Capítulo XVI



Os Marotos e o Segredo de Sangue





Capítulo XVI – De presente de aniversário




No domingo, Thiago recebeu uma coruja dos pais avisando que já estavam bem em casa e que esperava que ele trouxesse os amigos para casa nas férias de Páscoa, para as quais ainda faltava um mês. Sirius insistiu que Sasha e Lílian fossem também, mas a ruiva bateu o pé no chão negando, dizendo que tinham que ficar na escola estudando para os exames que estariam realmente próximos! Mas Sasha murmurou para o garoto que esperasse, e que ela convenceria a amiga quando estivessem próximos de viajar.


Ao contrário de Thiago, Sppinet não voltara ainda à Hogwarts, e os meninos diziam que ele ainda demoraria muito para voltar; segundo eles, o pai de Sppinet era a única família que lhe restava. Sua mãe havia morrido alguns anos antes de uma doença que pegara quando participou de uma conferência na Indonésia. Isso não foi exatamente o melhor para animar Sasha.


Mas a segunda-feira fez com que toda a animação que tivesse voltado à garota durante a semana que transcorrera relativamente bem, apenas com alguns comentários maldosos da parte dos sonserinos e algumas punições mais maldosas ainda da parte dos grifinórios, mas que não a fizeram ficar pra baixo de novo – não obstante, a segunda-feira fez com que uma dúvida esquecida durante a semana voltasse para a sua cabeça. À tarde, quando chegaram na aula de Defesa Contra as Artes das Trevas, encontraram a professora McGonagall preparada para dar aula.


- Sinto dizer, alunos, mas o professor Takashighi teve que se ausentar, pois passará uma temporada de caça com seus amigos na Rússia...


O sonho. Professor... caça... Rússia. Era óbvio que nenhum dos alunos desconfiou de nada daquilo, uma temporada de caça era absurdamente normal para qualquer homem que gostasse daquilo, mas ela sabia o que significava – que ele iria caçar, como os animais. Caçar para se alimentar. Lily olhou estranhamente para a morena, parecendo acompanhar também a sua linha de pensamento, mesmo que não soubesse do sonho e nada. Então, ele era mesmo um vampiro. E Remo era mesmo um lobisomem. Pensou ter captado um rápido olhar de Remo e Sirius, mas abriu o livro para começarem a aula.


A chuva castigava na passagem do inverno para a primavera, e quando entraram em março o verde estava tão intenso e as flores tão lindas que era impossível não matar os estudos extras no salão comunal para descer para os jardins, aproveitando a beleza da natureza, mesmo que uma chuvinha fina os surpreendesse sempre que o faziam. E era exatamente isso que acontecia no fim de uma quarta feira na segunda semana de março, quando a chuvinha fina de repente começou a se revelar maior e mais forte do que eles pensavam. Os grossos pingos começaram a cair nos cabelos e ensopá-los.


Uma ruiva, que estava com um grupo (que não é preciso citar nome por nome) cuja brincadeira da vez era jogar pedras no lago e ver quais pulavam mais vezes, começou a correr em direção ao castelo em busca de proteção contra a chuva. Thiago Potter subiu o jardim atrás dela, e quando alcançou seu braço, uma poça de lama o fez escorregar e cair no chão, levando a ruiva com ele. O casal escorregou até a beira do lago novamente, sendo amparados por um feitiço lançado por Remo que impediu que mergulhassem diretamente nas águas agitadas, enquanto todos riam.


- Onde pensava que ia, ruivinha?


- Está maluco, Potter? – ela perguntou, levantando e livrando-se dele, batendo as mãos nas vestes.


- Estou maluco sim... – ele começou, mas ela grunhiu em resposta antes que ele pudesse terminar com um “por você”.


- Olha como eu fiquei, energúmeno! Estou ensopada e toda suja! – lamentou-se, olhando a própria camiseta com pena.


Thiago fez uma cara de cachorro-sem-dono, e antes que pudesse fazer alguma coisa Sirius havia lhe jogado um punhado de lama nas costas. Então os seis se divertiram em uma suja guerra de lama e se empaparam com a chuva grossa que caía. Quando escureceu e os raios começaram a cortar o céu sendo logo seguidos por trovões, Lílian parou com a brincadeira e ordenou, com a voz autoritária que só quem é monitor tem – menos Remo, é claro; que todos entrassem e fossem tomar um banho antes que pegassem alguma doença.


Então, quando o fim de semana chegou, Sasha lembrou-se de conversar com Lílian sobre o sonho e todas as outras coisas. Estavam na biblioteca cercadas por livros empoeirados e velhos quando a morena contou à ela sobre o sonho que tivera há algumas semanas, e como as coisas que sonhara estranhamente aconteceram.


- Acha que está prevendo coisas? – a ruiva perguntou em tom de deboche.


- É claro que não. Nem sei o que aquele sonho significou, Lily, foi mesmo como uma visão!


A ruiva não estava levando-a à sério. Deu uma risadinha de soslaio enquanto folheava um livro que irritava os narizes das duas com a poeira que soltava das páginas velhas.


- Então... acha que o professor é mesmo um vampiro? – ela perguntou rapidamente e deu mais ênfase à segunda pergunta: - acha mesmo que Remo é um lobisomem?


- Eu não sei, Lily! Estou só dizendo o que aconteceu! As conversas, a viagem do professor Takashighi, tudo bateu com o sonho! – Sasha exclamou, irritada. – e na verdade, eu achava que você também pensasse que o professor fosse vampiro, desde aquela vez em que lemos sobre eles no livro de Poções.


- Shh.. – a ruiva fez para que ela falasse mais baixo, pois alguns primeiranistas reunidos a alguma distancia delas havia virado a cabeça para olhá-las.


- Que eles se explodam! – a morena falou, inclinando-se para Lílian ouvir – só gostaria que acreditasse em mim.


Lílian suspirou e fechou os olhos, massageando as têmporas. Parecia se concentrar muito em algo, e quando abriu os olhos verdes, eles brilhavam mais do que nunca.


- Eu quero acreditar, mas não faz sentido.


- A única coisa que não faz sentido é o fato de Remo ser um lobisomem nessa história toda! Mas o resto tem muito sentido e você sabe.


A ruiva calou-se e preferiu não continuar com a discussão. As duas terminaram os deveres em silêncio e voltaram para o salão comunal quase como duas desconhecidas. Sasha resolveu quebrar o silêncio:


- Você sabe de alguma coisa, não é?


- O quê?


- Sobre Remo... aquela vez em que fui com Sirius à Casa dos Gritos e me acordou... me perguntando... disse que alguém pedira para que me perguntasse. Foi ele, não é?


Sua mente estava funcionando rápido. Todos aqueles móveis quebrados... os flashes de memória que lhe vieram naquela noite haviam sido tão rápidos que ela havia se esquecido completamente deles, mas agora estava bem claro. Lílian sabia, e todos os outros também. Até mesmo Pedro Pettgrew devia saber.


- Não sei de nada, Sasha – a ruiva hesitou para responder – e mesmo que soubesse... seria um segredo de um amigo e... acho que você entende como é ter um segredo assim.


Lílian havia tocado em seu ponto fraco. Sasha apenas acenou e enfim seguiram em silêncio para o salão.



*****




- Eu estava pensando, Lily, seria bem legal se fôssemos para a casa de Thiago nas férias de Páscoa – Remo disse, quando voltavam da reunião de monitores – será na primeira semana de abril, então não terei problemas... – ele deu um sorriso significativo à ela, que entendeu.


- Não sei não... não posso me imaginar dentro da casa de Potter, fazendo as coisas com ele, conversando com os pais dele e passando o dia inteiro com ele!


- Já faz um tempo que Thiago não faz nada com você... tem que admitir que ele está se comportando nos últimos meses. – o garoto disse.


- Ah, sim, claro... ele provavelmente arrumou uma namoradinha de outra Casa e gamou nela, por isto está me deixando em paz – ela falou aquilo sem absorver a idéia, e quando o fez sentiu uma desagradável sensação.


- Namoradinha? Ele não fica com ninguém há séculos! – Remo falou em tom indignado, como se percebesse somente agora – diabos, Lily, e quando ele a beija nos corredores ou faz algo que você não critique ele parece ser o mais feliz do universo ao nos contar.


Lílian bufou. Remo estava tentando persuadí-la?


- Não posso acreditar que está defendendo Potter dessa maneira para mim.


- Ah, Lily... estou dizendo apenas a verdade, isso tudo você não pode negar. Me diga qual foi a última vez que ouviu dizer que Thiago tinha ficado com alguma garota e depois caído fora?


A ruiva pensou e como não respondeu, ele continuou:


- Está vendo? Não pode negar que ele está se comportando!


- Remo! Tudo bem que de uns dias para cá ele parece realmente não ser tão galinha como era mas...


- Não pode negar também que ele é gentil com você.


Lílian parou de andar, mirando-o desconfiada:


- O que está tentando me dizer?


- Que eu acho... tirando o fato de Pontas ser meu amigo e eu achar que vocês formem um casal meio estranho... eu acho que ele merece uma chance.


Ela riu e continuou a andar, sendo seguida por Remo.


- Oras, e eu achando que estava me falando sobre ir à casa dele nas férias... alem disso, há séculos ele não me chama para sair!


- Este é o problema então?


- Não! O que eu estou dizendo? Não sairia com o Potter nem em mil vidas!



*****




- Tarãnãn! Acordem idiotas! – Thiago jogava almofadas nos amigos no dormitório às sete da manhã.


Sirius levantou a cabeça para olhar. A sua cortina estava totalmente aberta e o sol entrava pela janela furiosamente, cegando-lhes os olhos.


- Você ta louco? – perguntou quando Thiago pulou na cama dele, e depois pulou para a de Remo, fazendo-o acordar também, e em seguida caiu no chão, correndo até a cama dele de novo.


- Não to não, cara!


Thiago parecia estar ligado na tomada. Entrou no banheiro, escovou os dentes, enquanto Grunt grunhia alguma coisa inteligível da cama onde dormia pesadamente, e depois voltou para o dormitório trocando o pijama. Sirius o olhava sem entender.


- O que está acontecendo?


- Promoção na Zonko’s? – perguntou Remo.


- Ah, me lembrei! – Sirius riu consigo mesmo – não se lembra em que época do ano Thiago fica assim mesmo, Remo?


Remo pareceu pensar.


- Vejamos... beijos na Lílian... não, ela não me disse nada... bem, sucesso no quadribol não pode ser... – falou maldosamente, e quando Thiago fez uma careta, ele lembrou-se: - Oh, Thiaguito está ficando mais velho!


- Não é hoje, tolinho – Thiago disse dando risada – é dia 24.


- Sabe, sempre achei que esse dia combinasse com você demais. Por que será? – brincou Sirius, começando a se trocar também.


- Ah, seu cachorro! – Thiago jogou um sapato em Sirius, que o pegou com facilidade – o dia é mera coincidência...


- Veado! – falou Remo de repente, fazendo Sirius gargalhar.


- É cervo, seu lobo pulguento! Aliás, dois pulguentos que vivem me seguindo e ainda me criticam!


- Quem segue você? – Sirius falou entre os risos.


- Só se for aquelas garotinhas da primeira série... como se chamam mesmo?


- Há-há-há. – ele desdenhou – não vão acabar com a minha felicidade hoje.


- Oh, ele está todo alegrinho, Remo!


- Ah, não, Almofadinhas, já sei o que deve ter acontecido!


- Aquele cara do time de quadribol da Espanha, sabe? Acho que ele vai fazer um ensaio sensual e Pontas deve ter ouvido fal...


- Larguem de idiotices! – Thiago interrompeu tentando não cair na risada – vocês sabem o que significa o meu aniversário estar se aproximando!


- Claro – Sirius fingiu estar pensando sonhadoramente, entrelaçando os próprios dedos e olhando para cima – o ápice dos Marotos em Hogwarts!


- Além disso... – Thiago seguiu seu pensamento, indo ao seu lado e tentando olhar para o mesmo ponto em que Sirius estava olhando - ...significa festas, feitiços aos sonserinos, bombas de bosta nos corredores, fogos de artifício em formas de dragões... e...


- Você não vai dizer fileiras de garotas, vai? – Sirius virou-se para olhá-lo, desconfiado – não me atice!


- Ah, sim, claro. Garotas para mim e Remo.


- Ê-êpa. Estou muito bem com Gloria, obrigada.


- Hum... dois marotos amarrados não é nada bom. Ainda mais você, Almofadinhas!


- Eu?!


- É... você era meu parceiro fundamental, poxa. – ele abaixou o olhar fingindo estar profundamente magoado.


- Ah, cale a boca. – Sirius riu – já me aposentei dessa vida cigana.


Thiago sorriu de orelha a orelha e falou:


- Até o meu aniversário, vou ter me aposentado também!


- O que quer dizer... ?


- Que a minha ruivinha vai aceitar o meu maior desejo! Vai sair comigo e seremos felizes para sempre...


Os três riram e Remo falou:


- Boa sorte então, garanhão da madrugada... mas vocês não se esqueceram que é a mesma semana em que temos compromisso à noite, não é mesmo?


- Uma festinha, Remo... só uma. – Thiago deu uma piscadela para ele – e ainda será ao mesmo tempo em que realizaremos o sonho de Snape! Só que de uma maneira um tanto perigosa...


Sirius riu.


- Meus dedos estão formigando de ansiedade.



*****




Quando Sasha, Lílian, Gloria e Alice estavam esparramadas na beira do lago aproveitando outro dia de sol, embora emboladas entre os livros e pergaminhos e penas, foi que as duas primeiras tiveram certeza de que o professor era mesmo um vampiro. Gloria estava encostada em uma árvore, na sombra onde aproveitava a umidade, e as outras três tomavam sol deitadas na grama. Às vezes a Lula Gigante nadava perto delas e espirrava porções de água suficientes para Lily bufar, rasgar seu pergaminho, jogar na água e mudar de lugar para começar outro.


Sasha era a única que não estava se dedicando a nenhuma matéria ou dever. Segurava entre os dedos um pedaço pequeno e amassado de pergaminho que dobrara e desdobrara várias vezes; fitava-o furiosamente, concentrada, e parecia que ia explodir a qualquer minuto. No bilhete, estavam escritas as seguintes palavras:


Pomfrey, acabou o último frasco do nosso estoque. Esperava que fosse durar mais, e tomara que consiga mais do que antes até eu voltar da Rússia. Não estava mais agüentando quando busquei ajuda de Hagrid e ele me sugeriu a viagem – então dei o que sobrava do estoque à ela. Caso não obtenha nada, me mande uma coruja que posso tentar trazer algo de lá. De Youn.


- Sasha, eu juro que vai zerar em Herbologia se continuar deste jeito – a sua amiga ruiva ralhou.


- Lily, ela é inteligente, você sabe que não vai zerar em nada – Alice ergueu os olhos do pergaminho.


Frasco do estoque. Era a única coisa em que a morena que era o alvo das preocupações de uma ruiva pensava naquele momento. Então era isso... o professor Takashighi devia ter feito um acordo com Dumbledore e os professores ou coisa assim. Devia ter uma poção, ou até mesmo frascos de sangue animal em um estoque na sala dele ou em qualquer outro lugar, para que ele resistisse às criancinhas indefesas do colégio. Mas quem era “ela” a quem ele dera os frascos restantes? Mas não deu importância a esse detalhe.


- Descobri! – gritou, jogando-se entre as duas amigas.


Gloria levantou-se rapidamente e pulou perto delas também.


- Descobriu o quê?! – ela perguntou, observando enquanto Sasha abria rapidamente o bilhete para elas.


- Ele é mesmo um vampiro!


Lílian olhou para ela franzindo a testa. Alice pareceu extremamente confusa, e Gloria ficou mais pálida do que realmente achavam que ela podia ficar; pois a garota era do tipo de pessoa que parecia nunca ter tomado sol. Pele de cera.


- O que foi? – Sasha perguntou ao notar sua expressão.


- Quem é vampiro? – quis saber Alice, agarrando o bilhete das mãos de Sasha – espere! Youn... conheço algum Youn! Espere! Youn é o novo professor! – ela colocou a mão sobre a boca para segurar seu queixo caído.


- Como sabe disto? – quis saber Gloria, ligeiramente nervosa.


- Bem, vários detalhes. – a morena explicou toda a trajetória que a levara a descobrir aquilo, desde o dia da detenção que levara com Thiago e Sirius e que limpara centenas de pedras.


Gloria pareceu pensativa, fitando o lago e brincando com um graveto entre os dedos.


- Não sei não... acham mesmo que Dumbledore confiaria um cargo deste a um vampiro? – Alice perguntou em voz baixa.


- É como eu disse... há vampiros que se alimentam de animais apenas. São tipo... vegetarianos. – Lílian falou.


Sasha pensara muito sobre tudo o que ouvira e lera sobre os vampiros e estava ficando fascinada. Antigamente, pensava que eles eram como nos contos de fadas que ouvia, com grandes dentões, dormindo dentro de caixões e se alimentando em uma batalha sanguínea e terrível de humanos, se comportando como animais. Mas na verdade, eles eram como as pessoas ou bruxos normais. A única diferença era que não dormiam e o seu regime era... balanceado.


Antes que qualquer uma delas percebesse, Gloria havia voltado à sua sombra e recolhia os seus livros, quieta demais. Jogou a mochila nas costas e falou:


- Esqueci que havia marcado de estudar com Remo... depois eu vejo vocês? – e subiu os jardins em direção ao castelo.


Lílian olhou com as sobrancelhas erguidas para Sasha, que deu de ombros.



*****




No domingo próximo, dezenove de março de 1978, houve uma surpresa que deixou Thiago ainda mais eufórico do que ele estava nos últimos dias: haveria visita a Hogsmeade. Era um agradável dia de primavera no qual as nuvens não ameaçavam estragar o clima fresco do dia, então não levaram capas nem cachecóis, mas Lílian fez com que as meninas colocassem uma blusa até o pulso, pois segundo ela no final do dia esfriaria.


Desembarcaram animados no vilarejo. Primeiro foram até uma loja de roupas modernas e as quatro saíram com pelo menos uma sacola. Alice saiu com três. Encontrou Frank quando estavam saindo das portas de vidro vai-e-vem da loja, e como um bom namorado cavalheiro, se ofereceu para levar as sacolas e convidou-a para tomar chá. Ela deu uma piscadela para elas e saiu agarrada ao braço do garoto.


- Enquanto isso, Sirius e Remo estão sabe Merlin onde! – comentou Gloria, rindo-se.


- Com certeza estão aprontando! – deduziu Lily – aqueles garotos em Hogsmeade pegam fogo! Vão da Zonko’s para o Três Vassouras, do Três Vassouras para a Dedosdemel, e de lá voltam para a Zonko’s... podem ter certeza que chegaremos no salão comunal e eles estarão se afundando em papéizinhos de doces e embalagens de malandragens que compram na Zonko’s.


- Esqueceu de dizer que eles estarão embriagados! – emendou Sasha, rindo da amiga.


Lily fez uma careta para ela e foram sentar-se em uns bancos de pedra que tinha em uma pequena pracinha com uma fonte em formas estranhas de animais: um deles era uma fênix imperial, o maior; o outro era um gato, e também haviam um cavalo e alguma coisa que Sasha deduziu ser um gafanhoto gigante. Gloria sentou-se no encosto do banco, jogando a sacola em seus pés no acento, enquanto a ruiva sentava ao lado dela. Sasha ficou de pé, pois não pretendia demorar-se muito tempo ali, ainda tinha muito o que rodar no vilarejo.


- Ora, ora, ora... – uma voz inconfundível surgiu atrás delas.


Viraram-se para deparar com Bellatrix Black, vestida de preto e seguida pela corja Narcisa e Lúcio.


- Pode começar alguma frase sem “ora, ora, ora” ? – perguntou Sasha, sem olhá-la – muda um pouco o disco, vai.


- Pode parar de achar que estou falando com você? Sinta-se menos o umbigo do mundo, vai.


Narcisa e Lúcio deram altas risadas. Sasha metralhou a garota com os olhos. Quis mandar ela ao inferno, mas preferiu ficar quieta e não chamar atenção. O seu desejo que eles saíssem dali o quanto antes era maior, pois Sirius parecia atrair-se para perto de onde estavam os seus parentes e Sasha, e ele não segurava nem um pouco a sua agitação e nervosismo.


- Oh, non Narrcisa. – Lúcio disse, forçando um forte sotaque escocês que Sasha não tinha, mas que às vezes se surpreendia dizendo alguma palavra – eu sou o centrro só da Inglaterrra.


Bellatrix e a outra riram.


- Há há... – Lily forçou o riso para eles.


- Olha a sangue ruim se metendo no assunto dos outros... – Narcisa grunhiu entre os dentes.


- Quer saber de uma coisa? Sangue-ruim é a mãe!!! – Sasha estourou e pegou a varinha, aproximando-se do trio.


Algumas pessoas que passavam começaram a parar para olhá-los. As outras duas saltaram do banco e também pegaram as varinhas, em posição de ataque atrás de Sasha.


- Vai me enfeitiçar, Victorinha? – riu-se Lúcio.


- Se continuar a falar asneiras dessa boca suja, sim eu vou. – respondeu rápida.


Bellatrix ficou estranhamente séria e colocou a mão dentro das vestes.


- Vamos, tirem as varinhas também... o que é, estão com medinho? – provocou Sasha falando debochadamente.


- Sasha, vamos embora... – Lílian chamou-a, olhando as pessoas que se acumulavam à sua volta.


- Não, Lily, vamos resolver isso aqui e agora...


- É melhor irmos logo. Se algum professor nos ver arrumando confusão aqui estamos...


- Sasha! O que está fazendo? – a voz divertida de Thiago cortou-lhe os ouvidos.


Ele vinha saltitando entre as pessoas, com Sirius vindo com Remo logo atrás dele. Thiago passou por Sasha e sussurrou um “quando eu correr, corram também”. Lílian fez menção de parar o garoto, mas Sasha segurou-a. Ele caminhou até onde os três estavam e andou calmamente em volta deles, que ficaram olhando-o estranhamente. Então, com uma agilidade incrível, Thiago meteu as mãos nas calças de Lúcio e puxou sua cueca para cima, indo parar no meio das costas, e o garoto deu um berro estridente seguido de uma careta.


Thiago correu no mesmo instante, aos risos. Lily e Gloria pegaram suas sacolas rapidamente e os cinco começaram a correr também para a mesma direção onde o garoto tinha ido, todos rindo sem conter-se. Correram por toda a extensão da rua de lojas e quando chegaram às últimas, pararam em frente à um aposento cuja placa indicava ser o Três Vassouras. Sirius abraçou Sasha pelas costas enquanto elogiava o amigo:


- Foi genial, Pontas.


Thiago forçou uma reverência e estendeu a mão para uma ruiva que parava ao seu lado, ofegante e vermelha da cor dos cabelos.


- Posso te pagar uma cerveja? – perguntou com a voz de galanteador.


- Irritante. – murmurou Lily abrindo a porta do bar e todos foram atrás dela.


O bar era ligeiramente aquecido e muito cheiroso. Apesar de tudo parecer velho demais, como as mesas de madeiras, haviam pessoas de todos os tipos e tamanhos ali, tanto virando garrafas e garrafas de cerveja amanteigada ou bebidas mais fortes, ou até mesmo apreciando as especiarias que ali eram servidas, ou rindo com os amigos ou entrosados em conversas misteriosas e escuras. Era um ambiente caloroso, apesar das diferenças. Os meninos foram direto para o balcão, e Thiago empurrou um garoto do segundo ano para sentar-se ali, e Lílian que vinha atrás dele pediu desculpas ao menino que saiu resmungando furiosamente.


Uma mulher com um corpo de violão, cabelos enrolados levemente alourados e olhos claros aproximou-se deles com um ar zombeteiro:


- Oras, mas que surpresa vocês por aqui! – ela encostou-se no balcão com os cotovelos – demoraram para voltar! E vejo que vieram bem acompanhados... – falou indicando as meninas.


- É claro, sempre bem acompanhados! – Thiago piscou para a mulher – bem, deixe-me apresenta-las... esta é Sasha Mills, namoradinha do Sirius – ela estendeu a mão simpaticamente para a mulher, que apertou-a murmurando um “conseguiu por na coleira, hein” – esta é Gloria Garret, namoradinha de Remo – a outra fez o mesmo.


Lílian fingia estar distraída olhando para os lados quando Thiago disse:


- Não repare a antipatia... aquela é Lílian Evans, minha namoradinha. – falou em voz baixa para que somente a mulher ouvisse – ah, sim, garotas, e essa é a mulher mais maravilhosa quee existe e dona do melhor bar bruxo já existido. Madame Rosmerta.


A mulher deu uma risadinha e falou:


- Bem vindas ao meu humilde bar. Sempre tem lugar para mais um.


- Por isso trouxemos as garotas aqui! – Sirius piscou para ela.


Ele estava sentado folgadamente em um banquinho alto e Sasha estava encostada em suas costas. Remo segurava a mão de Gloria e Lílian e Thiago eram os únicos que estavam sem se tocar.


- Ótimo! E qual é a comemoração de hoje? – perguntou com um enorme sorriso.


- Comemoração? Acho que nenhuma né Si...


- Não, Sasha! Sempre temos uma comemoração! – Remo interrompeu-a – e desta vez é o aniversario de alguém... – ele falou, como se desse a dica.


Thiago abriu um largo sorriso de dentes perfeitos e arrumou os óculos.


- Hum, deixe-me ver. – Rosmerta pensou – de Sirius não pode ser... é... Thiago!


- É! – ele deu um soco no ar, animado.


- Parabéns! Quando é?


- Sexta-feira. Mas sabe que não voltaremos até lá, então... – respondeu animado – só se fizermos alguma festinha, o que eu duvido muito.


- Oras, isso é motivo para comemorar, garoto! – Rosmerta falava enchendo um grande copo de cerveja amanteigada, estendendo-lhe com eficácia e derrubando um pouco sobre o balcão.


- Sim! Cerveja amanteigada para todos na minha conta! – ele virou-se para dizer aos presentes, e a maioria gritou feliz em resposta, erguendo o copo para brindar com ele.


- Thiago, como vai pagar a cerveja de todas essas pessoas? – a mulher do balcão quis saber – não é pra me gabar, mas tem muita gente e...


- É só pra descontrair, madame. – ele piscou sedutoramente para ela – se alguém pedir cerveja amanteigada na conta de Thiago Potter diga que nunca viu mais gordo e chute para fora do bar.


A mulher gargalhou gostosamente.


- Desse jeito você me leva à falência! – exclamou, enchendo copos de cerveja e entregando para os outros do grupo. Depois, saiu para servir seus clientes.


- Grande mulher – Thiago comentou quando ela deu as costas.


- Grande mesmo, e bem velha pra você – resmungou Lily.


- Sabe, docinho, a única idade que eu me importo realmente é a sua.


- Docinho? – ela perguntou indignada – vá para o inferno, Potter.


Lílian seguiu até uma mesa vazia, e as meninas foram atrás dela. Não demorou cinco minutos para que os garotos chegassem também. A ruiva revirou os olhos quando Sirius beijou Sasha na frente de onde ela e Thiago estavam sentados, enquanto Remo e Gloria participavam de uma conversa um tanto... íntima, e a ruiva decidiu se concentrar na janela.


- Dezessete anos. – murmurou Thiago fitando a cerveja dentro do copo.


- Falou comigo, Potter? – ela virou-se para olhá-lo.


- Não. Estou aqui pensando... estou velho demais. – suspirou levemente.


- Velho? Com dezessete anos? – ela perguntou – faça-me o favor!


- Ora, ruivinha, você é tão novinha, tem dezesseis!


- Ah, cale a boca que você ainda tem dezesseis também! – ela brigou, segurando o riso.


Thiago achou que aquela era uma oportunidade perfeita para convidá-la para sair, entre os dois casais mais apaixonados de Hogwarts, sob uma conversa amigável.


- Eu vou ficar velho enrugado antes de você. – lamentou-se, virando o copo cheio e erguendo-o como sinal para que o garçom enchesse novamente.


- Ohh, que dózinha. – ela apertou a bochecha do garoto como se ele fosse uma criança – se continuar bebendo vai mesmo ficar enrugado, até antes dos trinta.


- Eu tenho que aproveitar a vida, Lily.


- É Evans. – ela corrigiu.


- Que seja. O importante é aproveitar a vida. – piscou marotamente um olho para ela, fazendo-a balançar negativamente a dela.


Ela ergueu as sobrancelhas e percebeu que uma conversa com Potter não podia ser tão escandaliz...


- Então ruivinha, quer sair comigo?


Sim, podia. Seu pensamento fugiu no meio da frase quando Thiago dissera aquilo, e engasgou com a cerveja que tomava. Seu coração se acelerou, como se ela esperasse há tempos que o pedido chegasse e...


- O que diz?


- O que acha? – ela perguntou para ele.


Sasha olhou para eles pelo canto dos olhos.


- Acho que está doida para sair comigo, mas não vai dizer que sim nunca. – ele respondeu sinceramente.


Lílian riu.


- E se eu disser que sim?


- Seria bom. – ele deu de ombros, como se fizesse pouco caso.


Quando Lílian emburrou-se, cruzando os braços no peito e olhando as pessoas através da janela novamente, Thiago apressou-se:


- Estou brincado! Seria magnificamente fabuloso, ruivinha! – a sua voz eufórica fez Gloria dar risadas, enquanto Remo a abraçava.


Lílian segurou o riso e virou-se para o garoto.


- Terá que me provar.


- Só posso provar se sair comigo!


- Não! Tente provar de outra maneira.


- Como? – ele perguntou, aproximando seu rosto do dela – eu já beijei você várias vezes... e sei como é maravilhoso o seu beijo – disse em seu ouvido, fazendo-a arrepiar-se – eu poderia te beijar pelo resto da vida e não me cansar nunca.


Lílian sorriu levemente e continuou fitando a janela, enquanto o garoto continuava inclinado murmurando coisas em seu ouvido. Quando ela ouviu “você é bem mandona, vai me por no lugar”, virou-se para olhá-lo. Quase não conseguia acreditar que Thiago estava dizendo que uma garota podia mudá-lo. Estreitou os olhos para mirá-lo, e perguntou:


- Está falando sério?


Ele a olhou divertido.


- Nunca falei mais sério na minha vida toda!


- Você está blefando de bêbado. – ela concluiu, virando-se para a janela novamente.


- Ruivinha... você sabe muito bem que eu quase não bebi! – ele insistiu baixinho para ela, com expressão de piedade.


- Mas está doido! Você está agitado como se tivesse ligado na tomada e...


- Isso é uma coisa que eu não mentiria nem se tivesse tomado trezentos galões de cerveja e energético. – ele a interrompeu.


E Lílian percebeu que ele estava sendo sincero, talvez pelo tom de sua voz ou pelo brilho que emanava de seus olhos através dos óculos. Respondeu brevemente:


- Então é isso que terá que me provar.


- Está dizendo que quer que eu tome trezent...


- Não! Estou dizendo para me provar que você pode mudar por mim. – e olhou dentro de seus olhos ao dizer isso.


Thiago deu um enorme sorriso com todos os seus dentes brancos, o que fez com que seus olhos brilhassem mais intensamente ainda. Era uma chance. Ele estava, oficialmente da parte dela, tendo uma chance com a sua ruivinha.


Quando ela notou sua euforia, interrompeu-o:


- Espero que não me desaponte!


"As coisas que queimam por dentro
Tão profundas, eu mal respiro
Mas você só vê um sorriso
E eu não quero que isso se vá"

(Paramore - Adore)


- Juro que não vou. – ele riu, passando o braço por trás da cadeira em que ela estava sentada – só tenho que te perguntar uma coisa.


Lily franziu a testa, olhando para ele. Thiago ficou sério e deu um gole na cerveja, e perguntou sem olhar para ela:


- O que há entre você e Amos Diggory? – e pousou o copo na mesa com um baque, fixando seus olhos.


A ruiva teve vontade de rir, mas percebeu que ele falava mesmo sério.


- Bem... ele me chamou para sair já faz um bom tempo.


- Ouvi dizer que você saiu mesmo – ele falou, com rancor.


Foi a vez da ruiva olhá-lo divertida:


- Está com ciúmes?


- Não! Só estou cuidando do que é meu.


- O que você pensa que é seu? – ela irritou-se.


- Oras...


- Acho que você confundiu quando eu disse que...


- Não! Eu estava só perguntando, meu lírio... uma simples curiosidade. – Thiago deu um sorriso sem dentes para ela, acariciando sua bochecha macia e corada – não vamos brigar.


Ela ergueu uma sobrancelha, olhando para fora de novo.


- Ok. Mas se quer mesmo saber, não saímos.


Thiago novamente ergueu o copo para que o garçom o enchesse, parecendo animado. Ergueu o de Lílian também, murmurando um feliz:


- A gente tem que comemorar!


Lílian deu um sorriso torto para ele. Nem podia acreditar no que fazia.


Depois de um bom tempo no bar, o grupo decidiu ir para a loja de doces Dedosdemel, de onde os meninos saíram com várias sacolas cheias de pirulitos, sapos de chocolate, balinhas ácidas que mudavam de cor, e muitos outros. Quando saíram de lá, a tarde estava na metade e o céu começou a escurecer. Pesadas e escuras nuvens de chuva começaram a rodear o vilarejo, e antes que eles tivessem tempo de fugir, os pingos grossos despencaram do céu. Com as sacolas na cabeça para se proteger, eles iam correr para o Cabeça de Javali quando Thiago impediu-os, mostrando através da janela que os sonserinos estavam lá. Correram de volta para o Três Vassouras, e como o bar era um dos últimos da rua do vilarejo, chegaram ensopados da cabeça aos pés. Se secaram com um feitiço e novamente entregaram-se aos prazeres da cerveja amanteigada e às piadas de Madame Rosmerta...



*****





Na sexta-feira, Sasha teve certeza de mais uma dúvida do antigo sonho, e essa foi a final para confirmar suas suspeitas de que não estava ficando louca. Era o dia do aniversário de Thiago e ele e Sirius mataram algumas aulas pela manhã, e quando apareciam estavam com uma insistente expressão de felicidade estampada no rosto; mas Remo não os acompanhou em nada, e ficou sempre sozinho com uma terrível cara de doente. No final do dia, quando as aulas acabaram e elas novamente saíram para tomar um ar fora do castelo, eles se juntaram a elas por alguns instantes.


- Potter, não está pensando em fazer uma festa hoje, está? – Lily perguntou quando ele deitou-se ao seu lado folgadamente, cruzando os braços atrás da cabeça.


- Festa?! Ah, não, ruivinha... digamos que hoje é dia de festinha particular...


Quando a ruiva olhou para Sasha e esta deu de ombros, para mostrar que também não sabia de nada, ela pareceu profundamente chateada. Levantou-se, tirou os sapatos e caminhou até a beira do lago para molhar os pés, sozinha; Thiago ergueu um pouco a cabeça para olhá-la, e franziu a testa para Sirius.


- O que você entenderia se eu dissesse que as meninas vão fazer uma festinha particular? – ele perguntou, como se Thiago fosse uma criança.


- Bem, eu... ah, droga. – ele deu um salto, jogou os sapatos e correu até onde a menina estava, sentando-se ao seu lado para molhar os pés também.


Remo estava estranhamente quieto, e trocava poucas palavras com Gloria sem ao menos pegar em sua mão ou abraçá-la, como ele costumava fazer. Quando comentou isso em voz baixa com Sirius, Sasha não obteve a resposta que esperava:


- Ah, Vic, você já deve ter percebido que Aluado é de lua.


O seu comentário deixou várias brechas para que a dúvida de Sasha se fixasse e estava criando raiz. Dizer que Remo era de lua era quase... revelador.


- O que quer dizer? – perguntou.


Sirius levantou seus olhos para ela. Estava deitado nas pernas cruzadas da garota, enquanto esta acariciava seus cabelos com a ponta dos dedos.


- Oras... quer dizer que ele muda de humor sempr...


- Não... não foi isso que eu perguntei. – ela interrompeu-o, fixando seu olhar no dele.


Mesmo parecendo entender ou pensar em algo, ele fingiu estranhar a resposta da garota. Sasha não insistiu, pois no mesmo momento olhou para a beira do Lago e Thiago estava segurando a mão de Lílian entre as suas, e depositou um beijo na palma antes de levantar-se e pular na água.


- O que o Pontas... ? – Sirius levantou-se de um pulo, com um enorme sorriso, deu um beijo leve nos lábios de Sasha, e correu em direção ao lago também, tirando o sapato no meio do caminho.


Pulou de ponta. Sasha sentiu o baque da água fria em si mesma quando ele emergiu, os cabelos molhados para trás e seus lábios começando a arroxear. Ele e Thiago ficaram se divertindo na água com brincadeiras de afogar nas quais Lily gritava que iam se matar, quando o primeiro ou segundo voltaram à superfície e ela xingava-os. Os outros se juntaram à ruiva na beira do lago para molhar os pés enquanto os dois se divertiam na água.


Quando Sasha tocou os pés na água, tirou-os no mesmo instante. Esta gelada como se fosse inverno. Depois que se acostumou à temperatura, achou os dois que estavam dentro da água doidos. Sirius antes estava quente em seus braços e pulara de uma vez só no lago.


- Veeeem galera, entra! – Thiago chamou-as, espirrando um pouco de água nelas – de presente de aniversário!


- Só se você estiver maluco mesmo! – Gloria falou – está muito fria!


- Vamos lá, ruivinha... por mim... – ele insistiu, nadando até os pés de Lílian.


- É Evans, Potter...


- Você pode começar a me chamar de Thiago? De presente de aniversário. – ele pediu, segurando-se nos pés dela.


A ruiva riu e falou:


- Ah, posso te dar mil galeões também se quiser de presente de aniversário!


- Não... só quero que me chame de Thiago. – ele fez um beicinho para ela.


Lílian revirou os olhos e murmurou:


- Tudo bem, então, Thiago. Mas só hoje. – completou ao ver o garoto sorrir e mergulhar, desaparecendo sob seus pés.


Então Sasha sentiu algo puxando seus pés lentamente, e se assustou achando de início que fosse algum animal na água, mas quando abaixou os olhos e viu uma cabeleira preta bruxuleando embaixo da água, deu risada e puxou os pés para cima.


- Sirius, nem pense nisso!


Mas o garoto deu um puxão que fez a metade da perna dela afundar na água fria.


- Me ajuda, Lily! – ela pediu, desesperada. Sua última intenção era mergulhar naquela água naquele momento. – Pare!


A ruiva deu risada e se afastou quando a morena esticou a mão para ela ajudá-la.


- Amiga-da-onça! – disse desesperada – Gloria! Gloria me ajude, por favor!


A garota torceu o nariz para ela, e quando desabraçou de Remo lentamente para ajudá-la – o que Sasha percebeu que foi lentamente e propositalmente - e esticou a mão, Sasha sentiu um puxão mais forte que fez a sua perna inteira se afundar. Agarrou-se na grama e gritou:


- Você não vai conseguir, Six!


Ele emergiu na água para tomar ar, com um sorriso muito maroto; aquele olhar de quem tinha certeza do que queria e tinha a mesma certeza de que ia conseguir, quem sabe até mais. Ela tentou aproveitar a deixa do garoto ao soltar seus pés embaixo da água, mas antes que pudesse sentar-se direito novamente no gramado, ele havia afundado e puxou-a, desta vez de uma vez só, para dentro da água fria.


E a água estava pior do que ela achava que fosse estar. O choque da água gelada com o calor de seu corpo a fez sentir uma vontade imensa de sair dali o mais rápido possível e ir direto para o dormitório tomar um banho quente. Isso tudo depois de cometer o assassinato de Sirius Black, é claro. As mãos de Sirius já estavam em sua cintura, embaixo da água, quando ela sentiu que podia tocar os pés no chão do lago e erguer a cabeça na superfície. O oxigênio em seu pulmão estava se esgotando e sua cabeça começava a girar, então não era hora para bolar planos contra o garoto que a puxara.


Ergueu a cabeça da água e puxou o ar para dentro no mesmo instante, depois tossiu um pouco, e procurou Sirius ali perto. Quando avistou aqueles olhos azuis acinzentados rindo marotamente dela, pulou em cima dele e tentou afogá-lo com todas as suas forças; mas ela era a menina com a força que tinha sem fazer exercícios nenhum, só levantamento de livro, e ele era o garoto que usava os braços e as pernas para o quadribol toda semana. Mordeu o ombro dele, e ouviu uma reclamação de brincadeira. Sentiu-se fraca e soltou-o, voltando para a beira do lago de onde ouvia Lílian chorar de rir. Seus lábios tremiam de frio e ela jogou água nos que ainda estavam na beira do lago. Então, teve uma idéia... a ruiva não a ajudara. E ainda ria de se acabar da cara dela, e o maior frio do universo a envolvia.


Mas foi aí que Sirius abraçou-a por trás, encaixando-a em seu aconchego. O corpo dele ainda estava quente mesmo embaixo da água.


- Ficou bravinha é? – ele perguntou em seu ouvido.


Sasha limpou os olhos em uma tentativa frustrada, pois suas mãos também estavam molhadas, e virou o corpo para ficar de frente para o maroto.


- Fiquei. – respondeu – muito!


- Vem cá pra eu te acalmar... – ele aproximou o rosto do dela e pressionou seus lábios levemente, e quando aproximou o beijo... – AI!


Sasha saiu dando risada – acompanhada por Thiago ao seu lado - quando o maroto soltou-a para verificar se ainda tinha os lábios. Mordera-o com força, para se vingar. Era o único jeito que conseguiria mesmo! Então, antes que a ruiva entendesse o que ela estava fazendo, puxou-a de uma vez para dentro da água. Observou quando a cabeleira vermelha bruxuleou embaixo da água e retornou a superfície, ofegando para buscar oxigênio.


- VOCÊ TÁ LOUCA? Ta muito frio!!! – a ruiva reclamava, e logo seus lábios ficaram arroxeados também.


- Eu pedi para me ajudar e você ficou só rindo! Dá risada agora! – Sasha riu.


Lílian abraçou-se, tentando se aquecer do frio, e deu risada também. Então as duas se entreolharam e olharam para cima, onde Gloria estava com Remo dando risadinhas. Sasha deu uma piscadela para a ruiva e Gloria tirou os pés da água e levantou-se antes que elas pudessem perceber. Remo também o fez, rindo fracamente.


- Nem pensem nisso! – Gloria disse quando elas emergiram, chateadas.


Sirius e Thiago estavam olhando para elas dentro da água. Sasha corou ao notar que a sua blusa estava colada demais, e abaixou-se até ficar somente com os olhos e o nariz para fora, aproximando-se de Sirius que a fitava com os olhos maliciosos.


- Pare de me olhar assim, por favor? – pediu, aproximando muito o seu rosto do dele, roçando seus narizes – estou ficando constrangida.


- Eu não consigo, Vic... é irresistível demais pra mim. – ela sentiu as mãos dele passeando por suas costas, puxando-a levemente para pressionar seu corpo contra o dele.


Ela se inclinou e disse, em seu ouvido: “Você é safado demais, Six...” e antes que ele pudesse grudar nela, Sasha afastou-se dele para sair da água. O frio começava a congelar a ponta do seu nariz e as extremidades de sua orelha. Quando conseguiu subir ao gramado, antes que Gloria pudesse secá-la com um feitiço, ela pulou em cima dela e abraçou-a, enquanto Remo saía por trás de fininho.


- Glorinha! Não quis me ajudar também, não é?


- Ahhh, sua MOLHADA!


Todos riram e então Gloria secou Sasha com uma careta, com a varinha. O vento que batia em seu corpo e a fazia congelar antes a aqueceu quando estava seca. Lily tentava subir no gramado, mas parecia não estar conseguindo quando...


- THIAGO!


- Sim, lírio?


- Você não vai me levantar desse jeito! – ela avisou, olhando para trás.


- Por que não, Lilyzinha? – perguntou, segurando as pernas dela por trás e dando impulso para que ela subisse no gramado.


A ruiva praguejou.


- Idiota! Eu não pedi sua ajuda!


- De nada, ruivinha. – ele respondeu de lá, observando enquanto Gloria fazia um feitiço para que a ruiva ficasse seca também.


- Quantas vezes eu vou ter que repetir que é EVANS pra você? – ela grunhiu com raiva.


- Me deixa pelo menos te chamar de Lílian! De presente de aniversário! – ele pediu.


Lílian arrumou os cabelos com a mão e bufou, subindo pelos jardins para o castelo. Remo murmurou um:


- Mal jeito, Pontas!


Thiago riu-se e voltou a nadar no lago com Sirius.



*****




Quando os outros voltaram para o castelo, encontraram Lílian debruçada em deveres e resumos que fizera para estudar, para variar um pouco. Já tomara banho e ainda parecia emburrada com Sasha e Thiago pelo episódio da água, e os dois sentaram-se um de cada lado da ruiva, abraçando-a por trás.


- E aí, ruivinha? – Sasha brincou – já está estudando de novo?


- Estou tentando! – ela sorriu falsamente.


- De presente de aniversário, você pod...


- Não vou dar mais nenhum presente de aniversário para você! – ela o interrompeu, irritada.


- Belo presente – ironizou a morena, observando o sorriso maroto do garoto.


- Eu não preciso de nada – ele falou simplesmente – só que a minha ruivinha pelo menos considere o fato de eu ter um primeiro nome. Pode me chamar de Thiago pelo resto dos seus dias?


Lily estreitou os olhos para ele:


- Por um dia já está bom demais e ainda sobra!


- Poxa – ele fez aquela expressão de cachorro que caiu do caminhão de mudança que só aquela garota na escola, e a melhor amiga dela, resistiam – é uma coisa tão simples... não pode fazer isso por mim?


Lílian revirou os olhos, olhando para Sasha. A morena percebeu lentamente que começava a sobrar, mas sabia que a ruiva a seguiria se saísse dali, então preferiu ficar prestando atenção nos flertes do casal – ou no flerte só da parte de Thiago, que seja.


- Não, Thiago. – ela respondeu em voz baixa, corando – e pare de me chamar de sua ruivinha!


- Mas você me disse... – Thiago lançou um olhar significativo à Sasha, e esta entendeu que ele queria que ela desaparecesse em dois segundos, mas ela apenas franziu a testa para prestar mais atenção ainda, provocando-o - ... que eu podia tentar te convencer.


- Isso não tem nada a ver com me chamar de ruivinha.


- Tudo bem, Lílian pode então?


Ela olhou-o com impaciência.


- Se eu disser que sim, vai me deixar terminar os deveres em paz?


- Juro. – ele cruzou os dedos e colocou-os sobre os lábios.


- Ok, Lílian pode.


- Há! – ele levantou-se de um salto, e segurou a mão dela entre as dele – não vai se arrepender, Lílian! Palavra de maroto!


- Era isso que eu temia... – ela murmurou quando ele soltou suas mãos e se afastou, subindo aos pulos a escadaria para o dormitório masculino.


- Ah, droga! – Lily bateu a mão na testa – com essa história de aniversário quase me esqueci que tenho que fazer ronda daqui vinte minutos!


Sasha passou as mãos nos cabelos:


- Tudo bem... pode me levar até a biblioteca? Tenho que procurar um livro que li há alguns anos... tenho certeza que dizia algo sobre vampiros.


- Como se chama? – a ruiva quis saber, fechando os próprios livros com um baque.


- A lenda de não sei o que... não me lembro direito. Tenho que procurar... se eu ver a capa, me lembro!


Lílian concordou em levá-la e as duas subiram, Sasha tomou o banho mais rápido que já conseguira e partiram em direção à biblioteca. Foram conversando aos sussurros, não que temessem que alguém as encontrasse naqueles corredores vazios e cheios de sombras, mas temiam quebrar aquele silêncio quase mágico que se punha do ar. O céu acabara de escurecer completamente e os alunos já estavam todos nos respectivos salões comunais. Quando estavam muito próximas ao destino que haviam traçado, Lílian puxou o braço de Sasha para o lado, escondendo-se junto com ela atrás de uma armadura. A morena fez menção de perguntar algo, mas quando abriu a boca a amiga interrompeu-a, tapando-a com a mão.


Apressou-se a tentar prestar atenção em que Lily havia percebido, então ouviu. Eram passos embolados seguidos de murmúrios que reclamavam e “Shhh’s”.


- Pontas! Ele está vindo bem atrás de nós!


Quando Sasha ouviu aquilo, teve certeza que era Sirius quem falava. A capa da invisibilidade de Thiago. Que diabos eles estavam fazendo ali? E antes que elas pudessem pensar em mais alguma coisa, e quando tiveram certeza de que eles já haviam passado por elas sem percebê-las, foi que o mais estranho de tudo aconteceu. Escondendo-se nas sombras dos corredores, como se seguisse os passos trôpegos dos garotos cobertos pela capa, vinha Severo Snape. Ele tinha uma tremenda curiosidade estampada no rosto que fazia com que seu medo dos dois marotos fosse quase esquecido. Quando Snape sumiu no corredor, Sasha olhou para Lílian:


- O que vamos fazer?














...

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