Um amor arranjado



No dia seguinte, Draco chegou como sempre cedo na classe, claro que não tão cedo quanto Hermione costumava chegar... Para seu espanto, não era ela que estava lá sentada, mas Harry.
- Bom dia Potter.- cumprimentou sem ânimo.
- Bom dia Malfoy. Como foi o encontro ontem?
Draco deu aquele seu sorriso de lado debochado. O cara era um perdedor mesmo, chamava um almoço de encontro! Mas não quis contrariar.
- Muito bom Potter.- e sentou-se, fingindo ler um livro.
- Deve ter sido mesmo, para Hermione tão ter chegado até agora.
Ops, o radar de Draco para tramóias disparou. Por que o Cicatriz achava que o atraso de Hermione se devia a ele? A não ser... que aquela guria ouviu um dos seus conselhos, e tentou provocar ciúmes no Potter...Se ela tivesse me avisado, eu teria me atrasado também... O sorriso de deboche transformou-se em um sorriso malicioso, e Harry não deixou de perceber isso.
- Escuta Malfoy, não quero voltar a brigar com você como em Hogwarts. Mas fique sabendo, que se fizer algo para magoar a Mione...
- Relaxa Potter.- interrompeu o loiro. – Não vou magoar a “Mione”. Ela já é grandinha sabia? Sabe se cuidar muito bem.
- Eu to avisando Malfoy. Hermione é minha melhor amiga, se você fizer ela derramar uma única lágrima...

- Bom dia rapazes.

Hermione tinha olheiras, e estava visivelmente cansada. Ver os dois juntos, com este clima nervoso não a ajudou. Será que o Harry havia comentado algo sobre o encontro que ela havia dito que teve com o Malfoy ontem? E claro que o loiro ia negar! Por Merlim...- pensou- se foi isso eu nunca mais vou poder olhar na cara de nenhum dos dois.

- Oi Mione. – respondeu Harry com um sorriso, que já aliviou a garota.
Ele não deve ter dito nada ainda, pensou ela.

Draco virou um simples oi, e o olhar deles se encontrou. Hermione estava muito sem graça pelo que tinha falado ontem sobre os dois, nem sabia direito porque fez aquilo.
- Já tomou café? – perguntou incerta para o loiro, sem saber se o chamava de Malfoy ou Draco, por causa de Harry.
Malfoy a encarou com uma expressão divertida. Então estava certo, a sabe-tudo o estava usando para fazer ciúmes no Cicatriz... Óbvio que ele já havia tomada café na mansão, mas quis saber como ela ia contar que havia inventado histórias sobre os dois...
- Não.
Ele poderia ter completado a frase com um convite, mas preferiu não facilitar as coisas para ela. Estava se divertindo com aquilo.
- Vo, você quer ir agora?
Hermione estava muito vermelha, e olhava para o chão. Potter estava estático. Nunca a havia visto ficar tão sem graça diante de um homem, mesmo que estivesse interessada nele.
Draco jogou o cabelo para trás com aquela sua displicência, sorriu de lado e respondeu:
- Vamos.

Os dois saíram da sala. Harry fechou de novo a cara. Ele nunca havia deixado Hermione de lado, mesmo quando estava gostando de alguma garota. Estava realmente se sentindo abandonado.

Granger e Malfoy andavam lado a lado, olhando para frente. Ela estava muito vermelha, sem saber como contar o que tinha feito a Draco. Ele por sua vez, estava gostando muito daquilo. Era realmente divertido ver o embaraço da moça.
Chegaram no restaurante, sentaram e fizeram o pedido. Hermione continuava olhando para o chão.
- Muito bem Granger. – Draco resolveu começar, porque ainda queria assistir aula naquele dia.- O Potter me disse.
- Ele, ele disse o que?
O rapaz riu debochado de novo, o que a fez olhar para a toalha.
- Vejo que resolveu ouvir meu conselho. Confesso que não gosto de ser envolvido em dramas pessoais sem nem ao menos ser consultado, mas não precisa ficar assim também. Ta certo que eu achava que você teria alguém mais próximo para ajuda-la nisso, como o Weasley, por exemplo.- e ele completou com uma cara de desdém.- Mas você realmente é uma bruxa muito inteligente. Afinal, já que é apara fazer ciúmes no Potter, que seja com alguém melhor!
Ele riu da própria falta de modéstia, enquanto olhava a expressão confusa dela.
Muito bem, então ele não ficou bravo. Menos uma coisa.- pensava a menina, enquanto tamborilava os dedos na borda da xícara. Já podia dar esta história por encerrada.

Draco ficou esperando ela dizer algo, em vão. Ela continuou quieta, remoendo a desilusão do dia anterior. Cansado ele resolveu falar.

- Bom, não sei o que você falou pro Potter, mas funcionou. Hoje de manhã ele estava todo nervoso, e até me ameaçou.
Mione suspirou.
- Não deu certo não.
- Como não? Ele estava me esperando na sala, e disse que se eu fizesse qualquer coisa para magoa-la...
A moça o interrompeu, e contou toda a conversa que tivera com o amigo no dia anterior. Malfoy ouviu, segurando-se para não rir. Eram perfeitos um para o outro, um casal de otários! Ele queria tanto protege-la, que não percebia que era ele mesmo quem a machucava! E ela, bom era uma tonta só por gostar de um panaca como aquele...
- Eu acho que não adianta Malfoy. Ele me vê como amiga, e fico feliz por isso. É bobagem esperar qualquer outra coisa além. De qualquer jeito, eu agradeço por tudo o que você fez tentando me ajudar.

Malfoy olhou atentamente para ela. Será possível que ela era tão estupidamente apaixonada para se sujeitar a ficar fazendo papel da amiguinha consoladora, sem nem ao menos brigar para chamar o cara para a realidade? Bom, tudo bem, conforme-se Draco- disse para si.- não se pode fazer nada quando uma pessoa nasce para ser perdedora.
- Mas e você, como está?- ela perguntou, tentando sorrir.
- Eu?- ele estava visivelmente surpreso.
- É sim você. Não tem mais ninguém nesta mesa. – agora ela estava realmente sorrindo.- tem aprontado muito com aquela sua velha turma de idiotas?
Ele bebeu o café da xícara, a segurando com as duas mãos.

- E você acha que depois do que aconteceu eu posso cruzar com qualquer um deles?

Ela percebeu a tolice que havia dito. Era óbvio que depois de Malfoy ter dado as costas para Voldemort e ter matado o próprio pai não podia mais conviver com ninguém da sua velha turma da escola. Eram todos servidores das trevas, ainda que até agora ninguém tivesse conseguido provar nada contra eles.
Pensou na solidão do rapaz a sua frente. Já não tinha família, nem amigos. Não era de se estranhar que saísse com uma mulher depois da outra. Devia ter uma ânsia enorme por companhia. Ela mesma não sabia o que seria dela sem os pais, sem Harry, Ron, Gina, todos os Weasley, e tantos outros amigos que haviam entrado em seu coração. Está certo que ele estava colhendo muito do ódio que plantou no passado, mas agora ele parecia sinceramente outra pessoa.
- Sabe, você é muito forte. Nunca pensei que diria isso, mas acho que te admiro...
Draco engasgou com o café. Tinha ouvido certo? Para quebrar o clima açucarado que tinha ficado no ar com aquela frase, resolveu irrita-la.
- Sei. Sempre desconfiei que tinha uma quedinha por mim. Mas quem não tem não é?
Ela sacudiu a cabeça.
- Seu idiota.
- Assim está melhor. Soa muito mais natural.
-
Ambos sorriram, terminaram o café e estavam voltando para a sala conversando. Quando chegaram na porta, Hermione parou. Harry e Marian estavam sentados um ao lado do outro, e conversavam muito animadamente. Mas muito animadamente mesmo. Draco olhou e sacudiu a cabeça.Além de Marian estar simplesmente deslumbrante, enquanto Hermione ostentava olheiras fundas e aspecto meio doentio, o Potter estava literalmente babando na Marian. Dava a impressão de que se Voldemort ressuscitasse ali na frente dele, dançando a ula, ele não ia nem notar.
Percebeu que Hermione estava respirando fundo, tomando coragem para entrar na sala.
- Sem chance do amor próprio da Granger sobreviver a isso. A menos que eu faça alguma coisa.- disse para si mesmo.

Ele também respirou fundo, sabendo que ia se odiar mais tarde por fazer aquilo. Quando a Granger deu o primeiro passo para dentro da sala, ele a puxou pelo braço para trás, até o outro lado do corredor, que tinha uma enorme janela.
- Tudo bem, eu topo te ajudar com o Potter.
- Esquece Malfoy. Ele não tem ciúmes, já tentei, preciso esquecer esta história...
- Você é que é tapada pra estas coisas. Deixa um profissional cuidar disso.
Hermione já ia protestar pelo tapada, mas o rapaz tomou os livros que ela carregava, e passou o outro braço pelo seu ombro, dirigindo-se a sala.Ela sentiu um arrepio na nuca quando ele disse no seu ouvido.
- E é Draco.
Eles entraram, todos automaticamente virando-se para olha-los. Mesmo com a mudança de Malfoy, ninguém esperava ver algum dia os dois juntos. Afinal, ainda era um Malfoy com uma “sangue-ruim”. E também, Malfoy já havia saído com diversas garotas daquela sala, mas nunca quis ser visto em público com nenhuma delas. E agora lá estava ele, naquele ar desarrumado-chique que tinha adotado desde que o pai morreu, dando total atenção a “sangue-sujo”.
Draco ignorou os olhares e foi com Hermione para a primeira fileira de carteiras, ponto estratégico: de lá poderiam ser vistos, mas a moça não ia poder ver o Potter com a talzinha.
- Estão todos olhando...
- Bom, é o preço que se paga por andar comigo. Pelo menos ninguém vai te enviar corujas com azarações, como fizeram naquela vez em Hogwarts, quando achavam que você estava com o garanhão ali atrás.
- Ei! Como você sabe desta história?
Draco piscou.
- Foi mal, mas todo mundo soube. E eu ri a beça disso.
Hermione emburrou, mas ele riu. Havia sido muito engraçado mesmo ela saindo correndo direto para a enfermaria.
Logo o professor chegou, e eles passaram a prestar atenção a aula.
Quando a aula acabou todos estavam se preparando para ir embora, já que não tinham aulas à tarde naquele dia. Malfoy olhou por cima do ombro, e viu Potter se despedindo de Marian. Mesmo estando um pouco afastado, pode perceber quando ele corou ao pegar na mão dela.
No mínimo virgem- debochou Draco. Bom, vou fazer um favor para ele, e mostrar como se despede de uma garota com estilo.

- Vai aparatar para sua casa agora?- perguntou para Hermione.
- Sim. Tenho que estudar, acabou acumulando matéria de ontem...
- Está bem. – ele cortou enfadado.- Quer se despedir do Potter?

Ela olhou e viu que ele ainda segurava a mão de Marian.

- Não quero não.
- Qual é. Grita tchau pelo menos, para ele não poder dizer que você esqueceu dele.

Ela virou contrariada e gritou um “tchau Harry”, que foi respondido com um “tchau” de meia voz. Ela ficou tão brava que já ia sair correndo, quando Malfoy a segurou.

- Ei, não se despediu de mim.
- Desculpe, tchau Mal..., Draco.
Ele riu e a puxou para si. Encostou os lábios nos dela suavemente. Tinha que calcular direito o beijo. Nem afoito demais, para não dar na cara que estavam dando um showzinho, nem calmo demais, senão logo estariam espalhando por aí que ele estava apaixonado e essas coisas.
Ela se assustou, mas não reagiu. Correspondeu ao beijo, ainda que deixando os ombros e as costas duras de tensão. Quando ele a soltou, pegou seus livros e se dirigiu para a porta.
- Tchau Hermione.
- Tchau Draco.
Malfoy pegou suas coisas e saiu. Vendo de rabo de olho as expressões perplexas, sobretudo a de Potter. Bom, - pensou - pelo menos agora ele sabe que não se despede de uma mulher pegando na mão dela. E riu.
Hermione chegou em casa, ainda tocando os lábios que Draco havia beijado. Na verdade, tinha que admitir que tinha gostado, ele beijava muito bem, mesmo sendo um beijo de mentirinha...
Ah Hermione! Vai estudar!- gritou sua consciência.

No dia seguinte, pela manhã, lá estava Hermione na classe, com uma aparência melhor do que a do dia anterior, já que havia dormido bem. Malfoy chegou no seu horário de sempre, e sorriu para ela. Aproximou-se e encostou os lábios levemente nos dela. Ela corou. Por que ele havia feito isso se não tinha ninguém olhando? Estava pronta para perguntar, quando ele começou a falar.
- Respondeu a questão 21? Não consegui.
Ela se esqueceu o que ia falar, e correu no seu pergaminho ver qual era pergunta 21.
Harry chegou quinze minutos depois, tinha se forçado a acordar cedo, porque queria conversar um pouco com Hermione, antes do loiro aguado chegar. Sua acara de decepção era nítida quando entrou na sala, e viu Malfoy lendo as respostas de Hermione, com a cabeça encostado no ombro dela.
- Draco! Se você copiar nunca vai aprender!
- Não quero copiar, quero só verificar se você fez certo!
- Faz-me rir!!
- Convencida!
- Chato!
Draco viu Potter parado na porta, e lascou um beijo em Hermione.
- Sou chato mas bem que você gosta!
- Harry!- Hermione cortou o clima de namoro, dizendo o nome do amigo.
Malfoy sacudiu a cabeça para os lados. Garota burra, pensou. Nunca vai fazer ele sentir ciúmes se ele achar que é mais importante que tudo. Espreguiçou-se e se levantou.
- Bom dia Potter. Vou esticar as pernas Hermione. – e saiu da sala.
Hermione ficou olhando para o Harry, sem graça.
- Vocês parecem muito bem não é?- ele perguntou.
- Bom, estamos levando. – disse ela tentando aliviar a situação.
- Estou vendo, não se desgrudam nem um minuto.
- Ah Harry, deixa disso. E aí, você também parece estar bem com a Marian.
Os olhos de Harry pareceram se iluminar.
- Vamos almoçar hoje.
- Que bom! –Hermione tentou parecer feliz pelo amigo.
- E você parece estar muito feliz.
- Estou, bem.
Os dois se aproximaram e se abraçaram. Uma abraço fraternal, de dois amigos que estavam felizes um pelo outro. Mas o abraço demorou tempo demais.
- Hermione...
- Sim Harry?
- Tenho saudades do tempo de Hogwarts sabia? De conversar com você e com o Ron até tarde na sala comunal...
- Também tenho saudades dessas coisas Harry...
De repente parece que os dois perceberam que estavam abraçados, e se soltaram.
- Que tal mandarmos uma coruja pro Ron, e marcamos alguma coisa na próxima folga dele? Podíamos ir dormir lá em casa...

Harry estava morando na antiga casa de seu padrinho Sirius.

- É uma ótima idéia Harry!
Começaram a chegar os outros alunos, e eles foram se sentar. Malfoy foi o último a chegar, quando o professor já estava na sala. Sentou-se calado ao lado de Hermione, e assim ficou até o final da aula.
- Vai almoçar com o Potter?- perguntou Draco, sem olhar para ela.
- Não, ele vai almoçar com a Marian.- Hermione se encolheu um pouco.
Malfoy suspirou.
- Vamos almoçar então?
- Não sei, acho que vou para casa.
O loiro a olhou surpreso.
- Mas inda temos aulas à tarde hoje!
- Eu sei, mas...- lágrimas rolavam pelo rosto dela.
- Ei, o que foi, por que você está chorando? Não chora, vão achar que eu é que te fiz alguma coisa!
- Eu queria que tudo fosse diferente! Queria tanto gostar dele só como amigo!.

Draco a abraçou forte, enterrando a cabeça dela no peito. Não queria que ninguém achasse que ele a tinha feito chorar. Já era suficiente as inimizades que tinha por coisas que tinha feito, não precisava levar crédito pelas besteiras do Potter. E depois, já sentia um certo carinho pela menina, não a queria chorando.
Harry percebeu que alguma coisa não ia bem, quando viu Hermione enterrar o rosto na camisa de Malfoy, já estava indo para onde eles estavam, quando os viu saindo apressados juntos.
- Se ele fez alguma coisa para ela.- rangeu os dentes Harry- eu mesmo o mato!
- Harry?- disse a moça aloirada ao seu lado. – algum problema?
- Não sei Marian, ainda não sei...

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