redenção
Capítulo VI – redenção
Ele ouvia de perto o cabtar dos pássaros atravessar a janela e seus olhos revelavam o tom alaranjado do dia sob as pálpebras fechadas, mas ainda assim ele não os abriu. Gostaria de passar um pouco mais de tempo na cama, com os braços abertos e o corpo embolado no lençol, sem ter de se preocupar com nada... A inconsciência, breve momento de descanso. Sim, era isso o que queria: prolongar o tanto mais que fosse do momento entre o sono e a consciência, o encontro marcado. Que durasse tanto quanto pudesse... O estômago roncou: hora de acordar.
Ergueu o corpo preguiçosamente e buscou os sapatos. Como não os achou, saiu descalço. Desceu as escadas num passo rápido de bicho-preguiça e adentrou a cozinha com uma fome de monstro-glutão. Não havia café pronto – ele soltou um muxoxo irritado em protesto – e, posto que não sabia cozinhar, partiu para cima do pote de biscoitos, sentando-se à mesa. Enquanto os devorava, um a um, seu pensamento voltou-se à noite anterior.
Ginny parecera realmente irritada com a simples presença da loura... Está certo que Ginny nunca gostou do “tipinho” de Lavender, mas isso era coisa de criança... Não era?
Ron quase engasgou ao pensar numa Hermione pasma, perguntando-lhe quem era o crianção, em clara acusação. Assim que percebeu que pensara nela, parou com o riso. Mas, afinal, não havia problema nenhum com Hermione o repreender, já que ela sempre fizera isso. Então, ele não estava pensando nela, mas no que ela fazia, concluiu, quase orgulhoso do seu desempenho.
De repente, algo mais lhe veio em mente: Ginny, aos quinze anos, desdenhando-o. Ela praticamente o atacara, chamando-o de criança, infantil, tolo... Dessa vez ele não riu.
Mas o fato era que Ginny, tendo-lhe falado, fê-lo relacionar-se com Lavender, o que não deu muito certo. E, agora, da segunda vez que tentava esquecer Hermione, e também por conselho de Ginny, ele acabara novamente recorrendo à loura.
Imediatamente, Ron sentiu como se um soco o acertasse em cheio: Ginny acreditava que ele estava cometendo o mesmo erro, pela segunda vez. Seria isso?
Sentiu-se péssimo pelas palavras dirigidas à irmã, tanto que largou o pote de biscoitos no mesmo instante e deixou o olhar vagar por um tempo.
“Você é mesmo um idiota...”, pensou, irritado consigo.
Levantou-se e – um pouco contrariado, um pouco sem jeito – subiu as escadas, parando em frente à porta da ruiva. Respirou fundo, passou uma das mãos nos cabelos, despenteando-os ainda mais, contou até três e bateu na porta, desajeitado.
“Ginny, eu queria falar com você, eu...” A ruiva ficou em silêncio. “Eu queria pedir... Ahn, desculpas... Pra você. Porque...” Ele sentia as maçãs do rosto arderem. Quantas vezes já se dera conta de que pisara na bola? E quantas vezes já se desculpara? Sim, ele já pisara na bola várias e várias vezes. Mas se desculpar... “Eu sei que você se preocupa comigo... E que eu sou um idiota...” Ron sentiu alguma dificuldade em prosseguir. “E que eu não poderia ter uma irmã melhor do que você.”
Ele ficou em silêncio, esperando por uma resposta que nunca veio.
“Vamos, Ginny! Deixa disso e fala comigo. Eu estou pedindo!”
Mais silêncio. Ele, não tão paciente assim – como de costume -, abriu a porta, sem hesitar.
“Você quer que eu implore? Está me tirando do--”, começou, para então calar-se.
Não havia ninguém.
Ron se sentiu duplamente estúpido por falar à porta, enquanto os olhos azuis buscavam os castanhos, só encontrando a cama de Ginny arrumada, como se nem houvesse dormido lá.
O ruivo conservou as sobrancelhas num arco irritado, sentindo-se cada vez mais estúpido.
Mas a verdade era que, nos dias que se seguiram, Ron nada vira de sua irmã: Ginny parecia ir-se embora antes que levantasse e voltar depois dele ter ido se deitar.
Ron não podia pensar numa explicação melhor do que a de ela o estar evitando, e isso o irritava, a cada dia, um pouco mais. Não que isso fosse um grande problema, Ginny passar um tempo fora, ele pensava, mas realmente quisera se desculpar e consertar as coisas, quando ela preferiu se distanciar. E, tomando em pensamento a idéia de que as coisas entre eles não deviam se suceder dessa maneira, decidiu, numa noite, esperá-la.
“Insônia. Cada segundo passando maquinalmente, embalado pelo tiquetaquear seco e distante – ainda que insistente – do relógio. E a cada instante desse dia, dessa noite, eu busco qualquer coisa, mas só encontro você. Quando não quero te ver.”
Ginny inspirou profundamente, para depois soltar o ar vagarosamente, antes de girar a chave na fechadura. Era aquele o terceiro, o quarto dia? Tudo o que fizera nos últimos dias fora ficar sentada por horas defronte a um leito de hospital, observando um enfermo dormir. Mas este não era um qualquer, era Harry. E Harry merecia todos os minutos que pudesse lhe dar. Talvez até um pouco mais.
Ela fechou a porta às costas, serrando os olhos por um momento.
Sim, Harry merecia todos os minutos, mas não por aquele motivo. Não merecia que o procurasse pelo motivo que o fazia.
Não seria justo fazê-lo.
Suspirou.
Talvez não fosse exatamente por ele, por Ron, que buscava Harry, mas por ela mesma, por buscar mais que o próprio Menino-Que-Sobreviveu: buscava alguma vestígio daquilo que por ele algum dia chegara a sentir. Assim, nisso, teria sua redenção e poderia salvar sua alma do fogo que a consumia delicada e intensamente.
Subiu os degraus das escadas com cautela: não queria acordar os pais, muito menos Ron. Esgueirou-se para dentro do próprio quarto e fechou a porta cuidadosamente.
Era uma e meia da manhã, segundo o relógio de parede. Ela se sentia cansada. Livrou-se da capa, dos sapatos e das meias. Já ia livrando-se do resto quando uma luz, vinda do corredor, chamara a sua atenção.
Ginny prendeu a respiração enquanto abraçava os ombros nus.
“Não era para haver alguém acordado!”, pensou.
Os passos aproximaram-se pausadamente, bem provável que também em cautela, e não muito depois a porta fora aberta. A silhueta de um rapaz alto se fez visível contra a luz.
“Precisamos conversar”, a voz de Ron se fez ouvir.
Ginny sentiu o rosto queimar e agradeceu por não haver luz o suficiente para ser contemplada em seu embaraço. Conseguiu manter a voz firme.
“Agora, não. Eu preciso descansar”, sentenciou.
“Agora”, ele fez questão de frizar. “Por que você está fugindo de mim?”
Os olhos de Ginny soltavam faíscas incandescentes.
“Eu não preciso fugir de você, Ronald”, retorquiu entredentes e voltou-se à sua cama, em busca de algo que cobrisse sua seminudez.
Ron contornou a cama, tentando chamar sua atenção.
“Se não precisa fazer isso, então por que está fazendo?”, insistiu.
“Porque não estou.” Vestiu a blusa do pijama. “Não estou fugindo de você, só não tenho nada para lhe falar e quero passar todo o tempo que puder com Harry. Algum problema com isso?” Ela lançou-lhe um olhar decidido e Ron pareceu perdido.
Primeiramente, quisera se desculpar com Ginny. Quisera mesmo. Mas Ginny parecia fazer pouco caso – ou não fazia questão nenhuma dele. Ele já não sabia o que fazer... Permaneceu quieto, por um momento, sem saber ao certo como – ou com o que – prosseguir.
“E você?”, ela perguntou, tirando-o de suas divagações, “Que faz aqui, no meu quarto, a essa hora? Aliás, por que me esperou até agora?” Ela pronunciou cada palavra numa indiferença surpreendente até mesmo para si mesma, mas... A fundo, o seu coração acelerara, ansiando pela resposta, palpitando por sua presença, por mais que ela o reprimisse e o reprovasse... Ginny sentia-se emanando um calor inesgotável, da ponta dos dedos aos fios dos cabelos cor-de-cobre.
Ron desviou o olhar, sentindo-se tolo. Assim como ela o havia chamado, anos e anos atrás. E ele não mudara nada. Talvez fosse mesmo um crianção.
“Eu só pensei... Em pedir desculpas”, e antes que ela pudesse caçoar da sua burrice, pôs-se para fora do quarto. Era óbvio que ela não esperava nem queria nada dele.
Ginny quisera castigar-se profundamente, cruelmente, impiedosamente pela maneira fria como o tratara, e seu coração continuara palpitando, ainda mais, desta vez dolorosamente, como que ferido, ferindo-se a cada instante.
Em seguida, ela o amaldiçoou. Amaldiçoou Ron sem o amaldiçoar, apenas pelo fato de que ele a tinha sem a ter, e que fosse incapaz de fazê-la livre... Ainda que ela tivesse total consciência de que ele nem ao menos sabia que a mantinha presa consigo.
“E a cada mesmo instante em que não o vejo, que ainda o quero, faz-se prolongar por toda uma eternidade. E em cada segundo em que me embalo na secura e na distância incessante, rogo, e peço, e digo. E na secura dos teus lábios úmidos me faço inteira e parte; vivo e morro aos poucos à tua espera, e em espera vejo o que não vivo.”
À exceção de alguns contratempos, o horário do almoço corria muito bem. A família Weasley reunira-se para a hora da refeição, e isso já não era tão comum quanto antigamente.
A Sra. Weasley conversava animadamente com uma morena, a tal Sarah, namorada de Fred. A garota parecia agradar em muito. A verdade era que Molly nunca vira muito jeito para nenhum dos gêmeos, sempre trazendo garotas esquisitas para casa, e Sarah era bem... Normal. O ponto era que Molly já estava sentindo falta de crianças correndo pel’A Toca, e considerava mais do que na hora de alguns dos seus filhos lhe darem netos. Então, investia em todos eles.
“Só vai comer isso, Sarah, querida? Vamos, pegue mais um pouco”, insistiu. Fred rolou os olhos, não contendo um sorriso divertido.
“Oras, o que foi, Fred?”, perguntou a mãe, aborrecida.
“É, deixe a mãe em paz!”, defendeu Charlie, “Ela só quer ver os filhos crescerem. Veja como está um mocinho bonito esse rapaz, até parece gente!”
“Charlie!”
“Que é? Que é?”, fez-se de desentendido.
“Que eu me lembre bem, Charlie”, começou George, “é você quem está sozinho...”
“Oras, oras”, ele deu de ombros. “Mamãe sabe que eu não sou de compromisso!”
“Charlie!”
“OK, OK... E, além do mais”, ele deixou escapar um sorriso cheio de segundas intenções, significativo, “Eu prefiro investir de outras formas...” E lançou uma piscadela em direção a Fleur.
“Ei, ei, ei!”, protestou Bill, no que vários deles riram.
“Ah, poxa, Bill! Tudo que é seu, é meu, lembra?” O irmão estreitou os olhos, no que Charlie se apressou a explicar. “Brincadeira, cara! Sério... Eu tenho outros planos.”
“Acho bom...”, murmurou o outro, desconfiado.
A Sra. Weasley se aproximou de Arthur, sorridente.
“Veja os nossos, Artie. Quase já resolvidos!”, disse, alegre.
“Não esquenta, não, mãe! Você ainda vai ter o seu eterno meninão!”, falou Fred, rindo-se. “Que eu saiba, o Ron ainda está sozinho, não?”
Ron lhe lançou um olhar torto.
“Ah, vai ver ele quer seguir os meus passos!”, explicou Charlie, apontando para si com orgulho.
“Ah, mas que mal caminho”, riu-se Fleur. Seu sotaque já não era tão carregado. Charlie já ia protestar quando o Sr. Weasley o interrompeu.
“Eu não sei, não... Ouvi falar de uma garota...”
Os Weasley se surpreenderam com o comentário, sobretudo Ron, que não fazia a mínima idéia de como o pai ficara sabendo e acerejara de leve, emburrando.
“Você não vai falar nada sobre essa garota misteriosa, Ron?”, perguntou Percy, que fizera as pazes com os pais há alguns meses e parecia ainda mais amável que antes da briga. Só um pouco menos pomposo.
“Não”, respondeu grosseiramente.
“O que foi? Tá com vergonha, Roniquinho?”, zombou George. Charlie voltou-se ao pai.
“E como é que você ficou sabendo?”, indagou, não mais curioso que os outros presentes.
“Brown veio me cumprimentar no Ministério”, disse sem rodeios.
“Brown?”, repetiu Fred. Eles caíram na gargalhada. Ron quis sumir.
“Sentiu falta de me agarrar um pouquinho, Won-Won?”, falou George com uma vozinha fina e irritante que lembrava a de Lavender.
Ron cerrou os punhos.
“Que agradável almoço em família...”, reclamou.
“Chega, chega, vamos!”, mandou a Sra. Weasley, que por algum tempo se afastara, voltando com o velho rádio a pilha em mãos.
Charlie levantou-se na hora e tratou de sintonizar uma rádio bruxa para jovens – WITEEN – para em seguida puxar Fleur para dançar.Obviamente que Bill o seguiu, protestando.
A Sra. Weasley começou a retirar os pratos da mesa, enquanto o Sr. Weasley, muito prestativo, ocupou-se com o seu jornal, como de hábito.
Os gêmeos trataram de pensar na melhor maneira de bagunçar tudo e, por fim, decidiram-se por subir na mesa e cantar em coro, dançando como trasgos pernetas e arrancando boas risadas das namoradas.
Ron, no entanto, não via mais graça naquilo, tampouco na discussão que Percy tomava com sua primeira – e provavelmente última – namorada, Penélope. Limitava-se a apoiar o queixo sobre uma das mãos e deixar o olhar vagar sem rumo.
Por vezes, seus olhares se cruzavam, o dele com o de Ginny, talvez por acidente, talvez por se buscarem sem razão.
Ginny também não parecia completamente entretida. Os olhos castanhos encontravam os azuis de Ron, num milésimo de segundo curiosos; no outro, ilegíveis. Ron tentava lê-los, mas, como se ela mesma o fizesse e descobrisse o que pretendia, ela se fechava para ele.
Eram olhares cúmplices, mas cúmplices no que?
“Eu me sinto tão desprezado!”, alegou Charlie, num forjado tom de desaprovação, “Essas pessoas que me usam e depois jogam fora... Vem cá, Ginny!” Ele a puxou. “Me consola!”
Começaram a dança uma música um pouco mais agitada.
Ron os observava dançarem. Ginny tinha um daqueles sorrisos fáceis estampado nos lábios, mas havia sorriso melhor. Sim, Ginny possuía um de seus sorrisos favoritos, e não era aquele. Ela podia sorrir de um modo só seu, único. Era um sorriso verdadeiro, largo, mas tímido, acompanhado dos grandes olhos castanhos, quase infantis, e aquele sorriso o fazia querer sorrir também, de volta para ela.
Ele desviou o olhar quando notou que ela o observava, mas não pôde deixar de concluir o pensamento: seria ótimo vê-la sorrir daquela maneira mais vezes.
“À tua espera, vejo como morro.As tuas mãos são aquelas que me enterram, teus lábios são aqueles que me calam, silenciam-me. Mas ainda que não queira, tenho-o como farol. Como dois faróis acesos que atravessam essa minha escuridão.”
Ron esparramara-se sobre o sofá, entediado, apenas observando a lareira vazia, de bruços. Longas horas se seguiram depois do almoço e Bill e Fleur, os últimos, haviam acabado de sair, já de noite. O ruivo já estava cansado daquele dia... Quase dormira, mas a campainha tocou, despertando-o.
Soltou um muxoxo em protesto e não se moveu.
Ginny, que por ali coincidentemente passava, adiantou-se à porta e abriu-a. Para sua – infeliz – surpresa lá estava a loura agüada do dia anterior. Em seguida, e depois de um sorrisinho amarelo, Ginny fechou a porta na cara da outra e voltou a seguir seu caminho, como se nada houvesse acontecido.
A campainha tocou de novo, insistente.
Ron, que já havia desistido de descansar, levantou-se – num esforço quase sobrenatural- e abriu a porta.
“Lavender?”, ele perguntou, confuso. Ela sorriu sonsamente.
“Oi, Ron!”
“Erm... A gente marcou alguma coisa?” Ron passou uma das mãos nos cabelos bagunçados, que estiveram longe do pente há algumas horas, bastante surpreso com a presença da garota.
“Na verdade... Não. Mas eu estava pensando em sairmos”, ela disse com os lábios curvados num sorriso gracioso, que se ajustava perfeitamente no rosto bem desenhado.
“Ah, bom... Eu acho que... Acho que não vai dar...”, ele começou, sem jeito. Por que as mulheres tinham de ser tão complicadas? Ele devia poder falar logo de uma vez que não estava afim... Mas não precisou prosseguir.
“Tudo bem”, ela o cortou, alegre.
“Mesmo?” Não era tão difícil assim, afinal.
“Mesmo! Quer dizer...” Lavender passou pela porta, cruzando a sala. “Se você não pode sair, a gente fica.”
Era bom demais pra ser verdade.
Ele sorriu para ela, ainda sem jeito, sentando-se ao seu lado e pregando-lhe um beijo de leve nos lábios. Ginny, que saía da cozinha no instante e presenciou a cena, olhou para o seu sorvete, que trazia em mãos, desgostosa.
“Pensando melhor, acho que perdi o apetite.” E voltou à cozinha.
Ron e Lavender conversaram por algum tempo sobre os últimos anos, o ruivo lhe contou sobre o almoço em família – ocultando comentários específicos, claro – e então ouviu Lavender falar sobre como adoraria ter uma família tão grande quanto a dele, já que era filha única e sentia-se um tanto sozinha... Ron pouco ouvira dos comentários finais, já que estava ficando com sono e mantinha os olhos abertos apenas por educação – do que ele não gostava muito, de qualquer forma.
“Nossa! Já é tarde!”, exclamou Lavender com aquela vozinha irritante, muito parecida com a que George forjara. “Ah, Ron, será que eu poderia dormir aqui?”
“Umhum”, ele respondeu, sonolento, agradecendo imensamente por dentro. Qualquer coisa por um pouco de silêncio prolongado e uma cama quentinha. Levantou, espreguiçando-se – ela ficara a observá-lo com um sorrisinho nos lábios – e conduziu-a até as escadas.
Enquanto subiam os degraus, Ginny aparecera ao topo das escadas e começou a descer. Quando passava ao lado de Ron, ele a tocou num dos braços, chamando sua atenção.
“Aonde você vai?”
“Não lhe devo satisfações”, ela respondeu, grosseira.
“Aonde você vai?”, ele insistiu, mais firme.
“Ao hospital!”, devolveu, irritada, levantando o tom de voz, e virou-se, descendo o restante dos degraus.
“Ela é sempre assim?”, perguntou Lavender, ligeiramente assustada, mas Ron não a respondeu. Apenas continuou a conduzindo até o quarto, depois de dar uma última olhada em direção à porta.
Ginny, por outro lado, acabara de aparatar na recepção do St. Mungus, enraivecida. Enquanto caminhava, ao longo dos corredores, praguejava mentalmente contra a oferecida. Que fazia ela, àquela hora, indo junto de Ron até o quarto? Ginny tentava não pensar em nenhuma das milhares de respostas que brotavam em sua mente, todas ruins.
Está certo que nada tinha a ver com as escolhas do irmão, mas justo aquelazinha, grudenta e oferecida? Ron era burro, bem burro, ela pensou, surtando.
Estancou em frente à porta do quarto, demorando-se ali vários minutos até se acalmar. Estava ali para Harry. Devia isso a ele. Era o mínimo que poderia fazer... Girou a maçaneta e adentrou o quarto, sentando-se ao lado do moreno.
Já haviam passado vários dias e Harry não parecia muito melhor do que quando chegara. Continuava preso no eterno pesadelo e as feridas pouco haviam cicatrizado.
Ginny nunca o vira tão... Vulnerável. Ali, preso àquela cama, desacordado. E ninguém podia o ajudar. Harry, que lutara por todos os outros, estava sozinho mais uma vez, e não importava o quanto quisesse, ela não o podia salvar.
“Ah, Harry...”, ela sentiu os olhos úmidos, “eu queria tanto que tudo fosse como antes... Eu queria tanto poder te amar como antes...”
Ginny segurou mais uma vez as mãos de Harry nas suas, sentindo o coração pesar.
“Porque você merece todo o amor do mundo...” Ela baixou os olhos. “Mas isso eu não posso te dar.”
“Essa escuridão eterna que abraça, tenra e terna, essa escuridão que envolve, engole e não desaparece... Essa sou eu, você, nos envolve. É o laço que nos prende, nos une. E são seus olhos, sim, seus olhos que são capazes de fazer-nos livres... Mas não o fazem.”
Ele estava deitado, observando-a dormir. Não conseguira pegar no sono, afinal. Não depois do que Ginny fizera. Há muito saíra e ainda não voltara. Ela não parecia bem: novamente mudara de humor repentinamente.
O dia todo estivera bem, e até quando Lavender chegou não surtou, nem nada. Então, por que justo naquele momento resolvera se irritar? Ron estava quase desistindo de entendê-la...
Lavender se aconchegou um pouco mais para perto dele, mas Ron não ligou. Estava preocupado demais com a ruiva. Ela não costumava chegar muito tarde, mas já eram duas horas e nada dela.
Como que sem sono, Ron decidira fazer alguma coisa. Levantou-se com cuidado para não acordar a loura, vestiu as jeans e uma camiseta qualquer, calçou os sapatos, alcançou a capa e saltou para fora do quarto, descendo as escadas e passando pela porta da frente.
Foi direto para o St. Mungus e perguntou por ela na recepção. A recepcionista confirmou a sua chegada. Ron seguiu pelos corredores no conhecido trajeto até o quarto de Harry e, pelo vidro fumê, ele pôde vê-la.
Lá estava Ginny, com os olhos no chão, segurando as mãos de Harry, pensativa. Então, ela os ergueu.
Seus olhares se cruzaram.
Ele sentiu os olhos castanhos chisparem faíscas contra os seus e sua respiração falhou por um momento, arrepiando-se dos pés a cabeça, mas Ron sustentou o olhar.
O coração de Ginny acelerou gradativamente enquanto sentia os olhos do ruivo queimarem sua pele, e novamente a estranha sensação das mil borboletas voando dentro do estômago. Por que ele teria ido até lá? Por... Sua causa?
Sua garganta secou. Tudo o que evitava ao alcance das mãos, dos olhos... E ela não podia fazer nada quanto a isso.
Ou talvez pudesse.
Levantou-se, pronta para ir até ele. Falar tudo o que sempre quisera. Descobrir-lhe, senti-lo como nunca antes o fizera. Mas, ao primeiro passo que dera em direção à porta, fora detida.
Virou-se, acompanhando a mão que a segurava, e encontrou o que perdera havia muito: os orbes de esmeralda líquida observando-a.
“Harry?”
N/A: Hell yeah, nem eu sei como consigo. Reviravoltas. É, as pessoas me ameaçam diariamente por causa disso. De qualquer forma, eu tinha bolado uma NA gigante para esse capítulo, mas como ninguém pararia para ler, eu vou explicar o que esse capítulo tem de importante pra mim: dia 27 de janeiro de 2006, Blood & Love foi ao ar. (: Então, quer dizer que o bebêzinho aqui tem um aninho e alguns dias. Não é lindo? E, em segundo, dia 17 de fevereiro (sábado) foi meu aniversário de 17 anos. Pra mim, essa é uma data especial. Quem quiser me deixar feliz, só um comentariozinho basta. Eu não sou exigente. (rs)
amanda granger, É, demorou bastante, sim. E obrigada por gostar da fic. Significa muito pra mim. ^^
Lynx, É, a batata acabou ficando na miúda. Bom, você torceu, e acabou que ia acontecer mesmo, mas não vai se acostumando, hein?
RaFael_MaRvoLo, Foi mesmo, mas ela mereceu!
Evelin Lovegood Black, É, eu sei o que é a “coisa”, sim. Me aguarde, moça, me aguarde.
Bruna F. , Vamos abrir uma fundação de proteção! (:
Srta. Granger Malfoy, Uau, hein. A essa hora? Ainda bem que gostou. Mas acho que os próximos serão melhores. Como é minha opinião, não conta muito, anyway. (rs)
PS: a música do video-trailler é In My Place, do ColdPlay.
Fan Arts: a cena que eu havia prometido há um século, em preto e branco: http://www.geocities.com/ann_wolthers/lastscan4.JPG (sim, ficou um pouco pequeno, porque eu ainda não sabia como usar o scanner ¬¬ sou uma novata nesses procedimentos, tá? e, er... falando nisso, o desenho também não é lá dos melhores, maaas... fazer o quê? enferrujei agora que só escrevo...) e um plus que eu fiz dia 20 de fevereiro: http://www.geocities.com/ann_wolthers/fanartbel.jpg (sim, está meio grande, mas ok, eu arrumo isso depois. e, sim, vocês descobriram porque eu nunca pinto os meus desenhos: pinto como uma criança de 6 anos... é um milagre eu ter me mantido dentro das linhas! ps: Ron apertável *-*).
Beijos e até mais! :*
(o recado foi rápido porque eu infelizmente tenho uns compromissos, mas não queria deixar de postar ^^)
No próximo capítulo...
“O que você não quer que eu veja?”
“Me solta, Ron!”
“Me responde! Acaba com isso!”
“Isso não pode estar acontecendo... Isso não...”
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