Trouxas e Tacanhos
Capítulo bethado pela Sally Owens (com direito a vários palpites maravilhosos – espero que a Sally não comece a cobrar a assessoria, hehehe!). E também, com a co-autoria da Regina McGonagall – Regina, obrigadão! Você é demais! Aliás, vocês duas são fantásticas!
*****
Dezembro. Pleno verão no Brasil. O calor sufocante nesta época do ano era a regra geral no país, com raríssimas exceções. Depois de algumas horas em que as temperaturas elevadas deixavam a população a ponto de pedir misericórdia, vinha a chuva. Muita chuva.
Mas não havia sinal de chuva naquele dia. E além do calor, o ânimo de Ana não colaborava muito para que ela se colocasse no clima “fim-de-ano-é-festa-oba!” que tomava conta do país – e da casa dos tios – naquele momento. Aliás, sua família estava sendo um fator extremamente incômodo.
A casa de Bianca e de Antônio estava cheia. Não era à toa que Ana se sentia tão à vontade com os Weasleys. Os Anhanguera, em número, não ficavam atrás da famosa família de bruxos ruivos.
Havia a Patrícia (Tícia), filha mais velha, mãe do Felipe e da Mel; além do marido, Marcos. Nando, o segundo filho de Antônio e Bianca, que era vocalista de uma banda de música. Eduardo, a quem todos chamavam de “Edu”, e que nasceu depois de Nando. Ele era professor de Física em um colégio de Ensino Médio, casado com Mônica. Eles tinham três filhos: Renato, Bruno e Paula, esta última de poucos meses de idade. Finalmente, apenas três anos mais velha que Ana, Andréa (ou Déa). Ela conheceu o marido, Fabrício, através do Edu. Os dois eram professores no mesmo colégio, só que Fabrício lecionava Biologia. Tinham três filhos, Amanda, de sete anos; André, de cinco; e Gustavo, de três.
Além deles, havia o Chuca, amigo e companheiro de banda de Nando, que estava passando as festas com os Anhangueras, como todos os anos. “Robin-Hood-Depois-Da-Pneumonia” fora o apelido que Ana lhe dera ainda na adolescência, por causa do cavanhaque e dos cabelos compridos, em um corpo baixinho e fracote. O baterista da “La Mancha e os Moinhos de Vento” era uma criança crescida, e tinha sido “adotado” pela família.
A palavra “muvuca” era eufemismo para a situação daquela casa, quando todos estavam reunidos. Pensar-se-ia que isso seria um incentivo para Ana se animar. Sabem como é, muita gente junta no mesmo espaço, mesmo que desconfortável, é garantia de nunca se entediar.
Mas não quando essas pessoas te conhecem a ponto de detectar as mínimas alterações de humor. Famílias são como grandes detectores de “baixo astral”. Uns ditadores que não te deixam curtir uma fossa sozinha.
De fato, seus primos já tinham percebido que havia algo errado. Tanto que estavam cochichando entre si pelos cantos da casa, lançando a ela olhares de estranheza e piedade. A situação piorou quando um filme antigo com Richard Chamberlain (um musical adaptando “Cinderela”), a levou às lágrimas.
Daí, seus primos tiveram certeza. Tinha algo errado. Ana sempre morrera de rir com musicais, não importando quão triste fosse a história.
- Isso não é... Lindo? – Ana dizia, tentando conter as lágrimas que já brilhavam em seus olhos – Ela é uma criada, ele um príncipe. Mundos diferentes... – Fungou – Cinderela vai renunciar a seu amor em nome da paz para seu país...
Nando e Chuca tentaram por um plano em prática. Puseram-se na frente da TV, chamando a atenção de Ana, e começaram a cantar:
- Anna... Girl, before you go now… I want you to know, now… That I still love you so… But if he loves you mo’, go with him... Go with him… (1)
Ana levantou-se com um sorriso fraco nos lábios. Suspirando pacientemente, levantou-se e caminhou até os rapazes dando um beijinho agradecido, mas desanimado em ambos. Deu um tapinha em Nando e desmanchou o cabelo de Chuca, que lhe caía até os ombros. Desolados, os dois rapazes viram Ana desistir do filme e ir para seu antigo quarto. O plano de animá-la não dera certo. Que coisa! Beatles “sempre” a animava! O negócio era sério mesmo!
Ela decidira que o que precisava era parar de pensar em Carlinhos, apesar de, ironicamente, tê-lo deixado justo para isso. Mas quanto mais pensava, mais se sentia perto da loucura, tamanho tormento que suas perguntas sem resposta causavam. Estava chegando cada vez mais próxima à conclusão de que era, afinal, uma grandessíssima idiota. E não era nada agradável descobrir isso sobre si mesma.
Sabia exatamente o que poderia absorvê-la tanto a ponto de parar de ter pena de si mesma, nem que fosse por algumas horas. Decidiu que, no dia seguinte, iria visitar um lugar em especial.
***
As oscilações do colchão embaixo de Harry finalmente o despertaram. Sua mente ainda embotada pelo sono procurou a fonte daquela perturbação inoportuna. Descobriu que era o corpo de Gina, que se remexia irrequieto no colchão, a origem de tanta agitação na cama.
E Gina apreensiva, sob qualquer situação ou argumento, era matéria realmente preocupante para Harry Potter.
Teria voltado a sonhar com aqueles terríveis rituais? Talvez a morte de Griffin a tenha afetado mais do que imaginava, ou então... Seu assassinato não fora somente uma forma de ter acesso ao Draco, que estava sendo vigiado pelos Aurores. Naquela noite, Griffin fazia a vigilância. Mas, pela forma como o mataram... Naquele ritual de “Roubo de Poder”... Poderia não ser mero acaso. (2)
- Gina...? – Sussurrou.
Se o rapaz soubesse o quanto sua voz soava preocupada e protetora, talvez tivesse ficado menos rígido, enquanto mantinha os olhos verdes fixos na face dela, delineada pela penumbra do quarto. Mas, naquele momento, concentrava toda a sua atenção na esposa, a espera de descobrir se estava tudo bem. Nunca sequer desconfiaria que o coração da ex-grifinória se apertava cada vez que o via tão tenso, quase como na época de Voldemort.
- Desculpe... Não queria te acordar... – Hesitou.
- Outro sonho?
- Não...
O tom cuidadoso da esposa despertou de vez o instinto de Harry. Ele se sentou na cama também:
- São os gêmeos? Chegou a hora? – Ele pulou da cama, agitado. Olhou em volta freneticamente, procurando algo – Não se preocupe, amor, vai dar tudo certo – Ajoelhou-se no chão, tateando-o com as mãos – Onde estão meus sapatos? – Levantou a cabeça para olhá-la – Deixe que eu cuido de tudo, está tudo sob controle! – Voltou a olhar em volta: - Santos hipogrifos, cadê minha varinha?
O riso alto e cristalino de Gina ecoando pelo quarto congelou seus movimentos. Ainda ajoelhado no assoalho frio, apoiou lentamente os braços sob o colchão:
- Acho que este não é o comportamento compatível com uma mulher em trabalho de parto.
Gina passou a gargalhar, provocando uma careta indignada do marido quando, entre vários esforços para parar de rir, comentou:
- É que... Como é que... Vai cuidar de tudo... Quando nem consegue achar a varinha?
- Mérlin! Quer dizer que os bebês realmente estão vindo? – Ele voltou a se agitar, os olhos verdes se arregalando no escuro, e pronto para usar os seus reflexos mundialmente famosos para pegar Gina e a levar para o St. Mungus imediatamente.
- Não! – Na escuridão, Harry só distinguia o brilho dos cabelos flamejantes da esposa, quando eles se agitaram com o movimento de negativa da cabeça dela. – Não querido – Gina conseguiu dizer, mais recuperada – Afinal, faltam dois meses ainda!
Harry voltou a se deitar do lado dela na cama, não sabendo se ficava aliviado ou decepcionado com a notícia. Queria pegar os filhos nos braços mais que qualquer coisa no mundo, mas se deparar com Gina em trabalho de parto o apavorara. Devia ser horrível não poder fazer nada enquanto a esposa sofria para por os filhos no mundo. Como Rony tinha conseguido passar por aquilo?
“Não conseguiu”, lembrou-se Harry, com uma pontada de bom-humor. Ainda conseguia ver o rosto branco como cera de Rony enquanto Hermione estava na sala de parto, dando a luz ao pequeno Sirius. Nem aqueles primeiros jogos como goleiro, no quinto ano, tinham conseguido provocar uma palidez tão mortal no ruivo quanto aquele dia.
- Bem... Tudo é possível, se tiverem puxado a mim. – O sorriso presunçoso do Menino-Que-Sobreviveu foi visto através da escuridão.
- Se tiverem puxado a você, vão me fazer esperar por seis anos – Gina devolveu, provocativa.
Harry fez uma nova careta, reconhecendo que, mais uma vez, Gina o tinha vencido. Tudo bem: rendia-se de bom grado para aquela ruiva.
- O que a estava incomodando, então? – Ele pousou a mão direita no ventre dilatado, acariciando-o ternamente, enquanto o olhar voltava a ficar preocupado e atento.
Gina ficou calada por alguns instantes, o que fez cada um dos músculos dele retesarem-se, alertas. Finalmente, ela respondeu, muito cautelosamente, como se não tivesse certeza de achar as palavras:
- Há uma nova magia agindo – Respirou fundo: - Muito perto de nós.
Imediatamente, ele se lembrou das habilidades de Gina. Por isso não pôs em dúvida um só momento o que ela lhe dizia.
- Os Comensais...?
- Não. – Ela balançou a cabeça veementemente. – Não é uma magia... “Ruim”. Se é que podemos falar em “magia boa” e “magia ruim”. Mas... Não. Não é algo que nos ameace.
Ele suspirou audivelmente aliviado. A última coisa que precisavam era de mais Livros de Fausto. Fez Gina acomodar a cabeça em seu ombro, e beijou-lhe os cabelos:
- O que acha que é?
- Não tenho idéia... – Gina ergueu a cabeça e fitou os olhos verdes do marido, facilmente distinguíveis, mesmo na escuridão.
Ela sentiu o peito dele vibrar, denunciando a gargalhada que estava por vir:
- Você me deixa desnorteado, senhora Potter.
Gina bufou, dando uma batidinha de leve no peito dele. Mas não estava brava de verdade. De fato, até mesmo sentia-se aliviada, como se fosse isso que devesse ter feito desde que começou a ter aquelas sensações. Agora que contara ao marido, era como se tivesse cumprido uma missão.
- E você adora isso – Rebateu, sorrindo.
***
Ana vestiu um maiô por baixo de um short velho e uma camiseta. Reuniu mais alguns acessórios básicos de verão, como protetor solar e óculos escuros, para só então ter coragem de desembrulhar o produto do que muito provavelmente era o seu primeiro delito na vida.
O medalhão com os símbolos celtas e o desenho do corvo.
Não que tivesse a intenção de cometer um crime, é claro. Era funcionária do Ministério da Magia britânico, e estava com a posse do objeto para averiguações. Até aí, tudo dentro de seus deveres. No entanto, duvidava que o Ministério entendesse que levar esse objeto consigo para fora do país estivesse dentro de suas prerrogativas legais... Especialmente quando não contara ainda a seu chefe, Kingsley Shacklebolt, que estava com ele.
Por sorte, sabia que um furto não era furto até que alguém se desse conta da subtração da coisa. Se devolvesse o objeto ao seu lugar antes que sentissem a falta dele... Então, tecnicamente, não haveria furto algum.
Mas havia algo no medalhão. Ela sentia. Não tinha avançado um milímetro na questão de desvendar o mistério que o envolvia, mas não podia se separar dele. Era quase como se soubesse que a hora em que o significado dele se revelaria ao mundo estivesse chegando, e queria estar com ele por perto quando acontecesse.
Era isso, ou então estava se tornando uma patética paranóica.
A casa dos tios ficava próxima ao litoral. Era necessária apenas meia hora de carro para chegar até a praia. Mas ela havia preferido ir até um riozinho com uma cachoeira. “Cachoeira Encantada” era o nome do lugar.
Com a intenção de avisar aos tios que pegaria a velha caminhonete deles emprestada (e “velha” era um adjetivo muito bondoso para o veículo caindo aos pedaços), foi até a cozinha procurar a tia.
- ...Seria mais fácil saber se os tacanhos usassem meios de comunicação mais eficientes do que...
Patrícia, que estava na cozinha com a mãe e a irmã, Andréa, arregalou os olhos e fez um sinal negativo para Bianca.
Ana não entendeu absolutamente nada. Andréa pareceu pensar que a mãe havia se interrompido por causa da chegada dela. Então, deveriam estar falando dela. Mas se fosse isso, Patrícia não teria olhado apreensivamente para a irmã, como se a mãe estivesse prestes a falar algo que Andréa não poderia saber.
- Eu vou... – Por alguns instantes considerou perguntar quem era “tacanho”, mas depois resolveu fazer isso mais tarde – Eu vou pegar a caminhonete e ir até a cachoeira, tudo bem?
- Vá sim, querida – Bianca concordou – Está um dia perfeito para nadar, não é?
Andréa resmungou algo sobre ela aproveitar enquanto não tinha filhos que tomavam cada segundo de seu tempo. Patrícia soltou a respiração que estava presa em espectativa, aliviada por ninguém ter feito perguntas, seja lá porque fosse, e encorajou Ana a se distrair.
Ana duvidava que pudesse fazer algo tão simples como “aproveitar” e se “distrair”. Tudo o que queria era um lugar aberto e longe dos olhares curiosos dos parentes.
Quando Ana saiu, os demais primos – o que queria dizer Nando e Edu - foram se aproximando, em um claro movimento de conspiração.
- Gente... Os dois são adultos. – Patrícia tentou argumentar – Não acham que seria melhor deixarmos eles resolverem, seja lá o que esteja acontecendo... Sozinhos? Vai parecer que a gente está se metendo na vida dos dois... Não: com certeza estaríamos nos metendo na vida dos dois.
- Bem... – Edu ajeitou os óculos no nariz – Temos duas opções. - Ele estendeu a mão direita, demonstrando uma alternativa: - Ela se consegue dar a volta por cima só com a nossa fantástica, inestimável e agradável presença... – Estendeu a mão esquerda: - Ou vai precisar do Carlinhos.
Os quatro se olharam por alguns instantes, avaliando a situação. Até que todos balançaram a cabeça, concordando que só havia um jeito:
- Carlinhos – disseram juntos.
***
Carlinhos acordou, após mais uma noite mal dormida, dominado pelas mesmas indagações dos últimos dias, e sentindo-se ainda pior pela saudade imensa de sua Ana. (3)
Mas – ele não tinha bem certeza se era o certo a fazer – ia fazer o que ela lhe pedira: não iria atrás dela, lhe daria o tempo que pedira.
O quarto ainda estava completamente às escuras, a manhã ainda não irrompera pelas janelas, então ele suspirou desalentado: mais uma madrugada seria passada em claro, quer dizer, acordado no escuro... e só.
Ou será que não?
Pois, de repente, começara a sentir uma presença sutil dentro do quarto... havia mais alguém ali com ele. O mais estranho é que tinha uma sensação boa sobre isso, como se fosse alguém querido e há muito distante... será que?
- Ana! É você? – ele perguntou baixinho, e ouviu uma risadinha baixa em resposta.
Franzindo a testa, murmurou, já com a varinha firme na mão:
- Ana... se você está querendo me pregar uma peça...
Nova risadinha, mas desta vez ele pode distinguir o tom bem infantil e concluiu: não era a sua esposa. Então, ordenou:
- “Lumus”! – e apontou a varinha direto para o lado de sua cama de onde viera o som.
- Ei! – uma vozinha suave falou – que luz forte! Vira isso pra lá!
Boquiaberto, Carlinhos examinou a figurinha sentada aos pés de sua cama, como se estar ali fosse a coisa mais natural do mundo.
Era... uma garotinha!
Pele clara, rosto levemente sardento, cabelos cacheados nas pontas que pareciam pretos mas, talvez pelo efeito do seu “lumus”, apresentavam um brilho avermelhado. A garotinha usava um vestido azul claro, de mangas fofas e saia em roda, cobrindo suas pernas cruzadas em posição de lótus sobre a cama.
Seus olhos azuis piscavam, enquanto ela sorria para Carlinhos, um sorriso doce e confiante, que o fez sentir ainda mais saudades da esposa.
Uma idéia súbita passou por sua cabeça, e ele insistiu:
- Ana? Desde quando você ficou tão boa em transfiguração? É muito difícil conseguir regredir a própria forma assim...
A menina balançou a cabeça com graça e levantou os olhos para o alto, antes de dizer com a voz mais decidida:
- Já disse. Não sou a Ana. Sou a Lizzy.
- Lizzy? Não conheço nenhuma Lizzy...
- Ah... mas vai conhecer. – ela sorriu de modo estranho.
- Está bem... Lizzy. E o que você está fazendo aqui? E como entrou?
- Ah, eu só vim te conhecer. Queria saber como você era, já que...
- O que? – Carlinhos agora se sentara como ela, as pernas cruzadas, sobre a cama, e tentava falar calmamente, para não assustá-la, embora se mantivesse alerta a qualquer gesto que pudesse significar um ataque da “menina”.
- Bem... vamos conviver muito, né? Eu queria conhecer você antes de vir morar aqui...
- Morar aqui? E quem disse que você virá morar aqui? Que história é essa?
- Ops... falei demais... – ela piscou, mas não parecia arrependida – Tenho que ir agora. Posso te visitar outras vezes, antes dela voltar?
Carlinhos entendeu que ela se referia a Ana e achou isso ainda mais estranho.
- Você não poderá vir quando ela estiver de volta?
- Não... só depois... err... não dá pra explicar, vou ficar de castigo se falar mais alguma coisa...
Ela se ergueu num salto, aprumando o corpo e olhando em torno de si, enquanto arrumava as saias.
Carlinhos continuava achando aquilo tudo muito incomum, mas sentia-se tão bem com a presença da menina, que se surpreendeu entristecendo-se com a percepção de que ela se preparava para ir embora.
- Você já vai? – ele perguntou baixinho.
- Vou sim... vão ficar uma fera comigo ao descobrirem que vim aqui, mas... eu precisava dizer uma coisa...
Ela pareceu sem jeito, chegou pertinho dele e disse ao seu ouvido:
- Eu gosto muito de você, viu? – e, para completa surpresa de Carlinhos, beijou-lhe a face, um toque suave e etéreo, quase imperceptível.
Antes que ele se recuperasse, ela lhe acenou um adeus e se afastou sorrindo.
Carlinhos se ergueu para ir atrás dela, mas atrapalhou-se com alguma coisa e... caiu no chão.
Assustado, ergueu-se e olhou em torno. Estava só. Completamente. Aumentando a luz, viu que a porta ainda estava fechada, que o dia não nascera.
Sentou-se em sua cama, suspirando, enquanto levava a mão ao rosto, onde a garotinha o beijara.
E, com um sorriso, concluiu que sonhara tudo aquilo.
Um sonho doce e terno, fruto de sua saudade imensa de sua querida Ana.
Então, concluiu que ela já tivera todo o tempo que precisava. Ele iria ter com ela, sem mais perda de tempo.
Ele a amava, e isso deveria ser suficiente para lhe mostrar o caminho dali para frente, sem magoá-la mais.
***
Para chegar a Cachoeira Encantada, tem que se pegar uma rodovia federal que corta o litoral de Santa Catarina. Às margens dela, um pouco antes da entrada para a cachoeira, havia uma reserva indígena. Ana notou que os índios estavam excepcionalmente próximos às margens da rodovia, coisa que nunca tinha visto antes. Havia várias barracas vendendo artesanatos. Pensou em parar na volta, para dar uma olhada.
Alguns minutos mais tarde, estava na estradinha de chão que levava a cachoeira. Parou e desceu do carro, notando com pesar que não era a única por ali. Bem, o que queria? Era verão e estava em uma das rotas mais procuradas pelos turistas. Aliás, várias famílias se aglomeravam as margens do rio, aproveitando o sol para se bronzear ou brincar na água refrescante.
Procurou um canto mais isolado e sentou-se em uma enorme pedra, sob a sombra de uma árvore. O rio corria à sua esquerda, e estava de costas para a maioria das pessoas, que se aglomeravam mais próximas à cachoeira. A queda da água criou um pequeno arco-íris, convidando os pobres mortais a se juntarem a aquele paraíso na terra. É... Era o local perfeito para se pensar, uma vez que não via motivos para as pessoas esquecerem de aproveitar o sol e a água fresca para prestar a atenção nela.
“Idiota”, recriminava-se. Estava sentindo terrivelmente a falta de Carlinhos. Era como se o ar lhe faltasse cada vez que o imaginava só. Certamente ele devia estar com raiva dela. No mínimo, magoado por ter posto toda a culpa nele, sem se perguntar que papel ela mesma tinha naquela história toda.
Perdida, achando que talvez Carlinhos pensasse que as diferenças entre eles eram tão grandes que ele sequer conseguia encará-las de frente, não tinha lhe passado pela cabeça que devia ter sido mais aberta e direta também.
“Eu vou perdê-lo”. Este pensamento saía de sua cabeça, torturando-a.
A inquietação mental se refletiu em seu corpo, e ela se remexeu, acomodando-se melhor. Sempre que pensava em Carlinhos, tocava no “Olho-Que-Tudo-Vê” que ele lhe dera de presente de casamento. Oh, Deus, viera para ali justo para não pensar no marido!
Determinada, pegou o medalhão cuidadosamente entre os dedos, deixando-o meio escondido das vistas das demais pessoas, só o suficiente para poder analisar as linhas misteriosas dos nós celtas. Os nós eram uma série de linhas que se cruzavam, caracterizando um animal sagrado para aquele povo. Uma das faces exibia a garça. A outra... O emblema de Ravenclaw.
Não tinha certeza do que esperar. A lógica lhe dizia que não era simplesmente olhando para o objeto que iria descobrir sua origem. Afinal, se as pesquisas que fizera nada resolveram, era mais provável que o mistério não se esclareceria tão fácil. Ainda assim... Aquela sensação de que algo em breve iria acontecer...
Estava tão perdida em seus pensamentos que levou um susto quando um grupo de rapazes passou por ela assobiando e dizendo gracinhas. Fora pega de surpresa, e havia algo de humilhante em se assustar por tão pouco. Assim, dirigiu um olhar carrancudo para os rapazes, considerando seriamente a possibilidade de lançar-lhes uma azaração.
Voltou o olhar para o objeto que estava segurando e... Oh-ou! Não estava mais o segurando!
Com a expressão perplexa, Ana foi voltando o rosto lentamente em direção ao rio. “Oh, Senhor, não permita que...” (é incrível como passamos a ser pessoas religiosas em ocasiões como esta). Lívida, mil idéias sobre como não era nada bom perder um objeto de propriedade do Ministério da Magia em um local de grande circulação de trouxas.
Não ouvira o barulho do objeto caindo na água, mas ele só poderia... Ó, Mérlin! Além de idiota, agora era azarada também?
Após procurar durante algum tempo, finalmente achou-o meio escondido entre as pedras e a areia do rio. Aliviada, pegou entre os dedos e o observou: “Você caiu ou foi parar ali por vontade própria, heim?”. Era um mistério. “Como o futuro do meu casamento”, pensou, com ironia. Mais uma vez, levou a mão ao pingente em seu pescoço, desejando ardentemente que não houvesse mais segredos.
Em um lampejo, toda a paisagem da cachoeira se apagou. Tudo ficou branco diante de seus olhos, para em seguida uma imagem ir se formando, pouco a pouco...
“Uma jovem morena dava as costas à outra mulher, tendo uma imensidão em água à sua frente. Havia névoa por todos os lados, fechada e densa como uma muralha diáfana e branca”.
Ana abriu os olhos, assustada. A mão direita segurando o medalhão, a esquerda, o “Olho-Que-Tudo-Vê”. Mas, de alguma forma, “sabia” que a visão tinha haver com o medalhão. Será que “o olho” era uma espécie de catalisador? Aquela sensação de angústia e de impotência ao mesmo tempo... De onde vinha?
“OH!”. Uma possibilidade a deixou perplexa. Talvez... Talvez a moça fosse Rowena Ravenclaw!
O medalhão estaria lhe revelando algo? Ana sabia que tinha esgotado a sua quota com objetos enfeitiçados que continham segredos, mas... Tinha que buscar imediatamente mais informações, tinha que contar a Quim, tinha que falar com Remo...
O som de um trovão ressoou pelos céus. Tinha era que ir para casa...
Olhando para cima, percebeu a aproximação de nuvens ameaçadoramente negras, e resolveu que teria que ir embora naquele momento se quisesse chegar em casa antes do temporal.
***
Chovia torrencialmente quando conseguiu chegar em casa. No verão, só costumava escurecer mesmo lá pelas oito da noite (com o horário diferenciado e tudo), mas a tempestade fez a cidade mergulhar no breu já às seis.
Saiu do carro correndo, na vã tentativa de não deixar que as gotas gélidas da chuva a molhassem muito. Assim, que abriu a porta, encontrou o caos dentro de casa.
- Bruninho está com uma febre que não baixa – anunciou Mônica, a esposa de Edu, referindo-se ao filho de três anos. A jovem mãe dizia tudo quase sem respirar, aflita. - Vamos levá-lo ao hospital. Pode ficar com a Paulinha?
A mulher nem acabou de fazer a pergunta e já foi passando a nenê de sete meses para o colo de Ana.
- E onde estão...?
- O pai e a mãe foram na casa de uns amigos que estão fazendo bodas de prata – Edu respondeu sem dar muita atenção ao que estava fazendo, falando rápido ao mesmo tempo que pegava as chaves do carro e entregava a bolsa com a mamadeira e demais itens para Ana – O pessoal da Déa foi jantar na casa da Tícia; e o Nando e o Chuca foram sei lá onde...
- E cadê o...? – Ela olhou em volta, procurando alguém que deveria ter mais ou menos a metade da altura deles.
- O Renato está com a Tícia – Mônica esclareceu o paradeiro do filho mais velho. Ela se dirigiu ao bebê: - Mamãe vai ter que cuidar do dodói do maninho, mas já volta, tá meu bem? – Em seguida olhou para Ana – Está na hora do banho dela, você faz isso? Obrigada.
Segundos mais tarde, Ana estava sozinha em casa com a sobrinha, imaginando se algum dia as pessoas de sua família iriam dar-lhe tempo e chance para negar um pedido...
- E é isso que acontece nas famílias grandes - falou para a menina, irônica - Todo mundo está por perto quando se quer ficar sozinha. Mas é só surgirem os problemas que, de repente, não tem ninguém em casa!
Quarenta minutos mais tarde, Ana não sabia quem tinha dado banho em quem. Descobrira que Paula a-do-ra-va água. A menininha esparramara o conteúdo da banheirinha de plástico por todos os lados... inclusive na tia. Para completar, ela começara a chorar tão logo Ana dera o banho por encerrado e a tirou da água.
- Ora, vamos... – Ana argumentou suavemente com a criança – Eu fui boazinha com você... – ela envolveu a menina em uma toalha felpuda – Poderia ter usado um “Petrificus totalus”, ou um “Estupore”, mas não fiz...
O argumento não pareceu convencer a sobrinha, que ainda vertia lágrimas, os dedinhos apontando implorantes para a banheira. Ana levou-a até o quarto, depositando o bebê sob a cama enquanto a enxugava:
- Ah, sim, pode chorar – apesar das palavras de ordem, a voz era terna – Pobre garotinha, nas mãos da “bruxa” da tia... – fez um monte de cócegas na barriguinha dela.
A menina deu uma risadinha misturada com uns últimos suspiros do choro, e apontou para Ana:
- Bú!
- Isso mesmo, querida – Ela sorriu para a menina, começando a vesti-la – “Bruxa”. Consegue dizer? – Abriu ainda mais o sorriso – Só não vai espalhar isso por aí, viu?
Alguns minutos depois, com a neném já vestida e cheirosa, Ana foi com ela até a cozinha. Paula estava sonolenta e não queria que ela dormisse antes de mamar, de forma que deixou para trocar as suas roupas molhadas depois.
Olhou para panela com água sob o fogão, onde a mamadeira estava mergulhada. Depois, considerou como iria manter a menina acordada enquanto o leite esquentasse. Com uma rápida espiada para o microondas, suspirou:
- Esse será nosso segredo, ok? Sua mãe me come viva se souber que te dei algo esquentado ali. – Mônica tinha dado ouvidos às idéias “naturalistas” de Andréa quanto a prejudicialidade de alimentos submetidos às microondas.
O leite já estava devidamente depositado dentro do eletrodoméstico quando a campainha soou. “Oh, droga. Fui pega com a mão na massa!”. Tirou rapidamente a “prova do crime” lá de dentro que, para sua sorte, ainda estava frio.
Foi abrir a porta, certa que só poderia ser os tios ou os primos. Com aquela tempestade lá fora, quem mais iria se arriscar a sair de casa? O vento soprava furiosamente, fazendo as copas das árvores balançarem, enquanto a chuva pesada caía forte sobre o telhado.
Quando viu a figura alta que aguardava do outro lado do batente, ficou estática.
- Carlinhos?!?
Ana recuou alguns passos, e ele entrou, sem desviar o olhar do dela. Estava molhado da cabeça aos pés, a roupa colada ao corpo, mas parecia não ligar.
- Diga alguma coisa... – Carlinhos sussurrou, depois de alguns segundos.
Ela sentia a garganta seca e, ainda sem palavras, deixou o olhar percorrê-lo de cima a baixo, vendo a água gotejando do rosto masculino, braços, peito... Finalmente fixou o olhar no chão e disse a primeira coisa que lhe veio à cabeça:
- Você está destruindo o carpete de tia Bianca...
Aquilo estava longe de ser o que realmente se ocupava a mente de Ana no momento, mas pelo menos serviu para tirá-los da paralisia que os acometera desde que ela abrira aquela porta. Ela fechou a porta e Carlinhos sacudiu a cabeça, também sentindo que a “mágica” tinha se quebrado. Tendo levado as palavras de Ana a sério ou não, pareceu entender que era uma boa idéia lançar sobre si mesmo um feitiço de secagem.
- Bú! – o bebê suspirou no colo da tia, encantada com o “truque” que vira e apontou para Carlinhos.
- É sim, querida... – Ana respondeu, parecendo contrariada com a displicência com que ele fazia feitiços em uma residência trouxa – É um bruxo.
Se Calinhos sentiu a desaprovação na voz dela, ele fingiu que não percebeu. Simplesmente retribuiu o mesmo olhar especulativo e detalhado que ela lhe lançara momentos antes e comentou:
- Você está tremendo.
“Não de frio”, teve vontade de falar. Ao invés disso, simplesmente disse:
- É... A mocinha aqui me incluiu em sua brincadeira com a água durante o banho dela.
- Essa é a filhinha do Edu? – Ele perguntou enquanto sorria para a menina, encantado. Quando ela confirmou, voltou a questionar: - Onde está todo mundo?
Ana contou a história de sua família “debandada”, terminando com os pais do bebê tendo que sair às pressas com o outro filho doente. Era muito estranho ficarem conversando assim, como se nada tivesse acontecido, e, ao mesmo tempo, estarem tão tensos que era evidente que algo TINHA acontecido.
- Eu cuido dela enquanto você vai se trocar – Ele se ofereceu sorrindo para o bebê, enquanto estendia os braços para pegar a menina.
Ana ia dizer que não. Mas a criança simplesmente se jogou nos braços ruivo, mudando de colo alegremente. “Traidora”, pensou, desgostosa.
- Eu preciso dar a mamadeira...
- Eu faço isso. – Ele respondeu, firme.
- Mas...
- Ana, vá. – Disse em tom persuasivo. - Acredite, eu gostaria de começar a falar imediatamente tudo o que venho ensaiando nos últimos dias para te dizer. Mas não fazia parte da minha imaginação você estar toda molhada e tremendo... – ele abriu um pequeno sorriso malicioso - Não que eu esteja reclamando da visão...
Aquilo foi suficiente para fazê-la enrubescer e seu coração saltar. Sim, tinha que trocar de roupa!
- Ãaaaa... – clareou a garganta – Vou esquentar o leite. – Caminhou até a cozinha, fazendo um sinal para que ele a seguisse. Parou na frente do microondas e colocou o recipiente de volta, fechando o compartimento do aparelho. – Quando o micr... Digo, quando esta máquina apitar, você aperta aqui – indicou o dispositivo para abrir a porta do microondas – e pode tirar o leite... Cuidado, vai estar quente - avisou.
Ele ficou calado observando-a se mover na cozinha, demonstrando familiaridade com os objetos e máquinas que a guarneciam. E compreendeu subitamente, que Ana tinha feito um grande esforço para conseguir transitar no mundo bruxo, para cruzar as distâncias entre eles. E ele? O que fez para aprender sobre o mundo no qual ela tinha sido criada, do qual faziam parte os membros da família dela? Mas isso ia mudar, decidiu. Estava na hora de fazer algo por Ana.
Ela já estava saindo, mas parou e voltando-se, disse:
- Não se esqueça de testar a temperatura da mamadeira antes de...
Carlinhos fez um sinal afirmativo, e ela continuou a andar, para em seguida parar de novo:
- E de dar uns tapinhas nas costas dela para...
- Certo. – Os cantos dos lábios dele tremeram, em sinal que ele estava começando a se divertir com a hesitação dela.
- Mas não a movimente muito depois porque ela pode...
- Ana – A risada baixa dele foi ouvida depois da pronúncia do nome – Eu nasci um Weasley, lembra? O que significa conviver com muitas crianças o tempo todo. Acredite, eu sei o que fazer.
Ela concordou com um sorriso meio encabulado. É claro que ele sabia o que fazer, ela mesma o tinha visto com os sobrinhos um milhão de vezes. Era um pouco impressionante ver um homem daquele tamanhão com um bebê no colo, só isso... E estava adorando observar.
Foi trocar-se de uma vez. Quando voltou, dez minutos depois, deparou-se com Carlinhos andando de calmamente de um lado para o outro na sala, o bebê adormecido na posição vertical, com a cabecinha apoiada no ombro dele. A menina devia ter adormecido enquanto o leite esquentava. Realmente, Ana concordava que era um lugar perfeito para se deixar estar... e adormecer...
Sacudiu a cabeça, afastando os pensamentos perigosos. Precisava manter-se concentrada no assunto que tinham que discutir.
- Carlinhos... – Sussurrou para não acordar o bebê.
Ele voltou-se lentamente para ela, a expressão tão serena que... Oh, não era perfeito, mas... Tinha que admitir que o marido chegava bem perto disso. E não era só a beleza externa. Carlinhos era cabeça dura e mandão, sim, mas... Quando ele sorria desse jeito, como um menino... Ela tinha certeza de poder ver a alma dele, e ela brilhava lindamente. Nestes momentos, o tempo parava e Ana sabia... Sabia que só era completa com aquele homem.
Devolveu o sorriso do mesmo modo sereno. Aproximou-se e, tomado a menina dos braços dele, depositou-a com todo o cuidado em um sofá próximo. Depois se voltou para o marido e, ainda sem falar uma palavra, elevou os braços até os ombros dele, cruzando os dedos da mão atrás de seu pescoço.
O beijo foi suave, surpreendentemente sem pressa.
- Eu fui um idiota... – Ele sussurrou.
- É exatamente o que eu estava pensando... – se interrompeu quando ele começou a rir – Não... A meu respeito! – Ela ficou vermelha – Ah, você entendeu!
- Você não foi idiota – Ele contestou gentilmente – Foi a primeira ver as coisas como elas eram. E me dizer o que eu precisava ouvir.
Ana balançou a cabeça negativamente:
- Devia ter dito antes. – Ela fez uma careta – E ainda por cima fiquei acusando VOCÊ de adiar as coisas... Me desculpe. – Fez uma pausa tensa antes de acrescentar: - Carlinhos... Eu saí da nossa casa, aquele dia, esperando que você descobrisse o que o tinha feito agir daquela forma... Ainda preciso saber, querido.
- Eu sei. – O semblante dele ficou sério. – Vim aqui para te dizer que eu descobri, Ana. Aliás, sempre soube. Só não tinha me dado conta da maneira como isso estava te ferindo.
Ana engoliu em seco, sentindo o suspense da espera. Ele não iria dizer as coisas que estava pensando, não é? O que sempre temera que ele dissesse...
- Existe apenas uma coisa que pode me paralisar desta forma, que me deixa sem ação, a ponto de eu não ser eu mesmo... – segurou o rosto dela entre as mãos – E é o medo que eu sinto de te perder, Ana.
Ela arregalou os olhos, surpresa. Estava confusa, mas ao mesmo tempo sentia um calor gostoso percorrer seu corpo. Foi incrível como, de repente, o mundo parecia um lugar maravilhoso para se viver.
- Eu não queria que nada a magoasse. Que nada a preocupasse a ponto de fazer você desistir de mim. – As mãos dele escorregaram do rosto para os cabelos dela, e ali mergulharam. – Pensava que, se eu pudesse poupá-la ao máximo, o tempo iria dar um jeito de resolver as coisas por si só.
- Então... Você não tinha vergonha de mim? – Ana perguntou – Nem achava que eu era uma “bruxa insuficiente” para enfrentar a Felícia? – Fez uma careta ao pronunciar o nome da loira.
- De onde tirou uma idéia dessas? – Ele se surpreendeu – “Bruxa insuficiente”? Você é uma auror, querida, nunca iria pensar isso. E uma bruxa que enfrentou Voldemort. Cara a cara! (4)
- Bom... – Ana ficou sem jeito – Na realidade, o que eu fiz, naquela ocasião, foi encher o saco do “Voldie”...
Carlinhos teve que segurar a gargalhada para não acordar o bebê.
- Mas você deve achar mesmo que sou feita de papel, Carlinhos. – Acusou-o, um tanto magoada. – Você sempre está tentando me proteger, como se eu não fosse mais velha do que o Sean ou o Kenny. Lembra do Dia das Bruxas? Você não me deixou usar meus poderes de Mestra dos Sonhos... (2) E isso foi depois que eu não consegui voltar daquele maldito teste sozinha... – Ana estava decepcionada consigo mesma – Então, não pode me culpar por achar...
- Ana... – ele a interrompeu – Eu não fiz aquilo porque duvidasse de suas habilidades. Mas porque você estava fraca e... – fechou os olhos, custando-lhe até mesmo dizer o que se passara em voz alta – Nós não conversamos sobre isso depois, mas... Você faz idéia do que o Guardião do Livro usou contra mim naquela noite?
A brasileira ficou sem saber o que dizer por alguns segundos. Fora uma noite terrível, de onde todos os envolvidos saíram abalados. Também pudera: seus maiores desejos ou piores pesadelos tinham se voltado contra eles, usados para impedi-los de abrir o Livro de Fausto. Os piores pesadelos...
- Eu? – A palavra saiu lentamente, quase em um sussurro perplexo.
Ana buscou a resposta no fundo dos olhos dele. A dor refletida neles era confirmação suficiente.
– Oh, meu amor... – ela o abraçou fortemente, a voz embargada e sentindo a visão ficar embaçada por causa das lágrimas. - Sinto muito...
- Eu estava de volta à Batalha dos Dragões, Ana... – as palavras dele tomaram a forma de uma confissão desesperada. – E toda a lembrança do que tinha realmente acontecido foi apagada da minha memória. Eu não sabia que aquilo já tinha passado, que tínhamos vencido... Aqueles demônios me fizeram acreditar que tinha te perdido, Ana! – Carlinhos a apertou ainda mais entre seus braços. – Entende agora porque eu precisava te proteger, especialmente naquele momento, depois que acordamos?
Ana afastou o rosto o suficiente para encará-lo e então fez um gesto afirmativo com a cabeça, a face banhada em lágrimas. Fitaram-se por alguns instantes, em uma conversa silenciosa.
- Também tenho medo de ter perder, Carlinhos. Mas de uma forma diferente. Você entrou na minha vida como um personagem de livro... Um ser assim meio... “invencível”. O irmão do Rony que tratava de DRAGÕES! – Ela exibiu um pequeno sorriso estupefato, realçando a idéia – Sabe o efeito que a imagem dos seus “queridos bichinhos” faz em alguém trouxa? É uma coisa... Impressionante!
Ele riu, mas teve que parar imediatamente por causa do bebê, e Ana recomeçou:
- Eu preciso me sentir... A palavra não é exatamente “importante”, mas... A sua altura. – Ele fez menção de protestar, mas ela não deixou: - É isso mesmo, a sua altura. No sentido de ser independente, confiante de mim mesma. Eu quero seu respeito, sua admiração...
- Você já os tem...
- Como bruxa. – Ela sorriu para suavizar a nova interrupção – Não estou reclamando de seus cuidados, acredite. Agora que eu sei o porquê... – Suspirou, aliviada por finalmente entender as motivações do marido. – Eu só queria que compreendesse as minhas ações também. O porquê que tratei de “me aprimorar” em vez de ter uma conversa aberta e franca, como combinamos naquela noite do jantar que o senhor Althorp ofereceu.
- Ana... – Os olhos dele brilharam quando pegou uma mecha dos cabelos dela entre os dedos – Você não precisa fazer esse caminho sozinha, querida. Se nós dois começarmos a caminhar na direção um do outro agora, nos encontraremos mais rápido, no meio do caminho.
- O que quer dizer?
- Que eu também tenho que fazer minha parte e aprender mais sobre como um trouxa vive.
- Mas, você não precisa...
- Preciso. Eu quero. – Ele sorriu. – É parte do que você é e... Eu quero amar cada mínimo detalhe de você. Como posso amar, sem conhecer?
“Hum... Filosoficamente correto”, pensou Ana, bem-humorada.
Antes que Ana pudesse dizer qualquer coisa, a casa mergulhou na escuridão. Sentiu que Carlinhos puxava sua varinha, alerta. Certamente aqueles não eram tempos para se arriscar com Comensais soltos e sendo ajudados por demônios... Mas uma rápida olhada pela janela a informou que o quarteirão todo estava às escuras. Não demorou a chegar a uma conclusão:
- Ah, que maravilha! – Exclamou impaciente. - Temos a maior empresa fornecedora de energia elétrica da América Latina, e ela não consegue evitar apagões! Eu realmente gostaria...
Ana sentiu que era puxada para dentro do círculo de braços fortes, e em seguida ouviu o riso baixo do marido em seu ouvido:
- Pessoalmente, eu acho melhor assim...
Sim! Foram de fato argumentos muito convincentes, os do marido. Como sempre. Beijaram-se apaixonadamente, como gostariam de ter feito desde o primeiro instante.
Nem sequer notaram que Nando e Chuca tinham voltado, e que inclusive já tinham entrado na casa. A luz voltou justo quando eles estavam chegando a sala.
- Hei! Que agarração é essa na frente da minha sobrinha? – Nando brincou, passando por cima do fato de que a menina não estava vendo nada na frente dela, pois estava sonhando com os anjinhos naquele momento.
- Charlie, meu chapa, você não morre tão cedo! – Disse Chuca. – Nós estávamos justamente imaginando como é que a gente ia te chamar... Ai, caramba! – Ele exclamou quando “acidentalmente” Nando pisou em seu pé.
***
Era 31 de dezembro. Em algumas horas, seria Ano-Novo. Eles se vestiriam com uma das cores clássicas – branco para os desejos de paz; vermelho, para paixão; amarelo, para dinheiro, etc. Caminhariam pela praia, pulariam as sete ondas, brindariam, assistiram aos fogos... Enfim, tudo como manda a tradição.
Menos as lentilhas...
Nando, que havia ficado responsável por comprar os itens faltantes, esqueceu de comprá-las. E àquela hora, quando descobriram pela falta delas, já estava tudo fechado. “Da cerveja você lembrou, né?”, Patrícia dissera, torcendo o nariz desaprovadoramente. “Ora, lentilhas são dispensáveis... Cerveja, não”, ele respondera.
Agora, mantinha-se sabiamente afastado da mãe e da irmã mais velha, com medo de levar mais alfinetadas das duas. A família de Ana adorava pegar no pé de seu membro “musical”.
- Tio Nando anda desligado, sabe? – Mel comentou com Ana. – Ouvi a mamãe dizer que aquela moça que aparece nos shows dele... Ele ainda não sabe quem é.
- Verdade? Ele ainda está pensando nela? – Ana sorriu, divertida. – Deus, então o negócio é sério. Será que o Nando será o próximo a casar?
- Só se for com um fantasma... – Lipe disse, franzindo o cenho. – Eu fui em um dos shows do tio Nando. O tio Chuca me apontou ela em um dos intervalos... Fiquei de olho nela o tempo todo, mas... “Puf!” Ela sumiu... Ei! E se ela tiver uma capa de invisibilidade?
O pai do menino, Marcos, olhou para dentro da casa, para ver se os outros não tinham escutado a criança. Naquele momento, estavam no quintal em que se montava a grande mesa de madeira para os eventos que reuniam a família toda. Estavam somente Ana, Carlinhos, Patrícia, Marcos, Agatha, Moody, Bianca, Antônio, Mel e Lipe. Portanto, os que sabiam do mundo mágico.
- Existem muito poucas... – Respondeu Mel, com um ar que não negava que era uma corvinal. – É mais provável que seja uma bruxa...
- Ah, agora tudo para vocês são bruxos! – Resmungou Antônio.
- O fato é que a mulher continua um mistério... – disse Patrícia. – E ficamos sem lentilhas esse ano por causa dela... – Suspirou, desolada.
Moody, que acompanhava a conversa graças a um já autorizado feitiço de tradução trabalhando sobre ele, perguntou:
- Mas o que tem de tão importante nas tais das “lentilhas”, afinal?
- Há um mito de que atirá-las por sobre os ombros na virada do ano traz sorte. – Respondeu Agatha.
Marcos, que entendeu a pergunta porque falava inglês, acrescentou:
- Mas restam outras “tradições de sorte” para realizarmos esta noite, felizmente. – Disse com bom-humor.
- Não entendo de tradições brasileiras... Mas tomar uma poção Felix Felicis... Isso sim, traria sorte! – Brincou Carlinhos, em tom sussurrado para as crianças, que riram.
Então, Lipe lançou um olhar implorante para Ana:
- Tia, vocês não poderiam... Sabe... – Fez um movimento de pulso, como se estivesse girando uma varinha.
- Não, não podemos, Lipe. – Ana respondeu pacientemente para o sobrinho.
- Eu já expliquei isso para ele umas mil vezes, tia. – Mel informou enquanto censurava o irmão com o olhar. – Mas parece que não entra na cabeça dele!
E, realmente, não poderiam. Era uma área residencial trouxa. O Ministério da Magia do Brasil era menos rígido do que o da Grã-Bretanha, uma vez que os brasileiros não ficavam tão ouriçados com manifestações de magia quando os ingleses. Mas excessos certamente iriam ser policiados. Não iria fazer um feitiço só para aparecerem lentilhas...
- Acho bom mesmo. – Bianca comentou. – Os tacanhos ficam muito acomodados por causa desse... – Imitou o movimento de pulso que o neto fizera antes.
Agatha vez um muxoxo desgostoso, enquanto Moody fazia um esgar divertido. Tio Antônio suspirou audivelmente encolheu os ombros para o ex-Auror, como que a dizer: “Fazer o quê?”.
- Tia... – Ana finalmente viu a oportunidade para perguntar. – Que negócio é esse de “tacanhos”?
Carlinhos acompanhava a conversa interessado, já que estava entendendo menos ainda do que a esposa.
- Bem... – Bianca fez um trejeito sem-graça pela primeira vez desde que começara a usara aquela palavra. Mas logo se empertigou e respondeu, muito dignamente: - Ora, eu vivo escutando Agatha nos chamar de “trouxas”. Sei que é um termo que se popularizou entre vocês... – sussurrou a próxima palavra, para ninguém mais ouvir - ...“bruxos”. Mas, ainda assim, é um nome ofensivo. Desta forma, estou oficialmente criando um apelido para as pessoas em questão, ou seja: “tacanhos”.
Nenhum dos bruxos ali presentes se sentiu pessoalmente ofendido. E a tia tinha ciência de que ninguém – a não ser Agatha – ira pensar tal coisa. Todos sabiam que a atitude era mais um capítulo da famosa implicância mútua entre Bianca e Agatha. Bianca tivera conhecimento que, por uma questão de “cultura bruxa”, a inglesa poderia chamá-la de “trouxa” sem problema algum. Só estava tentando recuperar um pouco do orgulho ferido.
- Mas, tia... – Ana tentou argumentar, enquanto Agatha esforçava-se visivelmente para manter-se calada. Era óbvio que ela e Bianca já tinham discutido sobre isso. – Por que logo “tacanho”?
- Simples: porque são pessoas que sempre utilizam magia para resolver seus problemas. Ou seja, o meio mais fácil. Não precisam trabalhar arduamente, remover cada obstáculo a sua frente usando somente inteligência e criatividade. Ser persistente e paciente. Não se desenvolvem. Em resumo... viram “tacanhos”.
Havia algumas falhas no argumento da tia, mas Ana tinha que admitir que ela não estava completamente desprovida de razão.
- Bianca... – Agatha disse entre os dentes, mantendo bravamente a postura de uma dama inglesa. - Um trouxa também não está sendo exatamente “gentil” quando chama alguém de “bruxa”...
- Não é suficiente como revide – Declarou Bianca, dando de ombros. – Mas não se preocupe. Agora nos considero “quites”. – Ela pegou uma bandeja que estava sobre a mesa de armar. – Claro que isso não se aplica a você, Charlie. – Sorriu para o ruivo. – Nem para vocês, queridinhas. – Se dirigiu a Ana e a Mel, excluindo claramente Agatha e Moody, não sem antes lançar um olhar de desculpas para o ex-Auror. Certamente o deixara de fora porque acreditava que ele iria querer ser solidário à esposa. Então, Bianca retirou-se estrategicamente para a cozinha, levando a bandeja que pegara.
Tia Bianca não era uma pessoa má ou ciumenta. Só quando se referia a disputar a atenção, amor e admiração de Ana. E o mesmo dizia respeito à Agatha. Na verdade, Ana costumava compará-las com crianças pirracentas. Mas, era só as duas terem qualquer preocupação com relação à sobrinha para deixarem as diferenças de lado e se punham a discutir sobre o bem-estar de Ana.
Um dia, ela desconfiava, iam acordar e se darem conta que eram mais parecidas do que imaginavam.
- Como diria minha mineiríssima amiga Regina – falou Ana - “se a moda pega...”.
- Hum... – Mel falou em voz alta, mas parecendo pensar consigo mesma. – “Tacanho”. É um bom apelido para um certo garoto convencido que eu conheço...
- Eh, nem vem! – Lipe reclamou, defensivo.
- Lamento se o chapéu serviu, mas eu estava falando de outro guri convencido. – A menina sorriu, deliciada por per pego o irmão sem nem mesmo ter feito esforço. – Um que atende pelo nome de Hector Lupin...
- Não! – Lipe interrompeu, parecendo que ela tinha acabado de falar sobre um herói. – Tem algo haver com o Prof. Lupin?
Para as crianças trouxas de todo o mundo, Remo Lupin seria eternamente “Professor”.
- Filho dele. – Mel respondeu a contragosto, por causa do entusiasmo do irmão.
- Do que é que você está reclamando, guria? – Lipe questionou. – Você estuda com o filho do Remo Lupin! Que sortuda!
- É porque você não conhece o Hector como eu conheço... – Resmungou. – Ele se acha o “último dos marotos”. Vive aprontando...
- Não precisa dizer mais nada. Já virei fã. – Declarou Lipe.
Mel bufou:
- Era só o que me faltava!
Ana e Carlinhos se olharam, divertidos. Pelo que Tonks e Lupin contavam, Hector havia batido todos os recordes de travessuras dos últimos anos, em Hogwarts. E Ana acreditava que o marido contribuíra com sua cota para as idéias do jovem grifinório ao contar para o menino umas histórias do que a Tonks aprontava em seus tempos de colégio.
Era disso que estavam precisando: alegria, descontração. Seria muito bom terem aquele tempo longe de Comensais, demônios, Livros de... “Ah, meu Deus!”, pensou Ana. “Quem precisa de um “obliviate” com uma cabeça como a minha? O MEDALHÃO! Preciso contar isso para alguém o mais rápido possível!”.
- Vamos para um lugar sossegado. – Sussurrou no ouvido do marido. – Não é o que está pensando! – Ela se apressou a explicar, meio divertida, quando viu o sorriso malicioso dele. – Preciso te contar umas coisas...
***
O grupo que antes estava na casa dos tios de Ana tinha tomado conta de um trecho da praia de areias brancas. A beira-mar, geralmente vazia àquela hora da noite, estava repleta com um mar de pessoas vestidas de branco, com um vermelho ou um amarelo aparecendo aqui e ali.
Três horas antes da virada do ano, Antônio já estava apressando a todos para pegar a estrada. Embora o mar estivesse à meia hora de distância, a população se punha em verdadeira “marcha” para as praias neste dia, como acontecia em todo o litoral brasileiro. Não tinha coisa mais sem-graça do que se comemorar a chegada do Ano Novo preso em um engarrafamento quilométrico.
- Por que não me contou sobre esse medalhão antes? – Carlinhos perguntou. Eles haviam se distanciado um pouco dos outros, enquanto caminhavam.
- Eu não tinha certeza de nada. O achei por acaso... Não tem nenhuma ligação direta com o Mito de Arádia, a não ser por Rowena também ter sido uma sétima filha; ou com o Livro de Fausto. Tinha tudo para não ter nada demais.
- Ana, você, mais do que ninguém, devia saber que dificilmente um objeto bruxo “não tem nada demais”.
Ela fez uma careta. O pior era que Carlinhos tinha razão.
- Eu contei para alguém. – Defendeu-se. – Contei para o Rony.
- Ora, o... – interrompeu-se. – Tudo bem. Admito que o Rony não é mais criança, e que é um dos melhores Aurores que eu conheço... – Sorriu para ela. – Se contar para ele que eu disse isso, vou negar até a morte. - Ana riu e ele continuou. - Mas ele e o Harry já estão bastante ocupados com o que a Mione, o Lupin e o Snape estão descobrindo.
Tinha que concordar com ele novamente. Aqueles rituais... O estômago dela se revolvia só de pensar neles, de uma forma que não acontecia nem nas suas antigas aulas de Medicina Legal, quando o professor passava todos aqueles slides do IML.
- Devia ter contado para o Quim, eu sei. – Suspirou, admitindo. – Mas é que... Bem... Eu tinha desobedecido a uma ordem clara sobre a divisão das tarefas. As pesquisas eram área da Mione e da Gina. Só queria ter certeza de poder provar que, pelo menos, minha mania de meter o nariz onde não sou chamada tinha trazido bons resultados! E depois foi tanta coisa acontecendo... Eu quase esqueci.
Carlinhos riu e puxou a esposa para perto de si. Afagou o rosto preocupado dela:
- Quem sabe não achou mais uma arma contra os Comensais? – Animou-a.
- Tomara. – Ana desejou isso ardentemente. – E... Acho que seu presente teve algo a ver com isso também. – Mostrou o Olho-Que-Tudo-Vê.
Ele pensou durante alguns segundos, lembrando-se do que Ana havia contado sobre como tivera a visão, enquanto segurava os dois objetos.
- Comprei pensando no seu dom de Mestra dos Sonhos. De certa forma, os antigos sacerdotes egípcios os usavam para encantamentos de natureza próxima a este poder. Mas, pelo que me descreveu, não parece ter sido um sonho...
- Não. – Concordou. – Eu estava bem acordada, e não havia ninguém dormindo, ou inconsciente. Era uma imagem do passado mesmo.
- Vamos descobrir, não se preocupe. – Ele a tranqüilizou. – Juntos.
Os fogos de artifícios estavam sendo lançados a intervalos cada vez mais curtos. A meia-noite se aproximava. Eles ficaram abraçados, apenas sentindo a proximidade um do outro, perdidos nos próprios pensamentos. Temiam que o alvo dos Comensais fosse Gina e os bebês. (2) Harry já tinha sofrido tanto na vida... E aqueles malditos estavam ameaçando uma família que apenas estava começando...
Ana lembrou de Sarah, e se perguntou se ela estava sentindo falta do Reveillon brasileiro. Sinceramente, esperava que tudo estivesse dando certo entre ela e Snape. Afinal, iriam formar uma família. (5) Quando a ligação dela com o antigo professor de Poções viesse a público, Sarah sentiria também um pouco do preconceito e desconfiança que o próprio Snape sentia das pessoas. Não seria fácil.
Snape era um ex-comensal tentando recomeçar sua vida. Ana acreditava nisso. Queria acreditar. Costumava pensar que todos tinham direito a uma segunda chance. Até mesmo Draco Malfoy. Pensar no ex-sonserino a lembrou de Gerard Griffin, seu colega Auror que fora assassinado... No dia em que estava vigiando Draco. Na noite de Natal, que horror! E ela se divertindo enquanto... Ninguém merecia morrer daquele jeito, muito menos Gerard. Os olhos de Ana se encheram de lágrimas, que ela tratou de reter imediatamente. Ela também queria acreditar em Draco... Mas depois de tudo, estava sendo cada vez mais difícil ser uma “lufa-lufa salvacionista” como diria Severo.
Nunca se esqueceria de Gerard, sempre sorridente, com os cabelos compridos presos em um rabo de cavalo. Ele sempre usava vermelho – costume que lhe rendia muitas piadas dos colegas. Mas foi justamente esse detalhe que a fizera se lembrar do Auror que Harry Potter teria visto, no quinto ano, quando fora chamado ao Ministério. E agora, estava morto...
- Então, qual vai ser sua promessa de fim de ano? – Ana perguntou, obrigando-se a falar de assuntos mais alegres.
- Promessa? Que história é essa?
- Outra tradição trouxa. – Explicou. – Você escolhe algo que deseja muito fazer no próximo ano e promete fazer.
- Ah, bom. – Sorriu, cúmplice. – Vou tentar aprender a ser o maior Trouxa que você já conheceu.
Ana riu pela dupla interpretação da frase, e declarou:
- E eu vou desenvolver ao máximo o meu lado Tacanho.
Promessas feitas, e notando que as pessoas começavam a fazer a contagem regressiva, Carlinhos passou o braço em torno da cintura da esposa e questionou:
- Pronta para outra tradição?
- Prontíssima! – Ela disse, entusiasmada.
O beijo da virada do ano. Em todo o mundo, sendo Trouxa ou Tacanho, era o melhor do Ano Novo.
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Notas
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(1) Anna (Go With Him), The Beatles. “Anna… Garota, antes que você se vá... Eu quero que saiba, agora... Que eu ainda te amo muito... Mas se ele te ama mais, vá com ele... Vá com ele...”.
(2) Harry Potter e o Retorno das Trevas, da Sally Owens.
(3) Este trecho foi um presente da Regina McGonagall. E, sim... É mais do que parece... (Hihihi).
(4) Harry Potter e o Segredo de Sonserina.
(5) O Paciente Inglês, da Regina McGonagall.
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(N/A): *Deu branco* Não sei o que dizer. Acho que a fonte de idéias se esgotaram. Tudo be, sem pânico... Vamos começar com algo básico, nada de muito elaborado, er...
Certo.
Teve uma parte que foi a Regina McGonagall que escreveu. OK, vcs já sabiam disso. Er... E a Sally bethou! Certo, certo... Vcs já sabiam disso também.
Vamos ver... A Ana e o Carlinhos se reconciliaram! Ops... Estas notas estão indo de mal a pior...
OK: Quero ver se alguém acerta sobre o que poderia ser o Segredo de Corvinal. Ah, gente, eu dei uma BAITA dica lá em cima, heim? (Oba, acho que o “tico-e-teco” acordaram. To conseguindo escrever algo que faz sentido).
E, acho que a Ana e o Carlinhos se fizeram entender, não? Ninguém disse que seria fácil os dois viverem juntos, mas com um esforcinho a coisa pode dar certo.
O elemento de tensão da trama é mérito total da Sally Owens e os seus demônios, e livros centenários... Confiram a trama! Está cada vez mais sensacional.
Harry e Gina... Eles não são lindinhos, gente?
Os Novos Marotos ficaram meio de lado neste capítulo, mas... Não se preocupem, eles estarão de volta logo-logo!
Quero que saibam que eu estou guardando três grandes surpresas para vocês. Duas, são sobre dois novos casais. Um deles, vocês nem imaginam (a Sally e a Regina é que ficam confabulando comigo no MSN, daí saem estas “armações”, hehehe). E a outra... Bem, esta novidade vocês vão saber logo.
Finalmente.... VINGANÇA DOS TROUXAS! *Belzinha abrindo campanha: “Chamem os bruxos de Tacanhos!”.
Hahahahaha!
Devo dividir o mérito da idéia com a Drusilla_Juli. Mas um bate-papo pelo MSN, meses atrás, que rendeu boas idéias.
E, mais uma coisinha: Que menina estranha era aquela? Figurinha fora do normal, heim? Será que o Carlinhos vai contar para a Ana de seu... "Sonho"?
Vamos aos comentários individuais:
Andressa: Ta aí o que aconteceu com o nosso “casal maravilhoso”, hehehe. Se eu deixasse eles separados por mais tempo, o pessoal iria querer o meu couro!
Kika: *Respirando profundamente também*. Se você pudesse ver o meu sorrisão com o seu comentário quilométrico! Posso confessar uma coisa? A parte do Sean e do Ken também é a minha favorita. É o tipo de cena que dá para visualizar o que vão ser estes pestinhas no futuro, não é? Quanto aos suéteres da sra. Weasley... É claro que não é só a rainha que quer... Mas nem ela escapa de ser fã! Hehehe! Sim, o Alan é muito “fofy”. Um mini-cavalheiro. Ah... Você já lei “O Paciente Inglês”, da Regina? Vai lá, vale a pena. Hahahahaha! Adoro os ataques que vocês fazem contra a Felícia! Espero que tenha gostado do capítulo.
Sally Owens: Ah, tinha que ter um momento “love” do Harry e da Gina, né? Respeito os fãs de outros shippers, mas... “Harry e Gina Para Sempre!”. Hihihihi! Caramba, eu acho que criei uma personagem tipo “Top-10 Mais Odiadas”... A Felícia que se cuide, heim? Hihihihi! Sim, os homens são meio tapados às vezes... Ou melhor: sempre! Hahhahaha! Ainda bem que entendeu a situação toda. Mas eles já se acertaram, ainda bem *Belzinha surtou*. Hihiihi. Beijos!
Morgana Black: Eu sabia que vc ia dizer isso! Hehe! Quase consigo te ver torcendo o nariz para o final do capítulo, e dizendo: “Ah, não, Bel, como pode fazer isso com os dois?”. Consolar o ruivo “como amiga”, é? Sei. Acredito. Ainda mais agora, com o James Franco com o “papel” (quem ainda não viu, passa lá no Espaço MSN). Olha, nota que os homens são assim mesmo, ela notou. “Aceitar” isso é outra coisa! Hehehehe! Capítulo “fofolético”? Hahahahahaha! Morgana, em minha opinião, você é a rainha dos termos originais! De nada pela música, espero que tenha gostado.
Bernardo: Que bom que gostou. Ah... Sua pergunta foi auto-respondida por este capítulo, hehehe!
Regina McGonagall: Tem razão... Todo cuidado com spoiler é pouco! Hehehe!
Priscila: Ah, sim.... São todos legumes insensíveis, esses ruivos... Mas eu acho que vc se enganou. A Ana não sentiu cheiro algum. Bem, capítulo postado!
Charlotte Ravenclaw: Sim, fofíssimo! Natal é tuuuuuuuuudo de bom. Ainda mais na Toca. Sean e Ken... Estes vão fazer história. Aposto que era exatamente assim que os gêmeos deviam agir com o Rony quando eles eram menores. Pois é... Homens! Viu? Nem o Zacharias suporta a Felícia! Lembra quando eu “segurei” vocês todas e disse: “Deixa que o que é da Felícia ta guardado”? Pois é... Hehehe! Mérlin! Uma lê sobre enjôos da Ana, outra sobre “cheiros” que ela sente... Não escrevi isso não, gente! Ué... Valeu pelo comentário.
Géia: Também amo o Natal. E agora? Coração mais leve sobre o Carlinhos e a Ana? Aaaaaaaaah. Amei isso: “Só nós, nascidas sob o sexo feminino, conseguimos ter ao mesmo tempo: crise conjugal, crise existencial, crise de identidade e crise de nervos!”. Hahahaha! Muito bom! Beijos!
Grazy DSM: Deixando de lado essa sua campanha maluca... *Belzinha, disfarçando*... Fico feliz que tenha gostado do capítulo. Valeu!
Carolzinha_*: Notei que todas as mulheres disseram que entenderam a Ana. Isso é bom sinal, né? Quer dizer que não viajei na maionese colocando esta questão. “Propriedade única e exclusiva da Ana”? Hahahaha! É bom a gente avisar a Molly Weasley, então, huahahahaha! Ah, eu também sinto vontade de passar o Natal na Toca. Mas, menina, eu não é que eu não acho, de jeito nenhum, a minha chave de portal? Heheheheh! Eu acho que é o cérebro do Snape que está derretendo e não o coração... Hahaha! Maldade! Não resisti. Beijos! E “Blim-Blom no seu coração!”.
Ana Carolina Guimarães: Imagina, sem problemas. Capaz que eu iria ficar chateada com isso, ainda mais se você não está conseguindo acessar a Internet tanto como antes. Isso é “estado de necessidade”. Fica fria. Alías, fiquei ainda mais lisonjeada sabendo que você teve o trabalho de conseguir um tempinho, acessar e comentar. Valeu mesmo!
Bárbara: Oba, comentarista nova! Seja bem vinda! Fico contente que tenha gostado. Teve mais Harry e Gina, como pode ver. “Inté mais”, no Fire. Beijos!
Bruna: Postaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaado! Hhahahaha! Você postou pedindo, ta aí. Abraço, Bruninha.
Espero que não tenha esquecido de ninguém. Beijos, até o próximo capítulo (de agora em diante, eu sempre vou deixar dicas do que vai acontecer lá no Espaço MSN). E... comentem! *De joelhos*.
Inté!
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