Mais Concessões
Antes do Amanhecer
Escrito por snarkyroxy
Traduzido por BastetAzazis
Beta-read por Ferporcel
Sumário: Em seu sétimo ano, uma descoberta tarde da noite muda as opiniões de Hermione Granger sobre muitas coisas. E sua opinião sobre Severo Snape é só uma delas.
Disclaimer: Qualquer coisa que você reconheça pertence ao talento imensurável de J. K. Rowling; eu só os pego emprestado para brincar um pouco!
* * * * * * *
Capítulo 20: Mais Concessões
Hermione recuou assustada com o homem furioso, mas Snape a seguiu, encurralando-a no canto do laboratório e arrancando o livro das mãos delas.
– Então? – ele sibilou, elevando-se sobre ela. – Estou esperando uma explicação, embora eu não consiga ver como você vai justificar isso.
Ele jogou o livro no chão, aos pés dela, e ele caiu aberto na mesma página que ela estivera lendo.
– Desculpe – ela sussurrou.
– Desculpas nem começam a amenisar isso – ele vociferou. – Meu deus, Hermione, você quer que eu confie em você, e mesmo assim, no minuto que eu dou as costas, você me desobedece deliberadamente!
Ele estava realmente assustando-a, e ela tentou se afastar dele, apenas para tê-lo agarrando-a pelos ombros num aperto forte, forçando-a contra a parede.
Seu suspiro de surpresa e medo passou despercebido enquanto, com o rosto a centímetros do dela, ele exigia:
– O que você estava procurando?
– Na- nada – ela gaguejou. – Eu ouvi um barulho e ... e vim ver o que era...
– Você acha que eu sou bobo, Hermione? – ele zombou, seus olhos pretos perfurando os dela. – Um ruído misterioso. Que conveniente! E imagino que meu livro de anotações simplemente estava aberto naquela página em particular?
Ela desviou os olhos enquanto ele sorria desdenhosamente em triunfo.
– Você quer aprender a preparar a Poção Cruciatus, Hermione? – A voz dele era suave e perigosa, e ele soltou os ombros dela, mas não se afastou. – Você quer ser a pessoa a preparar o lote que vou entregar para o Lorde das Trevas? O que vai acontecer quando ele a usar contra a Ordem, ou contra a escola? Você poderia viver consigo mesma sabendo que seus amigos morreram por causa de uma coisa que você fez, sabendo que você teve um dedo na morte deles?
Ela ofegou, lágrimas enchiam seus olhos com as imagens que as palavras dele traziam à sua mente. Ele sorriu desdenhosamente e com crueldade novamente.
– Eu achei que não.
Ele apanhou o caderno de notas e deu as costas para ela, colocando-o de volta na sua bancada, fechado.
A fúria estava clara nas linhas fortes do seu corpo quando, ainda de costas, ele disse em voz baixa:
– Eu achei, depois de tudo que lhe ensinei, que você poderia ter aceitado a minha decisão de deixar isso para lá. Parece que eu superestimei seu respeito pela minha autoridade.
Hermione fitou as costas dele, percebendo subitamente o que ela fizera. Ela preferiria que Snape tivesse gritado a ter que ouvir o desapontamento frio na voz dele. Como sempre, ela foi levada por sua curiosidade, e seu anseio por conhecimento obscurecera seu próprio julgamento e senso comum. Uma tola decisão de minuto podia destruir tudo o que se passara entre eles desde novembro.
Ela jamais considerara a possibilidade de que a recusa dele em ensinar-lhe a poção era por preocupação com o seu bem-estar. Ela achara que ele não a considerava capaz de entender o processo de preparo, ou que não estava habilitada a aprender como fazê-la já que ainda não tinha passado nos NIEMs, muito menos em qualquer outro teste para o nivel de Mestre.
– Você não vê, Hermione? – ele disse, virando-se para ela. A fúria se fora dos olhos dele, deixando apenas o desapontamento que ela ainda podia ouvir ecoando na voz dele. – Já vai ser difícil para você como está, sabendo da poção e visto os seus efeitos. Se alguma coisa acontecer aos seus amigos ou colegas da escola... Eu não poderia pedir-lhe para prepará-la, sabendo quais poderiam ser as consequências.
– Por que você simplesmente não me disse isso antes? – ela perguntou. – Todas as vezes que tentei fazer você falar sobre isso, e tudo o que consegui foi uma simples recusa. Se pelo menos eu soubesse onde você queria chegar, eu poderia ter tomado minha própria decisão.
– E qual seria a sua decisão? – ele perguntou.
– Eu consideraria como uma oportunidade de aprendizado – ela disse desafiadoramente, e lembrando-se das palavras dele semanas atrás, acrescentou: – Você mesmo disse, nem tudo que fazemos é bom ou fácil, mas alguém tem que fazer.
Ele suspirou e esfregou a base do nariz com dois dedos.
– É exatamente por isso que eu recusei.
– Por quê? – ela exigiu. – É porque eu tenho coragem suficiente para assumir tudo que você jogar para mim?
– Não! – ele gritou. – Não é coragem, sua tola. É pura idiotice! Você acha que pode dar conta de tudo, mas não pode. Você não tem idéia de como é assistir às pessoas morrerem, sabendo que alguma coisa que você fez – alguma coisa que você criou – é o motivo deles gritarem, desejando que a morte chegue logo para libertá-los da dor... – A voz dele falhou e ele virou-se de costas para ela novamente, respirando com dificuldade.
Hermione estava tremendo, mas não mais de medo. Ela estava comovida com o desespero na voz dele, e assustada por vê-lo perder o controle. Embora ela soubesse que a indiferença fria que ele mostrava com tanta frequência era apenas encenada, ela não percebera que Snape estava tão profundamente afetado pelo o que ele tinha que fazer. Foi uma tolice dela não perceber isso, mas ele sempre parecia tão calmo e controlado que era fácil não olhar além do disfarce dele.
– Eu sinto muito – ela disse novamente, colocando toda a sinceridade que podia na sua voz.
Sem olhar para ela, ele atravessou a sala até os armários de ingredientes na parede oposta. Abrindo o primeiro, começou a reoganizar as garrafas e os frascos. Ela já reconhecia, agora, a maneira que Snape usava o trabalho para se distanciar de uma situação desconfortável, e descobrira que qualquer sinal de sinceridade dirigido a ele levava a tal reação. Sem ser dissuadida, ela continuou falando, certa de que ele ainda estava escutando.
– Honestamente, eu não tive intensão de desafiá-lo, e se tivesse parado para pensar, teria percebido a estupidez dos meus atos. Eu vi o livro e fiquei tão contente que você estava usando-o. Havia alguns ingredientes no índice que não reconheci, e eu estava procurando para ver a qual poção eles pertenciam.
Ele continuou rearranjando as garrafas, e por um momento, houve apenas o som do tilintar de vidro na sala. Com um suspiro, ela atravessou o laboratório e parou ao lado dele.
– Severo – ela disse brandamente.
Ele virou a cabeça categoricamente, como se tivesse se esquecido que dera permissão para ela chamá-lo desse jeito. Ele sustentou o olhar dela com olhos cansados, e ela hesitou, incerta de como transfomar em palavras o que ela sentia que deveria ser dito.
– Eu gostaria que você tivesse me dito que estava apenas tentando me proteger – ela começou honestamente. – Talvez se eu tivesse prestado mais atenção eu teria visto suas razões de qualquer forma, e independente do que disse antes, eu admiro o que você fez. Eu não acho que sou capaz de dar conta de nada, e imagino que tenha me esquecido da gravidade da situação que estamos enfrentando. Eu só... você... você parece tão impassível na maior parte do tempo – ela concluiu inadequadamente.
– Você me acha impassível? – ele disse incrédulo.
– Bem, não agora – ela disse –, eu acho que você apenas esconde bem seus sentimentos. Mas às vezes você é tão indiferente à toda a situação.
Ele dispensou um olhar irônico para ela antes de voltar sua atenção para o armário novamente.
– Vejo que você sabe tão pouco de mim quanto eu de você.
Lembrando do bilhete de Natal dele, ela respirou fundo e disse:
– Talvez nós possamos fazer alguma coisa sobre isso.
A mão dele parou, pairando sobre a garrafa que ele estava prestes a apanhar.
– Isto é, se você ainda quiser – ela acrescentou hesitante.
Ele moveu as duas últimas garrafas da prateleira, fechou a porta do armário e virou-se para encará-la.
– Eu diria que a pergunta, visto que agora você entende os perigos que enfrenta ao se associar comigo, é se você ainda quer – ele disse, olhos escuros perfurando os dela.
Hermione piscou, abalada pela leve incerteza no tom dele.
– Eu estou aqui, não estou? – ela respondeu.
– Realmente está – ele murmurou, parecendo suspirar enquanto falava.
Houve um momento de silêncio onde os dois se olharam, e Hermione percebeu que não tinha a mínima idéia do que fazer ou dizer, agora que a discussão parecia terminada. Era estranho, pensou, a facilidade com que ela conseguia encontrar sua voz quando eles discutiam, embora agora encontrava-se sem palavras, incerta de como lidar com o lado mais suave do mestre de Poções.
Quebrando o olhar dela, ele olhou de relance sobre o ombro dela e franziu a testa. Ela se virou para ver os vestígios dos seus ingredientes inacabados espalhados pela bancada.
– Desculpe-me – ela se justificou, apressando-se até a bancada para terminar o que estivera fazendo. Ele a seguiu, olhando de relance para o livro-texto aberto.
– Poção para Ressaca?
– Eu achei que você podia gostar – ela disse levemente.
– Eu não bebi a garrafa inteira, sabe – ele disse sombriamente.
– Eu não disse isso – ela replicou –, mas não vai machucar se você for para o encontro da Ordem com a cabeça fresca.
Snape xingou baixinho, olhando para o relógio sobre sua escrivaninha.
– Eu tinha me esquecido disso.
Ele deu a volta até o outro lado da bancada, pegou uma faca e um punhado de raízes de margarida que estavam por perto, e Hermione percebeu que ele iria ajudá-la a terminar a poção.
Ela sorriu consigo mesma, mas ficou séria rapidamente assim que viu Snape apoiando-se devagar num banco, retraindo-se um pouco enquanto se sentava.
Ele percebeu seu olhar de preocupação e disse em poucas palavras:
– Não é nada.
– É óbvio que é alguma coisa – ela contrariou. – Você não pode andar por aí com costelas quebradas, e não é o tipo de ferimento que vai se curar sozinho facilmente.
Ele estreitou os olhos.
– Como você...
– O que você esperava que eu fizesse? – ela exclamou. – Que ignorasse você desmaiado no sofá com o rosto todo roxo? Você poderia estar ferido gravemente, pelo que eu sabia, sem mencionar as explicações que você teria que dar se aparecesse no encontro da Ordem com uma marca de sapato no pescoço!
Sem palavras, ele empurrou as raízes de margarida de lado, levantou, e saiu impetuosamente do laboratório. Ela o seguiu depois de um instante, ouvindo a porta do banheiro se abrir estrondosamente assim que entrou na sala de estar.
Ela foi até a porta do quarto e então parou, indecisa, mordendo os lábios. Estava aberta, mas não era necessariamente um convite. Da última vez em que ela se aventurara tão longe no domínio pessoal dele, ele estivera muito fraco para protestar.
Endurendo-se para enfrentar uma reprimenda, ela pisou no quarto e seguiu para o banheiro. A porta também estava aberta, e ela pode ver a sombra dele jogada pelo chão pela luz das tochas na parede.
Parando no limite do chão de mármore branco, ela observou Snape examinando o pescoço no espelho acima da pia. Ele olhou de relance para o reflexo dela atrás dele e limpou a garganta.
– Está melhor que antes – ele murmurou como forma de agradecimento.
– Eu imagino que ele não ficou impressionado com você, então – ela disse, enquanto ele inspecionava o lado do rosto, fazendo uma leve careta enquanto sondava a testa.
– Pelo contrário – o mestre de Poções disse, ganhando um olhar confuso de Hermione. – Ele ficou muito feliz ao ouvir da sua gratidão por eu ter salvado a vida dos seus pais – ele disse, suas últimas palavras foram levemente silenciadas quando jogou uma mão cheia de água no rosto.
– Eu não entendo – ela disse enquanto ele murmurava um feitiço para se secar. – Se ele ficou contente, por que ele o machucou?
– Ah, isso – ele disse, virando-se e encostando-se contra a pia com os braços cruzados. – Isso foi trabalho de um companheiro Comensal da Morte que não gostou do meu ato de desaparecimento na sua casa na noite passada.
– Malfoy – ela disse com certeza, perguntando-se se a contusão no rosto de Snape viera da ponta dura de metal da bengala que ele sempre carregava. – Se Vol... desculpe, ele estava contente, por que deixou Malfoy fazer isso mesmo assim?
Snape suspirou.
– Independente do meu "plano" ter funcionado melhor que o de Malfoy teria, o fato importante é que eu ainda assim desobedeci o Lorde das Trevas e acabei ferindo outros Comensais da Morte com isso.
– Acho que escapou melhor se comparado com a última vez – ela refletiu, e ele riu amargamente.
– A Cruciatus, maldição ou poção, teria sido bem-vinda nessas circunstâncias – ele disse brandamente.
– O quê? – ela disse. Depois da última vez, ela não podia imaginar que ele jamais fosse querer passar pela dor da Poção Cruciatus novamente.
– O Lorde das Trevas instruiu Malfoy especificamente para não me azarar, para que eu ainda pudesse preparar a poção e entregá-la na próxima noite de sábado. Sem mais atraso, sem mais desculpas.
– O que ele vai fazer com ela? – ela perguntou temerosa.
– Essa é a pior parte – ele disse desapontado. – Eu ainda não sei.
– Você não pode entregá-la sem saber o que ele planeja fazer com ela – ela disse, alarmada.
– Eu não tenho escolha, Hemione – ele lamentou. – É isso ou perder minha posição como espião, e Dumbledore já decidiu que não podemos nos dar ao luxo de perder as informações internas que eu ainda consigo.
Hermione olhou fixamente para Snape.
– O Dumbledore está louco?
– É bem possível – Snape bufou. – O Lorde das Trevas não é o único me escondendo coisas. Eu não tenho a menor idéia do que o Diretor planeja conseguir com isso também.
Parecia que ele falararia mais, mas ele pareceu mudar de idéia e, ao invés disso, disse:
– Talvez nós devamos voltar ao laboratório, se você deseja terminar a poção antes que a reunião comece.
Ela ainda estava parada no batente da porta, e como ela não se moveu imediatamente para deixá-lo passar, ele levantou uma sobrancelha expectante. Com a conversa voltando à poção, Snape quase conseguira distraí-la da razão pela qual ela o seguira até o banheiro em primeiro lugar.
Quase.
– Boa tentativa – ela disse –, mas você não se esqueceu de uma coisa?
Ele mal a observava com os olhos entreabertos, e ela extendeu uma mão, cutucando-o atrevidamente nas costelas.
Ele afastou-se rapidamente do toque dela, mas não antes que um silvo de dor escapasse dos seus lábios.
– Você vai me deixar arrumar isso? – ela perguntou.
– Você vai me dar escolha? – ele devolveu com um lampejo de irritação nos olhos.
– Provavelmente não – ela disse com um ar superior, e ele bufou.
– Pense bem, Hermione. Não é você quem tem autoridade aqui.
– Olhe, eu não vejo qual o problema! – ela exclamou, exasperada. – É um feitiço simples que leva apenas minutos. O que você ganha em sentir um desconforto desnecessario quando eu posso curá-lo?
– Primeiro – ele replicou –, você não é uma medibruxa, Hermione, nem mesmo uma em treinamento. Segundo, o desconforto é insignificante e não vale o incômodo do feitiço...
– Não é um incômodo – ela o cortou.
– E terceiro – ele disse, levantando a mão para impedi-la de interrompê-lo novamente –, eu acho que já lhe disse antes que aguns feitiços de cura são inapropriados entre um professor e uma aluna, e este não é uma excessão.
– Este é um argumento muito fraco, Severo – ela respondeu, enfatizando o primeiro nome dele para provar seu ponto de vista.
– Eu aconselharia que me deixasse passar, Srta. Granger – ele replicou, ignorando o que ela dissera.
– Você está com medo de quê? – ela perguntou repentinamente.
Um olhar estranho atravessou o rosto dele antes que ele pudesse se recuperar e zombar:
– Certamente, não de você.
– Eu acho que está – ela insistiu, observando-o cuidadosamente. – Senão, por que você se recusaria?
Ele olhou bravo para ela, e ela retornou o olhar desafiadoramente.
– Por que você tem que ter essa maldita persistência?
– Por que você tem que ter essa maldita teimosia? – ela replicou.
– Porque, na minha experiência – ele respondeu furioso –, ninguém oferece ajuda sem querer alguma coisa em troca.
– Você acha que eu quero alguma coisa de você? – Ela quase riu com o absurdo da declaração dele. – Tudo o que eu quero é que você me trate como a amiga que você diz que eu sou ao invés de apenas como mais um dos seus alunos cabeças-ocas. É tão difícil de acreditar que estou me oferecendo para ajudá-lo porque eu quero?
Ele ficou quieto, e ela percebeu que talvez, para ele, fosse difícil acreditar que alguém fizesse alguma coisa sem querer nada em troca.
– Eu sinto muito – ela começou a falar de novo, mas ele a impediu.
O rosto dele parecia ter abrandado um pouco, e ele disse:
– Uma coisa que eu realmente sei sobre amizade é que um amigo não deve estar sempre se desculpando com o outro, especialmente quando eles querem o melhor um para o outro.
Ela abriu a boca para falar, mas fechou-a novamente, percebendo que estava prestes a se desculpar por se desculpar demais. Ela riu nervosamente, e os cantos dos lábios dele se levantaram, tentando suprimir um sorriso.
– Eu estava certo do que disse antes do Natal, Hermione – ele disse francamente. – Eu realmente desejo tê-la como uma amiga. Eu apenas não sou bem versado no que compreende ser um amigo... incluindo, como parece, fazer concessões.
– Bem – ela disse com um sorriso –, eu não estou acostumada com amigos tão teimosos e a ter que fazer concessões também, então talvez nós possamos aprender um com o outro.
– Então – ele disse, depois de um momento, sorrindo maliciosamente para ela da forma mais desconcertante –, que tal uma concessão... Você me deixa sair do meu banheiro, nós terminamos a Poção para Ressaca para que eu possa me livrar desta dor de rachar a cabeça, e depois você pode me cutucar e apertar até se convencer que eu estou suficientemente sadio.
Hermione estava a ponto de concordar quando um pensamento a deteve, e ela estreitou os olhos para ele.
– Severo Snape, você não está esperando que não haverá tempo para a última parte do acordo antes do encontro da Ordem, está?
Ele teve a dignidade de parecer levemente envergonhado, mas respondeu:
– Isso seria positivamente sonserino, Hermione. Como é que isso passou pela sua cabeça.
– Eu sei como você pensa – ela disse –, e não pense que eu ligo se você se atrasar para a reunião para manter sua parte do trato.
Ela deu meia-volta e finalmente liberou o espaço no batente da porta, voltando para o laboratório. A risada sombria dele a seguiu, e para seu desgosto, ele sentou-se do outro lado da sua bancada e não levantou um dedo para ajudá-la, na expectativa da reunião.
Preparando seu caldeirão e jogando os primeiros ingredientes, ela disse:
– Bem, se você vai apenas ficar aí sentado, você pode responder algumas perguntas.
Ele lenvantou uma sombrancelha suspeitosamente.
– Que tipo de... perguntas?
– Bem – ela disse, acendendo a chama em baixo do caldeirão com uma sacudida da sua varinha –, você disse que queria saber mais sobre mim, e eu acho que isso funciona dos dois lados.
– Agora? – ele sorriu maliciosamente. – Então eu posso fazer uma pergunta a cada pergunta sua?
– Claro – ela disse alegremente. – Na verdade, você pode começar.
Ela sorriu largamente consigo mesma quando ele abriu a boca, mas nenhuma pergunta foi feita. Ele parecia estar procurando pelo que perguntar, e quando seu calderão começou a levantar fervura, ele conseguiu dizer:
– Qual a sua cor favorita?
Ela segurou uma risada com a pergunta ridiculamente simples, mas respondeu:
– Azul.
Ele pareceu surpreso, e ela devolveu:
– Quando é o seu aniversário?
– Nove de janeiro – ele respondeu relutante.
– Isso é a menos de duas semanas! – ela disse, e ele a olhou desafiadoramente. – Quantos anos você vai fazer?
– Eu achei que fosse a minha vez de perguntar – disse secamente.
Ela revirou os olhos, contando enquanto mexia a poção o número necessário de vezes.
Pelo tempo que levou para a poção ficar pronta, fria e engarrafada, ela descobrira algumas coisas sobre Severo Snape, tanto previsíveis como não.
Ele faria trinta e nove anos em duas semanas – mais que o dobro da idade dela, como ela apontou maliciosamente depois que finalmente conseguiu arrancar isso dele – sua cor favorita era preto e ele desprezava suco de abóbora, alunos negligentes e Adivinhação. Quando estava na escola, recebera nove NOMs e sete NIEMs, e cometera o erro de tomar Adivinhação como sua oitava matéria do NIEM, ganhando seu primeiro e único Trasgo.
Ele fora batedor do time de quadribol da Sonserina, e uma vez conseguira enfeitiçar os balaços para atacarem apenas o apanhador grifinório – Tiago Potter – pela duração da partida. Ele odiava balas de limão, Creme de Canário e a maioria das delícias açucaradas, mas tinha uma queda pelas balas trouxas de alcaçuz.
Ele preferia corujas a outros animais, e a sua própria coruja preta chamava-se Tonatiuh. Hermione precisou usar uma segunda pergunta para saber o significado por trás do nome, e descobriu que Tonatiuh, ou A Águia Elevada, era o deus-sol e guerreiro dos céus dos Astecas, uma civilização antiga e – para a surpresa de Hermione – mágica.
Com suas prórpias perguntas, ele quiz saber sobre coisas relacionadas aos trouxas; como era crescer no mundo trouxa, se era estranho voltar para lá depois do tempo que ficara em Hogwarts e o que, se alguma coisa, ela sentia falta quando estava na escola. Ele ficou surpreso ao descobrir que ela não gostava muito de quadribol, e ainda mais surpreso ao descobrir que ela ainda não sabia o que queria fazer da vida depois de Hogwarts.
– Eu acho que vou apenas esperar e ver como as coisas vão se resolver – ela suspirou, entregando-lhe um pequeno frasco com a poção terminada assim que tampou as garrafas restantes.
Ele levantou o frasco até a luz, inspecionando-o antes de beber seu conteúdo.
– Melhor? – Hermione perguntou, enquanto limpava o caldeirão com um aceno de varinha e bania os ingredientes não utilizados.
– Muito – ele concordou, parecendo distintamente desconfortável enquanto olhava para o relógio do outro lado da sala. Havia ainda uma hora até a reunião da Ordem.
– Então – ela disse, tentando soar indiferente, embora na verdade estivesse bem nervosa. – Hora de cumprir a sua parte na barganha, não acha?
Ele lançou-lhe um olhar perspicaz.
– Eu não acredito que consiga persuadi-la a esquecer disso?
– Nem pelo acesso ilimitado à sua coleção de livros – ela gracejou, depois acrescentou seriamente: – Francamente, o que há de tão repugnante nisso?
– Nada – ele suspirou, embora Hermione tivesse a distinta sensação de que havia muito mais que nada. – Vamos acabar logo com isso, então. Como você quer fazer?
– Humm, seria mais fácil se você se deitasse... se não se importar – ela disse hesitante.
Snape dirigiu-lhe um olhar que dizia que ele realmente se importava, mas deu meia-volta e saiu do laboratório. Ela o seguiu até o quarto dele, os nervos palpitando no estômago assim que ele sentou-se na beirada da cama.
Assim que ele começou a se deitar de costas, ela limpou sua garganta repentinamente seca e disse:
– Você pode, é, tirar a camisa, por favor, professor... para que possa ver o que estou fazendo?
O uso do título dele era uma tentativa de recuperar alguma aparência de controle sobre as suas emoções... um esforço em vão, pelo que parecia. Snape pareceu considerar seu pedido por um momento antes de alcançar o primeiro botão da roupa. Os olhos de Hermione foram atraídos para as mãos dele, trabalhando ao longo da linha dos botões, a cada um que era aberto, mais da pele pálida e sem marcas dele ficava exposta.
O que foi? Você esperava que ele estivesse coberto de cicratrizes? – ela se repreendeu. Ela não pensara realmente sobre isso, mas ficaria surpresa se o corpo dele não exibisse alguma evidência da vida difícil.
Ela percebeu que estava pasmada quando ele limpou a garganta, irritado. Ela encontrou os olhos dele e enrubesceu, murmurando:
– Eu, hã, estarei de volta num minuto.
Ela deixou o quarto antes que ele pudesse responder, recostando-se numa parede lisa da sala de estar e respirando fundo.
Tenho que me controlar – ela pensou repetidas vezes entre suspiros. As borboletas em seu estômago agora pareciam como hipogrigos agitados, e ela se concetrou muito, tentando se lembrar do feitiço de cura que iria precisar. Seu cérebro parecia ter sido desligado nos últimos cinco minutos.
Visualizando o frasco de pomada para contusões ainda em cima da mesa, ela o pegou, tomou fôlego novamente numa tentativa fútil de alcalmar os nervos, e reentrou no quarto.
Ela podia sentir que Snape a observava de onde estava, esticado na cama, mas evitou os olhos dele enquanto colocava o frasco de pomada na mesa de cabeceira e usava a varinha para clarear um pouco o quarto.
Hermione olhou de relance para o rosto dele então. Suas feições estavam cuidadosamente diciplinadas, mas havia um traço de apreensão nos seus olhos negros quando ela se inclinou para examinar as manchas escuras no seu peito.
Lançando o feitiço para a detecção de ferimentos mais uma vez, ela se permitiu uma breve e sutil avaliação do torso exposto. Seus ombros não eram particularmente largos, mas rijos com uma força escondida. Os músculos no seu peito pareciam definidos, mas devido mais à sua rigosa rotina diária que a algum regime proposital, e as suas costelas estavam mais salientadas do que deveriam, prova de quantas refeições ela sabia que ele perdia regularmente.
Pêlos negros supericiais quebravam a palidez da pele sobre seu peito, seguindo para baixo sobre sua barriga plana e desaparecendo no cós da calça. Sua mão esquerda estava descansando na barriga, cobrindo o lado esquerdo do corpo logo abaixo das costelas. Ela olhou de relance para os seus dedos esparramados, pensando que conseguia ver o sinal de uma cicatriz na pele abaixo.
Ela dissipou o pensamento assim que voltou a se concentrar na cura das costelas dele, franzindo a testa concentrada enquanto lançava o feitiço para remendar ossos. Ficou aliviada ao ver uma ondulação sob a pele enquanto os ossos eram remendados, embora Snape desse um pequeno grunido de dor com o movimento. Ela encontrou os olhos dele pesarosamente enquanto alcaçava a pomada.
– Isso pode doer um pouco também – ela murmurou, espalhando um pouco nos seus dedos e cuidadosamente passando pelas contusões acima das costelas agora curadas.
O único sinal de desconforto que ele deu foi um leve chiado de dor ao primeiro toque dela, depois ficou quieto. Ela podia sentir os olhos dele no alto da sua cabeça enquanto passava a pomada nas contusões que desapareciam, e ela se viu olhando de volta na direção da mão dele.
Ela tinha certeza, olhando novamente, que ele estava cobrindo algum tipo de marca ou cicatriz. Ela também estava certa de que a disposição da mão dele não era uma coincidência. Ela podia ver a margem da Marca Negra na parte inferior do antebraço, e se perguntou que tipo de marca podia ser pior que aquela. Seria aquela marca, seja lá o que fosse, a razão pela qual ele protestara tão veementemente na primeira vez que ela se ofereceu para ajudá-lo hoje?
Ela terminou de aplicar a pomada e notou que Snape havia fechado os olhos em algum momento. Estendendo-se sobre ele, ela pegou a mão que descansava sobre a barriga na sua e tentou puxá-la.
Os olhos dele se abriram rapidamente, e ele puxou a mão para longe do seu alcance, inadvertidamente fazendo exatamente o que ela queria, expondo a cicatriz logo abaixo.
Ou quarto cicratizes, para ser exata.
Hermione olhou fixamente para o que só podia ser marcas de garras; cicatrizes entalhadas estendendo-se sob a caixa toráxica e desaparecendo pelo lado do corpo dele. Elas pareciam velhas, ainda que a pele em volta ainda estivesse vermelha e saliente, a pele das cicatrizes em si ainda mais pálida que a cor de alabastro da sua aparência normal.
Ela levantou os olhos para ele receosamente, esperando outra explosão de fúria por sua curiosidade e presunção. Ao invés disso, ela o descobriu observando-a com incerteza, como se estivesse esperando que ela julgasse as marcas, e ele por carregá-las.
– São apenas cicatrizes, Severo – ela disse brandamente, esticando-se para traçar a cicatriz superior com o dedo indicador. Ele enrijeceu um pouco, mas não se moveu além disso. – Não há do que se envergonhar.
Ele simplesmente olhou para ela, depois para a mão dela, agora seguindo o traço das outras marcas abaixo da primeira. Ele parecia tocado pela falta de aversão dela à sua pele desfigurada.
– A maioria das pessoas tem cicatrizes – ela continuou. – Eu tenho uma do Departamento de Mistérios, dois anos atrás.
Ele olhou para ela curiosamente, e ela puxou a gola do agasalho levemente de lado para revelar a cicatriz na clavícula, desbotada, mas ainda visível.
– Eu ouvi falar que você fora ferida, mas não imaginei que ainda havia ficado alguma cicatriz – ele murmurou, seus olhos se movendo da marca de volta para o rosto dela.
– Madame Pomfrey não reconheceu a maldição – Hermione disse corriqueiramente. – Ela curou o ferimento, mas não conseguiu erradicar a marca completamente. Está aqui, e eu certamente não gosto, mas é uma parte de mim agora... eu não tenho vergonha dela.
– Não é que eu tenha vergonha, Hermione – ele disse. – Mas se as pessoas a vêem, querem saber como eu as consegui... e isso é motivo de vergonha – ter sido feito de bobo.
Ela não tinha a mínima idéia do que Snape estava falando, e sua confusão deve ter aparecido no seu rosto, pois ele bufou zombeteiramente.
– Por favor, Hermione – ele zombou. – Você não está querendo me dizer que o Potter não a presenteou com os detalhes da peça que o pai dele e o Black pregaram em mim quando nós estávamos na escola?
Franzindo a testa concentrada, Hermione lembrou-se que Harry havia mencionado alguma coisa sobre uma peça para assustar o Snape mandando-o para o túnel do Salgueiro Lutador atrás do Lupin, mas ela não prestara muita atenção... até agora. Olhando novamente para as cicratrizes entalhadas, as coisas de repente se encaixaram.
– O Lupin fez isso? – ela ofegou.
Snape assentiu.
– Mas eu pensei... Harry me disse que você apenas viu o lobisomem através do final do túnel.
– Esta é a versão oficial dos eventos – Snape suspirou, levantando-se para se sentar e alcançando sua camisa. – Se os eventos reais viessem à tona, Black seria expulso, e Lupin provavelmente seria preso ou morto. Eu fui proibido de contar o que realmente aconteceu, e os grifinórios puderam continuar com sua educação como se nada tivesse acontecido. Black e Pettigrew ganharam uma semana de detenção, e o Potter – ele despejou o nome zombeteiramente – recebeu um prêmio por Serviços Especiais à escola por ter me tirado de lá e dominado o lobisomem na sua forma de animago.
Hermione olhou boquiaberta para o mestre de Poções.
– Eles o enganaram para ir até o túnel numa noite de lua cheia, sabendo que você se encontraria cara a cara com um lobisomem? Eles podiam tê-lo matado!
– Eu tinha toda razão para acreditar que essa era a intenção do Black – Snape disse em voz baixa, abotoando a camisa. – Nosso ódio mútuo não era apenas a rivalidade entre garotos de escola como Dumbledore gostaria de acreditar.
Hermione sentiu que havia mais da história, mas decidiu guardar as perguntas para depois. Snape já havia lhe concedido contar muito mais do que ela intensionava saber dele hoje.
– É uma coisa boa você preparar a Mata-cão para ele depois de tal incidente – ela comentou.
Snape bufou. – Você acha realmente que eu a prepare por causa da bondade no meu coração? Você deveria pensar melhor. Eu a preparo por causa daquele incidente, assim eu nunca mais terei que encarar o que eu vi naquela noite na Casa dos Gritos.
Ele estava olhando fixamete para frente, além da parede vazia de pedra, mas Hermione sabia que ele estava vendo além do quarto, revivendo os eventos de outra época e outro lugar.
Hermione não podia imaginar o terror que Snape sentira ao ser atacado pelo lobisomem. Já havia sido suficientemente aterrorizante encontrar o Lupin na sua outra forma, como aconteceu com eles no terceiro ano, na noite em que Pettigrew escapou e Sirius foi para seu esconderijo. Pensando novamente naquela noite, ela percebeu uma coisa, e revelou seus pensamentos em voz alta.
– Você nos seguiu até a Casa dos Gritos naquela noite, sabendo que Lupin não tinha tomado a poção.
Snape voltou seu olhar para ela novamente.
– Eu estava apenas cumprindo meu dever de protejer os alunos, mesmo que vocês não ficassem nem um pouco gratos naquela época.
Ela desviou o olhar, envergonhada com a lembrança de Snape deslizando contra a parede, noucateado pela força combinada de três feitiços de desarmamento. Relembrando daquela noite, agora, Snape fizera apenas o que achava certo, e deve ter sido necessária mais coragem do que Hermione achou que ela mesma conseguiria juntar para que ele retornasse ao túnel abaixo do Salgueiro Lutador, sabendo o que ele poderia encontrar lá dentro.
Em voz alta, ela simplesmente disse:
– Eu nunca me desculpei por tê-lo desarmado. Você só estava fazendo o que achava que era o melhor para nós naquela hora.
– O que depois se mostrou ser a coisa errada, de qualquer modo. – Snape suspirou. – Eu odiava o Black, sim, mas ele era inocente na morte dos Potter. Eu deveria ter aprendido anos atrás o que acontece quando deixo o ódio obscurecer meus julgamentos.
Hermione refletiu nas palavras dele por um instante, depois disse hesitante:
– Você odiava tanto o Sirius... foi isso que o fez se aliar a... ele?
Ele levantou os olhos rapidamente.
– Não.
Ela recuou levemente com a veêmencia do tom dele, e ele balançou a cabeça, elaborando mais calmamente:
– Não desse jeito, embora eu não vou negar que a possibilidade de vingança não foi um dos fatores na minha decisão.
– Tem muitas coisas que eu queria quando era adolescente, Hermione – ele continuou, levantando-se da cama e movendo-se para parar em frente à janela enquanto falava. – Poder, conhecimento, aceitação, reconhecimento... tudo isso eu achava que o Lorde das Trevas poderia me oferecer. Tudo o que tinha que fazer era prometer minha lealdade a ele e teria tudo o que almejara, tudo que nunca tivera. Parecia um pequeno preço a pagar.
– Como eu estava errado – ele suspirou, virando-se de volta para o quarto e encontrando o olhar de Hermione, seus olhos negros encheram-se de fúria e remorso. – Ele ofereceu essas coisas, mas o que pediu em troca... o que ele exigiu como mostra da lealdade de alguém... nenhuma dessas coisas valia a pena. O poder é uma ilusão quando você se descobre rastejando na lama para beijar a bainha das vestes dele; aceitação e reconhecimento no círculo dele são baseados na sua disposição para tirar uma vida da maneira mais sangrenta e brutal possível.
– Ele realmente me ofereceu o conhecimento, entretanto – Snape refletiu. – Conhecimento em Poções, nas Artes das Trevas, coisas que eu jamais aprenderia com outro tutor. Você sabia que foi ele quem consolidou o desenvolvimento da Poção de Mata-cão original?
Hermione balançou a cabeça, perturbada porém intrigada pela narrativa.
– É verdade – Snape confirmou. – O Mestre em Poções do qual eu fui aprendiz era um Comensal da Morte incubido pelo Lorde das Trevas a seduzir os lobisomens para seu serviço. Ele planejava oferecer a eles uma certa liberdade das suas aflições em troca de lealdade, ao mesmo tempo que usava a poção para prendê-los pelo resto da vida a seu serviço. O elemento da poção que os prenderia falhou, entretanto, e o Lorde das Trevas matou o Mestre na sua fúria, indicando o aprediz dele para continuar o trabalho.
– Você – Hermione disse brandamente.
Snape assentiu. – Eu fui bem recebido entre os Comensais da Morte como um jovem aluno promissor, e a maior parte do meu primeiro ano a serviço do Lorde das Trevas foi gasto num laboratório; criando, preparando, testando... levou um bom tempo até eu ver os resutados de alguns dos meus experimentos.
Hermione viu um arrepio percorrê-lo, e se peguntou que outras poções das trevas além da Cruciatus podiam ser creditadas a ele.
– Foi quando eu vi esses resultados que percebi no que tinha me metido – ele disse vagamente. – Por volta da mesma época, o Lorde das Trevas começou a me chamar com mais freqüência para participar ativamente nas incursões, como eram chamadas. Eu vi como, a cada noite, ele testava a lealdade de um dos seus servos, e não demorou muito para ele testar a minha. Esta foi a noite em que procurei Dumbledore.
– Eu sei – Hermione sussurrou. Foi uma das coisas que ela vira na Penseira de Dumbledore... e era uma coisa que ela jamais queria ver novamente.
Um relógio soou na sala de estar, quebrando o silêncio pesado e meditativo que caíra no quarto. Snape parecia agitado, fisica e mentalmente, e lançou um Accio para o seu sobretudo do outro lado do quarto.
– É melhor não chegarmos atrasados para a reunião – ele disse. – Eu acredito que algumas pessoas ficarão muito felizes em vê-la.
– Harry e Rony estão aqui? – ela disse, seguindo o mestre de Poções para a sala de estar.
– Não – ele respondeu. – O encontro é no Largo Grimmauld. É para irmos pela rede Flu diretamente para lá, e sim, o Potter e o Weasley também estarão lá.
Ela sorriu consigo mesma. Parecia um século desde que vira seus amigos, embora na verdade fora apenas uma semana.
– Eu posso realmente participar da reunião? – ela perguntou repentinamente. No passado, ela, Harry e Rony estiveram no Largo Grimmauld várias vezes quando a Ordem tinha reuniões, mas nunca ficaram a par do que acontecia nas reuniões, salvo o que Dumbledore contou ao Harry depois.
– Eu acho que Dumbledore deseja que você esteja lá para uma parte da reunião – ele enfatizou. – A Ordem não vai aceitar o que aconteceu no Natal facilmente, e provavelmente vai querer o seu relato dos eventos, assim como o meu.
Ele pegou o frasco de pó de Flu de cima da lareira, e assim que ofereceu a ela um punhado, advertiu:
– Lembre-se, não se dirija a mim como Severo quando outros estiverem por perto. Nós já temos muito que explicar sem que uma língua solta nos cause mais problemas.
– Claro, Professor Snape – ela disse, tentando reprimir um sorriso.
Ele sorriu com malícia enquanto ela dava um passo para dentro da lareira, jogando o pó e chamando:
– Largo Grimmauld, número doze!
* * * * * * *
Continua
Obrigada a todos que leram e mandaram reviews. Este capítulo levou mais tempo do que disse que levaria, dado que fiquei em casa por três dias, mas é um bem longo, para o meu padrão, então espero que a espera tenha valido a pena.
Xingue (ou agradeça) à Keladry pelas suas cutucadas persistentes e espera para ler o capítulo. Doces sonhos com o Severo, Kel. :P
N.T.: Eu sei que tenho demorado muito com as atualizações, mas espero que tenha valido a pena. O próximo cap já esta quase pronto, entao acredito que as ameaças de suicídio não serão necessárias! :)
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