I’s do passado



Vontades
I.I’s do passado

Um dia desses me bateu aquela vontade de escrever. Não sei donde veio, só pra variar. Comprei, então, um livro em branco. Capa vermelha bem grossa com várias e várias páginas brancas pautadas.
Escrever sobre o que? Não sei, um livro didático talvez. Um romance, poesia, música. Qualquer coisa que me livrasse daquele maldito nó preso em minha garganta.
Quase um mês depois, decidi. Um diário.
Aliás, não um diário. Já que não seria constante. Mas um livro de Memórias.
Ocasiões passadas que eu nunca consegui esquecer. Ou talvez, até já tenha esquecido. Mas só por parar pra pensar eu volte a lembrar e reviver as alegrias ou, até, tristezas que passei e marcaram.
Momentos que eu gostaria de contar, passar pra frente. Não sei, guardar. Senti-los mais perto de mim... é isso.
Inicio, deste modo, no meu quinto ano em Hogwarts.
***

Durante toda minha vida fui apaixonada por nada mais, nada menos que Lúcio Malfoy. Sempre com aqueles lindos olhos azuis, cabelos loiros impecavelmente penteados, bem vestido... E é claro; o maldito sorrisinho cínico e malicioso. Com o qual já me levou várias vezes a fazer coisas que eu já havia dito que não faria.
Somente depois de algum tempo, encontros, beijos, e “dias-seguintes” nada agradáveis fui obrigada a perceber o quanto ele conseguia ser repugnante e desprezível. E totalmente insensível.
- Ray... minha querida. – ele aproximou-se sorrindo.
- Hum? – perguntei distraída. Lançou-me um olhar de cima a baixo. – Desculpe-me Lúcio, mas eu não ouvi o que você disse.
- Bem, querida – ele ignorou meu comentário anterior. – queria saber se você vai fazer alguma coisa hoje à noite...
- Vou dormir. – respondi secamente.
- O que deu em você hoje?
- Nada. Não me deu nada!
- Loraine. O que eu fiz?
- Você ainda me pergunta o que me fez? – perguntei irritada.
- Pergunto. – Encarou-me, com ar injustiçado.
- Ah, então está bem. Já que a sua memória é curta eu vou refrescá-la. – muitos alunos voltaram-se para ouvir a discussão. – Primeiro: – eu fiz “um” com o dedo indicador – você vem com essa história de “meu amor”, “minha querida” só quando te convém. Segundo: – fiz “dois” com os dedos – depois de conseguir o que você quer, você me trata pior que trataria um sangue-ruim. E terceiro, mas não menos importante, você fede. – virei as costas esperando ouvir algum comentário maldoso da parte dele. Vários alunos abafaram risadinhas.
- Ótimo – Finalmente, após intermináveis segundos, o ouvi dizer em voz alta. – Ótimo! É melhor mesmo que ela vá embora. Afinal, as crianças não são obrigadas a respirar o mesmo ar que uma vadia como ela. – virei nos calcanhares imediatamente e o encarei.
- O que você disse, Malfoy? – ele não respondeu. – Repete se você é homem.
- Eu disse que você é uma vadia. Isso mesmo, V-A-D-I-A. – soletrou.
Tateei dentro dos bolsos em busca de minha varinha e a apontei para ele.
– Ótimo, me ataque. Mas vai dizer que eu estou dizendo mentiras?
Engoli seco. Respirei bem fundo e resolvi, então, não usar magia.
Ele sorria! Sorria! Aquilo me fez ferver por dentro. Olhei bem em seus olhos antes de dar-lhe um tapa que lhe renderia piadinhas durante duas semanas.
- O que vai fazer? – me perguntou, ainda sorrindo.
“PAF” ele mereceu. As marcas de meus dedos ficaram em seu rosto fino e pálido. Ele segurou o maxilar com raiva no olhar.
- Pense duas vezes antes de dizer o que você não sabe! – gritei.
- Que bagunça é essa aqui? – era o de Feitiços, professor Flitwick.
- Lestrange, professor. Ela me bateu. – falou Malfoy sem tirar os olhos de meu sorriso vitorioso.
- É verdade, Srta. Lestrange?
- NÃO ESTÁ VENDO ESSES DEDOS FINOS E REPUGNANTES GRAVADOS NO MEU ROSTO?! – perguntou alterado. – Eu exijo que ela seja punida.
- Hum... – fez Flitwick pensativo. – e o que deu na Srta. para agredir o Sr. Malfoy?
- Ele me chamou de... de... de vadia.
- E o Sr. Malfoy tem motivos para isso? – ele me perguntou.
- Não. Eu simplesmente não quis me encontrar com ele hoje à noite.
- Os dois estão dispensados – finalizou sem mais comentários. – Não ouviram?
- Mas professor! – insistiu Malfoy. – Ela me agrediu! Quando meu pai...
- E o Sr. agrediu-a com palavras. Portanto, estão quites.
- Mas... ela! Não... está... professor! – gaguejou Malfoy, ofendido. – Loraine não suporta nenhum tipo de brincadeira e já parte para a ignorância.
- Oh, por Merlin! – exclamou Flitwick. – Já que o Sr. Malfoy insiste tanto – eu vi um pequeno sorriso se formar na boca de Malfoy. – os dois irão cumprir detenção na biblioteca. Madame Pince me falou que está precisando de ajudantes para arrumar os livros. Estejam lá às seis. – Lúcio tornou a abrir a boca. – e sem mais discussões. – ele virou as costas e entrou na sua sala no fim do corredor.
- Está vendo? – perguntei. – Por SUA causa teremos de passar a noite organizando livros! Você não pode ficar quieto pelo menos por cinco minutos? Como você é idiota!
- Hummm... – fez ele. – Pelo menos nosso encontro já está garantido. – ele jogou um beijo no ar e subiu as escadas.
Ah! Como eu o odiava. ODIAVA LÚCIO MALFOY COMO TODAS AS MINHAS FORÇAS!

Odiei-o até chegarmos à biblioteca e me lembrar de como ele ficava sexy no escuro. Iluminado somente pela luz de algumas velas já derretidas e quase apagadas.
- Vocês já sabem o que fazer, não é? – perguntou Madame Pince em tom autoritário. – É só recolocar na seção certa sem o uso de magia! São esses os livros – ela apontou para uma pilha, com, no mínimo, 50 livros. Grandes, grossos e sujos. – Se precisarem de alguma coisa, estarei sentada logo ali. –apontou para uma mesa com, no mínimo, 100 livros que necessitavam de reparo - E caso vocês dois resolvam brigar outra vez, Argo Filch estará nos corredores. – ela virou as costas e sentou-se atrás da pilha de livros. Alguns minutos depois, podemos ouvi-la roncando muito alto.
- Sozinhos, mais uma vez. Não é irônico? – falou em seu tradicional tom malicioso.
- Para você ver! – falei com rispidez enquanto folheava alguns livros.
- Ah, pra que tanta grosseria, Ray? Eu poderia passar a noite inteira aqui arrumando esses livros. – disse em um tom pouco convincente.
- Ah, que grande mentira. Vamos logo com isso que EU não quero passar a noite toda aqui.
Achei suspeito, Lúcio ficou calado separando os livros por quase cinco minutos.
- Bom, Loraine. Queria te pedir desculpa por hoje à tarde.
- Você? Pedindo desculpas? – gargalhei por um bom tempo. – O que você está armando?
- Não seja tão dura comigo, Loraine.
- Me deixe em paz, Lúcio. – pedi sem emoção. – Deixe-me terminar a minha parte e ir embora. Estou morrendo de sono!
- Como se só você estivesse com sono. – retrucou mal-humorado.
- Isso tudo é culpa sua. Não sabe se manter com a boca fechada, dá nisso!
- Culpa minha?! Se você não tivesse me batido...
- Se você não tivesse me xingado...
- Se VOCÊ se controlasse um pouco não teria me batido.
- Se VOCÊ não tivesse me chamado daquilo que você-sabe-o-que, eu não teria te batido.
- Eu sou uma pessoa realista, Loraine. – ele sorriu cinicamente.
- REALISTA?! – gritei. – Você é um mentiroso, isso sim. Desde quando eu saio dando para você e o mundo, Lúcio?
- Para mim, desde que nós tínhamos, sei lá, uns 13 anos. Já para o mundo...
- Escuta aqui, - eu ergui o dedo indicador para seu rosto pálido e comprido. - já te disse para NÃO dizer o que não sabe. Não sei de onde você tirou que eu saio "dando" pra todo mundo, eu realmente não sei. – ele cruzou os braços e me encarou.
- Eu sempre achei que você fala demais. – dessa vez eu o encarei.
- Isso não tem NADA a ver com o que estamos discutindo.
- É sério. Você sempre falou demais e agiu de menos.
- Agir? Agir como se VOCÊ não pára de falar!? Estou tentando organizar essas merdas de livros e não consigo porque você simplesmente NÃO pára de falar!
- Não estou falando desse agir. Estou falando de outro tipo de agir. – levantei uma sobrancelha. Que tipo de agir ele estava falando? Vindo DELE só poderia ser algum tipo de besteira.
- Que tipo de “agir”? – perguntei, mesmo me arrependendo de ter perguntado.
- Esse agir. – me envolveu pela cintura e me beijou.
- ESTÁ MALUCO? – gritei desvencilhando de seus braços. – Você deve ter ficado louco para achar que EU ia querer algo, novamente, com você!
- Fale baixo – disse com toda a calma. – Esqueceu que aquele novo zelador Argo-não-sei-o-que está pelos corredores? Se ouvir você gritando vai pensar que eu te agarrei.
- E o que você acabou de fazer?
- Convenhamos, Loraine. Você me quer, eu te quero. Não podemos entrar num acordo e deixar de ser orgulhosa? – sacudi a cabeça negativamente. – Está bem. Eu tentei, me humilhei... e você aí, na mesma. Só porque eu estava um pouco irritado e com dor de cabeça hoje pela manhã. Está tudo bem. Não... não ligo mesmo. – era comovente! Lúcio era realmente um ótimo ator.
- Você é, simplesmente, muito convincente – comecei bater palmas sarcasticamente. – Me diga quando será a sua próxima apresentação no teatro, farei questão de estar na primeira fila. – virei de costas para ele e continuei a separar os livros por seções.
Não disse nada até terminarmos de arrumar todos os livros, por seção e ordem alfabética. Só perguntou se podia me acompanhar até a nossa sala comunal. Achei uma pergunta idiota, já que estaríamos indo para a Sonserina de qualquer jeito, juntos ou separados.

Paramos em frente a parede de pedra e ele murmurou algo que parecia com a nossa senha “Galeões de ouro”. Já passavam das duas da manhã e não havia ninguém no salão comunal.
Subi dois degraus da minha escada, mas fui impedida de continuar por Lúcio que segurava meu braço com força.
- Eu não posso entrar no seu dormitório, mas você sabe que pode subir ao meu. Até as 4 estarei acordado. – e me soltou.
- Lúcio. – chamei-o. Estava uma cabeça e meia mais alta que ele por já ter subido alguns degraus. – Eu não... não...
- Não o que?
- Não demoro. – alguns depois, já estava arrependida de ter dito aquilo. – Quer di...
- Ótimo. – interrompeu-me feliz. – Você sabe que eu adoro sua camisola vermelha, não sabe? – ele piscou malicioso e subiu as escadas, que levavam ao dormitório masculino, dois degraus por vez.
“Idiota. Idiota. Idiota.” Pensei comigo mesma, “Como eu consigo ser tão fraca? Tão... tão fácil?”
Ignorando meus pensamentos, e fazendo o máximo possível para afugentá-los tomei um banho rápido, me perfumei e coloquei a tal da camisola vermelha. Vesti meu robe e desci ao salão comunal.
Ao contrário do combinado ele estava lá embaixo, também já estava com se pijama de seda verde com detalhes em prata.
- Perfeito. – disse quando me viu descer. – Queria estar próximo antes que pensasse em desistir.
- Eu n-não vim aqui p-ara isso que você está pensando. – já estava completamente gelada.
- Ah. Alguma posição nova? – ele sorriu.
- Lúcio. Isso, desculpe-me, isso não está certo. Você já me enganou várias e várias vezes! E não vou cair na sua de novo. – disse nervosa.
Ele me fitava com ar de desejo, eu podia ver isso em seus olhos. Era tão humilhante a sensação de sentir-se como um pedaço de carne, e tão prazeroso vê-lo querer-me... ter-me. Sentir seu toque objetivo; daquele que sabe o que quer e tem certeza que vai conseguir.
Assim como fez na biblioteca enlaçou-me pela cintura e me puxou para mais perto de seu corpo. Sua respiração estava tão acelerada quanto a minha, mas eu suava descontroladamente, como se fosse a primeira vez. Seu primeiro ato foi guiar sua boca de encontro ao meu pescoço, ponto fraco. Fraquíssimo.
A partir daí não teve mais volta, eu estava entregue.

Acordei num estalo e demorei alguns instantes pra perceber onde estava. Descobri minha cabeça do lençol branco e só então me dei conta que estava no dormitório masculino, quinto ano.
Estava sozinha, com exceção de Lúcio que dormia pesadamente ao meu lado. Isso facilitou minha saída já era quase hora do almoço e em breve vários alunos viriam descarregar suas mochilas para enchê-las novamente com os livros das aulas do período da tarde.
Espreguicei-me. Logo em seguida vesti meu robe e dirigi-me até o meu dormitório, que, assim como o masculino, estava vazio.
Entrei para tomar banho, e assim que liguei o chuveiro ouvi a sineta tocar. Cinco minutos depois, passos apressados e mochilas batendo no chão do quarto.
“Pelo visto não voltou ainda...” era a voz de Anita Bole, soando um familiar desdém.
“Não dormiu, não assistiu as aulas... algo deve ter acontecido.” Falou Janice Matthew num tom preocupado. Essa era uma das únicas “amigas” que eu tinha em Hogwarts, porem, um tanto quanto temperamental.
“Não se preocupe a toa, Janice.” Era a insuportável voz de Rita Skeeter. “Certamente nós sabemos onde ela passou a noite.” ela riu, e duas a acompanharam. “Sabe como é, ouvi dizer que teve que cumprir uma certa... ‘detenção’ com Malfoy ontem à noite.” Agora todas riram. Rita tinha a capacidade de saber tudo antes de todos. “E vocês viram, nenhum dos dois esteve no café, ou em qualquer aula.”
“Shhh.” Uma delas fez “Ela deve estar no banho.” Todas pararam de conversar, ou fofocavam demasiadamente baixo.
Fechei o chuveiro com raiva e me enxuguei com a toalha. Respirei o mais fundo que pude e saí com um sorriso que, se não fosse falso, seria capaz de despertar inveja de tamanha minha felicidade.
- Bom dia! - cumprimentei alegremente.
- Boa tarde. - Rita respondeu dissimulada. – Onde passou a noite? Ficamos todas preocupadas!
- Preocupadas? – ri com gosto. – Poupe-me!
- Não seja tão ingrata! – exclamou, falsamente aborrecida. – Ficamos realmente preocupadas. – seus olhos faiscaram de maldade.
- Rita, querida. Se até agora – enfatizei – você – enfatizei outra vez - não soube, certamente não serei eu a te contar. – sorri acompanhada de risadinhas abafadas. – Vou almoçar, alguém me acompanha? –nenhum movimento, como eu esperava.
Dirigi-me até o salão principal bufando de raiva. Como se atrevia a se meter TANTO na minha vida?
- Oooh. Aonde vai com tanta pressa? – era Sirius, meu primo. Estava tão compenetrada num difícil feitiço para transfigurar Rita Skeeter num pedaço de pergaminho, ou em qualquer outra coisa que eu rasgue facilmente com as mãos, que nem me dei conta que esbarrei nele.
- Desculpa Sirius, nem te vi. – falei sem emoção. Ele ergueu uma sobrancelha. - Aquela vagabunda da Skeeter! – exclamei. – Fi-fica seentrometendonaminhavida! – ele riu com gosto.
- Pensei que já estivesse acostumada. Mas o que foi dessa vez?
Ruborizei de leve. Falar para Sirius que passei a noite com Lúcio já era incomodo, com os amigos dele do lado um pouco pior! Não que os dois estivessem realmente prestando atenção no que conversávamos. Tiago Potter, o mais bonito dos dois amigos, brincava com um pomo de ouro de brinquedo e Remo Lupin, não tão bonito quanto Sirius e Tiagom, porém com uma peculiaridade atraente, estava absorto num livro grosso e nem parecia ter percebido que haviam parado.
- Bom...
- “Bom...”?
- Ah! Nada importante... – voltei a corar, dessa vez ainda mais forte. – É que... eu peguei uma detenção ontem à noite e não dormi no quarto.
- Aaaaah. – fez ele. – Dormiu aonde?
- Eu não dormi. – menti – Passei a noite toda na biblioteca.
- Aaaaah. – fez ele outra vez, e em seguida, cochichou em meu ouvido – Não precisa mentir para mim, Lore. Eu sei que você saiu da biblioteca por volta das 2 da manhã, e sei muito bem aonde a srta. dormiu. – espantei-me.
- Noooossa senhor-sabe-tudo! – ri. – Já que sabe TANTO, me diga com quem subi da biblioteca até minha sala comunal.
- Lúcio Malfoy. – disse com firmeza. Eu estremeci. Mas, pensando bem, era tão óbvio, não era? – E assim que entrou ao salão comunal, subiu direto ao seu dormitório. Por volta das três e meia desceu denovo e...
- PÁRA SIRIUS. – gritei. Tiago e Remo viraram-se repentinamente para nós. – Você está me assustando. Como faz isso? – ele riu e não respondeu. – Como eu sou idiota, você andou me espionando, não foi?
- Não. – seus olhos faiscaram. – Vamos almoçar, Lore. Você deve estar cansadinha e com fome. Ou, talvez não. – Tiago e Remo sufocaram risadinhas. Ruborizei intensamente.
- Ahh Lore, querida. – passou os nós da mão sobre meu rosto calmamente. – Quando você vai parar de ser capacho do Lúcio? – sussurrou.
Não respondi e sentei a minha mesa. Não estava sendo um capacho, ou estava? Lúcio sempre disse que... gostava de mim.
Afastei Lúcio de minha cabeça e decidi me preocupar com ele mais tarde, o problema mais urgente agora eram os NOM’S.

Junho chegou tão depressa que quando me dei conta estávamos as vésperas do exame de Feitiços. Logo em seguida, Transformação, História da Magia, Aritmancia, Herbologia, Trato de Criaturas Mágicas e Defesa contra as artes das trevas.
- Me lasquei. – resmungou Caroline Bletchley.
- Acho que fui bem... – falei espreguiçando-me. – Estudei mais do que esperava de mim mesma para esses exames...
O que não deixava de ser mentira. Estudei muito nas últimas quatro semanas. Suportei todas as investidas de Lúcio e as provocações de Skeeter. Estudei além do normal, pode-se dizer. Porque sempre tive facilidade em todas as matérias mesmo sem estudar, então, esse estudo me rendeu alguns “Excelentes”, isso eu tinha certeza.
O último exame foi de Defesa contra as Artes das Trevas. Um dia quente e com céu sem nuvens convidou a todos a se sentarem em torno do lago para descansar depois de duas semanas de tensão.
Havia, também, alguns alunos dos sextos e sétimos anos sentados por lá. Minha prima, Bellatriz (que cursava o sexto ano) , estava sentada próxima a uma árvore lendo um livro grosso.
- Atrapalho, Bella? – perguntei.
- Não, não! – disse fechando o livro num estrondo. – Pra falar a verdade, estava me perguntando porque até agora nada me tirou de perto desse livro chato. – ela apontou ao livro, que, curiosamente, não tinha titulo e sorriu.
- Do que se tr...?
- Foi bem no exame? – interrompeu-me, tive certeza que não queria que perguntasse o conteúdo do livro.
- Ah, fui. – disse modestamente.
- Que bom! – disse sorridente. – Os NOM’s realmente contam se você quiser seguir... carreira no Ministério. – falou de contragosto. Eu sempre soube que Bella estava metida até a cabeça em magia e partidários das trevas. Então, imagino que pouco importava para ela se bombasse em todos os NOM’S.
- O que você estava lendo, Bella?
- Ah... – ela pestanejou. – um livro de auxílio em... feiti...
- Expelliarmus! – viramos imediatamente para ver de onde o feitiço estava sendo lançado. Há poucos metros de nós, Tiago Potter e Sirius atacavam Severo Snape.
- Idiota. – ouvi Bella resmungar. – O traidor não faz um esforço sequer para mostrar que honra o sangue da família.
- Ele não honra, Bella. – disse com firmeza. Sirius há muito tempo provara que não gostava da família, de seus costumes.
- Traidor.
A relação entre Sirius e Bella passava de insultos e agressões para algo mais intimo e físico em segundos. Eu mesma já havia testemunhado essa cena várias e várias vezes.
- Limpar! – ouvimos Potter gritar e Sirius dobrar-se de tanto rir.
- Auxílio em feitiços? – tornei a perguntar, agora folheando o livro. Que não tinha só a capa sem nem uma palavra, mas seu conteúdo não passava de folhas velhas e amareladas. – Não tem nada aqui...
- Como você é curiosa! – Disse Bella com rispidez. – Não são todos que pode ler esse livro.
- Por quê? – perguntei curiosa.
- Porque... porque... hum. Não são todos os bruxos que estariam dispostos... a praticar. – disse pausadamente, como se escolhesse as palavras adequadas. Nesse momento minha curiosidade aguçou. – Eu não deveria estar lendo isso por aqui – continuou receosa. – mas é que esse volume me prendeu a atenção.
- Você disse que era chato. – repliquei sem entender.
- Com a intenção de que não me perguntasse sobre. Mas pelo visto me eng...
- Hey Evans! Evans! – ouvimos Tiago gritar. A tal Evans, Lílian Evans corria em direção ao castelo sem, sequer, olhar para trás.
- Esse Potter, sempre querendo chamar a atenção. – falou Bella.
- Verdade. – concordei sem tirar os olhos de Severo, que ainda estava deitado no chão, tentando alcançar sua varinha. – Covarde. – resmunguei e Bella se virou, ainda sentada, para a cena girando a varinha entre os longos dedos.
- Quem quer ver eu tirar as cuecas do Ranhoso? – perguntou Tiago rindo.
- Garoto ridículo. – resmungo Bella que se levantou num salto com a varinha apontada para Tiago. – Haaa... não vai não Potter.
- Querida prima! – saudou Sirius com um sorriso, sua varinha ainda estava apontada para Severo.
- Nunca te ensinaram que um bom Grifinório nunca luta com o adversário em desvantagem? Não seria correto... – disse com um sorriso falso. – Accio Varinha! – apontou para a varinha de Severo que logo já estava nas mãos de seu dono.
- Mais uma fã de Severo? Oho! Não sabia que Ranhoso estava tão em alta... – disse Tiago desdenhoso, sem baixar a varinha.
Aproximei-me com o livro de Bella em uma das mãos, e a varinha na outra.
- Expelliarmus! – gritaram Sirius e Bella ao mesmo tempo. O feitiço de Bella foi incrivelmente rápido e forte; bateu em Tiago, lançando a varinha à no mínimo quinze metros e Tiago a quase seis. Sirius acertou Severo que caiu sentado, novamente, e sua varinha há no mínimo sete metros de distancia.
Nesse momento, Remo Lupin e Pedro Pettigrew se levantaram com varinhas e punho. Aproximei-me de Bellatriz que tinha um sorriso muito largo no rosto.
Lupin logo tomou posição de ataque, Pettigrew que parecia dividido em ajudar Tiago, que parecia desacordado, ou continuar ali, em uma posição que era tudo, menos posição de ataque.
- Eu não preciso de sua ajuda, Bellatriz. – disse Severo ríspido levantando-se com varinha em punho.
- Quem disse que estou te ajudando, Ranhoso? – disse rindo. – Só estou mostrando a “trupe do Potter” como se ataca alguém de verdade.
Agora quem riu, foi Sirius.
- Em duelos, normalmente, quem leva a melhor sou eu, Bella. Quer tirar a prova?
- Ótimo! – com um balançar de varinha de Bella, eu, Severo, Lupin e Pedro fomos afastados dos dois duelantes, que agora se encaravam mortalmente.
Pedro correu até Tiago, ajudando o a levantar. Parecia zonzo. Continuei onde estava.
- Sempre quis encontrá-lo num duelo... – disse Bella suavemente.
- Por quê? – perguntou Sirius, agora sério.
- Para provar que traidores com grande potencial, como você, não utilizam-no e tornam-se fracos.
- Só porque eu não estou disposto a ir pelos caminhos que a sua família propõe, não quer dizer que meu potencial não está sendo aproveitado, Bellinha.
- Não me chame de Bellinha! – gritou exasperada.
Sirius riu.
- Antes você gostava. – disse Sirius usando do mesmo tom que Lúcio usava comigo quando queria, alguma coisa.
- Nada que vem de você me agrada mais. – disse ríspida.
- Duvido. – ainda com varinhas em punho, Sirius deu um passo à frente. Lupin voltou a sentar-se como se já soubesse aonde isso ia dar. Resolvi então, voltar ao salão principal, disposta a descobrir o que havia no livro.

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