Capítulo XXII



Os Marotos e o Segredo de Sangue


Capítulo XXII – Livro e chuva


 As semanas pareciam passar aos saltos sem precisão, enquanto Sasha se afogava em livros com suas amigas para os exames. Ela não achou mais nada sobre alguma poção que desse a vida eterna àquele que a tomasse, então desistiu pelo menos por enquanto. Também não soube mais nada sobre Sirius. Às vezes o via nos corredores, no salão comunal, sempre nas salas de aula, mas ele não estava mais presente em sua vida, e isso fazia uma diferença mais que imensa, maior do que ela podia imaginar que fosse causar. Quando, nos jardins, o via conversando com alguma garota, seu corpo estremecia e ela saía dali o mais rápido que podia, antes que seus nervos piorassem e o estresse a fizesse dar ataques. Mas sabia que ele não estava saindo com qualquer menina, pois as garotas do dormitório deixariam escapar – o que era estranho e aliviador ao mesmo tempo. Ele não devia ter idéia de como a falta do seu cheiro lhe causava mais estresse ainda.


 Conversar às vezes – muito raramente – com Thiago ou Snape, era ótimo e relaxante. Não que Lílian e as outras não conseguissem esse efeito, mas elas pareciam preocupadas demais com os exames, além de estar com um aspecto terrível de quem não dormia à noite. As leves olheiras sob os olhos dourados de Gloria pareciam escurecer-se à medida que os dias passavam. Lílian se surpreendia quando Sasha pegava uma escova para pentear suas mechas ruivas e elas estavam todas embaraçadas e sem vida. Como Alice e Frank não estavam com problemas, a garota preferia estudar com o namorado, já que ele não costumava dar ataques quando não se lembrava de algo que acabara de estudar, como Lily andava fazendo.


 Os dias corriam dessa maneira, e mal perceberam quando faltava apenas uma semana para os exames e a professora Minerva anunciou-lhes com gratidão e uma voz leve que não parecia a dela, que haveria uma visita à Hogsmeade. O salão principal pareceu suspirar em uníssono de alívio intenso. Sasha olhou pelo canto dos olhos que Thiago e Sirius começaram a fuxicar e rir.


 - Ela está louca? Amanhã teríamos dois tempos de História da Magia! – Lílian ralhou com as sobrancelhas franzidas – não podemos perder esta aula assim! Será o primeiro exame e...


 - Lil, temos que relaxar – Alice admitiu, suspirando, e virando o copo de suco de abóbora nos lábios – não nos separamos dos livros dois segundos.


 - Você ainda se separa, você tem Frank! – Sasha lembrou-a, ouvindo uma garota ao seu lado na mesa dar uma risadinha, e ela entendeu que devia ser por causa de Sirius, e lançou-lhe um olhar fulminante.


 - Eu estou preocupada com vocês – ela falou em voz mais baixa, percebendo o olhar de Sasha.


 - Eu estou preocupada comigo também! – Sasha disse, rindo amargamente – vamos, sim, Lily!


 - Desculpe, Sasha... mas amanhã não vai dar mesmo. Além de que eu não tenho nada para comprar em Hogsmeade, e nem nada para fazer.


 - Por favor – ela pediu – por favor. Vamos, para me acompanhar.


 Lílian olhou para ela penosamente, e depois fez que não com a cabeça, devagar.


 - Eu estou dizendo. Amanhã tem reunião dos monitores e...


 - Lil, por Merlin! Amanhã os monitores estarão todos em Hogsmeade, aproveitando o dia livre! – interviu Alice, ríspida.


 - Tudo bem – amuou-se Sasha – não precisa ir se não quiser. Eu dou um jeito.


 - Não, Sas...


 - Não, Lil, estou falando sério – a morena piscou-lhe, falando com a voz sincera – eu sei que está preocupada demais com os exames, e mesmo que eu acho que seja um exagero... é o que você quer! Não vou obrigá-la.


 Lílian sorriu, abraçando a amiga, e Alice bufou. Sasha suspirou, sabendo que o dia seguinte seria longo...


 


 


*****


 


 


 - Ainda pode ir – Alice insistia – sabe, os livros não vão fugir ou o seu conhecimento vai sair pelos ouvidos ou coisa assim. Vamos nos divertir!


 Sasha ria das tentativas da amiga, enquanto Lílian, deitada de barriga na cama, virava as páginas de um grosso livro que havia tirado da biblioteca.


 - Lá-lá-lá – cantarolou a ruiva, despistando Alice.


 A outra bufou e quase rasgou as calças quando vestiu-as, tamanha violência com que a puxou.


 - Heee... calma aí! – Lílian continuou cantarolando, e as três riram.


 - Estou nervosa – ela falou – precisava que todas nós estivéssemos lá hoje.


 - Por quê? – perguntou Sasha.


 - Bem... eu estou desconfiando de Frank – ela disse, e as duas arregalaram os olhos – não! Não estou desconfiando que ele esteja me traindo ou coisa assim... apenas estou desconfiando que... ele vai me dar... bem... – ela engasgou nas próprias palavras.


 - Sim...? – a ruiva fez.


 - Acho que ele vai me dar uma aliança. – falou, virando-se para que as outras não vissem o rubor em suas bochechas.


 Lílian saltou da cama e pulou em Alice, rindo. Sasha deliciou-se com a cena de alegria e com o tamanho do sorriso que a garota estampou nos lábios enquanto a ruiva carregava-a para a cama e tacava almofadas nela.


 - Que lindo, Alice! – Sasha disse, aproximando-se – por que acha isso?


 - Bem, ele andou dizendo algumas coisas estranhas esses dias, enquanto estudávamos... primeiro pegava o meu dedo – ela apontou o dedo em que se colocava aliança de compromisso, na mão direita – e ficava pensativo, fazendo voltas nele, e outro dia me perguntou o que eu achava sobre isso. Só por isso e...


 - Ah, que lindo! – falava Lílian, sorrindo.


 - Não exagere, Lil... já estamos juntos há um ano. – Alice falou, fazendo uma careta.


 - Vai me dizer que não era o que você queria... – falou Sasha, erguendo as sobrancelhas.


 - Hum... – ela fez, e as três riram novamente.


 - Só faltam vocês três para as carruagens partirem! - a voz de uma das garotas que dormia do mesmo dormitório que elas gritou das escadas - McGonagall me disse para...


 Mas antes que ela pudesse terminar, Sasha e Alice saíram correndo, mandando beijos para Lílian e se despedindo, agarrando as bolsas no meio do caminho. Correram até os jardins. Todos realmente já estavam lá, e McGonagall lançou-lhes um olhar de censura – assim como uma boa parte dos alunos que estavam próximos – quando elas correram para mostrar as suas assinaturas. A maior parte das carruagens estava ocupada, então tiveram que se espremer na que Frank estava com alguns amigos, e Sasha sentiu-se estranhamente deslocada entre aqueles meninos grandes e fortes que pareciam ser metros maiores que ela, mas que riam das coisas mais idiotas que viam ou se lembravam. Manteve-se em silêncio no caminho, sob o olhar penalizado de Alice.


 Sasha pulou da carruagem antes que ela ao menos parasse na estação, e começou a subir a rua, acenando para Alice que precisava procurar algumas coisas na pequena livraria. É claro que ela apenas queria fugir. Ver livros e mais livros amontoados e empoleirados era talvez a última coisa que ela pudesse querer fazer. Entrou na loja, apenas para não levantar suspeitas da amiga, e ficou rondando entre as prateleiras amontoadas, sob o olhar da vendedora no balcão.


 - Em quê posso ajudá-la? – uma garota de uns treze anos, que usava grossos óculos e os cabelos puxados para um rabo de cavalo no topo da cabeça, sorria-lhe docemente, surgida não se sabia de onde.


 Então, Sasha teve uma idéia. Talvez não estivesse perdendo tempo ali, realmente.


 - Estou atrás de um livro de poções.


 - Oh, temos um vasto estoque para estudantes de Hogwarts – ela disse, com a sua voz treinada e simpática, e Sasha se perguntou há quanto tempo aquela baixinha devia trabalhar ali.


 - Na verdade não estou atrás de um livro para a escola. – ela interrompeu a garota, que já se virava.


 - Não? Pode me dar mais detalhes, então?


 - Estou atrás de um livro de poções antigas... eu procurei uma poção em toda a biblioteca da escola e não achei em um só livro que fosse.


 A garotinha sorriu, e os seus dentes eram cumpridos e marfim.


 - Então pode ter certeza de que acharemos para você.


 - Ótimo. Já ouviu falar em alguma poção... da vida eterna?


 Quando Sasha começava a se familiarizar com a garota, ela arregalou os olhos de modo que eles ficaram quase do tamanho do aro dos óculos, e sua boca ficou um pouco aberta de pasmo. A morena franziu a sobrancelha para ela, esperando uma resposta. A menina lançou um olhar pelo canto dos olhos para a mulher velha que estava no balcão, a mesma atendente que havia olhado-a o tempo todo desde que passara pelas portas de madeira velha da pequena livraria, e esta contornou o balcão para ir em direção às duas.


 - Querida, está procurando isso para alguém ou é para você? – a mulher perguntou, abraçando os ombros da menina de óculos, cujas mãos começaram a tremer.


 - É que... estou fazendo uma pesquisa... meio pessoal, e...


 - Não está planejando fazer a poção, está? – ela perguntou, atenta às mudanças no rosto de Sasha.


 - Oh, não, não! – ela apressou-se em afirmar – é que estou... estudando antecipadamente para... minha futura profissão.


 A mulher estreitou os olhos para ela, tentando avaliar seu grau da mentira. Embora percebesse que era mesmo mentira.


 - Bem, me siga então – ela chamou, separando-se da menina de óculos que por um segundo não desabou no chão.


 Ela desapareceu atrás de uma porta que Sasha não percebera antes, sob um cortinado de bolinhas escuras que alteravam os tons entre cinza, preto e azul marinho. Quando Sasha passou entre elas, os seus tons se modificaram furiosamente e a mulher virou-se para esperar, notando a reação da cortina, e murmurou:


 - Interessante...


 - O que é interessante? – Sasha perguntou cuidadosamente, se afastando das linhas de bolinhas que se acalmaram em seguida.


 - A sua energia – ela falou, avaliando-a novamente.


 Sasha corou furiosamente. A mulher a avaliava sem escrúpulos ou tentativas de disfarçar.


 - Então, tem o livro? – repetiu, e a mulher saiu do transe.


 - Oh, me desculpe... – falou.


 Sasha percebeu a saleta em que estavam e seu nariz começou a coçar furiosamente. Era mais como um armário de livros velhos, grossos e mais sujos do que nunca, que se amontoavam em mesinhas de madeira junto com equipamentos que ela pensou que fosse para a manutenção e a limpeza daqueles para que fossem vendidos na loja. Havia uma escada em um canto, em cujos degraus se empilhavam livros também, e havia poeira por toda parte. Imediatamente, pensou em Lílian e em sua mania de limpeza. Se a ruiva estivesse ali, aquelas tranqueiras estariam com os dias contados.


 A mulher começou a subir as escadas, saltando dos livros ou desviando deles, e Sasha a seguiu, um pouco insegura se estava fazendo o certo. Eram apenas uns dez degraus, e ele dava para um corredor tão empoeirado como a sala anterior. Haviam algumas portas fechadas à chave, que permaneciam na fechadura, e Sasha notou que aquela deveria ser a casa da mulher e da menina. Suspirou, pensando se os quartos eram tão sujos quanto o resto do lugar.


 A mulher seguiu até uma portinhola ao fim do corredor, e ela era menor do que as outras. Tirou uma chave que estava pendurada em uma corrente em seu pescoço e abriu-a, rangendo, dando espaço à uma saleta menor do que a do andar de baixo, porém limpa. Haviam armários de vidro contendo alguns exemplares de livros, que pareciam ser únicos em toda a loja, embora ainda parecessem velhos e folheados, não havia um único que se repetisse. Uma cadeira de balanço tremulou quando a porta ventou o lugar, e a claridade era imensa por causa de uma janela grande que dava visão aos telhadinhos de Hogsmeade. A mulher suspirou e aproximou-se para fechar a cortina, e depois voltou para fechar a porta atrás de Sasha.


 - Bem, me diga primeiro o que está procurando – ela falou, e a hostilidade em sua voz assustava um pouco.


 - Como eu disse, estou fazendo pesquisas – Sasha tentou responder no mesmo tom firme – pessoais, muito pessoais. A senhora tem mesmo o livro?


 - Tenho – ela disse estranhamente, olhando para os lados – mas preciso ter certeza.


 - Certeza? – repetiu Sasha.


 - De que não vai usar o livro para maus propósitos. – e ela fixou os grandes olhos castanhos nos azuis de Sasha.


 A garota suspirou.


 - Eu não vou.


 Sasha não estava certa se havia alguma maneira de provar isso. Deveria ter imaginado, mesmo, que sair por aí perguntando por uma poção das trevas levantaria suspeitas imediatas.


 - Quem são seus pais? – ela perguntou rapidamente.


 - Eles já morreram. Eram trouxas. – Sasha contou.


 As sobrancelhas da mulher se arquearam em seu rosto gordo.


 - Olhe, eu não sou preconceituosa – ela falou rapidamente – nunca trouxe nenhum cliente para dentro desta sala e te trouxe porque gostei de você. Mas principalmente porque os negócios vão muito mal, então não espero que o vá vender qualquer coisa por um preço razoável...


 Sasha meneou a cabeça.


 - Tudo bem, eu procuro em outro lugar se não qu...


 - Espere aí, garota. – ela segurou o braço de Sasha, e depois soltou-o, virando-se bruscamente.


 Outra chave em seu pescoço abria a porta de um armário de livro, e ela abaixou-se para pegar um nas últimas fileiras. Era um livro de capa preta, de couro, muito parecido com o de lendas que ela e Lílian haviam lido algum tempo atrás, mas que ficava na biblioteca e não tinha nada sobre poções. Não havia qualquer título, mesmo que apagado, na capa surrada, e a mulher segurou-o firmemente entre os dedos, como se nunca fosse soltá-lo.


 - Aqui tem segredos, menina – ela falou – segredos absurdos. Tão terríveis, lunáticos e medonhos que você pode enlouquecer se ligar-se muito à ele. – o tom dela era de quem havia passado por uma própria experiência.


 - Ele conta algo sobre a poção que lhe disse? – quis saber Sasha, curiosa.


 - Tem muito mais do que só sobre uma poção.


 O desejo brilhou nos olhos de Sasha quando a mulher falou aquilo, e seus olhos azuis se fixaram no livro entre os dedos gordinhos da mulher.


 - Quanto quer por ele? – a morena perguntou, tentando parecer um pouco desinteressada.


 - Vamos tratar sobre isso lá embaixo. Eu gosto de testemunhas quando faço um acordo alto. – a mulher sorriu com malícia, e achou um saco preto onde enfiar o livro.


 Elas saíram para o corredor novamente. Sasha mal prestou atenção à sujeira do lugar, tamanha era a ansiedade por tocar os dedos brancos no livro e devorá-lo em dois minutos. A claridade fosca da biblioteca feriu-lhe os olhos quando ela passou rapidamente na cortina, evitando o olhar curioso da mulher quanto à sua energia. A mulher contornou o balcão de novo, e Sasha encostou-se na frente dela, passando os dedos na sacola que estava ali em cima. A menina arregalou os olhos para elas, e ficou rígida entre uma das prateleiras, o braço ainda no ar, denunciando que havia parado no meio do trabalho. Ela ficou naquela posição durante toda a discussão sobre preços entre Sasha e a dona da loja, que insistia em colocar no próprio bolso todas as economias de Sasha. Ela não queria ter que mandar uma carta pedindo aos avós que dessem dinheiro à ela – mesmo sabendo que tudo o que os pais lhe deixaram estava sobre os cuidados dele, o que lhe apavorava era a idéia de sua frágil avó ter que dar dinheiro à uma coruja. E depois, teria que dar um jeito de trocar o dinheiro, e isso só podia acontecer em Londres. Suspirou pesadamente, desaprovando, quando tirou do bolso quase todo o dinheiro que havia levado à Hogsmeade.


 - Volte sempre! Espero que ache o que está procurando... – a mulher falou, estendendo-lhe o pacote.


 - Se eu não achar, eu vou me encarregar de voltar. – ela sorriu pacificamente, fazendo a mulher gargalhar, e ela continuou gargalhando enquanto a garota saía pela porta da livraria.


 Gargalhando porque só o dinheiro que Sasha lhe dera devia pagar metade de suas despesas. Um livro não podia valer tanto assim, diabos! Ainda bufando pela própria falta de bom senso ao insistir em comprar o livro, caminhou sem rumo na estradinha de pedra. O céu começava a escurecer e algumas nuvens negras estavam rodeando o céu azul, deixando a primavera com uma brisa fria quando já estavam em junho. Chutou algumas pedrinhas, enquanto a brisa acariciava suas formas, e deixou-se levar até a praça. Sasha sentou-se em um dos bancos, e ela sorriu ao pensar que podia ser o banco em que Thiago e Lílian haviam se beijado há algum tempo. Quanto tempo tinha sido mesmo? Dois meses... pareciam séculos.


 À sua volta, todos os alunos estavam muito descontraídos com o dia livre que tiveram, refrescando a cabeça dos livros sufocantes. Sasha encostou-se no banco e fechou os olhos, sentindo que pingos finos começavam a cair do céu escuro e pintavam seu rosto, tirando totalmente da cabeça dela a idéia de abrir o livro ali mesmo e se afogar nele. Um livro tão caro merecia tratamento mais que especial e cuidadoso, pelo menos por enquanto. Ainda de olhos fechados, pôde ouvir quando os pingos começaram a ficar mais grossos e os passos na praça e na rua se apressaram, acompanhados das risadas e gritos dos estudantes que se empenhavam para fugir da água.


 Sasha não se mexeu. Enfiou a sacola do livro dentro da blusa e abaixou a cabeça, ainda com os olhos fechados, deixando a chuva ensopá-la enquanto o peso em suas costas e em sua cabeça diminuía gradativamente. Pelo menos uma coisa boa havia acontecido hoje: achara o livro que continha a informação que estava procurando há tempos. Mas uma voz em sua cabeça ainda zunia, indiferente ao barulho da chuva grossa no telhado e no chão. Por favor, Sirius. Volte.


 Ela estava bem consciente de que se não saísse dali, aquela chuva acompanhada pelo vento levaria o que restava de sua saúde para o ralo, mas mesmo assim não se preocupou em tentar se mexer. O toque da água em sua pele translúcida tinha um delicioso sabor de realidade...


 Mas alguém parecia preocupado com ela ali, no meio da chuva. Pelo menos pareceu. Sasha notou que a chuva parou de tocar sua pele, e ouviu um barulho familiar de pingos em uma lona. Alguém estendera um guarda-chuva imenso sobre ela. Seu coração começou a palpitar, na esperança de que fosse Sirius. Quando abriu os olhos, ficou desapontada, embora não menos segura.


 Os olhos verdes e lábios franzidos de Gregorio Davies pareciam exaustos, mas prestativos. Ela sorriu para ele, achando que a situação era tão idiota que era impossível acreditar.


 - Está tentando se matar ou coisa assim e eu atrapalhei? – ele perguntou, e a sua voz parecia ter retornado ao tom amigável de antes. De antes.


 - Não tanto quanto você esteve tentando esses dias. – ela respondeu no mesmo tom.


 - Bem, eu não vou deixar você fazer isso. – ele disse – seria um desperdício para o mundo.


 Sasha revirou os olhos, incapaz de segurar um sorriso. Havia se esquecido como Gregorio conseguia deixá-la de repente em um altar; mesmo que suas intenções fossem sempre, sempre, quer dizer, desde depois que ela começara a namorar Sirius, agora ela não sabia, pura amizade.


 - Venha, vou te pagar uma cerveja – ele convidou, estendendo a mão.


 Sasha olhou para a mão dele e riu de novo. Estava mesmo precisando que alguém pagasse as coisas para ela.


 - Não pense que vou deixá-la aqui na chuva, Sasha. – ele falou com censura.


 - Tudo bem, meu herói. – ela falou, aceitando a mão dele e levantando-se do banco.


 Havia esquecido do livro dentro da blusa, e o pacote escorregou para o chão no mesmo momento. Antes que Sasha pudesse reclamar e se abaixar, Gregorio já o tinha feito e estendia o livro com um sorriso para ela. Murmurou um agradecimento, desaprovando a própria lerdeza, e acompanhou Gregor até o Três Vassouras embaixo do guarda-chuva negro.


 Quando abriram as portas do estabelecimento, ele estava mais cheio do que Sasha jamais vira. Todas as mesas estavam ocupadas e haviam muitas pessoas em pé, em uma mistura de estudantes animados e viajantes afobados e misteriosos, além das outras criaturas. Ela notou que Franciny Turner estava com as amigas em uma das mesas próximas à janela, e quando viu que ela chegou ensopada, a loira fuxicou alguma coisa para as amigas e elas olharam para Sasha, rindo alto em seguida. Gregorio percebeu aquilo e falou em seu ouvido:


 - Não ligue para elas, você está ótima assim...


 Ela olhou para si mesma e então percebeu. Sua roupa estava colada no corpo e seus cabelos pingavam.


 - Eu vou ao banheiro – ela falou.


 O banheiro do bar não era exatamente o melhor lugar para se secar. Pingavam goteiras de todos os lados, mas mesmo assim o chão estava seco e cheirava lavanda, como se estivesse enfeitiçado. Sasha tirou a varinha das vestes, e depois de se secar, tentou ajeitar os próprios cabelos em um rabo de cavalo puxado para trás. Olhou desolada para o pacote do livro. De onde tirara a maldita idéia de ficar embaixo da chuva? O pacote agora estava ensopado!


 - Ótimo. – ela falou consigo mesma, saindo do banheiro.


 Lílian devia conhecer algum feitiço que pudesse secar livros, mas tinha certeza de que quando chegasse na escola o livro já teria danos irreparáveis. Mais uma vez se martirizou por ter pagado tão caro naquele monte de páginas. Sasha avistou Gregorio, lhe acenando de um canto. ”Como diabos ele conseguiu uma mesa?” Jogou o livro na mesa, sentando-se ao lado dele.


 - O que aconteceu? – ele perguntou imediatamente.


 - O livro. Está encharcado! Não sei como secá-lo! – ela bufou.


 - Sasha... tem que avaliar todos os ângulos antes de se estressar – ele falou calmamente, e, tirando a própria varinha do bolso, tirou o livro de dentro do pacote e fez uma careta, enquanto lançava um feitiço.


 A aparência do livro parecia melhor do que quando o comprara há alguns minutos. Ela sorriu com todos os dentes para ele.


 - Hei – Sasha socou o braço dele, de brincadeira – obrigada. Você não é tão burro.


 - Hum... eu só estava querendo ajudar – ele fez uma careta de chateamento, no mesmo tom de brincadeira.


 Sasha o abraçou de lado, agradecida que alguém que não estivesse namorando estivesse disposto a pelo menos acompanhá-la em Hogsmeade.


 - Estou brincando! Obrigada mesmo, Gregor – ela disse, ainda abraçada à ele – paguei caro neste aí.


 Neste momento a porta do Três Vassouras abriu-se e um vento forte entrou por ela, junto com três marotos rindo das próprias piadas e pulando para dentro do bar. Sirius, Thiago e Rabicho estavam tão molhados quanto ela estivera antes de Gregorio encontrá-la. Os olhos de Sirius se viraram para ela como um íma, e faiscaram no momento em que percebeu seus braços sobre os ombros de Gregor. O sorriso desapareceu no rosto dele, gradualmente, e Thiago percebeu. Sasha tirou delicadamente os braços do garoto quando notou que ele parecia estar falando algo, mas sua voz parecia um zumbido. Todas as vozes do bar pareciam um zumbido, e a chuva no telhado era o único barulho que ela ouviu enquanto seus olhos e os de Sirius se encontraram ao longe.


 - ...o que se trata? Quer dizer, esta nota fiscal só pode ser falsa, não é? – Gregorio falava.


 Ele deu um cutucão nas costelas de Sasha quando notou que ela não prestara um segundo de atenção, acordando-a do transe. Todas as vozes voltaram desagradavelmente para a sua cabeça enquanto Sirius desviava o olhar para Thiago, que lhe falava algo com um cochicho. Sirius concordou e eles foram até o balcão.


 - Calma, não vão se engolir publicamente que não é educado – ele murmurou para ela, abaixando a cabeça.


 Sasha meneou a cabeça.


 - Não estamos mais juntos.


 - Eu sei. Acha mesmo que alguém aqui não sabe?


 - Eu gostaria que alguém fingisse surpresa.


 Gregorio riu.


 - Quer conversar sobre o que aconteceu? – ele perguntou carinhosamente.


 Sasha olhou-o, e depois olhou para as próprias mãos em seu colo.


 - Apenas temos... Personalidades diferentes.


 - E fortes. – ele completou.


 Sasha revirou os olhos, observando enquanto o garçon colocava duas garrafas de cerveja-amanteigada na mesa deles.


 - Talvez. – murmurou, olhando para cima de novo.


 Encontrou o olhar de Thiago, e ele parecia levemente preocupado sob os óculos. Ele lhe lançou um aceno curto e rápido com a cabeça, e Sasha respondeu com a mão.


 - É mesmo, falei errado, você é bem fraca da cabeça.


 A morena riu, e aceitou o copo de cerveja que o garoto estendeu. Um gole foi o suficiente para esquentá-la. Cerveja-amanteigada dos deuses!


 - Me desculpe por sumir. – ele falou, olhando para qualquer ponto atrás da cabeça dela – eu estava... muito abalado com o que aconteceu. Mas eu já estou melhor... digamos que eu conversei com alguém.


 Sasha engoliu o nó que se formou em sua garganta.


 - Tudo bem, Gregor. Acho que eu entendo. – ela disse.


 - Não, Sasha, estou falando sério – ele falou, olhando-a agora – eu não queria ter me afastado de você. Logo no momento em que estava tudo bem com Sirius e ele não tinha ataques de querer lançar uma maldição imperdoável ao me ver conversando com você, eu me afasto. Me desculpe.


 Seus olhos eram suplicantes, e Sasha conseguiu segurar o impulso de acariciar seu rosto para lhe consolar. Ainda sentia o olhar de Sirius, mesmo sabendo que quando tentasse alcançá-lo, este olhar estaria longe.


 - Eu disse que tudo bem – ela sorriu docemente – eu falei que te entendo porque eu também perdi meus pais. Eu sei exatamente qual é o tamanho da dor e que ela não tem fim nunca. – a sua voz saiu mais rouca do que pretendia.


 Gregor assentiu com a cabeça lentamente.


 - Eu não sabia que você não tinha seus pais – ele falou quase com um sussurro – como... conseguiu?


 - Eu devia ter uns oito anos, Gregor. Até hoje eu não... entendo – murmurou – é como se até hoje eu esperasse que alguém me contasse que era mentira, que eles estão vivos sim, e estão me esperando.


 Gregorio sorriu tristemente.


 - Às vezes eu queria ter morrido no lugar deles – ele falou com a voz distante – porque é insuportável pensar que quando eu voltar para casa, não vou comer a macarronada da minha mãe e nem brigar com o meu pai por causa do time de quadribol. É insuportável...


 Os seus olhos se encheram de lágrimas. Sasha suspirou, e não se conteve por causa do ciúme de Sirius. Abraçou o garoto, e ele afundou o rosto em seu pescoço, mas não houveram soluços. Ele aninhou-se em sua cintura como uma criança perdida. Como uma criança sem rumo. Acariciou seus cabelos castanhos.


 - Diabos, você vai achar que eu sou um idiota – ele falou com a voz quente em seu ouvido – me desculpe de novo. Por favor. Eu não deveria me descontrolar assim.


 Gregorio se desprendeu do abraço e voltou para a cerveja com a cabeça baixa. Sasha sabia que ele estava lutando contra si mesmo. Os meninos tinham um costume de pensar que não deveriam chorar. Que eram fortes o bastante.


 - Você tem que falar isso com alguém – ela falou – alguém que entenda.


 Ele levantou os olhos verdes brilhantes.


 - Eu entendo. – ela continuou firmemente.


 - Se eu for falar sobre isso de novo com você, eu vou me descontrolar.


 - Não. Você vai chorar.


 Ele revirou os olhos.


 - Tudo bem. Vamos mudar de assunto antes que isto aconteça de novo e Sirius venha aqui para me matar.


 Sasha sorriu. Antes que pudessem mudar de assunto, a porta do bar abriu-se novamente e Remo e Gloria entraram. Gloria estava com o casaco de Remo na cabeça para proteger os cabelos, e ela sorria enquanto procurava uma mesa para os dois. Thiago e Sirius acenaram para eles antes que ela visse Sasha, e a garota bufou, cruzando os braços. O casal foi até a mesa dos meninos, e conversavam ainda de pé, quando Sasha percebeu que Sirius falava alguma coisa para os dois, e, impulsivamente, eles viravam a cabeça para olhá-los. Ela corou, mostrando o polegar. Sirius nem virou o rosto na direção deles. Glory acenou freneticamente e ziguezagueou entre as mesas até chegar à deles.


 - Céus, que chuva! – falou enquanto beijava o rosto dos dois.


 - Pois é! Eu não sabia que você vinha – Sasha disse.


 - Decidi ontem à noite. Remo conseguiu me convencer. – ela sentou-se de frente para Gregor, deixando um lugar vago ao seu lado para o namorado. Remo ainda estava de pé conversando com os meninos, e eles lançavam olhadas furtivas para a mesa deles.


 - Diga para todos virem para cá! Assim não precisam ficar nos espiando – Sasha alfinetou.


 - Pára, Sasha... você sabe o que isso parece. – Gloria falou, ruborizando levemente.


 - Isso o quê?


 - Vocês dois aqui, sozinhos. Parece um encontro. – ela quase sussurrou.


 Gregorio e Sasha trocaram um olhar surpreso e depois desataram a rir, certos de que aquilo era tudo, menos um encontro.


 - O que foi? – Gloria perguntou, confusa.


 - Bem, eu a salvei da morte – ele disse.


 - Encontrei ele aqui em Hogsmeade, Glory! Estávamos sozinhos... isso não é um encontro.


 Gloria olhou-os surpresa, e depois seus ombros relaxaram.


 - Ah. – foi a única coisa que conseguiu dizer antes de Remo sentar-se ao seu lado, sorridente.


 ...e Sasha constatou que o sorriso de Remo era levemente falso. Mentir, de nenhuma maneira, combinava com ele.


 - Então, quais são as novas? – ele perguntou, avaliando Gregor.


 - Não estamos saindo, Lupin – ele disse no mesmo momento, em tom monótono.


 Remo lançou-lhes o mesmo olhar surpreso que Gloria tinha lançado, e depois olhou para trás na mesa dos meninos, mas decidiu que gritar que eles estavam errados sobre a opinião do encontro, quando estavam do outro lado do bar, era um erro. Sua boca se fechou e ele sorriu sinceramente desta vez.


 - Bem, isso é uma boa notícia – ele falou, rindo.


Sasha revirou os olhos.


 - Então, porque você estava sozinha? – Gloria perguntou.


 - Lílian decidiu que comer outro livro em Hogwarts era mais proveitoso do que vir à Hogsmeade... e Alice está com Frank.


 Remo percebeu o olhar que Sasha tentou desviar para qualquer outra pessoa do bar.


 - Odeio ficar de vela. – ela resmungou, virando o copo nos lábios carnudos.


 - Se você não quisesse não ficava. – Remo respondeu tão baixo quanto ela.


 - Você sabe que as coisas não são assim – ela falou, erguendo os olhos azuis para fixá-los nos aveludados de Remo.


 - Ela não disse que não queria – Gregor falou, e Sasha desejou que mais do que nunca ele ficasse calado – ela só disse que não gosta.


 - Bem, então agora você tem algo haver com isso? – Remo perguntou com um sorriso no canto dos lábios, surpreso com o garoto.


 - Se eu tivesse, não era problema seu. – a voz de Gregorio saiu mais alta do que devia, e as pessoas começaram a virar a cabeça para olhá-los.


 - Eu acho que seria mais problema meu do que você pensa.


 - Você só está defendendo o seu amiguinho, que não tem nem coragem de vir aqui falar com ela. – Gregorio apoiou a mão na mesa, apertando-a com os dedos, avançando um pouco a cabeça na direção de Remo. Franciny Turner cutucou a amiga para apontar para eles, e mais um monte de cabeças se viraram.


 Sasha segurou o braço de Gregor antes que os dois caíssem aos socos, como os olhos de Remo estavam sugerindo. Quase não podia acreditar que aquilo estava acontecendo, quando percebeu que desta vez o trio de marotos na outra mesa não disfarçava para olhar – ela supôs que Sirius não havia ouvido a última frase e sentiu-se muito aliviada. Gloria sussurrou:


 - Calem a boca. – e quando Remo fez menção de abri-la para uma enchorrada de impropérios em Gregor, ela interrompeu – Agora.


 - Larguem de ser idiotas! – Sasha brigou – Gregor, já falamos que isso não é um encontro, ou você está confundindo as coisas?


 Os olhos do garoto se viraram para ela com uma surpresa imensa, em um verde brilhante que a encantou por um segundo. Ele devia achar que ela ia defendê-lo. Mas não havia motivo para isso, havia? Quer dizer, ele começara a provocar Remo quando ele lhe dissera uma coisa que realmente não tinha nada haver com Gregorio. Será que de novo ele estava com... segundas intenções para o lado dela?


 - Sasha, eu... é melhor eu ir embora.


 - Não, tudo bem. Eu sou o motivo da encrenca. – Sasha falou rispidamente.


 Pegou o pacote emcima da mesa, e levantou-se furiosa, dirigindo-se ao balcão para pagar a cerveja que Gregor tinha lhe oferecido. Ele levantou-se de súbito quando percebeu aquilo, e alcançou-a quando ela estendeu o dinheiro para a mulher.


 - Hei – ele falou calmamente, perto de seu ouvido, pousando as mãos nas costas dela – eu disse que ia te pagar uma cerveja. Me deixe fazer isso.


 Ele tirou dinheiro do bolso das calças e estendeu para ela, enquanto Sasha suspirava com os lábios franzidos.


 - Me desculpe – ele pediu, ao ver a expressão dela – me desculpe mesmo.


 - Tudo bem, Gregor... a gente se vê por aí – ela despediu-se, e, passando pela mesa dos marotos, sem se trair e deixar que seus olhos tentassem encontrar os de Sirius, ela dirigiu-se para a porta do bar e saiu na chuva de novo.


 


 


 


*****


 


 


 - Ok, você está péssima – Lílian falou bruscamente, fechando o livro que lia na mesa do salão comunal.


 Sasha tomou um susto, pulando na cadeira.


 - Vamos para a Enfermaria agora!


 - N-não Lil... eu só fiquei na chuva ont... atchin! - o corpo de Sasha sacudiu-se e ela xingou Gregorio por tê-la deixado voltar para a chuva.


 - Então! Por isso mesmo! – a ruiva levantou-se, e pegou o braço da morena.


 Sasha não tinha forças nem para protestar. Apenas deixou Lílian levá-la pelos corredores, enquanto perguntava-lhe detalhes do dia anterior, de como diabos ela pudera ser tão burra para voltar para a chuva torrencial e cheia de raios, e de como ela tivera coragem de pagar um preço tão caro por causa de um livro absurdo. Um livro que ela nem ao menos se dera o trabalho de folhear, e que podia ser sobre fábulas ou quadribol.


 - Eu não agüento isto mais, Lil, não agüento – Sasha disse, firmando o pé no chão, buscando forças não se sabe de onde.


 A ruiva parou e virou-se para olhá-la.


 - Você vai melhorar quando tomar alguma poção. Tenho certeza que Madame Pomfrey deve ter alguma coisa...


 - Não é isso. – Sasha abaixou a cabeça para o chão – eu não agüento mais ficar assim.


 Lílian olhou-a confusa, aproximando-se mais da amiga.


 - Longe dele. - Sasha completou com a voz embargada.


 A ruiva soltou um suspiro longo e depois segurou as mãos de Sasha.


 - É só você ir falar com ele, Sasha. Você sabe que Gregorio nenhum vai poder substituir o que você sente por Sirius ou ele sente por você.


 - Eu queria que isso acontecesse, sabe – a morena disse, e sua voz falhou de novo – Gregor é tão gentil.


 - Mas você não o ama.


 - Você sabe que não.


 Lílian ofereceu-lhe um sorriso melancólico.


 - Tente falar com Sirius. Ele não saiu com outras meninas em quase um mês! Eu sei que eu sou a pessoa mais idiota para lhe aconselhar a isso, mas não há outro jeito.


 Sasha pensou por um momento, e depois riu.


 - Ah, Lil... Por que tem que ser Sirius Black?


 Lílian fez uma careta para ela, lembrando-se da vez em que ela mesma dissera “Por que ele tem que ser Thiago Potter?”, e depois riu.


 - Se ele viesse falar comigo... foi ele quem guardou o beijo da Jorkins no bolso, não eu. – ela lembrou-se, corando as bochechas.


 - É, mas foi você quem deu escândalo!


 - A gente estava brigando todos os dias que a gente se via! – ela falou, pisando o pé no chão, e sentindo-se estúpida por fazer aquilo – eu estava mais desconfiada do que tudo.


 - Desconfiança! E depois você diz que ele é o ciumento, quando ele te pediu em namoro... lembra? Quando vocês brigaram no show!


 Os pensamentos de Sasha voaram por um momento para a sala de Lufa-Lufa através do espelho.


- Sim... fui arrogante e estúpido com você nos últimos dias. Na verdade... – disse, brincando com uma mecha negra dos cabelos negros que caíam perto de seu rosto – acho que me desesperei quando pensei que você pudesse estar tendo intenções com aquele garoto no show. – ele interrompeu-a quando esta fez objeções de protestar, dizendo – espere! Também... conversei com Davies esta semana. – admitiu olhando para baixo – ele me contou que eram só amigos e... que ele mesmo não tinha mais intenções não fraternais com você, pois estavam muito amigos agora.
- Pra quê... tanta desconfiança? – ela sussurrou.
Por um momento, Sirius pensou, e depois tornou a responder:
- Eu fiz tudo sem pensar, Sasha. Não sabia que sentiria o que eu senti... ao ficar longe de você.


 Sasha também não imaginava que se sentiria daquele jeito. Estava péssima. Aos farrapos. Não se lembrava de tempos em que pudesse ter ficado mais estressada. Prometo que eu não vou te deixar mais, a voz aveludada de Sirius sussurrou em seu ouvido como uma lembrança. Ela havia o deixado. Havia se esquecido das promessas e... diabos, só agora havia percebido que era ela quem estava errada? Ou ela queria acreditar que estava errada para ter alguma chance de seu orgulho deixá-la falar com Sirius?


 - Vamos... – murmurou Lily, entrelaçando seus dedos nos da amiga.


 A ruiva levou-a para a Enfermaria em silêncio. Sasha sentia-se como se uma nuvem houvesse pousado emcima de sua cabeça e estava dando-lhe a visão da realidade, agora, como se fosse um sonho, com as bordas brancas. Deixou-se sentar em uma das macas enquanto Lílian chamava a Madame Pomfrey.


 - Sim? – ela enfiou a cabeça pela porta do escritório.


 - Sasha não está bem... acho que está gripada e...


 Lílian continuava falando, mas sua voz parecia um zumbido e ela não teve certeza se estava dormindo ou acordada. De repente, havia uma mão quente em sua testa e ela tentou abrir os olhos para ver de quem era.


 - Senhorita Mills? – a voz cuidadosa da enfermeira feriu-lhe os ouvidos.


 Sasha gemeu. E foi aí que desmaiou.


 - Merlin! – Lílian gritou sem se conter – mas que droga!


 A enfermeira lançou-lhe um olhar de censura enquanto deitava Sasha na cama.


 - Desculpe – ela pediu, corando furiosamente.


 - Bem, senhorita Evans, pelo jeito você é a babá dessas crianças mal criadas de Hogwarts, não é? – brincou a enfermeira, e Lily deu um risinho – Isso é gripe fortíssima, das piores, ela está ardendo em febre e pelo jeito – falou enquanto avaliava a cor das pupilas de Sasha e meteu os dedos em sua boca para avaliar as gengivas – essa menina não come há quantos meses? – perguntou, brava – está com início de anemia!


 - Diabos... – Lily murmurou só para ela, enquanto a madame Pomfreu apressava-se para dentro do seu escritório.

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