-O viajante-
-O viajante-
Na manhã seguinte não se moveu, não que conseguisse dormir, estava consciente que estava mal, esperou os sons de pessoas se afastarem e se vestiu com dificuldade, foi diretamente para a ala hospitalar, porque sua mão tinha inchado muito e ele não conseguia mover os dedos, além do mais sentia muita dor de cabeça, seu ouvido direito estava zunindo.
-Aí está você.-disse madame Pomfrey.-Já o esperava.
Ele franziu a testa, ela apontou uma das camas, Rony estava dormindo nela:
-Duas costelas e o queixo... quem diria...Você é bem fortinho... -ela disse indo direto para mão dele.-É, fez um belo estrago nessa mão, devia ter vindo ontem também, seu amigo deve ter um queixo duro...
-Não foi ele.- disse sonsamente avaliando Rony desacordado na cama.- Foi quando soquei a parede.
Madame Pomfrey o olhou e verificou a temperatura e disse assustada:
-Você está ardendo de febre! vai deitar já, essas festas de inverno dão nisso! Bebedeira, briga, gente ficando doente por causa do frio, principalmente quando saem com o corpo quente.
-Meu ouvido...-ele disse enquanto se trocava.
-Sim, vamos dar um jeito dele não piorar, mas você precisa de repouso, não dormiu nada pelo jeito.
Depois de beber três poções, adormeceu profundamente.
Acordou quando a tarde já acabava, estava muito melhor apesar da mão estar meio dura, sentou-se e olhou a cama de Rony, estava vazia, Pomfrey voltou, reavaliou e o liberou, ele saiu devagar meio aturdido, sem saber o que fazer direito, andou devagar até a sala comunal, estava vazia, a maioria das pessoas estava lá fora, brincando na neve que se acumulara.
Ele subiu e voltou a se deitar, mas não conseguiu dormir, pensou desgostosamente que a "a melhor noite das nossas vidas" tinha sido em vão, tudo que falara com Ana, tudo que haviam feito, lembrou dela gritando furiosa " CHO TEM RAZÃO!!! VOCÊ NÃO TEM CORAÇÃO!!!" , sentiu um imenso vazio, porque o ódio que sentia de Rony e a profunda tristeza que sentia por ter escutado aquilo o atormentavam, sentiu um imenso desprezo por sua pouca sorte, "eu só queria consolar a Mione... poxa... eu não fiz nada errado... por que tudo que eu faço dá errado?", tinha que falar com Ana, mas não tinha coragem de levantar, pensou no que ela devia ter sentido, depois de ter dito com todo o coração que a amava, ela devia sentir-se traída, usada, devia mesmo achá-lo um monstro...mas ele não entendia a atitude dela, não o deixou falar.
Saiu em silêncio para jantar, sentou perto de Neville e Gina que o chamaram, Rony estava sentado com os gêmeos que pareciam ainda estar bem furiosos com o irmão, Hermione se sentou ainda mais longe, junto de Lilá e Parvati. Notou que havia um burburinho pela mesa, desgostosamente percebeu que em outras mesas pessoas se viravam para olhá-los, Ana comeu sem erguer o rosto do prato consolada pelas Gêmeas louras, ele olhou para Neville e Gina e perguntou num sussurro rouco:
-E ai? O que aconteceu?
Os dois se olharam, obviamente era eles que deviam ter perguntado aquilo, mas acharam que não deviam incomodá-lo, Neville o olhou e balançou a cabeça , mas Gina resolveu que era melhor falar algo.
-Bem, depois de você partir o Rony ao meio e ele se arrastar até a torre, só depois ele contou que tinha encontrado a Ana, a gente não sabia, senão a gente tinha ido atrás dela..., eu e os gêmeos resolvemos ir atrás dele, sabe, ele parecia muito mal, aliás agora imagino como ficou seu primo quando você bateu nele, você engana bem sendo magro... parecia um bicho quando partiu pra cima, deu medo sabe... então a Mione se descontrolou e quase bateu nele também, estávamos pensando em leva-lo a ala hospitalar quando você entrou, sei lá, você tava com uma cara assassina, quando você agarrou o Rony pelos cabelos achei que ia matar ele, se bem que se tivesse dado aquele soco, teria matado... falando nisso, como tá a sua mão?
Até ele ficou cansado quando ela parou de falar, Neville ainda o olhava com uma cara meio abobalhada, ele levantou a mão e abriu e fechou umas vezes.
-Está dura, mas madame Pomfrey diz que vai melhorar, eu fraturei todos os dedos, e o pulso...
Neville parecia mais abobalhado ainda...
-Mas e depois... porque essa agitação?-ele sussurrou.
-Ah, bem, algumas pessoas escutaram os berros, e quando Rony falou com Ana, ela estava acompanhada de algumas pessoas, bem... o pessoal da Corvinal tá ajudando a espalhar a história...
-Que história?
-Que você agarrou Hermione num corredor escuro enquanto Ana e Rony não estavam por perto...-disse Neville sério.- Sabe, alguns boatos são bem maldosos...parece que a Cho quer vingança...
-Que maravilha... porquê eu não estou surpreso?
-E a Ana Harry, como ela reagiu?
Ele ficou subitamente quieto e passou inconscientemente a mão no rosto onde levou o tapa,os amigos compreenderam... ele falou baixo.
-Nada bem... só achei que ela confiasse mais em mim...
-É que a Cho vem enchendo o saco dela a um bom tempo, enfiando minhocas na cabeça dela.-disse Gina.
-Mas que minhocas caramba?
-Ah, Harry... eu disse uma vez, se você é cego eu não vou abrir seus olhos!
Ele olhou de novo em direção de Ana que o olhava e virou o rosto, olhou para Gina e disse muito sério:
-Tá, sou cego e burro, então me explique porque parece que eu preciso de explicações...
Ela olhou para ele meio intimidada, falou mais baixo ainda:
-Se manca Harry, um, a Cho falou pra todo mundo sobre a história de Hogsmeade...
-Como?
-Que você ia se encontrar com Hermione e outras garotas depois dela...-falou Neville.- e eu escutei...
ele deu um grunhido em resposta.
-Dois, a Ana tá com medo... por que te achou perfeito demais...
-Isso é loucura!-ele disse encarando o próprio prato...
-Três, o Rony é um idiota inseguro e ciumento... muito anta por sinal!
-Isso eu sei.-ele falou sério
-Quatro,a Hermione gosta de você...
-Isso é besteira, somos amigos.
-Não Harry, é sério... ela gosta de você...
-Mas ela estava namorando o Rony!
Gina olhou pra cima, pareceu a própria Hermione encarnada.
-Ela gosta dele também!
-Eu não tô entendendo...- então ficou mudo.
Inicialmente ele se forçara a esquecer, porque se sentira culpado por forçar algo que podia não existir, agora a culpa o perturbava ao lembrar do que vira:
"-Não! EU AMO VOCÊ! Por isso tenho CIUMES de você!"
"-Mas eu..."
"-Ou prefere o Krum?"
"-Eu..."
"-Ou o Harry?"
"-Decida. Nenhum de nós merece isso, pense, eu vou dormir, boa noite."
Olhou para Gina, estava meio paralisado.
-Parece que a ficha finalmente caiu!
-Repete, que eu não to acreditando, você tá insinuando que a Mione, nossa Mione, nossa amiga, tá em dúvida?
-Aleluia!-disse Gina. -Deus existe!
Neville balançou a cabeça e acompanhou Gina que se levantou e saiu de mãos dadas com ela, deixando-o sozinho com seus pensamentos...
“Eu prefiro enfrentar uns comensais a entende-las...” pensou... “eu definitivamente não as entendo”, Hermione era sua amiga, não a via de outra forma. Estava definitivamente confuso e cansado.
Tentou falar com Ana nas aulas, mas ela olhava friamente e ele preferia não prejudica-la mais em sala, nos corredores as amigas pareciam estar sempre em volta e sempre havia uma disposta a enxotá-lo com magia se preciso, uma vez ele disparou atrás dela pelos corredores a noite e quase a alcançou quando três amigas apareceram e o estuporaram... foi um vexame... Malfoy quando o via, ajudado por Crabbe e Goyle cercavam as meninas mais próximas como se fossem protegê-las de um tarado em potencial e gritava "fique longe delas Potter!", Rony parecia meio distante, não se desculpara, talvez mais por medo do que por raiva, sempre saia de perto quando ele chegava e Harry ainda guardava o ressentimento, e teimosamente repetia pra si mesmo "não foi minha culpa, não vou pedir desculpas primeiro, ele nunca pede..." , mas era de Hermione que ele sentia pena, ela se afastara dos dois, agora ele sabia, se sentindo culpada, ela estava tão quieta e solitária quanto no começo do primeiro ano.
-Mais um zero então?-disse Snape voltando a velha forma.-Eu avisei senhorita Abott que o Potter era má companhia.
Mais risinhos de Malfoy e de uns outros...
Era o segundo zero seguido, por mais que se esforçasse, Ana sempre tremia a mão, ou esquecia alguma coisa, e não escutava quando ele tentava avisar, adotara a tática da ignorância, ele que sempre convivera com isso foi atingido pela primeira vez, se sentia muito infeliz, foi a felicidade de Snape que o fez tomar uma medida drástica.
Ana jogou as coisas na mochila rapidamente e saiu, geralmente ele ficava guardando as coisas, mas dessa vez ele também jogou as coisas de qualquer jeito na mochila e disparou atrás, pegou-a no meio do corredor, antes de encontrar umas amigas a esperando do outro lado, mas ele pegou com força no braço dela e a empurrou pra dentro da mesma sala onde haviam se beijado a primeira vez. Encostou-se na porta trancando o caminho.
-Me larga! Está me machucando! Seu grosso!-ela falou puxando o braço.
-Me escuta!
-Me deixe ir, tenho aula!
-Me escuta!
-Me deixa ir!-ela puxou a varinha.
Ele ergueu as mãos desarmado, olhou-a nos olhos:
-É isso? Escuta todo mundo menos eu?! Você nem me deixou...
-O quê? Contar uma história? Você parece bom nisso!
Ele fechou os olhos magoado, sabia que tudo que havia acontecido naqueles anos deixara marcas nele e nas pessoas a sua volta, mas nunca imaginava que aquele era o preço.
-Então é isso...-abaixou as mãos. -Você não vai escutar, anjo... Você não me amava então...
Ela pareceu surpresa, mas por alguns segundos, então repetiu apontando a varinha pra ele:
-Me deixe sair!
-Eu te amo Ana, E eu amo você, Anjo, amo pra sempre, amo de verdade...
Ele colocou as duas mãos no rosto dela, sentiu a varinha dela no seu peito, apontada pra seu coração:
-Eu não me importo que você brigue comigo, mas me escute, eu nuca fiz nada, como você pode acreditar? Depois de tudo que fizemos naquela noite, você disse que me amava também... eu acreditei em você, você chegou pra mim tão especial, tão linda, que eu não acreditei que te merecia, mas não vou suportar que me deixe, porque eu te amo Ana... me diz que não me ama, me diz aqui, nessa sala, você se lembra dela, Anjo?
Só então ela olhou em volta, estremeceu e o olhou, mas não abaixou a varinha, passou a outra mão no rosto dele e parou nos lábios para que ele não falasse:
-Eu não sei... estou confusa...eu preciso de um tempo pra pensar, eu mudei de idéia, não vou ficar para o natal... acho que posso pensar melhor em casa... eu não quero magoar ninguém... mas ficar com você é confuso...-ela parecia muito infeliz.- Eu não quero magoar você... mas não quero me machucar... eu preciso pensar...
Ela não havia dito o que ele queria ouvir, mas lhe dera uma pequena esperança, ele deu um sorriso triste, soltou o rosto dela e saiu da frente da porta:
-Eu espero... espero o tempo que precisar, espero pra sempre, por que eu só sorrio para você... Vai ser um natal triste sem você, e eu vou contar os dias pra lhe ver de novo, mas não vou insistir...mas pense, eu te amo mesmo Ana, e não estou mentindo, por isso eu espero.
Ela ficou parada um tempo, e então saiu sem falar nada, e ele ficou naquela sala vazia até anoitecer, na esperança de que ela ainda voltasse, nem foi jantar, ficou até passar da hora, mas ela não voltou.
Abandonou a sala vazia com um aperto estranho no peito.
E o inverno apenas ficou mais frio, com os três separados, e Ana sem falar com ele ainda, mas foi firme, não pediu desculpas para Rony, o amigo ia ter que dar o braço a torcer, o ódio já tinha esfriado a um bom tempo, mas ele sabia que isso ele não poderia fazer, ele não se aproximou de Hermione, respeitando o que ela devia estar passando, esperando que ela viesse conversar quando estivesse pronta, sendo o que fosse para falar, e para Ana cumpriu sua parte, ficou quieto esperando, desejando abraça-la de novo, mas sem sequer falar com ela além do necessário ás aulas...
As únicas aulas que desfrutava inteiramente eram as aulas de defesa, onde eles ainda treinavam os escudos, principalmente por que Morgan o apoiava, embora não pudessem se encontrar novamente ás quintas, pois ela conseguira uma nova autorização para trabalhar no véu... mas as aulas eram suficientes para manter seu moral, ele era especialmente habilidoso no assunto, tinha um probleminha em controlar o escudo de vento que sempre acabava por virar um furacão descontrolado, mas foi no escudo de fogo "Mellius" que ele surpreendeu, virtualmente impenetrável, e muito poderoso,repeliu o ataque de meia turma... Morgan afirmou que podia ser usado no ataque também.
Hagrid se distanciou também ao vê-los distantes, as aulas de criaturas esfriara com o clima e a proximidade do natal apenas piorou os ânimos.
Eles haviam planejado passar o natal juntos...ele planejara o natal, com todos reunidos, agora ele ia passa-lo sozinho...
Um dia antes da Profa Minerva passar a lista de quem ficaria no Natal, Algo mais se somou a sua lista de culpas por mero acaso, eles estavam próximos, os quatro irmãos, tinham recebido uma carta, estavam conversando, provavelmente nem perceberam que ele estava ali, porque ele chegou depois.
-Sim.-disse Jorge.-Então pega leve Rony!
O outro deu um grunhido.
-Eles estão bem.-disse Jorge.
-Mas estariam melhor se não se metessem nisso.-retorquiu Rony.
-Você tá falando que nem o babaca do Percy.
-Pois nessas horas eu acho que ele tem razão.-ele falou mais alto.
-Sério?-disse Jorge.-Então faz o favor de não repetir isso na frente do papai.
-Nem da mãe.-disse Fred.
-Porquê?- perguntou Gina.
-Ele não fala com eles, ele não dá notícias...-disse Jorge
-Diz que está sempre ocupado, devolve os pergaminhos sem abrir...-completou Fred
-Mas porquê?- Gina insistiu.
-Eu sei bem porquê, ou quem.-disse Rony e estacou ficando pálido.
Harry acabara de se levantar,os quatro o olharam, sabiam muito bem que ele ouvira e entendera, ele saiu em silêncio, não precisava de uma nova culpa pra sua coleção, mas era tarde, então algo acontecera com os pais de Rony no serviço a Ordem... teria sido grave?
E Percy continuava a não falar com eles, Rony não o perdoara, "porque ele precisa me perdoar, é ele que tem que pedir perdão!", além do mais Percy era adulto, imaginava a tortura que seria ficar sozinho, isolado e sem notícias no castelo durante o natal, "Meu Deus seu idiota! Tem gente arriscando a vida do lado de fora desse castelo e você preocupado com briguinhas de namoro?" "Preocupado com festas?", Percy estava jogando a família fora, se ele pudesse avisá-lo, falar com ele... falar... tinha que falar com Percy, abrir os olhos dele, mas como? Não tinha coragem para pedir para sair com os gêmeos, Gina e Rony, nem teria autorização para sair sozinho, Hermione comentara que iria passar o natal com os pais, ela precisava mesmo de colo.
Foi na cama que uma idéia demente passou pela sua cabeça, e como todas as suas idéias dementes, foi tomando forma, foi encontrando soluções, foi lhe dando coragem, dormiu com a certeza que cometeria a maior loucura de sua vida.
Quando a Profa Minerva passou a lista ele assinou com a maior cara de condenado possível, se sentindo um pouco mal, viu a cara de Hermione, sentiu mais pena dela do que ela dele, naquela semana, ele se preparou meticulosamente para por em ação seu plano, dos pequenos furtos até o repasse do roteiro, tudo estava sendo planejado, tinha boas chances de conseguir o que queria, mas não havia chance alguma de sair limpo daquilo, pesar prós e contras não era com ele, decidiu fazer o que achava que devia, se sentindo idiotamente impulsivo.
Quando foi a noite antes do último dia, viu Rony arrumar a mala para ir juntamente com os outros, o amigo sequer olhou para ele, ele fechou as cortinas da cama, não gostava de ficar assim “não vou falar... a culpa não é minha...” além do mais o quarto vazio seria uma vantagem, ele desceu para sala comunal e ficou sentado em uma poltrona até tarde, subiu e deitou para dormir ansioso.
Quase não dormiu, se remexeu pensando em tudo que podia dar errado, havia muita coisa, mas ele não sentia medo, sentia ansiedade de saber o que aconteceria depois de fazer... não queria pensar nas conseqüências... estava clareando e ele não dormira nada e quando escutou a movimentação da partida levantou e foi comer com os outros, despediu-se dos gêmeos, de Gina, abraçou Hermione desejando uma boa viagem e até deu um aceno para Rony, que não o devolveu, voltou sob o olhar da profa Minerva para a sala comunal, subiu ao quarto, pegou da mesinha duas folhas de olhos-de-águia, as esmagou na mão como vira Neville fazer, esperou os cinco minutos e limpou os olhos, enxergava normalmente sem os óculos, em frente ao espelho usou o bom e velho feitiço para mudar a aparência, "Glamoure", pensou em Tonks... do espelho não o encarava um rapaz de cabelos negros e olhos verdes e sim um jovem louro com olhos azulados, vestiu-se e reparou que ficara praticamente irreconhecível, o cabelo longo cobrindo a cicatriz, pegou a mochila que havia preparado a um bom tempo, o mapa de Hogwarts e se cobriu com a capa de seu pai, não precisou esperar muito para alguém passar pelo quadro que demoradamente foi fechando dando-lhe tempo para sair, foi até a entrada do caminho secreto a Hogsmeade escondido na corcunda daquela bruxa, a passagem parecia ter ficado incomodamente menor do que lembrava, entrou limpando o mapa, deixou-o ali em um canto escondido, na esperança de um dia recuperá-lo , se voltasse... e saiu do castelo em direção a Hogsmeade, sentia uma dor no coração em fugir daquele jeito, mas era preciso, se não fizesse algo iria enlouquecer, saiu no porão da Dedosdemel, sair foi fácil, em um lugar mais escondido guardou a capa na mochila e se aprumando foi ao lugar onde Hagrid comentara, era um ponto fixo do noitibus, estendeu o braço da varinha e o veículo ridiculamente roxo se materializou, Lalau apareceu na porta e ia começar a falar quando ele interrompeu:
-Estou com pressa vamos.-disse entrando, as vezes se surpreendia em como sua voz podia parecer firme se realmente desejasse.
Pagou a Lalau os onze sicles enquanto ele o olhou longamente mas não o perturbou com perguntas, disse que precisava tratar de negócios no Beco Diagonal o mais rápido possível e BANG!
Estavam no que parecia ser uma pequena estrada rural, a paisagem mudou muito várias vezes e Harry pode contemplar anônimo as pessoas a sua volta, quando foi avisado.
-O próximo ponto é o Beco.-disse Lalau.
Ninguém reparou no rapaz louro que entrou no Caldeirão Furado e se dirigindo a parte de trás entrou no Beco Diagonal, fazia muito tempo que não visitava aquele lugar, embora tenha sentido uma vontade quase infantil de sair olhando as lojas, principalmente a de artigos para Quadribol longamente, tinha plena consciência que não tinha tempo, foi direto a Gringotes, não que precisasse de dinheiro, tinha bastante e não poderia fazer um saque sem revelar quem era, mas sim para trocar dinheiro de bruxo por dinheiro de trouxa, o que aconteceu bem rápido, ele saiu e andou um pouco mais calmo, tinha chego até ali sem sobressaltos, entrou em duas lojas e fez compras, uma delas era para pegar uma encomenda,fizera o pedido por carta com ajuda dos gêmeos, mas eles não sabiam que ele alterara a data combinada para a entrega nem o lugar da mesma...
No correio despachou o presente de natal de Hermione, e com uma carta que escreveu na noite em que falara com Ana mandou a encomenda que fizera, um colar para ela, mandou gravar no pingente "sorrirei pra sempre pra você." viu as corujas partirem pensando no quanto Edwiges ficaria revoltada se soubesse que usara outra coruja...
Com as compras na mão, mochila nas costas deixou o Beco e o Caldeirão Furado, catou na jaqueta o endereço de Percy de uma carta que roubara de Rony, era uma zona residencial, tomou o metrô, sentou perdido em pensamentos, estava fora, entre trouxas completamente anônimo, estava meio preocupado até duas garotas acenarem entre risinhos pra ele em uma estação quando o metrô parou, ele acenou de volta rindo e elas lhe mandaram beijinhos, isso era uma vida trouxa e comum... gente despreocupada andando da escola pra casa, para o Shoping, o cinema, o trabalho... sem uma sombra para perseguí-los em seus sonhos... desceu no ponto e viu que andaria duas quadras, andou olhando os prédios, nunca saíra da casa dos Dursleys a não ser para a escola, e não mudara muito com sua entrada em Hogwarts, na verdade percebeu que seu mundo era bem restrito, e esse novo horizonte despertou um desejo de ir, ir aonde seus pés o levassem para nunca mais voltar...
Encontrou o número indicado, um prédio baixo e antigo de quatro andares, o endereço era do terceiro andar... entrou, não havia porteiro, subiu pelas escadas escuras, antes de sair no corredor apanhou um vidrinho na mochila e bebeu seu conteúdo, para evitar usar a varinha e ser descoberto pelo ministério, preparara aquela poção para reverter o efeito do feitiço Glamoure, quem entrou no corredor mal iluminado era o Harry Potter, de cabelos negros e olhos verdes, pegou um pequeno espelho e viu animado que a poção fora um sucesso tão grande que até os malditos cabelos brancos haviam sumido."Devia ter tentado essa antes..."
Estava em frente a porta, escutou uma conversa, um casal, conferiu de novo o endereço, "É isso Harry, ou vai em frente, ou admite que fez uma enorme palhaçada, lembre, o objetivo é fazer Percy voltar pra casa... bate nessa porta e faz o serviço direito!", mal percebeu que batia na porta com a mão dura.Escutou a voz do próprio Percy:
-Um minuto! Quem pode ser?
Percy abriu a porta e o olhou, por um segundo pode apreciar o quanto crescera ao olhar Percy olho no olho, o outro parecia estuporado.
-Não vai me convidar para entrar?- disse calmamente.
-Entre.- ele falou secamente.
Ele entrou, o apartamento lembrava o de Graveheart, pequeno e simples, Penélope, namorada de Percy surgiu do corredor e estacou.
-Harry?
-Oi Penélope.
Escutou Percy bater a porta, a garota disse baixo "vou deixá-los a sós" e voltou para dentro.
-O que quer aqui?!- disse Percy aborrecido.
-Conversar.- disse se virando encarando Percy.
Ele parecia cansado e mais magro além de mais velho, ele indicou o sofá na sala e Harry se sentou deixando a mochila e a sacola ao lado.
-Bom lugar...- disse olhando em volta.- Penélope está morando com você?
-O que você tem com isso?
-Nada, mas eu sempre torci por vocês dois.
-Vem cá Potter,- ele disse pondo os cotovelos nos joelhos e arcando o corpo para frente encarando Harry mais de perto.- O que você, justamente “você” está fazendo aqui?
-Vim te abrir os olhos.- colocou os cotovelos nos joelhos e ficou na mesma posição que Percy encarando-o.- Vim pra colocar juízo nessa cabeça dura.
Percy o olhou indignado.
-Você! Me abrir os olhos?! Você que é o motivo de minha família estar arriscando o pescoço?! Você que é o motivo dessa desgraça toda!
-Talvez eu seja. Mas eu ainda não estou fazendo loucuras. Você falou de sua família, Percy, mas você está jogando sua família fora!
Penélope apareceu no corredor, Percy de costas não pôde vê-la, mas ela parecia muito triste, balançou a cabeça para Harry, aquilo lhe deu coragem.
-Estranho você falar em família. Visto que não tem uma...
Percy não imaginava o quanto aquilo lhe magoava, mas ele sorriu.
-Rony me falou a mesma coisa recentemente, sabe que ele se parece muito com você ás vezes? Principalmente com o distintivo de monitor.
-Pelo menos ele...- o olhar dele pareceu nublar.
-Eles tem saudades de você Percy, você tem saudades deles também, pra que ser teimoso? Acabou, ficou provado que o ministério estava errado, que Fudge estava enganado... O que é preciso pra você voltar pra casa, ou pelo menos ir ver sua família?
Percy ficou muito tempo calado.
-Você acha que eles não vão te perdoar? Acha que sua mãe ia ficar chorando pelos cantos se não sentisse sua falta?
Percy o olhou surpreso.
-Eu vi, eu sei, seu pai e sua mãe estão arrasados, o que você pensou? Que eles iam rir de você?
Percy olhou para janela atrás de Harry, evitando encara-lo, então seu rosto endureceu:
-Seja sincero, o que você quer com isso?
Não que tivesse ficado com a pergunta, mas não tinha pensado no assunto, foi de dentro que veio a resposta:
-Quero consertar meus erros Percy, eu também errei, eu sei que você não aprovou minha versão dos fatos, apesar de serem os certos, e sei que de certa forma interferi com sua família... Mas sabe, eu sempre gostei de vocês. Eu lembro do Primeiro ano, você lembra? Nós chegamos a ser amigos Percy, pelo menos eu confiei em você antes, acho que eles merecem você de volta...
Percy suspirou, abatido.
-É natal Percy, não faça o que fez ano passado, você não imagina como afetou sua mãe, seu pai e seus irmãos... bem você imagina a reação dos gêmeos...
-Devem ter planejado me afogar em bombas de bosta.
Harry riu.
-Perto disso. Mas eles sentem sua falta...
-Escuta ele Percy.- disse Penélope. - Se você não me escuta, escuta ele... ele sabe o que tá falando.
Percy ficou aturdido ao vê-la apoiá-lo, baixou a cabeça:
-Eu tenho medo.-sussurrou mais pra si mesmo do que para eles.
-Devia ter mais medo de perde-los...- Harry falou sério.- Você sabe da situação, sabe o que está acontecendo, e se...-ele meio que perdeu a coragem, mas o olhar da garota o fez retomar a frase.- e se eles morrerem amanhã Percy... de que vai valer esse seu medo? além de valer como base pra uma culpa horrível?
Percy o olhou assustado, mas voltou a abaixar a cabeça.
-Eu sei disso, mas tenho vergonha...
-Devia ter vergonha de falar isso na minha frente... você tem uma família maravilhosa te esperando, uma família pela qual eu daria tudo pra ter...
-Eu sei, mas não tenho coragem...
-Ah.-ele disse se levantando e pondo a mochila nas costas.- Isso é com você, preciso ir. Não precisa me acompanhar Penélope.-disse sorrindo para ela que lhe deu um sorriso triste também.
Ele foi até a porta e abriu, se virou e disse:
-No caso da coragem...-os dois se viraram para o olhar.- Naquela sacola ali estão os presentes que eu comprei... se você não levar, eles não vão receber... e eles vão gostar de saber de vocês dois... e digam pra eles que eu estou bem, tá certo? Não esqueça dos presentes... Tchau.
Saiu devagar do prédio porque sabia que Percy e Penélope iriam conversar muito antes de tomarem a decisão de ir até o resto da família, mas soube pelo olhar de Percy que ele só estava precisando de um empurrãozinho, talvez nem precisasse ter tido todo aquele trabalho, talvez em algum tempo a própria Penélope poderia tê-lo convencido... andou devagar em direção ao metrô, pensando na felicidade da senhora Weasley quando soubesse que provavelmente os dois se casassem logo... faziam um casal simpático até.
Estava pensando em tudo que acontecera e acabou por perder o ponto, andava realmente desligado, ficou observando o cara na sua frente lendo um jornal até chegar no próximo ponto que era em frente a Biblioteca Pública Municipal, quando ia saindo do vagão seu olhar passou do jornal para a placa onde estava escrito "Biblioteca Pública Municipal", algo despertou dentro dele, como se estivesse sendo atraído para lá.
-Porquê eu nunca pensei nisso? Tão óbvio! Tão prático!
Era perto de meio dia, talvez ninguém percebera sua falta ainda, mas ele ia arriscar, entrou na biblioteca, guardou a mochila, sabia o que estava procurando, pediu os registros de mortes ocorridas a quinze anos antes, encontrar demorou, mas encontrou, as notas de falecimento de seus pais, e o local do sepultamento, no mesmo jornal havia menção ao horrível acidente que matara um casal, quando o aquecimento da casa explodiu, na notícia estava escrito "por sorte, por causa da reforma na casa o filho do casal estava na casa de parentes..." Era a segunda versão trouxa que via da morte dos pais, xerocou as notas, com um plano mais audacioso em mente, esse movido pelo desespero de saber, sem nenhuma consideração com segurança ou preocupação que pudesse causar...
Saiu da biblioteca fechando a jaqueta, esfriara ainda mais e a neve estava densa, nas lojas haviam anúncios de todo tipo de presente ideal...foi quando pelo canto do olho viu e estacou Belatriz Lestrange, estava do outro lado da rua, quando ele a encarou abobalhado ela lhe sorriu, mas ela estava vestindo roupa de trouxa, ele sentiu um frio arrepio, então um carro preto passou muito perto dele obstruindo sua visão por segundos, e ela não estava mais lá.
-Estou imaginando coisas...- pensou alto.
Belatriz nunca andaria vestida de trouxa, principalmente a pé no frio esbarrando em trouxas... ele devia ter visto alguém parecido... “não há como saberem que estou aqui fora...” ele pegou um ônibus e partiu com destino a sua família...
Quando o ônibus parou naquela vilazinha distante e bucólica já passara da quatro da tarde e o estômago dele roncava de fome, mas ele sabia suportar isso, e quando botou os pés na rua e olhou em volta teve um súbito clarão de compreensão... ao longe numa parte alta havia um longo campo cercado com vários pontinhos escuros, mais longe num morro havia uma ruína, ele entrou em uma pequena lanchonete, um café, e sentou no balcão pediu um salgado e algo quente para beber, foi muito bem atendido pela moça do balcão, que atenciosamente lhe confirmou que estava no lugar certo, “o que faz um rapaz como você perdido nesse lugar?” “estou viajando... aproveitando as férias...” ela indicou como chegar naquele morro “O que vai procurar lá? Só tem uma ruína e um cemitério abandonado...” “Sério?” “nunca mais ninguém mexeu lá depois daquela tragédia“ “tragédia?” “um casal que morreu... uma história triste... você não vai querer ir lá, tem aquele cemitério velho...” “gosto de visitar lugares antigos...” ela riu “ vai ser professor de história então?” “ não sei quanto a história, mas você não é a primeira pessoa que diz que eu podia ser professor...” , depois de comer pagou e disparou naquela direção, precisava saber, confirmar... algo dizia que era o lugar certo, quase como se lembrasse.
Uma hora para subir pela estradinha que contornava o morro e dar de cara com as ruínas que já vira em sonho... chegou ao pequeno muro de pedras, aquela ruína de uma bela casa, devia ser aquelas casas grandes de dois andares... onde seus pais tinham morrido, quando ia passar pelo murinho pisou em algo, um pedaço de madeira... chutou-o, ele virou, estava entalhado, meio apagado e mal tratado, mas ele pode ler, se abaixou e pegou o pedaço de madeira com as mãos trêmulas, limpou a madeira, leu:
"Godric Hollow´s"
Agora sabia, sabia que ali era onde tudo começara… era ali que Voldmort ajudado por Rabicho entrara para mata-lo e por isso matara seus pais... Foi daqueles escombros que Hagrid o retirara e encontrara Sirius... foi dali que Sirius partiu para perseguir Rabicho, foi ali que a história, sua história havia começado... mas algo o chamava para outro lugar, mais atrás... ele precisava ir ao cemitério, algo o atraía para lá... ele precisava ir... correu dando a volta pela ruína, descendo o morro encontrando os muros de pedra e o portão decadente, sabia, sem saber como, sabia onde ir, como se algo o guiasse, o chamasse.
“Foi pra isso que eu saí, foi por isso que me arrisquei, eu faria qualquer coisa pra saber, pra ver... pra ter certeza...” reconhecia, estacou.
Fechou os olhos, não sabia se queria ver, mas sabia que estava ali, virou-se devagar...
Era exatamente como se lembrava de ter visto no espelho, em seu sonho, o túmulo... meio escondido pelo mato... o mesmo toque frio da pedra, mas agora sentia na realidade sentia com seus dedos e lia com seus olhos:
"Lílian e Tiago"
Juntos na vida
Juntos na morte
Nós os amávamos.
-Mãe...Pai... eu encontrei vocês...- ele sussurrou tirando o mato de frente do túmulo, sentia um enorme aperto no peito.
Se ergueu trêmulo ao ouvir o barulho de passos, sentiu um arrepio percorrer a espinha, estava anoitecendo, ele estava sozinho ali, os passos se aproximaram
Era um lugar cheio de lápides altas e árvores com um mato selvagem cobrindo tudo, pegou a varinha que estivera o tempo todo com ele na parte interna da jaqueta, preparou-se para lutar com Voldmort se necessário, então um vulto se aproximou, eles se olharam...
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