Dois meses depois...
Dois meses depois...
Kassi correu pela casa de Cissy, ignorando os elfos domésticos que a olhavam estáticos. Escancarou a porta do quarto da prima e a encontrou ainda despertando apesar de já ser mais de meio dia:
- Cissy, me diz que não é verdade, que estavam querendo me pregar uma peça, que queriam me irritar, que estavam me zoando! Me diz que não é verdade!
- Você está bem Kassi...? – Narcissa se levantava da enorme cama de dosséis, vestindo-se com um roupão verde-oliva. Sorriu docemente pra prima. – do que você está falando...?
- Você sabe muito bem do que eu estou falando! – Kassi parou irritada na frente dela – estou falando do que me disseram hoje no hospital, do que eu vi numa nota na coluna social do Profeta Diário: que você está grávida! Isso é verdade?
- É claro que sim.
- NÃO! De jeito nenhum, droga! – ela se jogou numa cadeira – e você nem me contou? Você deixou que eu soubesse pela boca dos outros? !
- Eu sabia que você ia fazer esse escândalo, assim como fez da ultima vez... e não queria ficar ouvindo suas ladainhas. – Narcissa se sentou numa penteadeira, de costas pra Kassi, e se olhou no espelho
***
Kassi se espantou quando a porta do seu quarto se abriu. Não pelo fato dela ter sido aberta com uma fúria excessiva, mas sim por ver quem a abriu: Cissy. Há meses elas não se viam, desde o casamento de Bellatrix. Os pais dela tinham proibido que se encontrasse com Kassi, por causa do *pequeno* mal entendido no casamento...:
- Cissy...?
- Kassi... – ela se jogou no pescoço da prima desamparadamente.
- O que você está fazendo aqui...?
- Eu aceitei...
- Aceitou o que?
- Kassi... – ela se soltou e encarou-a nos olhos – eu vou... me casar.
- Nossa, isso virou moda na família é...? – Ela tinha um tom de voz amargo e rapidamente se afastou, procurando um maço de cigarros. – quem...?
- Lucius Malfoy.
Kassi teve que se esforçar por um tempo pra se lembrar quem era Malfoy. Depois se lembrou do filhinho de papai engomadinho:
- Ótima escolha. – Sarcástica
Cissy se sentou na cama dela e pendeu a cabeça entre as mãos.
- Parece que você não está feliz. – Kassi tinha um ar casual enquanto tragava o cigarro.
Cissy a encarou como se tivesse levado um tapa na cara. Mal reconhecia Kassi, que sempre tinha a mimado: agora a alfinetava.
- Você sabe que não estou feliz! – algumas lágrimas se formaram, mas no cumulo do esforço que ela nunca tinha aprendido a fazer as segurou. – você sabe que isso não é o que eu queria pra mim!
- Eu sei exatamente o que você queria. – Kassi ainda amargava a derrota que tinha sofrido de Bellatrix, e espalhava esse tom a amargo pros outros – mas você é fraca de mais pra ir atrás dele.
- Fraca de mais?! – Narcissa explodiu em lágrimas – por que você está me falando em fraqueza?! Você sabe que eu não posso!
- Não pode por que não quer! – Kassi levantou a voz contra ela enquanto acendia outro cigarro. – não pode por que é fraca pra tentar sair das rédeas dos seus pais!
- Eu não sou tão louca quanto você! Eu tenho que obedecer às ordens deles! Eu tenho que me casar com ele: um sangue-puro, um homem rico e respeitado! Se eu não o fizer eu vou ser...
- Expulsa? Excomungada? Ah, me poupe Cissy!POUPE-ME dessa ladainha! – Kassi parou na frente dela e a segurou fortemente – e que valor tem isso em comparação com a sua vontade de ficar com ele? Que valor tem? Nenhum! Fuja se for preciso, mande todo mundo ir tomar no cú e vá cuidar da sua vida!
- Ir pra onde? Fugir pra onde? – ela tinha a voz fraca
- Venha pra minha casa se for preciso, pra qualquer lugar!
Ela olhou pros lados com um certo ar de asco: a casa de Kassi não era nenhum palácio e Narcissa Black não era uma mulher de viver em qualquer lugar.
- Menina mimada! – Kassi percebeu o que se passava na mente dela – nojenta e mimada!
- Você pensa o que, Kassi? Que sua casa é pensão? Severus terminou Hogwarts e você o trouxe pra cá, por que ele não tinha pra onde ir, Idem pra Jéssica! O que isso vai virar?
- Não é da sua conta, é minha casa e não sua! Ah, quer saber Cissy? Vai se foder! Se você não quer salvar a sua pele, que se foda! Viva do jeito que você quiser, bonequinha de porcelana...! Só por que Severus não pode te proporcionar tudo que...
- Você sabe que não é isso! – Cissy gritou, se levantando pra encara-la – não é isso! Só por que sou uma “bonequinha de porcelana” como você diz não quer dizer que eu tenha o mínimo de senso! Você acha que espero que ele venha até mim? Você pensa que eu o imagino como o homem que vai me tomar nos braços e me levar pra um castelo? Eu NÃO penso assim, Kassi! Eu não o imagino assim e não vou me humilhar correndo atrás dele! Não vou...
Kassi paralisou. Nunca pensou que ela teria uma visão tão realista das coisas. Severus realmente nunca iria atrás dela. E ela nunca se rebaixaria a correr atrás dele. Era um beco sem saída. Aproximou-se dela e a abraçou:
- Faça o que você achar melhor Cissy. Eu estarei aqui, se for preciso. – a olhou nos olhos – e nunca se esqueça minha prima: não há nada melhor que uma puladinha de cerca de vez em quando...!
Narcissa concordou, sorrindo maliciosa.
***
- Pelo menos me diz que esse pirralho é filho do Severus! – Kassi olhava o reflexo dela.
- É filho do Lucius. – Cissy tinha um tom frio e calculado quando respondeu isso e começou a pentear os longos cabelos loiros
- Oh céus... – Kassi resmungou, se levantando e indo até ela – me diz por quê? Por que você deixou isso acontecer?!
- É o meu dever de esposa dar a Lucius um herdeiro.
- Dever o escambal, dever uma ova! – Kassi a puxou pelos ombros e a virou, pra encará-la nos olhos – você fez isso por ciúme, puro ciúme!
- Por que você está falando isso Kassi...? – há muitos anos, desde o dia do casamento de Narcissa e Lucius que Kassi não via o rosto da prima tão frio e inexpressivo.
- Por que há dois meses, desde que a Jessy voltou você está agindo assim. Fria, distante. Com o Sev e até comigo. Isso se chama ciúmes por que a Jessy voltou! – Narcissa não respondeu. Kassi a sacudiu mais uma vez – negue. Se isso for mentira, negue!
Narcissa tirou as mãos dela dos ombros e se virou pra continuar a se pentear:
- Não quero brigar com você Queen. Acho que não precisamos disso agora.
- Olhe pra mim! – Kassi se enfiou entre Narcissa e o espelho – o que o Malfoy te ofereceu até hoje? Luxo e solidão. Ele só volta pra casa quando não tem mais o que fazer fora daqui, quando ele já se cansou de torturar trouxas, ou não há mais nenhuma ordem do Lord a seguir, ou quando não há mais nenhuma prostituta nova pra ele se deitar! E você fica presa aqui, dando ordens a esse bando de criados, esperando e esperando uma coisa que nunca vai vir: amor! Cissy, de nós três você foi à única que nasceu com o coração mais ou menos normal, por que você tá se deixando destruir?!
Desviando os olhos de Kassi, Narcissa se levantou:
- Eu descobri com você que a amor pode ser uma coisa muito relativa.
- Eu tô vendo que eu sou a única que ainda usa essa palavra ridícula! – ela respirou pesadamente várias vezes – você está de quanto tempo...?
- Quase dois meses.
- Ainda dá tempo de acabar com isso.
Narcissa a olhou rapidamente, parecendo irritada:
- Eu não teria coragem de fazer isso: eu nasci com “o coração mais ou menos normal”. E você também não faria Kassi, como você diz é a Bella que gosta de matar bebês e não você.
- Ok, você venceu. – Kassi desmoronou na cama – você venceu. Tenha esse catarrentinho. O problema é seu. Jogue essa criança na cara de Severus pra puni-lo por que ele dormiu com a Jessy.
- O problema não vai ser só meu. – ela olhou Kassi incisivamente.
- Por que, você acha que o Lucius vai te ajudar com muita coisa...? Já é espantoso que ele tenha ficado em casa tempo suficiente pra fazer esse filho, você não espera que ele fique aqui pra criá-lo, espera?!
- Não estou falando dele, eu estou falando de você. Quero que você seja a madrinha desse bebê, Kassi.
- Oh não, nem vem! – Kassi tinha uma expressão de horror no rosto – não mesmo! Você sabe que eu tenho pavor de criança!
- Não vai ser uma criança qualquer, vai ser meu filho. E eu queria que você fizesse o parto também.
- Não sei se você lembra Cissy, mas eu trabalho com neurologia. Então a não ser que esse catarrentinho tenha danos cerebrais, o que não é difícil já que ele é filho do Lucius, eu não vou poder fazer nada!
- Por favor Kassi! – Narcissa se aproximou da prima e tomou as mãos dela entre as suas. – eu preciso de você!
- É sempre assim, você faz a merda e eu limpo a cagada...! – Kassi suspirou – tudo bem, eu faço. Mas agora eu tenho que ir. Totalmente derrotada nessa conversa, mas tenho que ir.
- Você parece cansada. – olhando atentamente Narcissa percebeu que ela tinha profundas olheiras e o cabelo totalmente prateado que ela usava ultimamente não ajudava muito em fazê-la parecer saudável.
- Trabalhando em dobro. – ela puxou a manga da capa e mostrou a Marca Negra no braço, tinha a voz totalmente amargurada. – depois do meu “fracasso” ao entregar aquele objeto a Milord ele tem exigido muito de mim. E preciso manter as aparências no hospital.
- Eu ainda não entendi... – Cissy, que sabia o que Bellatrix tinha feito, ainda se perguntava por que depois de dois meses Kassi ainda não tinha “dado o troco”. – você e Bella estão há anos nesse jogo, ela faz e você se vinga. Por que você ainda não se vingou até agora...?
Kassi riu longamente antes de responder:
- Eu simplesmente cansei. – deu os ombros – eu sempre me “vinguei” de Bella pra manté-la com os pés no chão. Mostrar a ela que os atos dela ainda podem a colocar numa fria. Como uma criança que tenta pular na janela e você bate nela pra mostrar que ela não deve fazer isso: ela fica com raiva por ter apanhado, mas aprende. Mas a Bella nunca aprendeu... ! Quanto mais eu bato, mais ela tenta pular e da janela mais alta. Ela nunca aprendeu o verdadeiro ensinamento Sonserino: salve sua pele antes de tudo. Bellatrix não mede os limites pra ter o que ela quer e ainda vai se ferrar por causa disso. E eu cansei de ensinar, de proteger... – ela riu, sarcástica – veremos até onde a Bella vai sem minha proteção.
Narcissa concordou e depois a abraçou, depositou um selinho nos lábios dela. E então Kassi partiu.
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