saúde, tia Muriel. - Ana disse, a frase soando claramente em duplo sentido. - Deus sabe que, se a senhora passar por mais um século, todos nós gritaremos!

Muriel voltou o pescoço, olhando Ana com um misto de surpresa e desgosto. Não poderia retrucar, porque seria dar certeza a uma ofensa incerta. Por isso, limitou-se a bufar e se sentar na cadeira puxada por Carlinhos, e descontar a frustração na primeira pessoa que viu: Hermione.

- Continua magra demais. – Foi o único comentário, após pousar os olhos na ex-grifinória por apenas alguns segundos.

- Mas... Eu estou grávida! – Hermione disse, confusa, para Ana.

De fato, Hermione apresentava o ventre avolumado de uma mulher em estado adiantado de gravidez. Ela e Rony esperavam o irmãozinho ou a irmãzinha do pequeno Sirius. (3)

- Até parece que você não conhece tia Muriel, Hermione. – Gina se aproximou trazendo consigo Serenna e Luíza. – Ué... – Olhou ao redor, procurando alguém. – Cadê a madrinha?

- Ela está lá dentro, curtindo a afilhada. – Ana respondeu, fazendo um movimento de mão despreocupado.

Saindo pela porta dos fundos da Toca que dava para o quintal, justamente onde elas estavam, uma mulher jovem e com a expressão risonha apareceu trazendo nos braços um bebê. Tendo ouvido o comentário de Ana, acrescentou:

- Na realidade, a Lizzy precisou trocar de frauda e a Ana me disse: “Sally Owens, está na hora de assumir seu papel de madrinha”.

***

Em uma mesa próxima, Harry discutia com Rony, Tonks, Lupin, Snape e Sirius os acontecimentos dos últimos meses. Relembraram o que tinham de informação e tentavam esclarecer os pontos obscuros.

- O que o velho índio quis dizer com Tempos Novos? – Sirius, agora inteirado do que havia acontecido nos doze anos que esteve ausente, quis saber.

- Isto é o mais engraçado. Ana me disse que é um termo utilizado pelos índios do sul, não daqueles com os quais falamos no Centro Rio Negro. Ela achou estranho o ancião ter usado esta expressão. Mas, de qualquer forma, “Tempos Novos” é um período que corresponde à época das chuvas, no verão do Hemisfério Sul.

- Que começa em dezembro. – Lupin completou, fazendo Harry assentir.

- Tanto tempo assim? E se o ancião estiver errado? – Sirius interveio. – Ou ainda, se o que estão procurando se mostrar no final uma pista falsa? Vão esperar que o pior aconteça? – Ele praticamente estava exortando os outros a agir.

- O chefe indígena apontou um sinal: algo que eu havia perdido há muito tempo retornaria para mim.

- E, realmente, voltou. – Lupin pôs a mão no ombro de Sirius, sorrindo para o amigo.

- Eu? – Sirius estava surpreso. – Mas como isto teria alguma ligação com a minha volta? Afinal, vocês acharam o Livro de Fausto, onde estava o ritual para me trazer de volta, por outro motivo. E Serenna...

Snape fez uma cara feia.

- Quero dizer, a senhorita Snape... – Sirius corrigiu-se, mas era evidente que se divertia com a irritação de seu antigo inimigo.

- Parece que minha irmã e eu já temos nosso lugar nesse mistério explicado. – Snape o interrompeu novamente. – Quando o tirou do véu, é provável que Serenna estivesse cumprindo um dever há muito tempo determinado... Ainda que admitir isso me desgoste profundamente.

Sirius limitou-se a erguer uma sobrancelha, intrigado. O Morcegão - o padrinho de Harry adorou o apelido que os trouxas haviam dado ao “personagem” - conseguia tirá-lo do sério com aquela mania de falar sem explicar nada, só para fazer os outros terem de admitir a própria ignorância. Mas Harry não estava disposto a perder a paciência com o ex-professor no dia do batizado da sobrinha.

- Ao saber que o chefe índio havia mencionado uma época em específico – Ele retomou as explicações -, Lupin desconfiou que tivesse alguma relação com um fenômeno que se repete em intervalos regulares...

- Sim. – Lupin continuou, empolgado. – Estações, marés, luas, florescimento de plantas... Mas, no final, tudo se resume a uma coisa: o movimento dos planetas. E, se voltarmos a observar a outra ponta do nosso mistério, ou seja, Avalon...

- O Zodíaco de Glastonbury! – Rony balançou a cabeça, vendo que tudo se encaixava.

- Certo, Harry já me contou sobre isso. – Sirius falou depois de alguns segundos. – Mas o quê Serenna... – Ele se interrompeu quando Snape pigarreou. – Por Merlim, Seboso, você sabe tão bem quanto eu que sua irmã está ligada a mim de uma forma bem... Íntima, desde que me tirou daquela quase-morte do véu! Então pare de exigir que eu a trate de maneira formal, porque isto não se encaixa na situação.

- Está ligada mesmo, Black? – O outro questionou, um brilho raivoso desperto no olhar, diante do apelido ofensivo que Sirius e os outros Marotos lhe deram quando eram adolescentes. – Que eu saiba o ritual não se completou, e somente se... SE minha irmã assim o consentir se completará.

- Merlim, vocês dois querem estragar o batizado da Lizzy? – Tonks se pronunciou pela primeira vez, fazendo os dois homens se calarem, constrangidos. – Tratem de falar mais baixo! O que Lupin quer dizer, Sirius, é que Serenna pode ser um dos gêmeos do Zodíaco.

Sirius piscou várias vezes, aturdido e confuso com a revelação.

- Tá... Agora mesmo que não entendi nada.

- A amiga de Ana, Luíza, a que ativou o feitiço que estava no medalhão de Ravenclaw quando o tocou, nos mostrou o trabalho de reconstituição dos símbolos que ela está fazendo. Não é muito, mas foi o suficiente para perceber que se trata de um manual de instruções.

- Um manual para quê?

- Para abrir um portal. - Harry respondeu. – E acreditamos que são necessárias doze pessoas para abri-lo.

- Ou melhor, treze. – Snape o corrigiu.

- Serenna é uma delas. – Sirius fez uma afirmativa, mas mesmo assim o afilhado assentiu com a cabeça. Então, Sirius se voltou para Snape, cínico: – Sendo ela um dos gêmeos, você seria o outro. Espera aí... Vocês disseram treze? Mas há só doze signos. Ah, claro, treze, pois para Gêmeos seriam necessárias duas pessoas para um signo só.

Lupin balançou a cabeça negativamente:

- Bem, pensando bem, talvez seja melhor dizermos que são necessárias catorze pessoas. No Zodíaco de Glastonbury há doze signos e um “Décimo Terceiro Gigante”. O Cão de Langport, localizado fora do círculo, próximo a Gêmeos, cujo focinho corresponde à estrela de... Sirius.

- Merlim... – Sirius estava estarrecido. – Serenna... Ela já...

- Não, e gostaria que não contasse, Black. Minha irmã não está preparada. Precisa de tempo até mesmo para entender a natureza do vínculo que se formou entre vocês naquele véu antes de ouvir falar sobre o Zodíaco.

- Escute aqui, Seb...

- Sirius, Sirius! – Tonks interveio. – Foi Ana quem pediu isso. Foi ela quem fez a ligação de vocês três com o Zodíaco pela primeira vez, depois que Lupin expôs suas teorias para a Ordem. Ela pediu para deixarmos que ela conte, aos poucos, tudo para Serenna.

- Bem, se é assim... Vou fingir que nada sei. – Sirius aquiesceu, ainda que a contragosto. Em seguida, mudou de assunto: - Então, teremos que esperar até dezembro, ou mais ainda. Como saberemos o momento certo e quem são os outros dos signos?

- Não sabemos. – Harry respondeu após um silêncio pesado que se fez na mesa. – Nossa única esperança é que Luíza termine de transcrever os símbolos a tempo.

As pessoas da mesa se voltaram para a moça, sentada entre as amigas no outro lado do quintal. Era estranho, mas a solução para um mistério do Mundo Mágico estava nas mãos de uma única trouxa.

Rony se remexeu em sua cadeira, daquele jeito que Harry conhecia como sinal de que algo o estava incomodando. Olhou para o amigo e ele estava com o olhar distante, enquanto coçava distraidamente o pulso onde um dia o bracelete que receberam para enfrentar Voldemort estivera. (3)

- Rony, você está coçando o braço de novo. – Ele sussurrou para o ruivo. – Você tem feito isso toda vez que mencionamos Avalon.

- Mesmo? – Rony parecia surpreso. – Não tinha me dado conta... – Então, ele sussurrou de volta: – Harry, tenho maus pressentimentos sobre isso tudo. Eu não sei o que é. Algo instintivo, sabe? Como quando me deparo com uma aranha, como se algo irracional dentro de mim dissesse que há perigo.

- Desde quando sente isso? – Harry estava preocupado.

Rony avermelhou, pois tinha entendido a mensagem oculta na pergunta: ele tinha escondido isto por quanto tempo dele, o seu melhor amigo?

- Desde que Hermione teve aquele sonho.

***

Aquele refúgio a poucos quilômetros de Londres era providencial para quem queria que sua estada no país passasse despercebida. O château tinha proporções modestas para aquele tipo de construção, sem deixar de ser confortável e elegante.

Renzo Leone estava agora sentado na biblioteca, enquanto aguardava seu homem de confiança retornar com as últimas informações sobre o medalhão. Marcella estava com ele, embora sua companhia fosse extremamente desagradável, em virtude do mau humor da mulher. No entanto, precisava dos conhecimentos dela sobre o objeto e não podia se dar ao luxo de dispensá-la.

Finalmente, a porta se abriu e o criado, muito formalmente – Dio, como os criados ingleses o aborreciam! -, anunciou a chegada do inglês que esperavam. Como previu, Marcella continuava desaprovando o britânico tanto quanto antes, e fez questão de demonstrar isso com um torcer de lábios de desprezo, embora fosse evidente que a morena estava ansiosa pelas notícias que ele trazia.

- E então? – Renzo intimou o outro assim que foram deixados a sós.

- Nosso informante disse que a moça, que é sempre vista com os membros da Ordem da Fênix, é amiga de uma das esposas dos filhos dos Weasleys. – O inglês respondeu. – O nome dela é Luíza Esteves.

- Não é bruxa? – Marcella interrompeu-o.

- Não. – O inglês franziu o cenho, aborrecido com a interrupção. – Mas nós já desconfiávamos disso, não é mesmo?

Marcella remexeu-se desconfortavelmente em sua cadeira. Saber daquelas coisas era responsabilidade dela.

- Não, não esperávamos. – Foi tudo o que ela disse.

- O nome dela não é inglês. – Constatou Renzo. – É estrangeira?

- Sim. Tomei a liberdade de solicitar um dossiê assim que tive a confirmação da identidade da moça. – O inglês respondeu, entregando uma pasta ao outro homem.

O italiano a abriu e, à medida que ia desvendando seu conteúdo, resumia em voz alta as informações e passava a documentação para Marcella:

- Brasileira... Nascida em 12 de julho de 1983, em Salvador, Bahia. Até os três anos não falava... e chegou a ser diagnosticada como deficiente mental! O pai abandonou a família quando tinha quatro anos. Ahá! – Sorriu, triunfante, para Marcella. – Pouco depois finalmente foi identificada como uma criança com o QI acima da média e... Possuidora de uma impressionante memória fotográfica.

- E não temos todos nós? – Marcela franziu o nariz, com desprezo.

- Cara... – Renzo trocou um olhar divertido com o jovem inglês, antes de continuar. – Não precisa ficar tão enciumada por esta brasileira ter acionado o medalhão em vez de você!

- Eu é que devia tê-lo encontrado primeiro! - Ela exclamou, levantando o queixo, os olhos brilhando de indignação e raiva. – Não uma qualquer que nem tem a capacidade de reconhecer a honra de ter tocado naquele medalhão!

- Mas não foi você, cara. Aceite isso de uma vez, e também aceite que precisamos da moça.

Marcella bufou e voltou a atenção para os documentos. Renzo continuou a ler o relatório:

- Depois que o pai as abandonou, ela e a mãe se mudaram para São Paulo, onde a mãe a criou sozinha até que morreu, de câncer, quando Luíza tinha 17 anos...

- Ah, por favor, quanto drama! – Marcella ironizou. – Mais um pouco vai me fazer chorar!

- Duvido que alguma vez tenha chorado em sua vida, Marcella. – Renzo comentou. – Bem, mas nessa época a moça tinha avançado vários anos de estudo, graças a sua inteligência incomum, e concluído a primeira faculdade. Formada em Física, Matemática e Ciências da Computação, com especialização em Linguagem em Código... Ah!

- O que foi? – O homem inglês quis saber.

- Entrou, aos vinte e um anos, na Agência Brasileira de Inteligência. – Renzo leu um trecho em particular do relatório. – A amiga de que falou, a que tem ligação com os Weasleys... É a esposa de Carlos Weasley, Ana, não é?

- Exatamente. – O mais jovem respondeu.

- Nossos informantes dizem que ela esteve intervindo no Ministério da Magia, em 1997, um ano antes do fim da Guerra Bruxa.

- E daí? – Marcela deu de ombros.

- Daí que há registros de atividades dela na mesma época no Brasil. No mesmo momento.

- Ora, um viratempo...

- Não existem mais, cara mia. O último foi possuído por Hermione Granger, e foi destruído antes de Ana Weasley aparecer. Os bruxos mexeram com o tempo de alguma outra forma. Isso me intrigou na época em que soube, mas não é essa a questão. O fato é que, como fiquei interessado nessa peça do quebra-cabeças, acabei descobrindo algo interessante sobre a jovem senhora Weasley... Ela é uma Mestra dos Sonhos.

- É claro! – Marcella fechou os olhos, como se algo finalmente fizesse sentido.

- Não entendo. – Disse o inglês. – O que é um Mestre dos Sonhos?

- Uma habilidade comum entre bruxos ameríndios. – Marcella respondeu. - Alguém que tem a capacidade de não só transitar no Mundo dos Sonhos, como de... Manejá-lo, de certa forma. E é um poder muito similar à natureza daquele que as sacerdotisas de Avalon tinham. Provavelmente foi isso que reabasteceu o Medalhão antes que a outra moça o tocasse. Nos meus estudos, eu desconfiei que Rowena Ravenclaw não se arriscaria a manter um objeto mágico com uma grande carga de magia dentro dele... Seria arriscado, outros bruxos o pressentiriam. Então, a alternativa seria um objeto capaz de conseguir energia por si mesmo, quando fosse necessário.

- E o quê teria feito...?

- Não sei. – Marcella se antecipou à pergunta. – É possível que nunca saibamos. Mas... Isso é tudo sobre essa garota, a que acionou o medalhão?

– Não... Quando ouvi o nome me lembrei imediatamente de ter lido o nome dela nos jornais bruxos. A moça ficou subitamente noiva de Zacharias Smith.

- Uma artimanha para manter uma não-bruxa no Mundo Mágico, sem dúvida. – O italiano concluiu. – Muito esperto. E, é claro, deve ter dedo de Ana Weasley aqui também. Ela e Smith são parentes, descendentes diretos de Helga Hufflepuff. – E riu em seguida: – Pobre moça, logo com Zacharias Smith.

Marcella pegou um recorte do “Profeta Diário” e observou atentamente a foto bruxa do rapaz, estampada na manchete que anunciava o noivado. Um sorriso malicioso brincou em seus lábios:

- Não a chamaria de “pobre moça” com tanta convicção, Renzo. – Tocou com o dedo indicador nas ondas do cabelo loiro que se via na foto, deslizando para a covinha do queixo quadrado. – Apesar do que se diz do rapaz nos livros de Rowling, até que ele é muito atraente.

- Cara, sei que está frustrada pela brasileira ter chegado primeiro no medalhão. – Renzo franziu o cenho. - Mas não vou permitir que estrague tudo descontando sua raiva em uma disputa de sedução com o suposto noivo dela.

- Por que não? – Pela primeira vez a voz de Marcella continha júbilo. – Seria unir o útil ao agradável...

- Talvez. – Renzo cedeu, depois de pensar alguns segundos. – Discutiremos isso mais tarde. – E, voltando-se para o homem mais jovem: - Seu informante disse onde está o medalhão?

- Estava com Remo Lupin até bem pouco tempo. Então, algo os fez deixá-lo na posse da senhorita Esteves. Provavelmente porque ela está decifrando a informação que o medalhão revelou.

- A informação que eu devia estar estudando! – Marcella voltou a se inconformar.

- Onde ela está? – Renzo não deu importância para as lamúrias da italiana.

- Com a tia de Smith, Agatha, em Hogsmeade. – Ele balançou a cabeça negativamente. – Sei em que está pensando, Renzo, e já pensei nisso também. Não há como chegar até ela enquanto estiver em território bruxo. E, também, tirar o medalhão deles muito cedo pode lhes dar a vantagem de ter tempo. Tempo para nos seguir e impedir.

- E o que sugere? – O italiano ergueu uma sobrancelha.

- Meu informante diz que Smith e a noiva comparecerão a um jantar de confraternização no Ministério da Magia, em dezembro, perto do Natal. Como medida de segurança, as lareiras mágicas estarão bloqueadas, e a entrada de visitantes será obrigatória...

- E eles terão que transitar pela Londres Trouxa. – Renzo concluiu.

- Exatamente. Em uma época bem próxima da mudança de estação.

- Como podem ter certeza que o medalhão estará com ela? – Marcella perguntou.

- Ora, você não o teria sempre consigo, se tivesse a posse dele? – Vendo que a italiana não tinha argumentos contra isso, ele continuou: - Sabemos que ela não se separa do medalhão. Está ansiosa para decifrá-lo, teme que algo ruim aconteça a seus amigos se não o fizer a tempo.

- Não conseguirá ter o conhecimento total antes da hora, a tola. – Marcella desdenhou. – Não é o tempo que é importante, mas a oportunidade.

Renzo deu ordens para que o inglês reunisse seu pessoal do Reino Unido e planejassem a execução do plano. Enquanto isso, esperariam... E observariam.

***

Tinham obtido a permissão da Diretora McGonagall para deixar Hogwarts e comparecer ao batizado de Lizzy, na Toca. Na verdade, o fato da própria Diretora ter comparecido (Ana enfatizou muito bem que fazia questão que Minerva comparecesse) facilitou bastante.

- E então, Josh? – Hector perguntou assim que o amigo apareceu na porta da despensa onde tinham se escondido para “confabular”. – Conseguiu ouvir alguma coisa?

Joshua tinha sido escolhido, “via palitinho”, para se esgueirar entre as mesas e, escondido, tentar ouvir a conversa dos adultos.

No entanto, nesse momento, o som de passos pelo corredor foi ouvido, e Danna, que estava mais próxima da porta, puxou o amigo para dentro da despensa antes que alguém os visse.

- Então, assim que a turnê das Esquisitonas voltar para a Inglaterra, Myra me disse que vai me apresentar a todo o pessoal da banda...

- Seu tio namora mesmo a irmã de Myron Wagtail? O vocalista?

Felipe parou e voltou-se para um dos garotos Smiths que havia feito a pergunta. Havia um grupo com quem ele rapidamente fizera amizade.

- É, mas eu gostei muito mais de conhecer a Myra. – Ele continuou andando, sendo seguido pelos demais. – Foi muito legal. Principalmente a parte de ser sugado por um chiclete...

As vozes foram sumindo, e Mel fez um muxoxo desgostoso. O irmão deveria os estar ajudando, mas tudo indicava que tinha outros planos em mente.

- E então, Josh? – A voz da menina saiu um tanto impaciente.

O menino sentou-se no chão, tentando não esbarrar em ninguém na semi-escuridão da pequena despensa.

- É um portal. Avalon é um portal.

- Um portal para onde? – Andy questionou.

- Não sei... Ninguém falou nada sobre isso. – A voz do lufa-lufa saiu envergonhada. Mas vocês vão cair para trás quando eu contar o resto...

***

Harry observava Zacharias Smith despistar o terceiro Smith a tentar importuná-lo com o assunto de seu casamento. Eles o haviam interpelado no caminho que ambos faziam até a cozinha da Toca, onde o primeiro “pelotão” da família estava amontoado, aguardando para tirar fotos com os pais e a batizada.

Aos poucos, as fotos foram tiradas, e o local, se esvaziando. Colin Creevey tinha se prontificado e, claro, Luna aproveitou para pegar Rony e Harry para uma entrevista. Rony havia dado um jeito de escapar há uns dez minutos. Harry, que tinha grande dificuldade em ser grosseiro com Luna, não teve tanta sorte.

Quanto finalmente a última foto foi tirada (e Zacharias e Luíza estavam nela), Colin teve a infeliz idéia de chamar o ex-lufa-lufa para perguntar a mesma coisa que os outros jornalistas, restaram na sala apenas Luna, Zacharias, Colin e ele.

- Não, Creevey.

- Ok, vou entrevistar sua noiva. – Ele parou subitamente ao ver o semblante carregado de Zacharias. – Er... A Luna entrevista, então?

- Creevey!

- Ok, ok. Sem entrevistas, entendi.

Em vez de ficar chateada, Luna sorriu e soltou um risinho divertido. Passou por Zacharias com um olhar que só podia significar “eu sei de tudo”, e saiu da sala com o marido.

- Não pode fugir para sempre, Smith. – Harry disse, brincalhão.

- Não estou fugindo, Potter, estou sendo cauteloso, e poupando Luíza... Dela mesma, quem sabe! – O loiro fez um gesto largo para cima, indicando impaciência.

Apesar de tudo, Harry teve que concordar. Zacharias Smith estava assumindo, pela primeira vez em doze anos, um papel de cooperação na Ordem da Fênix. Tinha concordado em fingir um noivado com Luíza para que ela ficasse no Mundo Mágico. Agüentara o bombardeio da imprensa e da própria família por causa disso, e ainda era ele quem praticamente montava guarda ao lado da brasileira.

Não agüentava mais. Tinha que perguntar.

- Posso te perguntar uma coisa, Zacharias? – O outro parou e se voltou para Harry. – Fugir nunca foi seu estilo. O medo de ser impopular não te deteve de questionar meus motivos quando começamos a AD. Também foi capaz de fazer comentários bem ofensivos diante de um estádio de quadribol repleto de grifinórios...

- E daí?

- Daí que isso não se encaixa com alguém é o primeiro a fugir de um combate, enquanto seus colegas de Casa e ano ficam para lutar.

Harry fez uma pausa, analisando as reações do homem à sua frente. Zacharias pareceu bem mais tenso do que embaraçado, como se estivesse lutando para manter as palavras dentro de si.

- Só não achei que você valesse a pena. – Zacharias finalmente respondeu, com o desdém de quem pretendia declarar o assunto encerrado.

Harry insistiu, não se deixando enganar:

- Pode ser que eu não valesse a pena, mas seus amigos sim.

- É, esse sou eu, Potter: o insuportável, covarde e egoísta Zacharias Smith. Capaz de abandonar amigos, mulheres e crianças. – O sarcasmo foi deliberadamente atirado na frase como facas afiadas. - Fico surpreso que ainda não saiba, principalmente quando minha personalidade até virou parte da literatura trouxa.

Qualquer outro teria concordado com a veracidade daquelas palavras e recuado. Mas não Harry. Durante anos havia suportado ser o alvo desse mesmo tipo cortante de defesa, e de alguém bem mais temível do que Zacharias.

- Não sabia que tinha observado tão bem o Snape todos esses anos a ponto de imitá-lo com perfeição, Smith. – Cruzou os braços, mantendo o olhar firme sobre o loiro. O leve sorriso em seus lábios indicava que pretendia levar aquela conversa até o fim. – Vou ter que discordar, já que ter entrado na AD não foi a atitude de alguém covarde e egoísta.

- Já que mencionou Snape, talvez ele esteja certo sobre uma coisa, no fim das contas. Tem uma tendência a pensar que tudo gira em torno de você, Potter. Já imaginou que algumas pessoas tenham entrado na AD não para seguir o fabuloso Harry Potter em sua luta contra o mal, mas simplesmente por curiosidade?

- Se fosse assim, Zacharias, você teria saído dela no dia seguinte, quando Umbridge declarou que as associações de alunos estavam proibidas. Ou então nos dias seguintes, quando Umbridge e a Brigada Inquisitorial fechavam cada vez mais o cerco contra nós. Quem é egoísta e covarde já teria nos entregado para salvar a própria pele.

- Eu sou um lufa-lufa! – Ele exclamou, indignado. – Não seria desleal!

- Exatamente. – Harry sorriu, triunfante.

- Não me sentia leal a você, Potter.

- Mas sim aos seus amigos, os mesmos que iriam arriscar as vidas naquela batalha! Por que não acaba com isso de uma vez, Zacharias, e me diz a verdadeira razão de ter saído correndo do Salão Principal na noite da Batalha de Hogwarts?

Zach passou as mãos pelos cabelos, a pose arrogante sendo substituída por um cansaço incrédulo:

- Por que insiste em arranjar desculpas para o meu comportamento?

Aí estava uma boa pergunta, Harry pensou. Observando reflexivamente o rosto do homem à sua frente, buscou a razão para tanto empenho agora, depois de tantos anos. E, quando finalmente a encontrou, olhou Zacharias no fundo dos olhos para ter certeza de que o outro veria a sinceridade em suas palavras:

- Por que ninguém mais o fez, nem mesmo você.

Zacharias se deu por vencido.

- O túnel que a Armada usava para entrar e sair de Hogwarts. Eu coloquei uma maldição mortal nele.

Os olhos de Harry se alargaram. A declaração era terrível demais, nunca imaginou que...

- Você tentou matar as pessoas da Armada?!? – Ele sentia, ele sabia que a qualquer momento iria para cima de Zacharias. Imagens dos corpos ainda adolescentes de seus colegas, mutilados, assombravam sua mente, enfurecendo-o.

- Não! – Zacharias apressou-se a explicar, pressentindo a fúria de Harry. – Não, jamais! A maldição não era para eles, mas para os Carrows!

Foi neste momento que se deu conta que já estava com as mãos no colarinho de Zacharias, sacudindo-o. Afrouxou lentamente o aperto, afastando-se com a mesma lentidão, o olhar confuso e desconfiado nunca deixando o seu rosto.

- Os Carrows haviam descoberto que era através do Verruga de Javali que os revoltosos eram abastecidos. – Zacharias continuou, parecendo miserável. – Não podiam encontrar a entrada para o esconderijo, mas em determinado momento desconfiaram que em algum lugar havia uma saída para fora de Hogwarts.

Zacharias relatou como estava escondido atrás de uma tapeçaria quando os irmãos Carrow haviam discutido seus planos de invadir o Verruga do Javali, prender e torturar Alberforth Dumbledore, e o mandar para a prisão secreta dos Comensais. De como riram quando disseram que, quanto aos “pirralhos” não deixariam nem mesmo um para contar a história.

Ele não era parte dos que se escondiam na Sala Precisa, mas tinha as pessoas não deixavam de contar as últimas notícias que tinham da resistência dentro do castelo perto dele, e ele sabia que ninguém passaria pelo túnel por mais uns dias, embora estivessem esperando por mais refugiados.

- Eu estava cansado de ouvir gritos de alunos sendo torturados. – A narrativa saía em um ritmo contínuo, angustiado, uma torrente de palavras que, depois de anos escondidas, não podia ser contido. - Às vezes, à noite, eles duravam horas e horas...

E ele também tinha pesadelos, à noite. Sonhava que o estavam obrigando a torturar seus amigos. Em seus pesadelos, quanto mais gritava para o usarem no lugar deles, mais e mais os Comensais machucavam aos outros. E, então, ele acordava para descobrir que a realidade era pior do que os sonhos.

- Eu os odiava. – Disse fervorosamente. - De todo o meu coração, eu os queria mortos. Então, quando ouvi o que pretendiam fazer, decidi que eles morreriam lá, naquele túnel. Durante todos aqueles meses tudo o que eles nos ensinaram era a fazer sofrer e matar, então, eu lhes mostraria o bom aluno que eu tinha sido... Agora vejo que eu devia estar louco, atordoado com todo aquele horror, mas naquela época o mundo me parecia insano, era como se o fim do mundo realmente estivesse próximo e nada mais importava.

- Como... Como conseguiu colocar o feitiço? Você teria que passar pelo lado de Alberforth ou pelo dos refugiados. Além disso... Nós, Hermione, Rony e eu usamos o túnel naquele mesmo dia, e nada nos aconteceu.

- É... – Zacharias riu um riso desprovido de humor. – Vocês estragaram tudo, não é irônico? Eu tinha me escondido em uma das carruagens que levavam comida para Hogwarts, foi assim que cheguei a Hogsmeade despercebido. Quando deram o alarme na vila, todos os Comensais ficaram tão alvoroçados que não acharam importante verificar uma carroça de alimentos que estava saindo de Hogwarts, e não entrando – afinal, todos queriam pegar o Potter, a possibilidade de um aluno fugir ficou esquecida por um momento.

Um bom tempo passou até que pudesse sair de seu esconderijo. As coisas na vila tinham se acalmado e, então, viu o movimento no Verruga de Javali. Os Weasleys, os Lupin... A movimentação lá era grande e o pobre Alberforth estava tão descontente e desorientado ao ter que dar passagem a todos eles que Zacharias pôde entrar na estalagem sem ser visto. Ouviu quando disseram para Alberforth não deixar mais ninguém entrar.

Não confiava em ninguém, e estava confuso demais para raciocinar que, se se revelasse e contasse para eles o que sabia... Tudo o que conseguia pensar era em se mandar escondido, colocar o feitiço e parar o Carrows, parar aquela loucura, a dor.

Jogou uma pedra do lado de fora, e, enquanto Alberforth corria para verificar o que era, entrou atrás da pintura da menina, lançou o feitiço mortal que exigia sangue para ser quebrado (Harry lembrava bem qual era) e seguiu túnel adentro, até a Sala Precisa – agora vazia.

- Eu não tinha idéia que você estava no castelo – Zacharias disse -, muito menos que tinham dado o alerta. Os Carrows, em vez de seguirem para Hogsmeade e te procurar no Verruga de Javali, como eu pensei que fariam, permaneceram no castelo, a sua caça e...

- Quando o túnel foi mencionado como rota de fuga, você percebeu que iria matar a todos. – Harry concluiu, finalmente entendo a gravidade do que quase ocorrera. – Então, por que você não disse, simplesmente, o que tinha feito?

- Bem que eu gostaria de ter voltado a mim a tempo, mas quando os burburinhos e a confusão ao meu redor voltaram a ter significado, e o horror do que eu tinha feito passou, as pessoas já estavam se organizando entre as que ficariam lutando com você, e as que deixariam o castelo em segurança. Merlim! Como acha que me senti quando vi os primeiroanistas encabeçando a fila dos que passariam pelo túnel? Eu corri o mais rápido que pude, quase passei por cima dos calouros. Tinha que chegar primeiro ao outro lado do túnel e desfazer a maldição. – Zacharias emitiu uma risada curta e desdenhosa, enquanto mostrava a cicatriz esbranquiçada no pulso: - Dei o meu próprio sangue. Não foi exatamente um corte cirúrgico, mas não tinha muito tempo.

- Por que, Zacharias, por que não contou isso depois? – Harry não conseguia entender.

- Eu tinha dezessete anos, Potter, e tinha lançado uma maldição mortal, magia negra das mais sórdidas, é claro. A guerra tinha sido vencida pelos bonzinhos, afinal, e, na minha cabeça, tinha me rebaixado aos métodos dos nossos inimigos, enquanto meus amigos mantiveram-se imaculados, honrados – até mesmo lutaram ao seu lado. Ah, e é claro, não vamos esquecer que eu não tinha dúvidas que iria para Azkaban. Viagem sem volta, lembra? Por ter usado a Arte das Trevas. Depois de tudo, achei que preferia ser considerado covarde que assassino.

Os anos foram passando, e Zacharias não viu motivo para dizer a verdade. Na realidade, ficava cada vez mais difícil dizê-la. Quem acreditaria nele? A história parecia mirabolante demais até para ele! Não, definitivamente não queria adicionar “mentiroso” à sua lista pública de defeitos.

Após alguns segundos de silêncio, Harry finalmente se pronunciou:

- Eu achei que você me odiava por achar que eu bancava o herói.

- Não, Harry. – Zacharias sorriu, sem-graça. – Eu te odiava porque estava meio apaixonado pela Gina.

- Eu pensei que você e a Alicia... – Harry pestanejou, surpreso, e não sabendo se tinha recebido bem a “notícia”.

Zacharias fez que não com a cabeça e, alguém que estava escondido sob as sobras da escada se moveu silenciosamente para fora do recinto, sem que os dois homens notassem.

- Eu era adolescente, Potter. Apaixonava-me por todas as garotas em que punha os olhos. Fique tranqüilo.

- E quem disse que estava preocupado? Sabe, é uma mentira deslavada, essa dos lufas serem honestos. Porque do contrário, ou você não seria da Lufa-Lufa, ou então não seria o cretino miserável que é.

Zacharias soltou uma gargalhada sincera pela primeira vez desde que iniciaram a conversa, e Harry o acompanhou – um riso aliviado, exorcizando os fantasmas do passado.

- Venha, Zach. – Harry o convidou. – Ouvi dizer que Carlinhos comprou uma boa quantidade de cerveja amanteigada. Não vamos fazer a desfeita de não aproveitar.

****

- Uau, quem é aquele ali parecido com o Orlando Bloom?

Ana voltou-se para a direção em que Sônia Sag apontava e percebeu que se referia às mesas ocupadas pelos Smiths. Sônia era outra de suas amigas que havia acabado de chegar.

- Sô, ali só tem loiros... E o Orlando Bloom é moreno!

- Bom, me refiro ao Orlando Bloom na versão “Legolas” do Senhor dos Anéis. – Ela explicou.

- Caramba, eu tenho um primo parecido com o Orlando Bloom e não me dei conta? Meu amor pelo Carlinhos deve ter me cegado para outros homens.

- Não olhe para mim, também sou casada. – Sally comentou, pois também não tinha percebido o tal sósia do Orlando Bloom.

- Pode deixar meninas, que “eu” me mantenho atenta a estas questões por todas nós. – Sônia declarou com um sorriso travesso. – Aliás, nossa pequena Lizzy não quer ir falar com o vovô e a vovó? Tia Sônia vai te levar até lá, querida, vem com a tia, vem... – Ela estendeu as mãos, chamando a bebê.

Lizzy estendeu os bracinhos e sorriu, contente com a festa que a moça lhe fazia.

- Sô, você está usando minha filha para flertar? – Ana pôs a mão na cintura, fingindo estar indignada.

- Eu? Por que acha isso?

- Ah, sei lá, quem sabe porque “coincidentemente” o senhor e a senhora Weasley estão sentados perto do... “Orlando Bloom”.

- Mesmo? Nem tinha percebido... – Ela piscou marotamente e saiu com Lizzy.

Ana observou a amiga se afastar um pouco, antes de dizer:

- Desembucha, Sally Owens. Você está querendo me dizer algo desde que chegou.

- Ah, ok. – A outra suspirou, aliviada. – Estive pensando no que me contou, sobre o medalhão, e tudo mais. – Sally era membro honorário da Ordem, por isso Ana não teve dúvidas em procurá-la. – E acho que seu amuleto funcionou como um catalisador.

Ana olhou para o “Olho-Que-Tudo-Vê” que havia ganhado de presente de Carlinhos, na lua-de-mel de ambos.

- Mas... É só um souvenir.

- Um souvenir do olho esquerdo de Horus – disse ela apontando para o objeto, preso como um pingente em uma corrente no pescoço de Ana. – O olho esquerdo é a representação do feminino, da emoção, da intuição.

- Pela Deusa! – Ana sussurrou.

- Exatamente: pela Deusa. – Sally balançou a cabeça, concordando. – Se o medalhão está ligado à Ravenclaw, e ela, por sua vez, à Avalon... Bem, uma certa doze de poder feminino está relacionado com a primeira manifestação do objeto. Além disso, Hermione e Gina tiveram sonhos. Mulheres e sonhos, o que me leva à segunda suposição: ele utilizou seu poder, Ana, para as manifestações seguintes.

- Mas por que eu?

- Provavelmente porque era o que estava disponível. – Sally riu.

- Ah, valeu, amiga, isso me alegra muito. – Ironizou e, em seguida, disse em um tom lamentoso e agonizado: - Com toda a sinceridade, Sally, estou cansada de ser usada por objetos enfeitiçados! Espere aí... E porque Hermione e Gina?

- Estive pensando nisso. Gina é uma sétima filha: mais poder feminino envolvido.

- Posso lhe garantir que tanto eu quanto Hermione somos filhas únicas. – Ana declarou, impaciente.

- Por isso descartei isso e optei por ser algo relacionado aos Weasley. – Sally disse muito calmamente.

- Então voltamos ao ponto inicial: minhas outras cunhadas não tiveram sonho algum.

- Eu quis dizer sangue Weasley.

- Sally, acho que você tem trabalhado demais. – Ana ergueu uma sobrancelha. - Isso está afetando seu raciocínio. Lembre-se que tanto eu quanto Hermione somos Weasleys por casamento. É possível que algum Weasley tenha se casado com um Smith há uns cem anos atrás, mas Hermione se orgulha muito de ser sangue trouxa puríssimo.

- Sim, Weasleys por casamento... E que, quando tiveram contato com os poderes do medalhão, carregavam Weasleys de sangue no ventre.

- Wow! – Ana arregalou muito os olhos.

- É. – Sally concordou com a amiga, solenemente: - Wow!

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A festa do batizado estava quase no fim quando a coruja do Ministério apareceu. Pousou o envelope amarelado com o timbre oficial do Governo Bruxo no colo de Zacharias e desapareceu.

Enrugando a testa, ele abriu o envelope e o leu, o semblante cada vez mais fechado à medida que lia.

- O que é isso, querido? – Agatha finalmente perguntou pegando o papel das mãos do sobrinho, sem se importar de pedir permissão. – Oh, mas que... Ousadia deles! – Agatha exclamou, exacerbada. – Houve uma época em que um Ministro não teria peito de dizer uma coisa dessas a um Smith sem pensar muito antes, devo dizer... Oh! – Ela parou, envergonhada. – Isso soou tão esnobe quanto eu acho que soou?

- Não... – Tranqüilizou Hermione.

- Sim. – Disse Gina, ao mesmo tempo, rindo para Agatha.

Agatha sorriu para ambas, que considerava suas sobrinhas também.

- Na realidade, tia, acho que eles pensaram antes, sim. Ouvi dizer que eles costumam mandar berradores para dar este tipo de ultimato.

- O que é, afinal? – Ana perguntou.

- O Ministério está, muito humildemente informando, que meu prazo para me casar com a senhorita Luíza Esteves vai terminar neste mês.

Luíza enrubesceu imediatamente, e desviou o olhar da expressão acusadora de Zacharias.

- Devo me casar neste prazo ou enviá-la para que os obliviadores apaguem a sua memória do Mundo Bruxo. – “E para que eu receba as devidas penalidades”, Zacharias acrescentou mentalmente.

- Ah, mas eu não estou nem na metade do caminho para decifrar aqueles símbolos! – Luíza disse, angustiada. – Eu não posso ir embora. Não ainda.

- Não se preocupe, o Ministério não vai ter como mandá-la embora. – Zacharias declarou, enfático.

- Como assim? O que isso quer dizer?

- Isso quer dizer... Que teremos que nos casar.

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(1) Ler a fic “Quadribol” do Bernardo. (Na Floreios e Borrões).
(2) Ler “O Paciente Inglês” e “Close To You”, da Regina McGonagall (Floreios e Borrões e Grimmauld Place).
(3) Ler Harry Potter e o Retorno das Trevas, da Sally Owens. (Floreios e Borrões e Grimmauld Place).

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NOTAS:

Pessoal, mil desculpas pela demora.

Tenho uma aula de jiu-jitsu agora, mas depois eu faço os comentários e fecho esse capítulo direito, viu?

Mais tarde eu agradeço individualmente.

Gente, agora que a Floreios e Borrões não publica mais o e-mail de quem deixa comentários, pensei em uma alternativa (especialmente para aqueles que postaram pela primeira vez depois que os e-mails deixaram de ser visíveis). Quem quiser receber o aviso de atualização, mandei um e-mail para mim com o assunto “pedido de cadastro aviso atualização” (assim eu saberei que se é gente das fics).

Exemplo:
Mandar e-mail para [email protected]
Assunto: pedido de cadastro aviso atualização.
E, para garantir, coloquem o endereço do seu e-mail no corpo da mensagem (esta autora de fanfictions é burrinha tecnologicamente falando, vcs têm que se garantir comigo nessas coisas, hehehe).

Isso também serve para quem mudou de e-mail ou por qualquer outro motivo não está mais recebendo os avisos (claro, se quiser continuar recebendo). Se quiser cancelar, o procedimento é o mesmo: envie um e-mail pedindo para tirar seu endereço da lista dos que querem receber o aviso (sou uma lufa-lufana e gosto de ser democrática, hehehe).

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Escrito após primeira postagem:

Kika: Seu cachorrinho? *Belzinha pisca várias vezes e cai na risada* Ai, Kika, só você mesmo! Sim, tia Muriel deve ser a “Mulher Bicentenária”. Se Voldemort queria a eternidade, não precisava fazer horcruxes – bastava perguntar para a tia Muriel qual é o segredo dela em viver tanto, hehehehre. Olha, quanto a ser babá das crianças Weasleys... Vc vai ter que disputar a vaga à tapa com o Dobby e a Winky (e agora tb com o Rampell, o elfo da tia Agatha). Não deu para desenvolver mais o Sirius nesse capítulo, mas juro que no próximo esse negócio dele ter voltado vai ser melhor explorado. Ah, e eu recomendo a fic da Regina, é claro. Vc, que adora o almofadinhas, vai se sentir em casa.

Deby: Ah, vem, a ligação da Serenna (irmã do Snape) com o Sirius, na realidade, não é uma só. São várias. Vou explorar uma delas nessa fic. (É o máximo que posso dizer). Os padrinhos são a Sally e o marido dela, claro. Acabou não aparecendo, mas o filhinho deles, Michael, estava presente também (mais informações, ler o último capítulo da fic da Sally Owens, “Harry Potter e o Retorno das Trevas”). E mais uma vez: obrigada pelos pedidos de atualização.

: Ô, Sô, briga cum eu, não... O Percy foi o único que sobrou! Pelo menos, vc seria uma Weasley, olha pelo lado bom! Ah, essa história da Luíza ainda vai render muita cena de Aventura, pode acreditar. E os pressentimentos do Rony têm uma raiz bem profunda, mas aposto que eu conseguir despistar o pessoal... Heehe. Vamos ver se lá na frente eles descobrem a verdade. O que eu estou reservando? Ora, eu espero que seja muita, mas MUITA diversão mesmo! ------ Obrigada pelos pedidos de atualização. E, não, eu não esqueci dos leitores, o Senhor do Tempo é que esqueceu que Belzinha precisa de tempo de inspiração para escrever capítulos tão cheios de detalhes, hehehehe! ------

Bruna Weasley: Ô Bruna, desculpa ter demorado tanto em te responder, mas procura pelas fics do Bernardo que vc vai achar essa que eu te falei.

Regina McGonagall: Tem razão, Regina, na próxima vez que eu juntar o Snape e o Sirius é melhor eu tomar certas precauções contra prejuízos materiais... Hehehehe.

Ana Carol * ₣ℓр®: Olha, desculpa ter te respondido a sua piada de primeiro de abril com mais de dois meses de atrasado.. *Enrubesce* Mas eu realmente caí na sua pegadinha, hehehe. Ah, eu acho UM LUXO ter a Sally como madrinha da Lizzy!!! O queixo com goiabada é mérito do Bernardo, claro.

Charlotte Ravenclaw: Pois é, eu disse e repito – ter a Sally como madrinha é UM LUXO!!!

T.C.S. : Ah, que bom que gostou da primeira parte do capítulo. Espero que goste do resto que postei hoje também.

† Sabine Black †: Ah, sim, assim que puder passo lá.

Anna Voig G. Malfoy: Não, não morre não! Por favor, preciso de leitores vivos! Hehehehehe. Que bom que gostou! Viu? Não deixei vc na mão... Pelo menos, não para sempre... Eu atualizei, não atualizei? Abraços!

Aline de Mello Pitombo: Como é bom ter leitores novos (pena que vc estraga tudo demorando tanto para atualizar, né, Belzinha? *Belzinha vai passar as mãos à ferro*).

Ana Rita: Valeu pelo comentário, adoro quando dizem que gostaram da Ana. Sim está na lista das fics para ler!

Escarlet Esthier Petry: Ok, obrigada, ta atualizado!

Paloma_olimi: Pedido de atualização atendido! Que bom, mais uma leitora do Segredo de Sonserina que se interessa pelo Segredo de Corvinal!

Ribeiro: É sempre muito bom ver novos leitores que também são escritores. Nem sempre eu consigo ler os de todos, mas sempre tento, e qualquer dia desses eu passo na sua, ok? Como vc pode ver, eu levo meses para atualizar a minha, então... Bem, vontade é que não me falta!

Rômulo: Obrigada pelo comentário. Eu atendi... Com um atraso considerável, mas eu não desisti, viu?

Guida Potter: Guida, foi um prazer especial para mim ler o seu comentário. Também lamento não ter conseguido preencher essa lacuna importantíssima que é a reação dos meninos à volta do Sirius. Mas era tanta coisa acontecendo, que preferi por as cenas sobre o mistério como prioridade para esse. Está nos meus planos corrigir isso, quem sabe, com um flashback no próximo cap ou em um posterior. Nem sei mais o que dizer, porque seu comentário foi maravilhoso e significou muito para mim lê-lo. Tanto, que me senti na obrigação de esclarecer esse ponto do retorno do Sirius e as crianças para vc, mas juro – juro! – que esse momento será trabalhado mais tarde.

Sally Owens: Vamos deixar uma coisa bem clara aqui, Dona Sally: vc nunca, mas NUNCA mesmo precisa pedir desculpas pela demora em comentar. Nossa amizade internética ultrapassou a fase “fiquei magoada porque vc não se manifestou”, hehehe. Aliás, se bem me lembro, eu mesma estou devendo o comentário dos seus últimos 3 ou 4 capítulos... (Isso sim merece um MEGA pedido de desculpas da minha parte!). Ah, em resposta ao beijão que vc mandou para a Lizzy, ela respondeu com um sorrisão desdentado e cheio de baba, mas terrivelmente lindo e feliz, para a Dinda dela!

Ana Eulina Carvalho: Abandonada, não: “temporariamente posta em módulo de espera”. Abandonada, jamais! Hehehehe.

Thiago Florêncio: Bem, aqui está a resposta, Thiago. Fic atualizada!

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