Queixo Caído
N/A - Desta vez farei uma exceção e um grande esforço para não praticar aquele esporte... E acho que vocês sabem por quê; é que eu quis dedicar essa nota a um aviso especial que alguns já previram; a partir do capítulo vinte e um, ou seja, ESTE (duhh) vou começar uma nova fase da fic. A princípio a idéia era escrever daqui em diante a partir do ponto de vista do Tiago, mas isso significaria ser obrigada a obstruir uma série de pensamentos e observações da Lílian, portanto acho que a divisão acabou sendo mesmo ANTES e DEPOIS da Lily ter se rendido aos encantos do nosso querido Tiago Potter...
Obrigada a todos que revisaram! E desculpem pela demora...
Capítulo Vinte e Um - Queixo Caído
E depois que eu me dei conta daquilo, muitas coisas se resolveram subitamente: sorrisos perturbadores, beijos dos quais eu não conseguia fugir, decepções de um grau tão alto que eu aposto que não teria nem mesmo com Alice... Era como se dúzias de coisas estivessem girando nas engrenagens para finalmente pararem em seu devido lugar.
E eu também, estava no meu lugar. Eu nunca havia notado antes como os braços de Potter podiam ser confortáveis... E macios, e quentes, e protetores...
Acho que ele não estava entendendo nada, mas também eu tinha me dado ao trabalho de fazer tudo de um jeito que nem eu mesma tinha entendido, até a hora em que nos beijamos.
Depois daquele beijo maravilhoso, aliás, nos separamos e eu não resisti a olhar fundo nos olhos de Potter. Ele gaguejou, entreabriu a boca, como que prestes a perguntar alguma coisa. E de repente, eu senti uma grande vontade de falar também. Mas não tinha coragem de fazer isso olhando nos olhos dele. Portanto, o abracei de novo - e quase esqueci o que ia falar quando ele me segurou com mais força... - e coloquei minha boca bem ao lado do ouvido dele. Não queria pensar no quanto tudo aquilo era impossível.
-Sabe de uma coisa... - murmurei, bem devagar. - Acho que ás vezes você pode mesmo ser um bom garoto.
A música começou a se fazer ouvir nos meus ouvidos de novo, agora que eu estava me acostumando à situação. Nós dois estávamos parados, feito dois idiotas, no meio de vários alunos do sétimo ano, que dançavam e se divertiam à nossa volta.
-É, eu posso - ele falou, passando uma mão pelos meus cabelos. - Só queria que você tivesse percebido isso antes. Esse tempo todo você desperdiçou esse gostoso aqui...
Provavelmente pela primeira vez na vida, não fiquei com raiva de vê-lo se gabando, e eu simplesmente entendi que tudo o que ele queria era me fazer rir. Foi quando criei coragem para me voltar e olhá-lo nos olhos (eu já mencionei neste parágrafo o quanto eles parecem aveludados?) e dizer, num sorriso contido:
-Seu idiota.
Ele sorriu largamente, mas eu não tive tempo de contemplá-lo, porque ele se aproximou e me beijou de novo...
~~
Eu ainda não tinha pensado direito no que estava acontecendo. Hoje até me surpreendo de ver como tudo se desenrolou, como eu não o espanquei e não fiz nenhum esforço para mantê-lo longe... Dali a pouco ele sugeriu que buscássemos um pouco de cerveja amanteigada.
-Sabe de uma coisa, Lílian - ele disse, com uma mão sobre o meu ombro. Vagamente me lembrei que não devia deixá-lo me chamar pelo primeiro nome. - tudo isso parece irreal. Não estou entendendo nada. Você não me odeia?
Ergui os olhos, pensando em como poderia responder. Sentir era uma coisa. Colocar em palavras era outra completamente diferente! Certo que eu estava um tanto amolecida com minha constatação, mas a ponto de confessar que todo aquele ódio havia uns tempos apenas servia para mascarar algo oposto... Não mesmo!
-Ficou muda, é? - ele continuou. Sorriu. - Bem, só espero que um pouco de cerveja amanteigada solte a sua língua... Estou me sentindo meio usado, sabia? Como se você não quisesse conversar comigo... - terminou, com uma carinha inocente que não enganaria nem a mãe dele.
-Posso concluir disso então que agora que sabe como as pessoas se sentem não vai fazer mais isso com os outros? Ou deveria dizer as outras? - felizmente ele me dera uma boa oportunidade para tentar reconhecer minhas ações.
-Opa. Acho que preferia você calada, Lílian. Brincadeira! - acrescentou, ao ver a minha expressão de quem está prestes a começar uma guerra. Em seguida, ele passou a mão pelos cabelos e involuntariamente deu uma boa olhada numa corvinal que passava de braços dados com seu par. Será que o encanto já estava se quebrando?
Potter, Tiago, ou seja lá como eu estava disposta a chamá-lo, estendeu as mãos e pegou uma cerveja para cada um de nós. Eu já estava com o primeiro gole dentro da boca quando uma voz pra lá de desagradável chegou aos meus ouvidos.
-Creio que essa é a cena mais deprimente que já vi! - era Malfoy, sentado na mesa mais próxima, ladeado por Snape e Narcisa Black. - Potter e Evans!
Eu normalmente não me importaria com nada que ele dissesse, mas realmente não gostei de ter sido surpreendida junto de Potter. Talvez porque nem eu mesma tinha me acostumado ainda, e me parecia também muito esquisito divulgar algo tão pessoal e que eu havia descoberto há no máximo meia hora.
-Não, Malfoy, somos o papai Noel e a fadinha dos dentes. - retorquiu Potter, revirando os olhos e sorrindo. - Talvez uns óculos te fizessem bem, sabia?
-Acho que se posso enxergar algo tão insignificante quanto uma Sangue Ruim minha vista está ótima, obrigado, Potter. - Malfoy o olhou de cima a baixo, assim que tirou os olhos de mim. - Você sempre foi mesmo uma decepção... Mas algumas pessoas gostarão muito de saber que você assumiu que agora é escória como todos esses mestiços com quem você sempre se mistura.
-Hã, me desculpe... Eu não me lembro de ter pedido a sua opinião sobre as minhas companhias. Você perguntou, Lílian? Eu acho que não, não é mesmo? Pra quê nos importaria a opinião de um perdedor como Lúcio Malfoy?
Sua mão apertou meu ombro mais forte, e eu me senti protegida, ainda que naquele preciso momento Malfoy não representasse perigo algum. Até aí, ele realmente não me pareceu nada mais do que um cara muito invejoso sem uma garota pra despejar seus hormônios. O que me deixou com a pulga atrás da orelha foi o que ele disse em seguida:
-Caçoe, Potter, ria bastante enquanto sua boca tem todos os dentes. Você ainda vai saber com detalhes o lado que deveria ter seguido desde o começo.
-E quem vai me espancar ou me amaldiçoar? Não você, é? Se for diga, porque eu adoraria rir mais um pouco esta noite... - será que ele estava mesmo insensível ao ódio que pingava das palavras do sonserino?
-Aproveite esta noite para se divertir, Potter. - replicou Malfoy com um olhar malicioso. - Enquanto isso eu tenho uma piada para espalhar... Potter e Evans se agarrando no baile...
-Idiota - Potter resmungou para as costas do sonserino. - Venha, Lílian, não ligue pro que ele diz. Ele só cumpriu uma vez as ameaças, e acho que ele ainda tem as cicatrizes daquele dia.
Acho que ele não tinha entendido sinceramente as ameaças de Malfoy. Ele tinha falado BEM sério, eu tinha percebido.
-Você deu uma boa sacada no modo como Malfoy falou com você? - não resisti a perguntar.
-O quê? As coisas do tipo "aproveite enquanto tem todos os dentes?" Não se preocupe, Lílian, ele não tem poder para cumpri-las.
-Caso não se lembre, Potter, ele já demonstrou bastante poder quando me lançou a Imperius há alguns tempos atrás. - sibilei, andando no meio da multidão e tirando o braço dele de cima dos meus ombros.
-Lílian, qual é exatamente o seu problema? Foi só outra pessoa nos ver juntos que você voltou a ser a Evans de sempre!
Não respondi, mas continuei caminhando. Talvez se eu encontrasse Alice e Frank e me sentasse com eles, Potter não tivesse coragem de se infiltrar de novo. Eram, afinal, informações demais para uma noite só. Muita coisa para pesar.
Entre elas, o fato de que eu realmente tinha mudado ao ser vista com Potter. Olhei para a minha cerveja amanteigada, enquanto ouvia por sobre a música os gritos de Potter mandando me esperar. Não pude deixar de sentir pena. Ele realmente não devia estar entendendo nada. Num momento, estava tudo maravilhoso, e de repente ele era um cego que me dava vergonha.
Era mais coisa de orgulho, assumi pra mim mesma. Depois de tantos anos dizendo NÃO a ele, eu tinha sido derrotada pelo cansaço.
Avistei então Alice, sentada com Frank e rindo muito. Já estava me sentindo mais aliviada por ter me livrado quando Potter me alcançou e me segurou pelo cotovelo.
-Será que dá pra me responder? - inquiriu ele, não mais curioso nem sorridente, e sim bravo.
-Potter, eu preciso ir, me solta...
-Potter? - ele repetiu, mas foi interrompido por alguém que esbarrou nele e pediu desculpas em seguida. - Por que está me chamando pelo sobrenome? Eu pensei que depois do que rolou a gente...
-Pára, Potter, que coisa! Está dizendo que eu tenho que ficar o resto da vida grudada em você por causa... daquilo? Você não entende...
-Não entendo mesmo, Lílian, aliás, não estou entendendo nada do que está acontecendo. Será que você não podia me explicar? Podemos ir para a sala comunal e...
Como te explicar que de repente eu me toquei que estou apaixonada por você e ainda por cima tenho vergonha de espalhar isso, Potter?
Senti alguns olhares sobre nós. Eu tinha que dizer alguma coisa, inventar alguma história, mas como estava sendo forçada a encará-lo, fiquei um pouco sem palavras. Ele estava olhando pra mim com as sobrancelhas erguidas, confuso, e com a boca entreaberta...
Eu queria te beijar agora, na frente de todos, Potter, mas ao mesmo tempo não quero, porque isso implicaria assumir uma derrota. E nós dois sabemos muito bem como eu não consigo lidar com derrotas.
-Eu... eu... eu não consigo... Não, não chegue perto! - exclamei quando ele fez menção de me abraçar. - Acho que você não entenderia... Eu... vou subir, não me siga!
Aquela noite já dera o que tinha que dar. As coisas se misturavam na minha cabeça enquanto eu corria todo o caminho até a sala comunal.
-Hipogrifo! - exclamei para a Mulher Gorda enquanto me jogava de um modo bastante suicida num sofá.
Fiquei hipnotizada olhando para o fogo por alguns minutos. Parecia que entre as chamas eu estava vendo o rosto de Potter. Como eu pude não perceber um sentimento como aquele naquele tempo todo?
"Tiago sempre quis sair com você, Lílian. Fez isso pra provocar seus ciúmes. E estou vendo que conseguiu. Você ficou de péssimo humor depois de saber que ele saiu com Silvertorn."
Remo me disse isso, e no dia isso pareceu um absurdo ridículo. Ah, como posso explicar pra vocês como estava me sentindo? Era algo muito estranho. Meu estômago revirava, e Potter nem estava por perto. Fechei os olhos e foi justamente o rosto dele que eu vi, nitidamente, bem na minha frente. Abri os olhos, atormentada com a visão e enterrei o rosto numa almofada.
"Eu resolvi te dizer tudo aquilo porque não suportava mais que você me ignorasse!", lembrei dele dizendo. Potter gostava de mim. Potter gostava de mim. Repeti isso na minha cabeça uma série de vezes, e a idéia me parecia muito mais abrangente na hora. Não pela primeira vez, imaginei como seria se fôssemos namorados, assim, como aqueles que andam sempre juntos, exatamente como Alice e Frank.
Como era possível que eu sentisse ondas nas entranhas e arrepios só usando a minha imaginação?
O retrato da Mulher Gorda girou de novo, e eu tentei me esconder atrás do encosto do sofá, ao mesmo tempo que sabia já ter sido vista. O jeito era me entregar.
-Potter, eu disse pra não me seguir... - adiantei, antes que pudesse me virar e ver que não era exatamente Tiago Potter que olhava pra mim com uma expressão triste.
-Acho que sou a errada pessoa pra estar aqui agora, então. - Remo murmurou.
-Oh, nossa, Remo, me desculpe. - consertei. - Não vejo nada de errado em você ficar aqui... Mas por que você saiu do baile? Não está se divertindo?
-Bem, sim, não estava ruim. - ele respondeu, se sentando numa poltrona devagar. - Mas fiquei preocupado quando vi o modo como você parecia perturbada.
-Não me diga que você saiu do baile só por minha causa! - exclamei, me sentindo culpada.
-Fiquei pensando se o Tiago não teria feito algo ruim com você. - ele falou, nitidamente querendo arrancar de mim uma confissão.
Fez, eu pensei, me deixou tremendamente confusa, me beijou, me abraçou e me fez gostar dele. Como explicar?
-Bem, ah... Não sei o que responder, Remo, sinceramente.
-Pode começar pela parte em que ele te agarra e você não reclama. - ele replicou, como se perguntasse as horas.
-Remo! - exclamei, surpresa.
-Você não devia ter vergonha de gostar dele, sabia. - ele falou calmamente, me olhando atentamente.
Fiquei calada e desviei o olhar dele. Como Remo podia saber exatamente o que se passara? Ele não podia ter nos seguido a noite toda, eu teria percebido! E que droga, ele gostava de mim. Imaginei como deveria ser horrível ter a atitude correta que ele estava tendo.
Baixei a cabeça.
-Que droga. - xinguei. - Todos sabiam e só eu que não. Nunca imaginei que eu pudesse enganar a mim mesma tão bem. Devo ser mesmo uma ótima atriz - falei, irônica.
-O problema é que no meio disso tudo você só enganou você mesma - Remo disse, sorrindo triste de novo.
Olhei para ele.
-Me desculpe. Isso deve estar sendo mesmo horrível pra você. Sou uma grande idiota.
-Não se culpe - ele falou. - Mas não vamos falar de mim. Não estou tão mal assim. O caso é que o assunto de agora é você - poderemos conversar outra hora sobre o que anda acontecendo comigo.
Tentei sorrir.
-Não perca mais tempo. - Remo falou de novo.
Aquilo não pode deixar de me comover; ele estava sendo tão legal comigo... Se eu pudesse mandar nos meus sentimentos, nunca mesmo teria entrado naquela confusão com Potter. Ele era tão companheiro... Não me contive e o abracei.
-Obrigada, Remo.
Como eu pude ter vergonha de deixar que os outros vissem que eu gostava de Potter, afinal de contas? Que ridículo! Tudo por culpa do meu orgulho! O que haveria de tão errado em se deixar levar, ao menos uma vez na vida?
Remo subiu para o dormitório, dizendo que o baile daquela noite já fora divertido o suficiente para ele. E eu quis descer atrás de Potter naquele mesmo momento, pegá-lo no meio do baile, nem que fosse nos braços de outra garota, mas quando eu estava prestes a dizer a senha para a Mulher Gorda, o retrato girou e ninguém menos que Potter entrou na sala comunal.
-Potter... - murmurei, pega de surpresa e tentando me lembrar do discurso que eu estivera ensaiando poucos minutos atrás.
-Tudo bem, Evans - ele interrompeu. - Não vou te interrogar mais. Já entendi tudo. Você é apenas uma grande maluca, e ainda que fosse sã, nunca chegaria mesmo perto de mim por causa dessa bosta desse seu orgulho que vive te dizendo que eu não sou bom o suficiente pra você. Só estou indo pro meu dormitório. Pode me deixar passar, monitora??
-Não, não posso - falei, tomando fôlego. - Você não vai sair daqui agora, porque eu fiz muitas besteiras essa noite... Tiago.
Foi a primeira vez que o chamei pelo primeiro nome, e o som das letras pareceu até estranho na minha voz. Mas ao menos isso teve o efeito que eu esperara. Potter parou o que estava fazendo e olhou pra mim, indeciso sobre como reagir.
-Se ao dizer besteiras está se referindo ao fato de que você me beijou tanto quanto eu te beijei, não se preocupe. Vou esquecer outra vez e você terá sua paz.
-Seu idiota - xinguei-o pela segunda vez naquela noite, percebendo que conversa não resolveria.
Fiquei na ponta dos pés e o beijei, sem pensar duas vezes pra não me arrepender. Senti-o estremecer, talvez com o susto, talvez com o meu toque, para depois relaxar os braços e me envolver outra vez. Mais uma vez, as engrenagens pararam em seus lugares.
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