Nosso triunfo?
Vontades
XI. Nosso triunfo?
Dia das Bruxas, 1981.
Uma brisa nervosa bateu em meu rosto e esvoaçou meus cabelos. Brisa cortante e melancólica.
Meu coração batia apertado, angustiado. Talvez fosse ansiedade ou, quem sabe, um sinal. Não que meu coração fosse de me dar sinais. Na verdade, durante toda minha vida, ele mostrou-se mais um inimigo do que um confidente.
Para falar novamente a verdade, eu não sei o porquê dessa idéia absurda de sinais. Afinal, meu coração é estúpido demais para me dizer algo além de: “Estou com saudades do Lúcio” ou “O Lúcio bem que poderia estar aqui”.
Não conseguia me sentir confiante. Não conseguia acreditar que a missão daria certo. A incômoda sensação de que tudo iria aos ares aumentava a cada segundo.
Dei uma última tragada no cigarro, joguei-o no chão e amassei com a ponta do sapato. Nunca tive o costume de fumar, mas nos últimos três meses era uma das poucas coisas que me distraía. Uma distração viciosa.
Uma das outras coisas era, obviamente, Lúcio Malfoy. Passávamos cada vez mais tempo juntos; como um jovem casal de amantes. Um jovem casal sem preocupações, sem família, sem esposa, sem filhos e sem missão.
Tateei meu pescoço com a fútil idéia de relembrar seu doce tato antes de sair. Encontrei, porém, uma correntinha fina e de aparência frágil. Era prateada sem nenhum adorno. Parecia um fio prateado de tão fina.
- Ela esquentará quando eu quiser te ver. – disse-me Lúcio, há alguns dias atrás, fechando a mão em torno da minha.
Sentindo seu perfume em torno do meu pescoço, fechei os olhos.
Que sofrida minha vida de amante! Viver constantemente aprisionada por meus desejos! Sem poder expô-los ou saciar minhas vontades sempre que quisesse.
Injusto destino que entrelaçou minha vida a de Sirius Black. Sim, leitor, Sirius Black. Uma simples escolha egoísta da parte dele mudou minha vida completamente. Ah! Queria eu que ele fosse escolhido pela Sonserina! Queria eu que Sirius Black honrasse as tradições familiares...
Seria tudo como Lúcio entreouviu quando tínhamos onze anos: Rodolfo casaria-se com Andrômeda, Bellatriz casaria-se com Sirius, Lúcio casaria-se comigo e por fim, Narcisa e Régulo.
Sou uma desgraçada. Viverei eternamente escondida sob um amor proibido.
Chame-me de dramática. Mas estou sendo apenas sensata.
***
Quando abri os olhos, caí de volta na realidade.
O grande dia. Dia em que qualquer suspeito de vencedor seria eliminado antes que pudesse aprender a dizer qualquer palavra diferente do tradicional tatibitate.
Haveria dois grupos em ação: um liderado por Milorde e outro liderado por Maya Gaul (estando, obviamente, subentendido que eu e Bellatriz fomos totalmente contra a posição dela).
Concordem comigo: não havia sentido algum Milorde entrar em ação naquela noite. Achei isso desde o princípio, mas quem sou eu para criticar Milorde? Ah! Se ele me ouvisse! A missão não teria o desfecho que teve...
Cheguei à sede às vinte e cinco para a meia noite, estavam todos reunidos no hall . Pareciam todos muito confiantes no êxito.
- Máscaras e varinhas em punho. – ordenou Gaul abaixando a própria máscara. Sua voz era firme, como a dos líderes. Abaixei a máscara e saquei a varinha.- Sei que todos já conhecem o plano de trás para frente, então, não perdoarei QUALQUER deslize. Seremos recompensados por tantos meses de trabalho árduo se obtivermos o êxito milimetricamente calculado. Esta será a noite da vitória! – ela pausou longamente. – MASMORDRE! – gritou apontando para o teto.
- MASMORDRE! - gritei, acompanhada de Bellatriz, Rodolfo e Barty.
A hora de agir acabara de chegar.
***
O plano era simples.
A casa dos Longbottom ficava num bairro afastado de Londres. Estava desprotegida de qualquer tipo de magia. Parece até absurdo, porém, bem arquitetado. Dumbledore acreditava que se os Longbottom extinguissem a magia do seu dia-a-dia não poderiam ser encontrados. O que não deixa de ser verdade, pois demoramos pouco mais de um ano para encontrá-los.
Enfeitiçaríamos a casa por fora e então, aparataríamos na sala da pequena casa e renderíamos o casal e a mãe de Frank. O garoto, Neville, estaria dormindo num quarto subterrâneo. Encontraríamos o garoto e eu, como Milorde deixou explícito, acabaria com o garoto.
Simples? Sim. Metade do plano foi concluída com extrema destreza.
Mas, quando entramos na casa, estavam na sala o casal Longbottom, a mãe de Frank e, o nosso maior problema, Ayako Exupéry. Ao vê-la, não vi problemas. Afinal, era só mais uma e estávamos em vantagem de número. Mas o que nem eu, Gaul, Barty e Rodolfo esperávamos foi a reação de Bellatriz.
- Eu não acredito! – exclamou Bellatriz, aparentemente satisfeita. - Realmente hoje será o dia do triunfo. – ela gargalhou alto. – Eu não disse que nos reencontraríamos, Exupéry?
- Bellatriz? – a voz de Ayako estremeceu. - Expelli...!
- Não fiquem parados! – gritou Maya. - Estupore! - gritou em direção à mãe de Frank que, pela idade, não reagiu ao feitiço e caiu no chão inconsciente. – Não percam a linha!
- Expelliarmus! - gritou Frank. O feitiço ricocheteou no espelho e desapareceu no ar.
- Crucio! - gritou Rodolfo em direção a Frank.
Frank gritou desesperado e começou a se contorcer, o mesmo aconteceu com Alicia quando recebeu o feitiço de Barty.
- N-não fa-façam... – balbuciou Alicia em meio a gritos de dor. – Neville!
- Crucio! - gritou Bellatriz em direção a Ayako. Ela esquivou-se e o feitiço bateu num vaso de porcelana em cima da estante fazendo-o rachar.
- Procurem o garoto! – gritou Maya.
- Protego! - defendia-se Ayako enquanto Frank e Alicia ainda urravam de dor.
Desci as escadas da sala em busca do tal quarto subterrâneo. No fim do corredor havia uma porta entreaberta. Um quarto de paredes azuis com detalhes em branco emoldurava um berço de madeira marfim. Dentro dele dormia um garotinho com ar angelical. Tinha o rosto redondo e expressão despreocupada.
Hesitei por um momento.
Como eu poderia acabar com algo tão indefeso? Parecia um boneco de criança!
Ergui a varinha e fechei os olhos com força.
- Termine logo com isso. – bradou Maya, a minhas costas.
- Eu... eu não posso. – murmurei. Minha mão estava trêmula. – É uma criança!
Ouvi berros de Alicia e Frank. Será que ainda estavam recebendo Cruaciatus?
- TERMINE LOGO COM ISSO, LESTRANGE! – gritou Maya.
- Av...
Meu braço abaixou-se involuntariamente com velocidade. Era como se uma mão invisível tivesse forçado meu braço para baixo.
Aos poucos, uma sensação horrível apoderou-se de mim. Foi como se uma ventania muito forte ultrapassasse meu corpo e levasse um pedaço inteiro dele. Minha marca ardeu com uma força incrível e foi impossível não gritar. Ao meu lado, Maya também urrava de dor enquanto segurava o braço direito com força.
Assim como a sensação veio, foi-se embora.
Sentia-me incompleta e desnorteada.
- A marca! – berrou Maya.
Subi a manga com rapidez e me deparei com o problema: ela não estava lá. Meu braço estava limpo! Sem qualquer vestígio de que, há vinte segundos atrás, havia uma tatuagem em formato de caveira ali.
Entendi, então, porque sentia o vazio no corpo.
- O que aconteceu? – perguntei.
- Eu não sei! – exclamou Maya esganiçada. – Ah, isso está longe de ser um bom sinal.
Ela esfregou o braço com força.
- Larguem suas varinhas! – ouvimos alguém gritar na sala.
Frank e Alicia pararam de gritar instantaneamente.
Ouvi passos apressados vindos da sala e estalidos de varinhas batendo no chão.
Foi nesse exato momento que percebi: não seria a noite do nosso triunfo.
***
- Pegue o garoto. – ordenou-me Maya.
- De que adianta? – repliquei.
- Ora, sua estúpida, não vê que temos pouco tempo?
- Não vamos conseguir sair, Gaul! Deve haver aurores por toda a casa.
- Duvido. – ela deu os ombros. – Pegue a droga do garoto e vamos embora.
- Não os subestime, Gaul. – disse friamente. – Nós não vamos conseguir sair!
- Conheço esses aurores muito melhor do que você. – retrucou. Ela andou até o berço e pegou o garoto nos braços. – Vamos, é só aparatar até a sede.
- A casa está protegida! – exclamei com urgência.
- ME OUÇA, SUA ESÚPIDA. – disse com veemência. – Eles não protegeram a casa, só falam que protegeram. Como você acha que eles entram e saem todo o tempo? Não está protegida, é um blefe. Entendeu?
Balancei a cabeça afirmativamente.
- E os outros?
- Que se fodam. – retrucou. – Mandei que fossem rápidos. Mas não, sua prima Bellatriz acha que está no comando.
Balbuciei algo como “Meu irmão” e Maya revirou os olhos, impaciente.
- Deixe a criança onde está! – gritou um auror adentrando o quarto com varinha em punho.
- Sectumsempra! - gritei em direção ao auror, que foi jogado contra a parede. Em poucos segundos, estava ilhado em sangue. – Vamos embora!
E desaparatei.
***
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