Capítulo XIX



Os Marotos e o Segredo de Sangue


 


 


Capítulo XIX – O baile, o ataque e o retorno.


  


 A tarde passou-se rapidamente diante dos olhos deles, entre brincadeiras, risos e flertes. Quando o trem parou na estação, eles arrastaram as malas para fora junto com poucos passageiros que vinham do vilarejo, e logo Thiago correu até onde uma mulher de cabelos loiros muito compridos e amarrados em um rabo de cavalo estava sentada de costas para o trem, lendo um jornal. Os amigos o seguiram, e ele aproximou-se minuciosamente dela, tapando-lhe os olhos:


 - Que susto, Thiago! – ela falou no mesmo momento, pulando do banco.


 - Poxa... como sabia que era eu, mãe? – ele fingiu-se chateado.


 - Depois de dezessete anos... – ela murmurou enquanto o abraçava carinhosamente, passando as mãos pelos seus cabelos negros. – Sirius! Como está? – logo que soltou o filho, Sirius a abraçou da mesma maneira. E depois cumprimentou Remo, perguntando-lhe se estava vigiando o filho por ela na escola, e ele apenas deu uma risadinha.


 - Mãe, essa é Sasha Mills, a namoradinha do Sirius – ele brincou, apresentando a garota, e a mulher beijou-a no rosto ternamente – ela mudou pra Hogwarts agora, no sexto ano.


 - Ah, sim... você morava onde? – conversou a mulher.


 - Na Escócia – ela sorriu.


 - Belíssimo lugar para se morar...


 - Altas montanhas. – fez Sirius, fazendo um gesto de ondas com o braço, fazendo a mulher rir.


 - E essa é Lílian Evans – Thiago apresentou.


 A mulher lançou um olhar para Thiago, e seus olhos escuros brilhavam. Os seus traços e seu porte aparentavam uma mulher muito mais jovem do que realmente devia ser. Seus cabelos loiros e sedosos brilhavam e se balançavam no rabo conforme ela mexia a cabeça. O olhar que lançou ao filho dizia tudo: ela já sabia quem era Lílian Evans.


 - É realmente um prazer conhecê-la – ela falou enquanto beijava a bochecha de Lily – já ouvi fal...


 - Mãe! Vamos! – Thiago interrompeu-lhe com energia.


 Ela olhou-o divertida e depois pegou a bolsa que estava no banco, e seguiram para a passagem para a estação de trem de Londres. Ao saírem, a atmosfera mágica desfez-se rapidamente nos olhos dele, como uma cortina de realidade que caísse diante de seus olhos. Hogwarts era incrível comparada a qualquer lugar do mundo. Havia um Jeep CJ-5 verde musgo com as portas pretas, estacionado perto de uma caixa de correios. A mãe de Thiago caminhou até lá e o garoto saltou por cima da porta, indo no banco da frente com rapidez. Eles entraram atrás e Sirius ajudou Sasha a subir, e depois que todos estavam acomodados, com as malas entre as pernas ou enfiadas lá atrás, eles partiram.


 As ruas de Londres estavam movimentadas. Nas vitrines das lojas haviam ovos de páscoa, pendurados em grades e haviam enfeites de coelho por toda parte. A primavera abastecia enormes floriculturas e fazia contrastar as cores vibrantes na cidade cinza, como uma fonte de vida pulsante.


 - O nome da mãe de Thiago é Thiala. – murmurou Sirius para ela.


 Sasha concordou com a cabeça, sorrindo. Haviam se esquecido deste detalhe importante. As grandes rodas do carro continuaram a deslizar pelo asfalto das ruas mais movimentadas até que a senhora Potter virou uma esquina que dava para ruas mais estreitas e vazias. O tamanho das casas começou a aumentar gradativamente, desde as mais modernas até aquelas que pareciam ter sido construídas em 1700 e alguma coisa, cada uma com um mundo dentro de si. Dobraram várias esquinas, avistando imensos jardins e muros altos. A senhora Potter acenou para uma mulher de cabelos negros que estava com um garoto menor em frente à uma casa amarela de portões medievais e aspecto feudal, e esta lhe sorriu imediatamente, e o pequeno ergueu a mão para acenar.


 - A mãe de Frank! – informou Thiago depois de sorrir à senhora.


 Sasha virou a cabeça para continuar a ver a mulher, que deu umas palmadinhas no avental sem tirar os olhos do Jeep e depois entrou pelo enorme portão com o garoto pequeno, que dançava e pulava envolta dela.


 O carro ainda dobrou várias ruas para subir na calçada de uma casa envolta por enormes muros que deixava impossível a visão do interior para quem passasse pela calçada. Com um aceno da varinha, a senhora Potter fez o portão para veículos dobrar-se horizontalmente para cima, deixando uma passagem para eles. Então, o Jeep subiu a rampa e entraram na estradinha que levava à garagem dos Potter. Tiveram uma visão periférica da casa. De guarda, havia um enorme jardim com bancos de madeira e uma fonte imperiosa redonda no meio, que despejava água de forma arquitetada. Haviam alguns montoados de flores coloridas e bem cuidadas que contrastavam com o verde do gramado; um caminho de pedra circulava a fonte e fazia círculos geométricos entre os bancos e floreiras. Sasha reconheceu imediatamente o lugar onde o casal Potter tinha tirado a foto que Thiago guardava em Hogwarts. Adiante estava a residência, um casarão de três andares imenso, e ao vê-lo Sasha se perguntou quanto de Londres o senhor Potter devia ter nas mãos. A mansão parecia se estender até muito adiante do que eles podiam ver.


 A senhora Potter dirigiu o Jeep através de um segundo portão que dava para uma sala enorme que devia ser a garagem, e haviam mais três carros lá dentro. Ela fez o caminho e estacionou-o entre um Passat prata e a parede escura. Tiraram as malas do carro e passaram por uma porta que dava para o que devia ser o hall de entrada, uma ampla sala redonda com um lustre de cristal pendurado bem no centro do teto e uma mesa de carvalho apinhada embaixo deste. Haviam uns sofás de couro preto muito fofos envolta da mesa, e nas paredes, alguns quadros da família desenhavam-se entre espelhos enormes com molduras fantásticas. Haviam algumas peças de decoração que pareciam da cultura africana e australiana. A mãe de Thiago deu-lha um beijo na bochecha e disse:


 - Mostrem o quarto às meninas. Eu prefiro que elas fiquem com o segundo na ala leste, mas pode apresentar todos à elas, para escolherem. – e ela sorriu para elas, que responderam – combinei de encontrar seu pai no Ministério em dois minutos, tenho que correr! – e dizendo isso dirigiu-se às portas dos fundos, ainda com a chave do carro nos dedos.


 Depois que ela sumiu, Thiago olhou-as:


 - Bem, vocês não vão escolher coisa nenhuma – ele disse, já arrastando as malas por uma escadaria de carvalho que dava acesso ao andar de cima – vocês vão ficar em um quarto que nós já escolhemos, e não é o segundo na ala leste.


 - E eu posso saber onde é, Potter? – replicou Lílian, começando a segui-lo com sua mala.


 - Espere e verá. – ele piscou-lhe o olho.


 Os cinco subiram pela escadaria fazendo um batuque insistente das rodinhas que queriam cada vez mais rapidamente alcançar o próximo degrau. Havia um amplo e extenso corredor com várias portas fechadas. Thiago levou-os primeiro à uma sala oval na extremidade do corredor, onde as paredes haviam sido substituídas por enormes janelões que iam do chão até o teto, dando-lhes uma bela vista dos fundos da casa. As meninas olharam boquiabertas, e constataram que a propriedade dos Potter era mais do que imensa, era espetacular. Desde a sala onde estavam até o fim do muro – que era muito distante e só podiam ver porque ao fim da casa, ele erguia-se mais alto do que nos outros lados – haviam campos de tênis (um jogo trouxa, segundo Thiago explicou, que jogava-se com duas coisas que se chamavam raquetes e bolinhas amarelas que às vezes enfeitiçava e podiam ser melhores que balaços pela capacidade de pular), uma piscina com a água limpíssima e vários guarda-sóis e cadeiras de plástico, além das frondosas árvores que quase incapacitavam a visão deles e faziam sombra por toda parte, alheia à imensidão cinza da cidade, como um santuário de beleza natural.


 - Parabéns, você tem um hotel fazenda em casa! – disse Sasha, sorrindo.


 - Fantástico, não é? – animou-se Sirius, abraçando Thiago de lado – e vocês ainda não viram nem metade da casa!


 - Por favor, Sirius, menos – pediu Thiago, e elas puderam notar um pequeno rubor em sua face que ele tentou disfarçar. Thiago estava envergonhado.


 - Deixe de ser modesto, Pontas – Remo falava, espiando através da vidraça algumas mulheres de branco que saíam para os fundos lá embaixo – oh, não. Alicia já está aqui.


 - Diabos... – murmurou Thiago, apressando-se para olhá-la também.


 - Alicia. – repetiu Sasha.


 - Mãe de Amanda Folks – Sirius explicou, passando a mão pelos cabelos – essa você conhece.


 - Não com bons olhos... – Lílian juntou-se aos dois marotos na janela.


 Lá embaixo, uma mulher de cabelos ruivos amarrados em um coque no alto da cabeça que soltava fios de todos os lados, usando uma roupa curta e chamativa, acompanhava a senhora Potter até um dos bancos perto da piscina. A mulher ruiva virou-se de repente, como se ouvisse-os, e acenou freneticamente para eles, com um sorriso enorme estampado no rosto, quase caindo em seus saltos, atrapalhada.


 - Hey, Pontas – Sirius começou – sua mãe não devia estar no Ministério agora?


 - Santo Merlin! - ele lembrou-se, recuando na vidraça – temos que salvá-la! A senhora Folks deve tê-la visto saindo de casa, ela adora interrompê-la.


 - Vamos logo, então! – chamou Sirius, e os dois correram pelo corredor.


 - Digamos que ela tem algumas pontadas de inveja da mãe de Thiago – explicou Remo à elas, enquanto elas observavam pelo vidro as duas mulheres muito diferentes uma da outra que conversaram desconcertadamente – primeiro porque a senhora Potter não costuma parar em casa, pois trabalha muito, e a mulher não faz nada a não ser cuidar da própria casa e dos filhos. E segundo as más línguas de Pontas... também porque a mulher sente uma atração fatal pelo pai dele.


 Lílian deu uma risadinha abafada e tocou o vidro com os dedos, vendo que os meninos se adiantavam em direção às duas mulheres. Quando Sirius se aproximou, conversando com Alicia Folks, a senhora Potter fez vários gestos para Thiago tirá-la dali no mesmo momento. E eles precisaram de dois minutos para conseguir. Primeiro levaram uma conversa entre risos e formalidades, pelo que os três lá em cima podiam ver, e depois de um comentário a senhora Folks pareceu escarlate e levantou-se sem esperar alguém acompanhá-la, parecendo indignada e raivosa, à passos duros em direção à casa. Três minutos depois os dois voltaram, ainda rindo.


 - Não, nada disso! Impossível! - Sirius chegou com uma imitação barata de uma voz feminina muito fina e estridente.


 - Thiala, peço desculpas, impossível! - Thiago o seguiu, gargalhando em seguida.


 - Ok, agora contem. – pediu Lílian.


 E os dois disseram como soltaram, em meio à risos e um assunto penosamente chato sobre as barbaridades que os outros vizinhos que não eram os Folks faziam, que Amanda Folks tinha um telescópio enorme dentro de um dos quartos de frente à casa dos Potter e mais de uma vez eles a viram espiá-los trocar-se ou tomar banho. A senhora Potter havia ficado espantada, embora soubesse que eles estavam dizendo apenas uma das de Amanda, e uma das leves.


 - Aos olhos da sociedade, como uma filha honrosa pode espiar os vizinhos? – comentou Sasha.


 - O pior é que ela sabia... e sabe de tantas mais coisas. – Thiago respondeu, rindo.


 - Finge que é uma dama na frente dos outros – censurou Remo – ainda mais na frente dos Potter, que são segundo ouvimos Amanda dizer, a nata da sociedade burguesa...


 - Ótimo, e os nossos quartos? – interrompeu Lílian, farta do assunto.


 - Bem lembrado, ruivinha – Thiago falou, sorrindo-lhe abertamente, começando a puxar sua mala.


 Lílian não reclamou do apelido, e dois marotos trocaram um olhar significativo de soslaio quando os dois passaram para o corredor, mas Sasha sabia o que aquilo significava. Eram novos tempos para Lily, pensou com um leve escárnio. Arrastaram as malas de volta até uma das portas que ficava aproximadamente no meio do corredor, e logo descobriram que não era uma porta, e sim outro corredor. Aquela casa parecia ser gigante, como um labirinto. Seguiram pelo corredor que se estendeu um bom pedaço sem portas, apenas preenchido por quadros que faziam Sirius e Remo darem risadinhas para zombar de Thiago ao passar, uns moldurados de prata que continha um pequeno Thiago Potter em roupas de marinheiro e outras com uma sunguinha colada, pulando em uma piscina que eles reconheceram à dos fundos, chamando o fotógrafo para acompanhá-lo. Enfim, avistaram uma porta de cor mais escura que as outras do corredor anterior, e entenderam que devia ser a ala dos quartos principais, dos donos. Na frente dessa porta escura, eles pararam para ver um quadro de pelo menos quatro metros por dois, de fundo vermelho, que tinha três silhuetas enormes e desenhadas à risca e perfeição, o senhor Potter, um homem de cabelos negros arrepiados atrás com olhos castanho-esverdeados leves e com um brilho zombeteiro, embora seu riso fosse fácil e seus dentes se abrissem em uma perfeita cortina de marfim; o do meio era Thiago, com os mesmos olhos e cabelos do pai, embora o óculos e o nariz inconfundivelmente fossem da mãe, que estava ao seu lado, tocando seu ombro e sorrindo para a foto, com seus cumpridos cabelos loiros emoldurando seu rosto fino e delicado até a cintura. Todos eles vestiam trajes formais e muito bonitos, e o pequeno Thiago fazia menção de arrancar a gravata a todo momento, enquanto o pai ria e a mãe corria para segurá-lo, ralhando.


 - Esse é o mais emocionante – suspirou falsamente Sirius.


 Thiago deu-lhe um soco no ombro, e depois virou-se em direção à porta escura.


 - Outro corredor? – perguntou Lílian receosa.


 - Não... Muito melhor do que isso. Espero que não seja a última vez que veja este lugar.


 Ele abriu a porta devagar, para causar impacto. Definitivamente, era o quarto de Thiago. Um quarto enorme com uma cama de casal vestida de azul, um enorme quarda-roupa que atravessava uma das paredes inteiras e vários instrumentos diferentes, alguns que elas mesmas não conseguiram distinguir. No chão, um tapete branco grosso e fofo erguia-se no chão, e vários pôsteres e fotos pregadas na parede diferenciava o estilo mais arrumado do de Thiago. Ele entrou penosamente no lugar, arrastando a mala atrás de si, e Sirius correu antes dele, e jogou-se na cama fofa, quebrando o impecável liso da colcha. Remo foi logo atrás dele, e Thiago resmungou enquanto jogava a mala em um canto:


 - Saiam daí, vão deixar minha cama cheia de pulgas!


 Lílian balançou negativamente a cabeça e ia dando as costas quando ouviu:


 - Hey, esperem... – Thiago adiantava-se, segurando-lhe delicadamente o braço – venham conhecer.


 - Já olhamos – ela resumiu.


 - Lílian... Aquela é você? – Sasha pulou para dentro do quarto e seus pés afundaram no carpete, e ela foi até onde haviam algumas fotos coladas na parede acima de uma escrivaninha.


 Debruçou-se sobre ela para olhar. De fato, era uma foto de Lílian, que estava deitada na beira do lago empilhada em livros e escrevendo apressadamente em um pergaminho. Parecia um pouco mais nova e quando notou que era fotografada, vinha ralhar incessantemente com o fotógrafo, dizendo que queimasse ou coisa assim.


 - Isso é... – a ruiva começou, aproximando-se.


 - Primavera de 1976. – lembrou Sirius, indo parar ao lado delas também – foi quando o Thiago ganhou uma câmera e tirava foto até da grama, o coitado. Filch confiscou em uma semana.


 Lílian riu, acompanhada por Sasha. Viram os outros retratos, alguns de Thiago com algum jogador de quadribol famoso – para eles, pois nenhuma delas conhecia – e outras com a família, uma legião de garotos, garotas, senhoras e velhotes de cabelos muito negros ou muito loiros, que tinham o mesmo sorriso aberto e alegria contagiante nas fotos, e várias com os marotos. A maioria tinha Sirius, sendo enfiado entre os abraços dos amigos, ou escondido atrás de um banco timidamente em festas de família. Remo apontou para uma no canto, uma foto recente dos quatro. Devia ter sido tirada no fim do quinto ano. Pedro Pettigrew sorria com os dentes pequenos tão feliz quanto os quatro. Thiago limitou-se a balançar nostalgicamente a cabeça e sorrir:


 - Então, aos aposentos femininos?


 O seu sorriso foi mais que convidativo. O grupo arrastou-se até a porta fazendo uma trilha no carpete branco e saíram, para mais um trecho de corredor que nada tinha além de parede e quadros. Então, depois de um breve tempo arrastando as malas, surgiu uma porta da cor da do quarto de Thiago, com a diferença que eram duas, como um guarda-roupa, mas se fazia imperial sobre todas as outras portas da casa, sendo mais alta.


 - O quarto dos pais dele. – disse Sirius, passando os dedos nos relevos que a madeira fazia.


 Continuaram a caminhar e finalmente chegaram à outra porta.


 - Ah, que saudade! – Sirius disse, abrindo bruscamente a porta e jogando-se lá dentro.


 Era um quarto um pouco menor do que o de Thiago e não havia carpetes no chão, mas a cama de casal e o guarda-roupa eram do mesmo tamanho e proporção, e também havia uma escrivaninha com algumas revistas de quadribol e automóveis trouxa empilhadas, além de algumas fotos na parede, mas nenhuma com parentes. Sirius jogou a própria mala do lado da cama e pulou nesta. Remo jogou a mala também e sentou-se na cama.


 - Você não consegue ver uma cama sem ter que pular nela? – ralhou Lílian.


 - Calma, Lily... essa é a cama dele mesmo. – explicou Remo, rindo.


 - Você tem um quarto nesta casa? – Sasha repetiu mais para si mesma do que para eles, incrédula.


 - Lógico! Tá achando que eu durmo onde? Com o Pontas?


 Thiago lhe fez uma careta de nojo.


 - Não dorme comigo, mas dorme com Remo! – riu Thiago.


 - É! Mas é só às vezes pelo menos! – ele explicou-se rapidamente.


 - Depois sou eu o veado... – resmungou – vamos, Almofadinhas, senão não teremos tempo para mais nada!


 Sirius levantou-se de um pulo da cama e fechou a porta atrás de si quando passou. Não se demoraram a deparar com outra porta, de madeira mais clara. Finalmente devia ser o quarto delas. Thiago abriu-a e eles se depararam com um armário de vassouras.


 Lílian olhou confusa para Sasha, para ouvir Remo, Sirius e Thiago arrancando em gargalhadas em seguida. A ruiva ficou escarlate, mas não brigou com eles. Sasha apenas sorriu. Eles continuaram o caminho até outra porta, que se não fosse a última eles poderiam suspeitar que aquela casa era infinita ou coisa assim. E dessa vez era o quarto delas.


 Haviam duas camas de solteiro imaculavelmente arrumadas em um jogo de colchas amarelo claro, com travesseiros fofos e abajures de vovó em cada cabeceira, onde havia uma mesinha de carvalho lavrado. Havia também um guarda roupa imenso, que fez Sasha e Lílian trocarem outro olhar, e um objeto trouxa, uma televisão e um som. Thiago foi o primeiro a entrar, convidando-as com um sorriso.


 - Esse é o melhor quarto de visitas – ele informou.


 - Thiago, esse não é o...


 - É, Almofadinhas, é – ele o interrompeu.


 - É o que? – a ruiva quis saber, deitando a mala entre as camas. Sasha a seguiu, e depois sentou-se na cama da esquerda, atenta à Thiago.


 - É o quarto que usamos para os parentes trouxas da mulher do meu tio.


 Lílian o olhou de soslaio, ligeiramente fria.


 - E só porque eu sou sangue-ruim me trouxe para cá? – desdenhou.


 Thiago arregalou os olhos e ele e os outros dois marotos apressaram-se em corrigir:


 - Claro que não, Lily, está louca? – Remo foi o primeiro a ralhar.


 - Trouxemos vocês para cá porque é o quarto mais perto do nosso! – lembrou Thiago.


 Sasha deu um sorriso curto, para não levantar suspeitas, quando a amiga virou de costas para eles e piscou para ela, zombeteira.


 - Não adianta tentar se desculpar! Eu já entendi tudo, Potter! – ela virou-se para ele de novo.


 - Evans, está sendo ignorante... – murmurou Sirius nervosamente.


 - Vocês me trazem aqui para me ofender e eu que sou a ignorante?


 Se Sasha não soubesse que a ruiva estava fingindo, podia acreditar que estava mesmo ofendida. Balançou a cabeça negativamente, e Remo percebeu, alargando um sorriso fácil.


 - Eu quero ir embora. – ela disse autoritária, saindo pela porta.


 Seus passos soaram firme pelo corredor vazio, e ela se segurou para não rir quando passou pela porta do armário de vassouras e ouviu Thiago atrás dela. Ele conseguiu alcançá-la sem esforço e quando puxou-a pelo braço, ela fez a expressão mais triste que pôde.


 - Como teve coragem? – perguntou com a voz chorosa.


 Thiago olhou-a sem acreditar. Passou a mão pelo seu rosto e pelos seus cabelos sem desfazer a expressão incrédula. Depois, apenas disse:


 - Não acredito que está fazendo isso.


 Lílian não agüentou mais um instante. Quando ele disse, daquele jeito sincero de quem está acreditando que aquilo está acontecendo mas não quer, ela explodiu em risadas. Sasha e os outros saíram do quarto, acompanhando as risadas.


 - Maldita – ele murmurou para ela, que riu mais ainda.


 - Não gosta de brincar com os outros, Potter?


 Thiago puxou-a pelo braço para bem perto de si e murmurou um “ruivinha malvada”, enquanto ela se desviava dele sorrindo alegremente.


 - Nos encontramos em meia hora lá embaixo? – Sirius combinou, acompanhando Thiago pelo outro lado do corredor.


 As duas concordaram e os meninos partiram para seus respectivos quartos. Elas arrumaram as malas, se trocaram e conseguiram encontrar a escada de volta – o que haviam duvidado que fossem conseguir, e quando chegaram ao halll de entrada os meninos já estavam espalhados no sofá preto, afundando nas almofadas fofas. Thiago brincava com um pomo de ouro, soltando-o e observando enquanto ele fazia menção de alcançar o ar da liberdade, e então corria-o para pegá-lo. Remo deu uma risada quando ele distraiu-se com a chegada das meninas e trombou na mesinha de carvalho, fazendo um estrondo.


 Ele segurou o joelho por alguns instantes, amparando a dor, e então olhou alegremente para elas:


 - Vamos conhecer o resto da casa!


 E isso ocupou o tempo deles até anoitecer. Thiago e os outros caminharam por toda a residência, mostrando os inúmeros cômodos de mais diversos usos que haviam ali, como no primeiro andar que havia um salão de festas enorme, uma sala de jogos bruxos que sustentava no centro uma enorme mesa de sinuca, uma academia com piscinas aquecidas, o escritório dos Potter, que tinha uma mesa cumprida para reuniões, segundo Thiago, e a maior biblioteca que eles já haviam visto na vida. Os olhos de Remo brilharam quando eles passaram pelo portão e entraram na alta sala que devia erguer-se até o terceiro andar, preenchida em todas as paredes por estantes e passarelas que levavam à elas.


 - É uma das melhores heranças da família – Thiago disse – tem livros aqui que são os únicos exemplares do mundo, eles vêem de geração em geração.


 Lílian olhou para tudo fascinada. Aproximou-se de uma estante, a mais próxima, e passou os dedos finos pela lombada que continha o título de um livro muito grosso.


 - Pode emprestar se quiser – Thiago tinha surgido ao seu lado, mais precisamente em seu pescoço – é tudo seu também enquanto estiver aqui.


 - Isso aqui é enorme. – disse Sasha, assombrada com o tamanho da estrutura.


 Sirius sorriu e falou:


 - Limpa a baba e fecha a boca.


 Sasha riu e deu-lhe um soco no braço.


 - Porque todos fazem isso comigo? – ele perguntou, fazendo aquela expressão de compaixão de si mesmo. – pobre Sirius...


 Eles ainda perambularam pelo andar dos quartos, que se estendia além do que eles já conheciam, com vários quartos para visitas, além do dos elfos e uma pequena sala de lazer onde também havia uma grande televisão trouxa e vários jogos de caixa, a parede coberta de fotos da família, como uma árvore genealógica. Seguiram por uma escada giratória que havia ao lado de uma enorme vidraça, e não viram os jardins ao olhar por ela, e sim a biblioteca e seus incontáveis e velhos livros. O último andar da casa era ocupado por uma pequena saleta de limpeza, e algo que lhes pareceu um observatório, com um imenso telescópio situado bem ao meio, um maquinário complicado que tinha vários botões e trambolhos, e um cano que se estendia até o teto da sala, por onde passava em um buraquinho estreito.


 Remo e Thiago se adiantaram para o telescópio como cachorros famintos à carne fresca. Brigaram para ver quem ocupada o lugar no banquinho que havia na frente de um olheiro. Remo venceu, e espiou imediatamente através do vidro.


 - Eles construíram – Sirius disse, enfadado.


 - Eles o quê? – perguntou Lílian – está me dizendo que vocês construíram isso aí?


 - Eu não! Não perco meu tempo com essas coisas! Eles! – Sirius corrigiu-a.


- Como fizeram isso? – perguntou Sasha se aproximando e tocando o aparelho enorme com a ponta dos dedos.


 - Com uns restos de uma aparelhagem trouxa que tinha por aí e algum estudo – respondeu Remo no mesmo momento, ainda espiando pelo olheiro.


 - Isso é que é dedicação – murmurou a ruiva.


 - Eu gosto de estrelas – disse Thiago, quase em tom de defesa.


 - Claro que gosta, todos da minha família tem nomes de estrela – Sirius zombou.


 - Oh, é claro, fico aqui noites e noites procurando por Bellatrix e Narcisa como um louco! – falou Thiago no mesmo tom.


 - Fica mesmo – brincou o maroto, passando a mão nos cabelos.


 - Sabia que Sirius é umas três vezes maior que o sol? – perguntou Remo entusiasmado.


 - Eu sei que eu sou lindo, Aluado, mas isso já é veadisse demais...


 - Quieto, Almofadinhas! Sirius é a estrela mais brilhante que há no céu. – ele continuou falando.


 - Estou apaixonado – riu Thiago, suspirando falsamente por Sirius, que deu alguns passos para trás.


 Sasha pensou que não havia nome melhor para aquele garoto levar para sempre. A sua estrela.


 


 


 


*****


 


 


 


 Após a janta, um banquete delicioso servido por um pequeno grupo de três elfas que pareciam incrivelmente felizes e bem-humoradas apesar da aparência acabada, eles se reuniram no jardim na frente da casa. Os Potter ainda não haviam voltado, e isso não pareceu ser surpresa para Thiago, que se jogou em um dos bancos de madeiras, deitando-se nas pernas de Lílian, que suspirou mas não fez menção de recusá-lo, e um lugar no chão de pedra foi ocupado por Remo, que deitou-se apoiado folgadamente nos braços e começou a admirar as estrelas, que salpicavam com energia no céu negro. Sasha e Sirius sentaram-se em um banco um pouco distante dos três, sem ao menos perceber. Ele tocou seus cabelos com delicadeza, acariciando atrás de sua cabeça e passando a ponta do dedo na cicatriz em forma de S, sorrindo com malícia para ela.


 - São da cor da noite – ela ouviu ele murmurar um pouco rouco, próximo ao seu ouvido, referindo-se aos fios negros do cabelo dela.


- Olha quem fala – ela sorriu.


Por um momento, Sirius fitou seus olhos, incapaz de despregar o contato fulminante entre eles, mergulhando naqueles azuis e deixando os seus próprios tornarem-se azuis escuros, eliminando os tons de cinza.


- Você é incrível. – um fio de voz saiu de seus lábios antes que ele firmasse a mão na nuca dela e puxasse sua cabeça para beijá-la nos lábios.


O beijo foi intenso e lento. Sirius sabia apreciar cada centésimo de segundo.


- Olha quem fala... – Sasha repetiu quando ele soltou-a, fazendo ele rir.


- Que falta de criatividade hein, Sasha... – ele falou bem próximo à sua boca, e seu hálito quente entorpeceu sua mente.


Lílian, Thiago e às vezes Remo, estavam conversando de uma maneira até mesmo amigável. Como o assunto do dia parecia ser as estrelas, eles decidiram não desviá-lo e aprofundaram comentando sobre os centauros, as constelações e os universos. A magia daquela noite estava fantástica e tão segura.


 


 


 


*****


 


 


 


 No outro dia as meninas acordaram cedo, mas mesmo assim ao descerem as escadas uma das elfas disse, aos risinhos histéricos, que os senhores Potter, Black e Lupin estavam na piscina. Elas foram até eles, notando o sol que irradiava intensamente, fazendo parecer verão. Talvez fosse por causa das tantas árvores no imenso quintal, mas a atmosfera era muito agradável.


 - Bom dia meninas! – gritou Sirius, jogando um pouco de água nelas, que recuaram imediatamente.


 - Dormiram bem? – quis saber Thiago, passando a mão para arrumar os cabelos molhados para trás. Sem os óculos os olhos dele pareciam incrivelmente mais bonitos, apesar de que ele parecia ralar para focalizá-las.


 - Passei uma noite ótima – Lílian respondeu por cima do que Sasha ia responder, sorrindo.


 - Ótima mesmo, Thiago – Sasha reforçou.


 - O ceguinho ficou preocupado – Remo falou – que faltasse alguma coisa à vocês.


 - Imagine! – as duas disseram quase juntas.


 Lílian colocou os óculos escuros nos olhos e sentou-se em uma das cadeiras de plástico, e Sasha a acompanhou. A pele de Sirius ao sol parecia leite. Thiago era levemente mais bronzeado, e Remo ficava entre os dois. Era um mistério como aqueles meninos que não paravam quietos, podiam ser tão pálidos.


 Em três minutos uma elfa com um avental florido enganchado nas costas apareceu equilibrando uma bandeja com o dobro do tamanho dela, com uma jarra de um suco alaranjado e várias tortinhas e sanduíches.


 - Desse jeito eu vou ficar mal acostumada – murmurou Lílian, quando arrastaram as cadeiras para a mesa de plástico branco.


 - Você já está mal acostumada – Sasha respondeu – mas só com o herdeiro disso tudo.


 - Como assim?


 Sasha riu e encheu o próprio copo de suco, respondendo com a voz baixa:


 - Faça o que faz com Thiago com qualquer outro garoto. Eles vão esquecer você em dois dias.


 A ruiva ficou escarlate, mas mesmo sob os óculos, seus olhos verdes pareceram mais brilhantes. Ela abaixou a cabeça para disfarçar, encabulada, pegando algumas tortinhas e colocando em seu prato.


 - Eu estou sendo mais legal com ele. – ela quase sussurrou para que nenhum dos meninos ouvissem.


 Eles pareciam entretidos em conversas e brincadeiras e Sasha não se preocupou com isso.


 - Mais legal? Parece outra pessoa! – empolgou-se a morena.


 - Pare com isso ou eu volto a ser a mais chata do mundo! – a ruiva declarou, mais vermelha ainda.


 - Orgulhosa – falou Sasha, enquanto mordia um sanduíche com o queixo empinado.


 Depois que terminaram de comer, a elfa aprontou-se em desocupar a mesa e quase levou os óculos de Thiago junto, e Lílian teve que gritar para que ela voltasse com a peça. Thiago riu e disse:


 - Era só ir na cozinha depois.


 A ruiva pegou o óculos e caminhou raivosamente para dentro da casa segurando os óculos, e depois voltou satisfeita.


 - Pronto, depois você vai lá pegar.


 Os outros quatro riram e Thiago fez um muxoxo dengosamente.


 - Hey, seus pais voltaram essa noite? – perguntou Sasha, sinceramente preocupada.


 - Eu os ouvi chegarem quase três – Thiago respondeu, aproximando-se da beirada para conversar com as meninas.


 - Será que aconteceu alguma coisa? – Lílian perguntou.


 As duas pegaram as cadeiras e puseram bem perto da beirada, onde os meninos cruzavam os braços para conversar com elas.


 - Sempre aconteceu alguma coisa – resumiu Remo – a pergunta certa é se aconteceu alguma coisa séria.


 - Vamos conversar com eles depois – falou Sirius, espremendo os olhos por causa da claridade.


 - Eles já voltaram a trabalhar? – perguntou Sasha – quer dizer, eles foram atacados recentemente!


 - Eles não agüentam ficar de repouso – disse Thiago – pelo que conheço, enlouqueceriam só de pensar que tem mais ataques acontecendo e eles parados sem fazer nada.


 - Quase me esqueci que são seus pais. – riu Sasha.


 - Pois é... o Pontas é pior ainda – suspirou Remo – foi deixar a gente dormir só depois das duas, e eu acho que ele fingiu pois se ouviu os pais dele às três, e acordou a gente sete e meia.


 - Ta brincando que estão aí desde as sete e meia! – Lílian falou.


 - Não... na verdade, desde as sete e quarenta. Primeiro Thiaguinho nos entupiu de comida. – sorriu Sirius.


 - Ah, qual é, Almofadinhas! Você é o mais esfomeado e eu que te entupi de comida? – reclamou o outro.


 - Eu tenho que manter o corpinho, não é? – Sirius perguntou, olhando com uma sedução forçada para as meninas, que riram.


 - Manter o corpinho de barril, você quer dizer... – ironizou Thiago em seguida.


 Sirius voou encima do amigo na água, afundando sua cabeça e deixando-o vários minutos lá embaixo. Quando passaram vários minutos em que Remo riu e as duas ficaram apenas olhando as águas agitadas onde Thiago estava afundado, onde uma mancha negra rodopiava na água muito clara e o corpo dele se debatia, e quando o corpo dele pareceu aquietar-se e Lílian fez menção de protestar sobre aquilo, Sirius o soltou. Thiago voltou à superfície com indiferença, rindo de si mesmo, como se não tivesse sufocado pela falta de ar. A ruiva bufou e cruzou os braços, e Remo lançou-lhe um olhar que foi captado por Sasha, que gargalhou em seguida, deixando dois marotos sem entender.


 


 


*****


 


 


 Quando eram aproximadamente dez horas e as meninas estavam ficando cansadas de negar aos meninos a sua ilustre presença dentro da água muito limpa da piscina, algo inesperado – pelo menos por elas – aconteceu. Uma garota de cabelos ruivos pintados e encaracolados em toda a sua extensão, cheios, usando o que pareceu-lhes a blusa mais decotada que poderia ter escolhido e uma saia que não chegava na metade da coxa, saiu da casa em direção à eles com um imenso sorriso estampado no rosto com alguns dentes amarelados, sua pose empinada esclarecia sem maiores perguntas quem era aquela criatura: Amanda Folks, em seu melhor traje de prostituta.


 Lílian e Sasha trocaram um rápido olhar quando a moça aproximou-se delas, e ao vê-las o sorriso apagou-se dos lábios pintados. Thiago adiantou-se na beirada da piscina, e Sasha pensou que ele podia ver a calcinha de Amanda de onde estava.


 - Hey. – ele acenou – essas são Lílian Evans e Sasha Mills – ele apresentou de longe, e elas apenas trocaram alguns sorrisos não muito... verdadeiros – garotas, esta é Amanda Folks.


 - Ótimo! E então, como está, Thi? – perguntou, agachando-se muito perto de Thiago.


 Lílian lançou outro olhar mais demorado para Sasha e fez um gesto por trás da garota como se fosse empurrá-la dentro da piscina. Sirius e Remo abafaram risos, aproximando-se dos outros novamente.


 - Estou bem, Amanda... e você? Ganhou muitos ovos de Páscoa? – ele perguntava simpaticamente, com um sorriso fino.


 - Não tanto quanto gostaria... – ela fez um beicinho aborrecido.


 - Você é bem gulosa – disse Remo, e as duas atrás da garota trocaram olhares pensando no quanto aquilo era obsceno.


 Amanda colocou as pernas dentro da piscina para refrescá-las, sentando-se na beirada e encostando-se nos braços esticados atrás de si, sem responder ao garoto. Elas tiveram a impressão de que eles estavam até gostando da idéia de ter uma calcinha – ou não? – mostrada bem à cara deles pela saia meio aberta.


 - Você nem sabe o quanto... – ela respondeu algum tempo depois com a voz melosa.


 Por uns minutos, eles continuaram em um estranho silêncio que não era habitual para os marotos, e depois Thiago voltou a conversar:


 - Porque não entra na piscina? – convidou simpaticamente.


 Amanda virou-se para ver se Lílian e Sasha tinham gravado a pergunta e depois virou-se para dizer:


 - Não posso ser uma menina entre três meninos...


 - Você não se importava com isso antes. – provocou Thiago.


 A cor e a expressão pareceram fugir no rosto pintado da garota, mas depois ela soltou uma risada histérica:


 - Por favor, Thi, está me envergonhando.


 Lílian abafou um sorriso atrás dela e a garota virou para olhá-la. Sasha percebeu que Sirius mantinha-se apenas do nariz para cima acima da superfície da água, como se estivesse se escondendo. E foi exatamente quando teve este pensamento que a voz irritante da garota voltou a assombrá-las:


 - Si! Nem havia notado que estava aí! – ela chamou Sirius empolgada.


 O garoto ergueu a cabeça e ofereceu-lhe um sorriso sem dentes. Sasha ficou alarmada ao tom íntimo da garota para ele e ela e Lílian trocaram outro daqueles olhares significativos. Estava acontecendo muito de uns tempos para cá.


 - Para você ver como eu sou interessante. – ele desdenhou sem vontade.


 - Pois pra mim você é bem interessante... – ela disse melosamente.


 Sasha empinou o queixo, mostrando-se interessada na conversa. Remo sorriu.


 - Não fale isso para me agradar. – resmungou o garoto, sem graça com as cantadas baratas na frente de Sasha.


 - Não estou falando! É bem verdade! – ela replicou, a voz mais estridente do que nunca – tem umas amigas minhas perguntando por você... sabe a Sofia?


 Sirius olhou para Sasha. A garota se levantou, e, como usava shorts, descalçou os chinelos e sentou-se ao lado de Amanda, um pouco longe dela na beirada da piscina, rente à Sirius, que aproximou-se de suas pernas para abraçá-las.


 - Não sei. – apertou os lábios com dureza.


 Amanda abriu a boca para falar alguma coisa várias vezes, mas depois fechou-a, observando Sirius abraçado às pernas muito claras de Sasha por baixo da água e o penteado que ela começou a fazer em seus cabelos negros molhados, e o seu rosto pintado ardeu.


 - Mas suponho que se lembra, não é, Sirius? – ela insistiu, quase irritada.


 - De outros carnavais. – ele falou.


- Porque não pergunta se Remo se lembra de alguém? – provocou Thiago de novo.


A garota sorriu satisfeita, e virou-se ligeiramente para Aluado, que deu um passo para trás dentro da água. Sasha inclinou-se para dar um rápido beijo em Sirius enquanto Amanda estava distraída:


- Bem, com Rê temos uma lista!


- Rê? – repetiu Lílian, sem acreditar – Rê é apelido de mulher!


Sirius e Thiago gargalharam, e Remo apenas sorriu, espetando os cabelos com as mãos.


- Arrume um apelido melhor então, querida. – alfinetou a segunda ruiva.


- Chame-o de Remo que aposto que ele vai no mínimo gostar! – a outra respondeu prontamente.


- Mas continue com a lista, Amanda! – pediu Thiago.


Ele gostava de pôr fogo nas coisas.


- Bem! Marta? Suellen? – ela ia perguntando como se esperasse que Remo saltitasse de alegria enquanto falava os nomes.


- Não aconteceu nada com Suellen – corrigiu Remo no mesmo momento.


- Como?! – ela perguntou indignada.


- Você disse Suellen... não aconteceu nada entre eu e ela. Ela queria e eu não. Eu a dispensei. – ele deu de ombros.


- Mas ela me disse que vocês...


- Te disse errado! – ele interrompeu a fala dela ao meio, antes que ela contasse qualquer bobagem para os amigos torrarem as suas paciências pelo resto da vida. Suellen não era exatamente o tipo de garota com a qual um menino se orgulharia em dizer que saiu.


- Tem certeza? – ela perguntou só para conferir.


- Absolutamente absoluta.


A expressão da menina foi confusa, como se ela não tivesse entendido bulhufas do que ele dissera, mas deu de ombros sem se interessar. Olhou novamente para Sirius e Sasha e deixou escapar:


- Então alguém lhe colocou a coleira? – perguntou com um leve tom malicioso.


Sasha voltou seus olhos azuis para encontrar os dela.


- Ninguém encoleirou ninguém. – ela falou.


- Oh, querida, sinto dizer isso na sua frente mas... não esperava que alguém segurasse este garoto tão cedo – ela falou com as bochechas ruborizadas – e ainda não espero. – completou.


- O que está insinuando? – Sasha perguntou no mesmo momento.


- Sasha... – começou Lílian de trás delas, mas a amiga a interrompeu.


- Não, Lily! Você sabe como eu dou importância para o que os outros pensam, não é? – ela voltou seu olhar para a ruiva, que sorriu para ela e deu de ombros pela ironia da amiga.


- Já que dá mesmo importância, vou lhe dizer – ela começou a falar, como se aquilo realmente fosse mudar a opinião de Sasha e o destino dela daqui para frente – nunca pensei que alguém tão galinha como Sirius pudesse ficar na aba de alguém por muito tempo. Sabe, ele sempre foi de ficar com várias garotas e...


- Quer parar com isso? – pediu Sirius tentando ser educado, e fracassando ao extremo pela rispidez.


- Ela que pediu!


- Eu que pedi! – Sasha repetiu olhando nos olhos dele – prossiga.


- Esse jeito dele definitivamente não é de namorar, é de apenas curtir. Não sei se me entende... você não parece ser deste país. – ela observou.


Talvez tivesse notado pelo sotaque, mas que fosse, Sasha apenas murmurou:


- Sou escocesa. Continue, por favor.


- Sabe, há alguns meninos na Inglaterra que gostam de ficar com várias garotas e às vezes muitas delas ao mesmo tempo... e temos aqui três garotos que eu sempre achei que fosse assim e que sempre serão assim.


- Só porque você está falando... – resmungou Sirius com irritação.


- Quer dizer que os garotos na Inglaterra tem uma queda por várias garotas ao mesmo tempo? – Sasha repetiu, fingindo entender uma longa explicação, como se fosse uma criança desentendida.


- Mais ou men...


- Quer dizer então que as meninas se deixam ser usadas por um garoto enquanto eles ficam com várias garotas? Ou as meninas também gostam de vários garotos ao mesmo tempo? – ela fez uma expressão tão concentrada no assunto que Remo não agüentou e virou-se, nadando para o outro extremo da piscina, de onde puderam ouvir seus risos.


- N-não! – disse a outra, confusa com a rapidez que Sasha dissera – quer dizer, algumas...


- Então está dizendo que enquanto estou com Sirius ele também está me traindo com outras garotas? – ela fingiu chegar à uma conclusão, indignada.


Amanda ficou mais escarlate do que o blush havia deixado, e pareceu profundamente irritada, como se tivesse notado a ironia na voz de Sasha. Levantou-se e perguntou, empinando o tronco e a bunda, mostrando toda a calcinha vermelha para os que estavam embaixo:


- Vejo vocês à noite, então?


Nenhum deles respondeu e ela saiu rebolando no caminhozinho de pedra, até desaparecer pela porta de vidro que dava acesso à casa. Thiago e Lílian riram.


- Porque deixou ela dizer todas aquelas coisas? – perguntou Sirius para Sasha, amuado.


- Sirius, eu estava só brincando... – respondeu, passando a mão no trecho de cabelos negros atrás da orelha dele, e ele fechou os olhos, como um cachorro que recebe carinho na orelha e geme de prazer. Bem típico.


- Eu não me acho um galinha sedutor de menininhas inglesas indefesas – Remo disse aproximando-se com uma expressão confusa e engraçada – eu sou um cara sério. – falou, arrancando risos dos outros.


- O pior foi ela me perguntando se que país eu era, como se fosse outro mundo – disse Sasha, jogando os cabelos negros para trás, e eles cascatearam às suas costas.


- Ela é a garota mais atirada e pornográfica que eu já vi – resumiu Lílian, sentando-se na beira da piscina ao lado de Sasha, cruzando as pernas para não molhá-las – o modo como mostrava a calcinha para vocês... será que achou que éramos retardadas?


- Então esperem até à noite, na festa... – Thiago falou – vocês não viram nem metade.


- Nem metadezinha? – repetiu Sasha, mordendo os lábios.


Thiago riu e jogou água nela, e depois disse:


- Nem metadezinha, dona Sasha! Aquela garota é venenosa! Pode ser burra, mas é um perigo...


- Em que sentido? – Lílian perguntou com os olhos estreitos.


- No sentido de querer devastar todos os homens da face da terra com o seu incrível poder de mulher fatal – Remo disse, fazendo a ruiva rir.


- Fatal? Só aquele cabelo já foi bem fatal pros meus olhos, na luz do sol parecia uma laranja brilhando. – Sasha envenenou a língua.


- O que você tem contra os cabelos ruivos? – Lílian perguntou indignada.


- Ah, Lily, você não está perguntando isto... olha a diferença! – Sasha falou.


- Ela tem razão – Thiago apoiou, olhando para Lílian – mesmo sem um grau e meio dos óculos eu via a diferença na raiz e na cor.


- Como os homens reparam! – Sasha murmurou mais para si mesma do que para eles.


- Não, de verdade – ele continuou, sério – dá pra perceber quando o ruivo é verdadeiro ou não, sabem... é mais claro, menos vermelhão berrante. Cabelos pintados de vermelho que não dão certo dá vontade de esganar.


- E ele criou esta filosofia sobre cabelos ruivos absolutamente por causa de uma única ruiva – riu Sirius.


- Duvido! – Lílian falou – pela vasta experiência dele com ruivas, incluindo esta orca que nos visitou há pouco... – ironizou.


- A única ruiva é você, Lily – Remo disse, e a garota se calou e não voltou a tocar no assunto sobre a cor dos cabelos dela, de Amanda, ou de quem fosse.


- E ela vem mesmo na festa? – perguntou Sasha – mesmo sabendo que vocês estão acompanhados e que ela não tem chance?


- Remo não está acompanhado! – Thiago abriu um imenso sorriso.


- Está sim! – esbravejou Lílian – nós duas estamos escoltando Remo aonde quer que ele vá, e não me interessa de Marta, Suellen, Verônica ou o diabo a quatro aparecer aqui!


- Que ciúmes hein ruivinha... – Thiago desdenhou ironicamente.


- E você está acompanhado por quem? – ela quis saber, dirigindo-se à ele.


- Oras... não me venha com essa de novo...


- Não! Diga!


- Acompanhado por você!


A ruiva pareceu corar levemente.


- Achei que diria por outra.


Sirius, Sasha e Remo trocaram um olhar tão longo e tão cheio de “hummss” que os dois pareceram ignorar, apenas absortos com o que Lílian tinha dito.


- Senhores! O senhor e a senhora Potter esperam vocês para almoçar!


Eles secaram-se e subiram para a casa. O almoço foi agradável e barulhento, apesar da fineza das coisas e das pessoas. O senhor Potter apresentou-se como Gustav, ou apenas Gu para as meninas, e Thiago e Thiala soltaram risos quando ele disse aquilo; ele tinha um charme inconfundível para um homem maduro, os cabelos negros levemente tingidos de prata e um sorriso tão maroto quanto o do filho e dos amigos. Ele parecia saber tanto sobre Lílian quanto a mãe de Thiago, e os dois trocavam olhares intensos toda vez que Lily dizia algo sobre como Thiago era bagunceiro e como ela tinha que pegar em seu pé como monitora. Mais tarde, eles ficariam sabendo como a história dos pais de Thiago eram mais ou menos... parecida.


Os meninos ficaram de levar Sasha e Lílian para alguma loja em Londres para que elas pudessem arrumar roupas – Lílian ficou repetindo o quanto estava gastando com roupas de festa que não usaria depois e sabia que sua mãe ia cortar seu pescoço fora -, mas Sasha insistiu e até mesmo disse que lhe emprestava dinheiro (que não tinha) apenas para a ruiva parar de reclamar. Eles saíram com o jeep, e voltaram apenas ao entardecer, pois se demoraram em uma sorveteria e em um passeio turístico, a maior roda gigante do mundo, e foi fantástico.


 Quando entraram pelos grandes portões da casa dos Potter, Lílian saltou do carro antes que Thiago entrasse na garagem:


 - Você deve mesmo estar louco não é, Potter? Dirigir a essa velocidade! – ralhou, e Thiago parou o carro a meio caminho do estacionamento.


 Todos desceram para os jardins:


 - Lily, eu sabia o que eu estava fazendo! – ele falou, apressando-se em apitar o alarme e ir atrás dela com as chaves.


 - Claro que sabia! Quase atropelou alguém sete vezes, e duas delas eram velhinhas que nem mesmo viram quando você passou a centímetros delas!


 - Mas elas ficaram vivas, não foi? – ele insistiu, seguindo-a até perto da fonte, onde ela parou para se acalmar.


 - Por pouco!


 - Mas ficaram!


 - Ok... ficaram. Mas por pouco, Potter!


 - Thiago, por favor.


 - Quê?


 - Me chame de Thiago.


 - Ah, que seja, estou falando das pobres velhinhas!


 Remo riu atrás deles e fechou a boca quando os dois se viraram para olhá-los, e o grupo seguiu para a casa deixando-os lá fora, perto da fonte.


 - Seja mais positiva. Estamos vivos, não precisa deste escândalo. – Thiago falou calmamente.


 Lílian olhou-o por alguns segundos.


 - Ok, desculpe. Eu sei que estou na sua casa e ainda brigo com você pelo modo como dirige e...


 - Não tem nada haver! Pode brigar comigo quando quiser, Lílian!


 A ruiva olhou-o confusa. Depois desatou a rir.


 - O que foi? – quis saber o garoto.


 - Primeiro você fala que não me entende, e reclama das nossas brigas... e agora está pedindo para mim brigar com você? Vou levar isso como autorização, Potter!


 - Não, eu não quis dizer isso... ah, diabos! – ele exclamou, confuso.


 - Tudo bem. – disse Lílian, sorrindo para ele.


 Thiago ajeitou uma mecha ruiva atrás da orelha dela, enquanto os olhos verdes da garota prendiam-se no reflexo dos dois na superfície da água calma da fonte.


 Dentro das paredes da casa, um grupo de elfos parecia ter sido confinado à organizar uma imensa festa para milhares de pessoas, e estavam sendo rapidamente ajudados por Sirius, Remo e Sasha com as decorações e um pouco da limpeza. Logo, Gustav e Thiala Potter chegaram do Ministério através da lareira e quase não acreditou quando os viu trabalhando e não se arrumando, e ao perguntar por Thiago, Gustav deu uma risadinha:


 - Meu amor, engraçado que não sentiu falta de outra presença no nosso humilde salão...


 A senhora Potter vasculhou com os olhos. Depois falou:


 - Nã... ah, sim, é claro, a ruiva! – concluiu, rindo-se.


 - Deixe que eles se viram, tia – piscou Sirius.


 - Tudo bem, mas vão apressá-los. Em quarenta minutos os convidados começarão a chegar e não quero que se atrasem para a recepção! – ela falou já sumindo na escadaria, seguida do marido.


Sirius deu um grito para o casal que estava nos jardins e os três subiram correndo a escada, pois tinham pouco tempo para se arrumar. Logo Lílian e Thiago voltaram para seus quartos a fim de se arrumarem também.


Ao fim de cinqüenta minutos, uma hora, eles estavam todos prontos. Lílian usava um vestido tomara que caia com um belo decote, branco, e amarrara os cabelos ruivos (verdadeiros!) em um rabo de cavalo bem feito, completando com enormes brincos brilhantes e maquiagem prata. Sasha escolhera um azul um pouco mais escuro que seus olhos, frente única, que ia até a metade da coxa e fazia uma fenda quase imperceptível ao lado, os cabelos negros mais lisos que o normal e soltos até o final da cintura, e usou jóias prateadas, como Lílian. As duas usavam salto um pouco baixo. Os meninos as esperavam no corredor, os três com calça, camisa e sapato social que os deixava com o porte mais elegantes do que já eram. Pareciam um pouco entediados, deviam estar esperando elas há algum tempo.


Quando eles as viram, Sirius apressou-se em dar o braço para Sasha, murmurando em seu ouvido que ela estava mais linda do mundo naquela noite. E sempre. Thiago, Lílian e Remo seguiram o casal até o fim do corredor, e depois no outro, até descerem as escadas. Quando chegaram no fim, puderam notar que já havia uma agitação de pessoas entrando pelo hall de entrada, e o filho do anfitrião pareceu ligeiramente nervoso, desarrumando a própria gravata em uma atitude rebelde. Lílian bufou e apressou-se em ajeitá-la na gola da camisa do garoto, e eles pensaram ter ouvido ele dizer “vou fazer isto mais vezes” para ela.


Eles adiantaram-se para o salão de festas, onde os pais de Thiago já estavam em trajes sociais e recebiam as pessoas na entrada. A senhora Potter podia ser confundida com qualquer mocinha de vinte anos que estivesse ali. Eles sorriram e acenaram para eles, e Thiago se despediu, dizendo que eles se divertissem que agora era hora das formalidades de bom garoto.


- Como se fosse um bom garoto... – Remo resmungou.


- Como se a gente não soubesse se divertir sem ele! – completou Sirius.


Lílian e Sasha trocaram um olhar significativo e se esforçaram para não fazer piadinhas dos comentários ciumentos dos marotos. Eles caminharam até perto do palco, passando por vários parentes que supunha ser de Gustav, pois todos tinham cabelos negros, desde os velhos – que pareciam ser irmãos e até um casal que podia ser seus pais – até os mais novos, os filhos deles. Contrastando na beleza de cabelos negros brilhantes, algumas silhuetas desfilavam divertidas entre eles, com seus vestidos de pompa e trajes de luxo, segurando taças e carregando um amontoado de cabelos loiros, que com certeza eram os parentes da senhora Potter. Haviam algumas criaturas da idade deles, e logo Sirius e Remo estavam cumprimentando a maioria das pessoas pelas quais passavam, sobretudo os garotos, apresentando-as a Jorge, Kyle, Francis, e uma série de Potter’s e a um loiro que se apresentou somente como Giovanni. Ele tinha um olhar malicioso e lançou-o à Lílian, parecendo surpreso com a sua presença e sua beleza – também, o ruivo brilhante dos cabelos dela eram inconfundíveis naquele mar negro e louro.


Quando se desviaram das outras apresentações a parentes de Thiago, eles se reuniram em um ponto próximo ao palco. Francis Potter logo se juntou a eles, levando a irmã que devia ser pelo menos quatro anos mais nova do que as meninas, chamando-a de Charlotte. A garota era conversadeira e parecia conhecer os dois marotos há tempos, e ela e Lílian ficaram um bom tempo conversando.


- Ela está se dando bem com os parentes dele – murmurou Sasha só para Sirius ouvir.


Sirius sorriu e acenou com a cabeça para uma mulher de uns vinte e tantos anos, de cabelos loiros curtos, que acenou freneticamente com a mão para ele, e pareceu que ela temeu aproximar-se por causa do braço do garoto por trás da cintura de Sasha. Um sorriso fino fez-se no canto dos lábios carnudos da morena.


- E você parece que já se deu bem com as parentas dele também, não é? – ela sussurrou perto do ouvido dele.


 Os cabelos da nuca de Sirius se arrepiaram e ele respondeu:


 - Isso não interessa, realmente...


 - Não mesmo? Elas são todas riconas e bonitas... – ela desdenhou.


 - Eu não sou interesseiro, Vic. – ele respondeu, ofendido.


 Sasha lançou-lhe um sorriso de todos os dentes que o fez pelo menos tirar dos olhos aquela sombra de expressão de “cachorro-sem-dono” que estava prestes a aparecer.


 - Era isso que eu queria ouvir. – ela falou, vendo que Thiago se aproximada do grupo.


 Ele bateu amistosamente nas costas de Francis, cumprimentando-o calorosamente com palmadinhas, e depois abraçou Charlotte, que disse que se ele estava namorando aquela ruiva, era melhor que cuidasse bem dela.


 - Não estamos namorando, de jeito nenhum – Lílian respondeu com um sorriso.


 Thiago abaixou-se para falar algo no ouvido da prima, que gargalhou em seguida. Lílian fitou Thiago:


 - Odeio quando você faz isso – murmurou para ele, quando este deu-lhe o braço e ficou ao seu lado com um sorriso quase glacial para os parentes que acenavam.


 - Isso o que? – ele perguntou inocentemente.


 - Me deixa sem graça. Eu não sei o que falar – a ruiva corou um pouco.


 - Garotos, preparem-se... – Remo anunciou – Amanda e Alicia Folks vestidas de garças e acompanhadas por uma corja.


 Eles se viraram para olhar. Mãe e filha entravam imperiosamente pelo salão de festas, com o queixo empinado como se fossem as divas da festa, com saltos agulha enormes e vestidos tão chamativos e curtos quanto as roupas que costumavam usar. Os primos de Thiago que estavam reunidos em um grupinho recuaram para elas passarem, e quando elas pararam, notaram que haviam mais duas garotas com elas. Quando Amanda os viu, apontou para eles e Sasha agarrou-se ainda mais ao braço de Sirius, que deu uma risadinha. Thiago havia soltado Lílian para cumprimentar uns tios que passavam por eles.


 Em três segundos, Amanda e suas amigas estavam no pé deles, e a mãe tinha ficado tagarelando com umas tias de Thiago que pareciam completamente confusas com o papo da mulher.


 - Thi, como você está lindo! – Amanda puxou-o e lascou-lhe um beijo na bochecha, deixando a marca do batom. Os tios de Thiago o olharam estranhamente e ele se desculpou com uma expressão significativa à eles.


 - Está mesmo... cresceu da última vez que nos vimos! – falou uma das garotas, uma de cabelos castanhos e lisos na altura dos ombros, de pele morena; ela pareceu dizer com um tom tão malicioso que entregou que eles tiveram alguma coisa da última vez em que se viram.


 - Eu sempre estou crescendo! – ele respondeu com um sorriso educado, afastando-se do abraço de Amanda.


 - Isso é maravilhoso... – destilou a outra garota de cabelos castanhos também, mas mais cumpridos – quanto mais você cresce, melhor parece.


 - Eu vou buscar bebidas – Sirius murmurou para Sasha, que respondeu um “não se perca no caminho”, e quando ia passar pelas garotas elas também o agarraram e iniciaram uma série de cumprimentos e elogios maliciosos e cheios de segundas intenções.


Sirius se livrou delas e sumiu entre os parentes sorridentes e conversadores de Thiago. As vozes deles enchiam o salão e uma música calma dançava em seus ouvidos. Haviam algumas mesas redondas arrumadas cuidadosamente e Lílian chamou-os para uma que ainda estava vazia. Remo, Sasha e a ruiva foram para uma, por sorte perto do palco, e quatro minutos depois o maroto se levantou para salvar Thiago da desgraça em que havia se metido. Ele voltou emburrado para a mesa, mas não sentou-se e foi direto para a mesa ao lado, sentar-se com um grupo de primas tanto da família do pai quanto da mãe.


Vários parentes simpáticos de Thiago foram até a mesa para conversar com eles, e Remo parecia reconhecer todos eles antes de chegarem à mesa oferecendo um sorriso e a mão para apertar. Passaram boa parte da festa daquela maneira, entre cumprimentos e piadinhas e conversas, até que Sirius e Thiago voltaram e se sentaram na mesa com eles.


- Mamãe disse que já vão chamar a banda – Thiago falou, afrouxando a gravata no pescoço.


- Deixe isso arrumado! – ralhou Lílian.


- Não! Está me sufocando. – ele respondeu.


- Fica melhor arrumado, Potter – ela falou, abaixando a voz quando notou que algumas primas de Thiago a olhavam da outra mesa.


- Então vem arrumar, já que você está incomodada. – ele provocou, pegando uma taça entre os dedos, sem se importar com os olhares das primas.


A ruiva sorriu brevemente e não fez menção de arrumar a gravata, então ele ficou como estava mesmo. Ele fez um biquinho para ela e depois voltou a olhar a multidão que seus parentes faziam enquanto procuravam lugar para se sentar. Ainda haviam duas cadeiras vazias na mesa deles e logo Amanda chegou com sua escolta de suas garotas.


- Oh, será que ninguém pode sair? – Amanda perguntou com uma inocência forçada, olhando para Sasha.


- Será que não pode procurar outra mesa? Não cabe vocês aqui! – Lílian falou, mas a garota sentou-se ao lado de Remo, e a outra sentou-se na cadeira que sobrava ao lado da amiga, e uma delas ficou de pé.


- E eu?! – ela perguntou indignada.


- Se vira né! – falou Amanda, virando-se de costas para ela.


Mas antes que elas pudessem começar a brigar, a banda começou a apresentar-se como designada a tocar no baile de Páscoa dos Potter, e a primeira música foi uma lenta e romântica, a qual apenas um casal dançou, e eram os anfitriões. Sirius olhou para Thiago, e este balançou a cabeça para cima e para baixo lentamente, como que entendesse. O último virou-se para Lílian ao seu lado e levantou-se, agachando-se ao seu lado:


- Dance comigo. – pediu com uma voz macia.


 Os olhos de Amanda faiscaram. Vários parentes de Thiago viraram a cabeça para olhá-los, e Sasha constatou que não havia nada que o garoto pudesse fazer que fosse deixar a ruiva mais escarlate do que daquela vez. Ela olhou para os lados, envergonhada, e murmurou:


 - Pare com isso. Agora.


 Apenas Thiago ouviu isso e disse, mais alto dessa vez:


 - Vamos, ruivinha... dança comigo.


 Seu tom insistente fez todos os parentes que os olhavam sorrir daquela maneira que só eles conseguiam fazer quase que igualmente.


- Você está sujando as suas calças.


- Não importa... não vou levantar daqui se você não disser que dança comigo.


- Tudo bem! – Lílian levantou-se, mais corada do que nunca.


Sasha sorriu sem os dentes quando ela lhe lançou um olhar apavorado, e depois aceitou o braço que Thiago lhe estendeu, seguindo para o meio da pista onde os pais de Thiago dançavam. Eles dançaram tão elegantemente como os pais do garoto, que deram um enorme sorriso quando eles se dirigiram para a pista. A família parecia olhar orgulhosamente para os dois, como se eles estivessem destinados. E eles pareciam não ter idéia do quanto combinavam, e de como formavam um casal lindo. Quando ele a rodopiou e, segurando em sua cintura, fez seu corpo cair lentamente para trás, pendendo em um passo perfeito - como se realmente tivessem combinado - e a música acabou, Sasha teve quase certeza de que Thiago a beijaria quando os parentes começaram todos a entrar em parzinhos na pista, mas antes disso a ruiva se desviou e cumprimentou-o, correndo para a mesa de novo.


Ela sentou-se ao lado de Sasha ofegando, deixando Thiago sozinho na pista, e Amanda voou para os braços dele que ainda estavam abertos em sinal de indignação para a ruiva. A ruiva falsa trombou em alguns parentes que se acumulavam na pista e segurou as mãos de Thiago, dando um enorme sorriso à ele, que dançou com ela com educação.


- Agora você está ferrada – falou Sirius, dando um gole na taça em seguida.


- Estou ferrada? Porque?


- Quando Amanda soltá-lo, será quatro da manhã e todos terão ido embora. – Remo concordou.


- A não ser... – Sasha começou.


- Que você salve ele! – concluiu Almofadinhas.


- Vocês são neuróticos! – esbravejou a amiga de Amanda que ainda estava sentada na mesa, esquecida, e levantou-se para ir atrás de um dos primos de Thiago.


- Remo, ela estava quase te arrancando aos pedaços com os olhos – observou Sasha.


- Ah, sim, essa é Suellen. – Sirius riu, aproximando a cadeira da cadeira de Sasha para abraçá-la de lado.


- Diabos, ela me irrita – Remo enervou-se.


- A gente bem que podia ter insistido que Gloria viesse – falou Sasha, apertando os lábios.


- E você acha que eu não insisti? – Remo perguntou indignado – pedi mil vezes à ela! E cada vez ela tinha uma desculpa diferente na ponta da língua!


- Então, ela deve ter seus motivos, certo? – Sirius disse.


- Na verdade eu não entendi o motivo até agora, e vou querer que ela me explique quando voltarmos. – falou Aluado, aborrecido.


- Quem sabe ela apenas é uma garota... muito tímida? – deduziu Sasha, fazendo Remo rir.


- Eu te garanto que não é nem um pouco.


Sirius e ele trocaram um olhar malicioso, e depois riram.


- O que foi? – Sasha perguntou, estalando os dedos entre os dois.


- Nada! – declarou Sirius, espremendo um riso – vamos dançar?


- Ah, Sirius... não que...


- Não quer? – uma voz estridente a interrompeu, uma garota loira que estava na mesa ao lado, e Sasha reconheceu como a garota que cumprimentara Sirius no início da festa, a de cabelos curtos – desculpe, não pude deixar de ouvir... se não tem acompanhante, posso dançar com você, Sirius! – ela falou, e sua voz lembrava alguma espécie de pássaro irritante.


- Eu não disse que não queria. – Sasha sorriu amigavelmente para ela.


- Oh, desculpe de novo. – ela disse, virando-se para frente.


Sasha fitou Sirius com os olhos estreitos, e ainda pôde ouvir as risadinhas de Remo.


- Vá convidá-la, ela está quase pulando no meu colo para estar em meu lugar. – ela disse irritada.


- Pára com isso, Sasha... eu quero dançar com você, está bem?


- E se eu disser que eu não estou a fim de dançar esta noite? – provocou.


- Então eu também não vou dançar com quem quer que seja! – ele finalizou, embora sua expressão parecesse um pouco ofendida pelo cinismo da garota.


 Sasha percebeu o que fazia e aproximou-se para beijar sua bochecha, demorando-se com a mão atrás dos cabelos dele, e então murmurou em seu ouvido:


 - Me desculpe, só que não agüento ver todas essas garotas te puxando para todos os lados a todo o momento.


 - Eu não vou sair do seu lado, Sasha, sabe disso... – ele disse sem olhá-la, e novamente virou a taça nos lábios.


 Sasha beijou o canto de sua boca, sentindo o cheiro entorpecente do álcool misturado com o hálito quente dele. Sirius a olhou pelo canto do olho.


 - Não se faça de difícil, Sirius Black. – ordenou, soltando sua nuca e voltando a sentar-se na cadeira como estava antes.


 Remo e Lílian havia sumido da mesa, e não demoraram para achar os dois dançando em um ponto perto dali.


 Com um sorriso torto nos lábios – sim, aquele sorriso que Sasha adorava e que a fazia estremecer quando ele se aproximava perigosamente dela daquela maneira – ele inclinou-se, passando o braço atrás da cadeira dela e acariciando o seu ombro, aproximando seus rostos. Sasha não o olhou e fingiu que o cheiro dele não estava forte o bastante para que ela já estivesse pegando fogo.


 - Eu sou difícil, Vic, mas às vezes você esquece... – ele a bajulou, passando os dedos no rosto da garota.


 Sasha mordeu os lábios inferiores, mas não olhou-o. Estreitou os olhos para o nada e fingiu que estava muito mais interessante. Então Sirius, sem se importar que a garota de cabelos curtos e loiros não parava de olhá-los e que haviam vários parentes de Thiago passando por ali, surpreendeu-a beijando lentamente um ponto atrás de sua orelha. De início, Sasha não conseguiu recuar, mas quando o fez, virou-se para olhá-lo, sem conter um sorriso:


 - Você está louco? Se comporte na frente das pessoas, Sirius!


 - Eu nunca fui um garoto comportado... – ele disse, e fez menção de voltar a beijar seu pescoço, mas ela recuou imediatamente.


 - Pára!


 - Então vamos dançar! Não podemos ficar aqui parados a noite toda! Até Remo está dançando! – ele protestou.


 Sasha suspirou e levantou-se, e ao perceber que Sirius ainda estava sentado perguntou:


 - O que foi? Desistiu?


 - Não! – ele levantou-se de um pulo, com um enorme sorriso de dentes perfeitos – se eu soubesse que era só falar isso tinha falado antes!


 Sasha fez uma careta e aceitou sua mão para segui-lo até a pista, onde dançaram umas duas músicas até que a janta foi servida e eles voltaram para a mesa. Após o jantar, a banda começou novamente com músicas lentas, e após meia hora aproximadamente – o que devia ter sido planejado para dar tempo de se fazer a digestão – as músicas agitadas voltaram e a animação também, e logo os parentes de Thiago já riam, conversavam e dançavam na pista, alguns embriagados pelo álcool que era servido pelos garçons e no barzinho da sala. Passavam nas três da manhã quando a última convidada foi embora, em não se surpreenderam ao constatar que era Amanda Folks. Ela deu um beijo na bochecha de Thiago, mas foi quase óbvio que tentara beijar sua boca, pois ele desviou o rosto rapidamente para que isso não acontecesse, e atravessou a rua cruzando as pernas, um pouco... alterada.


 Thiago, Remo, Sirius e as meninas ficaram um tempo conversando com o senhor e a senhora Potter na sala, e quando o casal subiu para dormir, eles foram para os jardins da frente, e sentaram-se nos bancos, juntos.


- Seus pais são cheios de energia, hein – comentou Lílian.


 - Nem me diga. – ele riu – eles dançaram mais do que eu, e olha que vão trabalhar amanhã.


 - Em casa, ninguém dançava nas festas – disse Sirius, forçando uma encenação dramática – era tudo preto, escuro e frio...


 - Ah, cala a boca! – Remo mandou, rindo – também, as festas eram apenas para oficializar...


 - Parcerias. – completou Thiago, vendo que o amigo hesitava.


 - É. – Remo concluiu em voz baixa.


 - Odeio passar o meu tempo lá. – Sirius resmungou, e sua voz lembrava um rosnado.


 - Já disse para vir morar aqui – Thiago falou, dando de ombros – umas mil vezes.


 Sirius pareceu pensativo.


 - Hey, Pontas – era a primeira vez que Sasha o chamava por aquele apelido, e ele sorriu para ela – bela dança principal aquela.


 Lílian corou levemente e desviou os olhos dos dois.


 - Vocês dançam realmente bem juntos. – Remo elogiou com os olhos sorrindo.


Thiago abriu um enorme sorriso.


 


 


*****


 


 


 


 Acordaram depois das onze no dia seguinte, e encontraram Thiago na academia, lutando contra um aparelho trouxa em que se deveria correr encima, e o garoto contou-lhes que seu nome era esteira. Almoçaram depois das duas, por falta de apetite, e à tarde não encontraram nada a fazer além de aproveitar o sol e mergulhar na piscina. Os meninos ainda encontraram tempo de jogar quadribol à noite antes que os pais de Thiago os aconselhassem a pegar o carro para ir a algum restaurante, e eles o fizeram.


 - Você não sabe nem aonde está indo? – repetiu Lílian pela milésima vez, do banco ao lado do motorista.


 - Se continuar perguntando isso, juro que eu vou parar aqui e te deixar com estes mendigos! – Thiago respondeu irritado.


 A garota cruzou os braços e afundou no banco do carro. O Passat prata deslizava nas ruas com leveza e rapidez de um profissional, embora sem sentido algum.


 - Pontas, tem que admitir que não está encontrando o caminho. – disse Remo do banco de trás.


- Pare para perguntar! – pediu Sasha, vendo as pessoas na calçada.


- Eu não sou mulher para parar pra perguntar! – ele ralhou com eles – conheço Londres como a palma da minha mão.


- Só está um pouco perdido – completou Sirius, rindo.


- Porque não paramos em qualquer restaurante mesmo? – perguntou Remo, observando os vários estabelecimentos de luzes acesas e cheios de pessoas que se acumulavam na rua pela qual estavam passando.


- Porque não! É o nosso ultimo dia de feriado, gente, tenham um pouco de paciência! – ele pediu, cansado.


Então eles fizeram silêncio para pelo menos tentar ajudar Thiago a se concentrar. Ele girou o volante várias vezes e passou por várias ruas e bares e restaurantes até que passaram por uma enorme praça com uma barraquinha de cachorro-quente, quando Lílian disse:


- Me deixe aqui.


 - O quê?!


 - Eu quero comer aqui!


 - Não, você vai comer no restau...


 - Não quero comer em um restaurante luxuoso que você nem ao menos sabe onde é, Potter!


 - EU – SEI – ONDE – É!


 - Tudo bem, mas então me deixe aqui que eu me contento com um cachorro-quente.


 Thiago olhou para ela sem acreditar, e estacionou o carro alguns metros à frente do carrinho de lanche. Observou com uma expressão dura enquanto Lílian abria a porta do carro e se dirigia até o carrinho, sem dizer nada à eles. Então, com um estalido da porta traseira, Remo saltou para as ruas de Londres e foi até o carrinho onde Lílian já estava pedindo, com um sorriso, e pediu para ele também, com um gesto com a mão. Sasha deu de ombros e abriu a porta também, deixando Sirius e Thiago no carro.


 - Pode ir também, Almofadinhas, não precisa ficar fingindo que quer ir ao restaurante! – ele disse nervosamente, passando a mão pelos cabelos.


 - Acho melhor todos nós descermos aqui, Pontas – o amigo respondeu.


 Por um momento, Thiago ficou em silêncio, e depois girou a chave e desligou o carro.


 - Faça como quiser. – disse finalmente.


 Sirius abriu a porta do carro, sabendo que Thiago ficaria muito ofendido para trás, e caminhou até o banco da frente pelo qual Lílian saíra.


 - Vamos, vai ser divertido...


 - Daqui a pouco eu desço. – Thiago respondeu, tentando sorrir.


 - Não vai ficar aí remoendo seu ódio, Thiago, somos quatro contra um.


 - Eu disse que depois eu desço, Sirius. – ele repetiu entre os dentes.


 Sirius olhou para ele uma última vez antes de bater a porta do carro e dirigir-se ao carrinho de cachorro-quente também, fazendo um gesto para que o homem de avental aumentasse o número de pedidos. Thiago desceu do carro quando todos os amigos já estavam pelo menos na metade do lanche, sentados em umas mesinhas espalhadas envolta do carrinho do homem que, assobiando uma música, contente, pensava que estava tendo uma boa noite. Ele enfiou as mãos nos bolsos e aproximou-se da mesa dos amigos, puxando uma cadeira para sentar-se entre Sirius e Remo. Não disse nada, e nem pediu nada para comer, apenas inclinou a cadeira nos pés traseiros e desviou o olhar de todos eles, fingindo que prestava atenção nos carros que passavam na rua movimentada, apesar da ausência de freguesia onde estavam, os outros restaurantes do outro lado da rua pareciam lotados.


 Eles estavam discutindo sobre o professor Takashighi e sobre vampiros – Sirius e Remo pareciam saber muitas coisas mais sobre ele do que estava nos livros – quando ouviram o primeiro estalido. O barulho foi semelhante à fios de eletricidade que estivessem com mal contato, tão baixo que apenas Thiago, que estava concentrado em não prestar atenção na conversa dos amigos para não se envolver, ouviu. Sasha olhou confusamente para ele quando ele abaixou a cadeira e olhou para os lados, procurando alguma coisa. E antes que ela pudesse perguntar, ou qualquer um pudesse falar qualquer coisa, um lampejo de luz verde atingiu a mesa ao lado da deles, fazendo-a girar no ar e voar até o meio da rua. Eles se levantaram rapidamente, procurando dos lados.


 Thiago meteu a mão no bolso e deu a chave à Sirius – “Vão para o carro!” – e eles o fizeram, desviando-se de uma série de lampejos verdes que começavam a chover, e pareciam vir de todo canto da praça e até mesmo da rua, como se bruxos escondidos lançassem feitiços contra eles. Thiago correu até o carrinho e estendeu uma nota de dez euros para o vendedor, que, assustado, pegou-a e começou a fechar o carrinho para tentar salvar o que sobrava do seu negócio, mas um feitiço o atingiu quando chegou perto de Thiago e ele caiu paralisado no chão.


 Thiago não conseguiu se mexer. Sob a chuva de luzes verdes e a gritaria das pessoas do outro lado da rua, o seu único pensamento era sobre o homem que só estava trabalhando e agora, estava duro e muito morto no chão da praça, não tendo nada a ver com aquele assunto, nada haver com aquele mundo. O barulho do carro atrás de si o fez despertar e ele conseguiu desviar a tempo de um feitiço. Sacou a própria varinha e, habilmente, conseguiu expelir e proteger-se das luzes pelo menos até chegar ao carro, batendo a porta.


 - O carro está protegido com um feitiço! – ele disse – vamos logo!


 Sirius arrancou o carro da calçada de uma vez, deixando as marcas do pneu no asfalto e fazendo um barulho de arrepiar os cabelos. Dobraram várias ruas até terem certeza de que estavam longe o bastante.


 - Todo mundo está bem? – Thiago virou-se para olhar Lílian, Sasha e Remo que estavam no banco de trás.


 Os três assentiram.


 - Ótimo. Isso foi realmente interessante. – ele saiu pela porta do carro e deu a volta para ir para o lado do motorista.


 Sirius deu um pulo para o bando ao lado e Pontas entrou.


 - Temos que avisar meus pais. – disse, arrancando o carro da mesma maneira que Sirius.


 - Acha que são Comensais? – perguntou o amigo ao seu lado.


 - Com certeza são! – Sasha respondeu ao ver que Thiago dava de ombros – ainda tem dúvidas?


 - Mas como eles sabiam que estávamos no cachorro-quente da praça? – perguntou Remo, parecendo frustrado.


- E o que eles queriam com a gente, não é? – a voz doce de Lílian quis saber.


Sasha não conteve uma risada histérica.


- Às vezes, parece que vocês esquecem! – ela falou irritada – e acabam me fazendo esquecer também, o que por alguns instantes é ótimo, mas fica péssimo quando se recebe uma surpresa como esta!


 - Diabos, se tivéssemos ido ao restaurante... – começou Sirius.


 - Estaríamos mortos há tempos! – completou Thiago – se eles estavam nos rastreando, souberam da reserva que minha mãe fez há umas duas horas do restaurante e deviam estar nos esperando!


 - Tem razão... temos que voltar logo para a sua casa. – Lílian disse.


 Thiago virou a cabeça para olhá-la por um instante e depois virou-se, percebendo que não tinha idéia para onde estava indo. Freou o carro estacionando-o com rapidez, dando uma guinada e fazendo pular alguns transeuntes da calçada.


 - Certo, para onde vamos? – ele virou-se para olhá-los.


 Sasha não esperou que eles dissessem qualquer coisa e desceu do carro. Havia notado que bem em frente de onde o carro parara, havia uma boate e uma fila enorme de pessoas bem arrumadas para entrar dentro dela, sendo avaliadas e barradas por um segurança de terno preto e porte enorme. Engoliu seco e perguntou para ele como chegavam o mais rápido na rua da casa de Thiago, e ele olhou-a estranhamente, desconfiado, respondeu com gestos e deu vários atalhos. Sasha tentou gravar tudo rapidamente em sua mente, traçando um mapa em sua cabeça, e depois agradeceu ao homem e pulou para dentro do carro:


 - Você deve estar mesmo querendo ser pega, não é? – perguntou Sirius sem se conter, com a voz muito irritada.


 - Volte tudo! – ela disse sem olhar para ele.


 Thiago assentiu e voltou ao volante, arrancando o carro daquela maneira que eles já estavam se acostumando. O carro deslizou pela rua reto até que Sasha falou:


 - Acho melhor a gente não passar na frente da praça...


- Óbvio! – Sirius falou, mexendo nos cabelos nervosamente.


- Então sobe umas três ruas e segue reto de novo!


 Thiago fez o que ela disse, quase batendo em um motoqueiro que vinha em uma alta velocidade ao dobrar a rua, e foi incrível a manobra que o maroto fez para que não colidissem. Ele tornou a virar quando passaram umas três ruas, e a rua escura estava deserta, a não ser por umas silhuetas trôpegas que caminhavam cambaleando na beira da calçada, acenando para os carros.


 Uma das silhuetas entrou na frente do carro de Thiago, e ele conseguiu frear com um susto, parando a poucos centímetros das pernas do mendigo. Ele deu a volta escorando no carro e bateu na janela de Thiago, que, irritado, abaixou-a e falou quase com um berro:


 - Pode nos dar licença?


 - Claro, patrão... – a voz mole dele observou quem estava dentro do carro – ah, casa cheia... queria uma caroninha mas pelo visto...


 - Sim, não temos vaga, tchau! – ele respondeu ríspido e novamente tornou a rodar pelo asfalto.


 - Bêbados – praguejou Lílian.


 Eles seguiram reto um bom trecho, então Sasha avistou a catedral como o segurança havia dito.


 - Agora dá a volta na igreja... e segue entre uma padaria e uma loja de roupas.


 Remo a olhou franzindo a testa.


 - É um atalho! – ela desculpou-se.


 Sirius bufou.


 


 


 


*****


 


 


 


 Quando finalmente terminaram o “passeio” pelas ruas vazias e escuras na noite de sexta-feira em Londres, e avistaram o grande muro da casa dos Potter, ele apontou a varinha para o portão da esquina e nem esperou que o portão se dobrasse totalmente, e o carro entrou quase raspando. Guardou-o rapidamente na garagem e Thiago e Sirius deram uma última olhada para conferir se ninguém os seguia pelo portão da garagem enquanto esta se fechava. Entraram na casa em passos rápidos e o senhor Potter já descia a escada com seu roupão azul e os olhos inchados.


 - O que diab...


 - Pai, escute... – e assim Thiago narrou o que havia acontecido naquela noite na praça e o ataque dos comensais. A mãe dele chegou um tempo depois e acompanhou a narrativa, e Lílian lhe explicou algumas coisas que ela não entendera.


 Quando o filho terminou a narrativa, eles se entreolharam e correram para a lareira que havia no hall de entrada, e Gustav Potter enfiou a cabeça nela, chamando por alguém que se chamava Deuze Troller. Quando a mulher o atendeu, ele disse que havia uma urgência e que tinha que reunir os aurores no Ministério naquele mesmo instante porque os Comensais estavam em Londres. Quando ele terminou a chamada, a mãe de Thiago já havia descido com roupas e eles as trocaram com um toque da varinha no corpo.


 - Eu quero aprender isso. – murmurou Sirius para si mesmo.


 - Olhem, não saiam dessa casa nem que mil diabos os invoquem lá fora, estão entendendo? – ela ordenou a eles, enquanto o marido já desaparecia pela lareira – deve haver um motivo para eles terem atacado vocês e provavelmente é Thiago, que é filho dos aurores que sobreviveram ao ataque, então... boa noite.


 E ela desapareceu nas chamas verdes. Por um momento, eles ficaram parados destilando o silêncio e a idéia de que nada havia acontecido por causa de Thiago Potter, filho dos aurores sobreviventes. Quando alguém disse alguma coisa – e esse alguém foi Sirius – eles preferiram que ele tivesse ficado calado.


 - Você precisava mesmo ter se arriscado daquela maneira com o segurança?


 Sasha o olhou sem entender.


 - Oras, vocês iam ficar discutindo tempos até que alguém tivesse alguma idéia ou lembrasse do caminho! Tinha que apressar as coisas!


 - Apressar as coisas para nós ou para eles? Se não se lembrou, eles estavam nos seguindo! NOS SEGUINDO, SASHA! - ele explodiu, gesticulando.


 - Cale a boca, Sirius! – ordenou Thiago, jogando-se no sofá fofo, cansado – não aconteceu nada e estamos todos bem! Pode parar de gritar ou vai acordar a vizinhança toda!


 - Não se meta, Pontas! Diabos, menina, você sabe que é o que eles querem e estava praticamente chamando-os!


 - Pelo amor de Merlin, Sirius, você acha que eu sou uma isca idiota que não sabe se defender? Como acha que eu sobrevivi até hoje? - ela explodiu também, sem acreditar na cena que Sirius estava fazendo por um pequeno detalhe de tudo o que estava acontecendo - e se não percebeu isso não foi o que aconteceu de mais perigoso! Nós cinco SÓ SOBREVIVEMOS A UMA CHUVA DA MALDIÇÃO AVADA KED...


 - PAREM! Isto não está ajudando em NADA! – Lílian se colocou entre os dois, que se enfrentavam furiosamente.


 - Eu só estou preocupado, Sasha! – Sirius sibilou, com a voz mais baixa – porque se logo depois ou bem no meio de um ataque da maldição imperdoável você foi... inconseqüente o suficiente para sair do carro PROTEGIDO que estávamos só por causa de uma coisa boba! - ele explodiu de novo, mas depois inspirou profundamente, continuando mais calmo: - imagine o que pode fazer nas próximas vezes, quando ele vier atrás de você!


 Sasha não conseguia acreditar, e estava certa que o seu gênio não se deixaria tolerar diante das explosões dos nervos de Sirius e a cada coisa que ele dissesse, ela teria uma resposta quase na frente; mas o fato que ele expôs, que haveriam mais vezes, fez seu coração parar por um segundo e se desenfrear em seguida.


 - Eu tenho que ir embora. – ela murmurou, mais para si mesma do que para os outros.


 Sem esperar qualquer protesto ou resposta, dirigiu-se rapidamente para a escadaria e quando estava na metade, ouviu as vozes lá embaixo:


 - O quê DIABOS ELA DISSE? – Sirius gritava.


 - Sasha! Você não pode simplesmente ir embora! – Remo estava ao pé da escada chamando-a, mas ela não pode ouvir suas vozes mais porque virara na porta que dava para o outro corredor.


 As paredes claras pareciam sufocá-la, enquanto ela caminhava rapidamente em direção ao seu quarto para buscar os seus pertences, mas principalmente sua varinha. Sua cabeça girava e ela tinha certeza de uma única coisa: tinha que se afastar deles. Tinha que sair de perto de Sirius, Thiago, Remo e Lílian o mais rápido possível, porque eles estavam em Londres e estavam atrás dela, e não iam desistir tão fácil, como ela tinha certeza.


 Quando Lílian chegou ao seu lado, dizendo um monte de coisas para ela, sua voz foi pareceu apenas um borrão no universo e ela não pôde discerni-la: tinha um propósito, e um destino, e que o que tivesse que acontecer a ela não deveria acontecer a mais ninguém.


 - Sasha! – a voz de Lílian voltou lentamente, trazendo-a à realidade, quando ela já estava jogando as suas roupas na mala.


 A ruiva segurara o seu braço e o balançara. Sasha olhou estranhamente para ela e piscou, acordando.


 - Eu tenho que ir. – disse com a voz rouca.


 Os meninos chegaram na porta do quarto, aflitos.


 - Não tem não! – Lílian protestou, o rosto começando a corar – você tem que ficar aqui dentro da casa de Potter onde estamos muito bem protegidos!


 - Sasha, temos que ficar aqui – Remo adiantou-se com um tom calmo, para tentar convencê-la – os pais de Thiago não sabem a gravidade da situação, eles estão apenas pensando que é o filho do auror e vão achar que eles tentarão na próxima, ou que vão ficar espreitando em Londres ou coisa parecida... se ficar aqui, estamos protegidos de uma vez por tod...


 - Você não entende, Remo! Vocês não têm que se proteger de nada! SOU EU!


 E voltou a jogar as roupas na mala, perguntando-se porque diabos tinha trazido tanta coisa para um feriado de poucos dias. Os amigos ficaram olhando enquanto ela fazia as malas furiosamente, sem saber o que dizer; então, Sirius adiantou-se e segurou-a pelos dois braços com força, aproximando-se do seu corpo e fazendo ela parar o que fazia.


 - Olha, me desculpe – ele falou olhando em seus olhos, fazendo pelo menos uma parte dela acalmar-se para ouvi-lo – eu fiquei nervoso, está bem? Você sabe como eu sou estourado – ele parecia estar procurando um tom de voz cada vez mais calmo para convencê-la – mas você não tem que ir embora, Sasha, tem que ficar aqui onde tem proteção e tem a gente.


 Sasha olhou em seus olhos azuis e teve mais certeza do que nunca que tinha que ir embora. Proteger... não a si mesma, mas a eles. A Sirius, e deixar que ele vivesse para sempre com aqueles sentimentos puros e verdadeiros que guardava dentro de si. Ela sabia que eles viriam atrás dela de novo, mais cedo ou mais tarde – e as provas disso estavam ficando cada vez mais claras - e a única coisa que podia fazer era fugir, não de seu destino, mas podia evitar o que aconteceria com o deles caso ficasse.


 Um sorriso cínico brotou no canto de seus lábios e ela não evitou uma risada amarga.


 - Não é por causa de você, Six. – disse por fim, soltando-se do maroto.


 - Bom, eu tenho um plano, e VOCÊ – VAI – OUVIR! – Thiago interrompeu, parecendo furioso, suas bochechas levemente vermelhas.


 Sasha passou as mãos nos cabelos.


 - Diga.


 - Temos uma lareira, e pó de flu, e todas essas coisinhas – falou sarcasticamente – vamos para outro lugar, para outra cidade, que seja!


 - Podemos ir para Hogwarts! – disse Lílian.


 - Não, eu já disse que vou sozinha! – protestou Sasha.


 - Ir para a escola é uma boa idéia – adiantou-se Remo, gesticulando – daí é só deixar um bilhete para os pais de Thiago, dizendo que estávamos cansados ou até mesmo procurando nos proteger, porque não? E que fomos para a escola pela lareira!


- Quando passarmos pela lareira, o Ministério vai rastrear e eles vão ficar sabendo imediatamente. – lembrou Lílian – é melhor irmos logo e esperarmos eles irem ao nosso encontro, e daí dissemos tudo.


- Temos que sair de Londres – murmurou Sasha, vendo que não conseguiria convencer os amigos, embora tivesse que admitir que a idéia de Thiago era boa e a sua era péssima.


- Resolvido, então? – perguntou Sirius, esperançoso.


- Arrumem logo suas coisas! – ela ordenou.


E eles voaram para seus quartos. Em menos de dez minutos, que Sasha considerou uma eternidade e tempo suficiente para os Comensais estarem esperando-os no hall de entrada com suas varinhas, ou a caixa de Jihédhi, ou talvez o próprio Voldemort!, Lílian e a morena desceram as escadarias arrastando as malas, e os meninos já as esperavam. Uma elfa ouvia atentamente o que Thiago dizia à ela, os olhos esbugalhados parecendo temer a situação, mas ela apenas assentia com a cabeça levemente. Sirius já segurava um pote marrom entre as mãos, cheio de um pó verde e brilhante, o pó de flu.


- Pronto, se eles vierem para casa a elfa dirá tudo a eles – ele falou – vamos logo.


- Hogwarts! - disse Sirius rapidamente, antes de jogar o pó e as chamas o engolirem.


 E assim fez Lílian, Sasha, Remo e por último Thiago. Eles tinham ido parar na sala do professor Takashighi, a qual reconheceram pela coleção de pedras e a grande janela da qual se podia ver toda a extensão dos terrenos do castelo. Sasha deixou-se ficar ali alguns instantes observando a paisagem calma da escola no meio da noite, sentindo um peso despregar-se de suas costas e dissolver-se no ar como poeira. Um alívio imenso permitiu ela sorrir para as flores que se faziam calmas no jardim. Sirius a abraçou de lado, dando um beijo em sua cabeça. Antes que alguém pudesse dignar-se a pegar as malas, que haviam voado pela sala e por sorte não atingiram nada no caminho, o professor japonês entrou pela sala, com os olhos pequenos mais estreitos ainda.


 - Eu posso saber o que está acontecendo aqui? - ele olhou para cada um dos seus alunos antes de continuar: - posso saber o que estão fazendo a esta hora da noite passeando pelas lareiras da escola? Tem alguma noção do que isso pode acarretar?


 - Professor – Sasha respondeu – tínhamos que vir, e daqui a pouco você vai saber porque.


 - Eu exijo saber agora. – ele fitou-a estranhamente.


  O professor parecia furioso. Seu corpo avançou tão rápido contra Sasha que ela pensou que ele havia voado em sua direção, em uma velocidade que considerava impossível que um ser humano alcançasse. Mas logo lembrou-se que ele era vampiro. Engoliu seco.


 - Tínhamos que vir, professor – Lílian chamou sua atenção – vamos contar logo.


 - Tudo bem, viemos porque estávamos passeando na noite de Londres e fomos atacados por Comensais, e eles estão atrás de Thiago porque os pais dele sobreviveram a um ataque deles, mas o que importa realmente é que fomos atacados e felizmente sobrevivemos – Remo começou a falar rápida e nervosamente.


 - Sobrevivemos e tivemos que sair da casa de Thiago porque eles viriam atrás da gente. – Sirius completou calmamente, aproximando-se de Sasha.


 Cada vez que aquele professor falava, os cabelos na nuca de Sasha arrepiavam-se de medo e tensão juntos. Ele parecia sinistramente... perigoso e ameaçador. E neste momento, seus olhos pareciam pegar fogo e sua boca parecia destilar ódio – tudo por ter sido surpreendido por alunos passando pela lareira de sua sala de madrugada.


 - É verdade? – ele perguntou, afundando seus olhos negros nos azuis de Sasha, e ela não conseguiu dizer nada além de afirmar com a cabeça.


 O professor apontou a varinha para o monte de malas que Thiago havia juntado enquanto eles falavam e elas sumiram.


 - Hey! – o garoto protestou.


 - Elas estão em seus dormitórios respectivos – ele sibilou – temos uma confusão aqui e temos que resolvê-la. – ordenou.


 - Senhor, desculpe-nos por invadir a sua sala dessa maneira... mas o que aconteceu foi que apenas dissemos Hogwarts na lareira e fomos transportados para cá! – Lily apressou-se em dizer – não estávamos esperando que isso acontecesse.


- Oh, Youn, vim o mais rápido que pu... – a silhueta magra da professora McGonagall entrava pela porta que o professor deixara entreaberta – Evans? Lupin? O que estão fazendo aqui?


Sasha e Lílian trocaram um olhar e suspiraram, sabendo que teriam uma longa noite pela frente...


 


 


 


*****


 


 


 


 A noite passou-se angustiante e cheia de discussões e explicações, mil vezes eles repetiram a mesma coisa tanto para McGonagall, pra os pais de Thiago, Filch, e até mesmo Dumbledore, que chegou às quatro da manhã de sua viagem e surpreendeu-se ao encontrar a própria sala particularmente movimentada.


 Depois, eles desceram exaustos para o dormitório, e foram direto dormir, e dormiram até a hora do almoço no domingo. Os pais de Thiago mandaram um berrador para ele no meio da tarde, que ele por sorte ouviu no dormitório onde estavam apenas ele, Sirius, Remo e Grunt, no qual a mãe de Thiago gritava que ele fizera muito barulho por pouca coisa e que ele deveria ter deixado que tudo se resolvesse com os aurores, pois eles já estavam tendo um plano, e ainda deixou-o sem dinheiro por um mês. E que ele não pegasse emprestado porque eles iam ficar sabendo e a coisa ia ficar feia. Eles deram risada e Grunt ficou olhando-os, confuso e curioso, mas nenhum deles se dignou a explicar-lhe o berrador.


 


 


 


*****


 


 


 


 A primavera deixou-se estender pelo mês todo de abril, o que foi uma injustiça, pois quando mais as flores desabrochavam e as cores desapontavam nos jardins e na floresta, mais eles tinham que se afundar em livros e horários e deveres que estavam sendo lhes jogados no focinho como pancadas. Sasha, Lílian, Alice e Gloria já tinham um lugar praticamente reservado na biblioteca. Apesar de tudo, eram raras as vezes em que se viam Thiago e Sirius no lugar, e talvez fosse por isto que Snape parecia morar entre as estantes de livros. Certa tarde, quando Remo e Gloria estavam abarrotados em dois livros para um dever de Poções, e Lílian estava distraída com um livro da mesma matéria, Snape aproximou-se de Sasha com seus habituais cadernos grossos entre os braços.


 Talvez a cor de seu rosto denunciasse, não sabia se a vergonha ou o ódio de si mesmo pelo que estava fazendo, mas ele o fez e quando chegou perto o suficiente para Sasha percebê-lo, Remo lançou um olhar furioso para o sonserino e começou a recolher rapidamente o livro sob o olhar confuso de Gloria.


 - Não precisa sair, Lupin – Snape quase gaguejou – vim convidar Sasha para conversar comigo lá fora.


 Lílian olhou para Sasha, e desta para Remo. Quando a morena lhe olhou significativamente, a ruiva deu de ombros e voltou os olhos para o livro, mas não estava prestando atenção realmente. Sem saber direito o porque, Sasha levantou-se e recolheu alguns livros a sua volta, mesmo sabendo que não ia usá-los para nada, e acompanhou Snape, que andava duramente, para fora da biblioteca.


 - Vamos para os jardins – ele murmurou sombriamente.


 Eles seguiram em silêncio até o portão de entrada da escola, que estava escancarado, e vários alunos se punham a debruçar-se entre os livros ali ou nas extensões dos jardins. Quando passaram por um particular grupo de sonserinos que incluía Bellatrix Black e Lúcio Malfoy, Snape pareceu totalmente encabulado com os olhares fulminantes que eles lhe lançaram e continuou o caminho sem dizer uma palavra, até que chegassem em uma árvore perto do lago, um pouco afastados dos outros alunos.


 - Então? – Sasha perguntou mais para si mesma do que para ele.


 Snape passou a mão pelo rosto, como para tirar a oleosidade, e em seguida passou a mão pelos cabelos, encharcando-os, e o gesto lembrou vagamente quando Sirius e Thiago faziam aquilo.


 - Me desculpe. – ele murmurou com a voz fraca, parecendo fazer um esforço sobrenatural para dizer aquilo.


 - Desculpar? – ela repetiu, confusa – pelo quê?


 Snape fechou os olhos, as pálpebras tremendo. Era evidente que estava transbordando uma impaciência e uma fúria que lhe dominava.


 - Não me faça... dizer... Sasha.


 O modo como ele dizia seu primeiro nome parecia surreal, como se fosse forçado.


- Pois faço – ela provocou, sem entender o acesso que ele estava tendo com ela ou consigo mesmo – não posso te desculpar sem saber sobre o que é.


Snape abriu os olhos e o negro encontrou o azul em uma explosão imensa, assustando-a.


- Hum... primeiro por ter pedido que se afastasse de Black, embora eu vá me arrepender por estar lhe dizendo isto, sei que te chateei e não entendo porque gosta dele desta maneira, porém eu vou tentar entender embora duvide que um dia eu realmente consiga.


As palavras tristes de Snape a fizeram adoecer por uns instantes, sem saber o que dizer.


- Não precisa dizer nada – ele adivinhou seus pensamentos, abaixando os olhos.


- Eu não ia.


 Snape voltou a erguer os olhos e tornou a falar:


- E me desculpe por ter seguido os seus amigos na outra noite.


- Não tem que se desculpar a mim, não foi o meu segredo que penou para descobrir.


- Eu podia ter morrido. – ele falou assombrado, sem acreditar na resposta dela.


- E quer o quê? Compaixão? – Sasha perguntou rispidamente – Severo, se tem alguém que merece as suas desculpas são Sirius e Remo. Para o primeiro eu sei que você não o fará, porque ele o amaldiçoaria até onde pudesse se soubesse que estava tentando me afastar dele. Mas tente fazer isso com Remo... ele sofre com o segredo dele. Se soubesse que se arrepende de ter forçado o conhecimento, talvez ele o perdoasse... pelo menos um pouco.


- Eu não preciso do perdão de Remo Lupin – ele cuspiu.


- Então não precisa do meu também. – ela respondeu imediatamente, tentando olhar nos olhos dele, mas ele desviou de seu olhar.


Snape ficou quieto por alguns instantes e depois olhou para cima, por trás dos ombros de Sasha, nos jardins. Pareceu perceber algo, mas voltou a falar quando ela fez menção de virar-se:


- Você também sofre com o seu segredo? – sua voz soou como uma maldição.


- Como?! – ela perguntou incrédula.


- Eu não preciso repetir.


- Vejo que continua dizendo coisas para que sejam ouvidas apenas uma vez. – desdenhou Sasha, lembrando-se da infância na Escócia.


- Sabe que eu não sou uma pessoa flexível. – ele ironizou.


- Está querendo dizer alguma coisa entrelinhas?


- Não! Mas você ouviu o que eu disse.


Sasha olhou-o, refletindo por um momento. Dentro daquela escolas, que ela sabia, seis pessoas sabiam de seu segredo, e ela sentia como se uma multidão o fizesse e a julgasse.


- Eu não tenho culpa de nada. – a voz dela saiu em um fio.


Snape continuava a olhar em algum ponto atrás dela, mas ela não virou-se para olhar.


- Eu não disse que tinha.


- Eu sei.


- A gente não sofre apenas quando é culpado. – Snape refletiu – seu amigo mesmo, não tem culpa de nada, teve apenas um infeliz azar.


- Não fale de Remo desta maneira.


- Como eu tenho que falar então? O lobinho feliz? Ou prefere Aluado?


- Acho que você não é amigo dele para chamá-lo desta maneira.


- Os amigos dele parecem zombar da condição dele, chamando-o assim.


- Eles não zombam de nada. Eles o ajudam, tornando esse problema mais fácil de encarar.


- É claro, ser um lobisomem deve ser realmente otimista.


- Como você está tagarela! – ela reprimiu.


Snape olhou-a pelo canto dos olhos e os dois riram, de uma maneira que não riam há muito tempo enquanto estavam juntos. Riram até que uma lágrima se abrigasse no canto de seus olhos e eles trocassem um olhar cúmplice.


- Me desculpe tentar pressioná-la para falar sobre aquele assunto – ele falou por fim, tentando não olhar mais para um ponto atrás de Sasha – às vezes eu sinto que vou explodir por ficar pensando nisso sozinho.


- Por que não conversa com Bellatrix Black? Talvez ela lhe ajude. – desdenhou.


- Ela gosta de você. Tem que ouvi-la dizer que os seus cabelos são magníficos enquanto quebra espelhos com uma escova no salão comunal. – ele disse, com uma sombra de riso nos lábios.


- Não são todas que tem a mesma sorte. – Sasha falou, balançando os cabelos negros para trás, enquanto suas pontas roçavam na grama verde, e Snape pareceu hipnotizado.


Embaraçada, ela parou de fazer aquilo e tentou concentrar-se no lago um pouco distante.


- Está falando sério? Quer dizer, sobre ela quebrar espelhos e tudo o mais.


- Sim. Mas ela não gosta de você. – ele respondeu.


Sasha assentiu e abaixou a cabeça.


- Acho que é melhor eu subir. – a sua voz foi-se tornando lentamente sombria novamente – ou o seu namorado me arranca o pescoço se eu fizer você rir de novo.


Então, Sasha o viu. Ele estava sentado em um ponto próximo ao lago, sozinho, jogando pedras nas águas, enquanto elas saltavam sem pular mais de uma vez, afundando com fúria. Os seus cabelos negros brilhavam ao sol, e quando ele virou para olhá-los seus olhos pareceram estranhamente escuros.


- Até mais – Sasha disse simplesmente, enquanto Snape recolhia os livros que havia jogado na grama e subia os jardins, sob o olhar faminto de Sirius.


Ele não voltou a olhá-la, e Sasha entendeu que devia ir até ele. Recolheu os livros rapidamente, sem dar atenção aos olhares que algumas meninas do sétimo ano da Corvinal lhe lançavam e à Sirius, e caminhou até ele com leveza, como se outro peso tivesse se dissolvido de seus ombros. Ela jogou os livros ao lado de Sirius e agachou-se atrás dele, mordendo-lhe o pescoço com suavidade.


- Não tente me agradar... – ele suspirou.


- Eu não tinha visto você aí – ela disse, abraçando-o por trás e sentindo que o corpo dele estava fervendo.


- Se tivesse visto, teria evitado?


- Não. – respondeu simplesmente.


- Ótimo – ele sorriu.


- Ele estava apenas se desculpando por umas coisas, nada demais. Disse que se arrepende pela outra noite com Remo, mas não vá provocá-lo com isso porque é capaz de ele explodir em mil pedaços.


- É provável que eu o faça só para ver se isso acontece mesmo.


Sasha riu e tornou a morder-lhe o pescoço, fazendo-o encolher-se em seus braços.


- Não vai ficar bravo comigo por causa disso, vai? – ela perguntou, fazendo questão de aproximar seus lábios do ouvido do garoto, notando que os cabelos de sua nuca se arrepiaram.


- Eu só tenho que me acostumar... – ele respondeu calmamente.


Os músculos dele se relaxaram nos braços dela, e ela soltou-se do abraço e correu para o seu lado.


- Aposto que não vai demorar. – ela falou, sorrindo com os lábios.


Sirius sorriu também e a abraçou pelos ombros. Uma corja de suspiros pôde ser ouvida atrás deles, vinda da direção das meninas que haviam trocado olhares quando ela passara.


- Acho que vou ter que fazer uma terapia para me acostumar completamente com isso. – falou.


Sirius riu.


- Ninguém mandou você arrumar o namorado mais gostoso de Hogwarts.


- Hey! Achei que você diria que eu não ia demorar a me acostumar! – ela ralhou, abraçando-o também, se apoiando em seu peito.


Sirius riu e beijou sua cabeça com ternura.




















n.a: ham, eu sei que ninguém acompanha, mas é só pra ter um n/a mesmo :) eu gosto de n/as . anyway, parando de falar tosqueiras, bem, eu estou pensando em postar toda a fic aqui, ja que eu a dividi em partes. e é isso que eu vou fazer, e vou deixar p falar bastante no fim . beijo beijo.

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