A Invasão Brasileira
OBSERVAÇÃO: Gente, preciso fazer um alerta. A partir desse capítulo, a minha fic e a da Sally não estarão tão intimamente ligadas. Calma! A gente não brigou e agora esta “de mal”, não... Hahahaha! É que os meus planos para o futuro podem, digamos assim, esbarrar no roteiro da Sally para o Retorno das Trevas... Algum bonzinho na minha pode se revelar o vilão na dela, ou alguém que está “vivinho da silva” no Segredo de Corvinal pode acabar morrendo no Retorno das Trevas... Enfim, de agora em diante, tudo pode acontecer!!!
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Tudo bem, agora ele estava enrascado. Sem adultos, sem idéias e sem saída. Talvez Mel estivesse certa quando dizia que ele agia sem pensar. Ora, e o quê que isto importava? E desde quando dava importância para o que a irmã dizia?
- Qual é o seu nome? – A moça insistiu. – Tem alguém aqui com você? – Ela olhava apreensivamente para os lados.
Tudo o que Felipe conseguiu fazer foi negar com um gesto de cabeça. Myra pareceu acreditar nele, porque relaxou e estendeu a mão para o garoto.
- O que foi? Acha que vou te transformar em um sapo? – Ela sorriu encorajadoramente quando ele recuou diante de seu gesto.
- E-Esta não é u-uma opção? – Gaguejou.
Myra riu com vontade:
- Não para mim.
Desta vez foi Felipe que relaxou, aceitando a mão estendida.
- Então, quem é você e o que está fazendo no meu quarto?
O menino ficou calado durantes alguns segundos, até que suspirou pesarosamente:
- Você acreditaria se eu dissesse que sou fã das Esquisitonas?
- Bem... – Ela disse devagar. – Que você seja fã, eu acredito. Mas os admiradores da banda do meu irmão não costumam entrar no meu quarto, a não ser que Myron ou um dos garotos estejam nele.
Felipe ficou sem ação. Quando começou a “sua aventura” não estava em seus planos ser apanhado. A parte de “E Se Eu For Apanhado” era muito chata para ser planejada.
- Meu nome é Felipe, mas eu não conto o que vim fazer aqui nem sob tortura. – Declarou ousadamente.
- Certo. – Myra fez força para permanecer séria. – Mas você invadiu o meu quarto e quebrou uma doceira... Vou ter que chamar seus pais.
- Nãaaaaaaaaaao! – Felipe arregalou os olhos. – Eles vão me matar!
- Eu acho que não – Ela riu.
- E além disso, eu não quebrei doceira nenhuma! Juro!
- Olha... – Myra disse amigavelmente. – Eu posso não ser a bruxa mais habilidosa do mundo, mas de um fato tenho certeza: já passei da idade de fazer as coisas explodirem.
Felipe arregalou novamente os olhos, mas desta vez não havia medo em sua expressão, e sim surpresa absoluta.
- Quer dizer que eu... Eu fiz mágica? – Elevou a voz. – EU SOU UM BRUXO?
- Se não tem mais ninguém aqui, pode ter certeza que foi você que fez aquilo. E ficou invisível ou aparatou também, mesmo que não tenha percebido. Você estava no guarda-roupa desde que eu entrei aqui, não estava?
O menino fez um gesto afirmativo, mas já parecia em euforia:
- Eu sou um bruxo! Eu sou um bruxo! Eu sou... Um... Bruxooooooooo! – Cantarolava, enquanto pulava pelo quarto.
Myra abaixou a cabeça, fazendo força para não rir. Devia estar furiosa por aquele garoto ter invadido seu quarto. Aterrorizada também, pois aceitara apenas a palavra dele de que não havia mais ninguém. Ainda assim, devia haver um motivo para ele ter entrado, e tinha que saber. O menino podia estar sendo usado por adultos inescrupulosos para roubar.
- Felipe – A pronúncia de seu nome o fez parar e olhar para Myra. – Percebo que descobriu agora os seus dons mágicos. Meus parabéns, mesmo, mas... – Ela desconfiava que o menino fosse filho de um casamento misto, para saber tanto sobre o mundo mágico e, ainda assim, não ter certeza sobre seus dons. – Mas se coloque no meu lugar, sim? Eu encontrei um menino desconhecido em meu quarto de hotel, e ele pode ter entrado para roubar. Outro, em meu lugar, já teria chamado as autoridades, não acha?
- Eu não sou ladrão! – Felipe protestou. – Vim aqui em uma missão! – Ele tampou rapidamente a boca, percebendo que tinha falado demais.
Myra percebeu que ele permanecia resoluto em não lhe contar nada, então, declarou:
- Não me resta alternativa senão procurar seus pais...
- Não, por favor! Eles vão me matar! E depois vão matar a tia Ana! Se bem que acho que a tia Ana está garantida, porque eles não vão poder com uma Auror. E o tio Carlinhos não vai deixar eles a matarem, de qualquer forma... E a Mel está segura, há quilômetros daqui, em Hogwarts...
- Hogwarts? – Myra estava confusa. – Você é inglês? Mas tem sotaque americano...
- Todo mundo acha isso... Hogwarts! – Ele voltou a pular. – Será que...
- Felipe – Ela pegou o rosto do menino entre as mãos forçando-o a fixar a atenção sobre si. – Você precisa me contar o que veio fazer aqui, certo?
O garoto gemeu, mas assentiu, convencido.
- Tia Ana pensou que você estava enfeitiçando o meu tio com algum tipo de poção do amor, ou algo parecido. – Declarou, finalmente.
- E porque eu iria enfeitiçar o marido dela? – Myra estava indignada. Não conhecia ninguém chamada Ana, como a talzinha podia levantar uma calúnia dessas?
- Não é o tio Carlinhos! Se fosse ele que estivesse suspirando apaixonado por outra mulher, seria o vovô Antônio quem tiraria o couro dele!
- Tudo bem... Eu estou confusa, Felipe. Quem são seus tios?
- Ana Weasley e... – Felipe respondeu e, percebendo a expressão confusa de Myra finalmente ser substituída por uma centelha de reconhecimento, se calou.
- Sua tia é esposa de Carlos Weasley? O diretor da Reserva de Dragões em Gales? Dos Weasleys da Segunda Guerra?
- Sim. – Felipe estufou em um orgulho mal-disfarçado. – Tio Carlinhos te reconheceu em uma foto. Disse que era impossível não te reconhecer, tendo estudado com a Tonks.
- A Ninfadora, é claro! Ela me disse que os dois eram colegas em Hogwarts e... Bem, a Ninfa é fã MESMO das Esquisitonas, deve ter falado de mim para ele.
- Se você é amiga de verdade dela... – Lipe deu uma risadinha. – Deve saber que a Tonks surta cada vez que a chamam pelo primeiro nome!
- É verdade... – Myra riu com ele. – Mas espere aí... Se não era do marido dela que você estava falando... A qual tio se referia?
- Do tio Nando.
Myra ficou francamente pálida.
- Nando...? Isto não é um apelido para...?
- Fernando. – Lipe completou, não percebendo a perplexidade na moça. – Meu tio é o vocalista da “La Mancha e os Moinhos de Vento”.
Felipe escutou um fraco “Ai, Melim!”, enquanto a moça escondia o rosto entre as mãos e se sentava lentamente na beirada da cama.
- Olha – o menino apressou-se a ser solidário. - Agora que eu te conheço, não acho que seria capaz de fazer algo tão terrível quanto... – fez uma careta enojada. – Fazer alguém se apaixonar.
Myra levantou rápido a cabeça.
- E porque achavam que ele podia estar...?
- Ah, ele não pára de falar em você! É... Irritante!
- Mesmo? – O rosto pálido ficou furiosamente vermelho, e ela exibiu um pequeno sorriso.
- É – Lipe afirmou solenemente. – Vai por mim, tio Nando não está em seu normal. – Ignorando a pontinha de felicidade da moça, ele continuou: - Você acha que mais alguém pode ter posto poção do amor na comida ou na bebida do tio Nando? Quem ganharia se ele se apaixonasse por você?
O sorriso de Myra se apagou.
- Você não acha que ele pode... Ter se apaixonado por mim... De verdade?
- De livre e espontânea vontade? - Felipe arregalou os olhos.
Nunca tinha pensado nisso. Na opinião dele, tio Nando tinha a vida mais fantástica que alguém poderia querer, depois de ser um bruxo. Era adulto e em seu trabalho viajava para o país todo, recebendo as glórias de ser um artista.
– Por que ele iria querer se apaixonar?
- Bem... – Myra sorriu timidamente. – A gente não “quer” se apaixonar. Só acontece, sabe?
Felipe sorriu. Finalmente estava entendo.
- Você gosta do tio Nando!
Extremamente embaraçada, vermelha e acalorada, Myra se levantou, dando por encerrada a conversa.
- Acho que seus pais devem estar preocupados. Vou te levar de volta, está bem?
Durante o caminho até o saguão de entrada, Felipe tagarelou sobre sua família. Contou que a irmã estava em Hogwarts, a pedido da tia, que era descendente de Helga Hufflepuff. Myra desconfiou que a tal Ana não fosse uma pessoa em quem se confiar. Primeiro, a acusação absurda de ter usado uma poção de amor em alguém. E agora sabia que ela tinha usado a influência de sua família para intervir em Hogwarts. Teria que tomar cuidado com essa mulher.
Felipe continuou falando sobre a família e, à medida que a narrativa avançava, Myra notou que a descrição das pessoas e profissões eram... “peculiares”.
- Sua família é trouxa?
- Sim. Até agora, só a tia Ana e a Mel eram bruxas. – Sorriu, mal se contendo de felicidade:
- Agora sei que sou um também. Mal posso esperar para contar para a Mel e a tia Ana!
- E seu tio Nando? Não quer contar para ele também? – Myra sorriu diante da euforia do menino, mas a pergunta não era nada inocente. Tinha certeza que o rapaz era trouxa.
No entanto, agora que sabia que tinha parentes bruxos, queria saber o que ele pensava do mundo mágico.
- Não posso contar. – Lipe deu de ombros, sério. – Ele não sabe de... Tudo isto, entende? Na minha família, só os meus avós e meus pais sabem.
Felipe continuou falando sobre o que o resto de seus parentes achava que os tios e a irmã faziam na Inglaterra, e daí começou a contar outras coisas, mas Myra já não escutava mais. Tinha ficado todo este tempo sem se aproximar de Fernando por causa do medo de se envolver e depois ser rejeitada quando ele soubesse que era uma bruxa. Tivera uma experiência muito ruim com um namorado trouxa, quando era adolescente. Aquilo a marcara profundamente, não queria passar por aquilo de novo...
- Ah! É esse o menino, senhorita Wagtail! – O gerente exclamou, tirando-a de seus pensamentos. – O que disse que era seu sobrinho.
- Aaaaaaah... Mas ele é meu sobrinho. – Myra afirmou, não querendo mais confusão.
- Mas a senhorita disse... – O homem a olhou, confuso.
- Sou sobrinho do namorado dela. – Felipe veio em socorro da moça, fazendo-a corar com a declaração. Mesmo mentindo, o garoto exibia a cara mais inocente do mundo! – Nunca disse que era filho do irmão da tia Myra!
“Tia” Myra sorriu para o homem mais velho e puxou seu “sobrinho” até a chave de portal o mais rápido que pôde.
Quando voltaram ao local dos shows, Myra esperou que o garoto se recuperasse da experiência, e falou:
- Agora aquele homem vai achar que eu venho tanto ao Brasil por causa de um homem!
- E não é? – Felipe alfinetou, caindo na risada.
A moça apertou os olhos e, sorrindo, declarou:
- Ainda está em tempo de eu reconsiderar a opção de te transformar em um sapo, viu?
Os dois riram, chamando a atenção de um rapaz que parecia preocupado. Assim que visualizou o garoto, suspirou aliviado.
- Lipe! Lipe... LIPE!
O seu nome foi pronunciado da primeira vez de uma forma agradecida, feliz e aliviada. Depois, acusadora, como se dissesse: “seu malandro”. Mas quando tio Nando gritou seu nome estreitando os olhos e rosnando, soube que aquilo queria dizer: “você está encrencado, rapazinho!”.
Tio Nando marchava em sua direção, com aquele olhar mortal, quando percebeu Myra ao lado do menino. Estacou na mesma hora, e os dois ficaram se olhando por alguns segundos. Finalmente, a moça soltou uma exclamação abafada, tão baixa que só Lipe conseguiu perceber.
- Eu me perdi, tio. – O menino declarou, lembrando o rapaz o que o tinha levado até ali.
- Você nem devia estar aqui, para início de conversa. Sua mãe me ligou mil vezes, até que a minha apresentação acabou e eu vi as chamadas não atendidas no meu celular. Sabe como seus pais estão preocupados?
- Eu sei, mas a Myra...
- Sem “mas”. E... – Parou, voltando a olhar para a moça. – “Myra”?
Ela não sabia o que fazer. Não entendia uma só palavra em português, mas não era preciso para perceber que ele estivera muito preocupado com o garoto, e agora lhe passava uma reprimenda. Podia imaginar o que viria em seguida: o que o sobrinho estava fazendo com ela?
- Er... Sou eu. – Respondeu, em inglês mesmo, pois pelo menos o seu nome tinha entendido. - Myra. Myra Wagtail. – Estendeu a mão para cumprimentá-lo. Viu, maravilhada, a expressão do rapaz se desanuviar e seu olhar se prender ao dela. Arrepiou-se quando suas mãos se tocaram. – O-Olha, eu não falo português, desculpe... Seu sobrinho... - Olhou para Felipe, que mantinha os braços cruzados e a expressão emburrada. – Não pode traduzir?
O menino olhou para ela, fez um sinal que não, e não disse uma palavra.
- Lipe, o que...? – Fernando questionou.
- Não posso servir de tradutor. Você me mandou ficar quieto, lembra? – O menino disparou, lançando olhares furiosos para o tio.
Fernando sorriu sem jeito para Myra, tentando manter as aparências, sabendo que ela não entendia português.
- Traduza! – Ele resmungou para o sobrinho, entre os dentes, ainda sorrindo.
- Vai parar de brigar comigo?
- Vou, vou! – Nando apressou-se a dizer.
- Está bem. – Felipe descruzou os braços. – Eu vou traduzir. – Disse para Myra, em inglês.
- Ah... – Ela presenciara a cena com divertimento, mas agora não se lembrava mais o que queria que o menino traduzisse. Céus, um não entendia a língua do outro. E ela era uma bruxa. Aquilo não tinha mesmo como dar certo. Nervosa, disse a primeira coisa que lhe veio à cabeça: - Diga a ele que você se perdeu, e eu te ajudei.
Felipe traduziu e antes que ele terminasse, Fernando disse algo, sem desgrudar os olhos do rosto dela.
- Ele agradeceu por ter cuidado de mim. Eu fugi de casa, me escondendo na vã do tio Nando. Ao que parece, minha mãe está uma pilha de nervos, o que não é bom para mim. – Felipe olhou para ela, desanimado – E esta última observação foi minha.
Fernando disse mais alguma coisa e Felipe a olhou de forma preocupada:
- Ele perguntou se pode agradecer te acompanhando até o seu hotel.
- Felipe... – Myra disse quase em um sussurro. – Ele não pode me acompanhar! Não, não traduza! – Ela emendou rapidamente, quando viu que o garoto tinha tomado seu desabafo como uma resposta. – Diga a ele que eu agradeço muito, mas não é preciso. E acrescente, como se a idéia fosse sua, que ele é um estranho, eu não iria querer que ele me acompanhasse.
- Não vai colar. – Lipe deu uma risadinha.
- Por quê? – Myra levantou uma sobrancelha.
- Por que ele entende um pouco de inglês, e, embora não fale fluentemente, entendeu o sentido geral do que me disse. – Agora o menino estava rindo à beça.
Um olhar furtivo para Fernando confirmou o que Felipe falara. O outro brasileiro a fitava com um brilho divertido no olhar, que aumentava na mesma proporção do embaraço que ela sentia.
- Lá estão eles! Nando achou o pestinha! – Chuca, há alguns metros de distância, gritou para os outros membros da banda, que também procuravam por Lipe. “Puxa, que senhora confusão eu criei!”, o menino pensou. “Que massa!”.
Os dois segundos que Fernando levou para se voltar para os amigos e sinalizar que estava tudo bem foi o suficiente para que Myra desaparecesse.
- Onde ela foi? – Surpreso, Nando não escondia a decepção e a tristeza ao notar que ela tinha sumido. – Ela estava aqui, não pode ter ido longe...
- Desaparatou. – Felipe respondeu.
- O quê?
- Ela estava aqui... E no instante seguinte, não estava mais. – O garoto explicou, achando tudo muito divertido.
- Engraçadinho. Disso eu também sei. Sabe onde é o hotel em que ela está hospedada?
- Não – E Felipe não estava mentindo. Não sabia onde era o hotel, porque tinha pego uma chave de portal até ele.
- Nem peguei o telefone dela!
- Telefone? Hahahahaha!
- Você está muito animadinho para alguém que está prestes a enfrentar a sua mãe furiosa, doutor Felipe!
- Ah, a essa altura eu só quero saber quando é que vou poder escolher a minha varinha! Vamos para casa!
Fernando balançou a cabeça, achando que o sobrinho devia estar sofrendo de algum tipo de colapso nervoso porque tinha se perdido e pela tensão de ter que enfrentar a mãe. Vasculhou a área mais uma vez, a procura de Myra.
A expressão decepcionada do tio fez Lipe se sentir tão mal, que ele se condoeu um pouquinho:
- Tudo bem, tio. Pelo que eu entendi, ela e a tia Ana têm uma amiga em comum. Você vai poder encontrá-la novamente.
- Mesmo? Mas, então eu tenho que falar com a Ana imediatamente! Você ou sua mãe tem o e-mail dela? Ou melhor, o telefone? Aliás, agora que pensei nisso... Mamãe me disse que não tinha o número da Ana, não é estranho?
- E-mail? Telefone? Hahahahaha! Tio, o senhor é hilário!
Fernando ficou observando o menino se afastar e definitivamente, achava que o sobrinho não estava bem.
***
A vizinhança do número 12 do Largo Grimmauld continuava tão tranqüila como nos tempos em que Harry estudava em Hogwarts. É inusitado, considerando a divulgação pelos livros de J.K. Rowling, de que aquela casa era a sede da famosa Ordem da Fênix.
No entanto, a explicação era bem simples. Há mais de oitenta anos que nenhum Largo Grimmauld constava nos mapas trouxas e sim... Bem, não posso dizer o nome da rua agora. Estragaria todo o plano meticulosamente traçado por Dumbledore e Rowling. Tudo o que posso dizer é que, na época, o nome da rua fora trocado por o de um político muito “distinto” e indiscutivelmente famoso. E os Blacks, como faziam com a maior parte das coisas ligadas aos trouxas, simplesmente ignoraram o fato.
Foi uma manobra simples, porém eficaz, que manteve segura a localização da sede da Ordem.
Os mapas mágicos se atualizam sozinhos. A ligação deles com o sistema de correio-coruja e a Via de Pó-de-Flu torna isso essencial. Logo, o Largo Grimmauld também sumiu para os bruxos. Exceto, é claro, para a família Black, isolada dos trouxas por seu preconceito, e alheia à grande maioria dos bruxos por sua própria arrogância.
Aqueles que souberam do número 12 através dos livros, não o conseguem localizar. E mesmo as pessoas que tinham estado na Mansão Black nos “áureos” tempos de comensalismo daquela casa, não reconhecem mais o local, graças ao Feitiço Fidelius.
Caso necessário, a autonomia e sigilo da Ordem podem ser mantidos bloqueando-se a lareira totalmente. Não dá para chegar até lá com um pouco de pó-de-flu e dizendo “Largo Grimmauld, número 12!”, ou “Mansão Black!”. A menos que você também esteja sob o efeito do Feitiço Fidelius, é claro!
Para os membros da Ordem da Fênix, aquele era muito mais que simplesmente o lugar onde se reuniam. É verdade que haviam passado alguns dos momentos mais tensos de suas vidas dentro daquelas paredes. Sempre esperando notícias, planejando, ou simplesmente consolando e dando apoio uns aos outros. Com toda a certeza, a antiga Mansão Black, mesmo depois das mudanças feitas em 1994-1995, estava longe de ser o lugar dos sonhos para se morar. Mas era um lembrete constante de que sacrifícios foram feitos no passado, e que sua união havia rendido bons frutos.
Por isso sempre havia pessoas fazendo algo para melhorá-lo, torná-lo mais aconchegante, ou simplesmente consertando a velha casa, mantendo-lhe o funcionamento. Naquele momento, por exemplo, Gui e Carlinhos estavam verificando se a última detetização contra fadas mordentes tinha surtido efeito.
Quando chegaram ao último cômodo a verificar, o antigo quarto de Sirius Black, concluíram que não precisariam se preocupar com uma nova detetização até o próximo verão. A menos que outra praga, os gnomos de jardim, resistisse ao inverno e voltasse na primavera.
- E então, futuro papai? Como vai tudo? – Gui perguntou ao irmão.
Tinham alguns minutos até que todos chegassem para a reunião da Ordem. Para manter a sanidade, naqueles dias difíceis, todos se ocupavam em se enterrar no trabalho e lembrar uns aos outros das coisas boas que estavam acontecendo. E funcionava, como um energético. Não é a toa que a técnica era parte da defesa contra os dementadores. Carlinhos, por exemplo, trocou a expressão compenetrada que tinha no rosto por um pequeno sorriso enviesado quando ouviu a pergunta.
- Bem – havia um brilho empolgado e hesitante em seus olhos ao completar – Muito bem, exceto que o futuro papai está morrendo de medo. Feliz, mas terrificado. Sabe qual foi a primeira coisa que fiz, assim que tive oportunidade?
Gui fez uma careta moralista:
- Posso imaginar, mas não quero saber de suas intimidades conjugais, certo? – A brincadeira o fez ter que se desviar de uma falsa “chave-de-pescoço” que o irmão mais novo lhe aplicou.
- Não. – Carlinhos respondeu, depois que o outro se desvencilhou facilmente do golpe, e os dois pararam de rir. - Fui correndo comprar alguma coisa para o bebê. No meio do caminho, percebi que não tinha a menor idéia do quê queria comprar. Fiquei pensando nas coisas que meu filho poderia precisar e, de repente, também me dei conta do quanto essa pessoinha vai precisar de mim. Confesso que, às vezes... A maioria do tempo, na verdade... Tenho medo de falhar como pai.
- Mano... – Gui o olhou em um misto de amor fraternal e divertimento. – Nós somos filhos de Artur Weasley! Aprendemos tudo o que precisamos saber sobre ser pai com ele, acredite. – Carlinhos exibiu uma expressão cética, embora concordasse que Artur fora e ainda era maravilhoso como pai. – Seja você mesmo, cara. O resto é história.
- Você não entende...
- Eu não entendo? – O irmão mais velho ergueu uma sobrancelha. – Sabe como fiquei quando Fleur me disse que estava grávida? – Carlinhos fez que não com a cabeça. – Bem, ela foi até o Gringotes me dar pessoalmente a notícia. Falou daquele jeito entusiasmado e confiante dela, e, sem perceber que seu marido estava completamente apopléctico... Beijou-me e saiu, dizendo que tinha que mandar uma coruja para a mãe, a tia, a Madame Maxime, etc... “Oh, Mon Dieu!”... - Carlinhos havia começado a rir. - Ah, acha isso engraçado, é? Espere até ouvir o resto. Eu entrei em uma reunião em seguida, e simplesmente não conseguia lembrar de nada! Todos os dados, nomes e números sumiram da minha cabeça. Só conseguia pensar em uma coisa: em breve eu teria um filho. E lá estava eu, sem palavras, diante de duendes impacientes, e com a sensação de ter ganhado um soco no estômago. Quando finalmente recuperei a fala, tinha certeza que meu emprego já era. Os duendes não iriam se comover com o seu gaguejante empregado, “só” porque ele tinha acabado de descobrir que iria ser pai.
Carlinhos não podia acreditar. De todos os seus irmãos, Gui sempre fora o mais eloqüente, aquele que poderia sair de qualquer situação com diplomacia, sem sequer suar. Nada com o jeito pomposo do Percy: Gui não precisava provar nada para si mesmo, muito menos para os outros.
- Saí do banco, naquele dia, pensava que meu filho iria chegar dentro de alguns meses e já iria se deparar com um pai desempregado... – Gui abriu um sorriso amargo, diante das lembranças. – Lembra da infância difícil que tivemos?
- Sim – Carlinhos balançou a cabeça, concordando.
- Só que mais tarde eu encontrei o papai... – Agora Gui estava sorrindo. – Lembrei que não importava o quanto as coisas piorassem, ele e a mamãe sempre davam um jeito. Porque eles nos amavam. Porque se amavam.
- Moral da história? – Carlinhos abriu um sorriso insolente e brincalhão. Tinha entendido perfeitamente.
- Escute seu coração, não tem como errar. Papai e mamãe já colocaram tudo aqui – apontou para a própria cabeça. – E aqui – Indicou o coração. - É só usar. E, é claro, não se esqueça que não está sozinho. Tem a Ana. Você é o maior cabeça-dura que conheço, mas todo mundo já viu que ela é capaz de te colocar no seu lugar quando é necessário!
- Eu, cabeça-dura? Será que se esqueceu quem é que Johnny Braço-de-Ferro atingiu a cachola com um balaço, no sexto ano, e saiu sem nem sequer um arranhãozinho? E quem é que deixa a esposar dar-lhe comida na boca, hem?
Seguiu-se uma luta de travesseiros, almofadas e coisas bem mais pesadas sendo atiradas através de movimentos rápidos e precisos de varinhas.
- Quando vocês pararem de se matar, poderiam arrumar tudo e descer? – A voz de Rony se fez ouvir, vinda da porta, e o tom calmo do terceiro ruivo evidenciava que esse tipo de passatempo era comum entre os homens Weasley. – Já está todo mundo aqui.
Ao descerem, alguns minutos depois, se depararam com as esposas conversando, as expressões de que uma grande tragédia tinha acontecido. Ana contava alguma coisa para Fleur, e, embora os demais não parecessem tão comovidos como as duas, também acompanhavam a narrativa.
- Então, um barco finalmente se aproximou. Rose tentou acordá-lo, mas ele já estava frio, branco como cera e rígido depois de tanto tempo no mar glacial... – A voz de Ana foi se tornando cada vez mais aguda e falha.
- Jack morrreu? – Fleur perguntou, a voz expressando extremo pesar.
- Qual parte de “frio, branco como cera e rígido” ela não entendeu? – Fred, que estava jogando xadrez bruxo com o irmão gêmeo ironizou.
Ana confirmou para a concunhada e as duas estavam tão envolvidas na triste história, que lágrimas quentes começam a correm por seus rostos. A Auror aceitou o lencinho que Fleur lhe passou.
- Desculpem, acho que a gravidez me deixou um pouco sensível demais.
- E eu só estou sendo solidárria à Ana... – Fleur declarou, não muito convincente, conjurando um lencinho para si mesma.
- Mas do quê vocês estavam falando? – Carlinhos agora acariciava os cabelos da esposa.
- Titanic – Ana explicou. – Um filme trouxa. Muito romântico e triste, não acha? – Ela se dirigiu à Sarah, ou melhor, Serenna Snape, que estava quieta e tímida em uma das poltronas. Certamente, nervosa por estar diante dos membros da famosa Ordem da Fênix.
- Sim – ela limpou a garganta, aparentemente seca demais para falar. – Mas acho que o Leonardo de Cáprio muito novinho para o papel...
- Ah, na época do lançamento do filme, Ana tinha quinze anos e achava que justamente ele era um atrativo! – Agatha provocou a sobrinha, que ficou imediatamente vermelha.
- Ele está velho e gordo, agora. – Ana se apressou a explicar para o marido, mas este já estava dando gargalhadas do embaraço da esposa.
- Fleur, querida – Gui se dirigiu à chorosa esposa, consolador. – É uma daquelas histórias dos trouxas, não é verdade.
- Não, é verdade sim. – Hermione declarou. – Quer dizer, a parte do Titanic afundando. Foi em 14 de abril de 1912. Mil e quinhentas pessoas, aproximadamente, morreram.
- Caramba!!! – Rony exclamou. – É difícil imaginar que uma tragédia tão grande possa ter acontecido, e que... “Ele” não tenha nada a ver com isso...
A referência a Voldemort trouxe a tensão de volta. Harry, cujo todo divertimento naqueles minutos não ultrapassou um simples sorriso, pareceu se arcar sob o peso de uma bigorna invisível. Hermione percebeu imediatamente e, acompanhando o olhar da ex-grifinória, Ana também se deu conta da expressão carregada do rapaz. “Sinceramente, Harry tem que parar de carregar o mundo nas costas!”, ela pensou.
- Hum... – Cátia limpou a garganta, quebrando o silêncio. – Meu bisavô quase embarcou nele. Vocês sabem, minha família é trouxa, e meu bisavô foi uma espécie de representante comercial. Antes de conhecer minha avó, ele viajava constantemente para os Estados Unidos. Graças a Deus, ele perdeu o navio, senão poderia ter ficado no fundo do mar com o Titanic.
- Quer dizer que você poderia nunca ter nascido? – Fred perguntou, os olhos arregalados, verdadeiramente horrorizado com a possibilidade de nunca ter conhecido a esposa.
- Qual parrte de “no fundo do marrr com o Titanic” ele não entendeu? – Fleur devolveu a “gentileza” do cunhado com um olhar poderoso que lembrou a todos que ela foi uma campeã tribruxo.
Várias pessoas engasgaram ou começaram a tossir para disfarçar o riso. O clima, finalmente, voltara a se amainar e a reunião pôde começar. Passaram ao primeiro ponto, e Snape esclareceu algo que era alvo de curiosidade de muitos dos que estavam ali: apresentou à Ordem da Fênix sua irmã perdida, Serenna Snape. (1).
Ana permaneceu ao lado de Serenna e Severus, dando apoio a ambos, até que o choque de saber que Snape tinha uma irmã foi passando, e Serenna já se sentia a vontade até mesmo para responder às provocações dos gêmeos.
Foi quando aproveitou para puxar Tonks para um canto, e questionar a amiga, discretamente:
- Recebeu meu bilhete?
- Sim! Mal posso acreditar no que li! Mas de uma coisa eu tenho certeza, Ana: Myra não iria usar algo tão baixo quanto um feitiço ou uma poção do amor. Ainda mais contra um trouxa.
- Tem certeza? – Sussurrou.
- Ana, você é minha amiga. Mas Myra também é e eu coloco a minha mão no fogo por ela. – A expressão da outra Auror era solene. – Vou ficar aborrecida com você se insistir nisso.
- Desculpe, é que estou preocupada. Fernando é... Completamente trouxa, entende?
- Eu vou conversar com ela, se isso te deixar mais tranqüila. – Ana balançou a cabeça, concordando. – Mas é estranho que...
- Quê...?
- Nada. Mais tarde conversamos melhor sobre isso. – Tonks sabia do romance traumático de Myra com um rapaz trouxa, quando esta era adolescente. Por isso, tinha razões para acreditar que havia mais chances da moça sair ferida do que o primo de Ana. – Ouvi falar que seu outro sobrinho é um bruxo também, é verdade?
- Sim – Ana suspirou, divertida. – E Deus nos ajude!
- Ele vai para Hogwarts, como a irmã?
- Ainda não sei. Não tive oportunidade para conversar com a mãe deles. Fui para o Brasil a alguns dias atrás para contar sobre a gravidez para meus parentes e ajudar Serenna com algumas questões legais, mas Lipe ainda não tinha manifestado sua magia. As cartas que estou recebendo de Patrícia são de dar dó... Primeiro a Mel que vai para longe, agora o Felipe. De qualquer forma, não é só uma decisão nossa. McGonagall teria que avaliar se seria conveniente para Hogwarts. Afinal, a escola é para britânicos e tia Agatha e eu interferimos uma vez, mas... Duas? Talvez seja pedir demais, não gostaria de por a Diretora em uma situação difícil.
- Entendo. – Tonks assentiu, olhando para Minerva, que agora conversava com Agatha. – Compreendo principalmente a mãe do garoto. Eu já estou morrendo de saudades do meu filhote!
Outros pontos começaram a ser discutidos, e as duas voltaram a atenção para o que era dito. A apresentação de Serenna foi o último ponto agradável da reunião. As notícias que iam sendo relatadas eram uma pior do que a outra, e Ana não sabia como acrescentar a sua à “coleção”.
Finalmente, quando Harry perguntou se havia mais alguma coisa, e ninguém mais se manifestou, ela viu que não poderia mais adiar a situação. Trocou um olhar com o marido, do tipo “é agora”, e se adiantou:
- Eu tenho. – Tirou do bolso o medalhão, agora enrolado em tecido para evitar o contato. – Encontrei esse objeto escondido em um livro, no Ministério, há alguns meses atrás. – E ela relatou como seguiu a pista de Rowena e de Arádia até o livro.
- Por que não nos contou isso antes? – Quim questionou, examinando pessoalmente o objeto.
- É uma informação fundamental, Ana! – Minerva McGonagall observou, com certa urgência na voz.
- Tenho certeza que Ana tem uma boa explicação. – Hagrid apressou-se a comentar.
- Eu não tinha certeza de que fosse ajudar em alguma coisa. – Ana sabia que não poderia escapar à reprovação que se seguiria.
- E agora tem? – Hermione perguntou, preocupada.
Respirando fundo, Ana contou o que aconteceu no Brasil, tentando ignorar a expressão indignada de Shacklebolt ao ouvir que ela tinha tirado do país um objeto pertencente ao Mistério. Quando terminou, Harry tinha uma expressão raivosa no olhar:
- Não pode esconder qualquer informação da Ordem, Ana! Qualquer uma pode ser fundamental, você sabe muito bem disso! Não tem o direito de pagar para ver no que vai dar. É a volta de um assassino maluco que pensa que é deus que estamos tentando impedir! (2)
- Pega leve, Potter! – Carlinhos exigiu.
- Não, ele tem razão Carlinhos. – Ana interveio. – Você mesmo me disse isso quando te contei. Não, não precisa dizer nada, Moody. – Ela olhou para o velho Auror, com um pedido de desculpas no olhar. – Sei que isso foi contra tudo o que você me ensinou sobre ser prudente.
- Não acredito que vou dizer isso, Smith, mas concordo em parte com Potter. - Snape se manifestou, embora mais calmo que Harry. - O medalhão poderia, e pode, estar amaldiçoado. Aliás, é quase certo que esteja, já que está ligado com o quê os demônios querem. – O ex-professor de Poções olhou para Harry, em uma clara referência aos poderes de Arádia que Gina tinha.
- Mas eu não disse que estava. – Ana contrapôs.
- E nem que não estava. – Harry comentou, ainda extremamente aborrecido.
- Crianças, por favor! – Artur interveio. Harry olhou para os sogros e morreu de remorso com a visão do rosto aflito de Molly. Tinha deixado a tensão se acumular até que a despejou nas pessoas mais próximas a ele.
- Harry, Deus é testemunha que já tive minha cota de objetos enfeitiçados grudando em mim. – Ana disse. - Sinceramente, não gostaria de ter mais algum. Mas... Alguma coisa me dizia que era necessário esperar nesse caso e que... Não era o que estamos procurando, embora... Fosse alguma coisa! – Acrescentou, em um tom de voz mais brando: - Você também sabe o valor de uma intuição, Harry.
Ele respirou fundo, e desanuviou a expressão.
- Desculpe. Você se colocou entre mim e Voldemort uma vez, não tenho dúvidas que sempre faria o que é melhor. Só não omita mais nada, certo?
Ana assentiu, e Harry voltou-se para Carlinhos, que simplesmente declarou:
- Continue defendendo minha irmã e meus sobrinhos assim que eu te perdôo, Harry. – Ele sorriu.
- Quanto a mim, basta me dar seu autógrafo. – Ana entrelaçou as mãos e exibiu a sua melhor expressão de “adoração de fã”, provocando risos na sala.
- Hora do café! – A senhora Weasley declarou, encarregando-se de guiar ela mesma Serenna, a quem conhecia do Orfanato da Ordem, até a cozinha. (1).
Ana passou o medalhão para Lupin examinar, e ele lhe murmurou que seria ótimo ter mais elementos com que trabalhar.
***
Naquela manhã, Filch veio mancando, de bengala (os anos se faziam pesar sobre o zelador), até a mesa da Corvinal. Ele avisou Mel que “aquela ave amaldiçoada dela estava lá fora”. Ainda ouvindo os risinhos de deboche das colegas de Casa – elas se sentiam um pouco mais corajosas quando os amigos da brasileira não estavam por perto – deixou a mesa.
A menina chegou até o pátio interno o mais rápido que pôde, e voltou a tempo de encontrar os amigos nos corredores.
- De quem é? – Josh perguntou, olhando curioso para a carta que ela tinha nas mãos.
- Dos meus pais. – Respondeu animada, abrindo a carta e a lendo enquanto se dirigiam para as salas de aula. – AH, NÃO!!!
- Que foi? – Hector pegou o papel das mãos da amiga, quando ela não respondeu. Preocupado, esqueceu-se que não estava falando com ela. – Credo, que desenhinhos são estes em cima e em baixo das palavras?
Diante de tal falta de informação, Mel reagiu:
- São acentos gráficos e o “cedilha”...
- São o quê?
- Ah, deixa para lá.
- Mas o que te deixou tão surpresa? – Andrew perguntou.
- Meu irmão... – A menina respondeu com uma voz lamentosa. – Ele descobriu que é bruxo.
Alguns segundos se passaram, silenciosos. Até que Josh disse:
- Mel... TODOS nós somos bruxos. O que isso tem demais?
A corvinal corou furiosamente. Não é que não quisesse que o irmão se descobrisse bruxo. O problema é o quê isso significava.
- Olha... Eu estou feliz por meu irmão, realmente estou. – Ela enfatizou a última frase, para fazer entender que não estava com ciúmes do irmão, ou que era egoísta. – Mas é que agora ele vai ter que entrar em uma escola bruxa, e provavelmente... Hogwarts.
- E daí? Hogwarts é a melhor escolha de bruxaria! – Andrew disse.
- Não o quer aqui? – Josh questionou. – Hum... Outro brasileiro que possivelmente vem para cá. É uma invasão, eu disse para vocês! (3)
- Você acha... – Danna começou a dizer timidamente. – Que isso pode prejudicá-lo, não é?
Danna estava certíssima. Com a sua sensibilidade, tinha captado a preocupação da outra menina, mesmo não sabendo do que se tratava. Lipe era descuidado. Iria aprontar muito, se meter em muitas confusões, além de deixá-la maluca. Não sabia se ele seria capaz de agüentar os sete anos de Hogwarts sem quebrar o Decreto de Sigilo sobre os livros, com feitiço inibitório ou não!
- Sim... Não sei como meu irmão iria se comportar sem minha mãe e meu pai o controlando. Ele é um pouco... Irresponsável.
- Ah, que alívio, pensei que fosse o único, no mundo de Mel Warmling, que merecesse esse título! – Hector ironizou, retomando as hostilidades entre os dois.
Aparentemente, o garoto concluiu que não tinha mais interesse na conversa, e, se despedindo dos outros amigos, tomou o caminho de sua próxima aula. Mel bufou, também se dirigindo para a sua aula de Herbologia. Os professores estavam passando muito dever de casa, era melhor se concentrar nos estudos em vez dos chiliques de Hector Lupin.
Ai, e essa agora... Felipe, um bruxo!
***
[Seis meses depois, julho de 2007].
Ao sentir que o avião decolava, Luíza finalmente relaxou, escorregando em sua poltrona. Agora estava fora de alcance de celulares e bips. Nada mais poderia acontecer, como sempre acontecia, e adiar mais uma vez as suas férias.
Estava tentando desde o casamento de Ana. Mas também daquela vez uma crise de segurança em um dos Estados fez com que o serviço de inteligência federal ficasse sob alerta.
No entanto, seu médico havia avisado que estava no limite. A voz do doutor ainda ressoava em sua cabeça, dizendo que só porque tinha uma memória privilegiada, não queria dizer que seu cérebro não precisava de descanso. O neurologista fora claro: férias imediatamente. Isso, ou o colapso total. Ela que escolhesse.
Suas crises estavam cada vez mais freqüentes, com um curto espaço de tempo entre uma e outra. Do jeito que estava, tinha medo de tê-las no meio da rua, sem ninguém conhecido para socorrê-la. Era horrível viver sob a expectativa de perder a noção do que acontecia ao seu redor, a capacidade de entender a mais simples frase... Ficar à mercê de qualquer um.
Mas agora poderia se recuperar. Na Inglaterra, estaria longe o suficiente – em qualquer outro lugar do Brasil ou da América do Sul seria facilmente encontrada pelo governo federal. Não que Luíza fosse insubstituível, apenas... Era alguém que poupava muito tempo e dinheiro para a Agência. Seu chefe imediato vivia dizendo que não precisavam comprar mais computadores com Luíza por perto! Piada sem-graça...
Iria fazer uma surpresa para Ana. Fazia muito tempo que não entrava em contato com a amiga. Parecia que ela tinha sumido do mapa: ninguém sabia dizer-lhe um número de telefone, e os e-mails que enviava para ela retornavam, dizendo que a caixa estava cheia. Onde Ana estava que não acessava seus e-mails? A última carta que recebera fora há alguns meses, e não tinha selo algum. Como o correio a entregou?
A verdade é que estava começando a se preocupar com a amiga. Mas agora poderia descansar e ver como Ana estava. Se visse que ela estava bem, também tranqüilizaria as outras meninas, que igualmente não tinham recebido mais nenhuma notícia de Ana.
Na última carta, há três meses, Ana relatava que estava felicíssima com a sua primeira gravidez. Reclamava um pouco de alteração de humor e muito sono, mas no geral, sentia-se muito bem. Torcia para que tudo continuasse assim.
Luíza fechou os olhos, tentando dormir. Ainda tinha muitas horas de vôo até Londres.
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Notas
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(1) O Paciente Inglês, da Regina McGonagall.
(2) Harry Potter e o Retorno das Trevas, da Sally Owens.
(3) O Paciente Inglês II, da Regina McGonagall.
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(N/A): “Myra” (pronúncia “Maira”) é uma homenagem a personagem, de mesmo nome, interpretada por Bridget Fonda em “A Viagem Mágica” – que conta também com a presença do bonitão Russel Crowe, fazendo o par romântico de Myra.
E caiu como uma luva para a irmã de Myron Wagtail, o vocalista de “As Esquisitonas” (The Weird Sisters – como Shakespeare chama as três bruxas que aparecem em Macbeth).
Curiosidade: “Double Trouble”, uma das músicas mais conhecidas dos filmes, é baseada em um dos versinhos que aquelas criaturas “simpáticas” das bruxas de Macbeth falam.
Gente, não vai dar para fazer as respostas dos comentários um por um. Por favor, perdoem-me! Realmente não vai dar (a menos que eu deixe para postar esse capítulo amanhã, e acho que vcs não gostariam disso...).
Só não poderia deixar de explicar que o fato da Ana estar grávida foi “adiantado”. Ela ainda não estava, realmente, quando escrevi os capítulos anteriores. Mas, os gêmeos nasceram (apressadinhos!!!), e a comunicação da gravidez estava ligada ao nascimento deles.
Ah, além das bethagens da Sally e da Regina, ainda por cima eu tenho assessoramento da Trinity nas questões ligadas à gravidez da Ana (sinceramente, eu ando muito chique, não?).
Agradecimentos especiais à:
Lívia Cavalheiro, Bruna Perazolo, Srtáh Míííhh, Carline Potter, Charlotte Ravenclaw, Sô, Trinity Skywalker, Ana Carolina Guimaraes, Luisa Lima, Carlapiks, Regina McGonagall, Gina W. Potter, Sally Owens, Priscila Louredo, Jaline Gilioti, Mimi Potter, Lamarck, Kika, Bernardo, Grazy DSM e Lize Lupin.
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