A Parker & Parker
A PARKER & PARKER
Foi o convite, manuscrito, Hermione concluiu mais tarde, que mudou sua vida.
Depois que Harry lhe entregou a sua parte do dinheiro, ela deixou o Savoy e foi
para rua Park, 47, um hotel sossegado, semi-residencial, com quartos grandes e
agradáveis, um serviço impecável.
No seu segundo dia em Londres, o convite foi entregue em sua suíte pelo
porteiro. Estava escrito numa letra pomposa:
"Um amigo comum me disse que você havia chegado à Londres, venha visitar seu
velho amigo Hermione. Gostaria de tomar chá comigo esta tarde, no Ritz, às
quatro horas? Estou com muitas saudades". A assinatura era "Sirius Black"
Hermione chorou quase uma hora, ao saber que Sirius ainda estava vivo e bem
perto dela. Ela o adorava, via nele um tio mais velho, e sentia uma saudade
imensa dele! Mas foi o pensamento de que Harry provavelmente sabia que ele
estava ali, pois era seu padrinho, que fez sua animação abaixar, por isso sua
primeira inclinação foi ignorar o bilhete, mas a saudade acabou prevalecendo.
Às 15:45 estava na entrada do elegante restaurante do Ritz Hotel.
Notou-o imediatamente. Sirius era um quarentão bonito. Seus cabelos agora
estavam cortados rente à nuca, mas o rosto, exceto por umas rugas acrescentadas
com o passar do tempo, não mudara nada! Ele vestia um terno cinza de corte
perfeito, acentuando sua virilidade, que o tempo não levara. Quando Hermione se
aproximou da mesa, ele levantou-se e a abraçou apertado, como se assim pudesse
compensar a falta que fizera. Hermione chorou novamente.
- Hei, o que é isso Mione, as mulheres ficam felizes em me ver, e não
chorando desbragadamente! O carinho e afeição eram tão evidentes em seu olhar,
que Hermione relaxou, parou de chorar e lhe abriu um sorriso molhado.
- Assim sinto que meu charme ainda funciona. - gracejou ele. Ele sentou-a com
um galanteio antiquado que Hermione achou muito atraente.
- Senti tanta saudade suas Sirius - confessou Hermione. - Mas seu afilhado
não esta por aqui não é mesmo?
Sirius sorriu.
- Não, Harry me falou que não estão se dando muito bem. Fiquei sabendo que
vinha para Londres por um outro amigo meu. Fique tranqüila.
Relaxada, Hermione sentiu a falta de alguém:
- Onde está o Lupin? - Olhou por cima dos ombros, crente que ele se achava
ali, só esperando um sinal para se juntar à eles.
Sirius pegou sua mão e respirou fundo.
- Remo está morto, Mione.
Ela virou a cabeça tão bruscamente que achou que ficaria com torcicolo o
resto da vida.
- Como assim morto?
- Remo morreu porque em uma das transformações dele, encontrou um outro
bicho, um leão-do-mato. Nós encontramos o corpo dele só no dia seguinte.
A alegria e saudades, subitamente deram espaço a tristeza no coração de
Hermione.
- Eu não posso acreditar.
E os dois passaram a tomar chá, que consistia de pequenos sanduíches, com ovo
picado, salmão, pepino, agrião e galinha. Havia bolinhos quentes, com manteiga
ou geléia, doces frescos, tudo acompanhado por chá Twinings, contaram as coisas
sobre o que passaram, Hermione evitando falar da prisão e pouco falou de Rony,
Sirius compreendeu e não pressionou.
Quando já estavam acabando, Hermione se lembrou de algo.
- Sirius, se não foi Harry que lhe disse que estava em Londres, então quem
foi?
- Foi Cornélio Fudge, Mione. Tive negócios ocasionais com ele.
Fiz negócios com ele uma vez, pensou Hermione sobriamente. E ele tentou me
passar para trás.
- Ele é um grande admirador seu - acrescentou Sirius.
Hermione observou mais atentamente o seu anfitrião. Tinha o porte de um
aristocrata e a aparência de riqueza. Resolvendo deixar de lado aquele assunto
odioso, Hermione perguntou:
- O que está fazendo aqui Sirius? - Ao ver o espanto dele, ela reformulou, -
aqui em Londres?
- Vim para Londres, depois que Remo morreu, e abri uma pequena loja de
antiguidades na rua Motint. Espero que a visite um dia.
Enquanto pagava a conta, Sirius disse, casualmente:
- Tenho uma pequena casa de campo em Hampshire. Receberei alguns amigos para
o fim de semana e ficaria deliciado se quisesse se juntar a nós.
Hermione hesitou. E se Harry fosse? Teria que reencontrar aquele grande
enganador? Mas decidiu que para passar mais com tempo com Sirius, ela faria esse
pretenso sacrifício, por que talvez estivesse com sorte e ele não estaria lá.
Convenceu-se a si mesma
O fim de semana foi fascinante, ainda mais que a sorte não a abandonara.
Harry teve a decência de não ir.
A "pequena casa de campo" de Sirius era um findo solar do o XVII, numa
propriedade de 30 acres. Sirius não tinha namorada, e Hermione achava que ele se
comportava como um viúvo. Vivia sozinho exceto pelos criados.
Levou Hermione para uma excursão pela propriedade. Havia um estábulo com meia
dúzia de cavalos, uma área em que ele criava galinhas e porcos.
- Assim, nunca passaremos fome - disse ele, solenemente. - Mas vou lhe
mostrar agora o meu verdadeiro hobby.
Ele conduziu Hermione a um galpão cheio de corujas.
- Estou criando para correio coruja. - A voz de Sirius transbordava de
orgulho. - Veja só que belezas! Está vendo aquela cinzenta ali? É Morgana.
Ele pegou a Coruja, com um protetor de couro lhe envolvendo os braços e
afagou-a. - Sabia que você é uma garota terrível? Ela implica com os outros. Mas
é a mais inteligente.
Sirius alisou as penas por cima da cabeça e largou-a com todo cuidado. As
cores das corujas eram espetaculares. Havia uma ampla variedade de azul- preto,
azul-cinza com diversos padrões, prateado.
- Mas não há brancos - comentou Hermione.
- Corujas brancas são na verdade raras - explicou Sirius. - Tem que se usar
de feitiços para fazê-los aprender, e isso por vezes acaba com o animal. Edwiges
é uma coruja rara - disse Sirius como se lesse a cabeça de Hermione - conseguiu
sobreviver aos feitiços, mas eu não gosto desse método, por isso não as crio.
Hermione ajudou Sirius alimentar as aves com uma ração especial de corrida,
contendo vitaminas extras.
- Essas corujas são diferentes das que vemos por ai. - disse Sirius. - Elas
têm mágica no sangue, mas os feitiços de adestramento acabam com elas.
- Isso é fascinante...
Os outros convidados eram igualmente fascinantes. Havia um Chefe do DElM, do
ministério britânico, e sua esposa; um conde bruxo italiano; um auror e sua
amante; e Cho Liu, que continuava atraente, mas de uma simpatia tamanha e seu
marido Kuo Liu, um chinês também muito bonito e simpático;
- Por favor, chame-me de Cho - disse ela, numa voz melodiosa e agradável. Ela
usava um sari vermelho, com fios de ouro, e as jóias mais lindas que Hermione já
vira.
- Guardo a maioria das minhas jóias num cofre-forte - explicou Cho, que se
lembrava dela em Hogwarts - Há tantos roubos atualmente...
Na tarde de domingo, pouco antes do momento em que Hermione deveria voltar a
Londres, Sirius convidou-a para mais um passeio. Ele levou-a para um canto
afastado da propriedade, logo após uma pequena floresta, dizendo que tinha uma
surpresa para ela. E tinha mesmo. Era bicuço que estava ali e Hermione, quase
chorou novamente, era bom ter coisas do passado que ainda não mudaram, pensou
ela. Depois que o Hipogrifo saldou-a ela correu para fazer-lhe carinho.
- Oh Sirius, é maravilhoso saber que ele ainda está vivo. Ainda acariciando
Bicuço, Hermione revelou, que há muito não tinha um final de semana maravilho.
- Fico satisfeito por isso, Hermione. - Depois de um momento, ele
acrescentou: Estive observando-a.
- Entendo...
- Tem planos para o futuro?
Ela hesitou.
- Não. Ainda não decidi o que vou fazer. Deu mais uma coçadinha na orelha de
bicuço e se sentou em um banco ao lado de Sirius.
- Creio que poderíamos trabalhar muito bem junto.
- Na loja de antiguidades?
Sirius riu.
- Não, minha cara. Seria uma pena desperdiçar os seus talentos. Sei de sua
aventura com Fudge e também o que Harry me contou. E devo dizer que controlou
tudo de maneira brilhante.
- Sirius... Tudo isso pertence ao passado.
- Mas o que tem pela frente? Disse que não fez planos. Deve pensar em seu
futuro. Não importa quanto dinheiro possua agora, certamente acabará um dia.
Estou sugerindo uma sociedade, eu freqüento círculos influentes, internacionais.
Compareço a bailes de caridade, caçadas e passeios de iate. Conheço as idas e
vindas dos trouxas e bruxos ricos.
- Ainda não entendi o que isso tem a ver comigo...
- Posso introduzi-la nesse círculo dourado. E dourado, Mione, no caso, é
mesmo por causa do ouro. Posso fornecer informações sobre jóias fabulosas e
quadros extraordinários, como consegui-los com absoluta segurança. Posso
vendê-los particularmente. Você estaria equilibrando um pouco a situação de
pessoas que enriqueceram demais à custa de outras. Tudo seria dividido
igualmente entre nós. O que me diz?
- Digo que não.
Ele estudou-a com um ar pensativo.
- Entendo. Poderia me procurar, se por acaso mudar de idéia?
- Não mudarei mesmo de idéia, Sirius.
Hermione foi para Londres ao final daquela tarde.
Hermione adorou Londres. Jantou em Le Gavroche, Bill Bentley's e no Caldeirão
Quebrado um bar da moda no mundo bruxo, foi ao Drones depois do teatro para
comer autênticos hambúrgueres americanos e chili apimentado. Foi ao National
Theatre e Royal Opera House, compareceu a leilões no Christie's e Sotheby's. Fez
compras na Harrods, Fonnum e Trapo Belo Moda Mágica, folheou livros na Hatchards
e Charmed Book, uma loja bruxa que Hermione ficou completamente maluca por ela,
sempre que ia ficava horas e horas, e sempre levava muitos livros para casa.
Alugou um carro com motorista e passou um fim de semana memorável no Chewton
Glen Hotel, em Hampshire, à beira da Nova Floresta, onde o cenário era
espetacular e o serviço impecável.
Mas todas essas coisas eram caras. "Não importa quanto dinheiro possua agora,
certamente acabará um dia". Sirius Black estava certo, como quase sempre. Seu
dinheiro não duraria para sempre e Hermione compreendeu que precisaria fazer
planos para o futuro.
Ela foi convidada para outros fins de semana na casa de campo de Sirius,
apreciando intensamente cada visita e a companhia dele, principalmente que Harry
não ia para lá, quando ela estava na casa.
Um domingo, ao jantar, um membro do Ministério, Sirius convidava poucos
trouxas para sua casa de campo e quando o fazia não chamava nenhum bruxo além de
Hermione e Harry, virou-se para Hermione e disse:
- Nunca conheci um verdadeiro texano, Senhorita Granger. Como eles são?
Hermione se lançou a uma imitação maliciosa de uma matrona nova-rica do
Texas, arrancando risos efusivos de todos. Mais tarde, quando ficou a sós com
ela, Sirius indagou:
- Não gostaria de ganhar uma pequena fortuna fazendo essa imitação?
- Não sou uma atriz, Sirius.
- Está se subestimando. Há uma joalheria em Londres... Parker & Parker, que
sentem a maior delícia, como dizem os texanos, em explorar seus clientes. Você
me deu uma idéia sobre a maneira de fazê-los pagar por sua desonestidade.
Ele expôs a idéia a Hermione, que respondeu no final:
- Não.
Quanto mais pensou a respeito, no entanto, mais se sentiu atraída. Lembrou-
se da emoção de ser mais esperta do que a polícia em Long Island, de Igor
Karkaroff, Pietr Negulesco e Harry Potter, desse ela sentia ainda mais
satisfação. Fora uma emoção indescritível. Mesmo assim, isso era parte do
passado.
- Não, Sirius - ela insistiu.
Mas desta vez não havia tanta certeza em sua voz.
Londres estava excepcionalmente quente para outubro e ingleses e turistas
aproveitavam igualmente o sol forte. O tráfego de meio-dia era intenso, com
paralisações em Trafalgar Square, Charing Cross e Piccadilly Circus. Um Daimler
branco saiu da rua Oxford e entrou na New Bond, avançando pelo tráfego, passando
por Roland Cartier, Geigers e Royal Bank of Scotland.
Poucas portas além da Hermes, o Daimler parou diante de uma joalheria. Uma
discreta placa polida no lado da porta anunciava: PARKER & PARKER. Um motorista
de libré saltou da limusine e deu a volta apressadamente para abrir a porta da
passageira. Uma jovem loura, com um excesso de maquilagem e um vestido italiano
de tricô muito justo, sob o casaco de zibelina, totalmente impróprio para o
tempo, saltou do carro.
- Onde fica a espelunca, Júnior? - perguntou ela, em voz muito alta, com um
desagradável sotaque texano.
O motorista indicou a entrada.
- Ali, madame.
- OK, meu bem. Fique esperando. A coisa não vai demorar muito.
- Talvez eu tenha de dar uma volta pelo quarteirão, madame. Não me permitirão
ficar estacionado aqui.
A mulher deu-lhe um tapinha nas costas.
- Faça o que tiver de fazer, cara.
Cara! O motorista estremeceu. Era sua punição por estar reduzido a guiar
carros de aluguel. Ele detestava todos os americanos, particularmente os
texanos. Eram selvagens... Mas selvagens com dinheiro. Ele ficaria espantado se
soubesse que sua passageira nunca estivera no Texas, o Estado da Estrela
Solitária.
Hermione verificou seu reflexo na vitrine, estava ficando boa em
transfiguração humana! Armou um sorriso e avançou para a porta, que foi aberta
por um empregado uniformizado.
- Boa tarde, madame.
- Boa tarde, cara. Vende alguma coisa nesta espelunca além de jóias de
fantasia?
Ela riu de sua piada. O porteiro empalideceu. Hermione entrou pela loja,
deixando em sua esteira uma fragrância irresistível de Chloé. Arthur Chilton, um
vendedor de fraque, adiantou-se.
- Posso ajudá-la, madame?
- Talvez sim, talvez não. O velho H. P. disse para eu comprar um presentinho
de aniversário para mim mesma. E aqui estou. O que tem para me mostrar?
- Madame está interessada em alguma coisa em particular?
- Ei, parceiro, vocês ingleses não perdem tempo, hein? - Ela riu
escandalosamente e bateu em seu ombro. Chilton precisou fazer um grande esforço
para permanecer impassível. - Talvez alguma coisa de esmeraldas. O velho H. P.
adora quando eu compro esmeraldas.
- Se quiser me acompanhar, por favor...
Chilton conduziu-a a um mostruário em que havia diversas bandejas com
esmeraldas. A loura oxigenada lançou um olhar desdenhoso para as pedras.
- Estas são as bebês. Onde estão os papais e as mamães?
Chilton disse tenso:
- Estas peças têm um preço que vão até trinta mil dólares.
- Ora, isso eu dou de gorjeta ao meu cabeleireiro. - A mulher soltou uma
risada. - O velho H. P. ficaria insultado se eu voltasse com uma dessas
pedrinhas.
Chilton visualizou o velho H. P. Gordo e barrigudo, tão escandaloso e
repulsivo quanto àquela mulher. Eles bem que se mereciam. Por que o dinheiro
sempre corre para quem não o merece?
- Em que nível de preço madame está interessada?
- Por que não começamos logo por alguma coisa em torno dos cem bagarrotes?
Ele conseguiu permanecer impassível.
- Cem bagarrotes?
- Ora essa, pensei que todos vocês falassem a língua do rei. Cem mil dólares.
Chilton engoliu em seco.
- Nesse caso, talvez seja melhor falar com o nosso diretor-executivo.
O diretor-executivo, Gregory Halston, insistia em cuidar pessoalmente de
todas as vendas grandes. Como os empregados da Parker & Parker não recebiam
comissão, não fazia a menor diferença para eles. Com uma cliente tão
desagradável quanto aquela, Chilton sentia-se aliviado, em passá-la para
Halston. Ele apertou um botão por baixo do balcão e um momento depois um homem
pálido e magro saiu de uma sala nos fundos.
Olhou para a loura vestida tão afrontosamente e rezou para que nenhum de seus
clientes regulares aparecesse até que a mulher fosse embora. Chilton disse:
- Sr. Halston, esta é a Sra.... Ahn...
Ele virou-se para a mulher.
- Benecke, meu bem. Mary Lou Benecke. A esposa do velho H. P. Benecke. Aposto
que todos já ouviram falar de H. P. Benecke.
- Claro.
Gregory Halston concedeu à mulher um sorriso que mal tocava seus lábios.
- A Sra. Benecke está interessada em comprar uma esmeralda, Sr. Halston.
Gregory Halston indicou as bandejas de esmeraldas.
- Temos aqui algumas esmeraldas excelentes que...
- Ela queria alguma coisa em torno aproximadamente de cem mil dólares.
Desta vez o sorriso que iluminou o rosto de Gregory Halston era genuíno. Uma
ótima maneira de começar o dia e a semana.
- É o meu aniversário e o velho H. P. quer que eu compre alguma coisa bem
bonita.
- Pois não - disse Halston. - Quer me acompanhar, por favor?
- Ora, seu pequeno patife, o que está pensando em fazer comigo?
A loura soltou uma risadinha. Halston e Chilton trocaram um olhar angustiado.
Malditos americanos!
Halston conduziu a mulher a uma porta trancada, tirou uma chave do bolso e
abriu-a. Entraram numa sala pequena, intensamente iluminada. Halston tornou a
trancar a porta, cuidadosamente, explicando:
- É aqui que guardamos as nossas mercadorias para os clientes mais
importantes.
Havia no centro da sala um mostruário com uma coleção espetacular de
diamantes, rubis e esmeraldas, faiscando. ] - Assim está melhor. O velho H. P.
ficaria doido aqui dentro.
- Madame vê alguma coisa que lhe agrade?
- Vamos ver o que tem aqui . - Ela foi até a caixa contendo as esmeraldas. -
Deixe-me dar uma olhada nestas coisas.
Halston tirou outra chave do bolso, destrancou o mostruário e tirou uma
bandeja com esmeraldas, colocando em cima da mesa. Havia dez esmeraldas na
bandeja de veludo. Halston observava, enquanto a mulher pegava a maior, um
broche requintado, engastado em platina.
- Como diria o velho H. P., esta aqui tem o meu nome escrito nela.
- Madame tem excelente gosto. Esta é uma colombiana de dez quilates,
impecável e...
- As esmeraldas nunca são impecáveis.
Halston ficou aturdido por um momento.
- Madame está correta, é claro. O que eu quis dizer foi...
Pela primeira vez, ele notou que os olhos da mulher eram tão ou mais verdes
da pedra que ela virava nas mãos, estudando as suas facetas.
- Temos uma coleção maior se...
- Não se afobe, queridinho. Ficarei com esta aqui.
A venda levara menos de três minutos.
- Esplêndido! - Uma pausa e Halston acrescentou: - Em dólares, dá cem mil.
Como madame vai pagar?
- Não se preocupe, doçura. Tenho uma conta em dólares num banco aqui de
Londres. Farei um chequinho pessoal. H. P. pode me pagar depois.
- Excelente. Mandarei limpar a pedra e depois entregar em seu hotel.
A pedra não precisava de limpeza, mas Halston não tinha a menor intenção de
entregá-la antes que o cheque fosse devidamente descontado, pois eram muitos os
joalheiros que haviam sido enganados por vigaristas espertos. Halston
orgulhava-se de jamais ter sido trapaceado em uma libra sequer.
- Onde devo entregar a esmeralda?
- Estamos na Suíte Oliver Messel, no Dorch.
Halston escreveu uma anotação.
- O Dorchester.
- Eu chamo de Suíte Oliver Bagunça. - Ela riu. - Uma porção de gente não
gosta mais do hotel porque vive cheio de árabes. Mas o velho H. P. faz uma
porção de negócios com eles. "O petróleo é o seu próprio país", como ele sempre
diz. H. P. Benecke é um cara muito esperto.
- Tenho certeza que sim - respondeu Halston, afavelmente.
Ele observou-a pegar um cheque e começar a preencher. Notou que era do
Barclays Bank. Ótimo. Tinha um amigo ali que poderia verificar a conta dos
Beneckes. Halston pegou o cheque.
- Mandarei entregar-lhe a esmeralda pessoalmente amanhã de manhã.
- O velho H. P. vai adorar - comentou a mulher, radiante.
- Não tenho a menor dúvida - comentou Halston, polidamente.
Ele acompanhou-a até à porta da loja.
- Halton...
Ele quase a corrigiu, mas depois se decidiu contra. Por que se incomodar?
Nunca mais tornaria a ver aquela mulher, graças a Deus!
- Pois não, madame?
- Tem de aparecer para tomar um chá com a gente um dia desses. Vai adorar o
velho H. P.
- Tenho certeza que sim, madame. Mas, infelizmente, trabalho durante a tarde.
- É uma pena.
Ele observou a cliente sair para a calçada. Um Daimler branco parou um
momento depois, um motorista saltou e abriu a porta. A loura fez um sinal com o
polegar para cima na direção de Halston, enquanto o carro se afastava.
Halston voltou à sua sala, pegou o telefone e ligou para seu amigo no
Barclays:
- Peter, meu caro, tenho aqui um cheque de cem mil dólares de uma certa Sra.
Mary Lou Benecke. É bom?
- Espere um instante, meu velho.
Halston esperou. Contava que o cheque fosse bom, pois os negócios andavam
meio parados ultimamente. Os sovinas irmãos Parker, que possuíam a loja, viviam
constantemente reclamando, como se fosse ele o responsável e não a recessão. É
claro que os lucros não haviam caído tanto quanto poderiam, pois Parker & Parker
tinha um departamento que se especializava na limpeza de jóias; a intervalos
freqüentes, a jóia devolvida ao cliente era inferior à que fora recebida. Já
houvera queixas, mas nada fora provado. Peter voltou ao telefone:
- Não há problema, Gregory. Tem dinheiro mais do que suficiente na conta para
cobrir o cheque.
Halston sentiu um tremor de alívio.
- Obrigado Peter.
- Não há de quê.
- Vamos almoçar juntos na próxima semana... Por minha conta.
O cheque foi compensado sem problemas na manhã seguinte, e a esmeralda
colombiana foi entregue por um mensageiro de confiança à Sra. H. P. Benecke, no
Dorchester Hotel.
Naquela tarde, pouco antes da hora de fechar, a secretária de Gregory Halston
informou-o:
- Uma certa Sra. Benecke está aqui e deseja lhe falar, Sr. Halston.
Ele sentiu um aperto no coração. Ela viera devolver o broche e ele não podia
se recusar a aceitá-la. Malditas sejam as mulheres, todos os americanos e todos
os texanos! Halston afixou um sorriso e saiu para cumprimentá-la.
- Boa tarde, Sra. Benecke. Presumo que seu marido não gostou do broche.
Ela sorriu.
- Pois presumiu errado, meu chapa. O velho H. P. ficou louquinho pela pedra.
O coração de Halston se encheu de alegria.
- É mesmo?
- Para dizer a verdade, ele gostou tanto que quer que eu arrume outra
esmeralda igual, para fazer um par de brincos. Arrume uma pedra gêmea da que me
vendeu.
Um pequeno franzido apareceu no rosto de Gregory Halston.
- Infelizmente, Sra. Benecke, talvez haja um pequeno problema.
- Que tipo de problema, doçura?
- A sua pedra é única. Não há outra igual. Mas tenho um jogo maravilhoso, num
estilo diferente, que poderia...
- Não quero um estilo diferente. Quero uma pedra igualzinha à que comprei.
- Para ser absolutamente franco, Sra. Benecke, não há muitas pedras
colombianas de dez quilates impecáveis.. . - Ele percebeu a expressão no rosto
da mulher. -... Quase impecáveis disponíveis.
- Ora, cara, deixe disso. Tem de haver outra pedra em algum lugar.
- Com toda honestidade, só encontrei bem poucas pedras dessa qualidade e
tentar duplicá-la exatamente, no formato e na cor, seria quase impossível.
- Temos um ditado no Texas de que o impossível só demora um pouco mais.
Sábado é meu aniversário e H. P. me quer ver com os brincos. E o que H. P. quer,
H. P. consegue.
- Creio que não é possível...
- Quanto paguei pelo broche... Cem mil? Sei que o velho H. P. está disposto a
pagar duzentos mil ou até trezentos mil pela outra pedra.
Gregory Halston pensava depressa. Tinha de haver uma duplicação daquela pedra
em algum lugar. Se H. P. Benecke estava disposto a pagar 200 mil dólares extras,
isso representaria um lucro apreciável. Na verdade, pensou Halston, posso dar um
jeito para que represente um lucro apreciável para mim. Em voz alta, ele disse:
- Farei algumas indagações, Sra. Benecke. Tenho certeza de que nenhum outro
joalheiro de Londres possui uma esmeralda idêntica, mas sempre há coleções sendo
leiloadas. Veremos se obtemos resultados.
- Tem até o fim da semana para conseguir - advertiu a loura. - E aqui entre
nós e o lampião, o velho H. P. provavelmente estará disposto a pagar até
trezentos e cinqüenta mil.
E a Sra. Benecke se foi, o casaco de zibelina esvoaçando em sua esteira.
Gregory Halston ficou sentado em sua sala, imerso em devaneio. O destino
jogara em suas mãos um homem tão apaixonado por sua sirigaita loura que se
mostrava disposto a pagar 350 mil dólares por uma esmeralda que valia cem mil. O
que daria um lucro liquido de 250 mil dólares. Gregory Halston não via
necessidade de sobrecarregar os irmãos Parker com os detalhes da transação.
Seria muito simples registrar a venda da segunda esmeralda por cem mil dólares e
embolsar o resto. Os 250 mil dólares extras seriam uma garantia pelo resto de
sua vida.
Tudo o que tinha de fazer agora era descobrir uma esmeralda igual à que
vendera à Sra. H. P. Benecke.
Só que isso se tornou muito mais difícil do que Halston previra. Nenhum dos
joalheiros para os quais telefonou tinha em estoque uma pedra que sequer
parecesse com a que precisava. Ele pôs anúncios no Times de Londres e no
Financial Times, entrou em contato com a Christie's e Sotheby's, com uma dúzia
de outros leiloeiros. Nos dias subseqüentes ofereceram a Halston incontáveis
esmeraldas inferiores, boas esmeraldas e umas poucas esmeraldas de primeira
qualidade, mas nenhuma se aproximava da que estava procurando. A Sra. Benecke
telefonou-lhe na quarta-feira e avisou:
- O velho H. P. está ficando impaciente. Ainda não descobriu a pedra?
- Ainda não, Sra. Benecke. Mas não se preocupe. Acabaremos encontrando.
Ela tornou a telefonar na sexta-feira:
- Amanhã é o meu aniversário.
- Sei disso, Sra. Benecke. Se me desse mais alguns dias, tenho certeza que
poderia...
- Não se preocupe com isso, doçura. Se não tiver a outra esmeralda até amanhã
de manhã, devolverei a que comprei. O velho H. P., abençoado seja o seu coração,
diz que vai me comprar em vez disso uma velha propriedade rural. Já ouviu falar
de um lugar chamado Sussex?
Halston começou a suar.
- Detestaria viver em Sussex, Sra. Benecke. Detestaria uma dessas velhas
mansões rurais. Quase todas se encontram em estado deplorável. Não possuem
aquecimento central e...
Ela interrompeu-o:
- Aqui entre nós, eu preferia ficar com os brincos. O velho H. P. até
mencionou alguma coisa sobre pagar quatrocentos mil dólares por uma gêmea
daquela esmeralda. Não faz idéia de como o velho H. P. pode ser teimoso.
Quatrocentos mil dólares! Halston podia sentir o dinheiro escapulindo entre
seus dedos.
- Pode estar certa de que estou fazendo tudo o que é possível - suplicou ele.
- Dê-me um pouco mais de tempo.
- Isso não compete a mim, doçura. O problema é com H. P.
E a linha ficou muda.
Halston continuou sentado, amaldiçoando o destino. Onde poderia encontrar uma
esmeralda de dez quilates idêntica? Ele estava tão absorvido em seus pensamentos
amargurados que não ouviu a campainha do interfone até o terceiro toque. Apertou
o botão e disse bruscamente:
- O que é?
- Há uma certa Condessa Marissa no telefone, Sr. Halston. Quer falar sobre o
nosso anúncio da esmeralda.
Mais uma! Ele já recebera pelo menos dez telefonemas naquela manhã e todos
haviam sido uma perda de tempo. Ele pegou o telefone e disse rudemente:
- Pois não?
Uma voz feminina suave disse, com um sotaque italiano:
- Buon giorno, signore. Li que está interessado em comprar una esmeralda. É
verdade?
- Se corresponde às minhas exigências, é, sim.
Ele não podia esconder a impaciência de sua voz.
- Tenho uma esmeralda que pertence à minha família há muitos anos. É um
pecado, uma pena, mas me encontro agora numa situação em que sou obrigada a
vendê-la.
Ele já ouvira aquela história antes. Devo tentar o Christie's novamente,
pensou Halston. Ou o Sotheby's. Talvez alguma coisa tenha aparecido no último
momento ou...
- Signore? Está procurando por uma esmeralda de dez quilates, si?
- Exatamente.
- Tenho uma verde de dez quilates... Colombiana.
Quando começou a falar, Halston descobriu que sua voz estava estrangulada:
- Pode... pode dizer isso de novo, por favor?
- Si. Tenho uma verde colombiana de dez quilates. Estaria interessado?
- Posso estar - disse Halston, cuidadosamente. - Poderia passar por aqui para
eu dar uma olhada na pedra?
- Não, scusi, mas infelizmente me encontro muito ocupada neste momento.
Estamos preparando uma festa na embaixada para meu marido. Talvez na próxima
semana eu poderia...
Não! Na próxima semana seria tarde demais.
- Posso então ir procurá-la? - Halston tentou eliminar a ansiedade de sua
voz. - Posso ir agora mesmo.
- Ma, no. Sono occupata stamani. Planejei sair para fazer algumas compras
e...
- Onde está hospedada, condessa?
- No Savoy.
- Posso estar aí dentro de quinze minutos. Dez.
A voz de Halston era quase desesperada
- Molto bene. E seu nome é...
- Halston... Gregory Halston.
- Suíte ventisei... vinte e seis.
A corrida de táxi foi interminável. Halston passou das culminâncias do
paraíso para as profundezas do inferno e tornou a voltar. Se a esmeralda fosse
realmente similar à outra, ele seria rico além de seus sonhos mais desvairados.
Ele pagará 400 mil dólares! Um lucro de 300 mil. Compraria uma propriedade na
Riviera, talvez um iate. Com uma vila e seu próprio barco, poderia ter tantos
rapazes bonitos quanto quisesse...
Gregory Halston era ateu, mas ao seguir pelo corredor do Savoy Hotel para a
Suíte 26 descobriu-se a rezar: Faça com que a pedra seja bastante parecida para
satisfazer o velho H. P. Benecke.
Ele parou diante da porta da condessa, respirando fundo, lutando para se
controlar. Bateu na porta. Não houve resposta. Oh, Deus, pensou Halston, ela não
esperou por mim. Saiu para fazer compras e...
A porta se abriu e Halston descobriu-se na frente de uma mulher elegante, na
casa dos 50 anos, olhos escuros, um rosto vincado, cabelos pretos com muitos
fios brancos. Quando ela falou, a voz era suave, com o familiar sotaque italiano
melodioso:
- Si?
- Sou Gre-gregory Halston. Re-recebi seu telefonema.
Em seu nervosismo, ele estava gaguejando.
- Ah, si. Sou a Condessa Marissa. Entre, signore, per favore.
- Obrigado.
Halston entrou na Suíte, comprimindo os joelhos juntos, para impedir que
tremessem. Quase que disse impulsivamente: "Onde está a esmeralda?" Mas sabia
que devia se controlar. Não era conveniente que parecesse muito ansioso. Se a
pedra fosse satisfatória, teria a vantagem na negociação. Afinal, ele era o
perito, enquanto a mulher não passava de uma amadora.
- Sente-se, por favor - disse a condessa.
Ele ocupou uma cadeira.
- Scusi. Non parlo molto bene inglese.
- Não, não. É encantador, encantador...
- Grazie. Aceita um café? Chá?
- Não, obrigado, condessa.
Halston podia sentir o estômago se contraindo. Seria cedo demais para falar
da esmeralda? Mas não podia esperar por mais um segundo sequer.
- A esmeralda...
- Ah, si... A esmeralda me foi dada por minha avó. Eu gostaria de dá-la à
minha filha quando completasse vinte e cinco anos, mas meu marido está iniciando
um novo negócio em Milão e...
A mente de Halston estava em outras coisas. Não se interessava pela tediosa
história da vida da estranha sentada à sua frente. Sentia-se ansioso em ver a
esmeralda. O suspense era mais do que podia suportar.
- Credo che sia importante ajudar meu marido a iniciar seu novo negócio. -
Ela sorriu tristemente. - Talvez eu esteja cometendo um erro...
- Não, não - Halston apressou-se em dizer. - Absolutamente, condessa. O dever
de uma esposa é ficar ao lado de seu marido. Onde se encontra a esmeralda?
- Está aqui.
Ela meteu a mão no bolso e tirou uma jóia, envolta em papel de seda,
estendendo para Halston. Ele contemplou-a e seu coração se reanimou. Olhava
agora para a mais perfeita esmeralda colombiana de dez quilates que já vira. Era
tão próxima, na aparência, tamanho e cor, da que vendera à Sra. Benecke que era
quase impossível distinguir uma da outra. Não é exatamente a mesma coisa, disse
Halston a si mesmo, mas somente um perito poderia reconhecer a diferença.
Ele virou a pedra, deixando a luz incidir sobre as facetas, depois disse em
tom de quase desinteresse:
- É uma pedra bastante bonita.
- Spiendente, si. Eu a tenho amado muito por todos estes anos. Detestarei me
separar dela.
- Está fazendo a coisa certa - assegurou-lhe Halston. - Assim que o
empreendimento de seu marido começar a dar bons resultados, poderá comprar
tantas pedras assim quantas desejar.
A condessa suspirou.
- É exatamente o que eu penso. Você é molto simpático.
- Estou prestando um pequeno serviço a um amigo, condessa. Temos pedras muito
melhores do que esta em nossa loja, mas meu amigo quer uma que combine
exatamente com a esmeralda que comprou para a esposa. Calculo que ele estaria
disposto a pagar até sessenta mil dólares por esta pedra.
- Minha avó me amaldiçoaria da sepultura se eu vendesse sua esmeralda por
sessenta mil dólares.
Halston contraiu os lábios. Tinha margem para subir o preço. Ele sorriu.
- Vamos fazer uma coisa... Acho que posso persuadir meu amigo a subir até cem
mil dólares. É muito dinheiro, mas ele está ansioso em obter a pedra.
- Parece um bom preço.
O coração de Gregory Halston inflou dentro do peito.
- Bem! Eu trouxe o talão de cheques. Assim, farei um cheque agora mesmo...
- Ma, no... Infelizmente, isso não resolverá o problema.
A voz da condessa era triste. Halston ficou aturdido.
- O problema?
- Si. Como expliquei, meu marido vai se lançar em um novo negócio e precisa
de trezentos e cinqüenta mil dólares. Eu tenho cem mil dólares do meu dinheiro
para lhe dar, mas preciso de mais duzentos e cinqüenta mil. Esperava conseguir
isso com a esmeralda.
Ele sacudiu a cabeça.
- Minha cara condessa, nenhuma esmeralda no mundo vale tanto dinheiro.
Acredite em mim, cem mil dólares é mais do que uma oferta justa.
- Tenho certeza disso, Sr. Halston. Mas não poderei ajudar meu marido, não é
mesmo? - A condessa levantou-se. - Guardarei a esmeralda para a nossa filha.
Ela estendeu a mão esguia e delicada.
- Grazie, signore. Obrigada por ter vindo.
Halston entrou em pânico.
- Espere um momento. - Sua ganância duelava com o bom senso, mas ele sabia
que não devia perder aquela esmeralda agora. - Sente-se, por favor, condessa.
Tenho certeza de que podemos chegar a um acordo justo. Se eu puder persuadir meu
cliente a pagar cento e cinqüenta mil...
- Eu só venderia por duzentos e cinqüenta mil...
- Que tal duzentos mil?
- Só duzentos e cinqüenta mil dólares.
Não havia como demovê-la. Halston tomou sua decisão. Um lucro de 150 mil
dólares era melhor do que nada. Significaria uma vila e um barco menores, mas
ainda era uma fortuna. E seria bem feito para os irmãos Parker pela maneira
mesquinha como o haviam tratado. Esperaria um dia ou dois e depois lhes daria o
aviso prévio. E na próxima semana estaria na Côte d'Azur.
- Negócio fechado - disse ele finalmente.
- Meraviglioso! Sono contenta!
Deve mesmo estar contente, sua cadela, pensou Halston. Mas ele nada tinha do
que se queixar. Estava com a vida feita. Lançou um último olhar para a esmeralda
e depois guardou-a no bolso.
- Eu lhe darei um cheque da conta da loja.
- Bene, signore...
Halston preencheu o cheque e entregou-o. Faria a Sra. H. P. Benecke pagar 400
mil dólares pela esmeralda. Peter descontaria o cheque para ele, cobriria o
cheque dos irmãos Parker que dera à condessa e embolsaria a diferença.
Combinaria com Peter para que o cheque de 250 mil dólares não constasse do
extrato mensal dos irmãos Parker. Eram 150 mil dólares!
Ele já podia sentir o quente sol francês em seu rosto.
A viagem de táxi de volta à loja pareceu demorar apenas uns poucos segundos.
Halston imaginou a felicidade da Sra. Benecke quando lhe transmitisse a boa
notícia. Não apenas encontrara a jóia que ela queria, mas também lhe poupara a
experiência dolorosa de viver numa casa de campo desmantelada e cheia de
correntes de ar. Assim que Halston entrou na loja, Chilton aproximou-se e disse:
- Senhor, um cliente aqui está interessado em...
Halston dispensou-o com um aceno jovial.
- Mais tarde.
Ele não tinha tempo para os clientes agora. Nem agora nem nunca mais. Dali
por diante, as pessoas teriam de servir a ele. Faria compras na Hermes, Gucci e
Lanvin.
Halston foi para a sua sala, fechou a porta, pôs a esmeralda em cima da mesa
e discou um número. A telefonista atendeu:
- Dorchester Hotel.
- Suíte Oliver Messel, por favor.
- Com quem deseja falar?
- Sra H. P. Benecke.
- Um momento, por favor.
Halston ficou assobiando baixinho enquanto esperava. A telefonista voltou à
linha:
- Lamento, mas a Sra. Benecke já deixou a suíte.
- Pois então me ligue para a Suíte em que ela está agora.
- A Sra. Benecke deixou o hotel.
- Mas isso é impossível. Ela...
- Vou ligá-lo com a recepção.
Uma voz de homem disse:
- Recepção. Em que posso servi-lo?
- Qual é a suíte em que está a Sra. Benecke?
- A Sra. Benecke deixou o hotel esta manhã.
Tinha de haver alguma explicação. Alguma emergência inesperada.
- Pode me informar o endereço que ela deixou, por favor? Aqui é...
- Lamento, mas ela não deixou qualquer endereço.
- Mas é claro que ela deixou!
- Fiz pessoalmente o registro de saída da Sra. Benecke. Ela não deixou
qualquer endereço.
Foi um murro na boca do estômago. Lentamente, Halston repôs o telefone no
gancho e ficou imóvel na cadeira, atordoado. Tinha de encontrar um meio de
entrar em contato com a mulher, informá-la que conseguira finalmente localizar a
esmeralda.
Enquanto isso, tinha de recuperar o cheque de 250 mil dólares que entregara à
Condessa Marissa. Ele discou prontamente para o Savoy Hotel.
- Suíte 26.
- Com quem deseja falar, por favor?
- Condessa Marissa.
- Um momento, por favor.
Mas, antes mesmo que a telefonista voltasse à linha, alguma terrível
premonição revelou a Gregory Halston, a notícia desastrosa que estava prestes a
ouvir.
- Lamento muito, mas a Condessa Marissa já saiu do hotel.
Ele desligou. Os dedos tremiam tanto que mal conseguiu discar o número do
banco.
- Dê-me o chefe dos caixas... Depressa! Eu gostaria de suspender o pagamento
de um cheque.
Mas é claro que ele estava atrasado demais. Vendera uma esmeralda por cem mil
dólares e comprara de volta a mesma esmeralda por 250 mil dólares. Gregory
Halston continuou sentado, arriado na cadeira, imaginando como iria explicar
isso aos irmãos Parker.
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