Goldstein



Nos dias que se passaram, pareceu ter havido outra briga entre os rapazes: Sirius havia brigado com Remo e Tiago. Sirius não brigava com Tiago, eles quase eram irmãos, mas haviam brigado. Agora Sirius andava para cima e para baixo somente com Pedro e se afastou consideravelmente de todas as três garotas, o contrário de Tiago e Remo, que agora sempre as procuravam quando tinham tempo livre. Erica sabia perfeitamente que isso era por causa de Julie e Lílian, e não ficava feliz.
Gostava muito da idéia de Remo e Julie finalmente juntos e apoiava totalmente a persistência de Tiago em conquistar Lílian, mas ela estava se sentindo completamente excluída. Julie só tinha olhos para Remo, Tiago só tinha olhos para Lílian, e Erica não tinha olhos para ninguém.
No café da manhã de 14 de fevereiro, depois de acordar muito tarde e ter que tomar café da manhã apenas com Lílian, enquanto fazia seus cereais se afogarem no leite com a colher, Erica ouviu duas notícias de Dumbledore que não a ajudaram a se sentir melhor.
- A professora Sprout de Herbologia foi atacada em uma rua de Hogsmeade – Disse o diretor, e ouviram-se vários gritos sufocados e “ohs” dos alunos. – Está em St. Mungos se recuperando. Devido a isso, temos dois avisos a dar.
“Herbologia será ministrada por um professor substituto até que a prof. Sprout se recupere do ocorrido.”
“E por mais que lamentemos isso, as visitas a Hogsmeade estão suspensas por tempo indeterminado, sem exceções.”
O ruído no salão foi muito maior do que quando foi dada a notícia do ataque à prof. Sprout. Erica pensou com seu cereal que todos eram muito idiotas; preferiam ir à Zonko’s e se arriscar a morrer? Mexeu a colher impacientemente.
- Erin?
Era Mario.
- Quero falar com você, irmãzinha. Bom dia, Lílian – Mario sorriu e acenou para a ruiva, que estava do lado de Erica, depois se voltou para a irmã. – Tem um amigo meu que quer ir à festa do Slughorn com você, Erin. Você sabe quem é, já te apresentei pra ele uma vez. O Carl Blocklehurst, da Corvinal.
Erica esticou o pescoço e viu Blocklehurst sentado na mesa do canto esquerdo, conversando com algumas garotas animadamente. Ele nem era tão ruim assim, mas tinha um tique com as sobrancelhas. Erica não conseguia se imaginar estando a noite inteira na frente dele sem rir. E além do mais, ela não se sentia animada para ir para a festa.
- Ele não é o do... – Lílian mexeu as sobrancelhas freneticamente. Erica e Mario caíram na risada.
- É ele mesmo. Mas eu não vou para a festa – Disse Erica. Mario e Lílian arregalaram os olhos.
- Como não? – Perguntou Lílian.
- Não quero ir. Não tenho roupa. – Foi a primeira desculpa que veio na cabeça de Erica, por mais que fosse esfarrapada.
- Mentira – Disseram Lílian e Mario ao mesmo tempo, acusadoramente.
- Eu não tenho nenhum sapato.
- Mentira – Disseram novamente os dois.
- Eu não tenho par!
- Acabei de te falar sobre o Blocklehurst – Mario suspirou, revirou os olhos e apontou ameaçadoramente para ela. – Você vai, Erica, nem que seja sem roupa. Não, sem roupa não, você é minha irmã e não faz essas coisas – Adicionou ele rapidamente.
- Porque você quer tanto que eu vá?
- Srta. Amanda Blocklehurst, quinto ano – Mario vagou os olhos pela mesa da Corvinal e sorriu para o nada. – Ela é linda, Erica. Mas o Carl é superprotetor, como eu. E então ele me deixou ir com ela à festa se ele fosse com você.
- Como eu adoro quando você negocia meu nome sem eu saber – Resmungou Erica, mas Mario fez uma expressão de cão sem dono.
- Ao menos, você vai rir – Falou Lílian. – Ele não é tão ruim assim.
Depois de meia dúzia de insistências, Erica acabou aceitando. Mario saiu feliz de volta para seu lugar, dando um aceninho para Amanda Blocklehurst. Mas de repente, os pensamentos da festa foram varridos da sua mente e uma ficha caiu dentro de Erica.
- Lílian... quem atacou a Sprout estava perto de Hogwarts – Sussurrou ela.
Lílian olhou para ela intrigada, mas logo fez uma expressão de pleno entendimento e se inclinou mais para falar com Erica.
- Você acha que pode ter sido Rosier?
- Pode ter sido, não pode? É uma hipótese. – Erica olhou nervosamente para a mesa da Sonserina.
- E o que você vai fazer?
- O certo, não? Vou contar para um professor o que eu vi aquele dia e o que ele me falou. – Erica pareceu pesarosa. Lílian concordou com a cabeça.
- Você deveria ter contado isso há muito tempo atrás. – Lílian abaixou a cabeça. – Se Hogwarts soubesse antes, e se tiver sido ele mesmo quem fez isso... talvez a professora não estivesse em St. Mungos agora.



Sábado à noite, escritório do prof. Slughorn. Erica estava encostada sozinha a uma parede, amaldiçoando Carl até o último fio daquelas sobrancelhas loiras. O garoto simplesmente passou a seguir Mario e Amanda durante toda a festa, e quando Erica lhe deu um ultimato, ele preferiu continuar seguindo os dois a fazer companhia a ela. Lílian e Tiago e Remo e Julie estavam perdidos por algum lugar, e ela preferia ficar sozinha a ir procurá-los. Sirius estava num canto próximo com alguma garota bonita que Erica não conhecia. Pedro estava fora de cogitação.
Uma ou duas vezes, alguns corajosos se atreveram a desconsiderar a cara de tédio de Erica e foram chamá-la para tomar alguma coisa ou dançar – e receberam respostas cada vez mais antipáticas. Ela não estava em um dia bom, definitivamente, mas concentrava-se no que falar para Dumbledore no dia seguinte. Iria contar a discussão com Rosier e finalmente tirar esse peso do peito. Ao mesmo tempo, tinha muito medo disso – o que poderia acontecer se Rosier fosse expulso e preso e ela fosse descoberta como a delatora? Só Deus sabia quantos comensais como Evan existiam dentro de Hogwarts.
No meio de um turbilhão de pensamentos como esse, uma coisa desviou a atenção de Erica. Uma pessoa. Alguém que olhava muito fixo para ela.
Mas ela não sabia quem ele era. Na verdade, nunca tinha visto esse garoto em Hogwarts, mas ele era tão bonito que ela já teria prestado atenção nele, de uma maneira ou outra. Quando ele finalmente desviou os olhos, Erica pôde analisá-lo melhor. Ele tinha os ombros largos e cabelos negros que chegavam até o queixo e um ar de pouquíssimo interesse pela festa. Tinha cara de quem era da Corvinal.
E então, o olhar dele voltou para Erica, e os dois desviaram rapidamente. Fizeram isso umas três vezes, e na quarta, os dois já estavam rindo. Ele então se levantou, caminhou até Erica e fez uma leve reverência.
- Quer dançar?
- Porque não? – Sorriu Erica. O garoto então a conduziu gentilmente até um lugar próximo onde várias outras pessoas dançavam.
- Não sou o mestre da dança, mas eu realmente tinha que evoluir com aquela situação – Comentou ele. – Confesso que até fiquei com um pouco de medo, pelo jeito como você expulsou aqueles garotos que foram até você...
- Cada caso é um caso – Erica balançou a cabeça. – Digamos que você foi, pelo menos, duas vezes mais gentil que eles todos juntos.
Os dois ficaram no meio da pista de dança por um tempo, apenas se movendo de um lado para o outro e conversando sobre como garotos podem ser insensíveis – fato que Erica achou interessantíssimo, já que ele próprio era um garoto. Quando finalmente saíram da pista diante de uma sugestão de Erica de beber um hidromel, perceberam que nem ao menos haviam se apresentado.
- Por Merlin, acho que perdi todos os pontos que ganhei com você pela gentileza – Ele levou a mão à boca. Erica riu.
- Sem problemas. Erica Stebbins – E estendeu a mão.
- Jeremy Goldstein.
Um elfo passou ali por perto carregando uma bandeja de bebidas, e cada um pegou um copo de hidromel.
- Você não parece muito entusiasmado com a festa.
- Não estou, na verdade. Só vim porque Slughorn queria me ver, mas até agora não vi a sombra dele. Mas você não parece muito satisfeita, também.
- Fui convencida a vir de última hora – Erica suspirou. – E meu par me largou aqui, mas não que eu esteja lamentando muito isso... e você veio sem par?
- Não deu tempo de arrumar um! – Goldstein riu, passando a mão pelos cabelos. – Essa semana foi muito corrida, essa coisa toda da professora Vector... Mas eu costumava gostar de vir a essas festas desacompanhado, costuma ser bem mais interessante.
Erica balançou levemente seu copo ainda cheio – o de Goldstein já estava pela metade. Mas quando o levou à boca e tomou o primeiro gole de hidromel, ela sentiu que havia alguma coisa errada.
Foi tudo muito rápido. Erica começou a tremer violentamente e sentiu que estava com uma febre que subia a cada segundo. Ouviu seu copo escorregar e se espatifar no chão. Ela não conseguia mais ficar em pé, e escorregou até o chão pela parede onde estava encostada. Estava muito tonta e tudo a sua volta estava ficando mais escuro; uma fração de segundo depois, não conseguia mais abrir os olhos porque suas pálpebras pareciam muito pesadas.
Ela conseguia ouvir tudo e pensar claramente, mas não podia agir. Não tinha forças. Então ela sentiu dois braços a erguerem do chão e seu rosto pousou em um ombro. Logo ela sentiu seus pés, pendurados, esbarrarem em várias pessoas. Finalmente estavam a tirando dali, mas não parecia que muita gente da festa tivesse notado o que havia acontecido...
Ela ouviu a voz de Slughorn e a de Goldstein, sem conseguir mais distinguir o que eles falavam. Sentiu uma inexplicável segurança em saber que Goldstein estava a carregando, mesmo que o conhecesse há no máximo meia hora. A boca de Erica foi aberta e algo amargo foi empurrado para dentro dela – uma pedrinha, pelo menos foi o que pareceu.
A coisa não melhorou de imediato, mas a sensação que Erica teve é que os sintomas começaram a sumir devagar. Ela agora conseguia distinguir os passos de Goldstein, os passos de alguém que ela imaginou ser Slughorn mais atrás e os ruídos da festa sendo deixados para trás.
- Acho que ela não está consciente – Falou Goldstein para alguém. Ela escutou a voz de Madame Pomfrey conversar com a voz de Slughorn algum lugar longe deles.
- Estou – Falou ela, fazendo um esforço tão grande que sua cabeça deu uma pontada. Erica sentiu Goldstein a colocar em uma cama. Estavam finalmente na enfermaria.
- Psiu, não faça esforço, Erica – Goldstein disse a ela, quando ameaçou abrir a boca novamente. – Slughorn está tentando descobrir o quê a envenenou.
Um silêncio imenso se seguiu, durou por vários e vários minutos, aparentemente enquanto Slughorn mexia em alguns frascos e Madame Pomfrey e Goldstein aparentemente prestavam atenção, porque nenhum dos dois falava. Páginas foram viradas.
- Menina Stebbins? Pode me ouvir? – Perguntou a voz de Slughorn. Erica balançou a cabeça afirmativamente. – Bem, acho que quem mandou esse veneno realmente queria... que a senhorita fosse eliminada.
Erica sentiu seu estômago se revirar. O veneno era para ela, não havia como negar, e ela sabia quem a queria morta. Sentindo um nó na garganta, ela balançou a cabeça. Mais um silêncio se seguiu, mas a cabeça de Erica estava fervilhando – não queriam que ela contasse a Dumbledore o que sabia sobre Evan Rosier. Isso só confirmava uma coisa: Evan havia atacado realmente a professora, ou não teria se dado ao trabalho de envenenar seu hidromel.
Mais silêncio. Erica abriu ligeiramente os olhos e viu Goldstein, a mão apoiando a cabeça, parecendo muito aturdido e olhando para Slughorn. Ele cochichava alguma coisa com Madame Pomfrey. Depois de algum tempo, Goldstein balançou a cabeça. Ele se virou para Erica, mas não pareceu menos aliviado em vê-la acordada e parecia evitar olhar para ela.
- Pensou muito rápido, esse Jeremy aqui – Slughorn deu uma palmadinha no ombro do rapaz. – Muito, muito bem... Já conhecia o prof. Goldstein, srta. Stebbins?
Madame Pomfrey a ajudava a se sentar na cama agora, mas Erica quase tombou para o lado e a enfermeira a forçou a se deitar novamente.
- Não – Murmurou Erica automaticamente, seus olhos encontrando os de Goldstein. Ele não parecia muito feliz consigo mesmo. Professor? Mas ele parecia ter 18 anos!
- Ele foi nosso aluno há muito pouco tempo, mas agora veio substituir a prof. Sprout... quantos anos faz que você se formou, meu garoto?
- Uns 7 anos, senhor – Falou ele, olhando furtivamente para Erica. Então ele devia ter uns 23, 24 anos, calculou Erica, mas ele não parecia mesmo ter essa idade. Será que ele achou que ela não era uma aluna? Ou se interessou por Erica sabendo que ela era estudante?
- Há tão pouco tempo como professor e já salvou uma vida! – Bradou Slughorn com orgulho; Goldstein não parecia compartilhar esse sentimento, estava constrangido. Erica forçou um sorriso. – Mas agora que a srta. Stebbins está bem, acho que devo voltar para meus convidados. Vamos, Jeremy?
- Acho que não, prof. Slughorn, obrigado – Falou Goldstein, quase em um murmúrio. – Não estou em um clima muito festivo hoje.
Slughorn deu de ombros e saiu gingando e desejando melhoras para Erica. Madame Pomfrey deu um aceno de varinha e o vestido de Erica foi trocado por um pijama de algodão.
- Ei, eu não quero perder meu vestido!
- Não vai – Falou Madame Pomfrey, séria. – Ele voltará para o seu dormitório. Você... o senhor ficará aqui, prof. Goldstein?
- Se não quiserem me expulsar.
Madame Pomfrey continuou parada no mesmo lugar, mas logo percebeu que estava sendo inconveniente, deu uma fungadinha e foi para seu escritório. Goldstein se sentou na cadeira disponível ao lado da cama de Erica. Ela estendeu o braço com dificuldade e alcançou sua varinha na mesa de cabeceira, e assim que a porta de Madame Pomfrey fechou, ela murmurou “abaffiato”. Largou a varinha na mesa novamente e se sentou com dificuldade.
- Professor? – Falou Erica, acusadoramente. Goldstein coçou a testa.
- Não sei se alguém já te disse, mas você parece ser muito mais velha do que é. Nunca iria imaginar que você estava no sétimo ano ainda.
- Sexto.
Goldstein franziu as sobrancelhas, parecendo espantado.
- Você repetiu algum ano?
- Não! – Falou Erica, ofendendo-se. – Eu tenho 17, estou no ano certo!
- Oh, desculpe.
Ela subitamente se lembrou da festa de Slughorn. Ela e Goldstein dançaram juntos. Conversaram. Não pararam de se olhar. E, além de tudo, Erica o achara a pessoa mais bonita da festa. Erica cobriu o rosto com as mãos, com um sentimento inexplicável de vergonha crescendo dentro dela, a palavra professor falada por Slughorn ecoando repetidamente em sua cabeça.
- O que foi? – Perguntou Goldstein.
- Eu.. eu flertei com um professor – Ela murmurou. – Isso é um absurdo.
- É, é um absurdo do ponto de vista acadêmico.
- Olha, pode parecer ridículo, mas eu achei que o senhor era um aluno! – Disse ela freneticamente.
- E eu achei que você não era uma. – Goldstein balançou a cabeça e levantou os olhos para encará-la. – Mas não precisamos desse drama todo. Você pensou que eu era mais novo, eu achei que você era mais velha e tudo isso foi um engano justo. E não me chame de senhor, eu tenho quase a sua idade.
- É. Engano justo é uma boa expressão.
Goldstein contemplou as camas vazias da enfermaria por algum tempo, com as sobrancelhas muito franzidas. Então, voltou-se para Erica novamente.
- Eu pareço ser tão mais novo assim?
- Agora que eu sei sua idade, não parece tanto – Falou Erica sinceramente. – Mas achei que você era aluno antes disso, então por aí você pode ter uma idéia. E eu, pareço tão velha assim?
- Parece. Realmente parece. Mas com o uniforme de Hogwarts, sem vestido de festa e sem maquiagem, talvez minha opinião mude.
- É, a maquiagem envelhece.
Jeremy olhou rapidamente para ela.
- Não acho que vá mudar – Murmurou ele, com uma grande culpa na voz.
- Não? – Erica piscou.
- A primeira impressão é a que fica, não? Acharei a coisa mais estranha do mundo dar aula para alguém que parece ter 20 anos.
Erica abriu a boca para responder, mas uma verdadeira legião escancarou a porta da enfermaria e entrou, fazendo muito estardalhaço. Ela se agradeceu internamente por ter feito o Abaffiato em Madame Pomfrey. Lílian, Julie, Remo, Sirius trazendo sua acompanhante da festa pela mão, Tiago trazendo outra garota (que parecia estar tão satisfeita que não notava a gravidade da situação), além de Pedro, Mario e Amanda e Carl Blocklehurst.
- Erin! – Gritou Mario, que estava excepcionalmente branco.
- Slughorn acabou de nos contar – Falou Julie, exasperada, sem soltar a mão de Remo.
- Na verdade – Explicou Sirius, com um quê de desprezo na voz. Julie olhou chateada para ele. – Slughorn contou à Lílian. Ela contou à Julie, e o Remo estava com ela, então ele contou ao Tiago. Tiago me contou...
- Então vocês fizeram as pazes – Falou Erica, sorrindo para Tiago, que parecia incomodado com algo. Talvez fosse a garota pendurada em seu pescoço, que não era Lílian.
- É, acho que sim – Sirius franziu a testa. – Tiago me contou, eu contei pro Pedro, e encontramos seu irmão e Amanda Blocklehurst brigando... só não sei como o Carl veio parar aqui também.
- Eu era o par de Erica... - Começou Carl, mas Lílian o interrompeu.
- Enfim – Falou Lílian, nervosa, sentando-se aos pés da cama. – Como você está, Erica?
- Considerando que eu fui envenenada, estou bem – Erica deu de ombros. – Estou me sentindo normal.
- Você sabe quem te envenenou? – Perguntou Julie, também se sentando na cama.
- Apenas suspeitas. - Disse ela.
- Provavelmente, as mesmas suspeitas que eu e Julie temos – Murmurou Lílian. - Como foi?
- Eu peguei um copo de hidromel da bandeja de um elfo, bebi – Erica mordeu o lábio inferior. – Então eu comecei a tremer, ficar muito tonta, não conseguia me mexer, mas estava consciente...
- Quem estava com você? – Perguntou Sirius.
- Eu estava – Falou Goldstein. Ninguém havia notado sua presença, e as atenções de todos se voltaram imediatamente para ele. Pedro tentava enxergá-lo por cima do ombro de Sirius.
- E quem é você? – Perguntou Sirius, cruzando os braços e olhando Goldstein com depreciação.
- Quem me salvou – Respondeu Erica tranqüilamente.
- Jeremy Goldstein, professor substituto de Herbologia – Goldstein sustentou o olhar de Sirius, mas não se levantou. Erica viu as garotas de Sirius e Tiago se espremendo para enxergá-lo. – Nós estávamos conversando quando a srta. Stebbins tomou o hidromel.
- E quem garante que não foi o senhor quem a envenenou? – Disse Mario, com o mesmo olhar de depreciação de Sirius. Goldstein tinha uma expressão no rosto de quem já esperava aquilo.
- Não foi, Mario – Erica disse firmemente.
- E como você sabe?
- Simplesmente não foi, ok? – Erica olhou aborrecida para o irmão. – E se eu fosse você eu parava de acusar o professor, você tem N.I.E.M de Herbologia esse ano.
Mario abaixou os olhos, mas então avistou Carl ao seu lado e resolveu fazer dele seu motivo para descontar a raiva. Típico de Mario.
- E você, onde estava? Você tinha que estar com a minha irmã!
- Ele estava seguindo você e Amanda – Respondeu Erica, sem piedade nenhuma, antes que Carl abrisse a boca. – E me deixou sozinha, então eu comecei a conversar com o prof. Goldstein.
- O quê? De novo, Carl? – Exclamou a voz fina de Amanda. Carl abriu a boca para se explicar, mas a garota já estava o estapeando no braço. – Melhoras para você, Erica, mas eu tenho que ter uma conversa séria com o meu irmão aqui – E puxou Carl enfermaria afora, falando coisas como “você nunca muda”. Tiago, Remo, Sirius, Pedro e as duas garotas desataram a rir, mas Julie tinha uma expressão compreensiva no rosto.
- Ele é um mala, sabia? – Falou Erica aborrecida para Mario, enquanto observava a cena. – Belo encontro você me arrumou.
- Não valeu a pena meu esforço, no final das contas – Mario suspirou. – Carl ficou sem você e eu sem Amanda.
- Ah, coitado dele – Falou Lílian.
- Você não tem um irmão mais velho, Lílian, ou não estaria falando isso – Sorriu Julie. – E quando você sai daqui, Erica?
- Não sei.
- Talvez amanhã à noite – Respondeu Goldstein, olhando para ela. – Mas para isso, você tem que descansar. Esse tipo de veneno debilita a pessoa.
- Bem, se esse é o caso... devemos ir, não? – Lílian olhou ao seu redor. – Essa noite já foi agitada demais.
Houve murmúrios de compreensão entre os presentes, e eles começaram a desejar melhoras para Erica e a sair, um a um. Lílian e Julie prometeram voltar no dia seguinte pela manhã, assim como Mario. O último a sair foi Goldstein.
- Bem, dever cumprido – Falou ele, quando finalmente se levantou da cadeira ao lado da cama. – Devo te chamar de Erin também?
- Se não quiser que eu te chame de Jerry...
Goldstein deu uma risada.
- Seis horas dentro de Hogwarts e já arrumei problemas. Paquerei a pessoa errada, salvei uma vida e arrumei dois desafetos, pelo que me parece...
- Não ligue pro meu irmão e pro Sirius, eles são meio rabugentos quando se trata de homens perto de mim – Erica revirou os olhos. – É o normal.
- Então acho que você nem deve mencionar os fatos da festa de Slughorn perto deles – Goldstein se encaminhou lentamente para a porta, ainda sorrindo. – Boa noite, Erica, e melhoras. Tenho certeza que ainda nos veremos muito por aí.
- Espero que sim – Suspirou Erica para si mesma. E logo em seguida percebendo no problema em que estava se metendo.



A grande surpresa do dia seguinte para Erica foi que Lílian e Mario entraram de mãos dadas na enfermaria, junto com Julie, que parecia levemente aborrecida.
- Mas o que é isso? – Perguntou Erica, olhando para Julie. Ela fechou os olhos e balançou a cabeça. Mario, porém, parecia radiante e Lílian também sorria, mas Erica tinha a certeza absoluta de que não era porque ela estava com o garoto.
- Estamos saindo juntos – Lílian sorriu fanaticamente, e um sorriso maior ainda perpassou o rosto de Mario. Erica estava careca de saber que ele tinha uma enorme queda pela amiga, mas havia alguma coisa de errado.
- Desde quando? Ontem vocês não estavam juntos.
- Desde hoje, no café da manhã – Disse Mario. – Bem, só viemos ver se você está bem, porque temos uns assuntos a tratar. – E sorriu misteriosamente para Lílian.
Erica franziu a testa.
- Tudo bem, então – disse, lentamente. - Mas você pode esperar a Lílian um pouco lá fora? Eu queria conversar um pouco com elas... assuntos femininos, sabe.
- O.k. Mais tarde, papai vai estar aí, Erin. Está furioso por você ter sido envenenada dentro da escola, vai chegar aqui quebrando tudo.
Mario virou-se de costas, saindo da enfermaria. No momento em que a porta se fechou, entretanto, o sorriso de Lílian murchou perante os olhares severos de Erica e Julie.
- O que você pretende com isso, Lílian Evans? – Falou Julie, apontando para a porta. Lílian cruzou os braços e olhou para fora, calada.
- Ontem você foi à festa do Slughorn com o Tiago, e hoje está saindo com o meu irmão? – Erica cruzou os braços.
- É – Falou Lílian secamente, mas seu olhar parecia aflito. – Mario sempre quis uma chance comigo, e eu resolvi dar.
- Não foi tão simples assim – Julie fez um aceno de negação com a mão, depois se virou para Erica. – Ela brigou com Tiago ontem, Mario viu e resolveu tentar.
- Porquê?
- Porque ele gosta de mim, eu acho – Respondeu Lílian.
- Não, porque você e Tiago brigaram? – Lílian suspirou fortemente, mas Julie olhou pelo canto do olho para Erica e suprimiu um sorriso.
- Porque... eu deixei Tiago sozinho e fui buscar hidromel. Eu encontrei a Julie e o Remo pelo caminho, ficamos conversando e eu demorei um pouco a voltar, e quando eu voltei...
- ... Tiago estava beijando uma garota. – Completou Julie, ainda tentando não sorrir. Porque ela sorria, Erica não sabia dizer; aquilo tudo parecia realmente esquisito.
- Beijando? Ele estava engolindo a Marion Cadwallader – Protestou Lílian, num sussurro. – E bem... eu era a acompanhante dele! Mesmo eu tendo ido como amiga, ele não devia ter feito isso! Agarrar a primeira garota que apareceu porque eu fui pegar um copo de hidromel? Tenho pena das namoradas dele, então.
Seguiu-se um silêncio, Lílian olhou para suas unhas e franziu a testa para a janela.
- Ele tentou se explicar, mas eu o deixei falando sozinho e saí atrás de Julie e Remo de novo, mas encontrei o Slughorn pelo caminho e você sabe a história.
- E meu irmão?
- Ele veio falar comigo depois que a gente saiu da enfermaria, disse que tinha visto a briga e também tinha se desentendido com a Amanda... e ele pediu uma chance – Lílian fechou os olhos com força. – E eu dei essa chance para ele. Não tenho nenhum compromisso com Tiago, e não custava nada.
- Custava – Disse Julie. – Custava a cara de Tiago hoje de manhã, quando esses dois chegaram de mãos dadas pra tomar café. Ele ficou da cor do mingau que estava comendo.
- Ele teve o que mereceu, não? – Lílian praguejou baixinho, com um sorrisinho de satisfação.
Houve um grande silêncio entre as três, no qual Julie deu o mesmo sorriso para Erica.
- Você está com ciúmes – Falou Erica conclusivamente. O sorriso de Julie se alargou, mas Lílian ficou excepcionalmente corada e encarou Erica como se tivesse acabado de perceber algo, mas franziu novamente a testa em seguida.
- Eu... o quê? Você enlouqueceu? Não estou com ciúmes de Tiago com Cadwallader! Só acho que ele deveria ter um pouco mais de tato com quem ele chama para ir à festa com ele! Ah, parem vocês duas – E voltou a olhar para a janela, quando Erica e Julie começaram a rir.
- O que eu não acho justo – Disse Julie, retornando gradualmente ao aborrecimento – É que você nem ao menos escutou o que Tiago disse.
- E quem vai acreditar que a garota deu uma poção do amor para Tiago? Essa foi a conversa mais furada que eu já ouvi.
- Deixando de lado a teimosia da Lílian – Erica alteou a voz – o quê mais vocês tem pra me contar?
- Falando em ciúmes – Comentou Julie, abaixando os olhos – descobrimos porque Sirius vive brigando com o resto dos garotos.
- Oho, minha vez agora – Lílian sorriu satisfeita. – Sirius brigou com Remo antes do baile porque ele descobriu que o Remo tinha convidado a Julie. E brigou com o Tiago também, quando ele disse que não tinha nada contra o Remo e a Julie juntos. Ah, e brigou de novo com o Remo ontem, porque foi ele quem levou a Julie para a festa de dia dos namorados.
- Acho que temos um triângulo amoroso – Erica abriu muito seus olhos azuis. – Sirius gosta de você, como nunca percebi antes?
- Eu tinha uma idéia meio vaga sobre isso, acho que nunca quis admitir para mim mesma – Disse Julie, muito séria. – Mas Remo me beijou ontem na frente de todo mundo, inclusive do Sirius, que está cuspindo fogo até agora. Não quer falar nem comigo nem com Remo nem com ninguém além do Tiago...
- ...que afirmou categoricamente ontem que Remo e Julie não iam durar muito tempo juntos – Afirmou Lílian, de dentes cerrados. – Foi por isso que Tiago e Sirius fizeram as pazes.
- Mas deixando os garotos idiotas de lado – Julie apontou um dedo para Erica – há outra coisa que queremos discutir com você antes que Madame Pomfrey nos expulse. Sr. Goldstein, o salvador.
- Oh, céus, eu sabia que vocês iam chegar nisso – Erica apoiou a cabeça na mão, mas não pôde deixar de sorrir; Julie e Lílian deram risadinhas para ela. – Ele é incrível, não é? – Disse, sentindo uma pontada de culpa.
- Totalmente – Julie respirou intensamente. Lílian ergueu uma sobrancelha para ela, com a mesma expressão que ela utilizava para desprezar Tiago às vezes.
- Eu pensei que você estava com Remo.
- Sim, mas não estou morta - Julie olhou-a pelo canto do olho com uma expressão maliciosa. – Ainda tenho olhos. E eles estão enxergando muito bem. Admita, o professor Goldstein é bonito sim.
Lílian fechou os olhos e balançou a cabeça afirmativamente.
- Bem... pelo menos sabemos que prestar atenção nas aulas de herbologia vai ser decididamente mais fácil.

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