+ As verdades vêm à tona
Mas não sentiu nada. Talvez morrer não fosse tão ruim como ele imaginava; não sentiu sua alma saindo do corpo, nem dor, nem ao menos ouviu pessoas gritando, desconsoladas. Ouviu, sim, alguns assobios e, sim, quem sabe, um grito petrificado... mas nem de longe imanaginara que fosse assim...
Mas ele não estava morto! Estava respirando... nervosamente, aos arrancos, mas respirava... tremia, também, e podia ouvir seu próprio coração, um tambor descompassado... E não tinha mais dúvidas de que estava vivo...
Intrigado, Harry abriu os olhos.
Marienne ainda conservava o olhar fixo e o braço esticado, a mão segurando a varinha; tremia também,, nervosamente, assustada com o que acabara de fazer. Seus lábios também tremiam, apesar de não haver o mínimo frio no local... Confuso, Harry se inclinou para ver o resto da cena; estava impossibilitado de ver qualquer coisa que estivesse à frente de Marienne, tal era a sua posição na escada. Inclinou-se... e descobriu o que Marienne fizera. E não conteve um assobio de exasperação.
Bellatrix estava caída no chão, o rosto afundado no tapete. Claramente morta. Fagulhas verdes ainda saíam da ponta da varinha de Marienne.
Marienne parecia desesperada.
– Minha própria irmã... eu matei a minha própria irmã.... como eu pude fazer isso... – Murmurava, os lábios ainda tremendo. Draco, que há poucos minutos fora derrubado por Harry, se mexia incomodamente no chão, parecendo reagir ao feitiço. Em pouco tempo ele abriu os olhos e encontrou forças para assistir a cena completa. No momento em que percebeu o ocorrido, gritou:
– Venha! Vamos embora! Venha junto comigo, Mari! – Pediu Draco, falando aos arrancos, como se cada palavra esgotasse a reserva de ar de seus pulmões. Marienne continuava petrificada no mesmo lugar, o braço esticado segurando uma varinha assassina que cuspia fagulhas fatais...
O momento seguinte ocorreu muito rápido; houve uma grande explosão do lado externo da porta da sala, e em seguida um barulho terrível de queda e contato de madeira com o chão. Harry viu Draco voar longe e bater a cabeça na parede, ficando desacordado no mesmo segundo. Houve barulho e muita tosse de todos os lados, até surgir, entre as nuvens de fumaça e serragem, uma garota de longos cabelos castanhos suavemente ondulados e olhos negros como a noite. Tinha uma expressão decidida no olhar, e um sorriso triunfante estava desenhado em seu rosto. Era tão baixa quanto Hermione, embora parecesse alguns poucos anos mais velha do que ela; seus olhos astutos esquadrinharam toda a sala antes de encontrar os olhos de Marienne. Assim feito, riu, triunfal e abertamente.
– Finalmente! Finalmente eu consegui! Tanto tempo... tantos anos.... e finalmente a peguei! – A garota riu e estendeu a varinha. Sua voz era firme e tinha ímpeto – Encarcerous! – Diversas cordas amarraram Marienne fortemente em torno dela mesma, e ela caiu pesadamente no chão. Harry pensou em acudir a namorada, mas hesitou, podia colocar mais coisas do que queria em jogo; resolveu falar com a desconhecida.
– Quem é você? – Perguntou Harry, dirigindo-se à mulher, descendo as escadas. Suas pernas estavam meio moles.
A mulher pareceu estranhar a pergunta e encarou Harry com a testa franzida; dois segundos depois, porém, pareceu lembrar-se de algo e deu uma risada estranha.
– Ah, é verdade... você não me reconheceria sob essa forma... evidentemente... – a moça riu mais uma vez, antes de encarar Harry significativamente. – Mas, ainda assim... não lembro ninguém à você?
Harry olhou-a com cautela e lentamente; sim, de fato lembrava-lhe alguém, mas não conseguia atinar a quem... parecia alguém que já vira somente uma vez na vida, ou algo assim... fitou-a com mais insistência, mas desistiu.
A moça sorriu, parecendo fazer Legilimência com ele. Em seguida, ela fechou os olhos com força, se concentrando, pensando, esforçando... Harry teria ficado assustado com suas reações, se não tivesse visto Tonks se transformar antes. Estava em frente a uma Metamorfomaga, e assistia a sua transformação. Ficou assustado, mesmo, ao perceber em quem ela estava se transformando.
Os cabelos longos, escuros e cheios de ondas encurtaram, alisaram e começaram a clarear violentamente a partir da raiz até as pontas, ficando completamente loiros; houve um lampejar de luz em seus olhos negros, que se tornaram castanho-claros em alguns milésimos de segundo; enfim, a garota se tornou mais pálida e um pouco mais alta. E sua transformação cessou.
– Katty? – Murmurou Harry, incrédulo. A garota o encarava com pena; não exibia mais aparelhos nem sotaque quando falou com ele:
– Desculpe, Harry, mas eram ordens do Comando Superior Anti-Trevas; eu não podia revelar quem era. Muitos dos professores do CT nem ao menos sabiam que eu estava lá... foi uma medida necessária e secreta ao mesmo tempo, e não podia deixar que alguém descobrisse que eu já era uma Auror.
Uma lembrança inútil surgiu na cabeça de Harry... a expressão que Lebatofsky fez quando respondeu sua primeira pergunta... ele desconfiara dela, sim, não imaginava como alguém saberia responder àquela pergunta... devia ter imaginado, devia ter percebido, pensou Harry.
Katty o observava astutamente. Harry não sabia o que dizer.
– Katty não é seu nome verdadeiro, evidentemente? – Perguntou Harry, sem ter outro assunto para falar, cheio de tédio.
– Não... meu nome é Gywneth, pode me chamar de Gwen – disse a jovem, parecendo triste por algum motivo – Sabe, Harry... eu gostaria de não ter que fazer isso com ela – e enviou um olhar rancoroso para Marienne –, mas eu não tenho muita opção... ela é uma Comensal da Morte caçada há anos, sabe... e tem um parentesco... bem, meio duvidoso, mas acredito que você já saiba de tudo.
– Ela não era Comensal da Morte por opção – Disse Harry com raiva. Encarou o rosto falso da Auror que lhe falava, já que ela ainda conservava as feições de outra personalidade, Katty.
A Auror pareceu ofendida.
– Harry, eu tenho que lhe alertar... ela já fez a sua cabeça completamente! Você tem que tomar cuidado! Imaginei que você seria abertamente a favor de caçar uma Comensal da Morte que planejava ardilosamente a sua morte... mas pelo visto estava enganada! Mas não temos problemas aqui, Harry... uma pequena dose de Poção da Verdade, com a autorização selada pelo Ministério da Magia, e tudo estará resolvido! – Houve um barulho atrás dos dois, e Harry virou-se; não estava agüentando aquela situação. Encontrou Rony e Hermione voltando à consciência, embora parecessem muito abalados e abatidos. Rony estava aparentemente prestes a vomitar, e não se podia dizer algo muito diferente sobre Hermione, embora a garota parecesse se conter como podia. Os dois se levantaram com muito esforço, Rony tentando amparar a namorada com o ombro, embora soubesse intimamente que mal se agüentava em pé sozinho, e os dois cambalearam fracamente até um grande e empoeirado sofá. Gywneth os encarou estupefata, e em seguida correu até eles, retirando um frasco de vidro verde do bolso. Harry foi atrás dela.
– O que você está fazendo? – Perguntou Harry, rapidamente e ofegando, por causa da corrida.
– Salvando a vida deles... – Disse Gywneth, distraidamente, agora retirando dois copinhos de vidro de dentro das vestes. Serviu um pouco de poção em cada um dos copos e os forçou garganta adentro dos dois – é temporário, mas pelo menos ajuda até eles serem levados para o St. Mungus. Estanca o sangramento e a dor, sabe... – Gywneth reparou que Harry a observava e sorriu.
– Mas, afinal... porque você estava no Centro de Treinamento, fingindo ser uma estudante? –Perguntou Harry, e teve que ouvir em resposta um bufo mal-humorado.
– Ah, Harry... você é um garoto tão inteligente! Não me faça perder as esperanças com você... – Ela riu, embora Harry não achasse graça nenhuma. Então ela parou de sorrir e disse, séria – espere eu reanimar esses dois e você entenderá tudo, eu prometo. Tudo o que você quiser saber, por que eu sei que há ainda muito o que lhe explicar... sobre o passado da Marienne, sobre tudo. Você tem que saber, e vai saber. Só preciso de um tempo.
Ela disse “Enervate!” para sua varinha, e reanimou Hermione e Rony. O garoto ainda parecia bastante mal, nem ao menos se atrevia a mudar de posição no sofá, mas Hermione aprumou-se da melhor maneira possível. Encarou Gywneth com o rosto que utilizava para ser Katty, olhou para Harry e deu um grito.
– Gwen! Digo... Katty! Mas.. mas... – Exclamou Hermione, levantando-se, mas Gywneth obrigou-a a sentar-se.
– Você não está bem e precisa de repouso. Só quero lhe avisar que cheguei, está tudo bem e vou contar tudo para o Harry. Aliás, ele já sabe que eu sou a Katty. Não precisa se preocupar, e obrigada por ter me chamado. É o momento mais oportuno.
– “Obrigada por ter me chamado”? – Exclamou Harry, sobressaltando as duas garotas. – Espere aí, foi você, Mione, quem chamou ela aqui?? – Harry nem tinha percebido que estava gritando; como Hermione fora capaz de chamar uma Auror lá? Não sabia que a liberdade de Marienne também estava em risco? Encarou Hermione com fúria, a garota trêmula no mesmo lugar. Harry sabia que ela não estava bem, mas estava pouco se importando com isso agora!
– Harry, eu não sabia o que podia acontecer, eu... – Hermione parecia desconsolada, falava muito baixo e com um tom de voz rouco. – Foi a única solução que eu encontrei!
– E fez muito bem! – Gritou a ex-Katty – E você fique quieta aí, eu já vou chamar alguém do St. Mungus para cuidar de vocês! – Disse Gywneth apontando Hermione.
– O St. Mungus está em chamas agora. – Notificou Harry, furioso.
– Então chamo meu primo, que é medi-bruxo individual. Ele atende pessoas em casa – Avisou Gywneth. Ela retirou de dentro das suas vestes (sim, eram vestes bem largas) pergaminho e pena, anotou alguma coisa e fez um aviãozinho de papel. Em seguida, arremessou-o no ar, fazendo-o desaparecer instantaneamente. Em seguida, a bruxa voltou-se para Harry – Agora, Harry... tenha a bondade de se sentar. – Ela conjurou três cadeiras de espaldar reto e braços de madeira, indicou uma para Harry, e o garoto sentou-se, se sentindo desconfortável. Em seguida, a Auror se aproximou de Marienne e forçou algumas gotas de Veritaserum na garganta da outra; ao fim, acomodou Marienne na segunda cadeira que conjurara e colocou a última delas bem em frente à Marienne. Sentou-se e começou o interrogatório.
– Qual é o seu nome completo? – Perguntou a Auror.
– Marienne Black Langerwoof. – Respondeu a bruxa.
– Idade?
– 25 anos.
– Diga-me, Marienne... qual é o nome da sua irmã?
– Bellatrix Lestrange. – Marienne nem ao menos pestanejava para responder as perguntas; seus olhos estavam fixos frouxamente em um ponto na parede atrás de Harry. O garoto sentia-se mal em presenciar a cena... se ao menos pudesse intervir naquilo...
– Você tem falado com Bellatrix Lestrange ultimamente? Se sim, diga-me quando foi e por qual motivo. – Pediu Gywneth.
– Sim. Encontro-me com Bellatrix há cerca de sete anos, quando meu namorado morreu em uma briga de rua. Ela me obrigou a ir com ela, dizendo que eu estava desamparada e tinha um compromisso de vida com o meu namorado. Ela me disse que eu teria que ser a segunda mais fiel Comensal da Morte de todos os tempos, pois ela era a primeira.
Gywneth parecia extasiada.
– Certo, Marienne... agora, me diga quais foram os últimos planos que o seu Mestre lhe deixou.
– Eu não via muito o meu Mestre, estava falando mais com os amigos da minha irmã, eles cuidavam de mim e diziam que eu era uma parte importante para o plano final de Lord Voldemort, apesar de eu não saber claramente qual era o plano. Sempre me falavam muito sobre Harry Potter, e como era fundamental matá-lo. Não me diziam o porque exato, mas diziam que eu era uma peça chave caso o plano não funcionasse.
“ Um dia, porém, o Lorde das Trevas veio até mim e pediu que eu conversasse com ele em particular. Ele estava muito velho e cansado, era possível ver isso nos olhos e nas rugas dele. Disse que eu não poderia permitir que Harry Potter sobrevivesse. Era o final das férias do último ano letivo de Harry Potter. Ele me disse que, caso o último plano dele falhasse, eu deveria exterminar Potter o quanto antes, mesmo que ele não estivesse aqui para ver este fato. Ele sabia que não tinha muitas chances de sobrevivência, então alertou-me para o fato de que eu não podia deixar o nome dele na ruína. Queria que eu fosse a pessoa quem matou Harry Potter.”
– Preciso lhe interromper, Marienne – Disse Gywneth, parecendo calma. – Ele lhe disse o porque de querer que você matasse Harry?
– Sim – respondeu Marienne –, haviam dois motivos. Primeiro, ele nunca tinha me visto antes, então nunca saberia que eu era uma Comensal da Morte, além de ter idade suficiente para conquistá-lo. E depois, ele sabia que eu tenho ligação direta com Sirius Black, e adoraria ver o sofrimento de Harry ao descobrir isso quando eu o matasse.
– E... agora, me diga, como você conseguiu o cargo de Auror-Mestre de Poções do primeiro ano do Centro de Treinamento? – De fato, a voz de Gywneth era a mesma que usava quando fazia Katty, exceto pelo sotaque francês; Harry achou tremendamente estranho ouvir aquela voz falar tão seriamente.
– Estudei muito. Adorava Poções desde pequena, e sempre recebi uma instrução muito focada na arte de preparo das Poções e Envenenamentos. Era extremamente útil... realmente, consegui um cargo de confiança no Ministério por meus próprios méritos, e ninguém nunca desconfiou de mim, exceto alguns Aurores, por saberem que eu era irmã de uma das piores Comensais já vistas. Muitos achavam que eu não era digna de confiança, e realmente estavam certos. Eu me sentia muito mal por dentro, mas não podia revelar isso para o Lord. Era parte do plano ir conquistando, aos poucos, cargos importantes no Ministério. Era bom, assim eu podia voltar tarde para casa e não teria que ir nas festas dos Comensais da Morte.
– E como eram essas festas, Marienne?
– Terríveis. Eles passavam em alguns povoados de trouxas antes da festa, capturavam quem estivesse na rua e depois levavam as pessoas até o local da festa... e então matavam, dolorosamente, ou então torturavam, e bebiam muito, e gritavam muito. Eu podia fingir que não estava disposta a sair de casa, alegando doenças cada vez piores, e assim me livrava, mas por pouco tempo. Não podia deixar que o Mestre descobrisse.
– Você tinha amigos Comensais, Marienne?
– Tinha. Alguns amigos da minha irmã... e, principalmente, Draco Malfoy. Ele veio visitar o Mestre, junto com o pai, e me conheceu. Não somos tão diferentes em idade, então pudemos conversar normalmente. Ele continuou vindo todos os dias das férias, e nos tornamos amigos. Quando eu me sentia muito só e muito deprimida, ou me entricheirava no trabalho ou escrevia para o Draco. Nos falávamos todos os dias, praticamente, e ele me prometeu que viria ficar aqui comigo. E veio, há alguns meses atrás. Não queria fazer isso com ele, mas não tinha ninguém para me apoiar. E ele veio. Disse que gosta de mim, mas eu não posso aceitar nem acreditar nisso.
– Okey, okey, certo... agora, Marienne... eu quero que você me diga, passo a passo, como conseguiu o cargo no Centro de Treinamento dos Aurores e o que aconteceu lá em um dos primeiros dias. – Pediu Gywneth, parecendo muitíssimo irritada.
– O meu Chefe de Seção, sr. Alberlong, realmente acreditava que eu era capaz de entrar no Centro de Aurores, e me pediu para fazer um teste. Fiz e passei, e depois de dois anos de curso, o sr. Alberlong me convidou para substituí-lo como Mestre-Auror de Poções no CT, e até mesmo falou muito bem de mim para o Auror-Mestre principal do curso, sr. Lebatofsky. Aceitei o cargo, por ser muito conveniente, e comecei a trabalhar alguns meses antes de Harry entrar para o curso.
– E você se comunicou com o seu Mestre antes da morte e extermínio dele? – Perguntou Gywneth, os olhos semi-cerrados.
– Só uma única vez. Mas ele parecia confiante de que iria sobreviver, então disse que eu não teria muito trabalho... e que logo arranjaria uma coisa melhor para eu fazer, como exterminar todos os bruxos que fosse contra a sua volta ao poder.
– Está bem... continue contando sobre a reunião de Comensais da Morte que ocorreu no Centro.
Pela primeira vez Marienne pareceu hesitar.
– Nas primeiras horas que eu estive no Centro, os Comensais enviaram uma mensagem dizendo que estariam por perto, para conversarem comigo sobre a minha estratégia de embate. Fiquei tensa, pois sabia que os Aurores-Mestres estavam de olho em mim, mas não poderia recusar, eles suspeitariam. Então, naquela noite, os comensais forjaram um ataque ao chalé em que eu estava para podermos conversar, como eu pedi que fizessem, para não ficar tão suspeito que eles queriam me encontrar. Conseguimos nos falar por pouquíssimo tempo, tempo que durou apenas para me avisarem que eu deveria continuar com a minha estratégia para a grande “Emboscada Final” contra Harry Potter. Eu tinha que conquistá-lo vagarosamente e levá-lo, depois de algum tempo de namoro forjado, até a Floresta do Centro, aonde os Comensais o atacariam sem piedade. Ninguém o procuraria na Floresta, porque è esta altura todos já saberiam que namorávamos e provavelmente estávamos juntos, e não o seguiriam. Somente dias depois resolveriam procurá-lo...
– Certo – Gwen sorria triunfalmente, mas não parou de interrogar a bruxa –, agora, me diga: o que houve de errado com o seu plano, Marienne?
– Simplesmente eu comecei a gostar seriamente de Harry Potter. Eu o amo. – Disse Marienne, as palavras saindo friamente da sua boca. Harry tremeu involuntariamente, e verificou que o sorriso no rosto de Gwen se apagara por completo. A Auror pareceu pretender desviar o rumo da pergunta, mas Marienne continuou falando, sem ao menos piscar – Desde o dia em que eu me encontrei com ele pela primeira vez, em meu chalé, dizendo que não queria continuar nossa relação. Ele insistiu, coisa que eu nem em sonho imaginei que faria. Seria muito oportuno, se eu já não estivesse apaixonada também. Os finais de semana foram passando, sempre com visitas à casa dele, no Beco, e a cada dia o sentimento se tornava mais forte. Eu não queria, e tentei evitar muitas vezes, mas falhei absurdamente. Noites atrás, os Comensais combinaram ser o dia da emboscada, e era meu dever atraí-lo até a Floresta. De fato, levei-o até lá, mas pedi para me separar definitivamente. Eu não queria enganá-lo mais. Quando saí da Floresta, vi os Comensais se aproximando, e os desviei do rumo do bosque. Inventei milhares de desculpas, e, por sorte, consegui levá-los até o chalé do Mestre Auror Lebatofsky, e ele alertou ao restante dos Aurores que estava ocorrendo um ataque ali. Saí do local, fingindo que fora atingida por um feitiço de algum Auror, e noticiei à Tonks que Harry estava na Floresta. Quando à vi sair, comecei a arrumar as minhas malas. Não podia mais ficar no CT, tinha traído a confiança de Lebatofsky, que era o único que me mantinha lá. Ele sempre me elogiava, gostava e confiava em mim. Mas fui uma pessoa medíocre e estúpida, a ponto de tentar enganá-lo. Vi a expressão que se formou em seu rosto quando me viu conversando com os Comensais, e sabia que não havia mais volta. Quando a luta acabou, ele foi me visitar em meu chalé, e não pareceu surpreso ao ver que eu estava partindo. Desejou-me sorte e cuidado. É uma pessoa maravilhosa, que confiou em mim e no meu caráter, mesmo que eu não mereça esta confiança.
– É claro que não merece – Disse Gywneth, rindo novamente – Estupore! – Anunciou, atingindo Marienne e deixando a bruxa desacordada na cadeira, até cair no chão com um baque relativamente forte. Em seguida, Gywneth retirou um objeto, muito semelhante à um gravador, de dentro do bolso, e virou-se para Harry, que a encarava com fúria no olhar.
– Desculpe-me, Harry, por isso... eu tenho que estuporá-la e algemá-la para levá-la até Azkaban. Com a confissão dela gravada em fita – ela abanou o objeto no ar, mostrando-o –, não há quem possa negar que ela é uma Comensal da Morte. E, se muito me engano, ela acabou de matar Bellatrix Black – concluiu a bruxa-Auror, olhando com descaso para o corpo de Bellatrix ao chão, o rosto afundado no tapete. – Isso foi realmente um favor, mas com certeza incutiu o uso da Maldição Imperdoável Avada Kedavra, e isso não podemos ignorar.
– Você vai levá-la? – Perguntou Harry, feroz – Mesmo sabendo que não foi culpa dela ter-se tornado uma Comensal da Morte? – O torpor mental de Harry se desfizera como uma bruma de fumaça; sentiu o rosto arder em fúria, sentiu os olhos encararem Gywneth com ar enlouquecido. Não, não iriam levá-la – ele não permitiria – Você não ouviu que Bellatrix forçou-a?
– Sim, Harry, ouvi – Gywneth parecia assustada com a expressão de Harry –, mas...
– VOCÊ NÃO VAI LEVÁ-LA! NINGUÉM VAI LEVAR MARIENNE DAQUI! ELA NÃO VAI PARA AZKABAN, NÃO... – Ele lançou-se até a namorada e abraçou-a, o corpo de Marienne ainda desacordado no chão.
– Ah, Harry, não faça isso, ou terei que levá-lo também, você está fazendo uma falta grave contra as diretrizes...
Harry gritou um palavrão.
– ... DE DIRETRIZES, QUEM DISSE QUE EU ME IMPORTO, QUEM DISSE QUE EU...
– Eu não vou deixar que você faça isso com a sua vida! – Gritou Gwyneth com voz aguda – Você merece alguém muito melhor do que ela!
– Você já está acabando com a minha vida! – Disse Harry, rouco. Gywneth parecia ter sido espancada, tal era sua expressão absorta.
– Não, não estou não. Estou lhe dando a chance de encontrar alguém melhor. – Disse, a voz trêmula – Alguém que realmente lhe mereça, como a pessoa que lhe enviou aquele bilhete apaixonado, mas que você confundiu com uma declaração de Marienne! – Gywneth parecia extremamente raivosa, agora; seus cabelos pareciam irradiar eletricidade, bem como seus olhos transformados...
– Você... sabe quem mandou o bilhete? – Perguntou Harry, agora mais confuso do que nervoso, embora ainda tremesse, e agarrasse a manga do vestido de Marienne com os dedos enterrados no tecido aveludado.
– EU, seu idiota! Eu, aquela francesinha imbecil, que você teimava ver como uma possível namorada de Neville! Aquela idiota que se preocupava com os seus passos, que foi lhe investigar, em sua própria casa, vestida de mendigo para não me reconhecer! Eu, aquela que passava com transparência pela sua vida, e que ficaria em sua memória como uma simples pretendente à namorada do seu amiguinho! EU!
A raiva de Harry pareceu desvanecer um pouco, quando refrescava suas memórias; lembrou-se do comportamento estranho daquele mendigo em frente à sua casa, em um dos finais de semana com Marienne... então era ela, Katty, ou melhor, Gywneth... Toda aquela raiva que a garota parecia demonstrar... era realmente ciúme! Ciúme da relação dele com Marienne...
– Hum... me desculpe – Disse Harry, sem saber o que falar. Gywneth mexeu os cabelos loiros que usava para ser Katty com impaciência.
– Não deve se desculpar. Encarcerous! – apontou Gywneth para Marienne, conjurando cordas e amarrando a bruxa. Então, levitou-a no ar com um gesto de varinha, e disse, ainda parecendo extremamente aborrecida – Agora, tenho que ir.
– Você não vai levá-la! – Rugiu Harry, lembrando-se da raiva, e esta retornando com força em sua mente.
– Você não vai me impedir! – Retrucou a Auror. Quando Harry procurou a varinha no bolso, Gywneth já apanhara a sua – ESTUPORE!
A última coisa que Harry viu, em um rodopio de cores, foi Gywneth saindo da sala, Marienne sendo arrastada às suas costas; disse algumas palavras sem sentido, algo que lhe pareceram gritos, até que tudo ficou escuro, negro como a noite que fazia lá fora, e tudo desapareceu... o som calou... e sentiu o baque de seu corpo caindo no chão.
Gente, este é o penúltimo capítulo da fic :'-( Vou sentir saudades dela, rs... mas enfim, ainda há o epílogo, então não tirem conclusões precipitadas ^_~ Ainda vão acontecer algumas coisas interessantes... e algumas reações inesperadas ^^
Espero que tenham gostado desse capítulo \o/ Hehehehe ^__^
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