-Estradas vermelhas e nuvens a



-Estradas vermelhas e nuvens azuis-

Gina chegou a erguer os olhos, Neville que dormia não percebeu e Hermione tão distante não viu, ela o puxou e ele foi, não queria cenas ali no jardim, resolveu seguí-la meio abobalhado pelo modo como ela o puxara, mais próximos das estufas, na penumbra do entardecer ela se virou sorrindo e se aproximou, o sorriso sumiu quando ele se afastou:
-Você ainda está magoado comigo?
-Não, não estou magoa...
-Você me evita Harry! Foge de mim! Porquê?
-Porque acabou antes de começar Cho.- ele disse sincero.
Ela o olhou, olhos brilhando.
-Não! Você gosta de mim! Sempre gostou!
-Gostei, gostei sim, mas eu gostei daquela Cho feliz e alegre, não da viúva do Cedrico! -falou mais ansiosamente do que queria.
Ela desviou o olhar:
-Eu gostava do Cedrico.
-Você ama o Cedrico.
Ela o olhou.
-O que você quer dizer...
-Que você não vai esquecê-lo tão fácil, por isso a gente acabou antes de começar.- ele sentiu um frio grande no peito, gostava um pouco dela, o suficiente pra saber que não devia continuar. - Quando você esquecer nós dois vai voltar a ser aquela Cho que eu gostava... -ele desviou o olhar, não aguentava vê-la assim. - Esqueça nós dois Cho, porque eu quero ver você sorrindo de novo...
-MENTIRA!- ela gritou.- Você está mentindo pra mim! Você é mal!- ela bateu no peito dele com os punhos fechados, chorando.- Você é cruel!Não tem coração!
Ele segurou os pulsos dela, ela desabou de joelhos ele tentou erguê-la em vão, ela agarrou os joelhos dele.
-Não me deixa... Não me deixa sozinha... eu tenho medo.
-Pare com isso Cho, olhe pra você... isso é rídiculo, levante, por favor Cho... levante.
-Não.-ela agarrou os joelhos dele mais forte.- Não vou largar você nunca mais.
-Solte.- disse secamente. - Solte e nunca mais olhe na minha cara!
Ela o olhou boquiaberta.
-Vai!- ele disse mais alto.- Me esquece, não gosto de você, não amo você, não suporto ver você se arrastando assim como um verme!
Ela soltou os joelhos dele, parecia chocada, piscou levemente levantando do chão.
-Vai!-apontou para o castelo. - Some da minha frente! Não me procura! Não me segue! - a empurrou em direção ao castelo.- Não fala comigo! Finja que eu não existo!
Ela saiu correndo com as mãos no rosto... sem virar pra trás, ele agarrou as vestes na altura do peito e olhou pro outro lado, preferindo que ela o odiasse, que ficasse daquele jeito, suspirou, então escutou passos meio atrás, olhou e viu:
-Ana?
Ela desviou o olhar.
-Desculpe... eu não queria... eu não devia ter seguido você! -se virou e saiu correndo.
Devia ser amaldiçoado, foi o pensamento que lhe passou pela cabeça, elas iam sempre ficar infelizes ao olhar pra ele? Porque agora percebera totalmente, viu nos olhos de Ana o que vira apenas uma vez nos olhos de Cho, quando ela tivera que recusar seu convite ao baile... agora entendia o comportamento dela na biblioteca, e nas aulas, mas não conseguiu ir além disso, estava tão confuso em seus sentimentos que não conseguia raciocinar, não a seguiu, não se moveu, apenas ficou ali.
Quando deu por si já era bem tarde e Rony o chamava. Entrou no saguão ao lado do amigo que parecia emburrado, perguntou:
-O que foi?
-Nada.
-Nada? Você está...
-Olha, - Rony parou, o olhou então balançou a cabeça.- Deixa pra lá.
-Qualé Rony? Que bicho te mordeu?
-Ah! São esses treinos extras! Estão me dando nos nervos!
Harry achou melhor aceitar a desculpa do amigo, entraram no salão para jantar. Gina e Hermione ficaram o olhando até ele perder a paciência:
-Perguntem logo!
As duas fingiram não ouvir, ele balançou a cabeça, mas Hermione não aguentou:
-Voltou com a Cho?
-Eu nunca fui.
Eles se encararam, ela entendeu o recado, as duas se calaram, antes de saírem da mesa para a sala comunal a professora Graveheart saiu da mesa da Sonserina, onde estava destribuindo uns papéis e se dirigiu a ele:
-Maus ventos me trazem Potter... Sua detenção, a primeira de cinco... -ela o olhou.- É, cinco, duas escolhidas pela prof McGonagall e duas escolhidas pelo prof Snape, uma pelo diretor... -ela suspirou e sorriu em direção a Hermione que a olhava carrancuda.- Está no papel, é a injustiça divina... boa sorte.
-Boa sorte? -perguntou Rony.
No papel constava seu nome no início da lista junto com os nove sonserinos, embaixo estava escrito.
-Terça, na sala do Snape?-falou Rony.- Boa sorte mesmo, vai precisar.

Descobrira porque perdera um pouco o prazer de viver em Hogwarts no momento em que não tinha notícias a esperar, ao contrário do que parecia para quem o visse na janela, olhar perdido no horizonte.
Rony subira, se dizendo cansado, Hermione estava lendo o livro de numerologia que ele lhe dera no ano anterior, fazia quanto tempo mesmo? Que não se sentavam naquelas poltronas, cúmplices dos mais íntimos segredos? Estava sentindo falta deles, como se anos de convivência fossem acabar, e podiam mesmo, assim que chegasse a hora, "não pense nisso... você vai enlouquecer se pensar nisso...", aquela maldita profecia o assombrava, perseguia, "você aceitou, aceitou saber, aceitou continuar sabendo, agora tem que suportar, Dumbledore confia em você, confia que vai guardá-la..." Ele fechou a janela e lá no fundo uma vozinha incômoda voltou a perturbá-lo "mas eu ainda confio nele?"
Foi dormir, um sono cheio de pesadelos.
-Acorde!
Abriu os olhos, viu o amigo ainda no escuro.
-Que foi?
-Treino, esqueceu?
-Esqueci.-disse se levantando.
-Onde você anda com a cabeça?
-Não sei, procura ela debaixo da cama pra mim...
Rony sorriu, fazia um tempo que Rony não sorria assim, saíram com suas vassouras.
O salão estava vazio, eles se serviram e o resto do time entrou, quer dizer os gêmeos e Gina.
-Reunião de família!-disse Jorge.
-Família unida espero!-disse Cátia entrando.
-Podemos tentar unir ainda mais!-disse Fred abraçando-a.
Gina gospiu o suco ao começar a rir,Harry tirou seu prato da frente a tempo.
-Eca Gina!-disse Rony que não tivera a mesma sorte.
-Desculpe.-disse ela corando.

Voar o fazia sentir-se bem, levemente chateado por bancar o artilheiro, "só hoje, quarta iremos fazer mais testes..." ele até que se divertiu, Rony melhorou, talvez porque os gêmeos tiraram o dia para reparar nos erros de Harry, além de quase o acertarem com os balaços.
-Vocês estão doidos! Vão desfalcar o time!- gritou Cátia.
-Que é isso! Eles não vão me derrubar tão fácil!- provocou.
-Vá apostando Harry!- disse Jorge.
Fazia muito tempo que não se divertia assim.
Hermione, Neville, Collin e alguns alunos apareceram mais no fim do treino, gritaram incentivos, fizeram bagunça, Harry estava feliz.
Cátia não teve motivos para não elogiar o time, não parava de dizer que nem precisava mais um artilheiro, obviamente ele discordava.

Ele, Rony e Hermione tinham decidido visitar Hagrid após o almoço, haviam prometido visitá-lo regularmente, mas quando chegaram próximos a porta escutaram uma conversa no mínimo curiosa, Harry teria dado tudo para estar com capa de seu pai e entrar sorrateiramente do que ficar ali escutando:
-No ministério... -dizia alguém.
-Sem cooperação de Fudge eu não posso fazer nada.-dizia a sonora voz de Graveheart.
-Mas ele vai cooperar?- falou Hagrid.
-Claaaarooo!-disse Graveheart.- Do mesmo jeito que cooperou ano passado.
-Devemos confiar nele, ele é mais esperto que aparenta.- falou o terceiro.
Graveheart riu, Hagrid deu um assobio.
-Dumbledore mandou esperar.
-Se ele mandou, deve saber que eu não vou esperar muito tempo.-disse Graveheart. -Achei que era por isso que tinha vindo. Não sou do tipo que gosta de esperar.
-Não há motivo para nos apressarmos, ele não vai sumir...
Os três se olharam, era a voz de uma quarta pessoa, SNAPE!
-Sinto seus motivos para não apressarmos a coisa.- retorquiu Graveheart.
-Você sequer veio pra cá com o intuito de trabalhar nisso...-ele falou. - Você...
-Parem vocês dois...-disse o desconhecido.- Vocês terão a chance de acertarem as contas depois.
-Se Dumbledore desconfiar que vocês estão atrapalhando as coisas por motivos pessoais...-disse Hagrid rindo.
-Não tenho nenhum interesse em remexer no passado. -falou Snape.
Ele abriu a porta, os garotos se encolheram ainda mais.
-Mentiroso Severo... grande mentiroso.- retorquiu Graveheart.
-Você voltou em busca de vingança Morgan, Dumbledore não aprova isso.-ele falou baixo da porta.
-Preocupado com isso?
-Nem um pouco.- ele disse saindo.
Graveheart riu.
-Mentiroso...
-Controle-se Morgan!
Risos, ela apareceu na porta:
-Eu vou indo, obrigado pela bebida Hagrid, vamos a Hogsmeade um dia destes, não se preocupe querida, eu sei me controlar, as vezes.-ela se virou rindo.
Desapareceu rapidamente, dando a desagradável sensação de perseguir Snape.
-Espero que os dois não estraguem tudo. Estou indo Hagrid.
-Eles não se odeiam de verdade,- disse Hagrid.- Tem motivos, mas não se odeiam...
-Comensal e auror? sempre comensal e auror, duvido que não se matem a longo prazo.Conheço a má fama de Graveheart.
-Eu os conheço, arrancariam os corações do peito e jogariam fora por Dumbledore.Esses dois sempre foram assim, conheço-os da época que eram alunos... Graveheart tem a cabeça no lugar.
-Certo, suponho que Dumbledore tenha a mesma opinião, tenho que ir mesmo, você vai fazer o que pedimos Hagrid?
-Sem dúvida, vou fazer sim.
-Então até.
-Até.
O desconhecido devia ter usado a lareira de Hagrid, o fato é que aquela conversa deu-lhes o que pensar, Harry esperou mais um pouco e foi bater na porta, Hagrid abriu como se esperasse ver alguém de volta, arregalou os olhos:
-Harry! Rony! Mione! O que estão fazendo aqui?!
-Pensamos em visitá-lo, mas parece que você já teve visitas hoje.-disse Harry.
-Como?-ele disse assustado, olhou para os lados.- Entrem , entrem!
Olharam e viram várias garrafas vazias que Hagrid empurrou da mesa para uma caixa,nervosamente, alguém bebera tanto quando o meio-gigante e eles imediatamente perceberam quem.
-O que a professora Graveheart estava fazendo aqui?-perguntou Rony sentando.
-E o Snape?-perguntou Harry.
-E quem mais estava aqui hein?-perguntou Hermione.
Hagrid os olhou, balançou a cabeça e disse:
-Abelhudos é o que digo,professor Snape Harry... cansei de dizer que vocês são as criaturas mais enxeridas desse mundo.
-Tá já sabemos.-disse Hermione. -Você vai contar pra gente não é?
-Não.-disse Hagrid distribuindo cervejas amanteigadas pra eles.
-Qualé, o que a professora Graveheart está querendo no ministério?-disse Rony.
-O quê?-ele olhou para Rony.- O que vocês sabem dos estudos dela?
-Ahá! Ela está estudando algo no ministério!-disse Hermione.-Mas ela foi expulsa de lá!
Agora Harry também olhava para Hermione.
-Ah, eu pesquisei ela sabe... e Lupin me contou antes de virmos, e Tonks também...
-Ela não foi, bem.. foi...-disse Hagrid.- Bem não... É complicado e não é coisa pra ficar se falando, Lupin e Tonks é? Temos que conversar...
-Qual o mistério, ela está estudando algo no ministério, tem a ver com uma certa pessoa?-Harry olhou para Hagrid.- Ou estudo de certa inominável?
Hagrid o olhou incomodado:
-Inominável?
-Tipo minha mãe...-ele disse sério.
Agora eram Rony e Hermione o olhando.
-Ela comentou é?-disse Hagrid.
-Porque ninguém me contou?!
-Ah... bem... eu não sei de muitos detalhes...
-A mãe do Harry era uma inominável?-perguntou Hermione surpresa.
-Bem, acho que era, eu não sei, ela trabalhava no ministério, seu pai não gostava nadinha... -Hagrid parou com aquela famosa cara "não devia ter dito isso".
-Não gostava?-ele perguntou.
-Bem, vocês não tem que se meter nisso.-ele disse se levantando pra pegar uns biscoitos.
-Então me diga,-disse Rony sorrindo.- Porque o prof Snape tem medo da Profa Graveheart?
-Ah Rony! Deixa de ser babaca!-disse Hermione.
-Não se metam na briga dos dois...-disse Hagrid sério olhando para a porta.
-Eles se conhecem bem?-falou Harry.
-Conheciam sim, e vou repetir não se metam. Eles quase se mataram da última vez... -ele parou de falar de novo.
Harry pensou no ódio de Sirius e de Snape, mas naquele dia ao sair da lareira ele sentiu um ódio muito maior entre Graveheart e Snape, eles teriam se atacado se ele não os tivesse interrompido?
-Graveheart era uma boa aurora, exagerada, mas boa, fez seu trabalho e teve o descanso merecido, não incomodem as pessoas com essa curiosidade,-Hagrid olhou para Harry.- Tem coisas que todos querem esquecer.
Ele pareceu falar de si mesmo, a conversa abrandou falaram de quadribol, das aulas até ficar bem tarde. Saíram e Hermione falou o que a muito tempo parecia rondar em suas cabeças:
-Precisamos conversar, -ela olhou para Harry e Rony.- Vamos.
Foram em direção ao castelo quando aconteceu, ele parou como se tivesse levado um soco no peito e caiu de joelhos na grama, mão na cicatriz, em algum lugar Voldmort ria satisfeito, sentiu os dois amigos tentando levanta-lo, tremendo se pôs de pé ansioso olhando em volta, mão na cicatriz que ardia, olhou os amigos, fora tão rápido, passara tão rápido.
-Harry! O que foi?!-perguntou Hermione nervosa.
-Nada, ele está muito feliz.-disse roucamente.
-Como assim? -falou Rony.- Você viu alguma coisa?
-Não... senti.-se sentiu muito mal, mas lembrou vagamente de quando ocorrera algo assim antes,- senti como daquela vez que os dez fugiram... O que ele aprontou... o que eles fizeram?
-Vamos entrar.-disse Hermione quando um grupo risonho de secundaristas andou naquela direção, ele tirou a mão da cicatriz e andou calmamente com os amigos, reparando nos risinhos das meninas que os olhavam, sua cabeleira grisalha ainda chamando a atenção...
Infelizmente a sala comunal estava cheia, principalmente de quintanistas ansiosos fazendo lições, ele e Rony ficaram jogando xadrez, Harry melhorara muito, mas Rony continuava imbatível, Hermione suspirava a cada dez minutos, até um pouco antes do jantar quando a sala deu uma esvaziada:
-Então o que aconteceu?-ela se referia a seu "ataque".
-Só senti que ele estava feliz.-ele disse baixo, odiava pensar naquilo.
-Só Harry?-ela perguntou
Ele percebeu a cara de Rony, falou olhando pra ele:
-Lembra daquela vez que os dez fugiram?
-Claro que lembro, deu arrepios...
-Foi mais o menos isso, ele está feliz, mas eu senti menos...
-Então as aulas estão dando certo.-disse Rony.
Hermione deu um suspiro impaciente.
-Harry, me conta o que você ficou sabendo da sua mãe...
Ele olhou o tabuleiro, sua mente se encheu de lembranças da mulher ruiva de imensos olhos verdes "Evans"... contou o que Morgan lhe contara, deixando de lado os motivos reais de seus encontros, contou sobre o que ela lhe dissera, e contou sobre o encontro entre ela e Snape.
-Sabe, Tonks me disse que entre os aurores ela tem uma famazinha ruim...
-Porquê?-perguntou Rony.
-Pelos comensais que matou...-ela olhou para Harry.- Era muito chegada a filosofia de Crouch... Ah Harry, acho que ela era meio louca...
Tinha que concordar que os últimos acontecimentos o faziam pensar, sua primeira impressão fora exatamente aquela, "essa mulher é doida". Entendia muito bem o medo de Snape, Rony captou seu pensamento.
-Snape que se cuide...-ele riu.- Não faria mal se ela desse uma surra nele faria?-ele riu- Que tal o que o falso Moody não fez... Iguana saltitante.-Rony fechou os olhos sob o olhar incrédulo de Hermione.
Mas eles mudaram de opinião ao vê-lo no jantar, havia motivos para seu mau-humor quadruplicado ele evitava furiosamente o olhar de Graveheart, que o olhava de esguelha, mas conversava com Minerva, perceberam que as vezes ele faltara as refeições, mas o olhar de Harry caiu na mesa da Corvinal, Cho não estava lá, depois olhou na mesa da Lufa-Lufa e seu olhar cruzou com o de Ana, ela corou e desviou o olhar, duas colegas dela olharam pra ele, que desviou o olhar para a mesa, Gina comentou:
-O que foi Harry? Você está com uma cara engraçada...
-Nada! Me passe o suco, sim?
Alguma coisa dizia que aquilo não devia ficar assim, ele devia falar com Ana, mas tinha decidido não se meter nesses assuntos, "é muita confusão", "você não tem talento pra isso", "veja o que fez pro Rony e pra Hermione", "deixa ela quieta no canto dela".Curtiu um final de semana á moda antiga, na sala comunal com os Weasleys e Hermione.

Acordou de manhã com Rony fugindo dele, só percebeu o motivo quando se olhou no espelho, havia bem menos, mas ele ainda estava definitivamente com mechas brancas no cabelo, havia uma mecha branca que o incomodava por ser exatamente em cima de sua cicatriz,Rony não esperou nem na mesa do café, algumas secundaristas ainda apontavam pra ele deixando-o irritado.
Foi na aula de poções que ele percebeu os motivos de sua vida ser atribulada, mal entrara e acenava para Ana, Snape sentenciou:
-Atrasado Potter! Cinco pontos a menos pra Grifinólia!
Isso só porque ele era o último a entrar, mas não estava realmente atrasado, Rony e Hermione, que não o haviam esperado terminar o café apenas acenaram em desculpas o amigo principalmente, ele olhou para Ana que evitou o olhar, ele se sentou quieto.
-Na última aula vocês tentaram fazer uma poção de troca de corpos, hoje vocês vão fazer uma poção de reversão, no final da aula vocês provarão ambas as poções para verificar o resultado.-ele bateu a varinha no quadro e apareceu a receita da poção de reversão.- Leiam com cuidado. Erros nessa poção costuma resultar em venenos exóticos.-ele olhou sorrindo para Harry que sentiu um arrepio na espinha.
Mas o pior era preparar a poção com Ana tentando evitar falar e olhar para ele, se perderam umas duas vezes, mas ao conferir parecia estar certo, Snape não parava de aparecer por perto sobressaltando-o.
-Cabelos brancos de preucupação,Potter?-ele sibilou quando Ana estava ocupada medindo alguns ingredientes, vários caldeirões soltavam fumaças e cheiros estranhos, era uma poção particularmente difícil.
-Certo, deixem suas poções descansarem até esfriar, enquanto isso...- ele disse devolvendo os francos da aula anterior.
"E se ele alterou o nosso?" pensou Harry ao ver Ana pegar o frasco deles que tinha uma marquinha azul.
-As duplas que tem marcas verdes nos frascos não o bebam, pois erraram lamentavelmente e produziram veneno. Se quiserem experimentar é por conta e risco de vocês.
Hermione fez sinal para Malfoy que cruzara os braços e sentara furioso, enquanto seu colega balançava a cabeça na direção dele, Snape continuou:
-As que tem uma marca vermelha podem experimentar, vamos ver o que acontece...bebam e toquem no parceiro.
Houveram vários incidentes curiosos como trocas de cores de cabelo, ou uma cruza de características, um aluno da Corvinal ganhou os cabelos longos da companheira, enquanto ela começou a falar com uma voz grossa como a dele.
-Frascos com a marca azul contém poções corretas, as duplas podem experimentar.
Ana pareceu olha-lo meio em pânico, ele pegou o frasco, passou metade do conteúdo para outro e segurando a respiração tomou a sua metade e empurrou a outra para ela, ela pareceu ganhar coragem, pegou e tomou a poção de um gole só, se olharam, ela estendeu a mão para ele, ele tocou a palma da mão dela e então... estava olhando para si mesmo.
Era estranho, ele estava a sua própria frente, mas diferentemente de um espelho era ele mesmo, boquiaberto, pálido, magro, com aquelas malditas mechas brancas... então ele se viu olhar as próprias mãos e tocar o seu rosto, tirar o óculos e olhar em volta, enquanto Snape passava revista nos caldeirões e fazia desaparecer as poções erradas, ela recolocou os óculos e deu uns passos ele percebeu que era mais alto do que pensava, ou tinha encolhido? Olhou em volta com os olhos dela, enquanto olhava as mãos, ela tinha mãos pequenas com dedos miúdos de delicados, passou a mão nos cabelos lisos e macios, repetindo o gesto que ele mesmo fazia, ficando com os cabelos despenteados, se encararam, ele olhou-se, Ana/Harry colocou as mãos sobre o peito, olhou os pés, parecia fascinada.
-Esquisito não?-ela perguntou com a voz dele.
-Bem estranho.-ele respondeu com a voz dela. Dando um passo atrás olhando para baixo, os pés de Ana...
-Não põe a mão aí!-sibilou Rony.
Harry/Ana se virou, para ver Rony de braços cruzados, enquanto Hermione tinha as mãos nos próprios peitos, e foi abaixando os braços lentamente.
-Não tive a intenção...-falou Hermione baixinho.
Harry se virou e apressou-se em deixar as mãos longe do corpo de Ana, mas ela sorria, ele sorria, era estranho se ver sorrindo...
-Bem, bem.-disse Snape passando entre as duplas, peguem suas poções de reversão,bebam e se toquem.-Harry pegou um pouco da poção em dois frascos, passou de novo para Ana bebeu e estendeu a mão.
Ela tocou... não aconteceu nada, e ele sentiu um frio na barriga, continuava a se ver na sua frente, então Ana/Harry agarrou sua mão e o encarou, não tinha percebido o quanto sua mão era grande e pesada, os dedinhos de Harry/Ana espremidos na mão dele começaram a doer, mas nada, então viu sua própria cara contrair-se e cair na risada, e o pior começou a rir também.
Caíram na gargalhada, se encarando surpresos, porque afinal não tinham motivos para rir, mas algo os impedia de parar.
-O que foi?-disse Snape parando ao lado de Ana/Harry.
-Não deu certo.- disse Harry/Ana com aquela voz sussurrada dela.
Riam á beça, o suficiente para chamar atenção da turma.
-Se controlem!-disse Snape sério.
-Não dá pra parar.-disse Ana/Harry olhando para Snape.
Harry/Ana começou a rir ainda mais ao ver Snape morrendo de vontade de gritar com ele, mas incapaz de decidir com qual dos corpos gritar, olhava de um a outro furioso, eles agora sentaram meio cansados de rir, mas sem conseguir parar, Harry anotou mentalmente que teria que agradecer a Ana por aquele presente, de ver Snape encarando-o abobalhado enquanto ele ria na sua cara... Snape foi ao caldeirão deles e olhou:
-Potter!-gritou para os dois.- Você esqueceu de colocar o óleo de bétula... e pó de lazuli?
-Ah!- respondeu Ana em seu corpo.- Fui eu!
Outros alunos disfarçavam os risos.
-Isso não é a poção de reversão! É uma poção hilariante!- ele falou raivoso.
Eles voltaram a gargalhar.
-Terão que esperar o efeito passar! Deve passar até o almoço.- ele retorquiu e foi para outra dupla, Ana/Harry olhou com lágrimas de tanto rir:
-Até o almoço?!-riu.
Ele apoiou o rosto nos braços sobre a bancada e gargalhou até ficar rouco.Juntaram as coisas e foram saindo, um ainda no corpo do outro e rindo de se acabar ao ponto de se apoiarem um no outro como se estivessem bêbados, quando Hermione chegou junto deles:
-Venham aqui os dois!
Ana, Harry, Rony e Hermione entraram em um salinha vazia:
-Peguei um pouco da nossa poção.-disse ela os olhando. -Tomem!
Eles não conseguiam tomar, de tanto que riam, Ana finalmente tomou uma parte da poção e passou pra ele que engoliu entre um acesso de riso e outro, riam tanto que para se tocarem direito tiveram que se abraçar, gargalhavam abraçados um no outro até que o efeito de ambas as poções passou eles se afastaram ofegantes.
-Que alívio!-disse Ana corada.- achei que ia sufocar de tanto rir!
-Valeu a pena...-ele riu fracamente do esforço de rir tanto e tirando os óculos embaçados.- só pra ver a cara do Snape.
Ele e os dois amigos riram, mas Ana olhou-os meio perdida, eles se encararam, Rony e Hermione foram saindo, mas ele segurou Ana:
-Ana, sobre aquele...
-Eu...- ela ficou vermelha. - Eu não queria seguir vocês...
-Desculpe se assustei você.-ele disse a olhando.
-Assustar? Não Harry, eu entendo.-ela abaixou os olhos.- Quer dizer, sei que você não queria magoar a Cho. Você deve gostar muito dela...
-Não...
A menina sorriu, mas se virou pegando a mochila:
-Até depois Harry!
Ele não sabia exatamente o que estava fazendo, mas segurou o braço da menina, foi por impulso, por instinto, ela se virou e ele a abraçou e a beijou, sentiu as mãos dela em suas costas quando ela o abraçou, o mundo parou, quando se separaram era ele que estava vermelho.
-Estamos atrasados...-ela falou baixinho.
-É estamos sim... -ele disse, mas não se moveu.
Era uma manhã tão bonita...o sol entrava pela janela e iluminava tudo, ele só percebia aquele brilho dourado agora, ela foi saindo:
-Sempre gostei de você Harry.- saiu parecendo o retrato da felicidade.
O melhor de tudo: ele não conseguiu tirar o sorriso besta da própria cara, foi pra sala e nem se importou por mais cinco pontos perdidos por seu real atraso, Nem se importou com a cara de riso de Rony ou com a cara surpresa de Hermione, ambos obviamente percebendo o que acontecera, ele apenas pensou no motivo de nunca ter reparado que ela gostava dele, e nos motivos dele se sentir tão bem por tê-la beijado, um beijo tão diferente do primeiro, queria encontrar Ana de novo.
Mas Ana não apareceu no almoço e seu ânimo despencou, sua decepção transpareceu porque Hermione falou:
-Harry? Tá passando bem?
-Hã? - disse desviando o olhar da mesa da Lufa-Lufa.
-Ih! É grave. -riu Rony. -Me diz o que você fez com a Ana?
Agora ele percebera Gina, Fred, Jorge, Nevile, Parvati e Lilá apuravam os ouvidos, ele ficou constrangido, pensou nos gêmeos gritando, e se Ana soubesse daquilo, dos "sete" o que ia pensar?
-Falei com ela, porquê? -disse olhando significativamente ao amigo que fez uma cara de riso.
-Ah, tá.
Mas Ana entrou acompanhada, “elas sempre andam em bando?” quando passou olhou para ele e sorriu, as amigas passaram dando risinhos.
-Você contaria o oitavo pra gente, não contaria?-disse Fred lamentoso.
-Mas eles já saíram abraçados da sala.-disse Hermione.
Os olhos de Jorge brilharam, ele olhou a amiga que fingiu não ver a indignação dele.
-É e se abraçaram de novo antes do efeito da poção acabar!-disse Rony maldosamente.
Sentiu uma raiva repentina de Rony, o olhou furiosamente, mas Jorge olhou analiticamente e sorriu:
-São dez, pode apostar!
-Hei!-ele disse indignado.
-Eu sabia!-disse Jorge parecendo extremamente feliz.
-DEZ!!!- os gêmeos gritaram se levantando e o apontando com estardalhaço.
Ele sentia as bochechas pegando fogo, até porque o mal estava feito quando viu Lilá Brown colocar as mãos na boca e sussurrar furiosamente com Parvati, os gêmeos acabavam de ligar o sistema de fofocas da escola.
Além da aula de Defesa ter sido estranhamente cancelada, eles se olharam ao ver o aviso na porta, pensando na conversa sobre os estudos dela no ministério, o cancelamento acabou privando-o de ver Ana novamente, ela também não estava na biblioteca e ele passou a tarde andando, com os amigos no seu pé por causa daquilo, entrou na sala comunal preocupado que ela pudesse estar fugindo dele.

A terça feira foi muito estranha, acordou para perceber que ainda haviam cabelos brancos,"espere até próxima aula, A profa Minerva vai saber o que fazer...", procurou Ana, mas a menina desapareceu, as aulas se arrastaram até a hora da detenção com Snape.
Voltou bem tarde, cansado e mau-humorado, se jogou na poltrona, os amigos o olharam:
-Como foi?-perguntou Rony
-Melhor do que eu esperava.-disse olhando as próprias mãos.- depois de destripar a terceira barrica de iguanas eu parei de contar, Snape parecia de bom humor...
-Snape de bom humor?-falou Hermione.
-Só tinha que ficar né?-ele falou desabafando.- Pôs os nove para limpar a antiga sala e me colocou para limpar a nova, sozinho!Dispensou os outros e me fez destripar as iguanas, ah... como ele tava de bom humor!-disse esticando as pernas doídas no puf a frente, braços pendidos ao lado da poltrona cabeça apoiada nas almofadas.
-Ah!-disse Hermione pesarosa.- Você devia ir descansar então...
-Tem razão, mas não me imagino subindo a escada do dormitório, então vou ficar aqui por um tempo...-disse fechando os olhos.

Sonhou que estava em um lugar quente, mas não via nada no sonho, estava aconchegado parecia balançar calmamente e escutava:
... encantada...
clareia a minha estrada
minha criança do coração...
estrada vermelha que nunca acaba...
nuvem azul que nunca se afasta...
não a mal que se faça
quando eu canto essa canção
minha criança encantada...
Abria os olhos, via o rosto tão conhecido, Tão amado, no fundo um gramado verde, rodavam, ele se sentia tão pequeno e leve...
clareia minha estrada... ela cantava
minha criança do coração... ela ria
os cabelos vermelhos brilhavam no sol, ele esticou os braços pra ela, braços pequenos e curtos de um bebê...

Sua mãe ria pra ele feliz, não era um sonho, era uma lembrança...

Acordou e olhou em volta, como se esperasse ver aquele gramado de volta, ele lembrava, mas a lembrança ia se perdendo, as palavras, a canção...
-Harry o que foi?-disse Hermione
-Eu... sonhei.
-Nossa!-disse Rony.- Isso que é sono! Não deu cinco minutos pra você dormir...
-Vou dormir.-se levantou e subiu a escada.
"estrada vermelha...
nuvem azul..."
Não saía da cabeça o fato dele imaginar ter ouvido a mãe dele cantando algo estranho, que parecia não ser uma canção de ninar...

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