No Rastro de Hermione
No Rastro de Hermione
Duda Dursley já sabia qual o propósito da reunião daquela manhã na sala de J.
J. Reynolds, pois todos os investigadores da companhia haviam recebido no dia
anterior um memorando sobre o roubo de Lois Bellamy, que ocorrera uma semana
antes.
Duda detestava reuniões. Era impaciente demais para ficar sentado a escutar
uma conversa estúpida.
Ele chegou ao gabinete de J. J. Reynolds com 45 minutos de atraso. Reynolds
estava no meio de um discurso.
- Foi muita gentileza sua aparecer - comentou J. J. Reynolds, sarcástica-
mente.
Não houve reação. É uma perda de tempo, concluiu Reynolds. Dursley não
compreendia o sarcasmo... nem qualquer outra coisa, na opinião de Reynolds. Só
sabia como pegar criminosos. É nisso, ele tinha de admitir, o homem era um
verdadeiro gênio.
Três dos principais investigadores da organização estavam sentados na sala:
David Swift, Robert Schiffer e Jerry Davis.
- Todos vocês leram o relatório sobre o roubo Bellamy - disse Reynolds. - Mas
uma coisa nova foi acrescentada. Acontece que Lois Bellamy é prima do comissário
de polícia e ele está furioso.
- E o que a polícia tem feito? - perguntou Davis.
- Tem se escondido da imprensa. Não posso culpá-lo por isso.
Os agentes que foram investigar se comportaram como Keystone Kops. Chegaram a
falar com a ladra, que surpreenderam na casa, mas deixaram-na escapar.
- Então devem ter uma boa descrição dela - sugeriu Swift.
- Eles têm uma boa descrição de sua camisola - respondeu Reynolds,
fulminante. - Ficaram tão impressionados com o corpo da mulher que seus cérebros
se derreteram. Nem mesmo sabem a cor de seus cabelos. Ela usava uma touca e o
rosto se achava coberto por um creme escuro de maquilagem. A descrição que
forneceram é de uma mulher de vinte e poucos anos, com um corpo fantástico e
peitos maravilhosos. Não há uma única pista. Não temos qualquer informação em
que nos basear. Absolutamente nada.
Duda falou pela primeira vez:
- Isso não é verdade.
Todos se viraram para fitá-lo, com graus variados de aversão.
- Do que está falando? Indagou Reynolds.
- Sei quem é ela.
Depois de ler o relatório, na manhã anterior, Duda resolvera dar uma olhada
na casa Bellamy, como o primeiro passo lógico. Para Duda Dursley, a lógica era a
ordenação da mente de Deus, a solução básica para todos os problemas;
aplicando-se a lógica, sempre se começava pelo começo. Seguira de carro para a
propriedade Bellamy, em Long Island, dera uma olhada e voltara para Manhattan,
sem saltar. Descobrira tudo o que precisava saber. A casa era isolada e não
havia meio de transporte público nas proximidades, o que significava que a ladra
só poderia ter chegado lá de carro particular. E ele explicou seu raciocínio aos
homens na sala de Reynolds:
- Como ela provavelmente relutaria em usar seu próprio carro, que poderia
levar à sua identificação, o veículo tinha de ser roubado ou alugado. Resolvi
verificar primeiro as agências de aluguel. Presumi que ela teria alugado o carro
em Manhattan, onde lhe seria mais fácil cobrir sua pista.
Jerry Davis não ficou impressionado.
- Você deve estar brincando, Dursley. Milhares de carros são alugados todos
os dias em Manhattan.
Duda ignorou a interrupção.
- Todas as operações de aluguel de carros são computadorizadas. Relativamente
poucos carros são alugados por mulheres. Verifiquei todas. A mulher em questão
foi à Budget Rent-a-Car, na Rua 23-Oeste, alugou um Chevy Caprice às oito horas
da noite do roubo, devolveu-o às duas horas da madrugada.
- E como sabe que foi o carro usado no roubo? - perguntou Reynolds.
Duda sentia-se entediado com as perguntas estúpidas.
- Verifiquei a quilometragem. São 51 quilômetros até a casa de Lois Bellamy e
outros 51 quilômetros para voltar. Confere exatamente com o velocímetro no
Caprice. O carro foi alugado em nome de Ellen Branch.
- Um nome falso - disse David Swift.
- O verdadeiro nome dela é Hermione Granger.
Todos o fitavam aturdidos e foi Schiffer quem indagou:
- Como sabe disso?
- Ela deu um nome e endereço falsos, mas tinha de assinar o contrato de
aluguel. Levei o original para a polícia e pedi que verificassem as impressões
digitais. Eram as de Hermione Granger. Ela cumpriu uma pena na Penitenciária
Meridional da Louisiana Para Mulheres. Se estiverem lembrados, conversei com ela
há cerca de um ano, a propósito daquele Renoir roubado.
- Claro que me lembro - disse Reynolds. - Falou na ocasião que ela era
inocente.
- E era mesmo... naquela ocasião. Não é mais inocente. Cometeu o roubo na
casa Bellamy.
O filho da puta conseguira novamente! E fizera com que tudo parecesse muito
simples. Reynolds, fez um esforço para não se mostrar relutante:
- Foi... foi um ótimo trabalho, Dursley. Um trabalho realmente excelente.
Vamos agarrá-la. Entraremos em contato com a polícia e...
- Sob que acusação? - perguntou Duda, suavemente. - Alugar um carro? A
polícia não pode identificá-la e não há qualquer vestígio de prova contra ela. -
O que devemos fazer então? - indagou Schiffer. - Deixar que ela escape impune?
- Desta vez, sim - respondeu Duda. - Mas sei agora quem ela é. Tentará alguma
coisa outra vez. E quando isso acontecer, eu a pegarei.
A reunião finalmente terminou. Duda queria desesperadamente tomar um banho de
chuveiro. Tirou do bolso um caderninho preto e anotou com extremo cuidado:
HERMIONE GRANGER.
E pensou novamente de onde já ouvira esse nome na adolescência.
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