"O Preço da Pressa"
Cap. 6 O preço da pressa
A manhã estava linda, o céu brilhava no Salão Principal e Severo quase não tomava o mingau de aveia. Remexia-o com repulsa, seu estômago revirando diante daquela papa cremosa.Não conseguiu olhar para a mesa da Grifinória em nenhum momento.
Não acreditava no quão próximo emocionalmente ficara daquela garota ruiva, que além de ser da casa rival da sua, era uma sangue-ruim.Tentou alimentar seu ódio por ela, mas não tinha tanta certeza se a odiava mesmo. Só sabia que queria sua distância.
Ninguém nunca falou daquele jeito com ele, tão...Natural. “Depois o estranho sou eu...” pensava ele contrariado. A menina assumira uma pose de ofendida desde o dia anterior pelo que parecia, pois ao se esbarrarem indo para o café da manhã ela simplesmente evitou olhar na direção dele ao se desculpar.Se bem que não soube como decifrar aquele murmúrio, algo como “tsculp”.
Snape ainda estava traumatizado demais por ter sido tão amigável com a garota e preferia não pensar no dia anterior, que lhe despertou tantas emoções, coisa que ele repudiava, devido à fama de insensível que ele queria manter.Queria esquecer que agira como um adolescente bruxo normal.Que se interessara “Droga eu não me interessei!” por uma possível “colega!” amiga.Lutava contra si mesmo, mas ele estava acostumado a reprimir a voz de seu coração idiota. A vida lhe ensinou muito bem essa lição. “Emoções são para fracos...”
Planejou estudar o dia todo, afinal os NOM’s seriam no dia seguinte e agora pensava o quão idiota foi em ter ido àquela festa em vez de se preparar. Tudo bem, ele estava bem preparado, mas não queria admitir.
Ele pensava em qual matéria revisaria primeiro enquanto andava para o dia claro lá fora, segurando sua mochila velha e desgastada devido ao peso de muitos anos carregando livros.Sentou-se à sombra do carvalho que na noite anterior observara seu reflexo na água do lago. O sol fresco deixava o lago calmo bem bonito e brilhante, faiscando os olhos de quem o olhasse por muito tempo.
Severo respirou fundo e começou a abrir a mochila, um pouco desanimado.Tinha pegado o primeiro livro: Transfigurações, e suas anotações, quando alguém parou à sua frente.
Lílian Evans? Não. Belatriz Lestrange.
Ela o olhava com uma certa arrogância, medindo-o dos pés à cabeça.Os cabelos negros e longos soltos voando, e uma mechinha enrolada nas pontas dos dedos de sua mão direita.Uma setimanista bem bonita. Seria mais se não fosse a maldade escancarada em cada traço de seu rosto.
-O sério Severo Snape.- ela disse zombeteira.
-Lestrange. – ele disse monotamente em tom aborrecido levantando a cabeça para ela e voltando-se para seus pergaminhos logo em seguida.
A garota olhou com desdém a cabeça abaixada de Snape e encostou-se no tronco da árvore, com uma expressão maliciosa no rosto.
-Uma coruja verde me contou que você anda se encontrando com uma sangue-ruim...
Ela olhou para Severo de soslaio tentando ver se o que disse surtira algum efeito ou reação.Como ele não dissesse nada, só suspirasse como se estivesse passando por grande tédio, ela continuou.
-Ai que maaaal gosto...Tantas sonserinas por aí...De sangue mais...Puro...Se é que me entende...E ainda...
-Acho melhor visitar a Madame Pomfrey, conversar com corujas que ainda são verdes não é coisa de um sangue-puro, se é que me entende. – O garoto ironizou ao corta-la fazendo a menina bufar contrariada.Ela tentou sorrir, mas o que era para ser um sorriso se transformou num esgar estranho, uma careta cômica.
-Eu trataria melhor pessoas das verdadeiras famílias bruxas, se fosse você...E sairia com pessoas mais dignas...ah, me esqueci...Você é um frouxo que tenta ser menos sentimental do que realmente é...
Snape se levantou num salto e puxou o braço da menina.Os olhos negros de ambos perfurando-se.Ele podia sentir a respiração ofegante e triunfal da menina.
-Pessoas como...Você?- ele indagou olhando para os lábios da viborazinha e chegando bem perto deles.
Belatriz acentiu levemente com os olhos e ofereceu seus lábios fechando os olhos.Severo olhou para aquela garota patética e pensou na cena que seria se alguém visse.
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Naquele momento, Lílian estava indo ao lago com mais duas amigas mergulhar os pés e fazer algumas anotações para a prova do dia seguinte, quando percebeu o que se passava debaixo do carvalho.Suas amigas conversavam animadamente quando ela parou num baque, fazendo com que elas trombassem nela.
-O que foi Lily?- perguntou Sheryl desamarrotando a saia.
-Bom é que...eu mudei de idéia que tal irmos amanhã para o lago e hoje vamos à...à...hum...biblioteca!Isso! Claro porque eu não mostrei a vocês como se faz aquele feitiço que com certeza vai cair na prova!-ela disse muito vermelha, pois detestava mentiras, pondo-se na frente das amigas.
-Lily, ultimamente você está muito estranha.- Disse Kaitlyn, enquanto seguia Lílian de volta à porta do castelo. Nem Lílian entendia porque não queria ficar mais lá e que sensação sentiu ao presenciar aquela coisa ridícula. “Sonserinos...hunft! ”
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Snape contemplava por aqueles segundos o rosto da menina agarrada a ele.Sorri enojado e a empurra para longe dele, fazendo-a abrir os olhos, assustada com o impulso.
-Você é patética Lestrange.Até que serviria para me divertir algum dia desses...- ele disse a fitando com fingido interesse.Belatriz o olhava com ódio, alucinada.Nunca fora rejeitada.E logo por quem...Aquele esquisito e misterioso quintanista, de quem ela fazia piadinhas constantes com suas colegas.
-Como você se diverte com aquela suja, namorada do Potter traidor do sangue?- provocou a menina, o sarcasmo e o ódio estampados em cada palavra.
-Eu não ando com...gentinha. Vá embora Lestrange, porque não quero ser obrigado a dizer que você é tão suja quanto eles.- ele disse num sussurro gélido, arrumando os pergaminhos espalhados na grama e voltando a se sentar.
“ Só eu posso chamar aquela ruiva de sangue-ruim...”
Snape pensava furiosamente no quanto aquilo seria péssimo se a escola ficasse sabendo por meios Lestrange de comunicação, mas ao mesmo tempo não ligava a mínima...afinal nunca havia ligado mesmo.Nunca foi popular, nunca teve amigos, nunca agiu socialmente...nunca nada disso fez falta.Só aprendeu a aproveitar o que as pessoas lhe ofereciam, porém nem isso conseguiu quando Belatriz chegou insinuante.Ele não entendia o que ela queria com ele.
No fim da tarde, depois de passar o dia revisando matérias, Snape decidiu andar pelos arredores do castelo, ele gostava da brisa que passava nessa hora do dia. Parou diante do campo de quadribol novamente e dessa vez quem estava sentada no meio dele era Lílian Evans, escrevendo furiosamente.Como que sentindo a presença de alguém ela se virou bruscamente.
-Ah, é você.
Severo a ignorou, não disse nada só continuou contemplando o campo verde, as arquibancadas, o céu escurecendo lentamente.
-Vi você hoje com Belatriz Lestrange.Que dupla macabra.- ela ironizou continuando a escrever, sentada de costas pra ele.- Sabe vocês são iguaizinhos.Odeiam pessoas diferentes de vocês, são estúpidos e frios.
Severo sentiu uma fincada dolorida no peito e ligou o sintoma a um possível crescimento do ódio que nutria dentro de si.O que aquela louca estava falando?Será que era verdade? Ele se julgava tão superior, quando na verdade era realmente como Belatriz?
-Ainda não comecei o festival de ofensas Evans.- ele disse num sussurro forte, sibiloso e audível.A menina levantou a cabeça, como se percebesse só naquele momento o que havia dito.Levantou-se de um salto.
-Severo me desculpe não sei o que deu em mim, eu...
-Você vai descobrir que eu não perdôo tão fácil assim.E não me atingiu...precisaria de duas sangues-ruins para tentar.Não se dirija a mim intimamente Evans, não tenho nada com gente de sua laia.- dizendo isso ele se virou calmamente, deixando uma Lílian totalmente apalermada.A menina balançou a cabeça se repreendendo e um dos pergaminhos em que escrevia voou curtamente até sua perna.Ela o levou até os olhos e leu um pedaço do poema que vinha escrevendo.
“Como lâminas ou flores
Palavras das bocas saem
Os valores e tradições por terra caem
Não há volta, há preço,
Há pressa.”
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