Harpias



Há situações que nós idealizamos tanto, que passar por elas pode ser excitante e aterrorizante ao mesmo tempo. Se conseguir se imaginar tendo novamente onze anos, e que está em um trem que o levará para uma lendária escola de magia e bruxaria, entenderá o que Mel estava passando no meio de tantos bruxos. E sozinha.

De fato, os corredores dos vagões do Expresso de Hogwarts são mais movimentados do que se pensa. Nos primeiros vinte ou trinta minutos de viagem, os passageiros se amontoam neles, reencontrando colegas, pondo a conversa em dia, e azarando desafetos (com provocação ou não). Era o lugar das grandes novidades, onde se sabia de primeira mão o que iria ser o assunto de Hogwarts nos próximos meses. No entanto, à medida que a viagem transcorre, a relutância em tomar um lugar em uma das cabines é vencida frente ao fato de que não é nada cômodo passar sete horas de pé.

Bem, Mel não tinha amigos com quem conversar. E tampouco queria fazer inimigos que pudessem ter a infeliz idéia de lançar uma azaração na “caloura tampinha”. Por isso, aquilo mais parecia um mar de pessoas quase intransponível, dificultando a tarefa de achar uma cabine “segura”. Tão logo se acomodasse, poderia observar o máximo de detalhes daquele incrível trem e, quem sabe, dar uma olhada em seus futuros colegas.

Tratou de esgueirar-se entre os grupinhos de alunos sem bater em ninguém. Já estava quase no final daquele vagão quando passou por uma cabine não tão cheia, ocupada por algumas meninas mais ou menos de sua idade. Resolveu entrar.

Mal tinha dado os primeiros passos para dentro, quando todas elas se levantaram, sendo lideradas por uma loirinha pálida. Passaram por Mel e deixaram a cabine sem uma palavra.

A reação rápida e brusca das garotas teve um efeito devastador nas esperanças de Mel. E enquanto fitava o grupo dando-lhe as costas, uma vozinha chata dentro dela mesma repetia sem parar que aquilo tinha sido um sinal da sua tolice em achar que poderia ser diferente em um lugar onde ninguém a conhecia, onde não havia sussurros a respeito da “chata sabichona da Mel”.

Devia estar escrito em sua testa: “Não gostem de mim”.

Parou de respirar, como se assim também as imagens de suas tentativas frustradas de fazer amigos no colégio fossem parar de vir a sua mente.

O quê fizera de errado? Quem sabe, se entendesse, poderia evitar de cometer o mesmo erro no futuro.

Mas, por mais que pensasse, não havia nada. Seria possível que alguém tivesse falado mal dela? Já? A idéia a indignou. Senso de auto-preservação era o que não lhe faltava, e decidiu tirar a história a limpo:

- Hei! Eu sei que sou caloura, mas... Isso não é nenhuma doença contagiosa! – riu simpaticamente, dando a pergunta um tom de brincadeira, mas no fundo estava nervosa, esperando que elas lhe explicassem o motivo de terem saído.

As garotas estavam quase entrando na outra cabine quando a ouviram. Voltaram-se para ela, surpresas, como se só então tivessem se dado conta dela. A loirinha, que parecia ser a “lider” delas a avaliou de cima a baixo. Finalmente, deu de ombros, como se tivesse chegado à conclusão de que ela não merecia a dádiva de uma resposta e entrou na cabine, sendo seguida pelas demais.

Novamente, Mel se perguntou: “O que há de errado comigo?”.

- Não é você que elas estão evitando... – uma voz suave, mas muito baixinha, foi ouvida de algum canto da cabine.

Procurando o dono da voz, deparou-se com uma garota quase engolida por vestes grandes demais para ela, parecendo serem de segunda mão de tão gastas. Os cabelos, lisos e negros como a noite, caíam sobre mais da metade do rosto da garota. Enfim, tudo nela dizia que queria se esconder.

- Era... Elas... Digo, você... – Mel ainda estava surpresa por não ter notado que não estava sozinha ali.

A menina não disse nada, apenas reagiu se encolhendo ainda mais, indicando que esclarecer o assunto a constrangia. Observando as roupas e objetos gastos da outra, e lembrando do ar arrogante do grupo que deixara a cabine, Mel compreendeu o que tinha acontecido.

Sentiu um alívio tomar conta de si ao descobrir que o problema das garotas não era com ela, e que ainda podia sonhar em ser aceita em Hogwarts. A desprezada era a garota, e a situação dela era pior que a sua. Por mais que os antigos colegas rissem a suas costas, jamais a tinham humilhado daquela forma tão hostil e aberta.

“Pimenta nos olhos dos outros é refresco”. A frase dita tantas vezes por sua avó surgiu em sua mente, fazendo-a ter vergonha de si mesma. Aquela garota tinha acabado de sofrer uma injustiça! Como se não ter dinheiro fosse motivo para aquela... Infâmia! Lembrou-se de Rony naquele mesmo trem, quinze anos antes. O que só aumentou o embaraço pelo egoísmo de momentos antes.

Olhou para a porta, dirigindo em pensamento xingamentos horríveis em português ao grupo de garotas. Fez uma anotação mental de colocar a loirinha azeda, com seus cachinhos enjoativamente perfeitos e tudo, em sua lista negra.

Voltando-se novamente para a garota, apresentou-se:

- Sou Mel Warmlling.

- Danna Éowin O´Brian... – a outra respondeu.

Um silêncio constrangedor se seguiu. Nenhuma das duas sabia ao certo o quê dizer ou o quê fazer.

Danna sabia que seria exatamente assim. Vira a menina voltar a cabeça em direção à cabine das outras garotas. Certamente estava pensando em um jeito de ir até lá e se desculpar com elas antes que a associassem com Danna. Devia estar agora mesmo pensando em uma maneira de sair com uma desculpa polida. Ou então, o quê, além da aparência lamentável, ela deveria ter de errado para as garotas terem saído daquela forma. “O´Brian, você disse?”, a loirinha tinha dito com desprezo. “Já ouvi falar. Além de pobres e mestiços, são uns perdedores.”

Devia ter se acostumado com isso. Todos a tratavam mais ou menos assim: com desprezo ou a ignoravam. A tal... Mel (que nome estranho!) não iria ser diferente. E agora estava “prevenida” a respeito de Danna. Mas o quê poderia ter feito? Reconheceu no olhar da garota aquele mesmo medo da rejeição que sentia. Não podia deixá-la continuar pensando que a hostilidade das garotas era com ela.

Pegou o livro que estivera lendo antes da entrada tumultuada das meninas, escondendo-se ainda mais atrás dele. Assim, ignorando-a, esperava tornar a decisão da garota de sair dali mais fácil, sem ter que se preocupar em dizer algo. Também era melhor para ela: não teria que se sacrificar fazendo uma cara de forte e fingir que aquilo não a atingira.

Um suspiro cansado e molas de um assento rangendo com a pressão feita sobre eles. Foi o que ouviu no lugar da porta da cabine abrindo e fechando.

Intrigada, espiou por cima do livro, dando com Mel sentada na sua frente, tranqüila, como se nada tivesse acontecido.

- Bem, tem um “Anhanguera” no meio do meu nome. – a menina desandou a falar. – Mas os gringos, digo, os ingleses, não conseguem pronunciar mesmo, então vai ter que ficar só Mel Warmlling. – pareceu interpretar o silêncio de Danna como um pedido de explicação, e acrescentou: - Sou brasileira.

- Irlandesa... – Danna sussurrou de forma quase inaudível.

Brasileira? Podia jurar que a garota tinha sotaque americano. O que não explicava o quê não-britânicos estavam fazendo em Hogwarts. Mas não se atreveu a perguntar nada com medo que qualquer coisa que dissesse pudesse fazê-la ir embora. Não sabia o que fazer. Nunca alguém que não fosse de sua família tinha demonstrado interesse em conversar com ela antes.

Mel havia notado que o incidente a constrangera. Compreendia isso muito bem. Uma vez, em sua antiga escola, estava caminhando com uma colega (não podia considerá-la sua amiga, apenas alguém com quem costumava fazer os trabalhos em grupo), quando ouviu alguns colegas, do outro lado do muro que separava a quadra descoberta do pátio da escola, rindo e caçoando da “chata da Mel”. Morreu de vergonha da colega, que ouvira tudo também. Correu para o banheiro feminino e chorou até o sinal de fim de recreio tocar. Nunca falou disso com a garota e reagia de forma agressiva cada vez que ela tentava tocar no assunto. Sabia que, embora ela não caçoasse às suas costas, não era sua amiga também. E, se tentava puxar o assunto era a pedido do grupo maledicente, que queria voltar a fazer os trabalhos de escola com Mel. Era sempre assim: os que não ficavam rindo dela, tinham medo de ser seus amigos e se tornarem alvo das mesmas chacotas.

Assim, Mel estava tentando falar sobre assuntos “neutros” com Danna.

Danna, irlandeses... Buscou desesperadamente vencer o constrangimento que reinava na cabine e achar um assunto que fizesse continuidade a isso e que fosse “área livre”.

- Mesmo? Puxa, achei que todos os irlandeses fossem ruivos! Como... A Danna Scully do Arquivo X... Ah, olha só, vocês têm o mesmo nome!

Danna fez uma expressão angustiada. Mel ficou pensando o que teria feito desta vez... Ah, é claro! Ela não estava entendendo! Às vezes é muito fácil esquecer que bruxos não assistem televisão.

- É uma série de TV. Coisa de trouxa. Eu sou uma. Quer dizer... Descobri agora que sou bruxa. Mas meus pais são trouxas. – e riu, divertida: - Acho que algumas pessoas me chamariam de “sangue-ruim”!

Estava comprovado. A tal da Mel era maluca. Chamar a si mesma de “sangue-ruim” e achar graça! Mas tinha gostado da garota, embora ainda não se sentisse preparada para se aproximar. Ela era tão... Segura de si! Onde estava com a cabeça quando achou que tinha visto desamparo no rosto dela quando as meninas tinham deixado a cabine? Ainda assim, gostaria que ela ficasse por ali. Pelos menos poderia imaginar que tinha uma amiga...

Sorrindo timidamente para Mel, voltou a atenção para o livro e rezou para que ela permanecesse na cabine.

“Tudo bem...”, pensou Mel. “Ela não é de falar muito”.

Apesar de mal ter visto o rosto de Danna (aquele cabelo na frente!) ou ter ouvido sua voz, já sabia várias coisas sobre ela só a observando. Ambas gostavam de ler. Ela devia ser do segundo ano (era o que dizia o livro de feitiços que ela lia), e era da Grifinória, pois tinha visto as franjas de um cachecol vermelho e amarelo pendendo da velha mala de Danna. Segurando um rosário de perguntas, resignou-se a pegar um livro e começar a ler também.

De vez em quando, olhava para aquelas franjinhas amarelo-avermelhadas e ficava pensando para qual Casa seria selecionada. Ah, será que ainda faltava muito para chegarem?

***

O comércio no mundo mágico se revitalizou após o fim da Guerra. Quando as pessoas estão preocupadas com suas vidas não se sentem inclinadas a consumir. Isso é um fato.

É claro que nem todo comércio tinha sido prejudicado. Além dos que se aproveitaram vendendo “amuletos anti-infieri” e coisas parecidas, o pessoal da Travessa do Tranco também tinha lucrado muito com a Guerra. Alguns chegaram a acumular fortuna, cuja origem “pouco confiável” ainda estava sob investigação do Ministério. Ainda que todos soubessem que o dinheiro tinha vindo de fornecimentos aos Comensais da Morte, os comerciantes daquela escusa ruela conseguiram mascarar muito bem suas transações financeiras, de forma que não se tinha provas para incriminá-los. E com a política anti-veritasserum...

Embora não se possa afirmar que nenhum dos “respeitáveis” proprietários de estabelecimentos do Beco Diagonal tivesse se envolvido em algumas destas transações, seguramente o fizeram poucas vezes e não sem o temor de serem descobertos. Havia muito a ser perdido e morriam de medo dos bruxos das trevas, o que quer dizer que nem sempre recebiam um valor justo pelo que comercializavam com eles. Mas, quando as necessidades surgem, quem pode ter certeza de conhecer o limite entre o “homem desonesto” e o “homem desesperado”?

A dificuldade em investigar os comerciantes do Beco Diagonal, ao contrário dos outros, não estava na habilidade em camuflar seus livros-caixas, mas em sua proximidade com o Ministério. Muitos deles eram amigos de infância dos chefes de Departamento e Secretarias... E, como ocorre em qualquer parte do mundo, julgar um “igual”, ainda que desconhecido, era mais difícil do que julgar alguém que já se acostumou a rotular de “escória”. Era injusto. Inconscientemente imoral. Mas a verdade é que, no final das contas, as coisas andavam mais lentas quando envolviam “gente honesta”.

Aquilo sempre revoltara Harry. Diversas vezes tinha exigido a agilização de processos, a investigação de denúncias... Mas parecia que a mentalidade dos funcionários do Ministério estava condicionada a acreditar que aquelas pessoas tinham sido mais vítimas da guerra do que seus atores. Por outro lado, o fato de nunca terem se perguntado se os comerciantes da Travessa do Tranco sofriam com as mesmas “coações”- com ou sem guerra - não parecia preocupá-los. Alguns membros do Ministério e gente influente do mundo dos negócios tinham ficado com um “pé-atrás” com Harry depois destas intervenções. Às vezes, ele ficava tão cansado daquilo tudo que pensava em se desassociar do Ministério. Mas Rony sempre o demovia da idéia, argumentando: “Se está ruim assim, imagine se não estiver por lá”.

No entanto, daquela vez não era nisso em que pensava enquanto caminhava com Rony e Ana pelas ruas do Beco Diagonal. O que tomava conta de seus pensamentos era Gina. A gravidez dela estava sendo mais tumultuada do que se poderia imaginar *. As novidades que Snape havia trazido não eram nada animadoras e estava dividindo suas preocupações com os amigos. Ou, pelo menos, dividindo os fatos, porque o que realmente estava sentindo... Isto ele guardava para si.

Mais tarde fariam relatórios para o restante da equipe. Tudo o que estava acontecendo ainda pesava sobre eles, que caminhavam silenciosos. Ana achou que o silêncio já havia durado demais, e que era hora de terem pensamentos mais alegres. Assim, perguntou, mesmo conhecendo a resposta:

- Vou almoçar com Colin e Luna. Querem vir comigo?

Eles olharam um para o outro, pensativos e franzindo o cenho. Em seguida voltaram-se para Ana, respondendo juntos:

- Não!

- Quer dizer... – Harry se apressou a explicar. – Nós gostamos muito da Luna e do Colin, você sabe...

- Mas não é “seguro” conversar com eles fora de um local “neutro”. Não para nós. – Rony completou, sem rodeios. – E a lanchonete do Pasquim é não exatamente “neutra”.

- É, Ana... Sinceramente, não estou a fim de dar outra entrevista para a Luna. E sabe que é isso que vai acontecer. Por alguma razão, por mais malucas que sejam as perguntas dela, não consigo deixar de responder.

- E o Colin deixa qualquer um zonzo. – Rony completou. – Às vezes acho que é uma estratégia deles: enquanto Colin desorienta, a Luna “solta” as perguntas... – riu.

- Se eu não soubesse que realmente são amigos deles, acharia que estavam sendo maldosos. – Ana também riu. – Tudo bem, então. A gente se vê mais tarde.

Talvez fosse melhor o Harry e o Rony conversarem sozinhos. Ana sabia que se ele não desabafasse com Rony, não o faria com mais ninguém.

Enquanto caminhava até o Pasquim, pensava na história do casal mais inusitado que se tinha notícia.

Colin havia levado a sério a paixão pela fotografia, e resolveu seguir carreira depois que deixou Hogwarts. Era pouco mais que um menino na época, não tinha experiência nenhuma e a situação econômica após a Guerra não era das melhores. O único lugar onde conseguiu um estágio foi no Pasquim.

Logo foi ganhando a confiança e o respeito das pessoas que trabalhavam lá, pois se interessava por tudo e aprendia rápido. Além disso, conseguia fotos incríveis porque, a exemplo do que já fazia na escola, não se importava onde teria que se dependurar para registrar as imagens que virariam as manchetes do dia. Colin esquecia-se de tudo o que não fosse o que via através de suas lentes, eternizando o momento.

Em poucos anos, virou um sucesso e até mesmo recebeu propostas de trabalho em outras revistas e jornais, mas recusou a todas, pois havia se afeiçoado ao Pasquim e tinha o senhor Lovegood como um pai e um mestre.

Luna, ao contrário, passava por maus bocados na redação. Ela começou a estagiar na mesma época que Colin, só que o fato de ser a filha do chefe não ajudou em sua imagem. As notícias que ela escrevia eram fantasiosas demais até para os padrões do Pasquim, e corria o boato entre os funcionários que ela só estava ali ainda porque era a “queridinha do papai”.

Eles eram o oposto um do outro. Ninguém diria que um dia fariam um casal. Ele era elétrico, impaciente, prático. Ela, observadora, calma e sonhadora a ponto de ser excêntrica. Bem... Talvez os trouxas, se os conhecessem, pudessem adivinhar que um dia isso aconteceria, porque trouxas conhecem uma lei da Física que diz que “os opostos se atraem”.

No entanto, Luna realmente tinha um bom faro para notícias. Só precisava aprender a usá-lo de forma mais objetiva. Colin percebeu isso e tentou ajudá-la, porém ela reagiu de forma irritada. Nunca fora uma pessoa rancorosa, mas a maneira com que a tratavam naqueles anos todos, mesmo sendo ela a primeira a chegar e a última a sair, e ainda por cima ver que Colin se tornara o braço direito de seu pai... Puxa, ela tinha orgulho próprio e sabia que teria que fazer as coisas sozinha se quisesse conquistar o respeito daquelas pessoas!

Então, Colin armara um plano.

Tentava chamar a atenção dela para as matérias que considerava mais “sérias”, o que queria dizer aquelas que ele considerava com mais chances de serem verídicas. Fazia isso de diferentes formas, como deixando os textos mais visíveis na mesa dela, tocando nos assuntos “casualmente”... E a estratégia dera certo. À medida que Luna concentrava sua atenção em assuntos de fontes mais seguras, seus artigos começaram a ser lidos por mais e mais pessoas. E, de repente, ao dar uma chance à moça, percebeu-se o jeito fluente e leve com que ela escrevia e as coisas surpreendentes que, a princípio, ninguém notara.

Mas Colin não podia prever que o esquema que montara para Luna iria falhar. Um dia, chegara na redação apenas a tarde, pois cobrira um evento social até de madrugada no dia anterior. Encontrou o senhor Lovegood totalmente agitado. Não tinha a menor idéia de onde a filha tinha se metido. Eles tinham discutido naquela manhã sobre uma matéria que Luna teimava em cobrir. Mesmo sem a aprovação do pai, ela pegara suas coisas e partira deixando apenas um aviso de que iria averiguar a informação. E ninguém sabia onde ela estava, pois não tinha dito tudo ao pai e levara toda a documentação relativa à matéria consigo.

Quando o senhor Lovegood terminara de relatar o que tinha ocorrido, Colin pegou sua câmera e se dirigiu para fora do escritório do patrão daquele seu jeito elétrico. Antes que saísse o senhor Lovegood perguntou, surpreso, o que ele estava fazendo, e ele respondera:

- Luna vai precisar de um fotógrafo! – e sorriu, partindo antes que lhe fizessem mais perguntas.

Ele sabia onde Luna estava. Tinha “escondido” aquela notícia sobre bruxos das trevas na Grécia. Segundo as informações que Luna tinha, eles acreditavam ter descoberto antigos pergaminhos de Herpo, o Sujo**, que ensinavam como criar minotauros. Ou seja: magia negra e, se fosse verdade - o que Colin duvidava muito, pois Herpo nunca tinha criado minotauros – se, e tão somente “se”... Era magia poderosa.

Foi uma aventura e tanto, que não cabe contar aqui. Mas... Não é que Luna tinha razão?!? Havia um plano para criar um exército de minotauros!

Bem, resumindo a história: entre um encontro tumultuado e vários perigos, Luna lhe disse que tinha descoberto a pequena manipulação que sofrera naqueles meses. Havia resolvido fazer aquela viagem justamente para provar que não precisava da “seleção” dele para fazer suas matérias. Era perfeitamente capaz de averiguar os fatos por si mesma. E, com medo de que ela nunca mais o perdoasse, Colin acabara confessando que fizera aquilo porque a amava - o que chocou o próprio Colin, que não havia notado isso até aquele momento.

Depois de tudo isso, esperar-se-ia que qualquer mulher, mesmo que apaixonada, fosse fazer o fotógrafo sofrer um pouquinho por sua ousadia em tentar manipulá-la, ainda que com boas intenções. Mas não Luna Lovegood. Luna é sábia de uma forma que nós nunca entenderemos. Ela considerou que seria ridículo perder um tempo tão precioso com “picuinhas”: disse logo que o amava também, bem daquele seu jeito direto e sonhador que deixa as pessoas sem palavras.

Não é difícil imaginar o que aconteceu depois. Eles se casaram mais tarde, e formaram a melhor dupla repórter-fotógrafo que já se viu no mundo bruxo, dando inveja até ao Profeta Diário. E, quando o pai de Luna se aposentou, os dois assumiram a direção do Pasquim.

A história tinha sido contada a Ana pela própria Luna, quando se reencontraram meses antes. E ainda estava pensando nela quando se deu conta que já estava em frente ao Pasquim.

O almoço com os Creeveys (Ana ainda achava surpreendente pensar neles assim) estava sendo bem divertido. O casal precisava de ajuda sobre certos assuntos trouxas, tema da próxima capa da revista.

- O governo americano já admitiu que ele mesmo espalhou os boatos sobre a Área 51, Luna! – Ana insistia. – Foi o jeito que encontraram para encobrir os testes bélicos no Estado de Nevada.

- E quem garante que não estão mentindo também sobre isto?

Ana abriu a boca na intenção de retrucar, mas descobriu que era bem mais difícil do que pensava. Como explicar para Luna que a indústria bélica era algo bem mais concreto do que aliens? Além do que, nada mais lhe parecia tão impossível depois que descobrira que bruxos existiam.

- Como vai a Mel? – Colin soltou a pergunta daquele seu jeito afobado, e como se estivessem falando de amenidades o tempo todo. – Animada com a escola? Já sabe para que Casa foi?

“Que dupla”, pensou Ana, ainda atordoada. Talvez Rony tivesse razão.

- Bem, ela está a caminho de Hogwarts agora. – Ana sorriu ao lembrar da sobrinha. – Ah, e desculpe mais uma vez pela Mel, Colin... – acrescentou, sem jeito.

- Tudo bem. – o rapaz levantou uma das mãos em sinal de que não tinha se importado. – Acredite, ela não é a primeira “dos que leram” que tem esta reação.

Mel tinha ficado toda ansiosa quando os conheceu, mas se controlou bravamente, graças à prática que estava tendo em encontrar-se com personagens harrypotterianos... Que não eram personagens, mas pessoas de verdade! Até o momento em que ficou sabendo que os dois estavam casados: “Mas... Então você e Neville não ficaram juntos?”, a menina disse à Luna, visivelmente decepcionada.

Agora, e a despeito da afirmação anterior de que não se importava, Colin declarou:

- Sabe, às vezes eu tenho vontade de bater no Longbotton. – voltou-se para a esposa, o tom desconfiado agora: - Tem certeza que vocês nunca...

Luna revirou seus enormes olhos azuis:

- Colin, pela milionésima vez: nunca!

Definitivamente, almoçar com o casal Creevey não era nada aborrecido! Ana ainda estava tentando segurar o riso quando a atenção de Luna se fixou em algo que ela via pela janela da lanchonete:

- Aquele ali não é o Carlinhos?

Ana voltou-se na direção do olhar da amiga, vendo o marido sair de um hotel em frente ao Pasquim. O sorriso morreu em seu rosto ao perceber que ele estava acompanhado de uma mulher belíssima. Nenhum dos dois podia ver o interior do Pasquim de onde estavam, mas eles os viam perfeitamente. A jovem loira conversava animadamente enquanto lançava sorrisos sedutores para Carlinhos, que a ouvia atentamente. Então, ambos aparataram.

- Quem era a loira? – Colin perguntou.

- Não sei. – ela forçou um sorriso, tentando parecer despreocupada. – Deve ser uma daquelas autoridades em dragões que vivem visitando a reserva. – fez um gesto de irrelevância e trocou de assunto: - Bem, vocês também queriam saber sobre a Guerra no Iraque, não é?

Lutando contra o peso que parecia querer afundar seu estômago, Ana pôs-se a falar como se estivesse dando uma palestra sobre o assunto. As informações saíam automaticamente, sem emoção ou análise de fatos. Queria deixar aquela sensação incômoda de lado e ignorar as questões que sua mente teimava em lhe apresentar: por que Carlinhos não tinha lhe dito que viria ao Beco Diagonal? Quem era aquela mulher que falava com ele de forma tão íntima?

Estava tão concentrada em não “pensar no que estava pensando” que simplesmente não notou o olhar da ex-Corvinal, e a sombra de preocupação neles.

***

Após uma longa viagem, o Expresso de Hogwarts havia chegado a seu destino. O trem fora parando devagarzinho e apitando, como que a dizer a toda a estação de Hogsmeade que os alunos da escola de Magia e Bruxaria estavam de volta.

Mel pôs o rosto colado ao vidro da janela, mal podendo esperar para ver pelo menos aquele pedaço da única vila totalmente bruxa da Grã-Bretanha. O fato de não poder ver quase nada por causa do cair da noite não abalou seu entusiasmo e, quando se deu conta, Danna a estava chamando para descerem. As duas não tinham trocado muitas palavras durante a viagem e ouvir a voz dela, de repente, tinha sido uma surpresa.

Ao desembarcar, descobriu que Danna não estava mais atrás de si, como julgara. Agora estava novamente sozinha, no meio de uma confusão de pessoas e bagagens.

- Ora essa! – ouviu um vozeirão atrás de si.

Saindo detrás de uma das carruagens que partiam, um homem enorme conversava animadamente com um dos funcionários do trem.

- Só ele mesmo para se empanturrar de doces a ponto de passar mal! Que menino impossível! – ele riu, parecendo de ótimo humor.

Que espécie de fã Mel seria se não reconhecesse aquele mar de cabelos e barba embaraçados, os olhos bondosos no alto daquele corpanzil de meio-gigante? Nossa, ele era ainda maior do que tinha imaginado!

- Consigo identificar um menino espevitado quando o vejo. – ele falava com ares de grande entendido. – Com tantos anos de experiência em Hogwarts, a gente acaba desenvolvendo uma espécie de sexto sentido. Ele é um bom garoto, não tenho dúvidas, oh sim... Mas nasceu para se meter em confusão, logo se vê. – riu novamente, um misto de orgulho, censura e carinho na voz - O pai dele era igualzinho nesta idade, embora fossem os três amigos tresloucados dele que o colocavam em problemas. – algo na lembrança fez a animação de Hagrid diminuir um pouco. Mas logo recobrou o bom-humor: - Bem, mandei-o na frente com Madame Pomfrey. Espero que uma noite na enfermaria lhe sirva de lição...

A frase foi interrompida no meio, pois Hagrid quase atropelou uma criaturinha sorridente que o encarava maravilhada. O homem com quem conversava se despediu, voltando a seus afazeres. O primeiro pensamento do meio-gigante foi que, talvez, a menina tivesse sido vítima de um feitiço “imobilus”. O que era bem provável, porque os garotos pareciam estar ficando mais impossíveis com passar do tempo. No entanto, aqueles últimos oito anos haviam sido repletos de encontros com crianças exibindo este mesmo olhar para ele... Reconhecendo os “sintomas”, o Professor de Trato das Criaturas Mágicas olhou para os lados, verificando que ninguém os observava e, agachando-se um pouco, sussurrou para a “criaturinha”:

- Você é uma deles, não é? “Os que leram”.

Mel balançou a cabeça afirmativamente:

- Sou Mel Warmlling.

- A sobrinha de Ana! – o meio gigante sorriu, encantado. E acrescentou, maroto: - Quer dizer, agora é senhora Carlos Weasley, não é mesmo? Sua tia me disse que viria. Seja bem vinda!

- Obrigada, Hagrid. – ela sorriu. – Quer dizer, Professor.

- Não precisa me chamar assim. – ele riu. - Só quando estiver no terceiro ano, nas aulas de Trato das Criaturas Mágicas, certo? – depois dela balançar a cabeça afirmativamente, recomendou: - Muito bem, fique perto de mim, sim?

O meio-gigante ergueu-se, tocando uma sinetinha:

- Primeiro-anistas! Venham até aqui! Todos os primeiro-anistas! Por aqui!

Quando verificou que nenhum calouro tinha ficado para trás, ele conduziu-os até os barcos à beira do lago.

Aquele era o Lago Negro, o mesmo que fazia divisa com as terras de Hogwarts. Quantas maravilhas e aventuras aquele mesmo lago tinha proporcionado à Harry! Agora a superfície estava calma, refletindo a luz do luar, mas a menina sabia que em suas profundezas havia toda espécie de criaturas mágicas que nós, os trouxas, jamais imaginaríamos existir fora de nossas histórias infantis: como sereias e lulas-gigantes.

Como mandava a tradição, os alunos do primeiro ano faziam o caminho até a escola atravessando o lago. Era uma visão de sonhos, com os barcos deslizando suavemente pelas águas iluminadas pela lua e pelos lampiões segurados pelos alunos. Sentando-se perto do meio-gigante, ela se pôs a conversar com ele.

Hagrid lhe contou as novidades: com a Professora McGonnagal na Direção da escola, ele havia assumido como Diretor da Grifinória. “Muita responsabilidade”, ele dissera, sério, mas o orgulho de ter sido o escolhido era evidente.

O melhor de se conversar com Rubeo Hagrid é que você não precisa fazer esforço para manter a conversa. Era só sentar ao seu lado e deixar que ele falasse. E Mel estava tão nervosa que foi um alívio ter Hagrid lhe contando sobre Hogwarts, ou entremeando na conversa muitos “Olímpia disse que...”, e “Olímpia acha que...”.

Olímpia Máxime, a Diretora de Beauxbottons. A menina alargou o sorriso, pensando quanto tempo mais aqueles dois precisariam para ver que tinham nascido um para o outro e resolverem se casar de uma vez.

Ela estava de costas no barco. Naquela escuridão, só percebeu que estavam perto da margem quando as outras crianças começaram a olhar para cima, estupefatas. Virou-se, deparando-se com a edificação em pedra mais linda que tinha visto na vida.

- Oh, Meu... Deus! – Mel sussurrou ao vislumbrar o enorme castelo.

O castelo se constituía em um conjunto de construções antiqüíssimas, com várias torres apontando aqui e acolá. Visto assim, à noite e todo iluminado, era uma paisagem imponente. Ele era melhor que todos os contos de fada que ouvira, que todas as histórias de capa-e-espada que conhecia.

E o melhor de tudo: era igualzinho ao do filme ***. Ou melhor, o do filme era igual a este, pois o Castelo de Hogwarts já existia dezenas de séculos antes da computação gráfica de Hollywood criar o castelo que vimos nos cinemas.

- Façam fila dupla e me sigam. – Hagrid orientou.

Passaram pela entrada em forma de arco e caminharam durante algum tempo pelos corredores do castelo, até que pararam em frente a uma enorme porta de carvalho, acima de alguns degraus. Hagrid murmurou alguma coisa sobre eles estarem em boa companhia agora, e se retirou.

Foi quando ouviram uma voz, saindo sabe-se lá de onde:

- Bem vindos à Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts!

As crianças de trás tentavam ver quem estaria falando, mas inutilmente. Murmúrios de incompreensão foram ouvidos. Mel se colocou na ponta dos pés, tentando visualizar quem os recebia no lugar de Minerva McGonnagal. Seria algum dos fantasmas?

- Oh, desculpem! – a pessoa disse, dando uma risadinha: - “Ascendio” – e um homemzinho subiu rapidamente pelo ar, como se tivesse sido lançado, indo parar nos degraus mais altos da escada. – Eu sempre estou me esquecendo... – ele soltou mais uma risadinha.

- Flitwick... – Mel escutou uma ruivinha com várias sardas no nariz sussurrar ao seu lado. Quando olhou para a menina com um sorriso compreensivo, a ruivinha desviou o olhar, temerosa. Ela devia ser mais uma “dos que leram”, como diziam por ali.

- Eu sou o Professor Flitwick, leciono Feitiços. Sou também Vice-Diretor da escola, e Diretor da Corvinal. – ele fez uma pausa, olhando um por um com um sorriso. – Corvinal é uma das quatro Casas de Hogwarts, que são como as famílias dos estudantes enquanto estão aqui. Cada Casa tem seu próprio dormitório e sala, e uma mesa no Salão Principal. Vocês vão dormir, comer e assistir as aulas junto com os seus colegas de Casa. Quando entrarem no Salão Principal – ele indicou a porta fechada atrás de si – serão selecionados para uma delas: Corvinal, Lufa-Lufa, Grifinória ou Sonserina.

- Eu vou para a Sonserina, é claro. – Mel ouviu alguém comentar atrás dela. Virou-se discretamente e viu a loirinha aguada sussurrar para o seu “séqüito”: - É onde estão as pessoas de classe.

“Ah, que surpresa que essa aí queira ir para lá!”, pensou, revirando os olhos.

- Está na hora. – Flitwick anunciou. – Mantenham a fila e me sigam. – a um movimento de sua varinha, as pesadas portas se abriram, revelando o iluminado Salão Principal.

Os alunos seguiram o Professor de Feitiços, admirando o teto encantado. Ela não sabia para que lado olhar primeiro: o teto, as velas flutuando, os alunos em suas mesas, a mesa dos professores (Hagrid já estava lá e sorriu para ela), ou o banquinho com um... chapéu! O quanto não lhe custou não pular e gritar: “O Chapéu Seletor! O Chapéu Seletor!” Voltou-se para a ruivinha ao seu lado, esperando que ela compartilhasse a mesma empolgação. Mas ela mantinha os olhos em qualquer pessoa ou coisa que não fosse Mel, como se algo que ruim acontecesse caso o fizesse.

“Talvez eu tenha me enganado e ela seja só uma bruxa comum”, pensou Mel.

Como era esperado, um rasgo se abriu no Chapéu, como se fosse uma boca. O objeto estava vivo. Após alguns “pigarreios preparatórios”, ele começou a cantar:

Há mil anos fui encantado
E de uma missão incumbido:
Nenhuma criança deixar de lado,
Sem sua Casa ter escolhido.

Ponha-me em tua cabeça
E tua mente vasculharei.
Direi a Casa que te mereça
E aos teus iguais te juntarei.

É na Grifinória que morarás
Se fores corajoso e aventureiro.
Entre os leões viverás,
Junto aos de coração guerreiro.

Mas se à Justiça preferires
E a honra é tua qualidade,
Para a Lufa-Lufa deves ires:
A Casa da lealdade.

Se encontrar mente irrequieta,
Na Corvinal te colocarei.
Lá, onde o saber é a meta,
E a inteligência, a lei.

Caso a astúcia te guiar,
E se ao poder se destina,
Não tenho o que duvidar:
Pertences à Sonserina.

Que a divisão não te iluda:
Nenhuma é a melhor qualidade.
Se Hogwarts é chamada à luta,
Sua força é a diversidade.

Por isso, venhas até mim!
Juro que não irá doer.
Nenhuma escolha é ruim,
Não há o que temer.

O Salão irrompeu em aplausos ao final da canção. Inclinando a extremidade pontiaguda, a guisa de cumprimento, o Chapéu Seletor agradeceu modestamente: “Obrigado! Obrigado!”.

McGonnagal se levantou, e todos fizeram silêncio. A Diretora sorriu brevemente para Mel, que já havia conhecido no Beco Diagonal. Depois, com a costumeira postura elegante e formal, pôs-se a falar:

- Sejam bem-vindos, meus caros alunos! - mais palmas foram ouvidas - Sou a Diretora Minerva McGonnagal, e espero que sua passagem por Hogwarts seja agradável e proveitosa. - ela sorriu para os primeiro-anistas. Então, dirigindo-se aos alunos mais velhos, ela fez um gesto em direção aos novatos: - Estes são nossos novos membros. Logo eles pertencerão a uma de nossas Casas, e espero que os recebam com a deferência e o respeito cultivado nesta escola. – com um olhar severo por cima dos óculos, McGonnagal fez os alunos mais velhos entenderem que não falara aquilo apenas para ser gentil com os calouros.

Depois, dirigiu-se aos novatos:

- Devo avisar que, quando forem selecionados para suas Casas, seus atos se refletirão não só sobre vocês, mas também sobre elas. Seus méritos contarão pontos para sua Casa. Seus deméritos causarão a perda deles. – ela olhou para as quatro ampulhetas na parede e os alunos fizeram o mesmo. Então, finalizou sorrindo: - Ao final do ano, a Casa que tiver mais pontos vencerá a Taça das Casas.

Os alunos aplaudiram, entusiasmados, e se ouvia as pessoas nas mesas dizendo umas às outras: “Seremos nós!”, “Este ano ela é nossa!”, “Ninguém tira essa da gente!”.

- Bem, não vamos nos demorar mais. É hora de uma de nossas mais antigas e belas tradições: a Seleção das Casas!

Após uma nova salva de palmas, Flitwick estendeu o pergaminho com a lista dos nomes, chamando um por um. As Casas iam aos poucos sendo agraciadas com novos membros, fazendo festa cada vez que um dos novatos corria até a mesa de sua “família”.

“Acalme-se”, Mel se ordenava. “Você esperou muito por isso, não vai ter um treco logo agora!”.

- Bothwell, Caroline!

A garota de cachinhos dourados caminhou segura até o Chapéu, sentando-se no banquinho como se fosse o trono de uma rainha e o que estivesse sendo colocado sobre sua cabeça fosse uma coroa, e não o velho e gasto Chapéu Seletor.

- SONSERINA! – o objeto anunciou, após alguns segundos, e a menina sorriu, triunfante, caminhando até a mesa da respectiva Casa.

Mel franziu os lábios, irônica:

- Um Malfoy de saias, era só o que me faltava! – ela sussurrou para a ruivinha.

- Não devemos falar disso! – a outra sussurrou de volta, aflita.

“Então, ela realmente leu os livros”, pensou Mel. Antes que pudesse dizer que não pretendia fazer nada para ser expulsa do Mundo Mágico, Flitwick chamou:

- O´Riley, Christina!

A ruivinha se adiantou, sendo selecionada para a Corvinal.

- Warmlling, Mel!

“Já?”, pensou, dando o primeiro passo em direção ao banquinho. “Puxa, nem deu tempo para me preparar!”.

- Hum... – o Chapéu fez uma pausa reflexiva. – Temos mais uma leitora-fã de nosso mundo aqui. – Mel compreendeu a mensagem oculta nas palavras do Chapéu. – Não, não sou feito de nenhum material especial. Mantenho a “forma” só me cuidando mesmo: por isso não aparento ter mais que quatrocentos ou quinhentos anos. – ele informou, maroto, respondendo algo que ela queria saber há tempos, e fazendo-a abrir a boca, perplexa. – É, sei exatamente onde coloca-la. – ele “sorriu”, satisfeito: - Isso vai dar a maior confusão, mas não há dúvidas: você vai para...

***

- Corvinal?!? – Ana exclamou depois de ler a carta que a sobrinha lhe enviara ainda naquela noite. – Mas... Eu pensei...

- Que ela iria para a Lufa-Lufa? – Carlinhos sorriu, zombeteiro. – Amor, tava na cara! Do jeito que ela sempre quer saber de tudo...

- E daí? Mione também sempre quer saber de tudo, e foi para a Grifinória. Eu leio muito, mas o Chapéu me disse que sou uma lufa-lufa!

- Mas por razões diferentes, querida. Sempre tive a impressão que Hermione encarava os estudos como um soldado em um campo de batalha, ou seja, como um desafio a ser superado. Para estar preparada. E cada nota, uma conquista. Se for mesmo isso, não me admira que tenha ido para a Grifinória. Já você, aprecia a diversão por trás de cada conhecimento. – sorriu charmosamente para a esposa: - Bom-humor, típico da Lufa-Lufa. Mas Mel sempre está procurando o porquê das coisas. Como se o fato de não saber fosse um absurdo.

- Faz sentido...

- Veja pelo lado bom: pelo menos, não foi Sonserina! – ele provocou.

- Engraçadinho. – Ana torceu o nariz.

Carlinhos parecia muito tranqüilo enquanto se movia pela cozinha, abrindo armários e pegando as coisas para fazer chá para ambos. Analisando a expressão inocente dele desde que chegara em casa, quase se sentia culpada por aquelas desconfianças estarem passando por sua cabeça.

Desconfianças? Não, imagine! Ela era uma mulher adulta, formada... Não iria fazer o papel ridículo de sentir ciúmes do marido só porque ele estava conversando com uma mulher bonita! Nunca tinha sido possessiva, e sempre achou que isso acabava com qualquer relacionamento. Carlinhos a amava. E ela confiava nele. Afinal, que homem espera por uma mulher por oito anos, se não a ama de verdade? Por que procuraria outra mulher, logo agora que tinham se casado, e há tão pouco tempo?

Estava intrigada. Sim, era isso. Decidira-se: dera um nome para aquela sensação desagradável que a incomodava. Em outras ocasiões, tinha chamado aquela mesma sensação de “sexto sentido”, mas agora havia se convencido que era só curiosidade. Assim, sentia-se melhor ao ter que fazer a costumeira pergunta, só que com intenção diferente da usual:

- Como foi o trabalho hoje? – sem perceber, Ana prendeu a respiração, esperando a resposta.

- Normal... – ele respondeu, simplesmente.

Ana virou o rosto, tentando controlar o tremor que percorreu seu corpo. Então ele aparece no Beco Diagonal, em Londres, poucas horas depois de sair da Estação King´s Cross dizendo que iria direto para a Reserva de Dragões no País de Gales... E isso era “normal”. Não... Não podia ser o que estava pensando. Devia ter outra explicação para Carlinhos não ter lhe contado nada. Estava reagindo como uma simplória. No entanto, se fizesse mais perguntas despertaria suspeitas.

- E como foi seu dia? – ele perguntou.

- Almocei com Colin e Luna. – e ela acrescentou, observando a reação do marido: - Na lanchonete do Pasquim.

Mas Carlinhos não deu mostras de que a informação tivesse despertado alguma lembrança. Como a de ter estado em um hotel em frente, com uma mulher.

- E como estão eles? – ele perguntou enquanto lhe dava as costas para apanhar as xícaras no armário.

- Bem. – agora ela estava se esforçando para manter a voz firme. – Queriam que eu explicasse alguns acontecimentos recentes no mundo trouxa.

Carlinhos voltou-se para ela naquele momento, com uma caneca fumegante estendida. Notando o tremor nas mãos dela, ficou preocupado:

- Querida, o que houve? – ele ajoelhou-se a seu lado, tomando-lhe as mãos.

- Nada... É que lembrar de tudo aquilo... Estão sendo tempos difíceis para os trouxas. E, como analista de informações, eu tive contado com várias histórias de refugiados. Algumas de famílias, com bebês. E isso me lembrou a Gina e o Harry também... Eu me emocionei, só isso.

- Amor... – ele a beijou e a envolveu em seus braços. – Não fique assim. Nós estamos apenas averiguando se os sonhos da Gina têm algo de mais perigoso *. E, quanto aos horrores das guerras... Não podemos controlar tudo, eu bem sei disso. Estive no meio de uma, lembra? Mas fazemos o que pode ser feito. Você fez a sua parte. Está fazendo agora, como Auror. E o mundo está se tornando melhor com isso, mesmo que não note, mas está.

Ele a beijou novamente, enquanto Ana sentia uma onda de remorso por desconfiar dele.

- Eu... Vou tomar um banho.

- Não vai querer o chá? – ele perguntou, carinhoso.

- Hoje não.

Ana subiu as escadas sentindo o olhar preocupado de Carlinhos cravado em suas costas. “Preocupação com ela ou com o que ela poderia ter visto?”, uma vozinha teimava em ressoar na cabeça de Ana.

***

Arrastara-se até a mesa da Corvinal naquela manhã, um misto de desânimo e sono. As coisas em Hogwarts não estavam saindo exatamente como tinha imaginado. E olha que havia chegado na noite anterior!

Olhou para a mesa, repleta das mais variadas guloseimas. Pelo menos, a comida era boa.

Começou a tomar seu café da manhã lembrando-se do que Christina O´Riley havia lhe dito no dormitório feminino dos primeiro-anistas, enquanto se preparavam para dormir.

[Início de Flashback – Noite anterior, Torre da Corvinal, após o Banquete de Recepção]:

Christina a ignorava de uma forma inexplicável. Não tinha feito nada para a garota. Na realidade, até achara que ambas se dariam bem, já que haviam lido os livros: ou seja, compartilhavam um segredo, tinham algo em comum.

Mas ela se afastava de Mel sempre que podia. Assim que chegaram no dormitório, Christina escolheu a cama perto da janela, mas trocou rapidamente quando Mel pôs a mala dela em cima da cama ao lado. As outras garotas se olharam, constrangidas por terem presenciado a cena.

Em um momento em que ficaram sozinhas no dormitório, a ruivinha deixara o silêncio e tomara a iniciativa de falar com Mel:
- Ei. Warmlling! – ela chamara, olhando para os lados para ter certeza que as outras calouras não estavam voltando do banheiro.

- Eu tenho um primeiro nome, sabia? – respondera, amuada. Estava muito magoada com a garota.

- Sei, sim, mas... – a ruivinha enrubescera. – Desculpe, mas não podemos ser amigas. – diante do olhar arregalado de Mel, ela explicara, toda sem jeito e tropeçando nas palavras: - N-nós duas... Lemos, entende?

- Sim, é claro que eu entendo! – ela respondera, exasperada. – E o que é que tem?

- Tem que notei que você mal se agüenta, tentando fingir que não sabe de nada. Deixou escapar várias coisas lá embaixo!

- Você também! – tentara se defender.

- Só uma vez. – Christina respondera, embaraçada. – E não vai acontecer de novo. Não se eu ficar bem longe de você.

- O quê? – exclamara, indignada. – Está me culpando?

- Não! – a outra se apressara a negar, aflita. – Só que vai ser difícil se tiver alguém que conhece tudo e é tão fã... Quanto eu. – ela suspirou, cansada: - Olha, não tenho nada contra você, eu realmente sinto muito, mas... A pena por deixar a história dos... você-sabe-o-quê vazar é a Expulsão do Mundo Mágico! Não posso deixar que isso aconteça. Entenda: minha mãe é trouxa, meu pai é bruxo. Nós temos contato com... O que J.K. Rowling escreve... Por causa da família da minha mãe. Meu pai já tinha perdido as esperanças de que eu tivesse poderes, e ficou tão contente quando eu descobri que era uma bruxa, e recebi a Carta de Hogwarts! Ele só fala disso agora, ele... Espera muito de mim. Não posso decepcioná-lo sendo expulsa!

Ela achara que a garota era histérica, isso sim. Mas se era assim que queria...

- Não se preocupe... “O´Riley”. Não vou ficar perto de você mais do que o necessário. – respondera secamente, deitando-se em sua cama.

Apesar de abalada com a reação da garota, estava tão cansada que cochilara. Acordara com os sussurros das outras meninas, já em suas camas:

- O que vocês acham que a O´Riley tem contra a brasileira? – uma delas, Rose Chandler, perguntou.

- Brasileira? Mas ela fala igual a uma americana! – Elisa Coffman dissera.

- Meu irmão está no terceiro ano, na Grifinória, e disse que ouviu o Professor Hagrid falar que a tal da Mel é sobrinha de Ana Weasley. – informara Grizel MacQueen, de quem Mel não gostara nem um pouco.

- Weasley? – perguntara Rose. – A família que lutou na Guerra? De Ronald Weasley?

- Isso mesmo. – Grizel confirmara. – a tia dela é casada com o irmão dele, Carlos Weasley, aquele cara da Batalha dos Dragões.

- Uau! – Elisa exclamara. – Mas, o que isso tem com...?

- Vocês não acham estranho uma brasileira aqui, em Hogwarts? – Grizel perguntara com um suspiro baixo e impaciente.

- Então está insinuando que os Weasleys interferiram? – Rose questionara.

- Talvez. Mas é mais provável que a tia dela tenha feito isso. Ela é da família Smith, que são descendentes de Helga Hufflepuff.

- Nossa! Essa garota deve se achar, então! – Eliza concluíra com desprezo na voz, sendo seguida dos murmúrios de concordância das outras duas.

Mel se encolhera na cama, e o movimento fez as garotas se calarem e voltarem a dormir. Resolvera fingir que ainda estava dormindo, embora a sua vontade fosse dar uma lição naquelas mexeriqueiras. Mas o que iria dizer? Que era verdade, que realmente só tinha vindo para Hogwarts por causa da interferência da tia?

Pobre tia Ana... Jamais imaginou que estava causando problemas para ela quando falou com a Diretora McGonnagal. A menina sentira os olhos arderem, e chorara baixinho, escondida debaixo dos lençóis azuis que existiam em todo dormitório da Corvinal. Adormecera com os olhos ainda úmidos das lágrimas.

[Fim do flashback].

Seu ano em Hogwarts estava estragado. Fitava a comida apetitosa à sua frente sem realmente vê-la. Depois de tudo o que acontecera nas últimas vinte e quatro horas, ela duvidava que algo de bom acontecesse e compensasse os maus momentos. Provavelmente, só iria piorar dali por diante.

Se Sibila Trelawney soubesse dos pensamentos de Mel, teria dito que a garota tinha dons premonitórios.

Os alunos da mesa da Lufa-Lufa, a mesa mais próxima das janelas, começaram a se agitar. Ela levantou os olhos a tempo de ver um enorme pássaro branco atravessar o Salão, fazendo boa parte dos alunos se levantarem das mesas correndo e gritando. Na confusão, vários pratos e copos caíram no chão, seus conteúdos despejando-se sobre alguns dos alunos que ainda tinham permanecido sentados.

Paralisada em seu lugar, Mel assistiu com horror a ave pousar na sua frente, não derrubando mais coisas da mesa por milagre. Ou talvez não tivesse sido milagre, porque o animal largou um enorme pacote em seu colo, levantando uma das patas e estendendo a garra em sua direção. Ele ficou parado docilmente, encarando Mel como se esperasse que ela fizesse algo.

Seria treinado?

Vencendo o medo, ela se aproximou lentamente, e percebeu que havia uma carta presa ali, como os bruxos faziam com as corujas. Retirou-a, ainda receosa que o pássaro lhe bicasse ou fincasse as garras perigosamente grandes e afiadas nela.

- Uma Harpia! – Hagrid se aproximara, empolgado. – Também é chamado de “gavião-real”. Nunca vi um desses! Vivem na América Latina!

- Senhorita Warmlling, este pássaro é seu? – a Diretora McGonnagal aparecera ao seu lado, a expressão entre desconcertada e zangada com a confusão.

- Não... Mas acho que trouxe algo para mim. – respondeu, um tanto confusa e preocupada se teria se metido em mais alguma encrenca. Os outros alunos estavam parados a certa distância, olhando apreensivos para ave de cerca de um metro e vinte centímetros de altura, plumagem branca e com algumas penas levantadas na cabeça, como em um cocar.

Olhou para o envelope, reconhecendo a letra nele. Era de sua mãe. Leu rapidamente as primeiras linhas da carta. Levantando os olhos para a Diretora, explicou, envergonhada:

- É dos meus pais... Me mandaram algumas coisas. – ela olhou para o pacote que a harpia deixara sobre a mesa.

- Ah, os bruxos brasileiros costumam usa-las para correspondência que precisam ser entregues a grandes distâncias. São mais resistentes. Como o Brasil é muito grande, eles as usam quase sempre. – Hagrid informara, ainda empolgado, alheio à apreensão a sua volta.

- É... – ela concordou, abaixando o olhar para a carta novamente. – É o que a carta diz.

Na carta, sua mãe dizia que Agatha havia lhes sugerido usar a harpia, e eles não hesitaram em comprar uma (para a infelicidade de Mel). Havia muitas delas na região do Rio Negro ****.

- Senhorita Warmlling, na próxima vez a ave terá que pousar do lado de fora. – McGonnagal avisou.

- Sim senhora. – ela abaixou a cabeça, constrangida.

- Como é o nome dela? – Hagrid ainda estava absorto na contemplação da ave.

- Dumbledore. – ela respondeu.

- Como? – McGonnagal perguntou, surpresa.

- A carta diz que foi este o nome que deram. Meu irmão o chamou assim... Porque ele é branco... “Albus”, em latim significa “branco”, como em Albus Dumbledore. Para nós, que falamos português, isso fica mais claro. – Mel estava se sentindo uma idiota. Como ela queria que um buraco se abrisse no chão para que ela se escondesse!

- Entendo... – McGonnagal disse vagamente. A lembrança do falecido amigo a emocionou, mas Minerva McGonnagal era durona. Não iria demonstrar isso assim, fácil. – Hagrid, por favor, leve o pássaro lá para fora e o alimente antes que comece a viagem de volta.

- Pode deixar, Professora! – o meio-gigante respondeu, todo contente e já fazendo a harpia ficar em pousada em seu braço direito. A pele dele devia mesmo ser bem mais resistente, para não precisar nem de luvas para se proteger das garras do pássaro.

Tão logo McGonnagal deu as costas, Grizel provocou:

- Ei, Warmlling! Não tinha uma ave maior? Quem sabe assim não chamaria mais atenção? – ela riu debochadamente, sendo acompanhada pelos que estavam próximos.

- Se acha que é tão emocionante assim, porque não fica com ela? – respondeu, lançando um olhar furioso para Grizel.

A ave não pareceu ter gostado muito da idéia, porque se agitou no braço de Hagrid, abrindo as asas e grasnando hostilmente para a outra menina, com toda a imponência de seus dois metros de envergadura.

- Calma, Dumbledore! Calma, rapaz! – o meio-gigante tentou acalma-lo.

Grizel deu um passo para trás, assustada, e se afastou. Hagrid viu que Mel estava pegando suas coisas e disse: - Não se preocupe, Mel, vou cuidar dele.

- Obrigada, Hagrid. – ela respondeu, triste. Rabiscou um bilhete para os pais e o prendeu novamente na pata da harpia. – Tchau, Dumbledore. Faça uma boa viagem. – ela afagou as penas surpreendentemente macias da ave e saiu do Salão Principal.

Ela caminhou até as árvores na beira do Lago Negro. Ainda tinha algum tempo antes da primeira aula. Havia perdido o apetite mesmo.

Mas que droga! Que onda de azar era essa? Estava dando tudo errado!

Pegando sua varinha, fez um feitiço de levitação razoavelmente bom com uma pedra de tamanho médio. Tinha treinado um pouco no trem, e descobrira que era boa em Feitiços. Em seguida, lançou a pedra a toda a velocidade no lago, desejando que toda a frustração que sentia fosse embora com a ela.

Em vez do barulho da pedra caindo no água, ouviu urro esquisito. Olhou na direção em que arremessara a pedra e viu um enorme tentáculo balançando acima da superfície do lago, segurando a mesma pedra que laçara. Com um impulso para trás, o tentáculo arremessou a pedra de volta, que por pouco não a atingiu. Um novo urro foi ouvido, e Mel podia jurar que era um de indignação.

- Desculpe! – gritou para a criatura. – De verdade! – acrescentou, como se assim o animal a entendesse.

Mordendo os lábios, viu que os poucos alunos que se arriscavam a dar um passeio antes da primeira aula a olhavam divertidos e rindo.

“Ótimo Mel! Perfeito mesmo! Agora nem mesmo a carente da Lula Gigante vai querer ser sua amiga!”, resmungou para ela mesma.

- Warmlling! – ouviu Rose Chandler chamar.

- O que é? Esqueceram de zoar com mais alguma coisa? – Mel respondeu, agressiva.

- Ai, deixa de ser grossa, garota! – Rose devolveu, também agressiva. – Vim aqui te fazer um favor. Sua tia não é Auror?

- É sim... – franziu o cenho, preocupada. – O que é que tem?

- Achei que isso pudesse te interessar. – Rose lhe estendeu o Profeta Diário e saiu, ainda brava.

A manchete do jornal fez Mel gelar: “Fuga em Azkaban”. *


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Notas
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* Ler “Harry Potter e o Retorno das Trevas”, de Sally Owens, na Floreios e Borrões.

** Ler “Animais Fantásticos e Onde Habitam”, p. 24-25: Herpo, o Sujo, era um bruxo das trevas grego que teria descoberto que um ovo de galinha chocado por um sapo gerava um Basilisco.

*** Em “Conversa com J.K. Rowling”, de Lindsey Fraser, a autora de Harry Potter, quando perguntada se estava feliz com o fato de Harry Potter ter virado filme, conta que: “Eles me forneceram muito material, mandaram mapas e desenhos de Hogwarts para assegurar que, quando o castelo aparecesse no filme, ficasse bem parecido com o que eu tinha em mente.”.

**** National Geographic Brasil, edição de fevereiro de 2006, p. 56.

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(N/A): Já se, já sei! Tem gente querendo me matar pela megademora, né? Desculpem, mas não fazem idéia da loucura que anda a minha vida. Nada demais, só trabalho mesmo... E a pior crise de criatividade que eu já sofri na vida!

Graças a Deus, passou. Espero que o tamanho deste capítulo compense o atraso.

E antes que alguém me diga: “o que te deu para maltratar assim a Ana e a Mel?”, eu respondo: o mesmo que deu na JK quando ela matou o Sirius e o Dumbledore, hehehe! Tô brincando!

Espero que eu não tenha viajado. Quer dizer... Não tenha viajado “muito”. Mas... quer saber? Apesar de tudo (inclusive a falta de imaginação que estava travando tudo), até que eu gostei de escrever este. Foi muito divertido. Sei lá, foi um prazer diferente de todos os outros capítulos que eu já escrevi.

Ah, o capítulo iria se chamar “Quando Nada Dá Certo” (sugestão da Bruxicca, depois de eu dizer para ela que eu não sabia como chamá-lo, e eu disse para ela que no capítulo trataria de: “sabe, quando nada dá certo?” Daí ela me disse: “Você acabou de me dizer o seu título”. Hehehe!). Mas daí o e-mail da Sally chegou (eu tinha pedido sugestões para ela antes de me encontrar com a Bruxicca no MSN), e, entre várias sugestões, tinha o “Harpias”. O primeiro estava tudo haver com o capítulo, ótimo mesmo. Mas o segundo não iria entregar de bandeja o conteúdo dele.

Então, ao pensarem no capítulo 5 do Segredo de Corvinal... Pensem que ele é aquele em que aparece a Harpia chamada “Dumbledore”, e é o que a Belzinha mostra como é “Quando Nada Dá Certo”, hehehe!

Vamos aos comentários:

MARIA LUÍZA: Atualizado, como você queria. Obrigada por ler, pelos elogios e pelo comentário. Sempre fico feliz quando aparece gente nova *ainda estou com um sorrisão no rosto*.

CHARLOTTE RAVENCLAW: Sempre é bom ver comentários de quem escreve também. Especialmente quando dizem que gostaram (hehe!). Bem, quanto à Shortfic eu postei de impaciente. Ainda não saiu o resultado do Challenge. Vou tentar fazer o Draco não tão... “gostável”, prometo.

MORGANA BLACK: A Ana também estava com saudades de você. Seu comentário foi o primeiro a sair e eu fiquei supercontente ao lê-lo. Eu acredito que uma criança de onze anos, que conhece o Morc.. o Snape pelos livros, tem tendência a não gostar dele. Há muita complexidade nas motivações do personagem, que são mais fáceis para os adultos entender, ou pelo menos desconfiar (ninguém é “mau” simplesmente por ser “mau”). Lendo o primeiro e o segundo livro só dá para ter vontade de bater no Professor de Poções. Mas, à medida que sua história vai sendo revelada, e temos conhecimento do papel dele... Ainda dá vontade de dar um soco, só que com menos força! (hehehe!). Não sabe como me controlei para não passar em cada loja do Beco Diagonal! Mas, oportunidade é que não vai faltar para voltar lá e dar uma olhada com calma. Também AMO a Molly! O Ford Anglia: o filme dois é o preferido das crianças por causa dele – achei que uma criança de onze anos iria querer ir nele (bem... eu não tenho mais onze anos, mas tb queria! Hehehe!). Beijos, e obrigada pelos seus comentários longos (adoro eles!).

KIKA: Calma, demorei, mas postei, viu? Que bom que vc apareceu. Estou com saudades das nossas conversas pelo MSN. Beijão!

DARLA VON KÖRPER: Ai, que bom! Meu medo era que o capítulo fosse “sofrido”. Não sei... Acho que era porque eu queria falar um monte de coisas, mas iria ficar muito grande. E também porque não tinha como passar para outras coisas sem falar daquilo primeiro, e era tanta coisa! A Mel é indignada com a forma como o Snape trata as pessoas. E reagiu a isto. Deve ter sido um susto e tanto, tadinha... Mas ela o enfrentou como gente grande (que orgulho da cria, hehehe!).

BERNARDO: É... O Morcegão não está em alta. Hehehe! Se ele não fizer um esforço para ficar um pouco mais “gente”... E, quanto à ligação com HP e o Retorno das Trevas, da Sally Owens, como pode notar, foi maior ainda neste capítulo.

CAROLZINHA: É que eu tentei voltar a ter onze anos e imaginei como seria me deparar com a Plataforma 9 e ¾ , e com um trem vermelho e preto nela! Foi inevitável ouvir aquela musiquinha (como a Mel disse) durante toda esta parte. O Harry está muito charmoso adulto, não? Hehehe! A Mel não teve saída no Beco Diagonal: com um feitiço inibitório trabalhando e com os tios a vigiando, teve que se comportar direitinho mesmo! (hehehe!). O Hugh Grant teve que aparecer neste capítulo (nem que fosse mencionado) por duas razões: descrever a casa da Ana e do Carlinhos, e também porque assisti recentemente a um filme em que ele fazia o papel de Primeiro Ministro, e dizia as razões do porque a Inglaterra não precisava se rebaixar para os EUA, finalizando o discurso com um: “Nós temos Harry Potter!” – sendo muito aplaudido nesta parte. O Alan Rickman também estava nele, e filmaram o ator nesta parte. Para nós, fãs, ficou o máximo!

TRINITY SKYWALKER: Menina, se eu me deixasse levar... Seria um capítulo para cada pedacinho do Ministério, do Beco Diagonal, do Expresso de Hogwarts, enfim! Sabe, tento reproduzir o que senti quando li os livros. Eu me pego, muitas vezes, respondendo aos diálogos, fazendo piadinhas das situações... Claro as melhores são aquelas que a gente sabe porque leu os livros né? “Privilégio de leitor”. Hehehe! Por exemplo, quando a Mel diz “Eu já vi esse filme”, ou “Juro que estou ouvindo aquela musiquinha”. Todo mundo está falando que o Harry ficou um charme... Hehehe! Também, salvando a “mocinha” do “bandido”... O Siriusinho não é fofo? Só de lembrar de quem ele é filho – daquele casal que custou tanto para ficar junto – dá vontade de encher ele de beijos também! Então temos duplo motivo para apertar ele feito a Felícia dos desenhos, como diria a Sally: ele É fofo, e É filho do Rony e da Mione! Isso mesmo, ler a sua fic me deu várias idéias sobre como trabalhar o Snape. Ele está fantástico lá (me surpreendo como vc captou bem o personagem). Ainda não tive oportunidade de mostrar isso aqui – mas as idéias já estão nascendo. “1984”: menina, eu estou até hoje com trauma dele (hihi). Mas é claro que concordo que é leitura obrigatória! Sim, o 5 e o 6 lembram ele mesmo né? Obrigada pelo comentário – são sempre ótimos!

GRAZY DSM: Me identifiquei! Você “entra” na história a ponto de ficar gesticulando? Eu tenho essa mania, também pareço doida quando estou lendo. E quanto mais faço isso, mais estou gostando da leitura. É como um “termômetro”, medindo o nível de quanto estou absorta na história. Acredite, eu fico toda boba quando vejo o seu nome entre os comentários também. Já me acostumei com eles. Agora que virou rotina, vc não pode mais parar de comentar, viu? Hehehe!

BRUNA1822: 1822? Proclamação da Independência? Hehehe! Bruna, se tem uma coisa que me irrita em um livro, são grandes mistérios que se “arrastam” por toda a trama, e só se resolvem no final. Por isso, trato de fazer “pequenos mistérios” que surgem e se solucionam rapidamente – como na vida. Do ponto de vista de quem lê tudo de uma vez só pode parecer precipitado. Mas para quem acompanha capítulo após capítulo, essa “mini-aventura” contida em cada um deles é recompensadora. Por isso, já vou avisando que os únicos mistérios que ficam sem se revelar durante muito tempo são justamente os relacionados com os segredos dos fundadores. Sim, li o seu comentário lá no SS. Concordo e discordo com ele ao mesmo tempo. Concordo quando diz que tudo sempre acaba bem: verdade. Não sou fã dos fins trágicos. Veja bem o que eu disse: ACABA bem. Porque nem sempre as coisas dão certo. O importante é que, quando algo dá errado, as personagens não ficam paradas esperando que a solução caia milagrosamente do céu. Elas se mechem, e não descansam até que “dê certo” (Arg, eu não sou fã da Escola Romântica: desgraças acontecendo e donzelas se “sacrificando”. Ou do lado mais pessimista do Realismo... Não mesmo!). Quanto à Ana não ter defeitos, acho que você se equivocou. Eu nunca disse que ela era mais forte que o trio. E ela nunca se mostrou assim. Ana é a forma que eu encontrei de mostrar com um trouxa pode resolver os conflitos sem recorrer à magia. Eu disse que ela “se identificava” com um aspecto de cada um. Quando a gente se “identifica” com alguém, quer dizer que alguma coisa na vida dessa pessoa é parecida com a nossa. Não quer dizer que somos “iguais” – seria até ilógico pensar assim: ninguém é igual. Eu me identifiquei com o jeito irônico de escrever do Machado de Assis quando tinha 11 anos, mas isso não quer dizer que eu escreva tão maravilhosamente como ele (quem me dera!). Quanto a “1984”, já comentei lá atrás. Sem dúvida, um ótimo livro, nem preciso repetir (hehe!). Não esquenta. Eu não ligo que critiquem a fic, só realmente não concordei com vc quanto à Ana. Para mim, ela é bem normal, não excedeu em nada ninguém, inclusive tendo que ser salva pelos outros diversas vezes. De qualquer forma, é bom saber que “tenho um bom vocabulário”, Hehehe! Ai, meu Mérlin, como escrevi! Desculpa! Se deixar, faço um tratado... Beijos!

SALLY OWENS: Que bom que gostou! Sabe como sua opinião é importante para mim. Oh, céus! Outra caída pela cena do Harry chegando... Estou começando a achar que a minha melhor qualidade é transformar os personagens harrypotterianos em galãs! E olha que não é proposital! Hehehehe! Ah, não mostrei, mas, a Mel já teve bastante oportunidade de apertar e morder o Siriusinho! O bebê deve até mesmo estar traumatizado! Está certíssima quanto ao Snape: ser inocentado pelo Ministério não faz dele um “raiozinho de sol”. Fazer isso com o Snape é descaracterizar o personagem. Ao mesmo tempo, acho que ele tem muitas coisas escondidas ainda (depois eu te conto algumas idéias que tive, inclusive).

AISHA: Adoro quando você comenta! Bem... Junte uma menina muito curiosa e um departamento cheios de mistérios... e é isso o que dá! Como diz a Tonks: “A palavra ‘mistério’ foi demais para você, não é?” Hehehe! Ah, se muita coisa maçônica , é por um motivo: eu ADORO História! Não sou nenhuma especialista em sociedades secretas, mas sou fascinada por elas desde criança. Da mesma forma como o estudo da Igreja Católica te dá um quadro de como passamos do pensamento clássico para o medieval; o estudo dos Templários te leva à queda da Idade Média; a dos Iluminatis a ascensão do pensamento livre de idéias religiosas da Idade Moderna; e a com os Maçons, temos um raio-x da contemporaneidade. Fora de que sou apaixonada por histórias que os envolvam! Ai, falei demais de novo! (dão corda para a Belzinha, dão: é nisso que acontece).

BRUNINHA: Ô, amiguinha, obrigada por me agüentar aquele dia. Eu tinha certeza que o pessoal iria achar o capítulo bem “mais ou menos”... É um “capítulo ponte”, e isso pode cansar o pessoal, principalmente quem está acompanhando capítulo por capítulo... AH! Outra caída pelo Harry! (hihi) Meninas, vocês estão muito carentes! *brincadeirinha*. É exatamente isso que eu queria mostrar Bruninha: essa nossa vontade de transitar entre as lojas do Beco Diagonal, entrar nesse lugar mágico que a JK criou (até parece que a gente já andou por lá, né? De tão familiar que as coisas são). Tudo o que eu posso dizer é que não vou esquecer do Lipe. Mas tenha calma, tudo a seu tempo! Espero que tenha gostado deste capítulo também. Brigadão, mais uma vez.

BRUXICCA: Fico superfeliz quando vejo seus comentários. A gente fica batendo papo pelo MSN, traçando frases em latim... (hihi: isso mesmo gente, quem escreve sobre bruxos que dizem feitiços antiqüíssimos, e sobre cavaleiros medievais... tem que se virar no latim... nem que seja com um dicionário, só para fazer de conta que sabe! Hihi!). Que bom que está gostando. Valeu!


GENTE! Amei os comentários! Valeu mesmo. Obrigado mesmo para aqueles que não comentam, e lêem silenciosamente.

E, quem quiser... Já sabem: comentem! Os comentários estimulam a gente a escrever.

Brigadão, e até o próximo capítulo.

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