Coração de Ouro



Seus cabelos castanho-claros estavam esparramados pela grande e confortável cama, misturando-se á colcha de cor vinho-tinto. Seus olhos verdes e brilhantes estavam fixos em uma fotografia; seus lábios avermelhados se abriram em um belo sorriso ao recordar seus pais.
Suzane Black estava deitada em sua cama, com o retrato de seus pais sob as mãos.
Pareciam estar em um belo dia de primavera; atrás deles havia uma grande árvore, projetando sombra sob eles. Sua mãe, Sarah Beauty, sorria alegremente. Seus cabelos louros e lisos estavam presos em um belo rabo-de-cavalo, e seus olhos azuis brilhavam fortemente, enquanto acenava para a filha, carinhosamente. Ao lado dela estava seu pai, Sirius Black. Olhava a filha demonstrando um misto de felicidade e orgulho. Seus olhos, do mesmo tom que seus cabelos, brilhavam ao observar a filha. Estava abraçado com Sarah; pareciam muito felizes.
Suzane correspondeu ao sorriso dos pais, observando-os. Como gostaria de estar ali, entre os dois, feliz ao te-los ao seu lado...
Porém, uma batida na porta foi o bastante para tirar Suzane daquele “sonho”. A porta se abriu no mesmo instante. A garota desviou o olhar do retrato, fitando a pessoa que entrara, com o olhar apreensivo.
- Ah, aí está você!
Uma mulher de cabelos castanho-escuros, lisos até abaixo do ombro, olhos negros e brilhantes, de estatura alta, magra e alva estava parada á porta. Abriu um belo sorriso quando viu Suzane. Caminhou até ela.
- Ah, alô, tia Andrômeda! – Suzane respondeu sorridente.
A garota havia sido criada por Andrômeda, desde pequena; como seu pai estivera preso em Azkaban, e a ausência de sua mãe nunca fora explicada á ela, Suzane permaneceu aos cuidados de Andrômeda. Mesmo sendo sua prima de segundo grau, Suzane sempre considerou Andrômeda como uma tia. Sim, uma tia muito querida. Suzane devia sua vida, tudo o que aprendera á ela.
Por outro lado, Andrômeda se divertia muito em companhia de Suzane. A garota lembrava seu pai, e Andrômeda tinha Sirius como seu primo preferido; um irmão, na realidade. Um irmão que nunca tivera. Seu marido, Ted Tonks, havia a deixado para sempre. Andrômeda não estava acostumada com sua morte, até começar a ter Suzane como uma filha, para ela, sua segunda filha. Sim, a primeira era a tão “maluca” e divertida Nymphadora Tonks.
Suzane e Tonks sempre se trataram como “irmãs”, mesmo Tonks sendo mais velha que ela, Suzane a tinha como uma “sábia irmã mais velha”.
Suzane se levantou, bocejando. Confessara para si mesma que estava com sono, mas não queria dormir. O dia deveria estar tão belo e ensolarado lá fora...
- Mas, que sono é este, menina? – Andrômeda perguntou, enquanto distraidamente começara a ajeitar a cama da “sobrinha”.
- Não sei tia. Acho que apareceu, como mágica. – Suzane riu, enquanto prendia com força os cabelos longos. Ficou observar a tia ajeitando sua cama. – Anh, tia... A senhora não descansa não? Vive ajeitando esta casa... Deveria ter um elfo doméstico!
Andrômeda parou por alguns instantes de estender a colcha corretamente, encarando sua sobrinha.
- Suzane! Para quê elfos domésticos? Eu mesma posso ajeitar esta casa... Na realidade, eu não me incomodo. Gosto de trabalhar em limpeza doméstica.
- Ah, claro. – Suzane murmurou, escondendo um riso. – Tonks me informou como a senhora ajeita direitinho as meias e as roupas. É muito inteligente, tia. Tonks me disse que, com um aceno de varinha, a senhora deixa tudo ajeitadinho. Pode me ensinar um dia?
- Vou pensar. – Andrômeda abriu um sorriso, acabando de ajeitar a cama da sobrinha, voltando a olhá-la. – Bem, gostaria que...
No momento em que Andrômeda iria terminar a frase, ouviram algo bater na janela. Suzane foi até a janela, curiosa. Ao observar que havia uma pessoa olhando em direção á janela no meio da rua, abriu um sorriso.
- Tia, minha querida tia! – Suzane brincou, indo até Andrômeda, parecendo estar animada. É o Josh!
- Josh? – Andrômeda perguntou, um pouco confusa.
- Sim, Josh! Aliás, Joseph Darkmoon. – Suzane lembrou a tia.
- Ahh, claro! Aquele menininho que sempre te chamava para andar de skate e patins?
- Tia... – Suzane se aproximou de Andrômeda, com um ar de riso na voz. – Ele não é mais um “menininho”, nem eu uma “menininha”... Agora somos adolescentes.
- Ah, sim, claro. – Andrômeda respondeu, dando uma risada. – Adolescentes ou “aborrecentes”? Bem, bem. O que será que ele quer agora?
As duas ouviram mais uma vez o mesmo barulho de antes; uma pedrinha sendo jogada á janela.
- JÁ VOU! – Suzane berrou ansiosa.
- Agora me deixou surda, querida. – Andrômeda a olhou séria. Caminhou até a janela, abrindo-a e encarando o rapaz que estava lá embaixo. – O que quer menino?
O garoto abriu um sorriso um tanto tímido. Mantinha as mãos nos bolsos da blusa de frio negra. Joseph, ou melhor, Josh, como Suzane o chamara, tinha costumes um tanto estranhos; usava blusa de frio mesmo que esteja um calor de derreter os blocos de gelo da Antártica; porém, aquela blusa era sua preferida. Praticamente Josh não ia a nenhum local sem vesti-la. Ele contara para Suzane que aquela blusa, ele ganhara de sua mãe, antes de morrer em um acidente no litoral.
Mesmo Joseph sendo trouxa, e não bruxo, como Suzane, a garota não se importava. Ele era seu melhor amigo; desde pequenos andavam juntos, se divertiam juntos, e até compartilhavam de suas tristezas.
Joseph levou uma das mãos até os cabelos castanhos e lisos, tirando-os dos olhos do mesmo tom dos cabelos. Logo após, voltou a olhar para Andrômeda.
- Com licença, senhora. – Ele respondeu, engrossando mais a voz. Andrômeda tentou não rir. – Eu gostaria de falar com a Suzane... Sabe, gostaria de convidá-la para irmos ao parque, andar de skate, como sempre.
- Ahh, sim, convidar minha sobrinha, eh? – Andrômeda perguntou, menos séria que antes.
- Exatamente. Ela está?
Suzane chegou ao lado de sua tia, tentando encontrar Josh com o olhar. De fato, a cortina vermelha atrapalhava sua visão, já que Andrômeda estava em frente á janela.
- Estou! – A menina tentou gritar, com a voz um pouco sufocada.
- Ah, sim, ela está... Mas, não poderá sair agora, porque ela terá de sair comigo. – Andrômeda informou. Suzane soltou um muxoxo.
- Por favor, tia! Preciso falar com o Josh, é urgente!
- Mas, a senhora não pode pelo menos deixá-la dar uma volta comigo? – Joseph perguntou, parecendo estar desanimado de uma hora para a outra.
Andrômeda respirou fundo; logo após, consultou o relógio em seu pulso.
- São uma e meia. – Ela disse, ainda encarando o relógio. – Quero que estejam de volta em uma hora. Certo? – Perguntou, voltando a encarar Joseph e depois Suzane.
- Obrigada, tia! – A garota a abraçou brevemente, sorridente, e logo depois desapareceu correndo do quarto, descendo as escadas com profunda rapidez e chegando ao hall. No meio do caminho, esquecera de algo muito importante; seu skate. Respirou fundo, e deu meia-volta, subindo as escadas novamente e entrando em seu quarto. Andrômeda estava olhando sua estante, procurando algo desarrumado para arrumar. Suzane tossiu e a tia se virou, encarando-a.
- Mas, não ia ao parque? Vamos, o tempo está passando!
- Estou indo, tia! Esqueci meu skate, com essa alegria toda. – Suzane informou, tentando ficar calma. Foi até seu guarda-roupa e o abriu. Lá estava seu skate, embaixo de suas calças colocadas um pouco corretamente nos cabides. Suzane pegou o mesmo e fechou a porta do guarda-roupa, sorrindo. Amava seu skate. De fato, ele era bonitinho; era vermelho – sim, Suzane amava a cor vermelha – e tinha alguns dizeres escritos em cor preta. Também possuía alguns adesivos, aliás, vários, e no canto um desenho que Suzane fizera de sua tão querida casa, Grifinória. Foi até a tia e deu-lhe um beijo no rosto, se afastando e saindo do quarto. Porém, algo lhe bateu no coração... Como esquecera?
Entrou lentamente no quarto, sentindo um peso de culpa em seu coração. Aquilo, mesmo sem lógica, era tão precioso para ela...
Suzane caminhou até seu criado-mudo, ajoelhando-se e abrindo a gaveta do mesmo. Tateou a mesma, á procura do mais importante presente que recebera; ao sentir que encontrara, puxou lentamente o objeto das sombras da gaveta, finalmente podendo enxergá-lo...
Em uma bela corrente de ouro estava pendurado um pingente, do mesmo tom. Era em formato de coração, e parecia conter algo dentro do mesmo. Não era tão grande, mas nem tão pequeno. Em volta do coração, parecia conter algo parecido com chamas douradas. Sim, a pessoa que criara aquele objeto tentara descrever um coração em chamas. Suzane sempre quis descobrir o que havia dentro dele, mas nunca conseguira abri-lo. Já Tentara por várias noites sem sono desvendar o que havia dentro daquele pequeno coração, mas não conseguira. Isso estava começando a deixá-la perturbada; por que era tão difícil?
Ganhara de Alvo Dumbledore, diretor de Hogwarts. Ganhara quando entrou em Hogwarts, porém, durante aqueles anos Dumbledore nunca havia contado á ela o porquê de ter um objeto daqueles.
Suzane ainda lembrava da primeira semana em que pisara em Hogwarts. Lembrara quando pisara pela primeira vez na sala do diretor.
Em sua mente estava projetada a sala magnífica de Dumbledore, e havia uma menina de 11 anos sentada sob a cadeira em frente á mesa do diretor. Ela olhava ansiosa, tudo o que havia ali. Parecia não acreditar muito bem no que vira. Apreciava Fawkes, a fênix do diretor, se refazer lentamente das cinzas.
- Ah, Srta. Black. Desculpe pela demora.
Suzane se virou observando o diretor chegar. Dumbledore mantinha uma expressão passiva e um sorriso nos lábios. Parecia estar segurando uma caixinha prateada nas mãos. Suzane sorriu levemente.
- Olá, diretor. Está tudo bem.
Dumbledore passou pela menina, sentando-se por trás da mesa, olhando-a por entre seus óclinhos de meia-lua.
- Fico feliz que esteja aqui, Srta. Black. – Seu tom estava o mais calmo dos tons; ele conversava com a menina como se fosse sua neta. – Sim, sim. Seu primeiro ano em Hogwarts, Tenho certeza que achará fascinante esta escola. Seu pai gostava muito de Hogwarts, se me permite dizer. O que ele não gostava muito era das regras; ele costumava desrespeitar a maioria.
Suzane não sabia se ria ou se ficara seriamente sentida; mas, pelo tom de voz de Dumbledore, ele não parecia estar nervoso ou com rancor. Por outro lado, parecia estar falando em um leve tom de brincadeira. Ao notar isso, Suzane riu levemente.
- Ah, sim, sua mãe. Delicada e respeitadora de regras, como sempre. – Dumbledore continuou olhando a menina com carinho. – Posso confirmar que Sarah foi uma grande influência sob a vida de Sirius. Ele mudou bastante depois de conhecer sua mãe. Ah, claro. Parece muito com sua mãe, Srta.Black. Porém, o jeito de olhar e o sorriso me lembram Sirius.
Dumbledore sorriu; Suzane se sentiu mais aliviada ao ver que o diretor comentava sobre os pais da garota com satisfação.
- Porém, o que tenho para lhe entregar foge um pouco deste assunto... – Ele se levantou lentamente, e Suzane fez igualmente. – Quero que o use por toda sua vida; nunca o abandone, ele será muito importante para você. Aqui dentro contém um grande mistério que mudará toda sua vida, Srta. Black.
A menina, mesmo confusa, acenou com a cabeça. Dumbledore recolheu a caixinha prateada da mesa, segurando-a nas mãos. Aproximou-se de Suzane, abrindo a caixinha lentamente. A menina observava apreensiva.
Dumbledore tirou um estranho – e ao mesmo tempo belo – objeto de dentro da caixinha. Um pingente brilhante que era segurado por uma corrente dourada, e, por mais estranho que fosse o pingente tinha um formato de coração em brasas. Suzane o encarou por alguns instantes, se perguntando o que significava aquilo. Dumbledore não a conhecia perfeitamente para lhe dar algo, e ela o mesmo. Era o primeiro ano dela ali, e ela não conhecia praticamente nada da escola. Estranhara a atitude do diretor, porém, não iria discutir.
- Com licença. – Dumbledore pediu, enquanto abria e esticava a corrente, colocando-a no pescoço da garota. O coração em brasas ficara encostado na região cardíaca da menina. Era como se houvessem dois corações.
- Obrigada, anh, diretor. – Suzane agradeceu ainda confusa. Observou o pingente por mais alguns instantes, antes de levantar a cabeça e encarar Dumbledore. – Mas, diretor, para que me servirá este objeto?
- Você saberá na hora certa, Srta. Black. – Dumbledore lhe respondeu, calmo como sempre. Afastou-se da menina, indo até Fawkes e observando-a. – Este coração em brasas, pequeno pingente, é como Fawkes... – Ele disse baixo, ainda olhando para a fênix, porém com a voz um pouco distante. – Sempre renascerá das cinzas...
Suzane observou o diretor, mais confusa ainda. Ao se retirar de sua sala, vagou pelos corredores, com seu pensamento distante...
Porém algo acordara Suzane, já jovem, de suas lembranças.
Sentiu algo bater-lhe fortemente sob a cabeça, e logo olhou para os lados, assustada. Viu que era mais uma pedrinha ao chão; Josh parecia estar com pressa. Suzane desceu rapidamente as escadas e foi até o hall. Com uma mão abriu a maçaneta da porta, enquanto, com a outra, segurava o skate.
- Finalmente! – Joseph exclamou, respirando fundo. –Já perdemos 20 minutos! O que estava fazendo? – Ele perguntou ansioso. – Esqueceu onde estava seu skate mais uma vez?
Suzane balançou a cabeça negativamente, sem dizer nada. Joseph respirou fundo, jogando mais uma vez os cabelos para trás.
- Bem, então, vamos? – Ele iria perguntar, porém Suzane já estava em seu skate, descendo a rua. – Hey, espere por mim! – Ele exclamou, rapidamente pisando em seu skate, tão negro e grafitado, e descendo a rua, logo atrás da menina de skate vermelho.

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