-Amigos e Inimigos-



-Amigos e Inimigos-

Ele procurou em silêncio um pacote de bandagens, que recebera de Pomfrey antes, se arrastou para fora do quarto como gato, bandagens na boca, até o banheiro.
Mais lágrimas, novamente não sabia o motivo para elas, já passara por coisas piores... dores maiores...mas elas corriam, ele estava preocupado, “eu vou enlouquecer... eu não sei o que estou fazendo mais...” estava lavando os ferimentos, as marcas das presas daquele lobo, mas o sangue não parava, será que eram envenenadas como as de Nagini? Estava tremendo, sua mão estava úmida, os dedos arroxeados, ele se olhou no espelho, nada mudara, estava novamente pálido como um morto... pegou a varinha e fez um feitiço para estancar o sangue, funcionou... ele envolveu a perna com as bandagens e vestiu a calça, voltou devagar, mancando para o dormitório, ainda silencioso, tirou o lençol e suas roupas sujas e estragadas, embolou-as com um suspiro, pegou seu material e desceu sentando na poltrona, seria duro, mas teria que encarar uma maratona de insônia para fazer os exames, porque não queria que o apontassem dizendo,”ele fica doente, ele apronta e se safa...” , não... queria fazer uma coisa na vida como uma pessoa normal... como um rapaz normal... estava cansado de ser diferente...
-Você está acordado?
-E você,porque acordou cedo?-ele tentou sorrir.
-Pensei em organizar isso... pra você.
Hermione estendeu uma enorme pasta fichário com suas anotações, ele até ficou tentado,mas retorquiu:
-Não, obrigado...
-Mas Harry você precisa...
-Não, posso estudar como todo mundo...- acenou com o livro.
-Não pode não...- ela disse olhando o fichário.
-Pára.- ele disse irritado se levantando.- Tudo que eu NÃO preciso é de gente me tratando como coitadinho.-disse pensando em voltar para o dormitório.
Ela lhe lançou um olhar magoado, então exclamou:
-Você tá mancando! Porque?
-Machuquei quando caí, lembra? Ontem?- apontou para o chão.
Ela olhou para a lareira apagada, ele amoleceu, voltou e pegou o fichário.
-Tá bem, mas não me olhe assim...

Ela abriu um sorriso, o abraçou...então sem aviso o beijou.

Foi como um choque, ele deu um pulo para trás... tudo nele entrou em estado de alerta, nem ele mesmo sabia os reais motivos mas falou gravemente:
-Não faça isso de novo...- disse assustado, costas da mão sobre a boca.
Ela o encarou surpresa:
-O que foi?
Mas algo irracional tomou conta dele, ele deu dois passos para trás batendo a perna ferida na mesa, mas não se importou, apenas se sentiu muito estranho, algo ruim. Virou e correu até o dormitório, parou sentando na cama, na mão o fichário, ficou olhando.
“porque eu reagi assim?”
Estava tremendo.

Quando os amigos acordaram ele ainda fingiu estar estudando, Rony lhe deu um tapinha nas costas animado:
-Vamos comer?
-Vá indo, quero terminar de ler isso, a Hermione me emprestou.
-Sacanagem... ela não me emprestou nada. Vamos...Rony o puxou animadamente.
Ele desceu constrangido, desviou o olhar quando Hermione se aproximou, felizmente Rony começou a reclamar dela não ter emprestado nada para ele...
Ele comeu pouco e em silêncio, observando o salão... havia um clima estranho ali, ou era ele mesmo que estava estranho?
Mas os exames os distraíram, as noites que passavam estudando até tarde,até ajudando Gina a se acalmar, assim como o Collin que se juntara a eles implorando umas dicas, estavam até dando aulas de reforço aos quintanistas em plena sala comunal, ele emendando as noites com medo de adormecer, cochilando de leve nas madrugadas, evitando o olhar crítico de Hermione, aproveitando as escapulidas de Rony com seu fichário, o que Mione dera para ele, aproveitando as piadas dos gêmeos, evitando pensar na sombra que pairava agourentamente sobre ele... “estou tão positivo quanto a Trewlaney...” ele pensou mal humorado na manhã de sexta feira, tinha ido mal em feitiços, mas teria transfiguração e criaturas, duas das coisas em que iria bem... se sua perna não doesse tanto... não sangrava mas era como se estivesse infeccionada, mas também não era isso, os ferimentos não fechavam... mas ele não sangrava, estava fazendo planos para ver Pomfrey após a aula de Hagrid... se conseguisse se arrastar até lá depois.

Harry saiu nervoso da prova de história... primeiro porque lhe deu um branco total, segundo porque cochilou, terceiro porque a cicatriz deu uma fisgada dolorosa e ele teve medo de ter outra visão insana em plena prova... mas não, conseguira fazer o mínimo para não ser tachado de trasgo... mas com certeza qualquer um da turma teria ido muito melhor... ainda percebeu que Hermione o olhava com desgosto, mas se forçou a agir normalmente, apesar de obviamente abatido, sabia que ela desconfiava de algo... além daquela história, o beijo... era pensar naquilo que ele voltava a sentir aquela sensação de alerta, de desespero... e não sabia precisar o motivo... se concentrou na matéria assim que viu a profa Minerva...
-Isso não é justo...- disse Hermione.- Não é não...
-Mione...- ele disse irritado.
-Era uma Arara!!!
-Ela disse um pcita... psica...- começou Rony.
-Um pscitacídio!!!- disse Hermione. –Um papagaio! periquito!
-E Arara!!!- disse Harry irritado.
Eles tinham acabado o exame de transfiguração, onde os alunos fizeram os colegas se transformarem nas mais variadas coisas em especial mamíferos e algumas aves,a professora McGonagall disse que outros animais não seriam cobrados, o que fez Harry e Hermione ficarem desapontados, pois já estavam adiantados, capacitados para transformações em répteis... quando ela pediu um pscitacídio, Hermione transformou Rony em um periquito australiano, arrancando aplausos da turma, então Harry se empolgou e a transformou em uma Arara... o que fez muito mais sucesso.
-Não é tudo passarinho?- disse Rony aborrecido.
-O Harry é muito exibido isso sim...- ela retorquiu.
-Fala sério Hermione, você só não gostou que eu levei mais elogios que você...-Harry disse rindo.
Ela o olhou profundamente indignada, ele parou de rir.
-Você...-ela se virou e foi andando a frente.
Ele parou de sorrir, olhou para Rony que bateu palmas de disse:
-Beleza... mais uma dessas e ela vai odiar você...

Hermione não falou mais com ele. Foi assim até o último exame, feito em duplas, Hermione lhes deu as costas e foi fazer com Neville, mas ele foi muito bem, principalmente descrevendo as Quimeras em detalhes, como o efeito do veneno delas, Rony adorou a chance de ficar com ele, no final ele tentou deixar todo mundo se adiantar, não queria ver a cara da amiga, nem os olhares dos sonserinos quando fosse a ala hospitalar... ele olhou aliviado quando Hagrid lhe chamou:
-Você brigou com a Hermione de novo?
-Como assim?
-Olha para ela.- disse Hagrid pegando a caixa com comida para as Quimeras.
Olha pra ela? Nossa que maravilha... ele pensou, ela deve estar magoada ainda...
-Como assim?- seguiu Hagrid mancando.
-A Mione tem um bom coração... sabe... e você não está ajudando... nem o Rony...
-Hã?- ele parou do lado do campo de abóboras... olhando o amigo.
-Sinceramente vocês deviam parar de empurra-la um para o outro... ela tem sentimentos... a Mione.
-Ela gosta dele... é melhor para ela...
-Rony falou a mesma coisa.
Harry olhou para Hagrid, olhou para as abóboras.
-Vou ser bem sincero, eu não sei o que fazer... por que não consigo sentir nada sabe... ainda acho que ela vai ser mais feliz com o Rony...
Hagrid balançou a cabeça, mas sorriu.
-Então conversem... ajuda mais, eu sei... falar sempre ajuda...
-Obrigado Hagrid, vou falar...-disse se virando.
-Harry!
Ele olhou para trás.
-Trate essa perna!
Harry sorriu.”Direto pra Pomfrey... não dá pra esperar mais...”
Havia algo de bom no pensamento de ir até a ala hospitalar e descansar... fim das provas... maravilha!

Coisa que não dura... felicidade... calma, mas naquele momento Harry estaria em contato com algo pior, ele mal sabia quando divisou os três... e somente assim os podia chamar, “os três”, que pareciam esperar, talvez por ele...
-Falando o com o mestiço...mestiço?- disse Malfoy.
Harry riu...
-Está ficando educado... seu pai sabe disso Malfoy?
-Não fale do meu pai...- disse Draco com um sorriso frouxo.
-Tá bem, não falo... não morro de amores por ele...
-Ora cale a boca Potter!!!
Crabbe e Goyle estavam apenas olhando, vigiando.
-Se não quer que eu fale, porque puxou conversa?- retorquiu irritado.
-Vamos dizer o seguinte... quero saber o motivo real de você ter me chamado para a Ad...
Surpresa... algo estranho no ar... raciocine Harry... cadê a Mione quando preciso? “não... porque admito que não estou no meu melhor dia...”
-Sabe... Howarts... alunos... mesmo sendo um panaca isso não muda o fato de você ser em ser humano... como os outros...-disse tentando entender o que estava acontecendo.
Malfoy o encarava com um misto de fúria e admiração.
-Sem brincadeira Potter, o que você está tramando.
-Ao contrário dos seus, eu não tramo nada... faço o que tenho que fazer... gostando ou não.
-Não?
Harry sorriu, algo nele gostou da conversa... pedia que continuasse, instinto.
-Sabe, Malfoy... admito que adoraria ver você chorando de novo na frente dos Dementadores... então? Desmaiou também... o que você sentiu?
Malfoy arregalou os olhos, deu um passo atrás.
-Ah... será que estava pensando naquele pequeno bichinho albino?- Harry perguntou maldosamente.- Ou será que tem algo pior na cabeça?
Malfoy ergueu a varinha.
-O que você está fazendo? Pare de fazer isso.
Ele olhou de esguelha, Crabbe e Goyle tremiam e estavam arrastando os pés para trás, com medo.
-O que foi Malfoy? Você não tinha planejado me dar outra surra? Agora que viu que estou ferido de novo?-apontou a própria perna.
-Como você sabe? Como...
-Você é um moleque muito óbvio Malfoy...
-Não fale assim comigo Potter!-ele apontou a varinha.
-Expelliarmus!
A varinha de Malfoy voou:
-Pensei que tinha me livrado de você Draco... que você tinha entendido por bem que minha paciência tem limite.
Draco olhou perdido para Crabbe e Goyle, os dois não se moviam, Harry não imaginava o motivo da covardia deles, muito menos a reação de felicidade que viu em Draco quando os dois começaram a se afastar, de resto estava muito bem obrigado.
-Pare com isso... –gemeu Draco com olhos arregalados.
-Que foi? Eu não...
Sentiu, algo tão forte emanava dele que simplesmente os colocou em pânico, era exatamente isso, como a magia de pânico que Morgan lhe ensinara... ele riu... akasha. Respirou fundo e riu.
-Você é louco...-disse Malfoy caído sentado no chão.
-Muita gente é dessa opinião...Draco.- ele estendeu a mão.
Crabbe e Goyle pareceram se recuperar avançaram, Draco se levantou rapidamente.
Ele bateu na mão estendida de Harry , se encararam, havia urgência e medo nos olhos do loiro... Harry podia sentir.
-Preciso falar com você.- ele disse muito baixo e em tom de urgência.
-Falar comigo é perigoso... pra você.-disse sério olhando os guarda costas de Malfoy.
-É...Eu sei. –sussurrou.
Harry sorriu:
-Petrificus totallis!!!
Malfoy caiu duro, sem compreender o que acontecera... Harry olhou para Crabbe e Goyle:
-Qual o próximo?- riu.
Os covardes saíram correndo, ele não tinha muito tempo se abaixou:
-Finite incatatem!
Malfoy se sentou olhando-o, olhando em volta:
-Onde eles foram?
-Correram, belos amigos...
-Não são amigos... são... carcereiros...
Harry não ficou surpreso, mas não se deu ao luxo de ficar empolgado.
-Fale...
-Vou ser bem franco... não posso mais falar com o professor Snape... eles descobriram o que estávamos fazendo... por algum motivo algo aconteceu na minha casa, e eu não sei o que é...
Malfoy parecia amedrontado, se ele não soubesse que o garoto preferia tomar veneno a se mostrar apavorado diante dele pensaria seriamente em enganação...
-Tá Malfoy, eu não sou informado de tudo que acontece...- o outro o olhou com deboche.- É sim... não me olhe desse jeito, tá se sentindo usado? Bem vindo ao clube... vamos, vira aquele bicho e vamos até Dumbledore...
-Como?
-Se transforma!
-Seu... pare de mandar em mim!
-Anda logo!
-Mas...
-Vira ou eu te viro!- apontou a varinha.
POP!
Harry olhou em volta, pegou a doninha e enfiou, com a mesma delicadeza que Sirius utilizou com Snape naquele dia em que Rabicho fugira, na mochila.
-Fique bem quieto, depois vamos pensar em como não dar na vista...
O bichinho na mochila se virou, deu um pequeno estralo e ficou quieto.
-Accio varinha. – Harry guardou a varinha de Draco no bolso das vestes...

As ironias da vida... pensou Harry, estava sozinho, detonado, cansado, e carregando Draco Malfoy na mochila como se fosse um bicho de estimação... dava para rir de si mesmo... mas também estava pensando no garoto encolhido ali dentro, com certeza era algo grave, conhecendo Malfoy como conhecia, recorrer a ele devia ser o ápice da humilhação... qual a parcela de culpa de Snape naquilo?
Entrou no castelo, o mais rápido que sua perna podre conseguia... estava indo em direção a sala de Dumbledore quando alguém o parou no caminho:
-Poxa, aonde você se meteu?- disse Hermione.
-Estava conversando com Hagrid...
-Vamos até...
-Olha Mione eu tenho que fazer uma coisa antes...
-O quê?
Eles se olharam, ele sentiu um estremecer na mochila, tinha que se apressar.
-Mione... a gente tem que conversar sério... mas não agora...
Palavras erradas, os olhos de Hermione brilharam...
-Porque não agora?- ela deu um passo a frente, ele um para trás.
-Mione depois...
-Olha Harry eu entendo tá, você acha que eu não entendo que você esteja meio confuso...
"Mione... você nem imagina quem está escutando isso... cala a boca!" ele quis gritar, mas ela tinha se empolgado... como ela mudara, como aquilo a tinha feito perder a timidez que tinha, e já era pouca...
-Eu tenho mesmo que ir...
-Mas... -ela se aproximou mais.
Ele voltou a ir para trás, se encostou na parede, a doninha se agitou ao ser comprimida. "Droga".
-Sabe Harry... eu acho que vou tomar uma decisão... por nós...
Ela se aproximou mais, ia abraça-lo, novamente foi tomado por aquele instinto, uma reação quase involuntária, se encostou na parede, apertando a doninha, que lhe deu uma mordida pela mochila e se virou empurrando com as patas, novo salto, pra frente, e acabara nos braços de Hermione, ficou ali, encostado nela, meio que chocado, meio que sem controle da situação...
-Não se preocupe... vou dar o tempo que você precisar...- ela disse no ouvido dele.- eu acho que vou me afastar um pouco... mas é difícil sabe?
As mãos dela estava segurando seus ombros, era uma sensação diferente ela falando assim em seu ouvido... Malfoy parecia tremer na mochila..."está rindo o desgraçado..." pensou.
O pior é que ela lhe estralou um beijo na bochecha, ele estremeceu.
-Eu preciso ir...
-Desculpe...- ela se afastou e saiu andando...
Ele começou a andar cada vez mais rápido, a doninha agitada na mochila que ele tirou do ombro e sacudiu com raiva.
-Sossega!
-Potter!!!
"Ah... não..." ele se virou e olhou a profa Minerva.
-Sim?- tentou parecer calmo.
-O Diretor pede que vá aguardá-lo, com seu acompanhante na sala dele, parece urgente.- ela falou eficientemente baixo e olhando-o como se pudesse estar acompanhado de alguém invisível...
Ele a seguiu, finalmente Malfoy sossegara... ele ainda estava agitado, as provas... Hermione, Malfoy... tudo aquilo ao mesmo tempo... e agora Dumbledore parecia estar informado.
-Varinha de canela.- disse ela em frente a gárgula.- Ele pede que o esperem, assim que voltar irá conversar... com vocês...- ela disse incerta e se virou.
Subiu nos degraus, sentiu a porta fechar, já estivera ali tantas vezes... parou em frente a porta fechada, se estivesse só entraria sem cerimônia, mas estava acompanhado, muito mal acompanhado... abriu a mochila e pegou a doninha que estava toda arrepiada, jogou no chão.
POP!
Malfoy estava amarrotado, cabelo desgrenhado, mas ainda teve a idéia de debochar:
-A Granger não é? Então é verdade...
A mochila o atingiu na cara, o rapaz olhou-o, Harry sibilou:
-Eu estou com as varinhas, não se esqueça.
Malfoy ficou quieto, sentou no chão...alguns minutos se passaram.
-Afinal o que está havendo?- ele se virou para Malfoy.
-Eu não sei... só entrego os recados certo?
-Recados?
-Da minha mãe para o professor Snape... é isso que eu faço.
-A quanto tempo?
-Sempre... sempre fiz.
Draco estava ali, sentado no chão, mãos na cabeça olhando o chão, novamente abatido. Harry parecia entender ...
-Você nunca leu...
-Você é meio idiota não é Potter? Acha que dá pra ler um recado azarado?
-Tá certo. Mas você nunca soube o que era, do que se tratava?
Malfoy o olhou, corou e virou o rosto.
-Achei que eram amantes...
Era óbvio que ele só podia achar aquilo, naquela cabeça deturpada.
-E ajudava mesmo assim... e seu pai?
-Nem me fale dele.- disse com nojo.
Por um segundo Harry viu o olhar perdido de Morgan em Malfoy.
-Tá, me deixe pensar... -disse se apoiando na porta.
-Novidade...
-Eu pensando?- retorquiu.
-Você pedindo...
Ele olhou Malfoy ali o encarando, arrepiado "doninha...", mais ainda ficou com pena, porque encaixando as peças algo negro estava no horizonte... prestes a desabar no loiro...
-Quando você caiu em si, hein?
-Sobre os recados?
-Não... sobre minha finada mãe...
Draco torceu o nariz, acentuando a semelhança com a mãe esnobe dele, realmente, Draco era mais parecido com a mãe que com o pai... na verdade os pais dele eram parecidos demais, como irmãos...
-Agora, depois do Natal... entreguei um recado a minha mãe mas ela parecia não saber do que se tratava... como se nunca tivesse visto aquilo... achei estranho. Ela estava estranha...
-Depois do Natal? esquisito.
-Muito, ela anda muito estranha, e agora fiquei sabendo que estão me vigiando...
-Será que ela...
Harry não quis cogitar na frente de Draco que a mãe dele podia estar sob a maldição Imperius... mas a maldição não mexia com a memória...
O tempo estava passando, Harry se sentou também apoiando as costas na porta, estendendo a perna ferida..."eu tinha que estar tratando ela..."
A porta se abriu de sopetão, Harry caiu e olhando para cima viu a cara divertida de Dumbledore, escutou uma risada triste de Draco.
-Acho que há lugares mais confortáveis para você dois se sentarem.- disse Dumbledore.- aqui dentro... por exemplo.
Se algum dia ele sonhasse que se sentaria ao lado de Draco Malfoy, em frente a Dumbledore, para ajudar o tal, ele mesmo se tacharia de louco. (Não que tal rótulo não viesse sendo usado nele com certa freqüência.)

Dumbledore os olhou, sentado em sua cadeira... escrivaninha entre eles...
-Fiquei sabendo de sua situação pelo prof Snape, Draco, agora infelizmente tenho que lhe dar notícias nada agradáveis...
Harry encarou Dumbledore, tipo: "e eu? eu não tenho nada com isso... posso ir?".
-Gostaria de dizer que seu pai está em liberdade...
-Impossível!- falou Draco que olhou Harry. - Ele está preso, eu mesmo vi.
-Não... não está não.- disse Harry.- eu o vi.
Os dois se encararam. Então Harry se virou para Dumbledore:
-Eu disse que o tinha visto... mas realmente nada foi divulgado sobre sua fuga.
-Mas ele não fugiu.- repetiu Draco.
-Ambos estão certos de certo modo, por isso suas informações foram importantes Harry, pudemos entender porque alguns comensais presos foram recentemente vistos em liberdade, inclusive seu pai Draco.
-Cópias?- perguntou Harry.
Draco o olhou intrigado, estava branco.
-Não... mas o mesmo tipo de magia negra...
Draco olhou Dumbledore.
-Uma Jinki conhecida como Dopelganger...
-Dopelganger é uma criatura, não uma maldição.- disse Harry chateado.
-Certo.- sorriu Dumbledore.- Por isso você é o atual presidente da AD, Harry.
Draco agora os olhava perdido como se não entendesse a lingua que falavam... mas Harry suspirou impaciente, Dumbledore explicou:
-A Jinki age como a maldição Imperius na vítima, enquanto outra pessoa assume seu lugar... na verdade é quase uma troca de corpos...
-Ou como a poção Polissuco?
-De certa forma... Draco fomos até a prisão... e encontramos alguém sob o efeito dessa Jinki...
Harry soube antes de Dumbledore falar...
-Sua mãe está presa Draco... é ela que está lá, na forma de seu pai...
Os olhos de Draco desfocaram... ele olhou para o chão.
-Ele está solto... estava solto o tempo todo?
-Sim.
-Então... ele assumiu o lugar da minha mãe?
-Sim.
-Ele escondeu isso de mim! Ele me enganou!-disse ainda olhando o chão.
Havia uma mágoa profunda naquelas duas frases, Draco estava furioso e parecia nem se lembrar que Harry estava ali.
-Você imagina porquê, Draco?
O loiro calou, foi por segundos que ele pensou e então falou o que passou pela cabeça de Harry também.
-Estava espionando? Me espionando?
-Sim.- Dumbledore assentiu tristemente.
Draco colocou as mãos na cabeça, desesperado.
-Eu... eu... estou morto!
-Não, Draco... você não tem relação direta com o que aconteceu...
Mas acima de tudo Harry também sabia que a situação de Draco era crítica, ele era, inocentemente, um espião da Ordem... Harry lembrou com raiva das palavras de Snape "sacrifícios..." isso era um sacríficio? , ele envolvera alguém inocente, mesmo sendo Malfoy... ele não sabia realmente o risco que corria ao entregar aqueles recados... Harry iria azarar Snape em nome do Draco na primeira oportunidade que tivesse, "Meu deus isso me passou mesmo pela cabeça?".
-O que pode ser feito para resolver isso?- ele interrompeu Dumbledore sem perceber.
Draco ainda estava ali, encolhido, com medo.
-Primeiro vou pedir que vocês se comportem segundo as expectativas.
Draco ergueu a cabeça sem entender:
-Como?
-Vou ser sincero pois já não temos muito tempo.- Dumbledore olhou seu relógio.- Vejo que nesse ano, tanto você quanto Harry estiveram acertando suas diferenças... pelo menos tentando... infelizmente, apesar de agora mais do que nunca vocês terem que confiar um no outro, vocês não poderão exteriorizar essa confiança... quero que continuem promovendo, - Dumbledore suspirou com desgosto.- A rixa entre as duas casas.
Harry compreendeu, embora muito arriscado, era a única solução viável.
-Draco vou pedir que demonstre uma coragem sem precedentes, que volte a desempenhar seu papel, apesar de não gostar dele, quero que finja ignorância que aja como se não soubesse de nada.
Draco parecia incapaz de pensar, encarando Dumbledore, boca aberta.
-Agora você também corre grandes riscos de modo que Morgan irá treiná-lo para se defender, você deve se afastar do prof Snape, na verdade ele irá se afastar de você, você deve agir como se não compreendesse os motivos disso, não preciso dizer que confio em vocês dois.
Ele se levantou.
-Harry, gostaria que acertasse Draco... que assumisse a culpa por deixá-lo na ala hospitalar até o meio da semana... até tomarmos algumas precauções...
-Claro...
-Irei com vocês até a ala hospitalar, Draco?
O loiro parecia em choque, apenas se ergueu trêmulo.
-Conversarei com vocês com mais calma... espero que entendam a nossa urgência, seus "colegas" já os estão procurando, então temos que nos apressar... Harry, estupore-o sim?
Draco o olhou perdidamente por alguns segundos, e Harry pode sentir, pela primeira vez que Draco queria parar, queria descançar, estava grato se ele o tirasse da realidade por um tempo, Harry ergueu a varinha firmemente.
-Estupefaça!
Malfoy caiu de braços abertos estendido na sala de Dumbledore.
Harry não se sentiu nada bem em fazer aquilo, olhou para o diretor que conjurara uma maca.
-Isso vai dar certo?
Dumbledore sorriu. Mas Harry não se sentiu seguro.
-Fawkes, nos ajude sim.
Fawkes saiu do puleiro de sempre e esvoaçou entre eles.
-Segure em mim e em Draco, Harry...
Ele se ajoelhou tirou a varinha de Draco de seu bolso e colocou no bolso do rapaz desacordado e segurou-lhe o braço, e a mão de Dumbledore, que pegou na cauda de Fawkes.
Após serem envolvidos por uma luz avermelhada e um calor morno, estavam na ala hospitalar vazia e trancada com Minerva e Pomfrey.
-Por Deus, - disse a profa Minerva.- Vocês demoraram...
-Tragam o rapaz para cá.- disse Pomfrey.
Não que fosse mais estranho do que já presenciara na vida, mas o olhar perdido de Draco ficara gravado na sua cabeça, não pode deixar de sentir pena, afinal era mais uma vítima dessa guerra criada por Voldmort, que instigava um pai a espionar o próprio filho... pensou na história de Morgan, foi assim que começara... um filho normal e um pai comensal... um sonserino... um sangue-puro...
-Harry.
Ele olhou para Dumbledore, mal percebera que ficara olhando para Malfoy por muito tempo.
-Hã?
-Posso saber o que houve com sua perna?
-Voldmort...
Harry se sentou em uma das camas, após trocar de roupa, a calça larga do pijama deixou que Pomfrey analisasse o ferimento.
-Isso está feio...- Minerva disse vendo os cortes abertos.
-Se eu tirar o feitiço volta a sangrar...
-Desde quando?- perguntou Pomfrey apertando de leve a perna inchada.
-Desde segunda...- ele olhou Dumbledore.- Foi na mesma noite.
Dumbledore o olhou com gravidade.
-Você não dormiu mais desde esse incidente?
As duas o olharam... ele balançou a cabeça.
-Cochilei algumas horas....
-Mas porque fez isso?- perguntou Minerva surpresa.
-Queria fazer os exames... normalmente.
-Bem- disse Pomfrey.- Os exames acabaram, então retire o feitiço sim?
Um meneio de varinha e dos cortes voltou a escorrer filetes de sangue, um sangue muito claro...
-Você está bem debilitado...
-Vamos deixá-lo em suas mãos.- disse Dumbledore.
-Não se preocupem, vou deixar os dois isolados por enquanto.- disse Pomfrey.
-Creio que sejam cem pontos perdidos.- disse Minerva.- Acho que essa será a história.
Harry concordou, levaria a culpa por azarar Malfoy, dessa vez ele não se importava.
A perna de Harry estava muito ruim segundo Pomfrey, nada que desse muito trabalho, "você recuperou os movimentos do braço... essa perna não é nada." Ela ainda enfaixava a perna de Harry quando Malfoy despertou fraco, ela foi atendê-lo, meia dúzia de poções calmantes e para adormecer e ele mergulhou num sono sem sonhos... mais tarde com a perna enfaixada, era Harry que adormecia.
Os fragmentos de sonhos que tinha eram todos com os quatro, dizendo para ele não se preocupar porque estavam vigiando, como animais ou como pessoas e ele parecia flutuar numa alegria irreal, nesse tempo ele nem pensou em nada, apenas vagou em jardins, florestas, como se não houvesse nada no mundo.

Nunca o nada fora tão bem vindo.

Abriu os olhos para encarar a luz contrastando com cabelos muito vermelhos, Rony estava cochilando em uma cadeira, estendido displicentemente, jogado, só faltava roncar, descansado Harry chegou a pensar que o amigo é que merecia uma cama... sorriu e se sentou, a visão da cama de Malfoy estava obstruída por um biombo.
-Rony!-exclamou.
O amigo abriu os olhos e o encarou demoradamente, sorriu preguiçosamente:
-Tratante... devia ter me convidado para a festinha.- ele olhou para a cama de Malfoy.
Harry sorriu, ia contar a verdade para eles, não ia guardar esse segredo, seria exagero guardar esse também, além do mais sentia que as coisas iriam ficar piores agora...
-Que dia é hoje?
-Sábado... meio da tarde... você empacotou legal hein? Mas tava na cara que você ia cair duro.- ele riu.
-Madame Pomfrey falou se ia me liberar logo?
-Assim que abrisse os olhos... o que é bom porque o casamento é amanhã se você se lembra...
-Eu esqueci!
-E você é o terceiro padrinho!
Ele franziu a testa.
-Coisa das tais Delacour... Hermione e Gina compraram a veste pra você ontem...
-Não compraram nada verde não é?
-Padrinhos só vestem preto ou azul...- Rony imitou a vendedora com voz em falsete.
-Ah, ele acordou.- disse Pomfrey se aproximando.
A tarde estava bonita e ensolarada, ele se sentia muito leve, talvez tudo que realmente precisava era de um bom sono... quando entrou na sala comunal foi recebido por vários tapinhas nas costas e frases do tipo "é... pegou ele", "bem feito para o Malfoy" ou "pena que a gente não viu...", infelizmente aquelas frases ajudavam a empurrar seu bom humor para as cucuias... sentou-se na habitual poltrona.
-Bela coisa você tinha pra fazer, não é?- censurou Hermione.
Como seu bom humor estava se esvaindo depressa ele disse muito sério:
-Muito bela mesmo... porque você nem imagina o que aconteceu de verdade...
Rony arqueou a sobrancelha. Ele falou:
-Que tal a gente dar uma volta?
Os amigos o olharam sérios.

Contar tudo em detalhes foi muito mais fácil sob o sol em meio ao jardim... contou da vingança de Voldmort, dos quatro, de sua insônia, falou tudo, porque não queria mais esconder nada, mas realmente, os amigos ficaram chocados com o caso de Malfoy.
-Eu... não imaginava.- disse Hermione.
-Você achava que essa guerra ia demorar para chegar aqui Mione?
-Não... mas...- ela o olhou.- Isso é horrível...
-Cara, você tem razão... - disse Rony pensativo.- Nem o mala do Malfoy merece esse castigo...
-Mas isso vai dar certo né?- falou Hermione.- O plano...
-Mione, se você está em dúvida... eu não afirmo nada...
-Isso é loucura... como o pai pode espionar o filho...- disse Rony.- Tá certo que são fanáticos .. mas e a família? Pombas é o filho dele!
-Eu não contei... deixem eu contar a historia de Morgan...
O queixo de Hermione caiu, Rony chutou umas pedrinhas.
-Se isso era o que estava acontecendo naquela época...-disse Rony.- Parece que ele voltou com tudo não é?
-Mas ele ainda tem poucos seguidores...- disse Harry olhando as nuvens.
-Harry... do que você viu... lembra?- disse Hermione interessada.
-Quê?- disse ainda olhando o céu.
-Você não viu nenhum plano concreto, não é?
Ele pensou no que vira na mente de Voldmort, mas como eram lembranças alheias, sua memória não reteve nem a metade do que havia visto.
-Mione... eu quase não consigo lembrar...
-Numa hora você disse que eles tinham nomes dos membros da Ordem... datas e horários...
-Aham... mas não lembro de detalhes...
-Isso é espionagem...
-Claro, mas acho que muito foi conseguido por Malfoy desde o ano passado, ele vivia no ministério.
-Tem razão...
O sol estava queimando seu rosto, ele voltou a olhar para frente, via luzinhas piscando a frente, efeito do sol...
-Caramba!- disse Hermione olhando relógio.- São quatro da tarde!!!
Rony se agitou, Harry ainda não se acostumara com a idéia...
-Vamos Harry! Eles vem nos pegar às seis!!!

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