a promessa
Capítulo um – a promessa
O sol se punha, tingindo o horizonte de um tom alaranjado. Logo, a escuridão tomaria o céu para si, mas, por enquanto, o espetáculo de todos os dias fazia dançar sobre a cabeça dos Homens as cores quentes. Ron voltava de uma caminhada pelo jardim – que terminava à orla de um pequeno arvoredo -, entrando n’A toca pela porta da cozinha. Molly preparava o jantar, conversando aos sussurros com Arthur, aflita. Quando o filho apareceu, ela examinou-o e, com um olhar de reprovação, perguntou:
“Andou deitando sobre a grama novamente?” Seus olhos miravam a sua camiseta folgada suja de terra e gotas de orvalho da garoa daquele mesmo dia de manhã. Ele sorriu para a mãe em culpa – mas é claro que sim – e correu para a porta, enquanto a mulher cuspia reclamações. Subiu um lance de escadas de uma só vez, pensando no que faria em seguida. Talvez ouvisse a narração de um jogo de quadribol pelo antigo rádio do pai. Os Kenmare Kestrels estavam arrasando nos últimos tempos. Entretanto, seus pensamentos foram afastados do esporte com brusquidão quando passou próximo a um quarto no corredor que levava ao seu. Ouvira pequenos soluços. Empurrou a porta de leve.
O aposento estava abafado e escuro – as janelas estavam fechadas e a luz, apagada; a cama, desarrumada – os lençóis foram atirados aos pés da mesma, embolados – e, encolhida a um canto dela, estava Ginny, a face molhada pelas lágrimas, as mãos sobre os olhos.
Ron ficou sem reação. Há muito não via ela chorar – nem lembrava-se da última vez. Ela crescera forte e independente aos seus dezenove anos, mas chorando ali, parecia tão pequena e frágil. Ele sentou-se próximo a ruiva, tomado por toda a ternura de que poderia dispor, como um irmão mais velho deveria fazer, supunha. Ginny sentiu o colchão afundar e afastou as mãos do rosto, só para encontrar Ron olhando-a, preocupado, quase triste, como que tentasse dividir com ela o peso de sua dor. Seus rubros lábios sopraram o nome do irmão num sussurro quase inaudível e seus grandes olhos castanhos, ornados por longos cílios escuros, quase infantis, o miravam com inocência, inchados e ainda cheios d’água, mas sem conseguir esconder a beleza por detrás deles.
“Que houve?”, ele perguntou.
“Nada...”, murmurou fracamente. Ron tocou-a de leve no braço – provocando uma reação em cadeia no corpo dela, como um choque que atordoou todo o seu sistema nervoso – e puxou-a para um abraço, os seus braços fortes em torno da pequena garota, deitando a cabeça dela sobre o seu peito e acariciando os seus cabelos cor-de-cobre.
“Menina boba...”, ele continuava chamando-a de menina, “acha que eu não saberia que o seu ‘nada’ significa ‘alguma coisa’?”
Ginny segurou suas mãos às laterais do corpo do seu irmão, agarrando a camiseta com firmeza. Agora suas lágrimas molhavam a roupa dele, silenciosas, e ela respirava com dificuldade. Podia ouvir o coração dele, mas poderia ele ouvir o seu, bombeando descompassado, mais forte e rápido do que deveria? Ele beijou no topo de sua orelha delicada e sussurrou:
“Diz pra mim o que houve que eu resolvo pra você...” Ela parecia quase inconsolável, então Ron decidiu acalmá-la. Era uma experiência nova para ele, já que sempre teve outros cinco irmãos para cuidarem dela, mas agora que todos já haviam mudado-se de casa, só restara ele. Tinha de se virar com a nova responsabilidade de “único irmão mais velho” e escolhia as palavras com cuidado.
“Não...”, a sua voz fez força para sair, arranhando a sua garganta. O nó que se instalara ali há tanto tempo de sufoco ainda não podia ser desatado, não agora; talvez nunca. “Ninguém pode resolver nada pra mim...”
O ruivo notou o tom melancólico da sua voz e apertou-a contra ele, como se tentasse abraçar o coração de Ginny, acalentá-lo, tirar-lhe todas as dores e mágoas da sua irmã, nem que tivesse ele de carregá-las. Antes que pudesse dizer qualquer coisa, porém, ela tornou a falar, agora com mais força, quase recuperando o tom normal de sua voz, mas ainda entre soluços, hesitante:
“Ron... Você me ama?”
Ele afastou a cabeça da ruiva do seu peito e passou a olhá-la nos olhos, quase incrédulo, quase irritado.
“Ficou louca? É claro que amo!”, disse sério e beijou-a na bochecha. “Não há necessidade de me perguntar isso. Essa sempre será a resposta! Entendeu?”
Uma lágrima escorreu dos seus grandes olhos castanhos e ela sorriu de um modo que – pensou Ron, no exato instante – só ela mesma poderia fazê-lo.
“Tá bom”, falou. Ron mirou-a por mais um instante, enxugando a sua face com uma das mãos, e então levantou-se.
“Não chore, Gi. Não chore nunca mais, porque nada nesse mundo vale as lágrimas que você derrama”, ele deu-lhe mais um beijo, agora na testa. “Promete?”
“Prometo.”
Ele sorriu a ela, sinceramente, e saiu do quarto. Ela desfez o sorriso que esboçara nos lábios e fechou os olhos com força.
“Perdoe-me, meu irmão, mas para servir à tua promessa, terei de quebrá-la”, murmurou entristecida. Desatou o nó e espremeu todas as suas angústias, medos, dores, tristezas e esperanças e expeliu-as para fora de si com uma única lágrima, a sua última. Enquanto escorria, sentia seu corpo esvaziar-se. Então, sua vida, seu ser, seu todo fora feito daquilo, de desejos frustrados, incertos, errados, que ela deveria anular.
Ron... Também te amo, mas o meu amar você é diferente do seu amar-me, pensou, sentindo que sua vida dava uma guinada, mas para que lado? O que teria lá? Pelo que deveria esperar agora? De uma coisa estava certo: não choraria mais, tampouco riria, porque qualquer caminho que trilhasse jamais a conduziria à felicidade.
N/A: hahá! eu sei... eu adoro casais impossíveis... mas essa é a graça da coisa... vai que o casal é possível e não termina junto? seria trágico... whatever... melhor saber que não dar certo mesmo, aí nem se desaponta. não me lembro de onde tirei a idéia amalucada de começar a escrever sobre eles... mas eu gostei. espero não desapontar muitas pessoas... eu sou R/Hr, claro... mas sonhar um pouco não faz mal a ninguém. se alguém leu isso, por favor, me deixe uma review. eu gostei desse capítulo... espero que eu mesma possa gostar dos próximos. normalmente sou uma crítica muito chata... mas se eu gostar, acho que tem muita chance dos outros gostarem. bom, isso é o que vocês me dirão... já falei demais, então, fui!
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